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Versus Magazine #11 Dezembro 2010

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Edição nº11 da Versus Magazine c/ OCTOBER TIDE, NIGHTFALL, MINDLOCK, DISBELIEF, KING OF ASGARD, NOX AUREA, DEMONIAC RESURRECTION, WINTERS VERGE, EREB ALTOR e muito mais. DOWNLOAD: http://www.mediafire.com/?jjjlsl2l8fdhc27

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VERSUS MAGAZINE

A/C Ernesto MartinsVERSUS MAGAZINEAlameda da Azenha de Cima,116 - 3D4460 - 252 Senhora da HoraPortugal

Telem.: 918 481 127Web: www.versus-magazine.comE-Mail: [email protected]: /versusmagazineTwitter: /versusmag

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DIRECÇÃOErnesto MartinsAndré Monteiro

GRAFISMOA.Monteiro - Design & Multimédia www.andremonteiro.com.pt

EQUIPAAndré MonteiroCarla FernandesCarlos FilipeCristina SáDaniel GuerreiroDicoEduardo RamalhadeiroErnesto MartinsHenrique PintoJoão FerreiraJorge CastroLuís FerreiraMiguel RibeiroPaula MartinsPaulo EirasPaulo MartinsPedro AlmeidaPedro SáRenato Conteiro

FOTOGRAFIACréditos nas Páginas

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Indisponibilidades de vária ordem obrigaram-nos a atrasar sucessiva-mente as edições, tendo sido possível concluir apenas três números nos últimos oito meses.Entretanto, apostados na continuidade deste projecto, passamos por uma mudança de direcção e por um laborioso processo de transição que, usando do inestimável contributo da nossa equipa de colaborado-res, a quem desde já agradeço, culmina com a publicação da presente edição. Apesar das movimentações de bastidores, a Versus conserva os mes-mos traços de sempre. Contudo, inauguramos nesta edição uma nova secção de reviews curtas, e contamos vir a introduzir outras novidades e melhorias nas próximas edições. Fiquem atentos.Mudamos também a periodicidade para bimensal, mas, em compensa-ção, temos em vista edições mais volumosas dentro daquilo que nos for tecnicamente possível. As nove entrevistas e as vinte e nove reviews deste número são já uma boa indicação dessa tendência.Estamos agora preparados para encarar 2011 com motivação renovada.Podem continuar a contar com a Versus Magazine! Ernesto Martins

Depois de um longo período de afas-tamento, a Versus aqui está de novo para terminar da melhor maneira um ano que se revelou tudo menos fácil na curta vida deste magazine.

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Tankard Novo álbum “Vol(l)ume 14”, este é o nome escolhido para batizar o novo álbum de estúdio da banda alemã Tankard. O lançamento está marcado para o dia 17 de Dezembro e terá 10 músicas novas.A banda divulgou a novidade através do site oficial e do perfil no Facebook, onde também é possível ver a capa do novo álbum. “Vol(l)ume 14”, como o nome indica, é o 14º trabalho de estúdio na discografia do quarteto e será lança-do em três formatos diferentes: LP, CD simples e CD/DVD. INKILINA SAZABRA O industrial Português fica fortificado com o re-gresso do projecto “Inkilina Mor+e” aos discos, desta vez com o projecto “Inkilina Sazabra” e o disco “A Divina Maldade”.“Inkilina Sazabra” surge da fusão entre o escri-tor Pedro Sazabra e o projecto “Inkilina Mor+e”. Após a colaboração no tema “Solta Âncora” de 2008, que serviu de banda sonora do 1º livro do escritor “As Passeatas de Euclides”, ambos decidiram musicar por completo este novo livro “Liberdade, Obscuridade”. O resultado são 15 temas industriais e ruidosos com musica de Car-los, e textos e vozes de Pedro. O 1º single será o tema titulo, e será lançado brevemente pela “Ulmeiroeditora ”.

Samaeledição especial A 22 de Novembro, a Century Media vai lançar uma box-set que irá conter todos os lançamen-tos que a banda suíça SAMAEL gravou pela edi-tora. “A Decade In Hell” trará um livro de 60 páginas, além de nove CDs e dois DVDs conten-do: “Worship Him”, “Blood Ritual”, “Ceremony Of Opposites”, “Rebellion”, “Passage”, “Exodus”, “Eternal”, “Era One” e “Lesson In Magic #1”, além do DVD “Black Trip” 1 & 2.

IRON MAIDENNovo single Após atingir a posição número 1 nos charts de 21 países (incluindo Portugal) com o seu 15° disco de estúdio, “The Final Frontier”, os Iron Maiden vão lançar agora o terceiro single deste novo trabalho.Depois de “El Dorado” e “The Final Frontier”, ag-ora é a vez de “Coming Home” chegar às rádios de todo o mundo. O single terá a faixa em duas versões: “Radio Edit” e “Album Version”.

Dr.Salazar 2º álbum já há venda O 2º álbum dos Dr.Salazar já se encontra à ven-da por todo o país e tem o nome de “Lápis Azul”.O álbum encontra-se a venda por 9€ e as t-shirts estão disponíveis no site de merchandising Un-kind (http://www.unkind.pt/) por 11,90€.Podem também fazer a encomenda do álbum e t-shirts pelo myspace da banda ou email. Bas-ta enviar uma mensagem com nome completo, morada e artigo pretendido.Mais notícias em: www.myspace.com/drsala-zar1

MotorheadNovo álbum Os MOTÖRHEAD vão lançar o seu tão aguarda-do novo ábum de estúdio, “The World Is Yours”, em 13 de Dezembro. O primeiro lançamento da banda através de seu recém-criado selo, Motör-head Music, associado à EMI Music Services, foi gravado com o produtor de longa data Cameron Webb.

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Viagens No TempoSão uma banda de primei-ro plano, mas conhecer-am uma longa pausa, que começou em 2005. Res-surgem com uma for-mação renovada e acabam de lançar “Astron Black and The Thirty Tyrants”, pela Metal Blade.Aqui estão motivos de so-bra para a Versus Magazine conversar com Efthimis Karadimas, vocalista e mentor da banda, desde a sua formação, em 1991. Nightfall é uma banda veterana. Fiz pes-quisa sobre a banda e recolhi bastante in-formação, mas não posso perder esta opor-tunidade de ter acesso à análise dos factos feita por alguém que esteve na sua origem. Na tua opinião, quais são os momentos mais importantes na biografia dos Night-fall? E de que modo contribuíram para o actual mo-mento da banda?Karadimas: Quando recordo todos os lança-mentos dos Nightfall, vejo uma discografia

original, única, em que os diferentes álbuns se distinguem perfeitamente uns dos outros, apresentando elementos e estilos sempre vari-ados, em função da altura em que foram pro-duzidos. É como a bibliografia de um escritor digno desse nome, em que é clara a presença do seu toque pessoal, mas cada livro tem uma história diferente para contar. Esta constatação é muito importante para mim, porque conside-ro a produção artística dos Nightfall rica e cheia de elementos que reflectem a história do metal europeu nas duas últimas décadas.

Depois de uma carreira gloriosa e de vári-as mudanças na formação, os Nightfall de-sapareceram durante alguns anos. Como é que isso aconteceu?A editora com quem estávamos na altura teve alguns problemas e acabou por cessar a ac-tividade. Pareceu-me que era uma boa opor-tunidade para a banda fazer uma pausa e re-flectir sobre alguns aspectos da sua existência. Quando criei os Nightfall, o meu objectivo era fazer música sobre a forma como a vida nos envenena e, claro, comunicar com outras pes-

“[A discografia da banda] é como a biblio-grafia de um escritor digno desse nome, em que é clara a presença do seu toque pes-soal, mas cada livro tem uma história difer-ente para contar”

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soas que tivessem a mesma sensação. No en-tanto, à medida que o tempo foi passando, as coisas foram-se tornando mais complicadas, inclusive devido aos aspectos comerciais do trabalho artístico da banda. Tínhamos de fazer digressões, de participar em eventos promocio-nais, etc. Todas estas actividades são positivas, mas, quando começam a ocupar muito tempo à banda, esta acaba por perder de vista a sua verdadeira finalidade: exprimir-se através da música. Portanto, mantive-me algum tempo lib-erto dessas responsabilidades, relaxei um pou-co, continuei a tocar, sozinho, e decidi guardar o silêncio até ter encontrado novamente algo in-teressante para dizer através da minha música, à minha maneira.

O que te levou a “refazer” a banda, depois da sua quase extinção?Falei com um amigo meu, Stathis, o nosso teclista, sobre canções novas em que estava a trabalhar e ele propôs-me que eu contratasse o guitarrista Evan Hensley, caso quisesse gravá-las. Na mesma altura, fui contactado por um outro amigo, que me comunicou que o baterista

Jorg Uken gostaria de tocar com os Nightfall, se a banda pretendesse fazer algum lançamen-to. Limitei-me a aproveitar uma boa oportuni-dade com que me deparei: contactei os dois e a resposta de ambos foi muito encorajadora. Combinámos uma reunião, para tocarmos jun-tos, mas, nessa altura, não tínhamos planos para fazer um novo lançamento. Contudo, aca-bámos por assinar um contrato com a Metal Blade e esperamos merecer a confiança que depositaram em nós.

De que modo vês o futuro da banda, com esta nova formação?Penso que vamos fazer muita coisa juntos. Te-mos uma boa relação e os novos elementos es-tão muito entusiasmados com o projecto. Este aspecto é muito importante, porque, hoje em dia, na cena, muitos querem apenas ser estre-las, preocupando-se sobretudo em promover-se pessoalmente e esquecendo o trabalho em equipa ou, pior ainda, a dimensão artística do que fazemos. A ideia de tocar seja o que for desde que agrade não me diz nada.

Os Nightfall são geralmente apresentados como uma banda que faz death/gothic metal melódico. Contudo, é também con-hecida pelas suas metamorfoses. Que ad-jectivos se aplicam melhor ao vosso perfil actual?Deixo isso ao critério dos críticos musicais. A mim parece-me que tentar descrever por pa-lavras algo que não é feito de palavras é um erro crasso.

Parece-te que os Nightfall têm algumas influências, venham elas da Grécia ou de outra cena?Penso que sim, tal como todas as outras ban-das. Mas não me peças para fazer a lista das nossas influências agora. Crescer na Grécia, um país que se caracteriza por uma cultura que combina elementos ocidentais e orientais, marca a pessoa para sempre. Mas cabe a cada artista grego decidir de que modo vai contribuir para essa identidade cultural tão especial, es-teja ele ou ela no metal ou não.

Em textos que li, associava-se outras ban-das aos Nightfall: por exemplo, Rotting Christ, Samael, Tiamat e até os portu-gueses Moonspell. O que pensas disto?Que são boas bandas.

Alguém referiu também os Nile.Com certeza estavam a ter em conta o facto de que o nosso ex-baterista está agora com os Nile. As pessoas são livres de dizerem e com-preenderem o que quiserem.

A vossa banda é uma referência de peso na cena. Sentem-se assim? Serias capaz de referir outras bandas que a vossa pos-sa ter influenciado?

“[A discografia da banda] é como a biblio-grafia de um escritor digno desse nome, em que é clara a presença do seu toque pes-soal, mas cada livro tem uma história difer-ente para contar”

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Obrigado por essa apreciação. Mas não me sinto capaz de referir nenhumas bandas agora. De qualquer modo, nunca o faria. Por outro lado e muito francamente, neste meio influenciamo-nos todos uns aos outros, porque já se tocou tudo o que havia para tocar. A única coisa que faz verdadeiramente sentido, que interessa mesmo, são as “falhas”, as pequenas imperfeições que tornam único o som de cada banda.

Passando agora ao vosso último lançamen-to – “Astron Black and the Thirty Tyrants” –, vê-se que se trata de um álbum concep-tual. Sendo o autor de todas as letras, como descreverias o conceito subjacente a ele?O álbum trata do esforço dos seres humanos para expandir a sua civilização através do uni-verso e conquistar novos paraísos. Estrelas e planetas orientam a nossa viagem através do seu movimento. Essa viagem mítica é apresen-tada com base em parábolas, que fazem alusão a factos históricos.

Sei que a capa do álbum foi elaborada sob a tua supervisão. Achei-a magnífica, mesmo antes de saber quem a tinha feito. O que representa essa imagem?O movimento acima referido. O barco repre-senta os meios artificiais que os humanos cri-am para viajar, para explorar o seu universo, e o mar surge como o último reduto a explorar, representado de forma literal e metafórica. Es-tou certo de que compreendes a minha ideia, porque os Portugueses também são um povo do mar e afirmaram-se como marinheiros e explo-radores.

Ouvindo a música deste álbum, sente-se que vão surgindo diferenças subtis na at-mosfera, de faixa para faixa. Podes elu-

cidar-nos sobre este aspecto?Este álbum não foi criado apenas para entreter os ouvintes, ou para dançar. Vai-se revelando gradualmente, da mesma forma que os con-tadores de histórias vão desenrolando as suas narrativas, criando expectativa nos ouvintes. Tem os seus altos e baixos, os seus momentos poderosos e as suas partes calmas, tal como uma boa história.

Comparei o vosso novo álbum com o que o antecedeu (“Lyssa...”, 2005) e penso que há notáveis alterações no som. Que pen-sas desta observação?De facto, há uma grande evolução entre os dois álbuns. “Astron Black and the Thirty Tyrants” tem uma produção mais trabalhada, o que é indispensável para combinar agressividade e melodia e obter um bom produto final.

Foste sempre muito apreciado pela quali-dade da tua voz. Neste álbum, és acom-panhado por outro vocalista. Por que sentiste a necessidade de teres alguém a cantar contigo, se uma das principais car-acterísticas da tua voz parece ser a sua impressionante flexibilidade? Não era necessário, nem foi planeado. O dono do estúdio onde os vocais foram gravados é um

“Crescer na Grécia … marca a pessoa para sempre. Mas cabe a cada artista grego de-cidir de que modo vai contribuir para essa identidade cultural tão especial, esteja ele no metal ou não”

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amigo meu e muito simplesmente eu convidei-o para colaborar em algumas partes do álbum durante as gravações.

Que tipo de relação criativa (se havia algu-ma) mantinhas com os membros da banda que abandonaram o projecto?Separámo-nos, porque tínhamos perspectivas diferentes. A minha experiência na cena levou-me a ter dúvidas sobre a validade da indústria musical e a sua importância para os Nightfall. Os outros membros da banda não tinham tanta experiência e estavam ansiosos por brilhar, fa-zendo muitas digressões e participando em ac-tividades de promoção. Por outras palavras: eles queriam o que eu recusava. Mas estou contente por ver que têm tido sucesso até agora.

Então, como pretendes orientar o trabalho com a actual formação, no que se refere ao processo criativo dos Nightfall? Esta parte do trabalho de uma banda veterana susci-ta-me muita curiosidade, tanto mais que a formação é completamente nova (excluin-do-te a ti, claro). Enquanto o espírito de equipa persistir, não vai haver problema. Quem quiser apostar no exibi-cionismo, em detrimento da banda e do seu pro-jecto musical, terá de sair.

Qual é a importância da Metal Blade para os Nightfall? Poderiam ter lançado “As-tron Black” noutra editora?Foi uma grande honra para nós fazermos parte do catálogo de uma editora histórica. Não poderíamos ter lançado o CD com outra edi-tora, porque só o enviámos à Metal Blade.Com certeza, têm planos para promover este CD. O que nos podes dizer sobre este assunto?Ainda estamos em negociações para a mar-cação de concertos e a provável realização de uma ou duas digressões. Mas a banda não tem pressa. Vamos avançar de uma forma cautelosa e selectiva. Afinal, “Astron Black and the Thirty Tyrants” é uma obra de arte que vale por si.

Os Portugueses têm orgulho em pertencer à mesma matriz cultural que os Gregos e por terem sido influenciados pela vossa cultura. Sei que os Nightfall estiveram em Portugal para promover Lesbian Show. O que nos podes dizer sobre este momento da história da banda? Tiveste alguns con-tactos com a cena metal portuguesa na altura?Foi um momento maravilhoso, graças ao em-penho de todos os que nos acompanharam em Portugal.

Isso que dizer que tencionam vir ao nosso país para promover “Astron Black”? Gos-tava muito de ver os Nightfall ao vivo.Estamos prontos para repetir. E uma recepção calorosa merece uma resposta positiva.Obrigado pelo teu tempo e esforço.

Entrevista: CSA

“Crescer na Grécia … marca a pessoa para sempre. Mas cabe a cada artista grego de-cidir de que modo vai contribuir para essa identidade cultural tão especial, esteja ele no metal ou não”

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Uma Terapia Mu-sical de PesoLançaram “Heal!” para festejar o 20º aniversário e fazer o balanço de uma carreira que já vai longa.Há vários anos com a Massacre, pretendem continuar a fazer a sua música, mantendo a liberdade artística que tiveram até agora e, tanto quanto possível, alargar os horizontes da banda.Jagger, vocalista dos Disbelief, fala-nos de como se sente o fun-dador de uma banda que atingiu a maturidade e dos seus planos para o futuro.

