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109 PRIMEIRO QUADRIMESTRE 2011 VERSÃO BRASILEIRA ANO XXVIII Miguel Ángel Zarandona O futuro da prevenção da lavagem de dinheiro O que é a Análise Financeira Dinâmica (DFA) ? Riscos de segurança e meio ambiente Observatório de sinistros "O gerente de riscos agrega valor às organizações" Expectativas ante a próxima regulamentação Um modelo interno de avaliação e gestão do risco Uma aproximação à sua análise como risco operacional Preparados para as emergências Responsável pela Gerência de Riscos e Seguros do El Corte Inglés. JAIME GÓMEZ-FERRER RINCÓN PABLO DURÁN SANTOMIL e LUIS A. OTERO GONZÁLEZ JOSÉ MARÍA CORTÉS SAAVEDRA PILAR GALLEGO

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Miguel Ángel Zarandona

O futuro da prevenção da lavagem de dinheiro

O que é a Análise Financeira Dinâmica (DFA) ?

Riscos de segurança e meio ambiente

Observatório de sinistros

"O gerente de riscos agrega valor às organizações"

Expectativas ante a próxima regulamentação

Um modelo interno de avaliação e gestão do risco

Uma aproximação à sua análise como risco operacional

Preparados para as emergências

Responsável pela Gerência de Riscos e Seguros do El Corte Inglés.

JAIME GÓMEZ-FERRER RINCÓN

PABLO DURÁN SANTOMIL e LUIS A. OTERO GONZÁLEZ

JOSÉ MARÍA CORTÉS SAAVEDRA

PILAR GALLEGO

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Instituto de Ciencias del SeguroCentro de DocumentaciónC/ Bárbara de Bragança, 14, 3ª planta28004 Madrid – Espanha

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DE SEGUROS, GERENCIAMENTO

DE RISCOS, SEGURANÇA E

MEIO AMBIENTE

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alCapacidade de reação

Há décadas, os gerentes de riscos se empenham em criar modelos, não para antecipar o imprevisível, mas para tentar superar as catástrofes. Contudo, é difícil de assimilar a forma como o terremoto (com o posterior tsunami e grave acidente nuclear na usina de Fukushima) sacudiu a sociedade japonesa e, por extensão, a economia mundial.

Seu impacto econômico é ainda difícil de avaliar, mas os dados disponíveis corroboram a percepção dos que seguimos as notícias publicadas: as economias com maiores níveis de renda, educação e acesso a recursos financeiros superam antes as consequências de uma catástrofe e, nesse capítulo, o caso do Japão sempre foi um claro paradigma.

Não obstante, o pessimismo sobre a recuperação econômica caminha paralelamente à onda de informações preocupantes sobre a destruição causada nos reatores da usina. Embora seja cedo para prever as mudanças, a confiança na prevenção dos riscos da energia atômica parece vacilar a cada informação sobre o aumento dos níveis de radiação na zona afetada e, como consequência, as centrais nucleares correm o risco de serem severamente reprovadas como opção energética, o que reabriu o debate sobre essa fonte de energia.

Tudo isso estimula o debate sobre a crescente necessidade de combinar as diversas fontes energéticas e, em particular, de impulsionar o desenvolvimento das energias renováveis, setor no qual a Espanha ocupa um lugar nunca antes ocupado em nenhum outro setor tecnológico.

Como profissionais, temos que reagir a esses desastres, incorporando as lições aprendidas e construindo os fundamentos que, junto com um merecido sucesso, nos permitam aproveitar a esperada recuperação para corrigir debilidades e fortalecer capacidades.

Se existe na Espanha um indicador fidedigno do “clima econômico familiar”, esse é o El Corte Inglés, primeiro grupo espanhol de distribuição, cujo gerente de Riscos e Seguros - Miguel Ángel Zarandona – entrevistamos nesta edição. Em suas respostas, Miguel Ángel nos relata os pontos-chave da Gerência de Riscos como função corporativa, transversal e integradora, que compreende desde a orientação da imagem de marca como acréscimo de valor, até o que isso implica no serviço ao cliente.

No primeiro dos três estudos incluídos nesta edição, apresentamos a visão que um inspetor de seguros do Estado espanhol nos oferece sobre a necessidade de um regulamento que permita uma maior profissionalização e eficiência das entidades financeiras para a prevenção tanto da lavagem de dinheiro como do financiamento do terrorismo.

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A revista Gerência de Riscos e Seguros não se responsabiliza pelo conteúdo de nenhum artigo ou trabalho assinado por seus autores, nem o fato de publicá-los implica conformidade ou identifi cação com os trabalhos apresentados nesta publicação. É proibida a reprodução total ou parcial dos textos e ilustrações desta revista sem a autorização prévia do editor.

PRESIDENTE: FILOMENO MIRA CANDEL

DIRETOR: JOSÉ LUIS IBÁÑEZ GÖTZENS CHEFE DE REDAÇÃO: ANA SOJO GIL COORDENAÇÃO: MARÍA RODRIGO LÓPEZ CONSELHO DE REDAÇÃO: IRENE ALBARRÁN LOZANO, ALFREDO ARÁN IGLESIA, FRANCISCO ARENAS ROS, MONTSERRAT GUILLÉN ESTANY, ALEJANDRO IZUZQUIZA IBÁÑEZ DE ALDECOA, CÉSAR LÓPEZ LÓPEZ, JORGE LUZZI, MIGUEL ÁNGEL MACÍAS, FRANCISCO MARTÍNEZ GARCÍA, IGNACIO MARTÍNEZ DE BAROJA Y RUÍZ DE OJEDA, FERNANDO MATA VERDEJO, EDUARDO PAVELEK ZAMORA, Mª TERESA PISERRA DE CASTRO, CÉSAR QUEVEDO SEISES, FRANÇOIS SETTEMBRINO.PRODUÇÃO EDITORIAL: COMARK XXI CONSULTORES DE COMUNICACIÓN Y MARKETING

DESENHO GRÁFICO: ADRÍAN Y UREÑA

VERSÃO BRASILEIRA: FUNDACIÓN MAPFRE - DELEGAÇÃO BRASIL

DIREÇÃO: FÁTIMA LIMA

TRADUÇÃO: MAGNITUD

REVISÃO: INNEWS INTELLIGENCE PROJETO GRÁFICO E DESIGNER ADAPTADO: bmEW PROPAGANDA

FUNDACIÓN MAPFREInstituto de Ciencias del Seguro

Paseo de Recoletos, 23.28004 Madrid (España)Tel.: +34 91 581 12 40. Fax: +34 91 581 84 09

www.gerenciaderiesgosyseguros.com

O segundo estudo é um extrato do livro escrito a partir da visão acadêmica de dois professores universitários espanhóis e editado pela FUNDACIÓN MAPFRE sob o título “El Análisis Financiero Dinámico como herramienta para el desarrollo de modelos internos en el marco de Solvencia II”, onde se apresentam as vantagens da referida análise (DFA) para examinar o risco suportado de maneira integral e, assim, avaliar o impacto das diferentes decisões de negócio na solvência e rentabilidade de uma seguradora.

O último estudo analisa, desde a perspectiva da Solvência II, a gestão dos riscos de segurança e meio ambiente no âmbito da gestão integral dos riscos da empresa e, em particular, para o setor segurador, propondo uma homogeneização da terminologia aplicável.

Antes das habituais seções sobre novidades bibliográficas e as notícias da Asociación Española de Gerencia de Riesgos (AGERS), concluímos este número da revista com o Observatório de Sinistros, onde temos um espetacular exercício – organizado pela Diretoria-Geral de Proteção Civil e Emergências do Ministério do Interior espanhol – realizado no aeroporto de Madri-Barajas, que contou com a participação de cerca de 600 pessoas e profissionais de sete países da União Europeia. Durante a simulação do acidente aéreo, com dezenas de hipotéticas vítimas e risco imaginado de vazamento radioativo, ficou evidente a importância de se contar com procedimentos operacionais adequados, a fim de estarmos “preparados para as emergências”, tal e como devemos estar ante os repetidos desastres que vêm ocorrendo.

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Notícias AGERS 74

Obs.: Versão brasileira traduzida, originalmente, da edição espanhola da Revista Gerencia de Riesgos y Seguros, 1º Quadrimestre de 2011.

PRIMEIRO QUADRIMESTRE 2011

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Livros 69

Caderno Brasil

As ações humanas associadas aos desastres naturais ...................................................76

Atualidade 6Atividades da IGREA. Apresentação do “Estudio sobre el sector asegurador en España 2010. Los aspectos cualitativos de Solvencia II”. VI Congresso Internacional sobre Engenharia de Segurança contra Incêndios. O custo do terremoto do Japão. Novo Doutor em Ciências do Seguro.

Miguel Ángel Zarandona, responsável pela Gerência de Riscos e Seguros do El Corte Inglés."A figura do gerente de riscos agrega valor às organizações"

Entrevista 14

Estudos

Perspectivas de futuro na prevenção da lavagem de dinheiroJAIME GÓMEZ-FERRER RINCÓN ................................................................................ 28 O que é a Análise Financeira Dinâmica (DFA)?PABLO DURÁN SANTOMIL e LUIS A. OTERO GONZÁLEZ ..................................... 40Riscos de segurança e meio ambiente: análise como risco operacionalJOSÉ MARÍA CORTÉS SAAVEDRA .............................................................................. 48

Agenda 2011 13

Observatório de sinistros Preparados para as emergências.PILAR GALLEGO ........................................................................................................... 60

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Ordem EHA/565/2011, de 9 de março, que estabelece o sistema de resseguro a cargo do Consórcio de Compensação de Seguros para o Plano de Seguros Agrários Combinados do exercício 2011.B.O.E. nº 63, de 15 de março de 2011.

Lei 2/2011, de 4 de março, de Economia SustentávelB.O.E. nº 55, de 5 de março de 2011.

Resolução de 18 de fevereiro de 2011, da Diretoria-Geral de Seguros e Fundos de Pensões, que estabelece os requisitos e princípios básicos dos programas de formação para os mediadores de seguros, corretores de resseguros e demais pessoas que participem diretamente na mediação dos seguros e resseguros privados.B.O.E. no 55, de 5 de março de 2011.

LEGISLAÇÃONovidades

Real Decreto 174/2011, de 11 de fevereiro, que aprova a tabela sistematizada de valoração da situação de dependência estabelecida pela Lei 39/2006, de 14 de dezembro, de Promoção da Autonomia Pessoal e Atendimento a pessoas em situação de dependência.B.O.E. no 42, de 18 de fevereiro de 2011.

Real Decreto 175/2011, de 11 de fevereiro, que modifica o Real Decreto 727/2007, de 8 de junho, sobre critérios para determinar as intensidades de proteção dos serviços e o valor dos benefícios econômicos da Lei 39/2006, de 14 de dezembro, de Promoção da Autonomia Pessoal e Atendimento a pessoas em situação de dependência, e o Real Decreto 615/2007, de 11 de maio, pelo qual se regulamenta a Previdência Social dos cuidadores de pessoas em situação de dependência.B.O.E, no 42, de 18 de fevereiro de 2011.

Resolução de 11 de janeiro de 2011, da Diretoria-Geral de Seguros e Fundos e Pensões, que publica a taxa máxima de juros a

ser utilizada no cálculo da provisão de seguros de vida, de aplicação no exercício 2011.B.O.E. no 10, de 12 de janeiro de 2011.

Real Decreto 1736/2010, de 23 de dezembro, que modifica o Plano de Contabilidade das entidades seguradoras, aprovado pelo Real Decreto 1317/2008, de 24 de julho.B.O.E. no 317, de 30 de dezembro de 2010.

Ordem EHA/3241/2010, de 13 de dezembro, que aprova a lista de informação a ser remetida nos casos de aquisição ou incremento de participações significativas e por quem pretenda desempenhar cargos de administração e direção em entidades seguradoras, resseguradoras e em sociedades cuja atividade principal consista em ter participação nas referidas entidades.B.O.E. no 306, de 17 de dezembro de 2010.

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“Encontro com o mercado” da IGREA sobre as modifi cações do Código Penal e suas implicações para a empresa

No último dia 17 de fevereiro, a IGREA realizou um de seus “Encontros com o mercado” para abordar o tema ‘Modificações do Código Penal. Implicações e responsabilidades’. A reunião para tratar desse inovador tema, que provoca importantes consequências para as empresas, contou com a presença de trinta convidados, representando as empresas da associação.

Rafael Esteban, CEO da Aon, deu as boas vindas aos presentes e, em seguida, Miguel Ángel Macías, diretor de Gerência de Riscos da Aon, e Daniel San Millán, presidente da IGREA, abriram os trabalhos, dando lugar à participação dos diversos palestrantes, que apresentaram diferentes abordagens sobre o tema.

Em primeiro lugar, Ignacio Sánchez e Joaquín Ruiz Echauri, do escritório de advocacia Hogan Lovells,

trouxeram a visão do perito legal, analisando as novas responsabilidades que recaem sobre as empresas e evidenciando as lacunas e dúvidas que surgem na interpretação e aplicação dessas novas normas, em especial pelo fato da Lei de Ajuizamento Criminal não ter sido modificada. Também se destacaram as causas atenuante e excludente, o que pode significar contar com medidas de controle interno para prevenir e evitar esse tipo de comportamento.

A seguir, Ramón de la Vega, responsável pela área técnica de seguros da Telefônica S. A., expôs o ponto de vista do segurado, que enfrenta uma revisão de seus programas de seguros para se encaixar à nova normativa, além da integração da análise de riscos com outras áreas da empresa, como auditoria interna, recursos humanos, cumprimento normativo, etc. Cada empresa deverá desenvolver seu programa de acordo com as suas necessidades.

O ponto de vista do setor segurador ficou a cargo de Constanza Gállegos, diretora-geral da QBE, que proporcionou a experiência do mercado anglo-saxão e apresentou algumas soluções seguradoras para os custos legais e de defesa jurídica, embora também tenha se mostrado cética quanto a uma solução global para a transferência desses riscos. Também destacou os problemas

que podem surgir para cobrir as multas, ainda que o mercado pareça querer ou poder fazê-lo, se a disposição que proíbe expressamente o seguro de multas e sanções for mantida na prevista reforma da Lei de Contrato de Seguro.

A visão do consultor foi desenvolvida por Marta Grande, diretora de Cumprimento Normativo e Gestão Global do Risco (ERM) da Aon Global Risk Consulting, que expôs as diferentes soluções para implantar um sistema de controle do risco penal, enquadrando-as dentro do sistema de ERM. O processo seria o mesmo de qualquer risco: identificação, avaliação, implementação de medidas corretivas e, por último, monitoramento e acompanhamento.

Ao término das apresentações houve um animado debate com grande participação dos presentes. Quase por unanimidade se concluiu que, apesar de ser a jurisprudência aquela que finalmente delimitará o alcance e aplicação da reforma do Código Penal, os processos e mecanismos que diminuam ou eliminem esse novo e importante risco para as empresas devem começar a ser desenvolvidos.

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A FEF apresenta o "Estudio sobre el sector asegurador en España 2010. Los aspectos cualitativos de Solvencia II"

A Fundación de Estudios Financieros (FEF) apresentou o «Estudio sobre el sector asegurador en España 2010. Los aspectos cualitativos de Solvencia II», que oferece uma imagem da indústria do seguro espanhol ante esta norma comunitária. O estudo adverte que a Solvência II vai exigir um enorme esforço de adaptação e terá uma incidência direta sobre a rentabilidade das entidades seguradoras. Também,

Estima que afetará o setor substancialmente e provocará uma revisão dos modelos de negócio tradicionais.

Considera a Solvência II como uma oportunidade para propiciar uma maior transparência e confiança no setor segurador.

Pede ao setor que preste muita atenção para colocar em andamento políticas eficazes de transparência, governança corporativa e responsabilidade social corporativa.

A apresentação, realizada por Ruth Maria Duque,

chefe do Serviço de Relações Institucionais e Comunicações da Diretoria-Geral de Seguros e Fundos de Pensões, foi encerrada por Pilar González de Frutos, presidente da UNESPA. O trabalho, coordenado por Pilar Blanco-Morales e Montserrat Guillén Estany, contou com a colaboração de várias entidades patronas da FEF: MAPFRE, Zurich España, Ernst & Young, Deloitte, KPMG, PricewaterhouseCoopers e Uría Menéndez. Também colaboraram 21 especialistas de diferentes disciplinas procedentes dos âmbitos acadêmico, empresarial, profissional e da administração.No começo de 2010, a FEF publicou seu primeiro estudo sobre esse importante setor, trabalho onde se oferecia uma imagem fiel da indústria do seguro espanhol, revisando sua estrutura e modelo de negócio, procurando revelar as tendências de sua evolução e penetração social. Esta primeira iniciativa é agora complementada com o trabalho atual, que tem uma vocação mais específica ao analisar e valorizar a adaptação da indústria do seguro às reformas impostas pela Solvência II. O estudo está centralizado nos aspectos qualitativos dessa norma, ou seja, na gestão das entidades, no controle de riscos, na transparência e na governança corporativa.De acordo com o estudo, a Solvência II não é somente um novo enfoque de

supervisão que estabelece os requerimentos de capital em função do perfil de riscos de cada empresa de seguros. É também um sistema baseado em princípios que se traduzem pela obrigação das entidades em estabelecer uma base integrada de governança corporativa, controle interno e gestão global do risco, com o objetivo de propiciar uma maior transparência e confiança no conjunto do setor segurador. Seus autores consideram que essa norma afetará substancialmente o setor e provocará uma revisão dos modelos de negócio tradicionais e do modelo clássico de supervisão estática.

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VI Congresso Internacional sobre Engenharia de Segurança contra Incêndios

Durante os dias 23, 24 e 25 de fevereiro, aconteceu o VI Congresso Internacional sobre Engenharia de Segurança contra Incêndios, com a presença de mais de 350 profissionais. Registrou-se a participação de destacados especialistas pertencentes a instituições de reconhecido prestígio, tanto de âmbito nacional como internacional. Entre outras se destacam: National Fire Protection Association (NFPA), National Institute of Standards and Technologies (NIST), Society of Fire Protection Engineers (SFPE), Ministério do Fomento, Ministério da Indústria, Turismo e Comércio, Comunidade e Prefeitura

de Madri. O congresso foi apresentado como um fórum internacional de encontro de profissionais e especialistas na Proteção contra Incêndios, no qual foram compartilhados conhecimentos e experiências sobre a situação mundial das diversas áreas do processo baseado em desempenho (PBD).

217 bilhões de euros, custo dos danos do terremoto e posterior tsunami no Japão

Segundo as previsões do governo japonês, 15 dias após a catástrofe, os danos provocados no Japão pelo terremoto e posterior tsunami no último dia 11 de março podem representar um custo de 217 bilhões de euros (25 trilhões de ienes) para o país. Esse número, que servirá como base para os planos de reconstrução, será sem dúvida mais alto, já que inclui somente os danos causados às moradias, estradas, fábricas e outros edifícios, e não contempla o custo da crise nuclear provocada pela central de Fukushima. Assim, sem considerar esse episódio, as estimativas do governo japonês elevam os danos diretos para uma faixa entre os 16 e 25 trilhões de ienes.

O número de mortos também não para de crescer. Duas semanas após o sinistro, a polícia japonesa estimava em mais de 10.000 o número de mortos e em 17.440 o número de pessoas desaparecidas. Porém, teme-se que o número de vítimas continue aumentando.

CATÁSTROFE DEVASTADORA

Esses dados transformam o terremoto de 11 de março em uma das catástrofes naturais mais devastadoras de todos os tempos. De fato, os valores estimados superam amplamente os do terremoto de Kobe, ocorrido em 1995, que causou perdas de 9,6 trilhões de ienes e a morte de mais de 6.400 pessoas. De acordo com a Polícia Nacional do Japão, o terremoto e o tsunami causaram danos em 1.450 estradas e 51 pontes. Além disso, existem pelo menos

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18.000 casas destruídas e mais de 130.000 edifícios danificados, principalmente nas zonas costeiras do nordeste do país.O Banco Mundial estimou o custo do terremoto em 0,4% do PIB do Japão. Antes do terremoto, o Banco do Japão esperava que a economia saísse de seu estancamento e experimentasse uma recuperação moderada. No entanto, os especialistas calculam uma contração econômica no segundo trimestre de 2011 e uma queda anual, provavelmente de 1,4%.

CUSTO PARA O RESSEGURO

A catástrofe também terá um efeito enorme nas contas das resseguradoras internacionais. A Swiss Re estimou que deverá enfrentar reclamações no valor de 1,2 bilhões de dólares sem impostos (cerca de 850 milhões de euros), conforme comunicado realizado no último dia 21 de março. Contudo, a resseguradora com sede na Suíça advertiu que esse primeiro cálculo está rodeado

de grande incerteza “devido à complexidade da estimativa de perdas”. Poucos dias depois, a Munich RE calculava inicialmente o custo do sinistro em cerca dos 1,5 bilhões de euros sem impostos, mas também se mostrava cautelosa com esse primeiro balanço. O que está claro para os responsáveis dessa resseguradora é que já não poderão cumprir com o objetivo de lucro de 2,4 milhões, estabelecido para

2011. O impacto da catástrofe sobre as contas da Hannover Rück situa-se, em princípio, cerca dos 250 milhões de euros sem impostos.

MAGNITUDE INCOMUM

Desde esse terremoto de uma magnitude incomum (8,9 na escala Richter) – e que deslocou 2,4 metros o arquipélago japonês e mudou o eixo do planeta em 10 centímetros –, o Japão teve que enfrentar uma avalanche de problemas.O tremor – classificado como o maior no Japão nos últimos 140 anos e o quinto mais forte no mundo, segundo os sismólogos – ocorreu no dia 11 de março, às 14:46 hora local (05:46 hora espanhola), com epicentro no oceano Pacífico, a 130 quilômetros da costa da província oriental de Miyagi e a uma profundidade de 20 quilômetros.

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Meia hora depois ocorreu um segundo terremoto, essa vez com uma intensidade de 7,4 graus na mesma escala e localizado ao sul do primeiro. Nos dias que se seguiram, chegaram a ser contabilizadas mais de 200 réplicas, algumas delas com magnitude de 6,3 graus.O movimento do fundo do mar provocou um tsunami, uma grande onda de 10 metros de altura, que, a 500 quilômetros por hora, invadiu 15 quilômetros de terra, levando pela frente tudo o que estava na sua passagem: residências, barcos, automóveis...