“Heal!” foi lançado para celebrar o 20º an-iversário da banda que tu próprio fundaste. Como poderias resumir a vossa história até agora?Jagger – Às vezes, tenho dificuldade em acei-tar que já fundei a banda há 20 anos. Já passou tanto tempo! Durante estes anos, gravámos 8 ál-buns, para além deste para o aniversário. Fizemos digressões e partilhámos o palco com grandes bandas. Trabalhámos com grandes produtores: Andy Classen, Tue Madsen, Michael Mainx. Con-seguimos “contaminar” fãs de todo o mundo com o poder da nossa música. É fantástico!

Há anos que estão com a Massacre, passar-am estes anos todos a explorar certos temas, criaram um som coerente ao longo da vossa carreira. Podemos dizer que são uma “ban-da de hábitos”?De momento, não sentimos a necessidade de mudar de editora, porque a Massacre faz-nos sempre as melhores ofertas. Há muitos anos que confiam nos Disbelief e que nos deixam fazer a nossa música. Isso é muito importante para nós e a Massacre tem sido irrepreensível.

Ao escutar a vossa música, fiquei com a impressão de que é obscura e luminosa ao

mesmo tempo. Como conseguem produzir esse efeito espectacular?Pretendemos criar uma atmosfera autêntica, as-segurada por uma boa fusão entre a música e as letras. A nossa música é como a realidade: cheia de altos e baixos, de coisas boas e coisas más, a preto e branco. Na história da banda, a música surgiu sempre em primeiro lugar, quando escrevemos as nossas canções. A parte instru-mental produz uma atmosfera especial, conta uma história e isso inspira-me para eu escrever a letra adequada para aquela música. Esta é uma das causas fundamentais do efeito que referiste na tua pergunta.

“Durante estes anos, conseguimos “contaminar” fãs de todo o mundo

com o poder da nossa música. É fantástico!”

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Os títulos, a capa e as letras dos álbuns rev-elam o vosso interesse por temas relaciona-dos com a saúde, tanto física (caso de “In-fected”) como mental (por exemplo, “Worst Enemy” e “Protected Hell”). Alguns parecem mesmo combinar os dois aspectos: “Spread-ing the rage” e “66Sick”. Este ciclo começa com um álbum auto-intitulado e vai até “Heal!”. Alcançaram a cura com este último longa duração? Ou pretendem dar segui-mento à vossa “descrença”?Dado que a nossa música ajuda pessoas por esse mundo fora a enfrentar momentos difíceis

nas suas vidas, pareceu-nos que “Heal!” seria o título perfeito para o nosso álbum de aniversário, uma espécie de prenda para todos os nossos fãs. É esta a principal ideia subjacente ao título: cel-ebrar o poder da música.

Falando agora de “Heal!”, há alguns aspec-tos do álbum que me intrigaram bastante. Um deles é a capa. Gostei muito dela e parece-me muito adequada à natureza da vossa música, mas fiquei a pensar qual seria exactamente a relação a estabelecer entre esta imagem e o título do lançamento. Será que nos podias elucidar?A música pode ser um bom amigo, quando te-mos de travar uma luta com a vida. Por vezes, a música dos Disbelief funciona como um medi-camento, um poder que te ajuda, algo a que te podes agarrar. A música ajuda-te a não desistires e a ter um pensamento positivo. Por isso, o álbum chama-se “Heal!”! E o médico na capa faz o mesmo trabalho que a nossa música: ajuda-te e dá-te segurança.

E por que razão este álbum inclui 4 canções

“Durante estes anos, conseguimos “contaminar” fãs de todo o mundo

com o poder da nossa música. É fantástico!”

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novas, 3 covers e uma nova versão da faixa título de “Shine” (2002)?Queríamos fazer algo de especial para este álbum de aniversário. Portanto, decidimos criar algumas canções novas, que compusemos propositada-mente ao estilo de bandas que nos influenciaram no passado. São elas: Slayer, Death, Bolt Thrower e Crowbar. Com estas canções, queremos hom-enagear essas bandas, misturando os seus estilos característicos com o som dos Disbelief.

As covers são verdadeiramente fantásticas. Gostei particularmente de “Love like blood”. Por que escolheram estas bandas e estas músicas?As covers são de canções de duas grandes bandas de power metal: Crimson Glory e King Diamond. Não as escolhemos por nos terem influ-enciado, mas sim porque somos fãs delas. Quere-mos homenageá-las e, sobretudo, Midnight, o vo-calista de Crimson Glory, que morreu muito novo (R.I.P.)! Quanto a Killing Joke, já tínhamos feito uma experiência com a canção “Democracy”, que saiu no nosso álbum “Spreading the Rage”. “Love lik blood” foi a primeira canção dos Killing Joke que despertou o meu interesse. A atmosfera dessa canção fascinou-me desde a primeira vez que a ouvi. Há uma outra música dos Killing Joke, que ficaria fantástica com o nosso som, mas isso é uma ideia para o futuro...

Ao escutar “Heal!”, sentimos a música, mas a voz parece que está em todo o lado, sempre destacada. Como crias esse efeito?Comecei a educar a minha voz em 1987. Graças a esse treino, está cada vez mais forte. Quando está em boa forma, sinto-me como um cama-leão. Trabalhar para um novo álbum em estúdio tem sempre um forte impacto psicológico para mim, mas é também um grande prazer. Sentir-me na melhor forma, ter uma voz poderosa cria em mim uma espécie de tensão que me faz soar mais forte do que nunca e isso é uma experiên-cia sensacional para um vocalista.

Com certeza, pensam fazer uma grande di-gressão para festejar o vosso 20º aniversário

e promover este álbum. Onde gostariam de ir? Com quem gostariam de tocar?Em Dezembro, estaremos em digressão como banda de suporte para os Six Feet Under. A maior parte dos concertos terão lugar aqui na Alemanha, mas também vamos tocar na Áustria, na Suíça e na República Checa. Tenho a certeza de que esta digressão vai ser maravilhosa para os Disbelief. No passado, andámos duas vezes em digressão com os Six Feet Under e foram ex-periências espectaculares. Depois disso, vamos fazer uma digressão nossa pela Europa de Leste: especialmente, Polónia, República Checa, Ro-ménia. A seguir, haverá alguns concertos em França e iremos tocar em alguns fins-de-semana ou fazer uma pequena digressão com os nossos amigos dos Gorilla Monsoon.

Será que Portugal faz parte do mapa da di-gressão dos Disbelief? Na vossa opinião, o que pode “Heal!” trazer de novo aos músicos e fãs portugueses?A primeira vez que tocámos no vosso país foi no Festival de Ermal. Fomos muito bem acolhidos e esperamos poder voltar numa das nossas próxi-mas digressões. Conhecemos alguns músicos extraordinários nesse festival e gostaríamos de poder, em breve, tocar ao vivo com eles.

E, para terminar com chave de ouro, gostava de saber se já têm algumas ideias para os próximos 20 anos da vossa banda.Continuaremos a tocar e a passar momentos sensacionais no heavy metal e veremos o que vai acontecendo. Na minha opinião, ainda não demos o nosso melhor e, portanto, sentimos que temos muitas canções maravilhosas a compor no futuro. Ir frequentemente tocar ao vivo no teu país também me parece uma boa ideia, porque aprecio a vossa cultura e o clima e, claro, os fãs locais. Obrigado pelo apoio aos Disbelief, quer vindo da revista, quer dos nossos fãs em Portugal. Saudações!

Entrevista: CSA

“É esta a principal ideia subjacente ao título:

celebrar o poder da música”

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O Regresso do Rei

Acabam de aparecer em cena com o álbum «Fi’mbulvintr». Contudo, para o guitarrista e vo-calista Karl Beckmann, os King of Asgard são mais do que um novo projecto concebido, em 2008, em parceria com o baterista Karsten Larsson.Trata-se mais do reacender de uma velha paixão, inter-rompida prematuramente há onze anos atrás com a extinção de uma outra banda a que pertenceu.

Sendo os membros dos King of As-gard já conhecidos de outras for-mações, gostava que começasses por nos dizer por onde é que vocês têm andado, em termos de ban-das, antes da formação deste novo projecto.Karl: Eu e o Jonas (Albrektsson, baixo) te-mos estado parados. O Karsten (Larsson, bateria) continua envolvido nos Falconer, banda que lhe ocupa uma boa parte do tempo. Estive com ele nos Mithotyn mas esta banda terminou há já cerca de onze anos. O Jonas tocou também nos, igual-mente extintos, Thy Primordial. Outros grupos notáveis por onde algum de nós já passou, foram, por exemplo, os Dawn e os Indungeon. Ao todo, já andamos ni-sto do metal extremo há mais de vinte anos. Vivemos todos na mesma cidade e fazemos parte de um pequeno grupo de músicos responsáveis por quase todas as bandas que as pessoas conhecem daqui.

Tendo em conta todo esse per-curso artístico anterior, porquê formar agora uma banda com as características dos King of Asgard (KoA)?

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Dado o meu background, a escolha deste estilo acabou por surgir de uma maneira relativamente natural. Estive envolvido em algumas bandas de metal tradicional e, durante esse tempo, sempre senti que me faltava qualquer coisa. Adoro este gé-nero de viking metal! Quando os Mithotyn terminaram e o Stefan (Weinerhall, guitar-rista dos Falconer) e o Karsten começaram a dedicar-se aos Falconer, eu acabei por fi-car à espera que o Karsten voltasse a ter disponibilidade para tocarmos juntos. Os KoA são o resultado dessa oportunidade e representam portanto uma espécie de regresso às nossas raízes. Não é pois co-incidência que se detectem muitas semel-hanças, do ponto de vista musical e lírico, entre as bandas onde tocámos antes e os KoA. A música de que gostávamos antes é a música de que gostamos agora. É um reflexo de nós próprios como pessoas.

Mas se a ideia era tocar viking met-al, no espírito dos Mithotyn, por que não optaram por reagrupar estes últimos, em lugar de formar uma nova banda?Na verdade pensamos nisso, mas como o Stefan está dedicado a 100% aos Falconer, reagrupar os Mithotyn sem ele estava fora de questão. Os KoA soam muito parecidos com os Mithotyn porque a música foi escri-ta em partes iguais por mim e pelo Stefan. No entanto, os KoA não têm aquelas mal-has técnicas que os Mithotyn tinham, nem aquela repetição maluca de riffs. A nossa música é mais fácil de digerir. Aliás, nem é preciso ser-se um fã ferrenho de metal para se gostar do que fazemos, embora a nossa música contenha algumas influên-cias de black metal.

Alguns temas, como o “Never will you know of flesh again” e o “Wrath of the gods”, têm um feeling dis-tintamente Dawn ou Dissection. Foi algo que calhou, ou esta aproxi-mação foi de facto intencional? Não posso dizer que tenha feito isso con-scientemente. Quando componho recorro obviamente a todas as minhas referências musicais, mas faço sempre o possível por não me limitar a um estilo ou influência. É provável que algo nessas canções seja rem-iniscente das bandas que referiste devido a alguma ambiência que consegui capturar. Por acaso até nem sou grande admirador dos Dawn ou Dissection, ao contrário do Jonas que é um grande fã. Mas reconheço que herdamos uma parte do legado do death metal melódico dos 90s.

Estou completamente de acordo. Aliás, em termos de géneros, diria que os KoA têm uma sonoridade mais em linha com o death melód-ico, enquanto os Mithotyn encaixa-vam melhor numa estética viking/black metal. Que achas?Os Mithotyn eram bastante melódicos mas a sonoridade era mais suja e crua do que a nossa. Pessoalmente eu sempre fui mais um tipo de death metal, e por isso até não é difícil descobrires nos Mithotyn os riffs que são da minha autoria … No caso dos KoA a música pode descrever-se como death metal com melodias do velho folk nórdico. No entanto, também acho que temos por vezes as nossas incursões no black met-al, embora não de uma forma tão intensa como nos Mithotyn. A minha maneira de cantar também é bastante diferente da do Rickard Martinsson (vocalista dos Mitho-tyn). Por exemplo não atinjo aquelas notas altas e pode perceber-se bem cada pala-vra que digo. Portanto, em resumo, penso que é como dizes: o termo death metal melódico descreve bem o que estamos a fazer neste momento. Mas penso que é ap-enas um coincidência, ou seja, foi o que surgiu, por agora, do colectivo das nossas cabeças. A nossa direcção musical pode vir a mudar. O que fazemos é de coração, por-tanto nunca se sabe.

Referiste há pouco que o Stefan Weinerhall participou na com-posição de alguns temas, mas parece que ele também escreveu algumas letras, não foi? Sim, é verdade. Perguntei-lhe se ele es-tava interessado em escrever qualquer coisa para a banda, e poucos dias depois ele apareceu com algumas letras, não só brilhantes como perfeitamente adequadas à música que estávamos a fazer. As let-ras dos temas “Snake tongue”, “Brethren of the North” e “Heroes’ brigade” são dele. O Stefan é um grande amigo e para nós é uma honra ter a participação dele no ál-bum.

Tiveram a participação de mais al-gum convidado que queiras referir?Sim, neste álbum tivemos o previlégio de contar com o talento e o profissionalismo de alguns dos nossos amigos mais chega-dos. Para além do Stefan tivemos também o contributo da Helene Blad que cantou na introdução do tema “The last journey”. A Helene também fez parte da formação ini-cial dos Mithotyn, como teclista.

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O nome King of Asgard pratica-mente diz tudo sobre a música em oferta. Não achas que é talvez de-masiado óbvio?Sim, claro que é. A ideia do nome é exacta-mente dar a entender de imediato o nosso estilo de som e conteúdo lírico sem que seja necessário ouvir uma única nota da música. É um de entre os milhares de no-mes habitualmente atribuídos a Odin (Wo-tan), o deus guerreiro máximo do panteão nórdico, e representa também o género de metal com que nos identificamos.

Parabéns pela capa do disco! É um pouco cliché, mas adoro-a. Quem é o autor e porque é que escolheram este artwork?Obrigado, também estamos muito satisfei-tos. O autor do trabalho de capa foi o Ola Larsson, um profissional da ilustração e da banda desenhada que trabalha para em-presas de animação e jogos. É também um amigo nosso de longa data, que já fez vári-as outras capas, nomeadamente para ál-buns dos Thy Primordial e dos Indungeon, onde o Jonas tocou no passado. Lembro-me que fomos bastante exigentes relativa-mente à selecção do tipo de capa. Começa-mos por dar ao Ola algumas dicas sobre o que tínhamos em mente, e a partir daí ele foi-nos enviando amostras para comentar-mos e darmos-lhe o feedback necessário. Como ele estava ocupado com outros afaz-eres, este processo demorou cerca de três a quatro meses até se atingir um resultado inteiramente do nosso agrado. O artwork é de facto cliché, mas está dentro do estilo que nos pareceu apropriado. É todo retro e insere-se bem na tradição das grandes clássicos do death e black metal dos anos 90. Como já disse, estamos muito satisfei-tos, e as reacções que tem gerado até têm sido muito positivas.

Como é que se proporcionou a vossa ligação à Metal Blade?Foi simples: como o Karsten já está liga-do à Metal Blade (via Falconer) foi ele que lhes fez chegar a nossa demo «Prince of Märings». O Andreas (da Metal Blade) gos-tou do nosso material e tratou de convenc-er a editora a contratar-nos.

Estão satisfeitos com o tratamento que eles têm dado à banda?Sim, bastante. O Andreas (que é o nosso contacto principal) e o resto do pessoal têm sido fantásticos connosco. Tudo fun-ciona muito melhor do que em qualquer outra editora que tenhamos já conhecido.

E agora que o álbum está lançado é que vemos como as coisas estão realmente a correr bem, e quão longe podemos aspirar. Prevejo grandes realizações através desta colaboração com a Metal Blade.

E quanto a tocar ao vivo? Será que há planos para isso ou os KoA serão apenas um projecto de estúdio?Definitivamente queremos tocar ao vivo. Neste momento não estamos em con-dições de sair numa longa digressão, mas não declinaremos propostas pontuais para actuar ao vivo. Para já temos um contacto para tocar na Alemanha em Dezembro, e contamos que surjam mais oportunidades para tocar lá para o início do ano que vem. As coisas parecem estar a começar a ac-ontecer. Veremos até onde este álbum nos leva. Para já tocamos apenas na festa de lançamento do «Fi’mbulvintr», no dia 28 de Agosto, e foi incrível ver a reacção das pessoas presentes.

Presumo que a banda se apresente ao vivo com um guitarrista adicion-al. Será o Stefan?Não, o Stefan anda muito ocupado com os Falconer pelo que não nos poderá ajudar. O segundo guitarrista no line-up ao vivo será o Lars Tängmark, um nosso “irmão de armas” que tocou nos Dawn com os Karsten (na altura era o baixista). O Lars é um músico talentoso e de rápida aprendi-zagem, e com ele na banda penso que es-taremos em condições de apresentar ao vivo exactamente aquilo que se ouve no disco.

Para finalizar, uma pergunta da praxe: que objectivos gostarias de atingir com os KoA?Bem, os nossos planos são conquistar o mundo! Nunca menos do que isso... Não, a sério, primeiro que tudo queremos tocar ao vivo e ter um primeiro contacto directo com os fãs. Mal posso esperar por apresentar os KoA num dos próximos festivais europeus. Mais a longo prazo planeamos fazer um novo álbum, que será com certeza mel-hor do que o primeiro. Mas para já ainda é cedo para fazer grandes previsões. Somos uma banda muito nova e o álbum acabou de sair. Até agora as reacções têm sido boas, portanto o futuro parece sorridente.

Entrevista: Ernesto Martins

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No final dos anos setenta, a juventude inglesa, desempregada, sem futuro e sem esperanças face ao governo de Margaret Thatcher, buscava na música um escape e uma forma de fazer ouvir a sua voz. O movimento punk começava a perder influência e rapidamente começou a ganhar forma um movimento que acabou por ficar con-hecido como NWOBHM – New Wave of British Heavy Metal. Em Abril de 1980 – ou seja, há precisamente trinta anos – a EMI lançou o disco “Iron Maiden”, álbum de estreia da banda homónima, que hoje é considerado um álbum seminal do movimento. Originalmente lançado com apenas oito faixas, o disco foi mais tarde relançado com nove, das quais quatro ainda são presenças assíduas nos concertos da banda: “Running free”, “Phantom of the opera”, “Sanctuary” e a própria faixa “Iron Maiden”. O disco tem tudo: malhas a abrir, baladas, instrumentais, hinos, boas letras, bons solos… é, ainda hoje, um álbum soberbo. As vendas do disco estão estimadas em cerca de dois milhões – mas a sua influência vai muito para além disso: é indispensável em qualquer fonoteca especializada em metal. Uma palavra também para a capa: é a primeira aparição de Eddie, a mascote da banda, desenhada por Derek Riggs, que iniciou com esse disco uma longa e prolífica colaboração com o grupo inglês. Quanto aos membros da banda na altura, Steve Harris e Dave Murray ainda se mantêm. Dennis Stratton aban-donou o grupo no fim da digressão do disco (como banda de suporte dos Kiss) para ir tocar nos Lionheart e, mais tarde, nos Praying Mantis, onde ainda se mantém. Paul Di’anno gravou ainda o segundo álbum “Killers”, mas acabou por ser despedido devido a problemas com álcool e drogas. Formou várias bandas, gravou vários discos e actualmente toca nos Rockfellas, do Brasil. Apesar de tudo, ainda hoje, trinta anos volvidos, continua a ser conhecido como “o antigo vocalista dos Iron Maiden”. Clive Burr gravou ainda três álbuns, mas acabou por trocar de lugar com Nick McBrain, indo para os Trust. Abandonou a música nos anos noventa devido a proble-mas de saúde: sofre de esclerose múltipla.A banda foi incorporando as alterações e foi crescendo até aquilo que é hoje. Ao longo de mais de trinta anos de carreira, lançaram quatorze álbuns de estúdio (o décimo quinto, “The final frontier”, será lançado no Verão de 2010), lançaram numerosos álbuns ao vivo, compilações, vídeos e singles, totalizando mais de cem milhões (!!) de discos vendidos em todo o mundo. Deram mais de dois mil concertos e tocaram em virtualmente todo o lado. Mais do que uma banda, os Iron Maiden são uma marca, um estilo de vida, inimitável e incontornável. Nada disto teria sido possível sem o primeiro disco.

Renato Conteiro

E já se passaram 30 anos... de «British Steel», para não falar dos 40 anos de Judas Priest! Confesso, que na altura, ainda faltavam uns anos para descobrir o Heavy Metal e, em particular, algumas das bandas que fizeram a NWOBHM (New Wave of British Heavy Metal), na qual se inclui indiscutivelmente os Judas Priest. Falar de NWOBHM, é, sem dúvida falar do álbum «British Steel», o qual deu o pontapé de saída ao movimento, uma vez que este particular álbum marca definitivamente o virar da página da sonoridade “mais pesada”, até então desenvolvida nos anos 70 e o padrão a seguir. Mais, «British Steel» marcou uma nova etapa na música dos Judas Priest, mais agressiva, mais acutilante ou seja, mais heavy, preparando-os para o que viria a ser o Metal dos anos 80, tornando-se desta forma um clássico incontornável do Heavy Metal, que perdura e perdurará nos anais do Metal para sempre. No entanto, resta fazer uma pergunta. O que faz um álbum clássico? Podia-se enunciar mil e uma coisas, mas no meu entender, o que define o classicismo de um álbum, são os acontecimentos intrínsecos e momentos mágicos que se deram naquele preciso tempo, naquele preciso ano, naquele preciso mês; um momento de inspiração colectiva (os Judas Priest), repleto de genialidade, marcando bem fundo, no chão que pisam, a sua atitude e estandarte até aos dias de hoje e vindores. Foi isso que aconteceu com a composição e gravação de «British Steel». Desde o surgimento da NWOBHM até aos episódios com o estúdio de gravação Startling, situado na cave da casa do malogrado Beatle John Lennon, acabando os Judas por gravar «British Steel», dentro da própria casa. Imaginem que eles gravaram a bateria no hall de mármore da entrada da casa, colocando os micro-fones no balcão do 1º andar, gravaram as guitarras nos quartos, ou então, o facto de todos os sons que ou-vimos terem sido gravados com objectos e outros que se encontravam na casa, ou até à atitude dos Priest em fazerem simplesmente, não adulterado British Steel. Depois temos as músicas. Qual delas é que não é, por si só, um clássico? Desde a magistral «Breaking the Law» até «Living After Midnight», passando por «Grinder», «Rapid Fire» e «United», para não falar de «Metal Gods» que por si só acabou por fundir-se com os próprios Priest, tornando-se estes os Deuses do Metal, a partir deste momento. Os Priest fizeram muitos e magistrais álbuns ao longo da sua extensa carreira, mas indubitavelmente, «British Steel», será para sempre aquele que marca a essência Priest, até porque foi o primeiro.

Carlos Filipe

30 anos de «British Steel»

30 anos de «Iron Maiden»

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OCTOBER TIDE

A Mudança da MaréOctober Tide regressa à luz do dia com-pletamente reformulado, tendo ape-nas como único integrante original o ex-guitarrista de Katatonia, Fred Nor-rman. Embora não seja difícil recon-hecer o mérito dos dois lançamen-tos anteriores, este terceiro, «A Thin Shell», nos mostra que a inspiração e a qualidade não ficaram por águas passadas.

Mais do que uma década após o segundo ál-bum de October Tide (OT), tivemos o praz-er de ouvir um novo lançamento, «A Thin Shell». O que te fez vir com isso? Li que tiveste a ideia de reavivar a banda desde o início do ano passado. Ter tal ânsia foi um dos aspectos que te fez sentir que não po-dias continuar em Katatonia?Fred Norrman: Pensei, desde há alguns anos, em trazer de volta os OT mas nunca tive tempo para isso. Em 2008 não estivemos tanto tempo em digressão com os Katatonia e senti-me realmente inspirado, as-sim comecei a escrever. Claro que OT era para ser ap-enas um projecto à parte e não foi a razão porque saí de Katatonia, isso foi devido a razões pessoais. Nunca sairia de Katatonia se não tivesse mesmo de o fazer.

Este é um álbum soberbo que abrange di-versos cenários embora mantendo uma certa melancolia e nostalgia. Ouvindo-o, é claro que nenhuma da magia de outrora se perdeu. Começaste a compor músicas para este CD antes ou depois de saíres de Kata-tonia? Foi fácil compor ou tiveste de suportar lon-gas noites com grandes doses de café? Digo-o porque após participar no último lançamento de Katatonia pode ter sido muito cansativo para ti… ou não. Criar arte é mais um prazer, não tanto um esforço cansa-tivo, certo?Comecei a escrever estas músicas antes de sair de Katatonia. Nós até começamos a gravar este álbum antes de Katatonia ir para estúdio gravar o seu úl-timo CD. Até que foi muito fácil compor embora ten-ha escrito música basicamente à noite, isso porque tenho duas filhas malucas;) Assim, escrever à noite foi quase necessário para ter algo feito… mas eu real-mente gosto disso, estou muitas vezes acordado de noite mesmo quando não estou a tocar ou a compor.

Porquê tal título? Quando o li pela primeira vez senti que podia ser algo referente às tuas duas bandas, que o aspecto melódico e lírico não era assim tão diferente… Mas isso sou eu, um fã dessas duas bandas imagi-nando… Já agora, podes nos dizer acerca de quê são as líricas?Não estou 100% seguro em relação às líricas mas al-gumas delas são acerca de um grupo vulnerável den-tro da sociedade… assim, deixo que os fãs pensem nisso…

A capa representa em grande medida o tí-tulo. Também parece uma bola de cristal o que me fez pensar que a nossa ideia de um futuro apocalíptico pode ser mais certa do que sempre… Acreditas na profecia rela-cionada com o ano 2012? Já agora, diz-nos qual é a ideia por detrás da capa…Relaciona-se um pouco com as líricas … pode ser uma linha fina… ou concha… por entre muitas coisas como felicidade/tristeza… enraivecido/feliz… Não acredito em profecias e, mesmo assim, nunca teria tempo para pensar nelas.

Tendo já editado «A Thin Shell» em menos

“…começamos a gravar este álbum antes de Katato-nia ir para estúdio gravar o seu últi-mo CD”

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de um ano após teres deixado a tua ban-da anterior, parece que foi relativamente fácil para ti encontrares músicos conveni-entes. No entanto, porquê alguns deles são “sessão”? Desejas encontrar músicos menos ocupados ou irás manter a banda tal como está?Eu pedi ao Jonas Kjellgren para gravar o baixo já que iria soar terrível se o fizesse. Nesse momento, não tinha um baixista permanente. Depois disso, troux-emos o Johan Jansson como baixista de sessão, como ele está muito ocupado com todas as suas outras bandas continuamos a procurar por um baixista. Te-mos agora o Pierre Stam dos In Mourning como baix-ista permanente. Então, somos agora cinco membros permanentes em OT.

Sendo agora uma banda, irão os OT tocar mais em palco? Como é a química agora?Sabe mesmo bem, estamos todos ansiosos para en-saiar e tudo isso. Temos alguns concertos planeados

para este Outono/Inverno, alguns na Suécia, Romé-nia e provavelmente uma pequena digressão na Fin-lândia no próximo ano.

A Candlelight foi a editora que editou este terceiro álbum. Enviaram alguma promo a diferentes editoras e escolheram após ou foram contactados primeiro por essa edito-ra? Acreditam que podem ter uma boa pro-moção e críticas positivas a nível mundial?Enviei algumas músicas e a Candlelight foi uma das editoras que responderam. Quase todas as críticas que li até agora têm sido além das minhas expectati-vas. Pensei que as pessoas iriam odiar o novo álbum mas não;) Espero que a Candlelight faça um bom tra-balho.

Agradeço-te por responderes. Diz-nos as tuas palavras de maresia para a estação outonal… Mantenham o espírito inflamado!Agradeço o teu interesse. Dêem a esta nova e actu-alizada versão de OT e ao novo álbum uma chance. Oiçam-no bem alto e saudações.

Entrevista: Jorge Ribeiro de Castro

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Das trevas e da luzAcabam de lançar o seu segundo ál-bum – “Ascending In Triumph” – , que consideram como uma sequên-cia lógica do anterior, e pretendem fazer da sua música uma caminhada espiritual. Falamos com Grim Vin-dkall, baixista e teclista da banda, para saber como da escuridão do doom metal pode sair a luz da gnose.

Ao ler o material promocional da Napalm relativo ao vosso álbum “Ascending In Tri-umph” e também a informação disponível no myspace da banda, chamou-me a at-enção o facto de sublinharem o que NÃO SÃO. Espero que esta entrevista se centre no que os Nox Aurea são efectivamente. Por conseguinte, começo por perguntar o que vos diferencia de outras bandas doom recentes, como, por exemplo, Ahab e Ereb Altor.Grim Vindkall: Não conheço bem essas bandas, mas, pelo que sei, penso que o que nos diferen-cia delas é a dinâmica musical.

Há quem vos considere completamente afastados do gothic metal e quem consid-ere que há elementos desse estilo na vossa música. O que pensam sobre esta questão?Nox Aurea não é uma banda de gothic metal. Na realidade, a nossa música é uma combinação de doom e death metal, incluindo ainda arran-jos orquestrais e, por vezes, uma voz feminina. Penso que é por causa destes dois últimos el-ementos que alguns críticos consideram que há algo de gótico na nossa música. Mas, para mim, essas classificações são apenas palavras. De uma vez por todas: nós não nos vemos como uma banda de gothic metal.

O vosso tema central é o Gnosticismo. Como se trata de um tema muito complexo, gostava de saber como é que a banda o de-fine.De facto, o termo aplica-se a diferentes cor-rentes de pensamento tradicionais que têm em comum o facto de considerarem que os seres humanos estão aprisionados num mundo físico

limitado. A nossa experiência neste mundo, que se baseia em ilusões criadas pela nossa mente, pela nossa percepção, afasta-nos da essência espiritual do nosso ser. Por conseguinte, os gnósticos aspiram à libertação do ser humano através da iluminação espiritual.

Também gostaria de saber por que razão o doom metal vos parece um estilo musical adequado a esse tipo de ideologia.Penso que a música pode adaptar-se a todo o tipo de ideias, se soubermos fazer a ponte en-tre esses dois pólos. Nós sabemos estabelecer a ligação entre a nossa música e a nossa ideolo-gia. Além disso, este estilo musical cria espaço para a reflexão, o que o torna especialmente adequado ao nosso conceito.

O que faz com que a vossa música seja tenebrosa e obscura e, simultaneamente, escape ao desespero, evoque uma ideia de esperança?Nox Aurea exprime sentimentos de desalento, mas é uma banda guiada pela crença no triunfo. A nossa música é dinâmica, porque se baseia nesta concepção e, portanto, não caímos no abismo do desespero.

Eu diria que, neste segundo álbum, a vossa música soa “etérea” (“eerie”) em alguns momentos. Estou a pensar em faixas como “The Shadowless Plains” e “My Voy-age Through Galactic Aeons”. Que pensas deste comentário?Estou perfeitamente de acordo. Por vezes, in-teressa-nos que a nossa música seja etérea (“eerie”). Os que conhecem o lado nocturno do ser humano estão familiarizados com a atmos-fera que reina nas trevas do subconsciente, el-emento esse que a nossa música reflecte oca-sionalmente.

A publicidade feita ao vosso segundo longa duração valoriza bastante a combinação de vozes masculinas e femininas. Como usam esse contraste para reforçar a mensagem que pretendem passar através da música que fazem?A combinação de vocais masculinos e femininos cria uma dinâmica mais rica e torna a música mais densa, mais profunda, o que estimula a reflexão por parte do ouvinte.

Pensando nos títulos e nas letras dos vossos dois álbuns – “Via Gnosis” e “As-cending in Triumph” –, fica-se com a sen-sação de que estes constituem uma se-quência lógica. Será mesmo assim?Sim. É exactamente isso que se pretende.

Estão a pensar em fazer um terceiro álbum, para constituir uma trilogia? As leituras

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que fiz sobre o Gnosticismo não o apresen-tam como algo de conclusivo.O nosso terceiro álbum virá na sequência deste e seguirá a mesma linha de pensamento. Con-tinuará a espelhar a nossa evolução, porque a essência gnóstica de Nox Aurea é intemporal.

Ao ler as letras das vossas canções, repa-rei que incluíam várias citações. Quais são as vossas fontes de inspiração poética?Vamos buscar inspiração a muitas fontes, mas a mais importante corresponde, sem dúvida, às visões que surgem a todo o momento nas nos-sas mentes. E essas visões derivam do vazio omnipotente que ultrapassa a percepção hu-mana.

Numa crítica ao vosso primeiro álbum, su-geria-se que a banda tem alguma dificul-dade em definir de forma clara as funções que cabem a cada membro, uma vez que todos sabem cantar e tocam vários instru-mentos. Curiosamente, também vi a mes-ma característica referida como um trunfo dos Nox Aurea. Tratava-se de uma questão de inexperiência? Ou é mesmo uma carac-terística da vossa banda?Não, não se trata de um problema, de modo nenhum. É mesmo uma característica da ban-da, que deriva do facto de não sentirmos a ne-cessidade de marcar o terreno. E também, na altura em que saiu o primeiro álbum, não tocá-vamos ao vivo. Até o nosso baterista toca gui-tarra de forma segura. Mas, de qualquer modo, sabe que o papel dele na banda é tocar bateria.