ALARME NUCLEAR

Porém, as notícias mais alarmantes dizem respeito à central nuclear Daiichi de Fukushima, situada a 220 quilômetros de Tóquio, que não conseguiu suportar a força do terremoto, nem a

investida do tsunami, ficando seus reatores danificados, especialmente o de número dois, cujo núcleo e recipiente de contenção foram afetados. O acidente colocou em evidência a segurança dessas centrais nucleares e o debate chegou à Europa, onde alguns países com forte tradição nuclear estão repensando seus planos sobre essa matéria.Em reunião realizada nos dias 22 e 23 de março em Helsinque (Finlândia), a Associação de Reguladores Nucleares da Europa Ocidental (WENRA) esclareceu como serão realizadas as revisões da segurança e as análises de riscos (denominadas stress tests, ou testes de resistência) das centrais nucleares europeias.A WENRA definiu os denominados stress tests como uma reavaliação das margens de segurança nas centrais existentes, considerando as circunstâncias do acidente

em Fukushima. Essas avaliações permitirão analisar o comportamento das centrais nucleares ante uma série de situações extremas que poderiam colocar em risco sua segurança.Os prazos previstos na proposta (a partir da aprovação da mesma) são de seis meses para que as centrais nucleares completem as revisões e de três meses para sua avaliação por parte dos reguladores. Nesse sentido, a WENRA criou um grupo de trabalho para determinar de modo preciso o alcance e o conteúdo dos testes de resistência. Um documento será elaborado no decorrer das próximas semanas.

Novo Doutor em Ciências do Seguro

Com o apoio da FUNDACIÓN MAPFRE, Julio Laria del Vas, diretor-geral do Instituto de Segurança Viária da FUNDACIÓN MAPFRE, defendeu sua tese de doutorado “Jóvenes: mortalidad en accidentes de tráfico y nuevas tecnologías asociadas al seguro del automóvil. Análisis de las causas y propuesta de una teoría de formación inicial”.

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www.fundacionmapfre.com.br

Instituto de Ação SocialContribuímos para a melhora das condições

econômicas, sociais e culturais das pessoas

e setores menos favorecidos da Sociedade.

Instituto de Ciências do SeguroPromovemos a formação e a pesquisa em

matérias relacionadas ao Seguro e ao Risco

Instituto de CulturaFomentamos a difusão da Cultura, as

Artes e as Letras e a divulgação de

conhecimentos com relação à História

comum da Espanha, de Portugal e

dos países vinculados a eles por laços

históricos.

Instituto de Prevenção, Saúde e Meio AmbientePromovemos a melhora da qualidade de

vida e do meio ambiente.

Instituto de Segurança ViáriaPromovemos atividades de educação viária

através de cursos, estudos de pesquisa,

campanhas de divulgação e distribuição de

materiais didáticos.

ATIVIDADES

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JORNADA DATAS LOCAL CONVOCANTE

Age

nda AGENDA 2011

CONGRESSOS E JORNADAS

MODELAÇÃO DE RISCOS E OPORTUNIDADES

12-13 JULHO BERMUDAS (BERMUDAS) AXIS RE

IX CONGRESSO ANUAL 6-8 SETEMBRO MUNIQUE (ALEMANHA) DVS

CONGRESSO ANUAL 5-6 OUTUBRO ESTOCOLMO (SUÉCIA) FERMA

FÓRUM 8-9 NOVEMBRO PFÄFFIKORN (SUÍÇA) SRIM

VIII CONFERÊNCIA ANUAL 20-23 NOVEMBRO MELBOURNE (AUSTRÁLIA) RMIA

VII CONFERÊNCIA ANUAL 21-24 NOVEMBRO SIDNEY (AUSTRÁLIA) IFRIMA

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G e r ê n c i a d e R i s c o s e S e g u r o s • n º 1 0 9 - 2 0 1 114

entrevista

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G e r ê n c i a d e R i s c o s e S e g u r o s • n º 1 0 9 - 2 0 1 1 15

“O El Corte Inglés tem um grande

caminho percorrido. O que marca a

cultura de risco do Grupo e como é

enfocado o ‘management’ dos referidos

riscos”, diz Miguel Ángel Zarandona.

Seu principal objetivo como gerente

de riscos do El Corte Inglés é proteger

“da melhor forma possível” a conta

de resultados e os ativos do Grupo,

e que o dia a dia seja desenvolvido

de “maneira ótima e eficiente”. O

que mais o atrai na sua profissão é

“o dinamismo, aprender coisas novas

quase diariamente, e a necessidade de se

apoiar em profissionais especializados

em diversos aspectos, o que enriquece a

gente enormemente”.

“A figura do gerente de riscos agrega valor às organizações”

TEXTO: ALICIA OLIVASFOTOS: ALBERTO CARRASCO

ZarandonaZarandonaMIGUELÁNGEL

RESPONSÁVEL PELA GERÊNCIA DE RISCOS

E SEGUROS DO EL CORTE INGLÊS

E PRIMEIRO VICE-PRESIDENTE DA AGERS

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entrevista

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“É ESSENCIAL

CONHECER QUAIS

SÃO OS EIXOS E A

ORIENTAÇÃO DO

NEGÓCIO PARA

DESENVOLVER

UMA GERÊNCIA

DE RISCOS

ALINHADA COM A

ORGANIZAÇÃO”

Com mais de 70 anos de experiência, o El Corte Inglés (ECI) é o primeiro grupo espanhol de distribuição e um dos líderes mundiais em lojas de departamentos. Em linhas gerais, qual é o modelo de Gerência de Riscos implantado no seu Grupo?A experiência sempre é essencial e nis-

so o El Corte Inglés já tem um grande ca-minho percorrido. O que, de fato, marca a cultura de risco do Grupo é como o mana-gement dos referidos riscos é enfocado. Em toda organização existe uma filosofia de negócios sobre a qual tudo o mais é cons-truído. Por isso, é essencial conhecer bem quais são os eixos e a orientação do negócio para desenvolver uma Gerência de Riscos verdadeiramente alinhada com a organiza-ção e suas necessidades.

No nosso caso, e para todas as empresas do Grupo, a ideia principal é a orientação da imagem de marca como valor agregado e, principalmente, o que isso implica no serviço ao cliente.

O ECI nasce para satisfazer as necessida-des de uma família e evolui para se adaptar, implantando novos negócios e adequando os existentes. Não podemos falhar com quem deposita a confiança no ECI. A chave é simplesmente isso, porém, não estamos falando só de nossos clientes, mas de toda a cadeia gerada para se chegar a eles: desde os fornecedores até os vendedores.

Atualmente, o El Corte Inglés não é so-mente varejo, ainda que esse seja nosso core business. O cliente, principalmente o parti-cular, mas também o corporativo,encontra no nosso Grupo desde o desenho, a pro-dução têxtil ou sua venda, até o assesso-ramento em consultoria de tecnologias da informação, venda de viagens, corretora de seguros, financiamento, linha de telefonia móvel, produtos financeiros, desenvolvi-mento e implantação de hardware e sof-tware, formação, produção de tabuleiros de madeira, de equipamento industrial... E a construção de todos os nossos centros de venda. Não devemos esquecer a venda pela

Internet, com um peso cada vez maior nos nossos resultados e uma aposta definitiva por parte do Grupo.

O processo envolve uns 100.000 em-pregados, cerca de 1.000 situações diretas de risco na administração própria e um número indefinido delas no caso de nossos fornecedores diretos ou indiretos, frotas de transporte, coordenação com diferentes empresas de navegação para a importação, milhares de referências de produtos, cartão próprio de venda... Sinergias, sem dúvida, e potencial de negócio, mas também riscos para serem controlados e integrados, pri-meiro de maneira individual, por linha, e depois de maneira corporativa. Somos uma entidade não cotada em bolsa e esse ponto também é crucial para contextualizar nossa política de Gerência de Riscos.

O modelo de Gerência de Riscos foi de-finido na vertical, reportando-se a suas di-retorias dentro de cada unidade de negócio, girando em torno do modelo-matriz que a ECI decide, mas, principalmente, transver-salmente no âmbito empresa; e de forma homogênea quanto a comitês de riscos, pa-drões e procedimentos para todo o Grupo, e que cada empresa adapta para si mesma.

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“NESTA CASA

HÁ UMA FORTE

CULTURA

DO RISCO, E

MAIS AINDA:

NA REFERIDA

CULTURA, UM

IMPORTANTE

NÍVEL DE

MATURIDADE“

Voltado para um sistema de gestão in-terna muito exigente no que se refere a resultados individuais de cada empresa do Grupo, o modelo se caracteriza por um grande investimento em proteções e prevenção para diminuir o risco opera-cional e decisões de transferência clássica para o mercado segurador, com um pro-grama de seguros muito estável, canali-zado de forma única por nossa Divisão de Gerência de Riscos e que se baseia na grande qualidade do risco transferido. O financiamento de riscos, tantos os retidos como os transferidos, está centralizado quase por completo, pois a conta conso-lidada deve ser protegida de maneira ho-mogênea. Uma empresa com atividades tão diversificadas deve contar com um modelo global, além de diferentes variá-veis e adaptações por linha que se ajustem às necessidades específicas.

A chave é a avaliação de um mapa de riscos geral, de mapas de riscos individu-alizados e a localização das inter-relações dos riscos entre linhas, bem como a inte-gração dos mapas individuais no geral. A tomada de decisões concretas é responsa-bilidade de cada linha, mas seguindo um

padrão corporativo. É uma tarefa muito complexa e ainda em movimento, real-mente sempre em movimento, pois é um processo vivo.

IMPACTO DA CRISE

O atual contexto econômico teve algum impacto nesse modelo?O contexto atual teve impacto em tudo

e em todos: não ficamos à margem. Para começar, a diminuição do consumo é um golpe na linha de flutuação do nosso negó-cio. Como é natural, a reativação das ven-das é uma ideia fixa da casa, e isso define as novas estratégias comerciais, de financia-mento, expansivas, que devem ser contem-pladas na redefinição dos apetites de risco, procedimentos de controle, etc.

Logicamente, também devem ser consi-deradas as situações quanto à demora, não pagamentos, insolvências... Mas nossa di-mensão, esquemas de autofinanciamento e, fundamentalmente, uma tarefa de diversi-ficação e relação com fornecedores e clien-tes, controlaram o impacto desse cenário. Uma das chaves é a fidelização em toda a cadeia de negócio, o trabalho de fundo é a

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marca, a reputação, mas também o múscu-lo financeiro. Também teve repercussão no modelo expansivo, que diminuiu, ou me-lhor dizendo, que nos últimos anos foi re-orientado.

Nosso modelo está baseado, principal-mente, no controle de riscos. Isso é fun-damental, e sob esse ponto de vista tam-bém houve impacto. Os orçamentos foram ajustados em todas as linhas e o controle de despesas foi essencial para estabilizar os resultados. Mas, estando conscientes disso, também somos conscientes de que não se pode baixar a guarda em segurança, manu-tenção... e os padrões, os procedimentos, etc. foram intensificados.

Você poderia descrever como é a divisão que você dirige?A Divisão de Gerência de Riscos do

Grupo ECI encontra-se dentro do Gru-po de Seguros do El Corte Inglés (CESS/SECI); e, especificamente, no CESS, broker do Grupo. Esse modelo costuma ser chamado de broker cativo ou broker in house. De certo modo é assim e essa foi sua origem e missão desde a fundação, mas a corretora, atualmente e já há alguns anos, também tem seu negócio que não é o do Grupo.

Não informamos resultados somente como área de negócio da corretora, que não tem objetivos definidos quanto à interme-diação do programa, mas como Departa-mento de Gerência de Riscos e Seguros do Grupo ECI. Como tal, sua missão é exer-cida exclusivamente para o Grupo com o objetivo de oferecer o serviço de gestão de seguros e apoio à Gerência de Riscos, de-pendendo diretamente, através da Direto-ria do Grupo de Seguros, de duas pessoas do Conselho de Administração do Grupo, a quem se reporta. Portanto, nossa ativida-de está centralizada na gestão do programa segurador e, no que se refere à Gerência de Riscos, estamos integrados dentro do siste-ma do Grupo.

“A GERÊNCIA DE

RISCOS AGREGA

NÃO SOMENTE

CAPACIDADE

REATIVA, TAMBÉM

É OU DEVE SER

PROATIVA E

PREVENTIVA”

Atualmente, a Divisão é composta por 10 profissionais distribuídos em três áreas: Gestão/Administração/Subscrição de Ris-cos; Gestão/Tramitação de Sinistros e Con-trole de Riscos e Engenharia.

Na nossa casa, sempre dizemos que sim, que somos “aqueles do seguro”, mas que nossa dedicação e tempo também são para analisar, avaliar e administrar ameaças, buscar soluções de problemas existentes e futuros, ou buscar a quem nos pode ajudar com isso. Essa é uma mensagem que vai pe-netrando, mas onde ainda temos um longo caminho que percorrer.

A alta direção está envolvida no estabelecimento dos objetivos e estratégias relacionadas com a Gerência de Riscos?Realmente, se não o estivesse não pode-

ria ser feito. E é essencial que esteja, dado que, desde a definição do apetite de risco, das estratégias de investimento ou diversi-ficação até as decisões de retenção ou reali-zação de um seguro, deve existir uma visão comum que deve fluir na organização de cima para baixo.

O modelo contempla que os níveis má-ximos de responsabilidade da empresa es-tejam integrados nos diferentes comitês de controle e gestão de riscos. Nesta casa há uma forte cultura do risco, e mais ainda: um importante nível de maturidade na re-ferida cultura.

ESTABILIDADE E RESPALDO

Qual é o valor com que a Gerência de Riscos contribui em um Grupo como El Corte Inglés?Fundamentalmente, e falando em ter-

mos simples, em estabilidade. O objetivo essencial de integrar a gestão de riscos em um Grupo como o nosso é dotar o resto da organização de um respaldo para que eles possam se dedicar ‘ao que é seu’ e que quando um elemento desestabilizador cau-se impacto na atividade normal, este seja

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controlado, minimizado e, inclusive, solu-cionado sem repercussões.

Mas, realmente, de uma maneira mais ampla, a Gerência de Riscos contribui não somente com a capacidade reativa, também é ou deve ser proativa e pre-ventiva, adiantando-se a esses eventos que causam distorção. Essa é a chave de um completo desenvolvimento do ERM dentro de uma organização tão complexa e com tantas frentes abertas. A filosofia de que a prevenção e gestão de riscos é apenas um custo deve ser mudada; e isso acontece demonstrando que a Gerência de Riscos agrega valor.

Como está a Gerência de Riscos acompanhando o seu desenvolvimento?Até aproximadamente 2 a 3 anos atrás,

o Grupo ECI teve um intenso ritmo ex-pansivo. Não do ponto de vista geográ-fico, mas em volume e diversidade de negócios. Nesse sentido, as necessidades geradas são verdadeiramente exigentes sob o ponto de vista da Gerência de Ris-cos e também de seu seguro.

Do ponto de vista da Gerência de Riscos, devem ser estudadas as novas atividades, as localizações e proteções adequadas, os novos fornecedores, se alguma legislação sofre modificação ou se devemos contemplar outras novas, a penetração no e-commerce, o impacto da evolução das marcas genéricas com relação ao resto... Trata-se de um traba-lho muito grande que deve ser realiza-do com o apoio dos departamentos da matriz mais diretamente ligados a cada processo.

E quanto à transferência, como ponto de partida, tratamos de adaptar o que já tínhamos às novas necessidades, modifi-cando formulações, ampliando cobertu-ras, contratando extensões de garantia… sempre que possível. Em algum caso, também tivemos que estudar proteções

e apólices específicas: fraude, TI, cadeia de fornecimento, etc.

CONHECIMENTO DOS RISCOS

Em sua opinião, é essencial o conhecimento dos riscos para seu correto tratamento?Não somente é essencial, mas imprescin-

dível. O gerente de riscos deve se apoiar em quem conhece melhor seus riscos, desde o res-ponsável pela segurança de um shopping que conta a você a sua experiência com os sistemas contra incêndios até o diretor do departamen-to de construções que administra as terceiriza-ções para a execução de um novo espaço.

«O GERENTE DE

RISCOS DEVE

SE APOIAR EM

QUEM CONHECE

MELHOR SEUS

RISCOS»

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«A INSPEÇÃO E

A GESTÃO DE

SINISTROS SÃO

ESSENCIAIS PARA

A APRENDIZAGEM

E MELHORA DO

PERFIL COMO

GESTORES DE

RISCOS»

Devemos nos impregnar das experiências dos companheiros que são, em última ins-tância, os gestores de seus próprios riscos.

Para conhecer os riscos, um exercício sa-dio é a inspeção e a gestão de sinistros, que são essenciais para a aprendizagem e melho-ra do perfil como gestores de riscos. Deve-mos ver o terreno do jogo, se possível, de maneira pessoal, viajar, falar, principalmente escutar... A comunicação é fundamental.

Quais são as categorias de riscos mais importantes que sua empresa enfrenta?Para nós, o mais importante é a marca de

qualidade e serviço do El Corte Inglés, isto é, o selo próprio, e realmente disso emana

qualquer decisão no que se refere à prio-rização de riscos. Nossa base é a marca e o serviço. Portanto, são essenciais o risco de reputação, a continuidade de negócio e de operações e a segurança em geral. Como pi-lar essencial está a proteção de nossos ativos tangíveis: lojas de departamento, supermer-cados, centros logísticos, centros de proces-samento de dados e servidores, mas, prin-cipalmente, as pessoas. Milhares de pessoas visitam anualmente nossas lojas.

Por outro lado, é um negócio cujo cash flow operacional, fluxo de operações e eco-nômico são enormes e não podem parar: o sistema deve ser atualizado em tempo real, as vendas e operações devem ser seguradas assim como o controle de estoques, preços, fornecedores...

Além disso, o risco de reputação pode ser afetado por qualquer evento, por menor que pareça, e sua gestão é de grande complexida-de, pois tem uma inter-relação absoluta com tudo, desde o cumprimento de políticas de compliance e RSC até o atendimento pes-soal de um vendedor ou um comercial, uma campanha promocional pouco acertada, a opinião de um de nossos diretores, a loca-lização de um de nossos centros de venda... ou seja, tudo.

É verdade que a exposição a outros riscos, como, por exemplo, o de catástrofe, é menor em nosso caso, mas também o levamos em consideração. Historicamente estamos mui-to sensibilizados com o risco de terrorismo e é também uma preocupação constante da empresa, onde toda medida de prevenção é pouca: seu impacto é brutal. Hoje em dia ganharam destaque os riscos da cadeia de fornecimento, com tudo o que isso implica, pois depende de um volume muito grande de importações, de milhares de fornecedo-res... ou seja, é uma logística complexa.

Vale também mencionar os riscos regula-tórios, que exercem uma tremenda pressão e que precisam estar acompanhados por um conhecimento atualizado e a implantação ou integração no compliance corporativo, pla-

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nos de prevenção jurídica, etc., tentando nos antecipar ao que chega de fora e espe-cialmente da Europa. Somos uma empresa que mantém sob seu controle a informação de milhares de clientes e as exigências de proteção dos dados da LOPD (Lei Orga-nica de Proteção de Dados) espanhola, por exemplo, não deve ser esquecida. Decidi-damente, tudo isso representa um enorme aumento de recursos e, também, é claro, de seus custos associados.

No que se refere à cultura do risco, como você classificaria o nível alcançado pela organização?O nível é muito elevado para o modelo

atual, mas quanto à sua complexidade, sem dúvida, esse modelo vai continuar evoluin-do e isso significa a adaptação do tipo de Gerência de Riscos que fazemos.

Podemos dar umas pinceladas de futu-ro sobre duas questões cruciais, já que elas, necessariamente, nos farão realinhar nossa cultura de risco. Uma seria a internaciona-lização do negócio core. Algumas de nossas empresas já operam fora da Espanha, mas a grande mudança deveria chegar com a expansão nos shopping centers, o que faria com que reformulássemos alguns critérios-base da Gerência de Riscos: regulamentos e legislação locais e transnacionais, im-pacto das novas necessidades na cadeia de fornecimento, bem como nos padrões de fornecedores, tributação e estabelecimento empresarial local, avaliação de risco catas-trófico e, dependendo das zonas de implan-tação, risco-país, tipo de câmbio...

A segunda questão seria se o ECI, que é um Grupo não cotado na bolsa, decidisse algum dia entrar na bolsa de valores. Isso seria outro aspecto importante que nos faria modificar e atualizar algumas ques-tões, com uma incidência muito profunda na cultura de risco. A título de conjetura, mudariam alguns aspectos de nossa atual cultura de risco, inclusive joint ventures, aquisições…

“ESTABELECEMOS

UMA POLÍTICA

DE COBERTURAS

QUE NOS PERMITE

HOMOGENEIZAR

AS PROTEÇÕES

QUE

NECESSITAMOS E

SEUS LIMITES”

RETENÇÃO E TRANSFERÊNCIA DO RISCO

Quais os riscos que vocês decidiram transferir para o mercado segurador e em quais casos vocês decidiram optar pelo autosseguro?Nossa filosofia é muito clara: dentro de

uma gestão otimizada e alinhada com a es-tratégia do Grupo e com as estratégias de cada unidade, procuramos ter riscos de alta qualidade, para minimizar a ocorrência de sinistros e seu impacto. Porém, uma vez realizadas as nossas obrigações nesse senti-do, transferimos tudo o que for possível. Se detectarmos um novo risco ou um gap de cobertura daqueles já conhecidos, o impacto é avaliado e seu possível seguro é analisado, dando prioridade a essa opção.

Evidentemente, apesar disso, retemos, autosseguramos, parte do risco, tanto do puro – por exemplo, mediante franquias –, como de outros tipos, como o financeiro, que é canalizado através de uma das empre-sas do grupo, Financiera El Corte Inglés, que possui um programa específico de gestão.

Existe sim uma parcela de risco dentro do Grupo: aquela referente a acidentes de trabalho e contingências comuns como a incapacidade temporária do pessoal e suas consequências econômicas e/ou de saúde, administrada e prevista mediante autosse-guro. A gestão dos riscos pessoais dentro de um conjunto de 100.000 empregados é es-sencialmente importante. Através da empre-sa de seguros e resseguros SECI-Seguros El Corte Inglés é canalizado o Seguro de Vida dos empregados e determinadas apólices es-pecíficas relacionadas a esse item.

Quais são as linhas básicas de seu programa de seguros?Como filosofia-base para nosso programa,

estabelecemos uma política de coberturas no nível Grupo que nos permite homogeneizar as proteções que necessitamos e seus limi-tes, e também criar uma massa crítica mui-

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“O SINISTRO É A

MATERIALIZAÇÃO

DE UM RISCO

E ISSO, SOB

DIVERSOS

PONTOS DE

VISTA, TEM

SUA PARTE DE

OPORTUNIDADE”

to importante no volume de contratação de prêmios para estabilizar o referido programa e dar continuidade ao mesmo. O objetivo é administrar uma conta de Grupo forte e em longo prazo. Essa base é composta pelos pro-gramas de Danos Materiais e Perda de Lu-cros, Responsabilidade Civil, Transportes, Construção e D&O.