Nas críticas que li, consideravam que as

capas dos vossos álbuns estão muito bem adaptadas ao tema central da vossa músi-ca, o que não me suscitou nenhuma dúvi-da. Também li referências elogiosas ao seu valor artístico. Quem as fez?Nós também as vemos como muito artísticas. A capa e o livro de “Via Gnosis” são da autoria de Erica Svartfylgia Lintrup e Zoltan Horvath criou os de “Ascending in Triumph”.

Como descreveriam a passagem do vosso primeiro álbum ao segundo, em termos musicais? Parece-vos que há diferenças substanciais entre eles? Onde as vêem? O que significam?A base é a mesma, mas nós somos indivídu-os dinâmicos e artistas em evolução e a nossa música reflecte a nossa natureza. Haverá sem-pre novas influências a afectar os Nox Aurea, porque não temos a mínima intenção de estag-nar.

Em Portugal, também há bandas de doom metal. Conhecem alguma? Têm alguma opinião sobre a nossa cena metal?Não. Lamento, mas não sei nada sobre a músi-ca extrema portuguesa.

Como vão promover este álbum? Tencion-am vir tocar a Portugal?Vamos fazer uma digressão na Roménia e na Alemanha durante o Outono e temos outros concertos previstos. De momento, não temos nada planeado para actuar em Portugal, mas gostaríamos de ir ao vosso país em breve.

Entrevista: CSA

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Lu tar, Ac r e d i tar, S o n h ar

A Versus Magazine esteve à con-versa com Francisco Aragão, guitarrista dos Mindlock, que nos falou do seu mais recente disco, “Enemy of Silence”, e nos desvendou um pouco do seu percurso desde 1995.

Fala-nos um pouco do percurso dos Mindlock desde o início do projecto.Os Mindlock surgiram em 1995, em Faro. Foi uma ideia minha e do Filipe Cabeçadas (ex-baterista), que era meu colega no conservatório. Estudávamos guitarra clássica, gostávamos de música pesada e dada a falta de oferta de formação ou escola nessa área, decidimos formar um grupo de metal. Começamos num quarto, apenas com uma guitarra eléctrica e um sintetizador, a debitar ideias para possíveis temas. Hoje em dia os Mindlock têm três discos originais, participaram em cinco compilações e já actuaram nos maiores palcos nacionais ao lado de gru-pos de renome internacional. É difícil descrever detalh-adamente todo o percurso até hoje, pois são quinze anos a tocar, e dava literalmente para escrever um livro... Posso dizer que várias pessoas passaram pelo grupo e trabalhar-am connosco e tenho a certeza que todas elas se sentem orgulhosas de termos chegado até aqui. Foi um longo per-curso que teve momentos altos e baixos mas o que sem-pre prevaleceu foi a vontade de criar, tocar e partilhar a música que fazemos.

Alguma razão especial para escolherem o nome Mindlock?Quando decidimos escolher um nome para o grupo, pen-sámos que a maneira mais justa de o fazer seria cada el-emento sugerir nomes que gostasse. De uma lista de cerca de vinte nomes, Mindlock (retirado do título de uma música de um CD dos Malevolent Creation) foi a sugestão que, por eliminatórias, se destacou e agradou a todos. A partir daí nunca mais pensámos nisso.

Quais são as vossas principais influências mu-sicais?Várias, dependendo da época. Quando o grupo começou éramos muito influenciados pelos grupos que ouvíamos na altura: Sepultura, Metallica, Pantera, Machine Head, etc. Mais tarde, quando surgiram os Korn e com a che-gada do New Metal, foi impossível não absorver um pou-

co dessa onda e as batidas thrash começaram a dar lugar a um groove que não era tão usual mas que vinha abrir novas possibilidades para nós. Hoje em dia bandas como os Lamb of God e os clássicos Slayer tem uma forte in-fluência nas tendências do metal internacional e embora tenhamos essa consciência não tomamos isso como uma referência ou um caminho a seguir.

A nível lírico têm algum tema sobre o qual gos-tam mais de falar?Creio que não. Deixamos esse campo sempre em aberto para podermos escrever acerca daquilo que nos apetece. Neste último disco descarregámos nas letras parte da raiva e dos motivos que nos levaram a não ter um trabalho edi-tado mais cedo e isso acabou por ser bastante inspirador e praticamente terapêutico. Foi uma maneira de virarmos as coisas a nosso favor. Acho que muitos amantes de música pesada se podem identificar com o que escrevemos, façam eles parte de projectos musicais ou não. O resto é pura ficção ou desabafo. As nossas letras não são particular-mente poéticas mas reflectem sempre o estado de espírito do grupo numa determinada altura, e impressões pessoais com que muitos se podem identificar.

Qual foi a principal razão para estarem sete anos sem editar nenhum trabalho? Existiram alguns percalços? Querem falar um pouco so-bre isso?Foi a saída do ex-baterista e tudo o que isso implicou para o grupo. Tivemos que repensar toda a posição do grupo em relação à gravação de um novo trabalho e definir a melhor maneira de seguir em frente sem prejudicar os fãs e as expectativas que depositavam em nós. Lidámos bem com o facto de termos rescindido o contrato com a nossa agência, mas a saída de um dos elementos fundadores do grupo abalou bastante a moral de todos nós e era algo para o qual não estávamos minimamente preparados. Substi-tuir um baterista que era também um dos compositores não se resumiu a arranjar um músico contratado mas a procurar alguém que vestisse a camisola, que se identifi-casse com a música que fazíamos, que tivesse técnica su-ficiente, que em termos de personalidade se identificasse connosco, etc. Várias pessoas passaram pelo lugar de bat-erista, inclusive em espectáculos ao vivo. Mas só em 2008 tivemos a sorte de ver todas as condições reunidas numa audição com o Amadis Monteiro, actual baterista e amigo de alguns anos. A partir daí, achámos que não fazia senti-do ir para estúdio com os temas que tínhamos na gaveta e decidimos, juntamente com ele, compor um álbum desde o zero. «Enemy of Silence» saiu em 2010 e veio finalmente quebrar sete anos de silêncio editorial.

Sentiram alguma sensação especial ao partil-har o palco com bandas como Moonspell, One Minute Silence, Slipknot? Ou sentiram que foi só mais um concerto?Acho que a responsabilidade de tocar ao lado de grandes bandas como Slipknot nos dá, ao mesmo tempo, uma grande ansiedade e uma adrenalina maior que o normal pois estamos também a falar de grandes palcos, normal-mente com muita gente. Claro que essa sensação é especial

M i n d lo ck

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mas fazemos exactamente o mesmo em concertos mais pequenos: subi-mos ao palco e damos o melhor es-pectáculo que pudermos.

Como tem sido a reacção do público ao vosso novo trabal-ho?Tem sido boa. O público vê este tra-balho como o melhor que pusemos cá fora e isso é gratificante e acom-panha as nossas expectativas. Nos sítios por onde passámos até agora têm-nos dito que devíamos sair de Portugal e tentar a nossa sorte lá fora, o que interpretamos como um grande elogio. Muitos dos nossos fãs queriam mais para nós do que aqui-lo que acham que podemos ter aqui em Portugal em termos de mercado e isso é bastante motivador para nós.

Se tivessem hipótese de ter um convidado de peso, quem se-ria? Porquê?Pessoalmente falando, talvez o Fer-nando Ribeiro dos Moonspell, por tudo o que ele simboliza no metal português. Foi uma banda que apos-tou no estrangeiro e que foi bem sucedida. Esperamos poder seguir o

mesmo exemplo e seria bom contar com a participação dele num dos nossos discos.

Têm tido reacções ao vosso trabalho além fronteiras?Já tivemos algumas críticas de im-prensa Italiana, Brasileira e Di-namarquesa ao nosso último álbum e penso que foram positivas. Penso que a editora Rastilho nos facilitou a abertura dessa porta e esperamos conseguir editar e promover o nosso trabalho pela Europa fora e, quem sabe, no Brasil e América do Norte. Pedir não custa!

Como vêem o panorama mu-sical português?Acho que o que vende em Portu-gal é a música romântica ligeira, o “pimba” e as compilações de músi-cas para crianças. A televisão e as novelas estão por detrás do sucesso de muitos projectos musicais nacio-nais, e as rádios já começam a passar mais música portuguesa devido a isso. O pop/rock português tem vin-do a dar um grande salto em relação a alguns anos atrás mas ainda esta-

mos longe de ter um mercado onde os músicos possam vingar garantid-amente com projectos de originais. O metal é uma minoria que embora fiel não nos permite ficar encostados durante muito tempo. Conseguimos reunir um número considerável de fãs mas ainda temos muito trabalho pela frente e esperamos não desi-ludir ninguém.

Para finalizar quero agrade-cer-vos e pedir para que deix-em uma mensagem final aos leitores da Versus Magazine.Visitem o nosso myspace em www.myspace.com/mindlockpt e sintam-se livres de comentar o nosso tra-balho. Podem ainda encomendar merchandise ou contactar-nos para concertos. Apoiem a música em que acreditam. Comprem CD’s, blusas, vão aos concertos e oiçam música portuguesa. Há muita boa coisa por aí!

Obrigado à Versus Magazine e que tenham muito sucesso pela frente.

Entrevista: Miguel Ribeiro

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CYNIC«Re-Traced»(2010 / Season of Mist)

Servindo-se de estéticas electrónicas e ambientais, Masvidal e com-panhia reinterpretam aqui quatro temas de «Traced in Air», com resultados que deixam muito a desejar. Partindo das estruturas melódicas de base, os temas foram reduzidos a um experimental-ismo minimalista que lhes subtraiu dinâmica, sacrificando no pro-cesso muitos dos detalhes que fazem o encanto das versões origi-nais. O inédito «Wheels within wheels», recuperado das sessões de gravação do álbum de 2008, compensa parcialmente o desastre.[5.5/10] Ernesto Martins

EREB ALTOR«The End»(2010 / Napalm Records)

«The End» é a segunda colaboração dos suecos Ragnar e Mats dos Isole, revelando-se como verdadeiros mestres do Epic Viking Doom Metal, aqui, na sua mais pura essência, ritmo e hipnótica atmosfera, apresentando um ambiente musical que nos recorda os Bathory de 1989. «The End» tem tudo o que caracteriza acuti-lantemente esta particular sonoridade, levando-a este duo à sua êxtase máxima. Simplesmente brilhante e genial. O princípio do fim.[9.5/10] Carlos Filipe

IN MOURNING«Monolith»(2010 / Pulverised Records)

«Shrouded Divine» distinguiu-os como uma das grandes revelações de 2008 e este segundo álbum confirma que estamos de facto perante um portento de talento, com algo de novo para oferecer no quadrante do death metal progressivo de tendências melancóli-cas. Isento agora das alusões Opethianas do passado, «Monolith» apresenta-se criativo e mais rebuscado, com um trabalho rítmico notável, cheio de voltas inesperadas, e um cuidado particular de-votado à coerência musical dos temas. Altamente recomendado.[9/10] Ernesto Martins

KING OF ASGARD«Fi’mbulvintr»(2010 / Metal Blade)

Projecto de dois membros dos extintos Mithotyn e um álbum que bem podia passar pelo disco de regresso desses antepassados dos Falconer. Menos apostado na ambiência black e mais voltado para um death pujante torneado por melodias folk, muito em linha com o estilo dos compatriotas Amon Amarth com alguns lampejos fusti-gantes a lembrar os Dawn, «Fi’mbulvintr» é um trabalho ao melhor nível no que se propõem oferecer, mas que não adiciona rigor-osamente nada ao género – já de si muito explorado – em que se insere.[7/10] Ernesto Martins

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KIVIMETSÄN DRUIDI«Betrayal, Justice, Revenge»(2010 / Century Media)

Não trazendo nada de novo ao panorama do Fantasy Metal tal-hado com Folk Metal que lhes vem das origens, os finlandeses KD apostam num claro folk/beauty & the beast/Fantasy metal, que certamente não agradará a todos. Com um naipe de boas e eclé-ticas músicas, a mais valia do álbum está na forma como os KD conjugam e balanceiam os diferentes estilos, atitude e ritmo, clar-amente vincado pelo acordeão e a presença da clássica voz femi-nina, para assim arrancarem um sólido bom menos.[7.5/10] Carlos Filipe

REVOLUTION RENAISSANCE«Trinity»(2010 / Napalm Records)

Este é o terceiro lançamento do projecto de Timo Tolkki (ex-Strato-varius) que nos apresenta um álbum de puro power metal clássico. E aqui é que está uma das duas fraquezas, porque, apesar de ser exemplarmente interpretado – a mestria com que Tolkki domina a guitarra é por demais evidente – este álbum não nos trás nada de novo. A outra é que ouvindo os temas do princípio ao fim, parece que estamos perante um álbum de Stratovarius. Somente para os puristas do género.[6.5/10] Eduardo Ramalhadeiro

SEVERE TORTURE«Slaughtered»(2010 / Season of Mist)

Com um lugar já conquistado entre as formações mais doentias do metal extremo, os holandeses Severe Torture mostram neste quinto registo que não é preciso inventar muito para produzir death metal de qualidade; basta conseguir o equilíbrio certo entre brutalidade e melodia e disparar no processo uma mão cheia de ganchos infecciosos que nos acertem em cheio naquele nervo mais sensível. O resultado?... Uma carnificina de riffs que nos revolve as entranhas, e da qual só escapamos com os tímpanos em sangue.[7.5/10] Ernesto Martins

VAN CANTO«Tribe of Force»(2010 / Napalm Records)

Com três álbuns na bagagem, infelizmente, os Van Canto só agora começam a ganhar terreno no mainstream. O Metal à la Cappella e a sonoridade claramente Epic/Power Metal está cada vez mais apurada. A evolução é notória. A mestria é tal, que nos consegui-mos abstrair das vocalizações capelinas e concentrar na coesão da música, sendo estes germânicos a sensação do momento graças aos diferentes vídeos lançados no Youtube.[7.5/10] Carlos Filipe

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ALCEST«Percées de Lumière»

Poucos são os temas de black metal capazes de sugerir uma sensação positiva de serenidade como este, incluído em «Écailles de Lunes». Os Agalloch e os Novembre apenas se aproximaram deste resultado. Mas

Neige parece ter descoberto a harmonia perfeita entre a agressividade natural do estilo e a tranquilidade de sonori-dades límpidas que pouco ficam a dever ao Metal. Se tivesse que escolher agora a melhor música de 2010, esta seria uma séria candidata.

COBALT«Arsonry»

Intercalando passagens furiosa-mente devastadoras com momentos opressivos de pulsação tribal, este constitui provavelmente um dos melhores momentos de «Gin», o álbum mais recente da dupla Erik

Wunder / Phil McSorley, que nos agraciou em 2007 com o colossal «Eater of Birds». Apesar deste terceiro registo ficar uns furos abaixo, o simples acto de sermos fustigados por semelhante híbrido de black/thrash e post-hardcore mal intencionado, é sempre uma experiência única.

DARGAARD«Thy Fleeing Time»

É um das peças mais salientes de «The Dissolution of Eternity», o álbum de 2001 desta banda aus-tríaca, que já anda no meu leitor de mp3 há algum tempo. A sonoridade é toda pomposa, mas as melodias

neoclássicas e a atmosfera imponente veiculam sempre uma profundidade de sentimento que é no mínimo comovente. E neste tema em particular a voz de Elizabeth Torizer soa como se nos chegasse de uma outra dimensão. O que será feito do Sr. Tharen e dos Dargaard?

TRIPTYKON«Descendant»

Continua a gerar ondas de choque um pouco por todo o lado, não só porque é mais uma infame criação do venerável Tom Gabriel “Warrior”, mas também porque é impossível fi-car indiferente à atmosfera opressiva

e abissal e ao peso esmagador omnipresente em «Eparistera Daimones». Em toada lenta e desolada, num estilo venenoso que se confunde com o dos extintos Celtic Frost, «Descend-ant» é um dos vários temas memoráveis deste álbum. A tirada fulminante no minuto final é impagável.

Playlist: Ernesto Martins

IMMOLATION«A Glorious Epoch»

Depois dum álbum relativamente pobre em termos de inspiração como foi «Shadows in the Light», é bom saber que uma das minhas bandas favoritas da zona mais brutal do espectro está de volta ao seu mel-

hor. Mais do que um vulgar massacre sónico, «Majesty and Decay», do qual este «Glorious epoch» é a melhor amostra, desbrava caminhos sombrios ainda não palmilhados pela banda americana, e é o combustível ideal para o fogo do nosso lado mais negativo.