Para a parte do negócio internacional, acrescentamos programas locais, indepen-dentes do umbrella, mas controlados median-te um padrão utilizado pelas empresas que se estabelecem fora da Espanha e com nosso contínuo assessoramento, complementado com cobertura em DIC/DIL, bem como de um programa de livre prestação de serviços para a União Europeia. Uma vez isso estabe-lecido, se for necessário, são definidas solu-ções específicas por unidade de negócio, ou seja, apólices especiais como as de Respon-sabilidade Civil Profissional, de Crédito e Caução, de Infidelidade de Empregados, de Engenharia,...

Vocês também utilizam as cativas?Há tempos foi estudada, mas até agora não

se considerou uma prioridade. Pessoalmen-te, creio que algum dia chegará porque, ainda que o atual controle do nosso programa seja considerado suficiente e não encontremos dificuldades na transferência, sua otimização pode ser melhorada. Na minha opinião, pas-saria por uma cativa, na qual articular prote-ções especiais, um maior controle do fluxo econômico que nosso potente programa gera, gestão de franquias e otimização, em última instância, o financiamento de riscos e de seu custo total, poderiam ser articulados.

Está em seus planos o uso de outras formas alternativas?No momento não. Francamente, não fo-

mos convencidos por outros sistemas como as ART’s (seguros de risco do trabalho), os finitos ou similares, e nossa exposição catas-trófica não é suficiente para pensar nos bônus de catástrofe.

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“UM PLANO DE

CONTINUIDADE,

CORRETAMENTE

IMPLANTADO

E ATUALIZADO,

PODE SER A

CHAVE DA

SOBREVIVÊNCIA

DE UM NEGÓCIO”

SINISTROS, LADO POSITIVO

Os sinistros também podem ter um lado positivo?Claro que sim. É o momento da ver-

dade não só para as apólices, mas também para a Gerência de Riscos, porque permite realmente avaliar os planos de continuida-de de negócio, do BCM e, principalmen-te, aprender. O sinistro é a materialização de um risco e isso, sob diversos pontos de vista, tem sua parte de oportunidade.

Nada como um exemplo para ilustrá-lo e, melhor ainda, se é próprio: o sinis-tro do Castellana Windsor. A gestão desse sinistro foi um marco na organização no que se refere à aplicação absolutamen-te integral do programa de seguros, bem como de um desdobramento do plano de continuidade. Aprendemos muitas coisas: depois das decisões do gabinete de crise e da gestão da comunicação nos momentos iniciais do sinistro, desde a organização da dupla equipe de gestão e monitoramento até as melhores políticas e ações para fazer com que os clientes retomassem as suas rotinas de compra nesse centro, ou no que se refere ao funcionamento vivo e real da transferência de vendas entre centros, etc. Depois do Windsor, podemos afirmar que conseguimos enfrentar quase tudo. E o que dizer quanto à oportunidade? A nova Torre Titânia e a importantíssima amplia-ção e modernização do centro não teriam existido sem o sinistro.

Pessoalmente, a Gerência de Riscos foi essencial na coordenação dessas tarefas, na coordenação dos dois comitês de gestão, dos relatórios de acompanhamento in-terno, etc. Isso nos permitiu abrir muitas portas, conhecer muito bem os processos, conhecer departamentos que eram mais nebulosos, e nos deu uma visibilidade es-pecial e uma contribuição de valor dentro do Grupo. Avançamos muito em nossa posição dentro da organização.

Qual a importância que vocês dão aos Planos de Continuidade de Negócios? Agora com a atual conjuntura econômica, são especialmente necessários?Um correto BCM é essencial. De fato,

um Plano corretamente implantado e atu-alizado (não um manual para deixar na ga-veta) pode ser a chave na sobrevivência de um negócio.

De maneira geral, como você qualificaria a segurança em suas lojas de departamento?Sinceramente, de excelente. É um

conceito de segurança integral, muito as-sentado, de proteção patrimonial, mas, principalmente, pessoal. Todos os nossos centros implantam o referido conceito, desde aquele que tem 40 anos até o recém inaugurado. Logicamente, as técnicas de segurança foram avançando e os sistemas também. É uma questão básica na nossa organização e à qual sempre se dedicaram muitos esforços, tanto em meios humanos como técnicos, e de forte investimento em proteções e prevenção. Decididamen-te, nossa Diretoria sempre apostou pela segurança e não teve dúvidas em nenhum momento.

O esquema é a implantação dos siste-mas de proteção mais atualizados sob pa-drões homogêneos e reconhecidos, e com cobertura total. E no seu entorno um es-quema-padrão de procedimentos de con-trole e gestão de instalações e operações que estão definidas em nosso “Manual de Operação para Centros de Trabalho ECI”, onde se reflete toda a filosofia e metodo-logia de prevenção do ponto de vista ope-racional.

E na base desse esquema está prote-ger pessoas mediante planos de evacuação para cada risco, formação de equipes de primeira e segunda intervenção com si-mulações e atualização contínua.

Para cada um de nossos riscos há um Departamento de Segurança e Prevenção,

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«DECIDIDAMENTE,

NOSSA DIRETORIA

SEMPRE FEZ UMA

CLARA APOSTA

PELA SEGURANÇA»

técnicos com dedicação exclusiva às instala-ções de proteção e observação de padrões...

GERÊNCIA, SOLUÇÃO SOB MEDIDA

Para que cada empresa consiga que seu sucesso seja total, a Gerência de Riscos deve ser uma solução sob medida?Com certeza, ouve-se falar sobre as

apólices tailor made, porém, efetivamen-te, a Gerência de Riscos é absolutamente uma solução sob medida. Podemos usar modelos comuns, a ISO 31000, Coso ou SOX de Controle interno, as ferramentas que forem… Mas será somente um des-

perdício de recursos se não as adaptarmos à nossa organização.

Em matéria de responsabilidade social, os riscos ambientais de caráter tecnológico estão adquirindo cada vez mais importância. A Gerência de Riscos está preparada para enfrentar essas ameaças?Espero que sim! Em nossas organiza-

ções, o papel-chave no futuro da Gerência de Riscos é precisamente esse: estar pro-fissionalmente preparados e desenvolver os mecanismos em nossas organizações de gestão para esses riscos relativamente recentes, pouco testados e em constante evolução.

Hoje em dia é impossível conceber o desenvolvimento sustentável das empresas sem contar com uma adequada política da Gerência de Riscos?Se a Gerência de Riscos deve contri-

buir com alguma coisa é com a sustenta-bilidade em nossas empresas, em termos de persistência no tempo, flexibilidade, responsabilidade,...

Nos próximos anos, qual o papel que os gerentes de riscos ocuparão dentro das empresas?A verdade é que aqueles que, como

eu, estamos nesse mundo absolutamente apaixonante, pregamos entre conversos, porque para nós está muito claro que a figura do gerente de riscos agrega valor a nossas organizações e ainda há muito trabalho pela frente para provar isso. As circunstâncias exógenas (sinistros, ins-tabilidade econômica, bruscas mudanças regulatórias...), onde a visão integradora e previdente do gerente de riscos é fun-damental, destacam nossa atividade ante o público, e isso não para por aí: sem dúvida vai mais além e devemos estar preparados para isso.

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UMA FUNÇÃO ABSOLUTAMENTE CORPORATIVA, TRANSVERSAL E INTEGRADORA

Em junho de 2003, Miguel Ángel Zarandona Alburquerque, engenheiro industrial pela Universidade Alfonso X El Sábio, se incorpora à Divisão de Gerência de Riscos e Seguros do El Corte Inglés, exercendo tarefas de Controle de Riscos e Engenharia. Dois anos mais tarde, assume a responsabilidade desse Departamento e do de Sinistros e Subscrição. Em 2001, é nomeado responsável pelo Departamento de Riscos e Seguros do Grupo. À frente desse Departamento, seu principal objetivo é que “a conta de resultados e os ativos do Grupo estejam protegidos da melhor forma possível e, principalmente, que o dia a dia possa se desenvolver de uma maneira ótima e eficiente, mesmo quando um evento perturbe a vida normal do negócio”.

Além de integrar um complexo sistema de proteção global, isso implica, segundo Zarandona, “contemplar o funcionamento e o negócio corporativo em seu conjunto, em tempo real, adaptando-se e tratando de se antecipar às necessidades que vão surgindo, escutando todas as linhas de negócio, conhecendo os riscos no seu âmbito conceitual, mas também adaptando, reavaliando o funcionamento das proteções que já estão implantadas e estudando e definindo novas, aprendendo com os problemas. É uma função absolutamente corporativa, transversal e integradora”.

Nesse contexto, “uma alta porcentagem do tempo está concentrada na transferência seguradora e sua gestão: subscrição e sinistros; e também na integração, e, em certos casos, coordenação com as equipes que desenham e definem as políticas de risco do Grupo e que implantam as medidas de controle necessárias no âmbito da organização: identificação, avaliação, controle e decisões de retenção e transferência”, diz o gerente de riscos do ECI. Em resumo, “no que se refere à função elementar do gerente de riscos, a ideia é clássica: que a Gerência de Riscos corporativa seja um processo absolutamente integrado ao funcionamento diário de toda a empresa”.

Sem dúvida, o que mais atrai Zarandona no seu trabalho e na sua profissão é “o dinamismo, o fato de aprender coisas novas quase que diariamente,

a necessidade de você se apoiar em profissionais especializados em uma infinidade de aspectos, que enriquecem você enormemente, e a quem você pode ouvir com atenção". O gerente de riscos, em sua opinião, "deve estar sempre atento ao que o rodeia e ao que rodeia a empresa em que está, bem como aos movimentos internos do próprio grupo na busca de novos horizontes de negócio ou no rearranjo ou reorientação dos existentes. Em uma grande corporação, a diversidade de trabalho para um gerente de riscos é quase infinita. Daí seu enorme fascínio”.

Zarandona também é membro da Diretoria da AGERS, à qual se incorporou em 2009, assumindo a primeira vice-presidência e a função de representante dessa associação na FERMA, um cargo “onde me considero um privilegiado, não somente representando e ao serviço dos gerentes de riscos, mas também apoiando e me apoiando em todos os profissionais da Gerência de Riscos”. Em sua opinião, “sem dúvida essa disciplina ainda possui carências no que se refere ao seu conhecimento e divulgação, e nisso a AGERS exerce um trabalho essencial de formação, coesão, informação e representatividade”.

Além disso, essa associação, com mais de 25 anos à frente dessa tarefa, vem há muito tempo “desenhando e trabalhando duramente em um modelo de AGERS onde os gerentes de riscos tenham o espaço que realmente necessitam; onde disponham de mecanismos que lhes dêem uma visibilidade real como profissionais dentro de nossas organizações; onde compartilhem diretamente inquietudes e experiências; onde resolvam necessidades de informação específica, e sim, onde também possamos formar um lobby, claro, no sentido mais positivo dessa palavra”, descreve Miguel Ángel Zarandona.

E vai mais além. Na opinião do primeiro vice-presidente da AGERS, “como associações devemos entender que nossa missão deve ser provavelmente redefinida e sob medida a partir de uma segmentação de estrutura, ‘produtos’ e serviços aos novos associados. Com debates sobre experiências, jornadas setoriais, fóruns de opinião, formação muito específica, representação institucional ante

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os reguladores, ante outras associações... É o que estamos fazendo na AGERS, abertos a todos e para todos, com vontade e trabalho, isso sim, muito trabalho, ideias, estímulo, renovação, sem complexos".

A AGERS anunciou a convocação para o II Prêmio Julio Sáez Castillo, reconhecimento internacional de pesquisa em Gerência de Riscos: um prêmio que “particularmente me enche de orgulho, porque o Julio foi meu mentor e quem semeou minha paixão pela Gerência de Riscos desde AGERS e com quem também compartilhamos a Gerência de Riscos do ECI. Seu objetivo é muito simples: reconhecer a árdua tarefa de quem dedicou um enorme esforço ao estudo dessa disciplina e conseguiu formar ideias, técnicas e mecanismos para melhorá-la. O número de trabalhos ora apresentados é maior do que na edição anterior e a divulgação do prêmio, com a colaboração da FUNDACIÓN

MAPFRE, nos deixa muito satisfeitos”.A formação de Miguel Ángel Zarandona

é completada com seminários e cursos de pós-graduação em Reengenharia e Melhora de Processos, Prevenção de Riscos Laborais e Meio Ambiente. Também conta com cursos de especialização em Gerência de Riscos e Seguros, especialmente em matéria de RC, Perda de Lucros, Defeitos de Maquinário, Transportes e Construção. Para o gerente de Riscos do ECI, “dado que um gerente de riscos não pode ser especialista em todas as disciplinas que precisam ser integradas na Gerência de Riscos corporativa, há, no mínimo, quatro questões fundamentais que devem acompanhar uma sólida formação de base: o senso comum, a capacidade de escutar, a habilidade de se apoiar nos profissionais que saibam mais que a gente sobre temas concretos e a gestão e assimilação da enorme quantidade de informação necessária".

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estudosestudos

JAIME GÓMEZ-FERRER RINCÓNInspetor de Seguros do Estado

Na PREVENÇÃO da

O mercado segurador encontra-se em plena fase de adaptação às novas exigên-cias, não somente da Solvência II, mas também de uma série de novas normativas necessárias para a profissionalização e de-senvolvimento das entidades que o com-põem. Normas como a responsabilidade penal da pessoa jurídica - em vigor desde 23 de dezembro de 2010 -, a próxima nor-ma sobre Packaged Retail Investment Products (PRIPS), a futura diretiva de mediação, a norma de serviços de pagamento, etc., re-

LAVAGEM DE DINHEIRO

AS futuroPERSPECTIVAS de

1Introdução e situação atual do mercado segurador

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estudos

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presentam um desafio para a indústria e uma necessidade na sua melhora da gestão e pro-fissionalização.

A recente aprovação da norma sobre pre-venção da lavagem de dinheiro e financia-mento do terrorismo que a “terceira direti-va” (aplicável às entidades seguradoras e aos corretores de seguros quando atuem com se-guros de vida ou outros serviços relacionados com o investimento, bem como às entidades gestoras de fundos de pensões) entra em uma nova fase no que se refere à sua implemen-tação por parte do mercado segurador. O fu-turo desenvolvimento regulamentar servirá para definir questões que, com a atual lei na mão, geram incerteza no setor de seguros e estão causando impacto diretamente em seu risco operacional, legal, de reputação e de subscrição. Aspectos de uma empresa diretamente relacionados com a Solvência II e a futura aprovação de modelos internos, a norma freia a prática do mercado financeiro mediante o estabelecimento de obrigações burocráticas, basicamente úteis, mas ávidas de explicações no próximo regulamento, para serem adaptadas à realidade atual.

Ninguém coloca em dúvida a necessidade de desenvolver aspectos como a governança corporativa, o controle interno, a gestão de riscos e a auditoria interna das entidades que fazem parte do setor para otimizar a gestão e o controle das questões anteriormente men-cionadas. Até o momento, a supervisão das empresas de seguros mostra as seguintes ca-rências das entidades financeiras:

– Falta de atualização da legislação aplicada ou que está incompleta.– Falta de uma estrutura mínima de

O DESENVOLVIMENTO REGULAMENTAR SERVIRÁ PARA DEFINIR QUESTÕES QUE, COM A ATUAL LEI NA MÃO, GERAM INCERTEZA NO SETOR DE SEGUROS E ESTÃO CAUSANDO IMPACTO DIRETAMENTE EM SEU RISCO OPERACIONAL, LEGAL, DE REPUTAÇÃO E DE SUBSCRIÇÃO.

controle interno para o desenvolvimento das obrigações estabelecidas pela Lei.– Manual de procedimento inadequado.– Inexistência de uma política concreta de admissão de clientes.– Inexistência de ferramentas para o tratamento das pessoas de responsabilidade pública (Pep’s).– Falta de definição e desenvolvimento do procedimento (transcrição literal das obrigações que são cumpridas).– Inexistência de ferramentas de informação e gestão de medidas com o objetivo de detectar, antes da sua aprovação, os clientes com risco superior.Referências às sanções impostas às enti-

dades financeiras podem ser encontradas na sentença da Audiência Nacional, de 17 de ju-lho de 2009 (JUR\ 2009\362506), e na sen-tença da Audiência Nacional, de 3 de julho de 2008, bem como na sentença do Supremo Tribunal, de 23 de abril de 2010, na sentença do Supremo Tribunal, de 30 de abril de 2007 (RJ 2007\5807), e na sentença da Audiência Nacional, de 9 de outubro de 2008 (JUR 2008\367116).

A atual norma reúne as seguintes obrigações principalmente para o setor de seguros:

Identificação formal de clientes. Identificação real do titular. Comprovação da atividade profissional

ou empresarial dos clientes e propósito e índole da relação de negócios.

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O atual mapa de due diligence do sujeito obrigado com relação ao mercado segurador é o seguinte:

POR CLIENTE:– LEGAL– EXCEÇÃO

POR QUANTIA:– 1.000 ANUAL– 2.500 ÚNICA

RISCO ESCASSO1.000 EUROSINFORMAÇÃO

– PEP´S (…)– CONTRATAÇÃO A DISTÂNCIA (…).– ECONOMIA LONGO PRAZO

MAIOR QUE 1.000 EUROS ANUAISMAIOR QUE 2.500 PRÊMIO ÚNICOSEM DOMICÍLIO BANCÁRIO

PREVIDÊNCIA SOCIAL COMPLEMENTAR

DOMICÍLIO BANCÁRIO DO CLIENTE

VIDA RISCO NÃO VIDA

Reporting sistemático e comunicação de operações por indícios.

O órgão de comunicação e informação e o representante ante a SEPBLAC.

Conservação de documentos. O relatório do perito externo. A formação. Outras questões

No mapa, pode-se ver que a parte de cor verde está excluída do âmbito da Lei e a parte marrom está incluída dentro das diversas me-didas simplificadas de diligência necessária, enquanto a azul clara é a que mantém as me-didas da devida diligência e, em alguns casos, a aplicação de medidas reforçadas.

2Sombras na aplicação da norma e expectativas ante o próximo regulamento

Apesar dessas atenções específicas por par-te do legislador, a aplicação prática da norma gera incerteza com relação a questões como a identificação e comprovação do cliente do artigo 3 da Lei, o tratamento das pessoas po-

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COM A APROVAÇÃO DA TABELA SISTEMATIZADA, O LEGISLADOR PROPORCIONOU AOS AGENTES ECONÔMICOS ENVOLVIDOS NESSE PROCESSO, MECANISMOS DE PREVISIBILIDADE, MODERAÇÃO E IGUALDADE NA VALORAÇÃO DA INDENIZAÇÃO ECONÔMICA

liticamente expostas (Pep´s), a atualização da informação ou da contratação a distância na carteira já existente. Entre a lista de temas que geram certas incertezas na sua aplicação destacam-se:

– Tratamento dos documentos fidedignos para a identificação e verificação do artigo 3. Neste ponto há várias questões pendentes de desenvolvimento regulamentar que, sem dúvida, serão resolvidas pelo regulador. Entre elas:

Definir a diferença entre a identificação do artigo 3.1 e a comprovação do artigo 3.2. O que é identificar? A cópia do documento de identidade deve ser conservada em suporte digital ou outro equivalente? Em qualquer caso ou somente com a comprovação? Quais os documentos considerados fidedignos? Com a Lei na mão, parece que o sentido do artigo 3.1 se refere à identificação visual e comprovação, mais do que à conservação. Enquanto a comprovação do artigo 3.2 refere-se aos produtos para os quais não se aplicam as medidas simplificadas, e, portanto, nos quais a conservação e comprovação do documento de identificação são necessárias. Contudo, no mercado segurador existe a dúvida se em qualquer caso a cópia deve ser guardada, o que parece bastante razoável e necessário para comprovar que a referida identificação foi efetivamente realizada.

Esclarecimento sobre se será necessário ou não voltar a solicitar ao cliente, posteriormente à formalização da operação, a comprovação de sua identidade pelo mero fato de que, por exemplo, o

documento de identidade tenha vencido. Isso significaria um custo humano e econômico que quase não acrescentaria valor à prevenção, que é, de fato, o que buscam tanto o regulador como o setor.

O tratamento da carteira existente, onde o pagamento do prêmio foi realizado através do domicílio bancário e na qual a identidade do tomador não foi comprovada, tendo sido aplicada a exceção correspondente prevista naquele momento pela norma.

Problemática com relação à comercialização à distância e à identificação, que mais tarde será comentada.

– Ultimate beneficial owner. Como fazer a real identificação do cliente? Nesse ponto não

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existe um critério uniforme sobre como levar em consideração as porcentagens de participação. Um exemplo seria o que segue:

No primeiro exemplo, serão aqueles que superam os 25% direta ou indiretamente. Pe-los que têm a participação de 30% direta e pe-los que têm 50% de 60%= 30%. Concluindo, pessoas físicas em vermelho.

No segundo exemplo, não se multiplicam as porcentagens. Portanto, a pessoa física que tem 35% do 60% tem, para efeitos da norma, 60%. Portanto, também deveria ser pesqui-sada a estrutura da propriedade. A seguir, al-guns critérios, sem prejuízo da existência de outros, em relação aos quais deveria existir um critério do regulador, a fim de delimitar o trabalho do sujeito obrigado.

– Estudo de Vida risco. Já é tarde para excluir esse tipo de seguros das obrigações da Lei. Provavelmente, nunca deveria ter sido incluído na mesma, dado que parece um tanto complicado fazer a lavagem de dinheiro através desse tipo de produtos, onde o prêmio médio está situado em torno dos 94 euros e o falecimento de uma pessoa é requisito necessário. Uma combinação dos artigos da Lei poderia diminuir essa due diligence aplicando, de um lado, medidas simplificadas da

devida diligência (limitando a obrigação da identificação do artigo 3.1) para esse tipo de contratos onde o prêmio seja superior a 1.000 euros, e de outra, excluindo a aplicação de qualquer medida de devida diligência através da habilitação do artigo 10.3 para todos os contratos de Vida risco com prêmio inferior a 1.000 euros, ou seja, a grande maioria. Assim, através desse artigo 10.3, seriam excluídos aqueles Vida risco de valor inferior a 1.000 euros, superando a aplicação de medidas simplificadas do artigo 10.1.a). Outra possibilidade seria incluir determinados produtos de Vida risco, qualquer que fosse o seu valor, em medidas simplificadas, como os seguros vinculados a hipotecas, cuja possível utilidade para a lavagem ficaria, no mínimo, em dúvida.

– Domicílio bancário. Nesse caso, a Lei anterior excluía o cliente, enquanto que na atual Lei o pagamento de prêmios de seguro de vida mediante transferência, autorização em conta ou cheque nominal de uma entidade de crédito domiciliada

CLIENTE

60%

50%*

10%

25%*

30%*

25%*

CLIENTE

60%

50%*

12%

15%*

28%*

35%*

* Pressupõem-se que os números marcados com asterisco são pessoas físicas.

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na Espanha, na União Europeia ou em outros países equivalentes, somente exclui o monitoramento contínuo da relação de negócios. Isso significa que as entidades que disso se beneficiavam (cerca de 85% das operações são através de domicílio bancário) deverão, em um prazo de cinco anos, adaptar a informação de sua carteira ao conteúdo da Lei. Uma medida com um elevado custo humano e tecnológico derivada de uma nova obrigação legal, aplicável a inúmeros fatos econômicos, como posteriormente se verá.

– Aplicação das medidas aos clientes existentes. A recopilação da informação necessária em produtos de poupança, por exemplo, de 40 anos, onde a entidade praticamente não mantém contato com o tomador pode ser muito complexa e onerosa em termos de gestão. Pensemos em um seguro de poupança contratado há 25-30 anos ou em apólices que inicialmente não faziam parte da minha carteira, onde o que mais preocupará a entidade seguradora será, antes do pagamento do benefício, comprovar quem será o beneficiário.

– Tomador impróprio. Além do tratamento especial do artigo 10.1.c) dado aos seguros coletivos de terceirização, existem seguros coletivos onde o tomador é, por exemplo, uma entidade financeira ou

uma agência de viagens, etc., que não criam compromisso com pensões; onde se estão comercializando coberturas de vida. Pensemos, entre outros, nos seguros Vida risco associados à contratação de uma conta-salário, aos cartões de crédito ou aqueles com cobertura de falecimento em viagens. A particularidade desses seguros faz com que a figura do tomador seja diferente da do segurado e beneficiário. Em algumas hipóteses, o custo do seguro é assumido pelo tomador, como um "presente", enquanto em outros, o pagamento é feito pelo segurado, mesmo sendo outra pessoa o tomador impróprio. Do ponto de vista jurídico-, em alguns mercados, a qualificação surge através da figura do subscritor do seguro. Assim, faz-se distinção entre o subscritor do seguro (a entidade financeira que subscreve o seguro coletivo) e o tomador titular do seguro, que corresponderá a cada um dos segurados que ostente a propriedade da apólice e o correspondente certificado individual de seguro. Portanto, possui todos os direitos e obrigações reconhecidas pela Lei ao tomador do seguro. No entanto, do ponto de vista de prevenção de lavagem de dinheiro, existem duas questões que deveriam ser simultaneamente esclarecidas. A primeira, se os limites para aplicação de medidas simplificadas (1.000 e 2.500 euros) devem ser aplicados a cada segurado e, em segundo lugar, se as medidas se aplicam ao "subscritor", por exemplo, entidade financeira, ou se dada essa particularidade nos seguros coletivos, a cada um dos segurados, pois, em determinados, seguros são os que realizam o pagamento, mesmo sendo outra pessoa o tomador impróprio (a entidade financeira, agência de viagens, etc.).

– Sujeitos obrigados. O artigo 2.1.b) prevê a possibilidade de excluir algum sujeito obrigado do setor de seguros.

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ASSIM COMO A LEI HABILITA, PARA AS PROFISSÕES REGULAMENTADAS (ARTIGO 27), A CRIAÇÃO DE ÓRGÃOS CENTRALIZADOS DE PREVENÇÃO TAMBÉM PODERIA, DE UMA MANEIRA GLOBAL, SEREM APRESENTADAS ALTERNATIVAS PARA O TRATAMENTO DOS PEP’S, O QUE DIMINUIRIA SENSIVELMENTE SEU CUSTO.

Imagino, por exemplo, as associações de previdência social que, ao ter limitadas as possibilidades de lavagem de dinheiro, não tenham solicitado ampliação dos serviços. O fato de reunir essa possibilidade na Lei não parece coerente, dado que não estaria justificado, a partir do ponto de vista do sujeito obrigado, abrir uma “brecha” na prevenção da lavagem de dinheiro e do financiamento do terrorismo. Já aparecem no texto legal diversas medidas simplificadas que moderam o impacto obrigacional da norma. Com a possível simplificação ou exclusão das medidas de controle interno do artigo 26, surge outra questão, e que, em função do seu tamanho, poderia afetar as administradoras de planos e os corretores de seguros. Também não seria uma justificativa suficiente: nas administradoras, ainda que efetivamente se trate da gestão descentralizada de produtos de previdência social complementar, o fato de se excluir a obrigação de desenvolver o manual, a política de admissão de clientes, etc. não agrega valor. Pelo contrário. Pensemos que, em primeiro lugar, existem medidas simplificadas para a previdência social complementar; e que, em segundo lugar, além disso, é necessário um manual que reúna questões tais como a organização, o tratamento dos Pep’s ou o funcionamento da contratação à distância; e que, em terceiro lugar, apesar de que existem administradoras puras com poucos empregados, se encontram em igual situação mais de 1.500 corretores de seguros com um volume de comissões de cerca de 70.000 euros e dois ou três empregados, aos quais não foi

apresentada a possibilidade de exclusão de tais obrigações, pois significaria, com relação aos grandes brokers, uma discriminação dentro de um grupo. Finalmente, parece que, para manter a uniformidade do mesmo e continuar com o desenvolvimento da norma de controle interno da norma de seguros e dos planos de pensões, as obrigações do artigo 26 devem ser aplicadas a todos os sujeitos obrigados do mercado segurador. Por último, temos que avaliar as últimas sentenças que constatam a utilização dos planos de pensões como um instrumento a mais para a lavagem de dinheiro (por exemplo, sentença do Supremo Tribunal no 1345/2009, de 29 de dezembro, e sentença da Audiência Provincial de Cantabria no 1/2010, de 18 de janeiro).

- Confirmação da atividade profissional do cliente. O mercado deverá se acostumar à sua aplicação na comercialização de produtos de seguros. O fato de se solicitar ao tomador certa documentação provocará um claro receio por parte deste (pensemos em determinadas apólices para diretores, etc.), mas, no curto prazo, o mercado deverá se acostumar, ajudado pelo conjunto de entidades do setor. São todas elas, seja por gestão direta ou através de seus canais, as que, através de um acordo global de mercado, devem solicitar essa informação para evitar “fugas” de clientes para entidades que não cumpram a norma. Através de entidades, órgãos reguladores e supervisores deve haver uma transformação da percepção para o consumidor e ao estabelecimento desta rotina na contratação.

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– Propósito e índole da relação de negócios. É necessário realizar uma parceria das entidades seguradoras com a Tesouraria Geral da Previdência Social (TGSS) sobre a cessão de informação da atividade profissional, similar à parceria assinada em 17 de janeiro de 2008 entre a Diretoria-Geral da TGSS do Ministério do Trabalho e Assuntos Sociais e a Asociación Española de Banca (AEB) ou a Unión Nacional de Cooperativas de Crédito.

– Acordo entre sujeitos obrigados através de filiais e relações em questão de responsabilidade e supervisão. A conclusão de um acordo por escrito entre uma entidade seguradora e um Operador de Banca-Seguros (OBS) (seja a própria entidade de crédito ou uma sociedade mercantil controlada ou com a participação desta) deveria cumprir os requisitos previstos no artigo 8 da Lei 10/2010 para a aplicação por terceiros de medidas de devida diligência, pois este fala de “acordo escrito entre sujeito obrigado e o terceiro”. Não obstante, escutamos em diversos fóruns a obrigatoriedade de que esses acordos sejam necessariamente realizados entre dois sujeitos obrigados da Lei. O que, por um lado, tem a sua lógica, dado que o que se procura, sob o enfoque do risco, é o destinatário final da responsabilidade, nesse caso a entidade seguradora, e, no que se refere ao OBS, a entidade de crédito. Porém, por outro lado, ao duplicar a relação contratual existente através de um contrato de agência, joint venture, etc. com o OBS, isso dificulta a operacionalidade, pois desacelera os acordos com os imprescindíveis canais de distribuição do setor de seguros, e, de outro lado, a relação que regula as responsabilidades derivadas do não cumprimento dessa Lei. Questão essa que já estaria resolvida mediante a aplicação

da Lei 26/2006 (Mediación en Seguros Privados). Além disso, fica evidente que, apesar de utilizar terceiros na distribuição (a diferença dos corretores, que são sujeitos independentes e obrigados diretos), a entidade seguradora manterá a total responsabilidade. Diferente questão é a comercialização de planos de aposentadoria, pois escapa do âmbito da Lei anteriormente mencionada.

– Exceção de clientes (artigo 7). No que se refere à aplicação do due diligence, a redação desse artigo não estabelece obrigações ao sujeito obrigado. Afirma que os sujeitos obrigados “poderão determinar o grau de aplicação” das medidas. Talvez o regulamento devesse estabelecer algum limite; caso contrário, parece que se devidamente argumentado na política de admissão de clientes, a entidade poderia optar por aplicar o grau zero, ou seja, nenhuma medida. Parece óbvio que, ante uma possível falta de severidade por parte do sujeito obrigado na aplicação do tema, deveria se estabelecer, como aplicação mínima obrigatória, a identificação do artigo 3.1.

– Produtos com escasso risco de lavagem de dinheiro. Poderia ter sido desenvolvida uma categoria de produtos de poupança aos quais tivessem sido aplicadas medidas simplificadas, ainda que fosse difícil, dada a heterogeneidade dos produtos existentes no mercado. Uma ativa colaboração com o supervisor de seguros, assim como se fez em alguns países sul-americanos através de uma circular, portaria ou outro instrumento legal, poderia ser, no futuro, um bom mecanismo de desenvolvimento.

– Pressupostos reforçados de due diligence. Determinado tipo de produtos, como, por exemplo, os unit link, ou alguns dos já especificados nas listas e suscetíveis de

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A NORMA DEVE CONSIDERAR AS DIVERSAS NUANCES DO TEMA DE CONTRATAÇÃO À DISTÂNCIA, FUTURO PILAR MAIS IMEDIATO NA COMERCIALIZAÇÃO DE PRODUTOS POR PARTE DE ENTIDADES SEGURADORAS

serem utilizados na lavagem, poderiam ser objeto de uma maior exigência de controle, da mesma forma que o due diligence foi simplificado para outros.

– A contratação à distância. Lembro do Alex de la Iglesia na entrega dos prêmios Goya afirmando que a Internet não é o futuro, mas o presente. Quanta verdade há naquela frase. A Lei estabelece a aplicação de medidas reforçadas da devida diligência para a contratação à distância. Mas, o que acontece quando se contrata um Vida risco ou outro produto pela Internet? Qual o artigo normativo que prevalece: a aplicação de medidas simplificadas ou de medidas reforçadas? No atual contexto, isso não tem grande relevância, dado que as plataformas on-line existentes, em sua grande maioria, não se separam de um procedimento paralelo à contratação telefônica, onde a documentação é enviada por correio ao tomador e se pede a informação necessária. Contudo, falamos de um tema de capital importância, pois não será amanhã, “mas hoje”, quando o mercado utilizará as redes sociais e desenvolverá autênticas plataformas de venda on-line de todo tipo de produtos financeiros, e então haverá muitas perguntas a serem respondidas sobre o tratamento de dados, a utilização da assinatura eletrônica e a gestão das obrigações dessa e de outras leis por parte das atividades vulneráveis a serem utilizadas nos processos de lavagem de dinheiro.. Portanto, agora é o momento de se pensar no que acontece com as lacunas regulatórias para determinados produtos, onde, por um lado, são exigidas medidas simplificadas

e, por outro lado, reforçadas, ao serem à distância. Já argumentei anteriormente sobre a inutilidade de se controlar determinados produtos de Vida risco com todas as obrigações dessa Lei. A norma ajusta-se ao padrão europeu, solicitação do uso de assinatura eletrônica, etc., mas devem ser consideradas as diversas nuances do tema de contratação à distância, futuro pilar mais imediato na comercialização de produtos por parte de entidades seguradoras. Contra o reforço de medidas pelo canal de distribuição utilizado tem que prevalecer a exceção pela natureza do produto.

– Resseguro. A relação ressegurador-entidade seguradora está fora do contrato de seguro e, portanto, da aplicação de medidas como o KYC (Know your customer). Aqui não falamos de prevenção por parte das atividades vulneráveis a serem utilizadas nos processos de lavagem de dinheiro mas da utilização de entidades resseguradoras para a lavagem de dinheiro, que buscaria a via penal. Existem indícios, particularmente no mercado americano, da conivência entre seguradoras e resseguradoras na realização de determinadas estruturas operacionais a preços fora de mercado.

– Pep´s. Creio que esta, em particular, deve ser separada do resto de obrigações da Lei. Pela sua dificuldade, custo e especialidade, uma das atividades vulneráveis a serem utilizadas nos processos de lavagem de dinheiro deve fazer distinção entre o que é o cumprimento das outras obrigações e o cumprimento ante as pessoas de responsabilidade pública (Pep’s).

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É EVIDENTE QUE AQUELE QUE QUISER “LAVAR DINHEIRO”, SENDO TAMBÉM UM PEP, UTILIZARÁ SOCIEDADES DE FACHADA OU OUTRO TIPO DE MECANISMO MAIS COMPLEXO, ANTES DE ENTRAR EM UMA ENTIDADE PELA PORTA DA FRENTE E CONTRATAR PRODUTOS PAGANDO EM DINHEIRO.

3As Pep’s e a identificação do cliente

A base de dados das atividades vulneráveis a serem utilizadas nos processos de lavagem de dinheiro pode, e deve, ser retroalimentada a partir de diversos locais:

– Listas criadas pelas entidades do grupo.– Listas derivadas de acordos, conforme o artigo 33 da Lei.– Lista do Escritório de Controle de Ativos Estrangeiros.– Lista da União Europeia, que inclui membros de grupos terroristas.

Embora a norma não estabeleça explicita-mente a referida obrigação, parece que será ne-cessário ter acesso à base de dados de pessoas de responsabilidade pública de algum dos pres-tadores de serviços. Estes já estão operando no mercado há alguns anos e agora estão entrando no mercado segurador graças às obrigações des-sa Lei. O problema surge da vertiginosa redação da Lei, derivado do estabelecido na diretiva e que pressupõe a necessidade da contratação dos serviços oferecidos por dois ou três prestadores que aproveitam o momento e necessidade, pois parece que, como mencionou um colega do se-tor, a Lei lhes "montou um negócio". A verdade é que no mercado segurador, através da norma seguradora, as entidades não tinham nenhuma obrigação. E, por outro lado, esses prestadores de serviço já prestavam serviços muito diversos antes que se estabelecesse a obrigatoriedade da

norma. Portanto, a culpa não é do prestador, mas de como se chegou à atual redação da nor-ma, que faz as empresas se perguntarem o por-quê assumir um custo proporcionalmente tão elevado para cumprir uma norma que não afeta seu negócio diretamente, e que, no melhor dos casos, só é aplicada em parte de seu negócio, e nem mesmo tem a total confiança do prestador de serviços, ao incluir na norma os “parentes” como Pep’s. Fica difícil justificar quando esta-mos falando de milhares de sujeitos obrigados do mercado de seguros (corretores, segurado-res, dirigentes) e de um custo que globalmente será de vários milhões de euros. Tudo isso sem uma utilidade preventiva muito prática, além do efeito dissuasivo, que creio eu, é o objeti-vo final ante o crescente número de casos de corrupção em nível mundial, do crescimento de economias informais, fraude fiscal e estruturas financeiras pouco transparentes.

É evidente que aquele que quiser “lavar di-nheiro”, sendo também um Pep, utilizará socie-dades de fachada ou outro tipo de mecanismo mais complexo, antes de entrar em uma enti-dade pela porta da frente e contratar produtos pagando em dinheiro. Em resumo, é um caso extremo, mas talvez também se devesse aten-der o principio de proporcionalidade para a exigência da aplicação da norma por parte das atividades vulneráveis a serem utilizadas nos processos de lavagem de dinheiro e, igual-mente, no caso de ser necessário, na aplicação da autoridade sancionadora (Sentença Supre-mo Tribunal, contencioso-administrativo, 21 de novembro de 2007: "... a atuação sanciona-dora da Administração deverá ser proporcional aos objetivos que se pretendem alcançar. Para apreciá-la, deve-se comparar, por um lado, o conteúdo e a finalidade da resolução que a Ad-ministração adota e, por outro, os direitos dos administradores a quem é imposta”). Assim,

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por exemplo, da mesma forma que a Lei habilita a criação de órgãos centralizados de prevenção para as profissões regulamentadas (artigo 27), poderiam ser apresentadas alternativas para o tratamento dos Pep’s de uma maneira global, o que diminuiria seu custo sensivelmente. Com a situação atual, parece que só resta às empresas assumirem o custo da contratação com o forne-cedor, ou esperar não serem fiscalizadas, porque o regime sancionador da norma atual é aparen-temente completo, duro e sem brechas formais para que se possa recorrer do procedimento.

No caso dos corretores e como consequência da inexplicável falta de concentração do setor, o tema é ainda mais complexo. Alguém que pos-sua uma carteira de Vida muito pequena deverá pensar se deve continuar com ela, converter-se em agente vinculado ou buscar um “irmão maior” e funcionar como auxiliar nas operações desse ramo. Os acordos de consultoria e assis-tência até agora realizados apresentam-se como uma base mínima para entrar em contato com a norma, mas insuficientes para o cumprimento da mesma.

Dentro das atividades vulneráveis a serem utilizadas nos processos de lavagem de dinhei-ro, a norma menciona uma gama tão ampla de sujeitos que a diferenciação entre a imensa ca-suística de cada um deles e sua concretização na norma representa uma enorme dificuldade. À medida que uma nova norma surge, observa-se

a necessidade de uma maior profissionalização e melhora da eficiência das entidades que ope-ram nos mercados financeiros. Esse é o objetivo desejado por todas as partes envolvidas, órgãos reguladores e atores do mercado. Contudo, em determinadas ocasiões, a norma separa a regu-lação da realidade, e como consequência, uma norma útil desvirtua-se pelo repúdio produzido no setor financeiro, entre outros. Para conseguir uma aceitação majoritária e completa, intensifi-cada pela sua efetiva utilidade, a prevenção da lavagem de dinheiro e financiamento do terro-rismo deve procurar reunir as circunstâncias es-peciais e a casuística de cada mercado de que os diferentes sujeitos obrigados fazem parte. Mas para que isso aconteça deve determinar os di-ferentes aspectos dificilmente aplicáveis no dia a dia das atividades vulneráveis a serem utiliza-das nos processos de lavagem de dinheiro ou, caso contrário, sempre permanecerá o perigo de se transformar uma norma útil em uma norma com um alto potencial confiscatório (Senten-ça no 1066 do Tribunal Superior de Justiça de Madri, onde se emite a sentença de diminuição da sanção imposta a uma pessoa física por des-cumprimento da norma, dos 242.190 euros para os 1.200 euros.) e uma escassa aceitação. Espero que o regulamento, ou, em um futuro próximo, outros instrumentos legais de igual ou menor categoria, contemplem as particularidades do setor segurador.

Finalmente, cabe reiterar a importância es-pecial dessa norma, de um lado, com relação ao seu cumprimento no âmbito nacional e in-ternacional (cross border situations) e seu cum-primento com relação a outra normativa, como a de responsabilidade penal da pessoa jurídica (art.31.1.bis C.P.), entre outras, pela comissão de delito de lavagem de dinheiro, novidade no sistema espanhol, que reúne a possibilidade de praticar um delito de forma imprudente (in-cluindo empregados) ao descuidar de determi-nadas obrigações estabelecidas na Lei, tanto pela entidade seguradora como pelos canais de dis-tribuição pelos quais é responsável. Uma nor-ma que vai dar muito que falar em um futuro imediato.

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estudos

PABLO DURÁN SANTOMILLUIS A. OTERO GONZÁLEZUniversidade de Santiago de Compostela

O que é a AnáliseFinanceira

Dinâmica

(DFA )

O presente trabalho tem sua origem no livro “El Análisis Finan-ciero Dinámico como herramienta para el desarrollo de modelos in-ternos en el marco de Solvencia II”, editado pela FUNDACIÓN MA-PFRE no número 153 da coleção Cuadernos de la Fundación. Esse livro é o resultado da bolsa de es-tudo Risco e Seguro obtida pelos autores na edição de 2007.

A iminente entrada em vigor da Solvência II impulsionará a aplicação de modelos internos de avaliação e gestão do risco. A Análise Financeira Dinâmica (DFA) apresenta-se como uma técnica ideal para o desenvolvimento de modelos internos. Sob essa denominação, englobam-se os modelos de simulação estocástica do negócio segurador, que permitem avaliar o impacto das decisões estratégicas sobre a solvência e a rentabilidade da empresa.

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ILLU

STRA

TION

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O controle dos riscos e a análise da sol-vência sempre constituíram uma das principais preocupações das empresas

seguradoras. O uso de modelos internos para le-var a cabo as referidas tarefas despertou o interes-se pelos modelos de Análise Financeira Dinâmica (DFA). Embora a DFA possa ser utilizada para determinar as necessidades do capital de solvên-

cia, seu âmbito de aplicação se estende à análise do risco, à avaliação de estratégias de investimen-to, à valoração de produtos e à análise de resul-tados, entre outros. As principais vantagens dos modelos internos é que são mais flexíveis que os modelos-padrão e têm a capacidade de poder re-presentar de maneira mais fiel o negócio de uma empresa, possibilitando melhorar sua gestão.

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estudos

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A DFA ADOTA UMA

ANÁLISE INTEGRAL

DO ATIVO E

DO PASSIVO,

QUE PODE SER

UTILIZADA PARA

DIVERSOS FINS,

ENTRE ELES O

ESTABELECIMENTO

DE NÍVEIS

DE CAPITAL

AJUSTADOS AO

RISCO

A ANÁLISE FINANCEIRA DINÂ-MICA (DFA)

Na análise atuarial clássica, as decisões técnicas e financeiras eram analisadas de forma independente. A DFA realiza uma análise integrada de ambas as atividades. A importância dos modelos integrais está em que, do ponto de vista da organização, ambas as decisões estão inter-relaciona-das. Portanto, as decisões que podem ser apropriadas no contexto de uma unidade de negócio, avaliadas de forma isolada, podem não ser as mais adequadas para a empresa em seu conjunto.

São muitas as definições atribuídas à DFA, já que, como afirmam Kaufmann et al. (2001), é impossível definir ou des-crever uma metodologia única de DFA. D´Arcy et al. (1998) indicam que a DFA é um processo que examina a situação financeira de uma seguradora ao longo do tempo, levando em consideração as inter-relações entre as diferentes partes e a natureza estocástica dos fatores que

podem influir nos resultados. Para os autores, a DFA é o processo de simula-ção da atividade seguradora de maneira integral, através da modelação estocás-tica, com fins alternativos, das variáveis determinantes da evolução dos ativos e passivos da empresa. Dessa forma, um modelo DFA1 emprega as técnicas de si-mulação de Monte Carlo para prever os resultados da empresa ante um conjunto de cenários futuros, mostrando como os referidos resultados podem estar afetados por mudanças nas condições internas e/ou externas da empresa.