DEATH ANGEL«The Ultra-Violence»

Conta já com uns respeitáveis 23 anos de idade e é talvez o melhor instrumental thrash de sempre. In-cluído no álbum de estreia homóni-mo da banda de São Francisco, é um tema com uma composição incriv-

elmente sofisticada para o seu tempo, que os Death Angel não mais ousaram igualar. Ao todo são dez minutos de riffs electrizantes e solos esmifrados, que ainda hoje acompanho como um doido na minha air-guitar!

OU O QUE TEM ANDADO A GIRAR RECENTEMENTE NA VITROLA.

Page 27: Versus Magazine #11 Dezembro 2010

Este Verão, encontrando-me eu de férias na praia, veio-me a dada altura à memória o conceito marí-timo da Expo 98. Imediatamente recordei o meu pri-meiro dia de visita ao icónico certame, onde me fiz acompanhar de um amigo (a quem chamarei “M1”) algo desequilibrado psicologicamente. E bastante desbocado, também, pois assumia em público re-gistos comunicacionais e comportamentais perfeita-mente inadequados.Estando nós num dia de Junho na fila de espera aguardando que abrissem os portões de acesso ao espaço da Expo 98, a dada altura baixei-me para atar os sapatos tipo mocassim que trazia calçados, apoiando o joelho direito no chão. Ao levantar-me, com naturalidade, sacudi as calças na zona do joe-lho para eliminar algumas impurezas, escandalizan-do “M1”. Com efeito, o meu amigo não perdeu tem-po a julgar-me e, em tom reprovador e desiludido, acusou-me de já não ser um genuíno fã de Metal, caso o fosse não me preocuparia em sujar as calças. Boquiaberto com o monumental grau de estupidez que encerra este argumento coloquei novamente sérias reservas quanto à sanidade mental de “M1”.Com efeito, nessa altura há já um ano que esta per-sonagem criticava insistentemente o facto de eu trazer sempre comigo um organizer (então designa-do “filofax”). Iluminado como poucos (julgava ele), “M1” rapidamente fez o “diagnóstico” e atribuiu a supostas “carências afectivas” o facto de eu me fa-zer acompanhar do filofax em permanência. Encon-trando-me eu na altura a frequentar a universidade, naturalmente vi na agenda uma boa forma de me organizar no quotidiano. Mas para “M1” o “diagnós-tico” era irreversível: segundo havia lido num livro de Psicologia, o transporte sistemático do organizer tra-duzia-se em “carências afectivas”, sendo esse um ar-gumento recorrente. Afinal, um verdadeiro fã de mú-

sica pesada não usava agenda. Julgava ele, claro. Entretanto, em Agosto de 1999 tudo finalmente des-cambou. À época, eu encontrava-me a frequentar no Cenjor (Centro Protocolar de Formação de Jor-nalistas), em Lisboa, o curso de Aperfeiçoamento em Imprensa, que me daria acesso à profissão de jornalista ainda nesse mês. Nas semanas mais recen-tes os estudos haviam-me impedido de estar com os amigos. Certa noite, à saída do curso e acompa-nhado de vários colegas vi “M1” passar mesmo em frente ao Cenjor com alguns amigos comuns dirigin-do-se para o mítico Gingão (infelizmente já extinto), no Bairro Alto. Vendo-me no outro lado da rua, nos seus termos arruaceiros habituais “M1” dirigiu-se a mim, alto e bom som, gesticulando insistentemente e proferindo a seguinte frase: “’Tão, car****? F***-se, nunca mais disseste nada, c’um car*****, meu.”Não sendo qualquer destas palavras desconhecida para mim ou às quais nunca tivesse recorrido (muito pelo contrário), ainda assim a presença de colegas meus, estupefactos face ao triste espectáculo cons-trangeu-me. Repreendi “M1”, que se manifestou ex-tremamente chocado, afirmando não me reconhe-cer de todo. Aos seus olhos, o facto de eu assumir a postura e o comportamento adequados em cada diferente situação social retirava-me o estatuto de genuíno fã de Metal. Aos olhos de “M1” eu era um traidor. Foi a última vez que falámos. Ainda bem.“M1” nunca percebeu que eu sempre me adaptara às situações sociais. Com efeito, a verdadeira ques-tão residia no facto de “M1” não me conhecer real-mente e de querer moldar terceiros à sua limitada visão do Mundo. Este ex-amigo via-me evoluir – e a todos à nossa volta – mas não o tolerava, ciente que estava da sua ignorância e estreitamento de hori-zontes. Mas o que sempre me chocou mais em “M1” foi o facto de, apesar dos seus 30 anos e de estar emigrado há uma década num dos países europeus mais desenvolvidos em nada contribuiu para o seu crescimento pessoal e social. Constatá-lo era ago-nizante.Esta personagem, que se recusava liminarmente a evoluir e a desenvolver a sua inteligência emocio-nal, ainda trazia no cérebro o inacreditável dogma, “importado” dos anos 80, de que os headbangers se querem feios, porcos, maus, irresponsáveis, ignoran-tes e medíocres. Mas, felizmente, à época, os vícios e maus comportamentos dos anos 80 já eram pas-sado. No virar do milénio, os estereótipos associados ao headbanger médio (que transformaram os me-taleiros em personas non gratas aos olhos da socie-dade) eram praticamente uma névoa*. Só “M1”, na sua inenarrável estupidez, ainda não o percebera.

* “Apenas” o parricídio de Ílhavo, perpetrado dias após a minha derradeira conversa com “M1”, manchava nova-mente a imagem dos fãs de Metal.

Ser medíocre por opção - I

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Demónios da ÍndiaCom a publicação do álbum “The Return to Darkness” tornaram-se a primeira banda indiana a ultrapassar as fronteiras de um país onde o metal é ainda uma sub-cultura em fase embrionária. Sahil Makhija, o mentor desta formação pioneira de Bombaim, concedeu-nos um pouco do seu tempo para falar não só dos Demonic Ressurection, mas também das relações entre a música que faz e a sociedade fortemente religiosa onde vive.

A primeira vez que ouvi a falar dos Demonic Resurrection (DR) foi no documentário “Global Metal”, de Sam Dunn. Até que ponto é que o aparecimento neste filme foi importante para a banda?Para nós foi muito bom ter aparecido no documentário “Global Metal” como um dos representantes da cena metal indiana. Já sabíamos de antemão que muitos fãs de metal iriam ver o documentário, e sempre tivemos a esperança que a exposição nos abrisse algumas portas. Acho que ganhamos uma grande quantidade de fãs graças a este filme.

Terá sido por causa da aparição no documentário que a Candlelight se interessou pelos DR?Não foi bem isso. A ligação à Candlelight surgiu por causa da minha editora, a Demonstealer Records. Depois de lançar na Índia, em 2009, o álbum “Evangelion”, dos Behemoth, fui contactado pela Candlelight no sentido de fazer o mesmo com o último trabalho de Ihsahn, o álbum “After”. Na altura não tive condições de o fazer, mas aproveitei a oportunidade do contacto para perguntar ao responsável da Candlelight se eles estariam in-teressados em publicar o novo disco dos DR. Depois de alguns ficheiros mp3 enviados e mais uns emails para trás e para diante, acabamos por assinar o contrato.

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“… adicionar instrumentos indi-anos à mistura só para conseguir aquele toque “étnico”, seria algo

que nos iria soar desonesto”Portanto, neste momento, os DR são a primei-ra banda indiana a aparecer ligada a uma editora ocidental de peso. Como é que isso vos faz sentir? É verdade. Já temos aqui algumas bandas com discos publicados através de pequenas editoras underground, mas não é nada que se compare com a Candlelight. Já há muito que sonhávamos com a possibilidade de assinar com uma editora como esta. Para uma banda vinda de uma cena que luta a cada dia para sobreviver, a probabilidade disto acontecer era mesmo muito re-mota. Por isso, agora que o sonho se concretizou, a sensação é fantástica. Por maior que fosse o empenho que colocássemos na promoção e distribuição da nos-sa música a partir da Índia, é certo e sabido que nunca iríamos conseguir resultados comparáveis aos de uma editora como a Candlelight.

No álbum «The Return to Darkness», os DR evidenciam uma variedade de influências que vão desde o black metal ao death, pas-sando pelo prog e outros géneros. Como é que surge este híbrido de estilos?Bom, embora tenhamos sempre tocado um misto de death, black e power metal com mais alguns estilos à mistura, penso que este álbum resultou ainda mais diversificado por causa das várias influências dos membros da banda. Por exemplo, o Viru (bateria) é um grande fã de bandas como Meshuggah e Textures, bem como de muito death metal. O estilo de per-cussão bastante diferente do álbum anterior que ele trouxe para a banda, acabou por influenciar a minha maneira de tocar. O Mephisto (teclas) continua a as-segurar o lado mais sinfónico dos DR, e agora temos um novo guitarrista, o Daniel, que introduziu uma maneira muito própria de solar, bastante distinta de qualquer um dos três guitarristas que convidei para gravar o álbum “A Darkness Descends”.

De todas as bandas que eu poderia nomear como aparentes influências nos DR, os Dim-mu Borgir são, provavelmente, o nome que mais ressalta neste álbum. O que achas?Estaria a mentir se te dissesse que os Dimmu Borgir não são uma grande influência na minha música. No entanto, também acho que soamos muito diferentes deles. Há uns anos, bandas como Dimmu Borgir, Old Man’s Child e Cradle of Filth eram grandes referências para mim. Contudo, ainda que actualmente continue

a gostar muito destas bandas, acho que na altura em que compusemos este álbum as minhas referências musicais situavam-se mais na área do death metal na linha de bandas como Behemoth, Nile, Arsis e Anata, bem como outras de estilo mais moderno como Scar Symmetry e Soilwork.

Já alguma vez pensaste em enriquecer a so-noridade dos DR com instrumentos tradicio-nais e elementos musicais da cultura indi-ana, de forma a personalizar um pouco mais o vosso som?Honestamente essa é uma opção que nunca cheguei a equacionar. E a razão é porque eu cresci sem nunca ter desenvolvido qualquer ligação com a música indi-ana. Tive uma educação muito urbana. Em casa dos meus pais ouvia-se Pink Floyd, The Doors, Abba, soul music, etc. Na escola frequentei, por volta do quinto ano, uma disciplina de música que incluía música in-diana, mas não se aprendia música a sério. Além dis-so, a música Bollywood que se ouvia na minha infân-cia já era muito ocidentalizada. Portanto, como não me identifico pessoalmente com a música tradicional, não faz sentido pensar em usá-la nos DR.

Fiz a pergunta anterior porque acho que as pessoas estarão possivelmente à espera de música um pouco diferente de uma banda proveniente da Índia; talvez estejam a con-tar com um pouco da cultura local misturada com o metal. O que tens a dizer sobre isto?Não é fácil explicar-te exactamente o porquê da nossa opção. Cada um dos elementos da banda é originário de uma região diferente da Índia, com a sua própria cultura, tradições, danças e música. A única coisa que é comum entre nós é basicamente a mesma edu-cação urbana. O que partilhamos é no fundo a mesma filosofia e estilo de vida, e a música que fazemos é um reflexo das nossa maneira de estar. Portanto, adicion-ar instrumentos indianos à mistura só para conseguir aquele toque “étnico”, seria algo que nos iria soar des-onesto. Eu sei que as pessoas estão à espera que os DR injectem na música um pouco da sua própria cultura. No entanto, como já disse antes, eu não cresci a ouvir música indiana, portanto para mim não seria natural fazer essa fusão. Este sentimento é, aliás, partilhado pelos restantes membros da banda. O único elemento dos DR que teve algum contacto com instrumentos tradicionais e tem alguma formação, neste caso em

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música clássica indiana (Hindustani), é o Mephisto.

Pelo que sei, este disco completa uma trilo-gia (‘Darkness trilogy’) que começou com o EP “Beyond the Darkness”. Resumidamente, qual é o tema que liga estes três discos?É basicamente uma história em que o mundo é consu-mido pela escuridão e pelas forças do mal. O protago-nista da história primeiro tenta escapar desse mundo, na tentativa de encontrar um lugar para além da es-curidão, mas, no momento em que está prestes a es-capar, decide voltar para trás para salvar o mundo. A história começou de facto no EP e termina agora com este álbum “The Return to Darkness”. Em ambos estes discos, a narrativa segue em sequência de uma cada canção para a seguinte, mas o álbum “A Darkness De-scends” tem uma estrutura diferente.

O que tens em mente, que possas revelar, so-bre a direcção futura dos DR?De momento a nossa maior preocupação é promover este álbum e arranjar tantos concertos quantos forem possíveis. Quanto à direcção musical futura, penso que só poderemos dizer alguma coisa quando nos sen-tarmos e começarmos a compor. Embora eu já tenha cinco novos temas esboçados e o Daniel tenha mais um ou dois, só depois de os trabalharmos na sala de ensaios é que saberemos que direcção é que tomarão.

Como é, na Índia, a relação entre o metal e a religião? Tens conhecimento da existência de problemas entre as autoridades religiosas e as bandas, semelhantes aos que surgem por vezes nos países cristãos do Ocidente?

“ … quando se sabe que a tensão religiosa pode levar ao tipo de destruição que a Índia

sofreu no passado, então percebe-se porque é que as bandas pensam duas vezes antes de to-

car em assuntos religiosos”

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Nesse aspecto as coisas aqui são muito diferentes. A Índia tem seis grandes religiões e cada uma delas tem as suas seitas. Na sua maioria, as bandas não são contra nenhuma religião. Ocasionalmente lá aparece uma canção anti-religiosa, mas é uma raridade. Não há bandas anti-Hinduísmo nem bandas que façam coisas provocatórias como queimar livros religiosos ou escrever letras realmente ofensivas para as pessoas. Portanto, pelo menos para já, está tudo bem.Até hoje só tivemos problemas de tipo religioso com os DR em duas ocasiões. Numa não fomos convida-dos a participar num festival realizado num recinto propriedade de cristãos, porque eles alegaram que o nome da banda era satânico; depois fomos rejeitados por um promotor que estava a organizar um grande digressão de bandas pela região Nordeste da Índia, porque ele receava que as comunidades cristãs aí resi-dentes se sentissem ofendidas com o nome da banda. Fora isto penso que o metal não enfrenta grandes problemas na Índia porque não tem, para já, grande expressão. É certo que os Iron Maiden tiveram aqui 30000 fãs a aplaudi-los, mas se comparares isso com a totalidade dos 1 bilião de habitantes que o país tem, isso não é nada. Aqui as autoridades e os líderes religi-osos têm peixe bem mais graúdo a quem dar atenção.

De uma maneira geral, que temas é que são considerados tabu? Religião? Códigos de éti-ca? Qual é a atitude das bandas face a esses temas proibidos?Há muitos assuntos que são considerados tabu, mas a maior parte deles têm mais a ver com ideologias po-liticas do que com questões religiosas. Em geral po-des dizer o que te apetece sem que te aconteça nada porque a cena é ainda muito pequena. Para criar uma polémica a sério terias de ofender as religiões todas ao mesmo tempo, o que é não é fácil dada a diversidade das muitas religiões aqui existentes. É provável que daqui a uns anos, quando a cena metal ganhar outra dimensão, se, por exemplo, uma banda exibir publi-camente um vídeo que seja ofensivo para os Hindus, isso possa gerar grande controvérsia.Mas há também um outro aspecto a ter em conta. Todos os indianos têm na memória os conflitos que ocorreram há alguns anos entre Hindus e Muçulma-nos [NR: Sahil refere-se ao conflito de longa data en-tre Hindus da Índia e Muçulmanos do Paquistão, que estalou pela última vez em 1965 com a chamada 2ª Guerra de Caxemira], de onde resultaram milhares de mortos. Embora estes conflitos tenham sido motiva-dos por razões politicas, a questão religiosa é algo ain-da muito sensível. Ora, quando se sabe que a tensão religiosa pode levar ao tipo de destruição que a Índia sofreu no passado, então percebe-se porque é que as bandas pensam duas vezes antes de tocar em assun-tos religiosos. Acresce o facto de que muitos músicos são eles próprios religiosos, rejeitando-se a ideia de que é preciso ser anti-religioso para gostar de metal. Embora também hajam alguns por aqui que se dizem satânicos apenas porque é fixe hahaha!

Já te referiste várias vezes ao Daniel Rego, o novo guitarrista solo da banda, que por acaso tem um nome muito latino. Será de

descendência portuguesa? Como é que ele se juntou aos DR?A mãe do Daniel é de Goa, cidade que foi, até há pou-co tempo, uma colónia portuguesa, e ela descende de facto de portugueses (fala mesmo português). Con-heci o Daniel numa altura em que eu trabalhava numa loja de música. Ele costumava passar por lá nos inter-valos das aulas da faculdade e era um grande fã de DR. Na altura devia ter 17 anos de idade. Às vezes, durante estas visitas, ele tocava guitarra e deixava-me impres-sionado. Era fantástico vê-lo a tocar alguns temas dos Cynic. De forma que quando o Pradeep desistiu dos DR, em 2008, nós aceitamos o Daniel sem hesitação.