1 Os modelos DFA geralmente são classifi cados em

modelos estocásticos e deterministas.

Estratégias

Análise e apresentação

Output

Modelo da empresa

Fator de risco

Gerador estocástico de cenários

Estimativa

Inputs: dados internos e externos

Ilustração 1.- Estrutura genérica de um modelo DFA.

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AS REGRAS DE

DECISÃO SÃO

IMPLEMENTADAS

ATRAVÉS DE

ALGORITMOS

QUE REALIZAM

CÁLCULOS

PARA ALGUMAS

VARIÁVEIS

DO MODELO,

EM FUNÇÃO

DE VALORES

ANTERIORES OU

PREVISTOS PARA

O FUTURO.

De maneira geral, os modelos FDA costumam ser processos com uma estru-tura genérica que integra as atividades in-cluídas na ilustração 1 (ver, por exemplo, Blum e Dacorogna, 2004).

A empresa deve identificar os riscos que afetam em maior medida a sua situ-ação financeira futura da empresa. Uma vez identificados, é necessário incorporar os inputs do modelo, que são o conjunto de dados internos da empresa e do con-texto onde opera. Os referidos inputs são necessários para a estimativa ou calibra-ção dos parâmetros dos modelos estocás-ticos utilizados para efetuar as projeções. Os valores dos parâmetros devem permi-tir construir cenários consistentes e rea-listas, para o qual costuma ser necessário estabelecer hipóteses sobre o compor-tamento futuro das variáveis. Uma vez especificados os parâmetros do modelo, deve-se proceder à sua validação. Um método frequentemente empregado para essa tarefa é o backtesting.

Um aspecto essencial do gerador de

cenários DFA é que os caminhos projeta-dos não devem ser gerados de forma iso-lada, mas devem refletir as relações en-tre as diferentes variáveis empregadas no modelo. O modelo de empresa leva em consideração a composição da carteira de ativo e passivo, e permite avaliar o com-portamento do segurador ante o conjun-to de cenários simulados.

O output do modelo dependerá do ob-jetivo para o qual é utilizado, mas quando o objetivo é a análise de risco, se requer a determinação do excedente econômi-co. Os resultados obtidos pelo modelo devem ser analisados, motivo pelo qual é comum resumi-los em diferentes me-didas de rentabilidade e risco. Como re-sultado desse processo, a empresa pode analisar os riscos, avaliar estratégias ou determinar o capital necessário sob esses cenários simulados. Se os resultados sob alguns cenários não são aceitáveis, as cau-sas ou fatores de risco que os motivaram devem ser identificados. A partir desse processo é útil estabelecer quais são os fa-tores de risco ou cenários que provocam um maior número de situações não acei-

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G e r ê n c i a d e R i s c o s e S e g u r o s • n º 1 0 9 - 2 0 1 1

táveis. Além disso, existem vários méto-dos estatísticos que ajudam a determinar o efeito de diferentes variáveis individu-ais sobre uma variável objetiva, facilitan-do a identificação dos fatores explicativos dos resultados do modelo.

Para se analisar corretamente o output de um modelo DFA, é necessário realizar também uma análise ou teste de sensibili-dade. O objetivo é examinar como os re-sultados originais reagem a mudanças nas hipóteses ou parâmetros iniciais. Dessa forma, comprova-se que os resultados obtidos na simulação são robustos, e não o resultado das hipóteses e parâmetros empregados. Os testes de sensibilidade costumam ser completados com a análi-se de cenários de estresse (stress testing), onde se comprova, em determinadas va-riáveis, a resistência da empresa diante de variações extremas.

Uma vez analisados os outputs, pode-

OS MODELOS

DFA DINÂMICOS

INCORPORAM

REGRAS DE

DECISÃO

CONDICIONAIS,

DOTANDO-OS DE

INTELIGÊNCIA

ARTIFICIAL. A

CAUSA DE SUA

INCLUSÃO É QUE A

GERÊNCIA POSSA

REVISAR SUAS

ESTRATÉGIAS

QUANDO

NECESSÁRIO

se elaborar um relatório para a diretoria da empresa ou para o órgão supervisor. No relatório a informação produzida pelo modelo deve ser resumida, de maneira que facilite a identificação das estratégias mais adequadas, possibilitando, assim, le-var a cabo ações que permitam adequar os resultados aos objetivos da empresa.

Incorporação da estratégia de forma dinâmica

Os modelos dinâmicos DFA incorpo-ram regras de decisões condicionais, do-tando-os de inteligência artificial. A causa de sua inclusão é a hipótese de que a ge-rência pode reagir ao seu entorno revisan-do suas estratégias quando for necessário e não implantar seu plano operacional de uma forma passiva ao longo do período de projeção do modelo. Formalmente, as regras de decisão são implementadas através de algoritmos que realizam cálcu-los para algumas variáveis do modelo, em função dos valores obtidos em períodos anteriores ou dos valores previstos para o futuro. Desse modo, trata-se de simular a reação futura da empresa (evolução das estratégias) às condições específicas si-muladas ao longo do período de projeção. D´Arcy et al. (1998) indicam a conveni-ência de se incorporar determinadas de-cisões estratégicas nos modelos; contudo, não lhes parece apropriado incorporar to-dos os processos de tomada de decisões no modelo, para, assim, poder analisar o efeito de diferentes cenários.

USOS E USUÁRIOS DA DFA

Neste item vamos descrever os múl-tiplos usos que são atribuídos à técnica DFA. A Casualty Actuarial Society (1999) fornece uma lista de potenciais usos ao afirmar que a DFA oferece à gerência in-formação útil para a tomada de decisões nas seguintes áreas:

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PODE-SE UTILIZAR

A DFA PARA

MELHORAR A

COMPREENSÃO

DA EMPRESA

SOBRE OS CUSTOS,

VANTAGENS

E RISCOS

ASSOCIADOS

ÀS MUDANÇAS

NA FILOSOFIA

DE GESTÃO DAS

RECLAMAÇÕES

1. Avaliação do plano de negócio.Os modelos DFA podem ser utili-zados para aprofundar-se nas causas pelas quais os objetivos financeiros da empresa podem não ser alcançados.

2. Estratégia de marketing (desenvol-vimento do produto e de mercados).A DFA pode proporcionar uma base para a tarifação das apólices e/ou ex-plorar os possíveis efeitos financeiros que os novos mercados e produtos terão nos resultados financeiros dos produtos e mercados existentes.

3. Gestão de reclamações.A DFA pode ser utilizada para melho-rar a compreensão da empresa sobre os custos, vantagens e riscos asso-ciados nas mudanças na filosofia de gestão das reclamações por parte dos segurados.

4. Determinação do capital necessário pela empresa.A suficiência do capital normalmente se refere à capacidade da empresa para pagar todas as potenciais obrigações. Historicamente, as empresas fixaram seu capital por meio de fórmulas simples baseadas em quocientes de prêmios ou quocientes de provisões, e que não levam em consideração os riscos que as empresas enfrentam. A DFA pode quantificar melhor o nível de capital apropriado de uma empresa para apoiar os riscos do negócio.

5. Dotação do capital entre linha do negócio.A DFA permite avaliar os riscos e as rentabilidades das diferentes divisões operacionais de uma empresa e, por conseguinte, a dotação do capital é realizada em função do valor ajustado ao risco proporcionado à empresa.

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AS AGÊNCIAS DE

QUALIFICAÇÃO

OU RATING

VALORIZAM AS

TÉCNICAS DE

GESTÃO DE RISCOS

COMO DFA.

UMA EMPRESA

QUE ANALISE

SUAS DECISÕES

ECONÔMICAS

MEDIANTE

A DFA PODE

RECEBER UMA

QUALIFICAÇÃO

MAIS FAVORÁVEL

6. Análise de liquidez.Um modelo DFA pode ajudar uma empresa a determinar o nível de fun-dos em curto prazo que podem ser necessário em função da volatilidade dos fluxos de caixa futuros.

7. Estrutura ou estratégia do resseguro.De acordo com Bohra e Weist (2001), a análise do resseguro baseia-se em examinar a relação entre a rentabili-dade e o risco associado a diferentes estruturas do resseguro. O ponto chave é a tolerância ou aversão ao risco do comprador, dado que me-nos resseguro geralmente aumenta a rentabilidade prevista, mas também o risco. A DFA pode ajudar a responder perguntas sobre o tipo de resseguro a comprar, os níveis de retenção ou dos limites, entre outras.

8. Análise da estratégia de investi-mento. A DFA pode analisar diferentes es-tratégias de ativo e ver sua influência nos resultados financeiros em longo prazo, ajudando às empresas a deter-minarem a estratégia ótima consisten-te com seu perfil de risco.

9. Melhora na qualificação creditícia. As agências de qualificação ou rating reconhecem a importância das técnicas de gestão de riscos como a DFA, na medida em que proporcionam as ferra-mentas necessárias para mostrar a com-preensão e quantificação da exposição do risco das empresas. Uma empresa que analise suas decisões econômicas mediante técnicas DFA pode receber uma qualificação mais favorável.

10. Análise das oportunidades de fusão e aquisição.Através dos modelos DFA pode-se quantificar o preço de compra de uma possível operação corporativa em função da criação de valor da nova empresa.

Uma vez vistos os possíveis usos da técnica DFA, é útil de-

terminar quais são os possíveis usuários de referidos mo-delos. Blum e Dacorogna (2004) estabelecem como possíveis usuários as em-presas seguradoras e resse-guradoras com ânimo de avaliar o plano de negó-cios e o desenvolvimento de produtos, e os corpos

reguladores e agência de rating, que utilizam a DFA

para analisar a solvência e a liquidez. A Casualty Actuarial

Society (1995) acrescenta à lista anterior os bancos de investimento,

intermediários financeiros, investido-res institucionais e analistas financeiros.

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CONCLUSÕES

A necessidade de se medir o risco ao qual uma empresa de seguros está expos-ta recentemente se viu impulsionada pelo contexto competitivo onde a atividade se desenvolve, pelas inovações tecnológicas e financeiras, pela volatilidade atual dos mercados e pela próxima entrada em vi-gor da nova regulação de capital conhe-cida como Solvência II. Como principal vantagem, a DFA adota uma análise in-tegral do ativo e do passivo que pode ser utilizada com diversos fins, entre os quais se destacam o estabelecimento de níveis de capital ajustados ao risco e a avaliação das estratégias ante as mudanças no en-torno. Desse modo, a empresa pode re-conhecer, a qualquer momento, o risco que assume e as necessidades de capital necessárias para fazer frente ao referido risco. Por conseguinte, a empresa poderá empreender ações que situem o negócio no nível de risco desejado e antecipar os efeitos das estratégias adotadas.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Blum, P. e Dacorogna, M. (2004): «Dynamic Financial Analysis, Understanding Risk and Value Creation in Insurance», em Teugels, J. e Sundt, B. (editores): Encyclopedia of Actuarial Science,John Wiley & Sons,Vol. 1, pp. 505–519.

Bohra, R. e Weist, T. (2001): «Preliminary Due di-ligence of DFA Insurance Company», CAS Forum, Spring, pp. 25-58.

Casualty Actuarial Society (1995): «Dynamic Financial Models of Property/Casualty Insurers», Dynamic Financial Analysis Committee.

Casualty Actuarial Society (1999): «Overview of Dynamic Financial Analysis», Dynamic Financial Analysis Committee.

D’Arcy, S.P.; Gorvett, R.W.; Hettinger, T.E. e Walling III, R.J. (1998) «Using the Public Access Dynamic Financial Analysis Model: A Case Stu-dy», CAS Dynamic Financial Analysis Call Paper Program, Summer, pp. 53–118.

D’Arcy, S.P. e Gorvett, R.W. (2004): «The Use of Dynamic Financial Analysis to Determine Whether an Optimal Growth Rate Exists for a Property- Liability Insurer», Journal of Risk and Insurance, Vol. 71, No 4, pp. 583–615.

Kaufmann, R.; Gadmer, A. e Klett, R. (2001): «Introduction to Dynamic Financial Analysis», ASTIN Bulletin, Vol. 31, Nº 1, pp. 213–249.

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JOSÉ MARÍA CORTÉS SAAVEDRASegurança e Meio AmbienteMAPFRE

Os riscos de segurança e meio ambiente

Uma aproximação à sua como

Risco Operacional à luz da

SOLVÊNCIA II

Análise

Estamos assistindo a uma preocupação crescente pelo controle dos riscos de todo tipo e em todos os âmbitos. A época de crise que vivemos vem au-

mentar essa necessidade de controle, sem também po-der esquecer outros acontecimentos de triste lembrança como os ataques terroristas ou as catástrofes naturais, de fatídica atualidade. O denominador comum de todos eles é que provocaram graves danos, por vezes irrepa-ráveis, e que não haviam sido prevenidos, pelo menos corretamente.

Certamente, a preocupação pelo risco não é uma ati-tude nova, poderíamos, inclusive, convir que é inata ao ser humano e, portanto, a todas as suas atividades. Mas o que, sim, pode ser considerado como novo fenôme-no, sem dúvida também patrocinado pelas circunstâncias já referidas, é o crescente grau dessa preocupação, tanto em intensidade como em extensão, alcançando todos os riscos possíveis. Junto a essa preocupação, também vem sendo percebida a necessidade de se aplicar procedimen-tos científicos e racionalizados para controlar os riscos, com um matiz integrador dos mesmos.

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Em consonância com o anterior e com o ob-jetivo, entre outros, de conseguir uma adequada e eficaz gestão de todos os riscos que pudessem afetar o setor bancário, foram promulgados os Acordos de Basileia1, bem como a diretiva co-munitária Solvência II2, ambos para o setor se-gurador.

Nesse contexto, a intenção deste trabalho é centralizar-se na análise da gestão dos riscos de segurança e meio ambiente, no âmbito da gestão integral de riscos da empresa em geral; particu-larizado para o setor segurador sob a perspectiva da Solvência II.

A SOLVÊNCIA II E O RISCO OPERACIONAL

Tanto a Solvência II como o Acordo de Ba-sileia não deixam nenhuma dúvida sobre a ne-cessidade de se administrar e controlar todos os riscos “presentes e futuros” aos quais a entida-de possa estar exposta. O enfoque é integral, ou seja, devem ser controlados todos os riscos, inde-pendentemente de sua natureza.

Por outro lado, essas diretivas concedem grande importância ao risco operacional3, dentro do conjunto dos riscos aos quais as entidades po-dem estar expostas. Analisando o que a Solvência II estabelece sobre isso, constataremos a trans-cendência da gestão desses riscos.

É amplamente sabido que o grau de eficácia e o modelo adotado para a gestão dos riscos vão incidir diretamente nos recursos próprios míni-mos requeridos, tanto das seguradoras como das entidades financeiras.

Assim, pode-se enunciar como um dos princi-pais objetivos da Solvência II o desenvolvimento de um novo sistema que permita determinar os recursos próprios mínimos a serem requeridos de cada seguradora em função dos riscos assu-midos e da gestão que se faça de cada um deles.

UM DOS OBJETIVOS DA SOLVÊNCIA II É O DESENVOLVIMENTO DE UM NOVO SISTEMA QUE PERMITA DETERMINAR OS RECURSOS PRÓPRIOS MÍNIMOS A SEREM REQUERIDOS DE CADA SEGURADORA EM FUNÇÃO DOS RISCOS ASSUMIDOS E DA GESTÃO QUE SE FAÇA DE CADA UM DELES

1 Diretiva 2006/49/CE, de 14 de junho de 2006, sobre a adequação do capital das empresas de investimento e das entidades de crédito ao Novo Acordo de Capital de Basileia de 2004. E Diretiva 2006/48/CE do Parlamento Europeu e do Conselho, de 14 de junho de 2006, referente ao acesso à atividade das entidades de crédito e seu exercício (refundição). Em setembro de 2010, chegou-se ao Acordo de Basileia III, que endurece as condições de capital.

2 Diretiva 2009/138/CE, de 25 de novembro de 2009, sobre o seguro de vida, o acesso à atividade do seguro e seu exercício (Solvência II).

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Além disso, estabelece mecanismos para conse-guir a eficiente e efetiva gestão do risco e a com-provação dessa gestão por parte do supervisor.

A diretiva vincula a consecução desse objetivo à necessidade de que as empresas de seguros e de resseguros contem com um sistema de gover-nança adequado, que também deve estar sujeito à revisão supervisora. No mesmo texto legal, defi-ne-se “sistema de governança” como a capacida-de interna para realizar tarefas de caráter prático; o que leva a considerar o conjunto de processos, costumes, políticas, leis e instituições que afetam o modo como se dirige, administra ou controla uma empresa ou corporação.

Continuando com a Solvência, entre as fun-ções importantes que integram o sistema de go-vernança inclui-se a gestão de riscos.

Especificando ainda mais sobre essa função, a Solvência II menciona que as empresas de segu-ros e de resseguros deverão dispor de um sistema eficaz de gestão de riscos que compreenderá as estratégias, os processos e os procedimentos de informação necessários para identificar, medir, vigiar, gerenciar e notificar de forma contínua os riscos aos quais estejam ou possam estar expos-tas, bem como suas interdependências.

SOLVÊNCIA II: PILARES E SISTEMAS DE GOVERNANÇA

OBJETIVOS/PILARES

SISTEMA DE GOVERNANÇA

1. Desenvolver um novo sistema para determinar os recursos mínimos a serem requeridos de cada seguradora em função dos riscos assumidos e da gestão que se faça dos mesmos.

2. Estabelecer novas competências e mecanismos de atuação dos supervisores.

3. Estabelecer as informações que as seguradoras devem dar sobre os riscos e sua gestão.

As seguradoras deverão adaptá-lo, estará integrado pelas “FUNÇÕES IMPORTANTES” de:

• Gerência de Riscos.

• Comprovação de conformidade / controle interno.

• Auditoria interna. Deve ser independente das outras funções ope-racionais.

• Função atuarial.

Fonte: Elaboração própria

3 A autora, María Ángeles Nieto Giménez-Montesinos, em seu trabalho «El tratamiento del riesgo operacional en Basilea II » (Banco de España. Estabilidad Financiera, nº 8. Pdf), destaca a importância crescente do risco operacional, verificado pelo tratamento como Pilar 1 que o Acordo de Basileia II lhe dá, por trás do risco de crédito e muito na frente do risco de mercado no que se refere aos requerimentos de capital.

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Finalmente, entre as áreas que devem estar cobertas com a função de gestão de riscos men-ciona expressamente a gestão do risco operacio-nal.

Deve-se considerar que no artigo 41 da di-retiva estabelece-se a necessidade de se contar com uma política de gestão de riscos escrita que, obviamente, constituirá a base para todo o pro-cesso.

A importância concedida à gestão do risco operacional é também apreciada ao estar expres-samente mencionada entre os riscos que devem ser cobertos para calcular o capital de solvência obrigatório.

Em relação ao que se considera risco ope-racional, cabe dizer que a Solvência II o define como aquele derivado da inadequação ou da dis-função de processos internos, do pessoal e os sis-temas, ou de acontecimentos externos. Inclui os riscos jurídicos, mas não os riscos derivados de decisões estratégicas, nem os riscos de reputação. Definição que coincide com aquela adotada pelo Basileia II4.

A Solvência não especifica que áreas de risco seriam consideradas risco operacional. Mas o Ba-sileia sim, mencionando, entre estas, as seguin-tes: fraude interna, práticas com clientes, produ-tos ou negócios, segurança no posto de trabalho, danos a ativos materiais, fraude, incidências no negócio, falhas nos sistemas.

SOLVÊNCIA II: FUNÇÃO DA GERÊNCIA DE RISCOS

Avaliação de riscosAutoavaliação de solvência.Considerando-se a avaliação de riscos

Necessidade de recalibração nos modelos internos. Para passar dos valores de risco interno às medidas para o cálculo do capital de solvência

Necessidade de avaliar todos os riscos atuais e futuros

Subscrição e reservas

Resseguro e técnicas de redução do risco

Gestão de ativos e passivosInvestimentosGestão de risco operacional

A Gerência de Riscos deverá cobrir as seguintes áreas:

Mecanismo de Gerência de Riscos:

Fonte: Elaboração própria

Chegados a este ponto, é necessário detalhar a função ou funções das áreas de segurança, para elucidar se a natureza dos riscos que desde as mesmas são gerenciados permite ou obriga seu enquadramento entre as operacionais. Se a res-posta a esta questão for positiva, se deverá con-cluir que a gestão desses riscos também deveria ser tratada sob o prisma da Solvência II nas se-guradoras ou dos Acordos de Basileia na banca. Conclusões que poderiam ser consideradas ex-tensivas para o resto das empresas como refle-xões para uma gestão integral de seus riscos.

4 Por seu lado, o Basileia II define o risco operacional como a falta de adequação ou de uma falha dos processos, do pessoal, dos sistemas internos, ou mesmo como consequência de acontecimentos externos. Inclui o risco legal e exclui o de reputação e o estratégico.

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OS RISCOS DE SEGURANÇA E MEIO AMBIENTE SÃO RISCOS OPERACIONAIS?

Para responder a essa pergunta é preciso de-finir, em primeiro lugar, o que se entende por "riscos de segurança e meio ambiente".

Dessa forma, considera-se que sob esse con-ceito estão englobados todos aqueles riscos que tradicionalmente são administrados pelas áreas de segurança e as de meio ambiente. Para enfocar o tema a que nos referimos, podemos mencionar que entre esses riscos, como um de seus exem-plos mais significativos, encontram-se os riscos antissociais (roubo, furto, ameaças, terrorismo, danos mal intencionados, etc.), mas sem que a tipologia de riscos de segurança e meio ambiente se esgote com eles. Pelo contrário, dado o amplo e heterogêneo elenco de riscos que são adminis-trados pelas unidades ou áreas de segurança das empresas.

Também não seria correto identificar os ris-cos de segurança e meio ambiente exclusivamen-te com os riscos patrimoniais, já que estaríamos nos desviando de riscos tão representativos para a segurança como os que provocam dano às pes-soas (agressões, ameaças, extorsão, sequestro, atentado terrorista, etc.)

A título de exemplo, e sem que se trate de um catálogo fechado ou numerus clausus, identifi-cam-se as seguintes áreas de risco como as tradi-cionalmente gerenciadas desde a perspectiva de segurança, ou suscetíveis de sê-lo:

• Risco de incêndio.• Riscos da natureza.• Risco antissocial.

• Risco para o meio ambiente.• Riscos derivados de danos ou ataques à in-

formação, inclusive o derivado da LOPD (Ley Orgánica de Protección de Datos de Carácter Personal).

• Não é incomum que desde as áreas de se-gurança se administrem também as possí-veis emergências e os planos de autopro-teção.

• Há também autores que incluem entre es-ses riscos os de segurança laboral5.

PARA A SOLVÊNCIA II, O RISCO OPERACIONAL É O DERIVADO DA INADEQUAÇÃO OU DA DISFUNÇÃO DE PROCESSOS INTERNOS, DO PESSOAL E DOS SISTEMAS, OU DE ACONTECIMENTOS EXTERNOS. INCLUI OS RISCOS JURÍDICOS, MAS NÃO OS DERIVADOS DE DECISÕES ESTRATÉGICAS

5 Como exemplo, os riscos de segurança, de meio ambiente e de segurança do trabalho são abordados de forma conjunta no “Manual de evaluación y administración de riesgos”, dos autores Rao Kolluru, Steven Bartell, Robin Pitblado e Scott Stricoff (Editora Mc Graw Hill). Nas obras ou tratados de segurança é comum encontrar a segurança do trabalho entre as disciplinas conjuntamente administradas pela segurança, como acontece no “Manual para el director de seguridad” (Editora E.T. Estudios Técnicos, 1996). E, na mesma linha, nas “Instrucciones técnicas de seguridad integral” da FUNDACIÓN MAPFRE Estudios, talvez a mais completa recopilação sobre segurança integral realizada na Espanha, e que compreende todos os ramos de segurança aqui mencionados.

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TIPOLOGIA DE RISCOS DE SEGURANÇA E MEIO AMBIENTE E ÁREAS DE GESTÃO

A SOLVÊNCIA II E O ACORDO DE BASILEIA CONSIDERAM QUE OS RISCOS DE SEGURANÇA E MEIO AMBIENTE DEVEM SER ADMINISTRADOS PELAS EMPRESAS ASSIM COMO OS DEMAIS RISCOS, RECAINDO SUA RESPONSABILIDADE NAS UNIDADES DE SEGURANÇA

Riscos da natureza

Riscos tecnológicos (incêndio)

Riscos antissociais

Riscos da informação e os sistemas

Risco para o meio ambiente

Riscos por descumprimentos legais (LOPD, Lei Segurança Privada, diretiva contra incêndios, etc.)

Outros: risco biológico, riscos ocupacionais

Planos de autoproteção e emergências

Planos de continuidade de negócioFonte: Elaboração própria

Levando-se em conta a natureza desses riscos, para responder à questão proposta, cabe se per-guntar como eles podem afetar uma empresa.

Nesse sentido, não há dúvida de que afetam decisivamente as empresas e que uma gestão de-ficiente dos mesmos poderia provocar graves e até danos irreparáveis. Afirmação essa corrobo-rada pelo fato de que estatisticamente o incên-dio é o risco com mais probabilidade de apro-ximar uma empresa de seu desaparecimento. E todo mundo sabe o que isso pode representar para uma grande empresa; falamos de sua evo-lução, um atentado terrorista ou o sequestro de um diretor. Como também não se pode ignorar que os riscos relacionados com a informação e os sistemas são muito frequentes e especialmente danosos: uma queda dos sistemas de informação pode provocar a paralisação da empresa ou de uma parte do negócio se esse risco não for bem controlado.

Também devemos dizer que praticamente a to-talidade desses riscos, além de perdas patrimo-niais e/ou pessoais, e por menores que estas se-jam, vão implicar em danos de imagem, às vezes difíceis de reparar.

Tudo isso nos leva a considerar que estamos diante de importantes e decisivos riscos para o desenvolvimento da empresa.

Por isso, e considerando-se o objetivo da Sol-vência que defende a gestão integral de “todos os riscos, presentes e futuros que afetem a segura-dora”, fica claro que essa necessidade de gestão eficiente alcança também os riscos de segurança

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e meio ambiente, cuja responsabilidade recai nas unidades de segurança.

Estabelecida a necessidade de se administrar os riscos de segurança e meio ambiente ao mes-mo tempo em que o resto de riscos que vem sen-do considerados sob o guarda-chuva da Solvên-cia e do Basileia, seu enquadramento dentro das categorias ou áreas de risco que a função gerência deve tratar não pode ser outro do que dentro dos riscos operacionais.

Nesse sentido, tal e como se pode apreciar, grande parte das áreas de risco operacional que o Basileia define (fraude interna, segurança no posto de trabalho, danos a ativos materiais, frau-de, incidências no negócio, falhas nos sistemas) podem ser incluídas em segurança. Não obstan-te, e apesar dessa referência, a diretiva é acanha-da na hora de mencionar os riscos de segurança como conjunto, entre os operacionais.

CORRELAÇÃO ENTRE AS ÁREAS DE RISCO OPERACIONAL (SEGUNDO O ACORDO DE

BASILEIA) E AS ÁREAS DE SEGURANÇA, COM SEUS POSSÍVEIS EFEITOS SOBRE A EMPRESA

ANÁLISE DA SITUAÇÃO ATUAL DA GESTÃO DOS RISCOS DE SEGURANÇA E MEIO AMBIENTE E SUA RELAÇÃO COM A GESTÃO DO RISCO OPERACIONAL

Gestão de riscos a partir das áreas de segurança

Independentemente de existir ou não na or-ganização um modelo de gerência implantado, as organizações de segurança, respondendo àquela que é sua função principal dentro da empresa, concentraram-se no controle efetivo desses ris-cos mediante a implantação de medidas de segu-rança preventivas e reativas.

Embora seja certo que a gerência como pro-cesso completo ainda não alcança uma implanta-

BASILEIA II ÁREAS DE SEGURANÇA EFEITOS SOBRE A EMPRESAFraude interna Segurança patrimonial

Segurança contra incêndiosSegurança da informaçãoLOPDEmergênciasTerrorismoMeio ambienteRiscos da naturezaContinuidade de negócio

Perda patrimonialPerda de negócio e oportunidadesConflituosidade no trabalho

Práticas com clientes, produtos e negócios

Danos a ativos materiais

Relações trabalhistas e segurança no posto de trabalho

Segurança das pessoas (ante os riscos de agressões, sequestros, ameaças, roubos e furtos pessoais, etc.)Riscos da naturezaMeio ambiente

Perda patrimonialPerda de negócio e oportunidades

Conflituosidade no trabalho

Fraude externa e incidências no negócio e falhas nos sistemas

Ataques à informação

Perda patrimonialPerda de negócio e oportunidadesConflituosidade no trabalho

Fonte: Elaboração própria

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ção significativa no âmbito da segurança, é preci-so reconhecer o caminho já percorrido no que se refere à identificação e à análise dos riscos, como limites necessários para realizar um controle efe-tivo e eficiente dos mesmos.

Quanto à avaliação desses riscos de segu-rança, geralmente se encontra com os mesmos problemas que os demais riscos operacionais, ba-sicamente a dificuldade para sua quantificação. Apesar disso, o âmbito da segurança dispõe de metodologias de avaliação mais ou menos cien-tíficas, mas desenvolvidas mais no aspecto teó-rico do que em sua aplicação prática, sofrendo de uma grande carga subjetiva em geral; aspectos que fazem com que, na realidade, sua aplicação prática seja muito limitada.

Não se pode perder de vista que um processo de Gerência de Riscos de segurança e meio am-biente deverá contemplar, além das fases já men-cionadas, uma fase de tomada de decisão que permita escolher entre a conveniência de se ado-tar medidas de controle, a transferência de riscos ou, inclusive, a possibilidade de assumi-los.

Logicamente, para fechar esse ciclo, é neces-sário avaliar custos e riscos, incluindo a valoração dos ativos como condição sine qua non para cal-cular o possível dano.

A transferência de riscos de segurança e meio ambiente

Já foi mencionada a possibilidade de transfe-rir os riscos. Certamente, um processo de gerên-cia que se preze deve incluir também essa fase,

motivo pelo qual se faz necessário considerar a possibilidade de também segurar ou transferir os riscos de segurança e meio ambiente mediante algum mecanismo.

Pois bem, se for analisada a gestão do risco feita desde as áreas de segurança, é fácil concluir que estas são completamente alheias à transfe-rência do mesmo, salvo honrosas exceções6.

Para se realizar essa função, é necessário con-tar com pessoal especializado em gestão ou Ge-rência de Riscos e/ou em seguros, pessoal não habitual nas unidades de segurança. Circunstân-cia que, por outro lado, não representaria outro problema do que incorporar profissionais dessas características ou se apoiar em outras áreas da empresas especializadas nessa matéria.

Mas, seja qual for a solução adotada, é conve-niente enfatizar que a gestão de risco deve consi-derar sua transferência em toda sua extensão. E, por outro lado, em que para transferir o risco de segurança e meio ambiente de forma ótima e efi-caz deve ser incorporada ao processo de gerência.

Esta última afirmação é feita considerando-se a estreita relação que deve existir, em qualquer caso, entre as unidades de segurança, como au-tênticos especialistas nos riscos de sua compe-tência, e as que, internas ou externas, tenham a responsabilidade de realizar seu seguro ou qual-quer alternativa de transferência. De modo geral, e do ponto de vista metodológico, não se pode conceber a transferência sem a valoração do ris-co, para o que se deverá contar com seu gestor direto, ou seja, em nosso caso, com a unidade de segurança. Deve-se ter em consideração, por outro lado, que a adoção de medidas preventivas de controle pode ter repercussão direta no segu-ro, modificando o prêmio, da mesma forma que pode repercutir na diminuição do número de si-nistros, aspectos em que o trabalho de segurança é fundamental.

6 Ainda que com o risco de personalizar, cabe mencionar que a MAPFRE conta com uma unidade para transferência de riscos patrimoniais seguráveis, enquadrada na área de Segurança e Meio Ambiente.

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PROCESSO DE GERÊNCIA DE RISCOS

Breve esboço da relação entre a gestão do risco operacional e a segurança

Caso se analise a gestão do risco operacional que, generalizando, vem sendo feita nas empre-sas, pode-se extrair o seguinte:

Geralmente, a gestão do risco operacional nas empresas é enquadrada juntamente com a gestão dos demais riscos, próxima das áreas financeiras e econômicas ou, inclusive, de auditoria.

De acordo com seu próprio conceito, entre os riscos operacionais costumam ser incluídos os derivados da gestão administrativa, de recursos humanos, comissões, comerciais, atendimento ao cliente, tecnológicos, etc. Não é comum con-templar, entre esses, os riscos de segurança, pelo menos em toda sua extensão, nem, inclusive, os de meio ambiente; além de meras referências pontuais nos questionários de risco, principal-mente quanto aos riscos de informação. E, sem dúvida, mediante os processos de gerência im-plantados não costumam ser incorporados ao conjunto da gestão do risco operacional.

O anteriormente mencionado não deixa de parecer um tanto contraditório, levando-se em consideração a importância desses riscos de se-gurança e meio ambiente e a necessidade legal de se controlar todos os riscos de forma integral nos âmbitos sobre os quais essa análise se concreta.

Em menor medida, costuma-se considerar, com o objetivo de conseguir essa autêntica ge-rência integral demandada pela diretiva e pela otimização de recursos, a gestão que tradicional-mente se faz desde essas outras áreas de risco, o que passaria pelo aproveitamento de sinergias entre as diferentes áreas que administram riscos.

Pode-se constatar que desde as áreas respon-sáveis pela Gerência de Risco das grandes em-presas existe uma consciência dessa situação e da importância desses riscos. Cabe, então, se per-guntar o motivo pelo qual a relação dessas com as unidades de segurança limita-se, na maioria das vezes, a meras colaborações pontuais, sem chegar a abordar autênticos processos de gerên-cia que também considerem os riscos de segu-

A GESTÃO DO RISCO OPERACIONAL NAS EMPRESAS NORMALMENTE É ENQUADRADA JUNTAMENTE COM A GESTÃO DOS DEMAIS RISCOS, PRÓXIMA DAS ÁREAS FINANCEIRAS E ECONÔMICAS OU, INCLUSIVE, DE AUDITORIA

Objetivos estratégicos da organização

Valoração de riscos

Análise de riscosIdentificação de riscos

Descrição de riscosEstimativa de riscos

Avaliação de riscos

Relatório de riscosAmeaças e oportunidades

Decisão

Tratamento de riscos

Relatório de riscos residuais

Supervisão

Modificação

Auditoria

Fonte: FERMA. Estándares de gerencia

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rança e meio ambiente, e sem os incluir na gestão dos demais riscos da empresa.

A resposta pode vir de várias partes. Por um lado, pode estar motivada pelo desconhecimento que existe, na empresa, em geral, de suas próprias unidades de segurança. Para isso, contribui a ne-cessária confidencialidade que envolve muitos dos assuntos referentes à segurança, unido aos riscos muito específicos e, de maneira geral, gra-ves; o que leva a que sejam tratados por pessoal muito especializado e talvez um tanto endogâmi-co. Mas, curiosamente, por outro lado também essas mesmas características podem ser aplicadas às unidades sobre as quais recai a gestão do risco na empresa. O resultado é que a possível colabo-ração entre essas áreas, funcionalmente afastadas, a priori pode vir a ser difícil e quase contra a natu-reza. Dificuldades que deverão ser superadas em benefício de uma colaboração que se faz necessá-ria para administrar adequadamente os riscos.

CONSIDERAÇÕES PARA UMA REAL INTEGRAÇÃO DE RISCOS

Parece óbvio que é necessário unir esforços e aproveitar as sinergias entre as diferentes áreas com responsabilidade na gestão de riscos nas em-presas, procurando, assim, uma efetiva gerência integral e superando as dificuldades funcionais ou de qualquer tipo que dificultem essa colaboração. Como já se viu, a partir da Solvência estabelece-se a necessidade de contar com uma política de Ge-rência de Riscos. Dispor dessa política, aplicável a todas as áreas de riscos, é requisito necessário para abordar um processo de gerência coerente com os princípios empresariais e com o desejo do risco da organização.

Por outro lado, observa-se que muitos dos ter-mos habituais na Gerência de Riscos, quer seja nas áreas financeiras, nas de negócio, na de ope-racional ou nas de segurança, não correspondem

aos mesmos conceitos. Essa situação provoca certa confusão, dificultando o estabelecimento de crité-rios e procedimentos comuns. É importante uni-ficar critérios conceituais pelo menos no âmbito da mesma organização, sendo desejável que essa unificação alcance níveis superiores, estendendo sua aplicação a todo um setor. Sem dúvida, o me-lhor seria que no âmbito da Gerência de Riscos fosse utilizada uma linguagem comum.

Não existem procedimentos para avaliar o risco operacional em toda sua extensão

As diretivas analisadas não estabelecem crité-rios específicos para levar a cabo essa valoração; que, por outro lado, consideram imprescindível.

No mundo da Gerência de Riscos, de manei-ra geral, não é fácil encontrar modelos genéricos para se fazer uma avaliação quantitativa do risco operacional.

Essa situação faz com que no estudo se consi-dere a necessidade de se abordar ou se aprofundar o desenho de procedimentos de avaliação do risco operacional em toda sua extensão, que cheguem, inclusive, e tanto quanto possível, à quantificação do risco.

Bases de dados de incidentes derivados do risco operacional

A Solvência também estabelece a necessida-de de se contar com estatísticas confiáveis e ade-quadas para efetuar os cálculos de risco. Mas, a verdade é que, de maneira geral, não se dispõe de estatísticas de riscos operacionais de certa entida-de e com a confiabilidade necessária.

Seria conveniente dispor dessas bases de da-dos, tanto no âmbito setorial das empresas de seguros, como em um âmbito mais amplo ou intersetorial.

AINDA QUE A SOLVÊNCIA ESTABELEÇA A NECESSIDADE DE SE CONTAR COM ESTATÍSTICAS CONFIÁVEIS E ADEQUADAS PARA EFETUAR CÁLCULOS DE RISCO, O CERTO É QUE, EM GERAL, NÃO SE DISPÕE DE ESTATÍSTICAS DE RISCOS OPERACIONAIS DE CERTA ENTIDADE E COM A CONFIABILIDADE NECESSÁRIA

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- Kolluru, Rao; Bartell, Steven; Pitblado, Robin; Stricoff, Scott. «Manual de evaluación y administración de riesgos». Editora Mc Graw Hill, 1998.

- Martínez García, Cristina. Gestión integral de riesgos corporativos como fuente de ventaja competitiva: cultura positiva del riesgo y reorganización estructural. Madri: FUNDACIÓN MAPFRE, Instituto de Ciencias del Seguro, Cuadernos de la Fundación, 2009.

- Rodríguez Trigo, Vicente (coordenador). Manual para el director de seguridad. Madri: Editora E.T. Estudios Técnicos, S.A., 1996.

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Preparados para as

emergências emergências

PILAR GALLEGODiretoria-Geral de Proteção Civil e Emergências. Ministério do Interior.

Um acidente aéreo no aeroporto de Madri-Barajas,

onde um avião se choca contra um hangar e provoca

dezenas de vítimas e risco de vazamento radioativo,

foi a simulação desenvolvida para o primeiro

exercício internacional de proteção civil na Espanha.

O exercício serviu para que as autoridades possam

avaliar o grau de eficiência e coordenação das equipes

de intervenção das três administrações espanholas e

de unidades internacionais mobilizadas no âmbito

do Mecanismo Europeu de Proteção Civil da União

Europeia ante uma emergência dessa magnitude.

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EQUIPES DE INTERVENÇÃO NRBQ (NUCLEAR, RADIOLÓGICA, BIOLÓGICA E QUÍMICA) FORAM DESTACADAS PARA NEUTRALIZAR O RISCO DE VAZAMENTOS RADIOATIVOS E DESCONTAMINAR AS PESSOAS AFETADAS

São 10:30 da manhã. No aero-porto de Madri-Barajas os aviões decolam e aterrissam em seu ritmo habitual. De repente, a aeronave B727-200, número de voo XX-4536, com 132 pessoas a bordo, avisa a torre de controle de certas irregularidades no trem de pouso...

Justamente na manobra de aterrissagem, a aeronave sai da pista e bate contra um hangar

utilizado como armazém de car-ga, no fim da área de rodagem. Como consequência do impac-to, o avião sofre danos considerá-veis na parte dianteira da cabine e se produz um incêndio que afeta o interior do edifício, bem como a destruição de fontes radioativas armazenadas, com a liberação de material radioativo.

Há cerca de uma centena de

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vítimas mortais e feridos de di-versas gravidades, entre os quais se encontram passageiros de di-ferentes nacionalidades, mem-bros da tripulação e pessoal do aeroporto.

Começa o ruído de sirenes e a chegada de equipes de socorro...

COMEÇA A EVACUAÇÃO

Depois do acidente, o pessoal da tripulação inicia a evacuação da aeronave. “Por que isso teve que acontecer comigo?", gritava uma das vítimas.

Um empregado do armazém incendiado, que tinha consegui-do sair dele por seus próprios meios, informa os bombeiros do aeroporto da permanência de 19 colegas no interior do armazém e adverte sobre a possível presença de mercadorias perigosas. A si-tuação é desoladora. Em poucos minutos, chegam os bombeiros e penetram no interior do arma-zém para realizar os trabalhos de extinção. Observam-se embala-gens etiquetadas como material radioativo sem poder esclarecer mais devido à presença de grande quantidade de fumaça e à intensi-dade do fogo.

Na parte de fora, um total de até 71 pessoas vão paulatinamente abandonando a aeronave. Quan-do tudo parecia estar controlado, um membro da tripulação comu-nica ao posto de comando sobre a permanência de pelo menos 50 pessoas no interior do avião. Os nervos estão à flor da pele, mas os bombeiros conseguem extinguir o incêndio, ainda que a fumaça no interior do edifício seja muito densa e impeça a visibilidade.

A DIRETORIA-GERAL DE PROTEÇÃO CIVIL E EMERGÊNCIAS ORGANIZA SIMULAÇÕES DE MANEIRA PERIÓDICA COM O OBJETIVO DE CRIAR UMA CULTURA PREVENTIVA DE RISCOS

Por fim, a fonte radioativa é recuperada e isolada. Olham-se os contêineres e se comprova que aqueles que correspondem a produtos com CO-60 tiveram ruptura, mas não houve disper-são da fonte, enquanto quase todos os pacotes com frascos de I-131 na fase líquida ficaram completamente destruídos.

Com a chegada da Guardia Civil, da Polícia Nacional e da Unidade Militar de Emergên-cias, estabelece-se o dispositivo de segurança. Os TEDAX (Téc-nico Especialista em Desativação de Artefatos Explosivos)-NRBQ (Nuclear, Radiológica, Biológi-ca e Química) montam as bases onde as pessoas serão descon-taminadas. Ninguém pode se aproximar a menos de 40 metros do avião. Os feridos que sobre-viveram à tragédia começam a passar pelas “duchas” onde se-rão descontaminados para evitar efeitos posteriores da radiação.

Em apenas quatro horas, as áreas, instalações e veículos que estavam situados dentro do perí-metro foram descontaminados e os feridos transferidos ao hospi-tal Gregorio Marañón, o centro de referência para esse tipo de emergências.

Mas não, não é um acidente. Trata-se de uma simulação, um dos numerosos exercícios práti-cos que são realizados com o ob-jetivo de se estar preparado para as emergências reais.

CULTURA PREVENTIVA DE RISCOS

A Diretoria-Geral de Prote-ção Civil e Emergência do Mi-nistério do Interior organiza simulações com o objetivo de conhecer in situ a realidade dos diferentes acontecimentos que podem afetar bens e pessoas, e elaborar os protocolos necessá-rios em função das conclusões de cada exercício. Com isso, pretende-se criar uma cultura preventiva de riscos, tanto no que se refere à sua análise como à organização dos sistemas de informação e alerta.

Nesse caso, depois do cho-que, foram simuladas ativida-des de socorro aos afetados no lugar em questão, bem como a coordenação em extinção de in-cêndios e salvamento, a atuação de saúde de emergência, a in-tervenção Nuclear, Radiológica, Biológica e Química (NRBQ ), a avaliação radiológica e a des-contaminação, a segurança e a intervenção psicossocial.

Essas atividades foram rea-lizadas por grupos de atuação integrados pelos serviços de emergência do próprio aeropor-to, por pessoal especializado dos Corpos e Forças de Segurança do Estado, Forças Armadas - Unidade Militar de Emergên-cias e por equipes da Prefeitura e da Comunidade de Madri.

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Os aspectos técnicos relativos à avaliação do risco radiológico foram realizados pelo Conselho de Segurança Nuclear. Por sua parte, a Empresa Nacional de Resíduos (Enresa) colaborou nas atividades de descontaminação da zona afetada.