A cena metal na Índia está ainda a dar os primeiros passos e os concertos com bandas internacionais são ainda uma novidade por esses lados. Como é que tudo começou?Olha, até 2007 o que pudemos ver aqui ao vivo foram os Jethro Tull, Deep Purple (por três vezes) e os Bon Jovi, isto sem contar com o Michael Jackson, The Police etc. Mas do ponto de vista de metal, a cena começou efectivamente em 2007 com os Iron Maiden. Depois vieram os Megadeth, Machine Head, Enslaved, Satyri-con, Opeth, Textures, Amon Amarth e outras bandas. O que eu acho que aconteceu é que, subitamente, al-guém se apercebeu que existe uma grande quantidade de fãs dispostos a pagar para ver ao vivo as suas ban-das favoritas. Assim, depois do concerto dos Maiden e do Great Indian Rock Festival, que trouxe cá uma sé-rie de bandas norueguesas, apareceram uma série de promotores a querer trazer cá artistas internacionais. Os Opeth vieram para um festival patrocinado pelo IIT (Indian Institute of Technology), a maior univer-sidade tecnológica do país, e agora quase todas as uni-versidades andam à procura de artistas internacionais para encabeçar os cartazes dos seus festivais. É uma cena em franco crescimento.

A primeira aparição ao vivo além fronteiras dos DR, aconteceu este ano no célebre Inferno Festival, na Noruega. Como é que foi esta ex-periência?Foi maravilhoso. Tocar no Inferno era um sonho que tínhamos desde muito novos, e portanto concretizar esse sonho foi realmente indescritível. O concerto foi perfeito e o público adorou-nos. Foi também uma oportunidade, não só de ver ao vivo algumas das ban-das que idolatramos, mas também de conhecer pes-soalmente os músicos.

Agora com a Candelight novas oportuni-dades surgirão em termos de concertos e novas gravações. O que gostavas de realizar com os DR a longo prazo?Para já o nosso grande objectivo é uma digressão mundial. A sério, gostávamos muito de viajar e tocar pela Europa, Estados Unidos, Austrália, Américo do Sul, etc. Mas a maior realização seria podermos aban-donar os nossos empregos actuais, e viver unicamente dos DR.

Entrevista: Ernesto Martins

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Com o recente lançamento do álbum “Tales of Tragedy”, estivemos à conversa com o Miguel, baixista dos Winter’s Verge, para podermos con-hecer melhor o historial da banda e o que podemos es-perar deste novo trabalho.

Como é que vêem a cena musical no Chipre? Depois de gravarem o vosso primeiro álbum e depois de todo o reconhecimento obtido por todo o mundo, sentem que as portas se abriram no vosso país?A cena musical aqui no Chipre é pequena, mas activa. Existem muitas bandas a lançarem CDs e a darem concertos. Infelizmente somos um país pequeno com uma população abaixo de um milhão e é apenas até onde as bandas conseguem ir. A única maneira de uma banda conseguir alcançar algo é tentar fora do país. Termos conseguido lançar dois álbuns internac-ionalmente, provavelmente conseguimos vender mais cds e conseguido mais fãs do que se apenas nos cingís-semos ao Chipre. Esperamos conseguir atrair as aten-ções para outras bandas daqui com os nossos álbuns e concertos a nível internacional. A banda tem gozado de uma óptima aceitação por parte do público. Desde o início vocês pensaram que as coisas seriam assim? O que vem a seguir?Eu penso que foi pelo facto de todos os membros da banda levarem a situação muito a sério, e todos tínha-mos a certeza de que iríamos conseguir alcançar algo, mas o que nos aconteceu ultrapassou todas as nossas expectativas. Nunca pensamos que iríamos andar em tournée com os Stratovarius ao fim de cinco anos, acreditem…Trabalhamos muito duro para chegar onde chegamos, e precisamos de trabalhar ainda mais para conseguir avançar e é isso que queremos fazer: trabalhar duro, lançar bons álbuns e conseguir tocar no maior número de sítios possíveis. Digamos que

essa é a única maneira de uma banda ter sucesso. Se estivermos à espera que as hipóteses apareçam, nunca conseguiremos nada.

Alguns membros dos Winter’s Verge (WV) já tiveram bandas anteriormente. O que vos levou a formarem a banda?Tanto o George (vocais) como o Stefanos (teclados) queriam tocar numa banda de power metal mas até aquela altura não existia nenhuma banda de power metal no Chipre. O George tocou numa banda cham-ada Spirits, e quando ela acabou ele quis formar um tipo de banda diferente. Foi depois que eles encont-raram o nosso antigo guitarrista Pericles e baterista Andreas e começaram a actuar ao vivo e lançaram a demo, posteriormente eu entrei na banda. Eu era (e ainda sou) um grande fã de power metal mas também gostava imenso de black e death metal assim como de música clássica, e comecei a tentar introduzir essas in-fluências no som da banda. Foi uma questão de gos-tos de música em comum. Poucas bandas no Chipre praticavam este tipo de som e fomos nós os primeiros a tentar isso. Então, quando o Pericles deixou a banda, entrou o Harry (guitarrista) e trouxe consigo influên-cias de progressivo e thrash metal, mas mesmo assim ele queria tocar power metal. O mesmo aconteceu com o Chris (baterista), ele tocava todo e qualquer tipo de música que possamos imaginar. Fez trabalhos em estúdios, tocou em quase todos os locais no Chipre e Grécia, o que ajudou a trazer profissionalismo a ban-da. Com esta mistura de estilos penso que temos uma boa combinação de pessoas.

O que distingue os WV de outras bandas de power metal?Muitas bandas de power metal tem tendência para es-crever letras sobre coisas positivas e benéficas, as nos-sas músicas tendem a ser mais negras a nível lírico e soamos mais a uma banda de power metal. O som ne-gro que temos – e eu não diria “negativo” porque não é uma palavra que se adeqúe ao que fazemos – traz um novo aspecto ao power metal. Usamos os mesmos sons que as outras bandas de power metal usam, assim como os arranjos de orquestras e coros, mas tentamos usá-los duma formas mais sinistra, e o facto do Harry e eu ouvirmos bastante death metal, ajuda-nos a tirar ideias daí. Eu também participo com vozes guturais em algumas músicas, às quais penso que fica engraça-do o jogo de vozes normais e guturais.

Em que se baseiam as vossas letras e musicas?A maior parte das nossas letras são baseadas em histórias trágicas que se passaram com pessoas. Em-bora sejam escritas num tom de fantasia, elas fun-cionam como analogias de coisas que todos nós já vivemos no nosso dia-a-dia: rejeição, traição, dor, ciúme, desespero, medo, ódio. Tentamos inserir estes sentimentos nas músicas, não para as descrever mas sim para mostrar como é que as pessoas perante es-tas situações se sentem e as suas reacções, e penso que isso funciona na perfeição. Podemos contar histórias nas nossas músicas, mas todas essas histórias vem de factos. Por isso é que o nome do nosso álbum é «Tales of Tragedy». Outra coisa é o mar. Pelo facto de viver-mos numa ilha, a nossa história e cultura são baseadas

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no mar e nos descobrimentos, algo parecido com a história de Portugal. Para nós, o mar faz parte das nossas vidas, e sentimos que temos essa ligação. “To You I Sail Tonight” e “The Captain’s Log” são ambos temas sobre o mar, e são bastante épicas também.Porque gravaram o «Another Life… Another End» e o «Eternal Damnation» na Prophecy & Music Fac-tory Studios na Alemanha?Na verdade o «Another Life…» foi gravado no Chipre, e o «Eternal Damnation» é que foi gra-vado na Alemanha. Este último foi basicamente a regravação do «Another Life…» A razão porque regravamos este álbum foi porque a nossa primeira editora, a LMP, quis que tivéssemos um álbum com melhor som, porque o som do «Another Life...» não era muito limpo e o som de guitarra era, para ser sincero, bastante fraco. O simples facto é que as facilidades de gravação não são as mesmas que as facilidades na Alemanha, e pessoas como o RD Lia-pakis da Mystic Prophecy e o Christian Schmid a tomarem conta da produção, nós temos verdadeiros especialistas com anos de experiência a ajudar-nos a ter o melhor da banda e de nós próprios.

Dividir o palco com os Stratovarius é uma grande responsabilidade. Como é tudo se proporcionou? Os Mystic Prophecy andaram em tournée com os Stratovarius e era necessária outra banda. Os Stra-tovarius acharam que seriamos uma mais valia para a tour, e fomos convidados a irmos com eles. Foi realmente uma grande responsabilidade e temos que ser bons para tirar o melhor partido desta fan-tástica oportunidade, e acho que conseguimos. Pas-samos um óptimo bocado e demos mesmo o nosso melhor. Tivémos uma enorme recepção de todas as multidões para quem tocamos. O pessoal dos Stratovarius foram muito agradáveis connosco, e os Tracedawn (a outra banda suporte) foram muito pr-estativos e mostraram-nos como uma tournée tem que funcionar.

Para quando um concerto em Portugal?

Nós iríamos adorar tocar em Portugal. O Stefanos é uma grande fã dos Moonspell e eu penso que eles nos influenciaram ao longo dos anos, desde quando eu comecei a interessar-me pela cena musical de Portugal. Também achamos fascinantes a cultura e a história de Portugal, e penso que tocar aí seria uma fantástica experiência. Quando marcarmos as datas da próxima tournée tentaremos ir a Portugal, podem ter a certeza! Para todos aqueles que ainda não conhecem os WV e estão a ler esta entrevista, o que podem dizer para aguçar a curiosidade sobre vocês?Se gostam de power metal mas querem mais agres-sividade e peso, alguns riffs com mais ritmo assim como com mais atmosferas negras, som mais pro-fundo e ritmado, então comprem o «Tales of Trag-edy». Nós tentamos ser uma banda de power metal que evita clichés.

A vossa artwork é muito boa. Deixaram todo o pro-cesso criativo a cargo do Meran Karanitant, ou ele trabalhou com as vossas ideias?O Meran é um artista genial. Nós basicamente dissemos-lhe em cru o que queríamos e ele enviou-nos um conjunto de sketches que eram fantásticos. A capa do álbum é baseada numa das músicas do álbum, “The Captain’s Log”. Ele simplesmente en-tendeu o que nós queríamos. Com mais algumas sugestões e ideias nossas e ele criou a excelente capa que nós tivemos a sorte de ter.

Algumas palavras para os vossos fãs portugueses, muito obrigada e espero ter noticias vossas rapida-mente! Muito obrigada pelo vosso tempo! Um grande Hail para todos os fãs portugueses dos Winter’s Verge. Nós esperamos sinceramente conseguir tocar no vosso país rapidamente e esperamos que gostem do nosso álbum. Stay heavy, stay metal, and stay true!

Entrevista: Paula Martins

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Acabam de lançar “The End”, o seu segundo longa duração. Gostá-

mos do som, ficámos intrigados com o título. Quisemos saber que

caminho pretende percorrer quem começa pelo… fim! Mats (Crister

Olsson), responsável por todos os instrumentos da banda, dispôs-se

a satisfazer a nossa curiosidade.

Começando pelo fim

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A vossa banda faz Viking metal. Por que decidiram dar-lhe um nome relaciona-do com um jogo de cartas?

Mats: Na minha opinião, Ereb Altor não é uma banda de Viking Metal, apesar de tratarmos te-mas relacionados com os Vikings e a mitologia nórdica em algumas das nossas canções. O som que fazemos é tipicamente escandinavo e, por vezes, assemelha-se a hinos vikings. O nosso tema de eleição é a herança cultural escandinava. Por isso, usamos melodias escandinavas na nossa música e tratamos temas escandinavos nas nos-sas letras. É a herança cultural escandinava que me fascina. Quero que as histórias dos Ereb Altor se relacionem com ela. A primeira história [deste álbum] – “Myrding” – refere-se a um mito sueco sobre uma criança assassinada que não consegue encontrar a paz. Quando a li, fiquei arrepiado e senti que precisava de criar algo sobre aquele tema. A história em três partes com o título “The End” é a única canção do nosso álbum que trata um tema associado à mitologia nórdica viking.Ereb Altor não é propriamente o nome de um jogo de cartas. A expressão refere-se a um mun-do onde se passavam as aventuras de um antigo jogo de cartas sueco que se chamava “Drakar och Demoner“ [N. R.: um jogo de cartas sueco, no género do Magic]. É um mundo imaginário, semelhante ao criado por Tolkien, nos seus ro-mances.

Em tudo o que li sobre a vossa banda faz-se referência a Bathory. Aceitam esta influência?

Claro que sim. A nossa banda foi formada como um tributo a Quorthon. De certo modo, que-remos manter viva a herança que ele deixou ao mundo da música extrema. Ainda não ouvi nen-huma banda que se tivesse sequer aproximado do seu estilo épico e nós tentámos atingir esse objec-tivo. Mas não tenho a certeza de que tenhamos sido bem sucedidos no nosso intento.

E quem refeririam como influência para os elementos doom presentes na vossa música. Reparei que, frequentemente, se associa Ereb Altor a Candlemass e, por vezes, a Isole. Qual é a vossa opinião so-bre estas ligações musicais?

É difícil falar de influências. Nem sempre é fácil dizer o que te influencia. No que se refere à pre-sença do doom na nossa música, eu mencionaria Bathory. Os seus álbuns épicos também contêm muitos elementos doom. Daí a sua presença na nossa música. Quanto à influência de Isole, é in-evitável. No entanto, não consigo ver na nossa música nada que nos possa aproximar de Can-dlemass.

Qual o papel dos elementos doom na vossa música?

Gosto muito de doom, porque, para mim, o mais importante na música são as emoções associadas a melodias melancólicas. Para mim “Hammerheart” e “Twilight of the Gods” são álbuns de Doom Metal. Bastou-me ouvir “Hammerheart” uma vez, para eu decidir que era este o caminho que queria seguir e que essa seria a minha maior influência. Lembro-me disso como se tivesse acontecido ontem! Ao es-cutar “Shores in Flames”, parecia-me que estava a ouvir o barulho do barco a balançar nas ondas, longe da costa. É um álbum incrível. Geralmente, o único Viking Metal que ouço é mesmo Bathory.

Como produzem os elementos Viking e doom na vossa música?

Os elementos doom surgem quase automatica-mente, no meu trabalho criativo. De facto, por vezes, até me esforço por recorrer menos a eles. Os elementos viking são construídos sobretudo através do recurso a coros grandiosos, melodias e linhas vocais. Nada disto me custa a fazer, porque sou um grande admirador de Bathory da época viking e sou um músico tendencialmente doom.

E como organizam o trabalho da ban-da durante as fases de composição e de gravação?

Frequentemente, sou eu que tenho as primeiras ideias e isso acontece-me quando estou sozinho, a caminhar ou a guiar. Depois, pego na minha guitarra acústica e tento transformar as minhas ideias em canções. Por vezes, “roubo” um riff ou dois ao Ragnar, se me parecem adequados à música que estou a compor. Depois gravo a parte instrumental das canções sozinho no estúdio e, de seguida, levo o Ragnar para lá para que ele me dar a sua opinião e trabalhar as linhas vocais das canções. É isto que fazemos habitualmente nos Ereb Altor. Leio livros sobre mitos e lendas da nossa cultura e dessas fontes é que me vem a inspiração para as letras das canções. O nosso folclore nacional é também uma grande fonte de inspiração.

Numa das críticas que li, dizia-se que o facto de tu tocares todos os instrumen-tos na banda, por vezes, torna a vossa música um tanto monótona. O que pen-sas desta observação?

Talvez haja alguma verdade nesse comentário. Só que a própria música é feita para ser um bocado monótona, é assim mesmo. Talvez, no futuro, contratemos alguém para a bateria.

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Parto do princípio de que o título do vosso segundo álbum está relacionado com um dos temas principais das can-ções: o Ragnarök e a morte de Balder. Podemos dizer que este álbum é uma es-pécie de lenda, contada através de uma combinação de palavras e música?

A minha intenção inicial era que este álbum fosse a última manifestação dos Ereb Altor e, por isso, teve o nome de “The End” desde o iní-cio do projecto. Por conseguinte, eu precisava de incluir nele uma faixa que tratasse de um fim e, como já tínhamos abordado alguns temas da mitologia viking no álbum anterior, pensei que o Ragnarök encaixava na perfeição neste puzzle. Afinal, quando terminámos o álbum, a faixa que lhe deu o título tinha-se convertido em três can-ções, pelo que metade dele tem subjacente este conceito de fim.

Há muitas diferenças entre este novo lançamento e o vosso primeiro álbum?

O novo álbum é melhor do ponto de vista musi-cal: a bateria soa melhor, os vocais são mais vari-ados, a produção é de melhor qualidade, o ritmo é mais rápido e menos doom, há mais melodias escandinavas e uma atmosfera mais poderosa. No que diz respeito às letras, o primeiro álbum parece-me mais fragmentado. Doravante, que-remos apostar em letras que estejam relaciona-das com a nossa pátria, para honrar a nação a que pertencemos. Portanto, provavelmente os Ereb Altor abandonarão a senda percorrida por Bathory e centrar-se-ão na construção de uma identidade artística mais original, mais afirmada.

Adorei a capa de “The End”. Onde foram buscar a fotografia? De que forma ilus-tra o espírito do álbum?

É a foto de um medalhão que possuo e que uso como uma espécie de amuleto. Representa o lobo Fenris acorrentado, para que o mundo esteja seg-uro. Levámos o medalhão a Robban Kanto, fotó-grafo e artista gráfico, e ele fez uma foto e depois adaptou-a. Parece-me uma boa capa, porque tem muito a ver com o mito do Ragnarök.

Apesar de terem dado o nome “The End” ao vosso segundo álbum, não pre-tendem pôr fim à vossa carreira, como tu já nos disseste. O que vem a seguir na vossa agenda?

Para já, é muito difícil dizer a que soaremos no futuro. Mas estamos a pensar numa sonoridade mais rápida e menos doom.Também não sei dizer quando e como começare-mos a procurar novo material. De momento,

estamos a ensaiar com músicos de sessão, para fazermos alguns concertos.

Já tiveram algum contacto com a cena metal portuguesa? Que elementos da vossa música vos parecem mais apela-tivos para pessoas oriundas de um país do Sul da Europa?

A única banda portuguesa de que me consigo lembrar assim de repente é Moonspell. Portan-to, penso que não tenho grande contacto com a cena metal portuguesa. Quanto a elementos da nossa música que possam garantir o sucesso em Portugal, posso referir o exotismo associado ao nosso som nórdico e escandinavo. Não conheço nenhuma banda da Europa do Sul que tenha sido capaz de criar um som e uma atmosfera semel-hantes aos nossos. Não vejas este comentário de uma forma negativa. O vosso som tem a mesma qualidade que o nosso, mas é feito de um modo muito diferente.

Entrevista: CSA

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MAR DE GRISES«Streams Inwards»[2010 / Season of Mist]

bar, espalham-se por nós a dentro à medida que a músi-ca se propaga no tempo, pe-los longos e magistrais 112 minutos que dura «Streams Inwards», atingindo o cume em «The Bell and the Solar Gust». Inequivocamente, a melhor música de «Streams Inwards», aquela que me-lhor caracteriza a música dos Mar de Grises. Apresentan-do-se como o terceiro opus dos MdG, este é o álbum da consolidação do talento de-monstrado nos dois álbuns precedentes pelos homens do país do Atacama. Aliás, toda a geografia e topologia chile-na servem de inspiração para «Streams Inwards», levan-do-nos os MdG numa jornada envolta em melancolia, dor e beleza – tal como é descrita. O ritmo e o balanceamento conseguido nas nove músicas do álbum, juntamente com

uma grande dose experimen-tal, sem nunca sair do cami-nho traçado anteriormente, fazem de «Streams Inwards» um dos melhores lançamen-tos do ano no que respeita ao Doom Metal, Metal este, aqui vincadamente emoldurado de death, melancolia, avan-garde e experimentalismo. Comparando o presente lan-çamento com «Draining the Waterheart», claramente os MdG trocaram a componente melancólica pela experimen-tal, aumentando a carga de um à medida que reduziram a outra, explorando novos con-fins da música e empurrando para a frente a sua já exce-lente sonoridade inerente. Apesar das quase 2 horas de duração, ouve-se muito bem «Streams Inwards», sem nunca chegar a aborrecer em qualquer um dos momentos.[9.5/10] [Carlos Filipe]

Aos primeiros acordes de «Starmaker» sentimo-nos logo envoltos na essência mu-sical dos Chilenos Mar de Gri-ses. A atmosfera pesada e o ritmo lento, acompanhado pela sólida guitarra dos dois guitarristas Rodrigo e Sérgio, e a gutural voz de Juan Esco-

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ABIGAIL WILLIAMS«In the Absence of Light»[2010 / Candlelight]

«In the Absence of Light» é um álbum dos americanos Abigail Williams, puramente orientado para adoradores de Black Metal. Apesar de ter vindo do outro lado do atlân-tico, sem grande expressão neste género, os A.W. apre-sentam uma sonoridade vin-cadamente europeia, tendo nutrido certamente, as suas influências nas melhores ban-das de Black Metal que por cá andam. Vendidos como Sym-phonic Black Metal, ao bom estilo dos Dimmu Borgir e Cradle of Filth, os A.W. neste campo sinfónico são um au-têntico fracasso. De sinfónico têm muito pouco e nem aos calcanhares das mencionadas bandas chegam. Mesmo com um bom naipe de canções de puro e definido Black Metal, com um cheirinho a sinfónico de teclas, «In the Absence of Light» não acrescenta nada de novo a este panorama. Liderados pela voz de Ken Sorceron, a bateria de Ken Bedene e a guitarra de Ian Jekelis, os A. W. conseguem no entanto captar a essência do Black Metal, torneando--o ao bom velho estilo dos Emperor e companhia. Alias, a voz acutilante e estridente de Ken e o ritmo imposto pela bateria, vincam sua música, conseguindo bons momen-tos de Black Metal como em «The mysteries yhat bind the flesh» ou «Infernal divide», para nem falar da melhor das músicas: «What hells await me». «In the Absence of Li-ght» é um álbum bem produ-

ARMA GATHAS«Dead to this world»[2010 / Metal Blade Records]

zido, muito homogéneo (até talvez de mais), de puro Bla-ck Metal, igual a tanto outro que nós já conhecemos.[6.5/10] Carlos Filipe

Arma Gathas é composto por Simon Fülleman (Cataract), Ché Snelting (Born from Pain), Marc Niedersberg (Ma-chine MadeGod e Cornelius), Max van Winkelhof (Disloyal) e Alex Härtel. Formado em 2006, este agrupamento ger-mânico dá-nos a conhecer neste seu primeiro álbum as virtuosidades abrasivas das suas influências. Assim, tanto nos ferem os ouvidos com uma agressividade de inequívoca qualidade como nos acalmam o espírito com composições que irradiam uma ilusória transcendência, ambas as vertentes nos dei-xando marcas que só pecam por tanto agradar, embora talvez um certo cansaço au-ditivo surja perto do final do álbum. Apesar do fio condu-tor que nos enleva a traçar influências como Machine Head, Entombed, Bolt Thro-wer e Hatebreed, notamos que o agrupamento possui a tendência para surgir com um cunho um tanto original, as ideias sendo amplamente diversificadas, o que talvez seja mais evidente no pró-ximo álbum. Aqui, os instru-mentos tentam nos cortar a respiração mal nos dando tempo para pensar enquanto ouvimos a tempestiva inten-sidade cuspida pelo vocalista e liricista Ché. Se a conse-

guirmos ter é porque o agru-pamento tem o bom senso de vir com instrumentais que parecem dizer “calma, calma, não fiques nervoso”. No en-tanto, mal nos acalmamos, surge uma outra tempestade que parece irradiar loucura. É caso para dizer: “Sacanas…”. Enfim… Confrontados com a abnegação de realidades fic-cionadas, tudo o que ouvimos são concepções estritamente verdadeiras, pois que dizer de um mundo que se revela tão inóspito que nada de ten-tador nos traga? Sem saber a qual louco patamar se irá parar à medida que ouvimos este álbum, este não será um lançamento propício para nos relaxar mas, se houver males a expurgar, de certeza que agradecerão pela oportunida-de.[8/10] Jorge Ribeiro de Castro

AS I LAY DYING«The Powerless Rise»[2010 / Metal Blade Records]

Disseram-me há algum tem-po atrás que a reciclagem não valia a pena pois este planeta já estava condenado. Discordei da afirmação pois acredito que, mesmo sendo pouco o que podemos fazer, não se pode negar que tal ac-ção poderá começar uma re-acção em cadeia de maiores proporções que seja inequi-vocamente positiva. O agru-pamento As I Lay Dying já existe desde 2000 e «The Po-werless Rise» é o seu quinto álbum. Carregado de ritmos fortes, melodias um tanto apelativas e uma descarga

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vocal proeminente, esta críti-ca poderia enaltecer todos os pontos fortes de uma banda de Metalcore… não tivesse eu 37 anos e já ouvido car-radas de bandas que, tedio-samente, soam ao mesmo. Acontece que, ouvindo o ál-bum tempos depois após uma passagem por outros géneros musicais, senti inicialmente como se estivesse a apreciar uma lufada de ar fresco e que, além da inequívoca qua-lidade da banda, este seria um lançamento que perdura-ria por muito mais tempo na minha playlist. Só que… ainda me lembro de muitas outras bandas e se todas essas têm determinados níveis de qua-lidade, As I Lay Dying recor-re daquela pujante condição que é ser mais um enérgico comboio em risco de colisão. Assim, mais uma banda cujos destroços poderiam ser in-vestigados e nos dar a conhe-cer que nada de novo surgia que elevasse o espírito. Sim, até parece que a banda o sabe dado o título do álbum… Será que os dez anos de exis-tência não concederam aos membros da banda outras ideias que lhes permitisse reinventar a sua sonoridade? Será que o que se pode es-perar deste agrupamento são mais dez anos de uma ener-gia tépida que não agarram suficientemente bem a alma mas que apenas funcionam ao vivo quando a adrenalina, e uma certa quantidade de álcool, nos inebria? Isso, so-mente o tempo dirá, mas, por enquanto, temos um álbum que é pouco mais do que se poderia esperar.[6/10] Jorge Ribeiro de Castro

Viciados desde há vinte anos para cá na forma mais per-versa de cacofonia alguma vez engendrada pela mente humana, estão de regresso com mais uma dose mortí-fera de death metal capaz de provocar a declaração de um estado de emergência. Se o demolidor «Gorespatte-red Suicide» injectou alguma extravagância no reportório essencialmente tradicional da banda Madrilena, então este quinto de originais soa a algo mais back to the basics. Pas-sado o festival de agressão sem quartel das primeiras quatro faixas, o disco entra no seu melhor com arreme-dos infernais de thrash, riffs esmagadores e malhas im-piedosas que agarram o ou-vinte pelas partes mais sa-gradas. As mudanças súbitas de andamento de «Nazino (cannibal hell)» e as malhas infecciosas de «Penectomia» fazem destes os temas mais salientes de «Nullo». Tam-bém de destacar é a presta-ção fabulosa do (ainda) novo baterista Riky, bem como os leads melódicos que Cabra e Juancar arrancam das seis cordas, criando um contraste bem-vindo com o massacre sónico da secção rítmica. O rugido cavernoso e os berros doentios do carismático Dave Rotten traduzem da melhor maneira as temáticas depra-vadas de gore, mutilação e perversão sexual, as quais se reúnem em «She’s hot toni-ght (in my oven)» para criar um dos melhores momentos de humor negro do álbum.

AVULSED«Nullo (The Pleasure of Self-Mutilation)»[2009 / Xtreem Music]

DECREPIT BIRTH«Polarity»[2010 / Massacre Records]

Os fanáticos de desafios men-tais extremos do tipo que é habitualmente proporcionado por bandas como Psycroptic, The Faceless e Obscura, têm aqui mais um puzzle sónico para lhes dar a volta ao mio-lo. Os autores deste puzzle de death brutal e extraordi-nariamente técnico, já deram mostras do que eram capa-zes, em 2008, com o eston-teante «Diminishing Between Worlds». Contudo, de lá para cá, a progressão foi notável. Reduzindo um ou dois furos na complexidade da composi-ção e deixando mais espaço para a música respirar entre as barragens de riffs demoli-dores, a banda norte ameri-cana criou com «Polarity» um trabalho relativamente mais fácil de acompanhar e com detalhes mais distintos. Com uma execução prodigiosa de todos os instrumentos, as referências aos pergaminhos do saudoso Chuck Schuldiner são agora especialmente no-tórias no estilo de leads vir-tuosos que irrompem cons-tantemente entre mutações rítmicas tresloucadas. Embo-ra os andamentos sejam qua-se sempre a abrir e o pedal duplo a mil à hora não dê tré-

Longe do melhor absoluto dos Avulsed – que têm ainda em «Stabwound Orgasm» o seu ex-libris -, e talvez até uns furos abaixo do álbum ante-rior, este é definitivamente um dos discos mais directos da banda espanhola. Death brutal na sua forma mais bá-sica e genérica. Só para fãs.[7/10] Ernesto Martins

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guas, não há aquela obses-são doentia pelo martelanço enfadonho que persiste em muito death metal. As faixas são também mais curtas do que o habitual (metade delas não passa dos três minutos), incorporando, ainda assim, mais ideias atractivas e por-menores de encher o ouvido, do que aquelas que muitas formações do género conse-guem apresentar no dobro do tempo. E no fim resta ain-da substância em quantida-de suficiente para obrigar a umas quantas visitas à vitro-la, até conseguirmos desen-redar a maior parte da meada sonora. [8.5/10] Ernesto Martins

Da terra dos filósofos, chega--nos em 2010, mais um disco dos Firewind. Liderados pelo jovem guitarrista Gus G (que recentemente ingressou na banda de Ozzy Osbourne e com a qual gravou o último disco, «Scream»), a banda conta já com seis álbuns e uma sólida carreira interna-cional que os coloca a cami-nho da linha da frente das no-vas gerações de power metal europeu e mundial. O novo disco – muito aguardado – é um opus muito ambicioso que pretende colocar definitiva-mente os Firewind na primei-ra divisão do metal. Não sei se o vai conseguir mas o que é certo é que contém treze fai-xas do melhor que o quinteto grego já gravou. O disco abre com uma excelente faixa, “The ark of lies”, logo seguida do primeiro single, “World on fire”. Faixa após faixa, vamos

FIREWIND«Days of Defiance»[2010 / Century Media]

poder ouvir grandes melodias vocais que ficam no ouvido à primeira audição, secunda-dos por um magnífico traba-lho instrumental de Gus G e seus pares. Nesse aspecto, destaque para “SKG”, um fa-buloso instrumental de cinco minutos em que é possível apreciar a mestria do guitar-rista em todo o seu esplen-dor. Destaque ainda para “Heading for the dawn”, uma daquelas faixas que apetece ouvir vezes sem conta. A pro-dução é irrepreensível, o que faz deste um disco sem má-cula. O único senão é que não traz nada de novo – aquilo que os Firewind fazem já foi inventado há mais de vinte anos. Apesar de tudo é com certeza um bom disco para os apreciadores do estilo. [7/10] Renato Conteiro

GWYDION«Horne Triskelion»[2010 / Trollzorn Records]

Embora a colonização Viking dos séculos VIII a XI não se tenha alastrado até à nossa costa, o imaginário aventu-reiro destes bárbaros do nor-te já há muito que conquis-tou a praia dos portugueses Gwydion. Este segundo ál-bum irá certamente agradar aos incondicionais do folk metal nórdico ao estilo de bandas como Finntroll, Tyr e Turisas, com as suas me-lodias ora sumptuosas ora festivas, conduzidas por te-clados ou instrumentos tra-dicionais sobre uma secção rítmica possante, e com os habituais coros masculinos taberneiros a invocar sempre imagens de guerreiros ébrios a agitar canecas de cerveja. É impossível ficar indiferente

a temas como “From Hel to Asgard”, “Triskelion horde is nigh” ou mesmo “Ofiússa (A terra das serpentes)”, com os seus contornos sinfónicos, vozes femininas muito bem colocadas e até uma breve passagem cantada em por-tuguês. A evolução regista-da em relação a “Ynys Mön”, o primeiro álbum, é notória, tanto do ponto de vista da composição, cujos meandros a banda parece já dominar com alguma maturidade, como no departamento sono-ro, com a mistura entregue desta vez a Børge Finstad (Mayhem, Enslaved), com re-sultados a roçar o excelente. O único aspecto menos abo-natório a apontar ao colectivo de Lisboa é mesmo a exces-siva colagem ao folk folgazão tão característico das bandas supra citadas e, em particular, a algumas melodias ou acor-des que parecem já recorren-tes no género. Como não se trata de falta de talento fica-mos à espera de ver adicio-nado à música dos Gwydion um cunho mais pessoal que os torne distintos num estilo já de si bastante concorrido.[7/10] Ernesto Martins

IHSAHN«After»[2010 / Candlelight]

Depois do lançamento de «After» já não restarão dúvi-das de que o trabalho a solo de Ihsahn, tomado no seu conjunto, é hoje tão apelativo e relevante como o foram no passado os melhores álbuns dos Emperor. Concluindo uma suposta trilogia iniciada em 2006 com «The Adversary» e continuada em 2008 com «Angl», o músico norueguês