Na simulação, também se contou com a cooperação de módulos de intervenção do Me-canismo de Cooperação Euro-peia de Proteção Civil da União Europeia procedentes da Bélgica, Grécia, Itália, Alemanha, França e Portugal.

50.000 m2 E 600 PESSOAS

Nesse primeiro exercício in-ternacional de proteção civil na Espanha, num cenário de 50.000 metros quadrados, participaram cerca de 600 pessoas, entre meios operacionais e recursos nacio-nais e internacionais, figurantes, organização e apoio de todos os órgãos envolvidos.

O exercício, co-financiado pela Comissão Europeia, contou com a participação dos ministé-rios de Fomento (AENA e Aero-porto de Madri-Barajas), Interior (as diretorias-gerais de Polícia e Guarda Civil e de Proteção Civil e Emergências) e Defesa (através da Unidade Militar de Emergên-cias, UME), junto com a Delega-ção do Governo em Madri.

Também participaram a Co-munidade Autônoma e a Pre-feitura de Madri, através do SAMUR e SAMUR Social, res-pectivamente.

PELA PRIMEIRA VEZ TRÊS ADMINISTRAÇÕES JUNTAS ENSAIAM UMA EMERGÊNCIA COM EQUIPES INTERNACIONAIS

Por parte do Estado, especialistas de diversos órgãos de três ministérios, duas entidades públicas e a Delegação do Governo, bem como a da Comunidade Autônoma e a Prefeitura de Madri, ensaiaram pela primeira vez uma emergência juntamente com equipes internacionais de seis países da União Europeia.

A participação dos diferentes organismos na simulação foi a seguinte:

- Mais de 100 pessoas de diferentes órgãos do aeroporto de Madri-BarajasO aeroporto de Madri-Barajas participou com o objetivo de comprovar e avaliar os procedimentos de atuação e

coordenação estabelecidos em seu plano de autoproteção, analisar sua eficácia e o grau de conhecimento e integração de todos os grupos envolvidos no atendimento de uma emergência aeroportuária. Mais de 100 pessoas de diferentes órgãos do Aeropuertos Españoles y Navegación Aérea (AENA), como o Serviço de Extinção de Incêndios, o serviços médico, o Centro de Gestão Portuária, sinaleiros, agentes de atendimento ao passageiro e usuário, torre de controle, bem como outros grupos que rotineiramente prestam seus serviços no aeroporto, como os serviços de segurança aeroportuária, os jaquetas verdes e o pessoal de empresas de handling.

- A Diretoria-Geral de Proteção Civil e Emergências coordenou a ajuda operacional internacional, o apoio psicológico às vítimas e a ativação dos meios estatais.

Tendo em vista o risco para a

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população e das dimensões que o acontecimento adquiriu, a Di-retoria-Geral de Proteção Civil e Emergências do Ministério do Interior, através do Mecanismo Europeu de Proteção Civil, do qual é ponto de contato na Es-panha, coordenou o envio dos meios humanos e recursos ne-cessários procedentes de diversos países da União Europeia.

Numerosos países responde-ram ao pedido da Espanha atra-vés do citado Mecanismo e fo-ram aceitas as ofertas da Bélgica, Grécia, Itália, Alemanha, França e Portugal. A Bélgica e a Grécia trabalharam os temas radiológi-cos com o Centro de Segurança Nuclear; a Itália e a Alemanha contribuíram com bombeiros

para resgatar vítimas; a França es-teve presente na simulação, atra-vés da unidade de recuperação de material radioativo e descon-taminação, e Portugal colaborou na operação com três técnicos de sua unidade de psicólogos.

A Diretoria-Geral de Prote-ção Civil e Emergências também colaborou no dispositivo ativado pelo Ministério do Fomento, por

A SIMULAÇÃO REUNIU PESSOAL DAS FORÇAS E CORPOS DE SEGURANÇA DO ESTADO, FORÇAS ARMADAS, TRÊS MINISTÉRIOS E EQUIPES DA PREFEITURA E DA COMUNIDADE DE MADRI

razões humanitárias, para que os afetados no acidente aéreo re-cebessem a atenção psicológica necessária e, assim, paliar dentro do possível as consequências so-fridas por um grande número de cidadãos.

Coordenados pela equipe de psicologia de catástrofes da diretoria-geral e em estreita co-operação com os psicólogos da Polícia Judiciária da Guardia Ci-vil, o Grupo de intervenção Psi-cossocial esteve composto por efetivos do SAMUR Proteção Civil, Cruz Vermelha e SAMUR Social. Esse grupo de atuação também contou com a colabora-ção de uma equipe de psicólogos portugueses.

- A Polícia Científica e o Serviço

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observatório de sinistros

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de Criminalística da Guarda Civil realizaram tarefas de inspeção ocular, identificação de vítimas e intervenção em equipes ‘ante mortem’.

Pelo Corpo Nacional de Po-lícia participaram o Comissaria-do Geral de Polícia Científica e a Brigada Provincial de Polícia Científica de Madri, com uma equipe composta por um total de 14 pessoas. Sua principal missão foi realizar tarefas de inspeção ocular no lugar do sinistro, iden-tificação de vítimas e intervenção em equipes ante mortem. Nessa tarefa também colaboraram 13 efetivos do Serviço de Crimina-lística da Guardia Civil.

No lugar do acidente, im-plantaram os meios técnicos ne-cessários e esperaram as indica-

A BÉLGICA, ITÁLIA, ALEMANHA, GRÉCIA, FRANÇA E PORTUGAL PARTICIPARAM JUNTAMENTE COM EQUIPES ESPECIALIZADAS EM DIVERSOS TRABALHOS DE EMERGÊNCIA

ções para entrar na zona quente com os equipamentos de prote-ção adequados à situação NRBQ gerada.

Foi utilizado um caminhão L.A.E. (Laboratório de Atuações Especiais) dotado com equipa-mento de identificação de cadá-veres e coleta de amostras, mesa de autópsias portátil, equipa-

mentos de fotografia e vídeo, equipamentos de inspeções ocu-lares, dois furgões L.A.E. total-mente equipados e dois veículos off road.

Outra equipe da Polícia Cien-tífica ficou na sala de familiares e ilesos, onde desenvolveu as tarefas ante mortem, tais como obtenção de dados relacionados com as pessoas falecidas, o esta-belecimento de linhas de con-sanguinidade e amostras de per-fis genéticos.

- A Guardia Civil reduziu os efeitos derivados das substâncias nu-cleares, radiológicas, biológicas e quí-micas

A Guardia Civil participou do exercício através do Serviço de Desativação de Explosivos e

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Defesa (SEDEX-NRBQ), cuja missão específica é a organiza-ção, gestão e execução das tarefas de busca, detecção, neutralização e desativação dos artefatos de na-tureza explosiva, incendiária, ra-diológica, biológica ou química.

A Guardia Civil contribui adi-cionalmente com outras equipes: uma unidade técnica NRBQ, composta por quatro pessoas e um veículo de intervenção rápida em emergências; outra de primeira intervenção NRBQ do Grupo de Reserva e Segurança número 1 de Madri, formada por cinco pesso-as, uma estação de descontamina-ção e veículos de transporte; um caminhão laboratório do Serviço de Criminalística, com 10 pesso-as; e a unidade funcional NRBQ

do Comando de Madri, com sete pessoas e veículos de transporte.

- Duas equipes de busca e resgate da Unidade Militar de Emergências

A Unidade Militar de Emer-gências (UME) participou da simulação com duas equipes de busca e resgate, compostas por 18 militares, para levar a cabo os tra-balhos de evacuação de falecidos e feridos do avião acidentado.

A participação da UME tam-bém se concentrou nas capaci-dade NRBQ. Essa cooperação foi materializada na instalação de duas linhas de descontami-nação, uma para pessoas e outra para veículos, com um total de 16 pessoas e cinco veículos, mais dois oficiais de ligação integra-dos respectivamente na Comis-

são de Incidências e no Centro de Coordenação.

- O Conselho de Segurança Nu-clear

O Conselho de Segurança Nuclear (CSN) realizou um monitoramento integral da si-mulação, tanto no local como a partir de sua Sala de Emergên-cias (SALEM), proporcionando fundamentalmente assessoria técnica a todos os grupos de in-tervenção em matéria de prote-ção radiológica e recomendando as medidas de proteção radioló-gica que deviam ser adotadas.

Durante o exercício, o CSN ativou sua unidade de interven-ção e levou para a zona do aci-dente uma equipe de efetivos que realizou medidas de radia-

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observatório de sinistros

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ção ambiental e de identificação dos radioisótopos presentes, em função dos quais delimitou a zona onde se estabeleceram os controles de acesso. Além disso, o Conselho levou a cabo as me-didas de detecção de uma pos-sível contaminação, tanto dos atuantes dos diferentes grupos operacionais como dos aciden-tados, bem como a comprova-ção da efetividade da desconta-minação.

- Os Serviços de Emergência de Saúde da Prefeitura de Madri con-tribuíram com 114 pessoas

Os Serviços de Emergência de Saúde da Prefeitura de Ma-dri (SAMUR-Proteção Civil) participaram do exercício com um total de 114 efetivos, entre médicos, enfermeiros e técnicos de emergência em trabalhos de atendimento e coordenação do dispositivo médico, desconta-minação de pacientes a cargo das equipes NRBQ e atendimento do dispositivo psicossocial.

O SAMUR-Proteção Civil trabalhou com quatro ambu-lâncias convencionais, três UTI móveis, dois caminhões e dois furgões com material NRBQ, bem como dois veículos de in-tervenção rápida

- A Comunidade de Madri participou com 35 profissionais da saúde

O SUMMA da Comunidade de Madri ativou seu caminhão de catástrofes (um veículo-hos-pital de campanha com capaci-dade para 18 pacientes), o veí-culo especial de catástrofes, seis UTI móveis, a linha de descon-

A SIMULAÇÃO EVIDENCIOU A BOA COMUNICAÇÃO E OPERACIONALIDADE DAS EQUIPES, BEM COMO A IMPORTÂNCIA DE SE CONTAR COM PROCEDIMENTOS OPERACIONAIS ADEQUADOS

taminação NRBQ e um veículo 8x8, além do veículo do chefe de plantão. Um total de 35 pro-fissionais da saúde do Serviço de Emergências de Comunida-de fez parte do exercício.

Por outro lado, depois do aci-dente, o hospital Gregorio Ma-rañón se manteve em alerta, já que possui o único centro de ra-diopatologia e radioproteção da Espanha para assistência às pes-soas que pudessem estar conta-minadas ou expostas a radiações ionizantes como consequência de um acidente nuclear ou ra-diológico que tivesse acontecido em qualquer lugar da Espanha. O centro hospitalar dispõe de uma unidade de hospitalização para abrigar pessoas irradiadas ou contaminadas por radiações.

LIÇÕES APRENDIDAS

Por um lado, esse exercício representou a possibilidade de cooperar e ensaiar a coordenação das diversas equipes de inter-venção das três Administrações espanholas e as correspondentes unidades internacionais e, por outro, a oportunidade para in-crementar os conhecimentos e o intercâmbio de experiências dos

diferentes atores, em um cená-rio ambicioso e realista.

Definitivamente, serviu para divulgar, entre os diferentes ser-viços operacionais nacionais, o modelo modular de colaboração entre os diferentes Estados da União Europeia para assistência aos países que possam vir a ser afetados por uma situação des-sas características, tanto dentro como fora da União Europeia.

Essa prática evidenciou a boa comunicação e operacionalida-de das equipes intervenientes, a importância de se contar com os adequados procedimentos operacionais, bem como o inte-resse desse tipo de simulações, e poder ensaiá-los a fim de estar “preparados para as emergências”, como mencionado no título da reportagem.

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livro

s Gestión del riesgo: responsabilidad ambiental y estrategia empresarialMIGUEL ÁNGEL DE LA CALLE AGUDO/SERGIO SIMÓN QUINTANAWolters Kluwer España, 2010390 páginasISBN 978-84-87670-73-2

Os autores apresentam sua tese sobre a necessidade

de considerar a gestão de riscos ambientais dentro dos riscos operacionais para conseguir uma melhor relação entre as empresas e o meio ambiente. Os riscos ambientais podem produzir graves danos no nosso entorno além de enormes prejuízos econômicos.

O livro está estruturado em três partes: a primeira, de conteúdo didático, analisa amplamente o conceito de risco em geral e do risco ambiental em particular.

A segunda parte aborda a análise, avaliação e gestão do risco ambiental. Para isso, é analisada a norma UNE 150008, os Modelos de Relatório de Riscos Ambientais Tipo (MIRAT), e, inclusive, os autores desenvolveram um método próprio que batizaram de DMERA, siglas que em inglês correspondem a Modelo Determinístico para a Análise de Riscos Ambientais.

A terceira parte trata da Análise do Risco Financeiro de componente Ambiental (ARFA). A obra também inclui quatro apêndices sobre a probabilidade clássica, a metodologia DMERA, a contabilidade

ambiental e a análise de causas e consequências, terminando com um anexo normativo.

A obra começa com um esclarecimento por parte dos autores, que afirmam que essa publicação deve ser considerada uma base a partir da qual se possa construir o que pode chegar a ser uma disciplina própria: a gestão do risco ambiental e sua consideração no âmbito empresarial.

Para isso criaram, dentro de www.edirectivos.com, uma comunidade dedicada aos conceitos do risco e do meio ambiente, os autores atuando como dinamizadores do grupo.

É, portanto, um livro imprescindível, um manual didático e completo sobre o risco ambiental, tanto para profissionais (gerentes, técnicos, consultores), como para pesquisadores ou estudantes da matéria.

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El deber de aminorar las consecuencias del siniestro en el contrato de seguroAMALIA RODRÍGUEZ GONZÁLEZMadri, Editora Dykinson, 2009142 páginasISBN 978-84-9849-722

O tema central da presente monografia se refere

aos problemas que surgem no entorno do dever de minorar as consequências do sinistro no contrato de seguro, como explica o próprio título, e mais precisamente o que se conhece como dever de salvamento, em conexão com o artigo 17 da Lei de Contrato de Seguro, de 8 de outubro de 1980.

A partir desse tema, o desenvolvimento que se leva a cabo analisa cuidadosamente diversos aspectos, desde seu conceito e natureza, enlaçando com seu próprio fundamento, até a interpretação sistemática dos pressupostos e dos elementos pessoais. Para isso, como se ressalta no prólogo escrito pelo eminente catedrático de Direito Mercantil Justino F. Duque Domínguez, leva-se em consideração os “antecedentes normativos da figura e sua regulação atual na Lei de Contrato de seguro, no âmbito oferecido pelo Direito espanhol, mas sem perder de vista o Direito comparado”, estudando-se igualmente o reembolso das despesas de salvamento, com uma menção ao regime de salvamento em diferentes ramos do seguro.

A leitura do livro nos remete

a um aprofundamento em cada um desses aspectos, e se deve-se destacar o trabalho da autora pela sua profundidade de tratamento, que não em vão constituiu em tema de pesquisa para a obtenção da vaga de professora contratada doutora julho de 2008. Nesse sentido, localiza-se dentro de

um processo investigativo em que a Dra. Rodríguez González já havia brilhantemente se iniciado anteriormente, tanto em publicações em prestigiadas revistas no âmbito geral de Direito Mercantil, como em sua tese de doutorado sobre a amortização de ações na sociedade anônima e o princípio de igualdade dos acionistas, que obteve a classificação máxima.

De igual maneira merece ser ressaltado que a Dra. Rodríguez não fica na mera análise sistemática do tema apresentado, para ser importante no sentido antes

indicado, mas, inclusive, se permite, mostrando sua notável vocação de pesquisa e aprofundando sua própria construção da disciplina, a abordagem de alguma proposta de lege ferenda, advertindo da possível melhora que poderia ser uma modificação diretiva na qual, sem desmerecer a valoração positiva do exposto, pudesse incorporar de modo claro a prevenção dentro do dever de salvamento.

Junto a tudo isso a bibliografia utilizada é apreciável, e se encontra no final da própria monografia, e que também denota um contato habitual com a matéria, fruto de um trabalho constante, com participações e permanências de diverso tipo que permitem uma formação polivalente.

Em resumo, nos encontramos ante uma monografia na qual a autora mostra seu profundo conhecimento do tema, desenvolvendo aquilo especificamente abordado de um modo claro e bem sistematizado, perfeitamente fundamentado e inovador. Por tudo isso, deve ser um ponto de referência dentro desse âmbito, tanto em sua vertente teórica mais reflexiva como, inclusive, de aplicação prática.

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FUNDACIÓN MAPFREInstituto de Ciencias del Seguro

Modelo de proyección de carteras de seguros para el ramo de decesosSERGIO REAL CAMPOSMadri, FUNDACIÓN MAPFRE,2011341 páginasISBN: 978-84-9844-222-9

O ramo de decessos é um se-guro muito peculiar, qua-

se exclusivo de nosso país e com forte implantação no mercado segurador espanhol.

As características sui generis desse seguro chocam-se com a globalização e harmonização se-guradora que se vive na União Europeia. Um passo prévio, ne-cessário para conseguir adaptar esse seguro à diretiva europeia da Solvência II, é conhecê-lo tanto em sua técnica e gestão se-guradora, como em sua regula-ção legislativa atual, que repre-

sentou uma revolução do ramo e onde se apresentam numero-sas questões atuariais. Em 1998, o “Reglamento de Ordenación y Supervisión de Seguros Pri-vados” (ROSSP) marcou, no tratamento técnico atuarial do seguro de decessos, um ponto de inflexão que, nesse ramos, se poderia catalogar como “recon-versão seguradora”.

A tese aprofunda nos ele-mentos jurídicos, técnicos atu-ariais e de gestão desse seguro, diferenciando as peculiaridades de tratamento que tinha até a en-trada em vigor do ROSSP, o que no relatório se denomina cartei-ra, e a nova produção gerada a partir de 1999. Dessa forma, se aprofundará em determinados elementos técnicos do seguro, prêmios e provisões, ao mesmo tempo em que se apresentarão as lacunas técnicas que se dão na regulação jurídica atual sobre os referidos elementos. Também se elabora um modelo de projeção de prêmios e sinistros de uma carteira de segurados que de-monstra que a provisão de 7,5% é insuficiente para salvaguardar os interesses dos segurados.

Métodos estocásticos de estimación de las provisiones técnicas en el marco de Solvencia II IRENE ALBARRÁN LOZANO / PABLO ALONSO GONZÁLEZMadri, FUNDACIÓN MAPFRE,2010Caderno 158213 páginasISBN: 978-84-9844-218-2

Uma das tarefas básicas do atuário consiste na deter-

minação dos valores necessá-rios para fazer frente a futuras contingências, o que se conhe-ce como cálculo de provisões ou reservas. Dentro dessas áre-as, uma das que adquire maior relevância é a que se refere aos IBNR, siglas de Incurred But Not Reported, ou sinistros que ocorreram antes de finalizar o exercício, mas que ainda não foram comunicados à empresa. Essa tarefa também foi afetada pela mudança que representa a diretiva da Solvência II, dado que já não somente interessa o valor médio a ser dotado, mas também a avaliação da incerteza ligada a esse cálculo.

A obra preparada pelos pro-fessores Albarrán e Alonso abor-da, a partir de uma perspectiva prática, os diferentes métodos que, com uma base estocástica, são frequentemente emprega-dos no cálculo do valor das pro-visões. Para tanto o trabalho se estrutura em duas partes muito

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diferenciadas. A primeira reúne o que se poderia denominar de antecedentes do cálculo esto-cástico de provisões técnicas e abarca os dois primeiros capí-tulos do livro. Neles se começa vendo a normativa prévia à Sol-vência II até chegar a ela, enfa-tizando conceitos como Best Estimate ou Risk Margin. Essa parte termina com a descrição dos métodos tradicionais de cál-culo, alguns tão conhecidos na prática atuarial como o Chain Ladder ou o Link Ratio.

O resto da obra se centraliza no estudo de técnicas e méto-dos de natureza estocástica que, além de estimar o nível médio previsto de reservas, permitem avaliar o nível de incerteza li-gado à estimativa do volume de provisões. Assim, no capítulo três trata-se do método conhe-cido como da distribuição livre de Mack para calcular o erro associado ao cálculo. O capítu-lo quatro dedica-se a expor os fundamentos dos modelos line-

ares generalizados. Essa técnica é amplamente utilizada tanto nas tarefas de estimativa de pro-visões como nas de tarifação de prêmios. O capítulo cinco abor-da a estimativa do nível de re-servas mediante a utilização de certo número de modelos, cada um dos quais imagina que os dados seguem uma determinada distribuição de probabilidade. O capítulo seis está dedicado ao cálculo de reservas median-te a técnica da reamostragem ou bootstrapping. Após rever os principais aspectos teóricos des-sa técnica, aborda o estudo de dois modelos muito difundidos, como os de England e Verrall e a modificação do anterior, pro-posta por England poucos anos depois. Diferentemente dos modelos anteriores, nesse caso faz-se um uso intensivo das téc-nicas de simulação. Finalmente, o capítulo sete aborda outros modelos suscetíveis de serem utilizados baseados na teoria da credibilidade, que goza de uma ampla categoria e uma extensa utilização no âmbito atuarial.

Trata-se, definitivamen-te, de um trabalho que une os fundamentos teóricos com os exemplos, o que o torna espe-cialmente atrativo não somente para todos aqueles estudiosos que pretendam se aprofundar no tema, mas também para os atuários profissionais cuja ati-vidade diária esteja centralizada no cálculo de reservas.

Introducción al ReaseguroMadri, FUNDACIÓN MAPFRE,2010Caderno 157209 páginasISBN: 978-84-9844-213-7

É um livro de caráter prático que pode representar para

todo tipo de leitores uma apro-ximação bastante acessível ao mundo do Resseguro. Possui um caráter eminentemente di-dático, de maneira que vai nos introduzindo, de forma pro-gressiva, nos conceitos técnicos do âmbito do Resseguro, des-de os mais básicos até os mais complexos. Estruturado em 12 capítulos, versa sobre os atores do Resseguro, as classes e as modalidade dos diferentes con-tratos, bem como os aspectos técnicos e econômicos a serem considerados.

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Encuentro internacional sobre la historia del SeguroMadri, FUNDACIÓN MAPFRE,2010Caderno 156469 páginasISBN: 978-84-9844-210-6

Este livro facilita a compreen-são da evolução da atividade

seguradora no mundo. Explica e analisa os modos, costumes, organização e legislação na Grã Bretanha, Alemanha, França, Itália, Espanha, Suécia, Estados Unidos e Japão, bem como no emergente mercado latino-ame-ricano.

O professor britânico Robin Pearson descreve e analisa como seu país teve historicamen-te uma grande relevância. No caso alemão, o professor Peter Borscheid destaca a mais tardia evolução do setor do seguro na Alemanha, seriamente afetado pelas duas guerras mundiais. O professor francês André Straus pormenoriza o progresso do seguro em seu país, destacando o importante avanço introdu-zido por Pascal em 1662 com o cálculo de probabilidades e por Deparcieux, junto com os su-íços Euler e Bernoulli, com os primeiros trabalhos de estatís-tica que serviram para estimar a esperança de vida baseada nos cálculos realizados por atuários. O professor Tommaso Fanfani, na história do Seguro na Itália ressalta o precoce início no pe-ríodo romano e como no século XX grandes empresas segurado-ras se destacaram.

A história do Seguro na Es-panha é desenvolvida pelos pro-

fessores Jerònia Pons, Leonar-do Caruana e José Luis García Ruiz, que explicam a presença das empresas estrangeiras no início, com grande relevância do seguro de Vida. No século XX, apareceu o seguro de aciden-tes de trabalho, num primeiro momento para os assalariados na atividade industrial, que de-pois se estendeu ao setor agrário nos anos 30. Nos anos 60, ad-quiriu importância o seguro de automóvel. A chegada da demo-cracia e a abertura do mercado intensificaram a presença das grandes multinacionais do setor. Da Suécia, o professor Mikael Lönnborg destaca a elevada in-tervenção do Estado, que expul-sou as empresas estrangeiras do mercado nacional. O professor Robert Wright, ao analisar o Se-guro nos Estados Unidos, apre-senta um processo mais com-plexo, onde se evidencia o poder da regulação e da pressão fiscal como elementos que influen-ciaram fortemente no mercado

norte-americano. O professor Takau Yoneyama explica a evo-lução do Seguro no Japão. A evolução na América Latina é apresentada pelo professor Car-melo Mesa e o ex-presidente da Fasecolda, William Fadul. O primeiro realiza uma análise cabal da Previdência Social e o segundo descreve a evolução do mercado do Seguro na América Latina. Finalmente, o professor Gabriel Tortella sintetiza a his-tória da empresa líder na Espa-nha, a MAPFRE.

Esse trajeto pela evolução do Seguro nos países menciona-dos mostra que não existe uma maneira única de fazer as coi-sas, mas que, de maneira geral, existiram elementos comuns, tais como a origem ou a visão do mercado. Mas a chave, pro-vavelmente, está em que, mais do que existir um modelo idô-neo de empresa do seguro, em cada sociedade existe um mode-lo idôneo de adaptação às mais variadas necessidades.

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NOTÍCIAS

Estiveram presentes quase 200 pessoas, que analisaram as repercussões no seguro da refor-ma do Código Penal (Lei Orgâ-nica 5/2010 de 22 de junho), que entrou em vigor no dia 23 de dezembro de 2010. Essa reforma incorpora como principal novi-dade a responsabilidade penal das pessoas jurídicas ante determina-dos delitos cometidos dentro do âmbito empresarial, que “levará sua responsabilidade consigo de forma solidária com as pessoas físicas condenadas pelos mesmos feitos”.

A jornada, iniciada com a par-ticipação de Filomeno Mira, pre-sidente do Instituto de Ciências do Seguro da FUNDACIÓN MAPFRE, e encerrada com a de Ignacio Martínez de Baroja, pre-sidente da AGERS, teve diversas intervenções. A primeira, a cargo de Vicente Magro, presidente da Audiência Provincial de Alican-te, abordou o tema da respon-sabilidade criminal das pessoas jurídicas. A advogada da Davis Arnold Cooper, Ana Emparan-za, a seguir, expôs a repercussão nas apólices de seguro de admi-nistradores e diretores (D&O). Na continuação, o especialista em seguros de responsabilidade civil, Eduardo Pavelek fez uma apresentação sobre a incidência no seguro de RC Geral e em re-lação ao delito ambiental.

A repercussão da reforma nos seguros de atividades profissio-nais foi apresentada por Gonzalo

Iturmendi, diretor do escritório de advogados G. Iturmendi y Asociados e secretário-geral da AGERS. Posteriormente, José María Elguero, subdiretor da Marsh, S.A., referiu-se ao al-cance e limites do seguro das sanções e multas. Mais adiante, Marta Grande, diretora da ERM e Cumprimento Normativo do grupo Aon, ressaltou a necessi-dade de desenvolver um plano de prevenção de delitos na em-presa. Finalmente, José Antonio Badillo, chefe de Sinistros do Consórcio de Compensação de Seguros, analisou o dolo e o se-guro depois da reforma penal.

Entre as conclusões da jor-nada cabe destacar que, ante o aparecimento de novos cená-rios de responsabilidade penal e civil direta para as empresas, é necessário revisar as condições dos seguros de responsabilida-de civil para adequar, com sufi-cientes garantias para as partes, as novidades legais aos contratos de seguro, evitando, assim, efei-tos indesejados. Por outro lado, houve acordo para se considerar a necessidade de participação na culpa por parte da empresa para que as pessoas jurídicas possam ser encaminhadas pelos novos delitos imputáveis, delitos esses que se darão por omissão e vão requerer que sejam realizados por ordem, conta e em benefício da empresa e quando esta care-ça de um planto de prevenção de delitos. As recentes experiências

ASOCIACIÓN ESPAÑOLA DE GERENCIA DE RIESGOS Y SEGUROS

No último dia 24 de março, a Asociación Española de Gerencia de Riesgos y Seguros (AGERS) e a FUNDACIÓN MAPFRE realizaram uma jornada sobre a reforma do Código Penal e seu impacto no setor segurador.

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nos ensinam que as medidas de controle nas organizações são necessárias, mas não suficien-tes; por isso devem possibilitar o controle e a prevenção de atua-ções delitivas na organização.

ATIVIDADES DA AGERSNos dias 23 e 24 de março úl-

timo foi ministrado o curso “Los riesgos en el transporte interna-cional, con especial incidencia en el seguro de mercancías”, sob a direção de Lourdes Aguanell, diretora do Departamento de Transportes e RC Marítima para Iberia, de Chartis. Nos dias 13 e 14 de abril, foi realizado um se-minário sobre “Caso práctico de la gestión eficaz de los riesgos (ISO 31010)”, dirigido por Ángel Escorial, diretor geral da Riskia, S.A.

Nos dias 4 e 5 de maio será realizado um seminário sobre “Gerencia de riesgos asegurables

y el seguro en la empresa”, diri-gido por Enrique Zárraga.

No final de maio, está previs-to um novo curso sobre “El tra-tamiento de siniestros según la visión del asegurado, el corredor, el perito y el asegurador”.

A entrega da II edição do Prê-mio de Pesquisa Julio Sáez se dará no dia 23 de maio na Real Gran Peña de Madri.

Por outro lado, o XXII Con-gresso Espanhol de Gerência de Riscos e Seguros da AGERS será no dia 9 de junho no Auditório da Mutua Madrileña (Paseo de la

Castellana, 33), sob o lema “Ges-tión de riesgos catastróficos, po-líticos y en las reformas estruc-turales”. Como complemento do congresso, no dia 10 de junho, das 9:30 às 12:00 horas, nas ins-talações da CEIM, haverá uma sessão dirigida exclusivamente aos gerentes de riscos, onde se-rão debatidas as principais con-clusões propostas no congresso o dia anterior.

A Assembleia Geral anual da associação será no dia 10 de ju-nho, a partir das 12:horas na CEIM.

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“Essas ocorrências sinalizam que há necessidade de programas

preventivos de médio e longo prazo, com suporte para ações

de defesa civil”

á se foi o tempo em que era aceito o argumento de que os efeitos das chu vas são resultado exclusivo de ‘de-

sastres naturais’. Segundo especialistas da área de gestão de riscos, inúmeros estudos apontam a relevância das inter-ferências antrópicas na intensidade dos incidentes, que por muitas vezes, são fa-tais. Em países tropicais, como o Brasil, o grau de vulnerabilidade tem aumentado. Os deslizamentos que atingiram a região serrana fluminense, no estado do Rio de Janeiro, no início do ano, são um exem-plo que marcaram 2011. O incidente ser-viu de alerta aos gestores públicos e à so-ciedade e repercutiu internacionalmente,

J

associadas aosassociadas aosTEXTO: SUCENA SHKRADA RESK

As ações humanas

Ricardo Serpa, diretor-executivo do Itsemap do Brasil

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devido à sua gravidade. Mais de 900 pes-soas morreram e 8.000 ficaram desabri-gadas.

A combinação não poderia ser mais perigosa: falta de planejamento urbano, crescimento desordenado das cidades em morros, encostas e em várzeas somados às mudanças climáticas em curso – como os fenômenos El Niño e La Niña - e à au-sência de gerenciamento efetivo de risco.

Por que é tão relevante refletir sobre o tema? Segundo a Organização das Na-ções Unidas (ONU), a estimativa é que, até 2030, seis em cada 10 habitantes no planeta estarão vivendo nos grandes cen-tros urbanos. Isso quer dizer que, a cada ano, haverá 67 milhões de novos mora-dores, sendo que 91% desse total estarão em países em desenvolvimento, como o Brasil. O 4º relatório do IPCC –Painel Intergovernamental de Mudanças Cli-máticas da ONU – também sinaliza ce-nários que intensificam, neste século, a possibilidade de desastres naturais.

Quando se observa as estatísticas, o que se constata é que a maior causa de fatalidade, nessas situações que envol-vem chuvas cada vez mais intensas, são justamente os deslizamentos, segundo o

climatologista Carlos Nobre, secretário Políticas e Programas de Pesquisa e De-senvolvimento do Ministério da Ciência e Tecnologia (Seped/MCT). O especia-lista explica que correspondem a 60% do total dos óbitos, seguida por inundações e descargas elétricas. Para se ter ideia, en-tre 2001 e 2008, aproximadamente 2.500 pessoas morreram soterradas no Brasil.

Diante de incidentes desse porte, a discussão sobre o aspecto preventivo ga-nha maior visibilidade e os gestores pú-blicos avaliam que é preciso correr ‘atrás do prejuízo’. Afinal, não há tempo a per-der. Após a catástrofe no estado do Rio de Janeiro, o Governo Federal anunciou, por meio do MCT, o início da elabora-ção do Sistema Nacional de Prevenção e Alerta de Desastres Naturais. O lança-mento da etapa inicial de funcionamento está previsto para novembro de 2011 e a conclusão somente daqui a quatro anos. O desafio maior é conseguir gerar o ma-peamento de riscos em todos os 5.565 municípios brasileiros. A expectativa é a de que até 100 cidades tenham o levanta-mento concluído neste ano.

Nobre explica que o objetivo é inte-grar os dados com as ferramentas tecno-lógicas, como radares metereológicos e pluviômetros, como também, promover o treinamento de lideranças comunitárias no reconhecimento dos fatores de risco. Só assim, é possível haver tempo hábil para se efetivar a comunicação preventi-va com os órgãos de Defesa Civil. Além desses instrumentos, o supercomputador é mais um recurso a ser utilizado no apa-rato do sistema, adquirido recentemente pelo Instituto Nacional de Pesquisas Es-paciais (INPE), que deverá auxiliar em previsões de chuvas com antecedência de até 72 horas.

“Já se passou a época de achar que as precipitações não são antecipadas pelos metereologistas. Mas, além disso, são ne-cessários outros componentes: mapas de

Carlos Nobre, secretário Políticas e Programas de Pesquisa e Desenvolvimento do Ministério da Ciência e Tecnologia (Seped/MCT)

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risco geológico e social, modelo hidroló-gico e o alerta devem ser feitos pela De-fesa Civil, munida dessas informações”, reforça José Marengo, diretor do Centro de Ciência do Sistema Terrestre (CCST), do INPE. Ao mesmo tempo, os gestores públicos se veem incumbidos de reorde-nar a ocupação urbana considerando as tragédias anunciadas.

Poucos municípios, entretanto, já re-alizaram seus mapeamentos. Entre eles, está São Paulo. O Instituto de Pesqui-sas Tecnológicas (IPT) realizou levanta-mento encomendado pela Prefeitura no qual mapeou 407 áreas de risco geoló-gico em 26 subprefeituras, que corres-pondem a cerca de 115 mil famílias que vivem sob perigo. A maioria fica na re-gião sul da cidade. Muitos desses locais comprometidos podem ser visualizados pela Internet, por meio da ferramenta do Google Street View.

O secretário do Verde e Meio Am-biente, Eduardo Jorge, afirma que, me-diante essas informações, cabe ao poder público agir para evitar mortes. Até mar-ço deste ano, 600 famílias haviam sido retiradas de áreas de risco de maior gravi-

dade, segundo ele, e nos próximos meses haverá mais remoções integradas a planos habitacionais.

No estado do Rio de Janeiro, a Fun-dação Oswaldo Cruz (Fiocruz) concluiu em março um estudo no qual criou um cálculo do índice de vulnerabilida-de municipal em que são considerados relevantes componentes ambientais, de saúde e sociais. A pesquisa, encomenda-da pela Secretaria Estadual de Ambien-tal, tem a meta de indicar a vulnerabi-lidade às mudanças climáticas para os próximos 30 anos.

No levantamento, foi constatado que as situações mais complexas estão con-centradas na macrorregião Metropolitana e seu entorno, além dos municípios da chamada Costa Verde, como Angra dos Reis e Paraty.

PENSAMENTO A LONGO PRAZORicardo Serpa, diretor-executivo do

Itsemap do Brasil, analisa que apesar das chuvas de verão de 2011 se revelarem mais graves, as histórias de deslizamentos se repetem a cada ano em locais diferen-tes. “Essas ocorrências sinalizam que há

"JÁ SE PASSOU A ÉPOCA DE ACHAR QUE AS PRECIPITAÇÕES NÃO SÃO ANTECIPADAS PELOS METEOROLOGISTAS MAS ALÉM DISSO, SÃO NECESSÁRIOS OUTROS COMPONENTES: MAPAS DE RISCO GEOLÓGICO E SOCIAL, MODELO HIDROLÓGICO E O ALERTA DEVEM SER FEITOS PELA DEFESA CIVIL, MUNIDA DESSAS INFORMAÇÕES"

Moacyr Lopes Junior/Folhapress

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“OS VISTORIADORES DE CAMPO VÃO ÀS ÁREAS DE RISCO PREVIAMENTE MAPEADAS JUNTO COM A POPULAÇÃO E TENTAM OBTER INDÍCIO DE ANORMALIDADE NA ÁREA, COMO UMA ÁRVORE CAÍDA, BLOCOS DE ROCHAS DESLOCADOS, RACHADURAS NO TERRENO E EM MORADIAS, QUE INDICAM EVOLUÇÃO DO PROCESSO DE DESLIZAMENTO

necessidade de programas preventivos de médio e longo prazos, com suporte para ações de defesa civil”.

O especialista explica que o órgão tem papel articulador e cada comissão estadual e municipal deve agir para prevenção e in-tervenção. “Para isso, é necessário se dar um impulso a essa estrutura, em períodos em que não há tantas intempéries, e não esperar chegar os momentos mais caóticos. É um trabalho que não acaba. Enquanto existir o risco, o processo é permanente”, explica .

Segundo ele, nos planos diretores das ci-dades, deveriam estar inclusos os planos de defesa civil. “O que ocorre é que, em mui-tos casos, as fiscalizações não são eficientes e, com isso, as áreas de risco são invadidas de forma recorrente. Por outro lado, muitas diretrizes que constam no papel não são se-guidas na prática”.

No caso da tragédia na região serrana flu-minense, o diretor-executivo do Itsemap ex-plica que geologicamente já é sabido que exis-te movimento natural do solo nessas regiões. “Entretanto, lá, a intensidade do fenômeno foi algo excepcional, mas segundo técnicos do setor, era passível de acontecer. Nesse caso, a gestão de risco deveria ter trabalhado com os dados probabilísticos em questão e, com o risco iminente, traçando planos de médio prazo. Não existe carência técnica para isso. Se nada é feito, a tendência é de que morram mais pessoas”.

Nos quesitos dos planos de prevenção, de acordo com o diretor, são feitas associações ao volume de chuva. “Uma das ações é mandar a equipe técnica em campo e trabalhar ainda o aspecto social das relações com a comuni-dade. Não basta só colocar a sirene, a popula-ção precisa saber interpretar a mensagem e ter confiança no agente de defesa civil”.

LIÇÕES A APRENDERAgostinho Ogura, geólogo pesquisa-

dor do IPT, afirma que estudos técnicos mais sistemáticos sobre desastres natu-rais começaram a partir da década de 80 no Brasil. “Em 1982, houve o Simpósio Latino-Americano sobre Risco Geológi-co Urbano. Nessa época, existia na área internacional uma série de linhas de pes-quisa e conceitos sobre risco e vulnera-bilidade a desastres naturais, baseados na Undro (antiga Agência de Desastres Na-turais, da ONU)”.

Um incidente, já naquela época, aler-tou sobre a necessidade de prevenção, ocorreu em 1988, coincidentemente em Petrópolis, um dos municípios afetados neste ano, na região serrana fluminense. Mais de 240 pessoas morreram.

Segundo o pesquisador, no estado de São Paulo, o IPT iniciou, nesse período, mapeamento de riscos na Serra do Mar, no qual foram identificadas ocupações urbanas e escorregamento de terra em áreas ferroviárias. “Como resultado, foi criada uma metodologia. Fizemos a car-tografia geotécnica no litoral Norte e na Baixada Santista. A partir daí, houve o desenvolvimento de um plano estadual de contingência para escorregamentos para quatro municípios da Baixada, que hoje são adotados em mais de 100 muni-cípios do Estado”.

Por meio desse instrumento, foram definidos quatro níveis para se estabele-cer o aspecto crítico do incidente, gerido pelos municípios. “Os vistoriadores de campo vão às áreas de risco previamente mapeadas junto com a população e ten-tam obter indício de anormalidade na Agostinho Ogura, Geólogo pesquisador do IPT

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Paulo Marrucho

área, como uma árvore caída, blocos de rochas deslocados, rachaduras no terre-no e em moradias, que indicam evolu-ção do processo de deslizamento”, ex-plica Ogura.

Com o risco iminente constatado, re-move-se imediatamente os moradores. “Esta situação configura estado de aler-ta, e os técnicos que estão de prontidão no sistema seguem para a área de risco para dar apoio ao município nas ques-tões de vistoria, como nos trabalhos de estruturação de equipamentos de defesa civil, caso haja necessidade de remoção de famílias”.

Quando se analisa o contexto brasilei-ro, na avaliação de Ogura, o grande pro-blema está na ausência de articulação no âmbito do Sistema Nacional de Defesa Civil para poder captar tudo que está em processo de evolução nas ações preventi-vas no país, e ocorrer sua ampliação no território nacional.

DECISÕES TÉCNICAS E POLÍTICAS

Nos anos 90, ao ser instituída pela ONU a Década Internacional de Redu-ção dos Desastres Naturais, houve a am-pliação do intercâmbio de conhecimento técnico principalmente em países mais vulneráveis, que sofrem com o aumento da população e concentração da popula-ção em áreas de risco urbana. O gargalo, entretanto, está na tomada da decisão po-lítica, como observam os especialistas.

“Quando discutimos a percepção de risco, o Brasil sempre foi considerado como um país tranqüilo diante dos de-sastres naturais. Isso valia até os anos 60, mas com o adensamento populacional e pessoas construindo em locais perigosos, esse cenário mudou”. Segundo Ogura, com núcleos de pobreza em grandes me-trópoles e ocupação em margem de rio sem controle, houve um incremento de pessoas expostas ao risco.

Com a recorrência de eventos calami-tosos, ficaram flagrantes os problemas de gestão de desastres naturais. Ele cita como exemplos mais recentes, desde 2008, os

efeitos das chuvas em cidades de Santa Catarina, no Rio de Janeiro e em Alagoas, entre outros. “Houve o aumento de vulnerabilidade associado à intensidade das chuvas”.

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Ao mesmo tempo, no entanto, a comu-nidade técnica aumentou consideravelmen-te neste período, de acordo com Ogura. “Há grande quantidade de metereologistas preocupados com eventos extremos. Antes, a visão era mais obreira, como se detivesse em obras de engenharia e, não, de desastres naturais. Aumentou a percepção da classe política para tratar com seriedade essa ques-tão”, considera. Mas o processo ainda é len-to, como é possível constatar.

O que é preciso se ter claro, segundo o geólogo, é que para evitar a fatalidade, são indispensáveis diagnósticos e mapeamentos sistematizados, com informações em base de dados georeferenciados, que podem ser realizados.

“Com esse procedimento, colocam-se todos os históricos e estudos de contin-gência numa base nacional, com dados de escorregamento, erosão, tipos de desastres possíveis, atores envolvidos, planos, estudos de previsibilidade e correlação de chuvas com o processo”, diz.

Essas informações, entretanto, não po-dem ficar dispersas. “Por isso, está sendo pensada uma política nacional de combate aos desastres naturais”. Segundo Ogura, ao

viabilizar essa ferramenta que reconhece as vulnerabilidades, há possibilidade de fazer análise desses cenários potenciais para arti-cular medidas preventivas, que podem en-volver remoção, obras e melhoria de condi-ções de habitabilidade.

Isso leva à melhoria da capacidade de drenagem e ao planejamento urbano, para evitar o crescimento desordenado das cida-des. A prevenção envolve planos de monito-ramento e os eventos climáticos, que serão abordados no sistema nacional de alerta.

Além de se estabelecer os diagnósticos, devem ser propostas ações de adaptação e de mitigação. “O Ministério das Cidades man-tém o Programa de Redução de Riscos, des-de 2000, que foi criado para definir as ações e o seu custo no orçamento. No caso de mu-nicípios mais pobres, auxilia no patrocínio de mapeamentos”, explica Ogura.

As defesas civis deveriam atuar nos pla-nos de contingência, mas o que se percebe é uma grande dificuldade de aplicação na prá-tica. “Falta profissionalização dessa área no Brasil, além de maior orçamento. O pessoal se forma na experiência no dia a dia. O ideal seria treinar recursos humanos para que te-nham maior clareza dos cenários e coorde-nem os mapeamentos e a montagem da ges-tão das áreas de risco. Não devem aparecer somente na hora de emergência”.

O pesquisador do IPT salienta que, in-dependente das mudanças climáticas, o pro-blema da vulnerabilidade está associado ao adensamento das cidades. “A solução técnica para as enchentes e deslizamentos está as-sociada à mudança do modelo urbano, algo que ainda o Brasil não fez”. Para isso, o geó-logo sugere as seguintes ações: aumento de controle da expansão urbana, evitar a imper-meabilização e a construção de grandes ave-nidas em fundos de vale, entre outras.

Fontes de referência:Áreas de risco de São Paulo - http://www3.prefeitura.sp.gov.br/saffor_bueiros/FormsPublic/serv3AreasRisco.aspx

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