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acaba de nos brindar com um trabalho que preserva traços do vanguardismo cultivado até aqui, mas que se distin-gue fundamentalmente pelo ênfase nos aspectos mais progressivos e pela utilização do saxofone, não como mero elemento de arranjo, mas antes como instrumento de primeiro plano que irrompe frequentemente com magní-ficos fraseados melódicos ou numa abordagem mais free jazz. Com uma execução su-perior de Jorgen Munkeby, dos Shining, é mesmo caso para dizer que nunca o sa-xofone soou tão bem num contexto de metal extremo. Embora alguns dos temas remetam ainda para a com-posição angular do disco an-terior, este é, em geral, um álbum de parâmetros mais ortodoxos, o que, a par dos refrães contagiantes entoa-dos na voz plácida de Ihsahn (que se sobrepõem amiúde ao seu inconfundível regis-to abrasivo), concorre para fazer deste o trabalho mais acessível do ex-Emperor. Mas «After» não é um disco sim-plista, muito pelo contrário. Resultado duma criativida-de no seu auge e enriqueci-do uma vez mais pela secção rítmica genial dos Spiral Ar-chitect: Lars Norberg (baixo) e Asgeir Mickelson (bateria), «After» constitui uma realiza-ção assombrosa, vibrante de musicalidade de fio a pavio, que tem tudo para resistir ao teste mais exigente: o do tempo.[9.5/10] Ernesto Martins

IRON MAIDEN«The Final Frontier»[2010 / EMI]

Trinta anos depois do pri-meiro disco, os Iron Maiden editam o seu décimo quin-to álbum de originais, com a impressionante média de um disco a cada dois anos. Natu-ralmente, não se pode espe-rar grandes novidades de um novo disco do sexteto inglês – apenas uma nova fornada de boas músicas. Nisso, «The Fi-nal Frontier» não desilude e é o melhor álbum desde «Brave New World». Ao longo de dez músicas e de setenta e seis minutos, o novo disco está recheado de bons momentos, boas melodias e bons riffs, aqui e ali a fazerem lembrar grandes momentos de álbuns como «Piece of Mind» «Po-werslave» e «Somewhere in Time». A esse facto não es-tará alheio o ambiente vivi-do durante as gravações no Compass Point Studios em Nassau, Bahamas – precisa-mente o estúdio onde aque-les álbuns foram gravados há mais de vinte anos. Resulta-do: «The Final Frontier» é o primeiro álbum desde o «Fear of the Dark» a estrear no pri-meiro lugar do top britânico de vendas; paralelamente, estreou em primeiro lugar em mais de vinte países e atingiu a quarta posição do Billboard 200, a mais alta posição que a banda já ocupou em terras do Tio Sam. O primeiro single avançado é “El Dorado” mas a faixa mais forte do disco é “The alchemist”, um clássi-co instantâneo que passará certamente a ser presença obrigatória nos concertos da banda. Liricamente, o disco foca temas como as lendas (“El Dorado”), os clássicos da literatura (“Isle of Avalon”) e a guerra (“Mother of mercy”), bem como a ficção científi-ca (“Satellite 15… the final frontier” e “Starblind”) – já explorada em «Somewhere in Time» e que foi recupera-da para as apresentações ao vivo. Infelizmente, não está prevista qualquer actuação em Portugal. Por fim, resta dizer que a capa é assinada por Melvyn Grant: boa, mas não se compara às de Derek

LACRIMAS PROFUNDERE«The Grandiose Nowhere»[2010 / Napalm Records]

«The Grandiose Nowhere» é já o nono trabalho dos ale-mães Lacrimas Profundere e o segundo do vocalista Robert Vittaca. Nota-se que Robert neste trabalho se sente mais à vontade, tendo para isso contribuído o facto de já estar mais integrado na banda. Um facto também a ter em con-ta é que no álbum anterior as músicas tinham sido com-postas para o anterior voca-lista e acabou por ser Robert a gravar o álbum. Neste novo trabalho estão presentes as influências de bandas como Type O Negative, Sisters of Mercy e mesmo Charon. Des-tacamos “Not for love”, tema que nos leva a um universo por onde bandas como os Poisonblack estão a viajar, e “No matter where you shoot me down”, um meio tempo no qual há que destacar o exce-lente desempenho de Robert Vittaca. Também em desta-que estão os dois guitarristas Oliver e Tony, com os seus rit-mos electrizantes e melodias com influências mais dark. Um outro ponto a destacar é a produção de John Fryer que já trabalhou com bandas como Cradle of Filth, Depe-che Mode e Him. Em suma, um álbum bem estruturado e talvez de mais fácil assimila-ção por parte dos amantes do chamado rock-metal-gótico.[7.5/10] Miguel Ribeiro

Riggs (ah, que saudades!). O disco está disponível na ver-são standard e na “Mission Edition”: em capa de metal e com um link exclusivo para o jogo “Mission II: Rescue & Revenge”, disponível no site. [8/10] Renato Conteiro

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LANTLÔS«.neon»[2010 / Prophecy Productions]

Entre os grandes lançamentos a registar em 2010, «.neon» é uma daquelas raras peças de arte com o dom de nos fa-zer transcender o mundano; um trabalho com tanto de fascinante como de pertur-bador, que combina mantras post-rock de riffs lentos e in-trospectivos, tiradas furiosas de um black metal atmosfé-rico carregado de emoção, e segmentos tranquilos onde o jogo de bateria e baixo (com algum piano de permeio) pro-jecta uma atmosfera delicio-samente jazzy. O vocalista Neige (Alcest) apresenta aqui uma performance de aper-tar o coração, e chega até a ser arrepiante a convicção que coloca nas manifestações mais desesperadas (sintam a expressividade de “These ni-ghts were ours”, onde o ho-mem quase esganiça). O seu registo natural (aqui, pouco frequente) em “Pulse/surre-al” veicula candura, e aproxi-ma-se, curiosamente, do tom aveludado da diva da soul Sade Adu (!). Depois da es-treia pouco promissora ofere-cida num rudimentar homóni-mo lançado em 2008, parece que Herbst, o multi-instru-mentista germânico respon-sável por este projecto, acaba de reinventar os Lantlôs, sen-do Neige uma das peças es-senciais desse sucesso. Des-sa reinvenção resultou um álbum perfeitamente equili-brado, com uma construção tão sublime que é capaz de fazer eriçar o cabelo da nuca; um disco mágico que toca no mais intimo que há em nós e

em que o todo excede sem-pre a soma de cada uma das partes. Desliguem-se por um momento das vossas vidinhas rotineiras, baixem as luzes, e deixem-se embarcar nesta experiência quase religiosa que é «.neon». [9.5/10] Ernesto Martins

OCTOBER TIDE«A Thin Shell»[2010 / Candlelight]

Longos anos volvidos após dois álbuns perfeitamente doominizados enquanto Kata-tonia pairava no éter («Rain Without End», de 1997, e «Grey Dawn», de 1999), Fre-drik Norrman decide ressurgir os October Tide no final do ano passado assim rasgan-do primorosamente a nostal-gia que habitava nos fãs do agrupamento. Não que fosse estritamente necessário que ele tivesse de sair de Katato-nia para vir com este terceiro álbum mas nunca se sabe o que se passa na cabeça dos génios musicais… Este tercei-ro lançamento colhe elemen-tos dos dois anteriores ao vaguear por um Doom/Death de superior qualidade, abri-lhantando o estilo musical em que o agrupamento se insere através de uma notória inspi-ração em que, quem os ouve, são aturdidos por sonâncias rítmicas que choram as melo-dias que as sombras trazem. Para nossa sorte, «A Thin Shell» apresenta uma ban-da que pretende conquistar os fãs em palco. Sem Jonas Renske ou Mårten Hansen, que cantaram no primeiro e segundo álbum respectiva-mente, Fredrik Norrman (g) é soberbamente acompanha-do por Tobias Netzel (v), Emil

Alstermark (g), Robin Bergh (bt) e Johan Janson (bx). Tal como um Outono que arde em ébria beleza, aspergindo um fulgor cujos gritos pertur-bam qualquer beleza sepul-cral, o nosso ser é cativado por tão ricos elementos e sa-bemos… Estamos onde dese-jávamos estar… Uma magní-fica ambiência onde todas as músicas reverberam melan-colicamente e demonstram o quão aprimorada pode ser a obscuridade que lentamen-te apunhala os menos dados ao brilho diurno. Para quem abrace os céus cinzentos da solidão, torna-se extrema-mente apetecível ouvir este álbum várias vezes também devido à primorosa produção, tornando-o quase as lamu-rias que nunca se soube des-crever. Se têm longas horas à vossa frente que queiram preencher com a riqueza de uma arte, adquiram este ál-bum e esqueçam que o dia voltará a nascer. Fiquem com October Tide e a profundida-de da vossa alma…[9/10] Jorge Ribeiro de Castro

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AVOID THE PAIN«Death Bullets Dead End»(2010 / Independente)

Na cidade de Belo Horizonte, de onde vem a banda, surgiram grandes nomes da história do Heavy Metal brasileiro, que obviamente não pre-ciso citar. Os Avoid The Pain mostram-se fortemente influenciados pelas bandas suecas que praticam Melodic Death Metal. Aqui a sonoridade é um pouco mais crua e direta, sem as típicas inserções de sintetizadores. Um mix de Death e Thrash permeia as oito faixas do álbum, lembrando bastante as bases dos conterrâneos Drowned. «Death Bullets Dead End» foi produzido por Allan e Marcio, dos Eminence, que fizeram um ótimo trabalho. Rodd Arruda (Guitarra e voz), Lucas Oliveira (guitarra), Pedro Leão (bateria) e João Marques (baixo), desempenham bem os seus pa-péis, através de riffs interessantes e músicas bem variadas. Destaque para os vocais, que lembram a fase inicial dos Amon Amarth. A ressalva aqui fica para a mistura que deixou as músicas um pouco abafadas e opacas. Criatividade e garra a banda tem de sobra, vamos esperar que isso se reflita num lançamento futuro. [6.5/10] Pedro Humangous

DEVICE«Antagonistic»(2010 / Independente)

Eis que tenho nas minhas mãos o tão aguardado álbum da banda brasil-iense Device. O álbum chama-se «Antagonistic» e acaba de ser lançado de forma independente. Sem firulas, a banda começa a rasgar ouvídos, despejando toda fúria típica do Death Metal, estilo pertinente para a ban-da. Nota-se que a sonoridade do grupo evoluiu bastante desde o EP an-terior «Behold Darkness»,. Os vocais guturais de Ítalo Guardieiro estão bastante técnicos e potentes, dando um toque extra de agressividade às músicas. A dupla de guitarras Marco Di Vicente e Marco Mendes mostra-se infernal, despejando riff atrás de riff com extrema competência. A parte ritmica é bastante coesa, com destaque para Victor Lucano que simplesmente espanca seu kit de bateria e direciona a arte dos Device através de todo o caos sonoro. Batidas velozes, viradas incriveis e muito pedal duplo acompanham o bom trabalho de Daniel Gonçalves no baixo. A bela arte da capa ficou a cargo de Flip Cruz e Thiago Pena, ambos dos Hundead. A cada faixa que passa, o álbum torna-se mais agradável pela variação entre a velocidade e a cadência, sem deixar de lado o peso absurdo impresso nas músicas. Ao todo, são 10 faixas do mais puro e extremo Death Metal. As influências se misturam entre o praticado pe-los grandes nomes da velha escola e os mais recentes, agregando uma roupagem mais atual sem se descaracterizar em momento algum. Todas as músicas se destacam, mas vale mencionar a faixa “Pátria Dos Porcos”, cantada em portugês. Os Device têm crescido a cada lançamento e são grandes candidatos ao topo, num curto intervalo de tempo. [9/10] Pedro Humangous

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FRONTAL«Vida Convicta»(2010 / Independente)

Após uma breve introdução ao som de aviões e explosões diretamente do 11 de Setembro, a máquina infernal chamada Frontal começa destruindo tímpanos sem o menor sentimento de pena! A faixa de abertura deste ál-bum de estreia «Vida Convicta», chama-se “Terrorismo” e é exatamente com ela que o caos começa como um belo cartão de visita cravado na testa do ouvinte! Os vocais excelentes de Deivid, casam muito bem com a proposta das músicas e da ideologia impregnada nas letras da banda. Riffs velozes e bem marcantes condizem com o bom e velho hardcore ali-ado ao peso do metal. “Sobre Ser Libertário” é a faixa seguinte, e a min-ha favorita. Destaco essa faixa pela mistura de ritmos mais cadenciados e as letras muito bem encaixadas e aquele coro tradicional, perfeito para cantar nos shows! O ritmo acelerado volta com tudo na terceira faixa in-titulada “Nova Terra”, nela encontramos até alguns breakdowns no meio da faixa, onde bater a cabeça se torna obrigatório! Na sequencia temos mais uma faixa longa, se comparada com o restante, e quem merece destaque dessa vez é o baterista Marcell! Sem dúvidas o forte dessa banda carioca são as letras inteligentes e sempre com algo importante a dizer. Um bom exemplo disso é a quinta faixa chamada “Elo de Amor”. A sexta e última música do álbum termina com maestria, unindo ritmos variados, gritos desesperados proclamando suas verdades, instrumental coeso e a sensação final de um trabalho bem feito. Vale ressaltar a bela capa desenhada por Wil Mineto, juntando simplicidade e beleza num só quadro. A vida de uma banda no Underground nacional, todos sabemos, não é fácil! Frontal: Mais um aliado nessa luta. [6.5/10] Pedro Humangous

ITSELF«Make My Suffer Short»(2010 / Independente)

A garra e a vontade dos Itself de conseguirem um espaço no cenário mu-sical são louváveis. Contando com apenas dois membros, Estevam Fur-lan (vocais e bateria) e Ricardo Falcon (baixo e guitarras), conseguiram montar um quebra cabeças em grande estilo e profissionalismo, difíceis de ver actualmente em bandas estreantes. Misturado e masterizado no Hertz Studio, na Polônia, o resultado é um ótimo Death Metal viscer-al, veloz e técnico. A arte da capa, que ficou a cargo do Killustrations (responsáveis por trabalhos dos Dew-Scented, Six Feet Under, Aborted, etc), é estranhamente bela e angustiante, casando perfeitamente com a sonoridade do álbum. Após uma breve introdução, a poeira levanta de vez com a faixa “Ultraviolence”. Mostram logo todo o poder de fogo, deixando o ouvinte com pouco ar restante nos pulmões. Ótima escolha como faixa de abertura. Em seguida vem o destaque do disco, a terceira faixa intitulada “I Can’t Stop”, com ótimas levadas de baixo e break-downs de quebrar o pescoço. O vocal de Estevam merece destaque pela variação constante entre o rasgado e o gutural, uma mescla interessante de Thrash e Death Metal. O que resta do álbum mantém a estrutura nivelada e de audição agradável apesar das podreras líricas e musicais. A verdade é que o underground vem crescendo de forma assustadora, com bandas cada vez mais preocupadas em fazer um trabalho de qualidade tanto na parte estética quanto musical. Com este trabalho de estréia, os Itself mostram-se extremamente capazes de figurar entre os grandes nomes do gênero![8/10] Pedro Humangous

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JULGAMENTO«Flagelo Fatalista»(2009 / Pride Conviction Records)

O Brasil está a tornar-se num verdadeiro celeiro para as bandas de Hard-core. Os Julgamento surgiram em 2003 na cidade de Itapira, interior de São Paulo, e desde então vem destruindo tudo por onde passam, dividindo palcos com grandes nomes do metal nacional e internacional. Formados atualmente por Lik (vocal), Palmer (baixo), Jonatas (bateria) e Alcir (guitarra), o grupo mostra fortes influências de Thrash e Death Met-al, contando com letras típicas sobre política e crítica social com muito cinismo e sarcasmo. «Flagelo Fatalista» é um grande álbum que possui bastante peso, riffs marcantes, velocidade a todo o vapor, bateria in-sana e vocais urrados, quase desesperados. Tudo muito bem encaixado com o contexto geral. Destaque para a faixa “Aforismo” com seus 47 segundos de música, que agrada bastante pela pegada nervosa e que, apesar de ser curta, passa a sua mensagem. A bela imagem da capa ex-pressa exatamente aquilo que está contido no seu interior: agonia, raiva e brutalidade, tanto na parte lírica quanto musical. Falando um pouco sobre a produção do álbum, ela está bastante satisfatória, fazendo com que todos os instrumentos sejam audíveis por igual. Todos os instru-mentos desempenham bem seus papéis, incluindo os vocais, mas quem merece mesmo o destaque são os timbres das guitarras. Os Julgamento mostram-se dispostos, e com bastante garra, para alcançar vôos mais altos. Capacidade e técnica eles tem de sobra, deixemos o tempo cuidar do resto.[7.5/10] Pedro Humangous

KORZUS«Discipline of Hate»(2010 / Laser Company Records)

Após uma longa espera de seis anos, eis que os Korzus nos brindam com um lançamento de inéditos. Podem ter a certeza que a espera valeu a pena. A começar pela bela ilustração da capa, criada por Marcelo Vasco. Ouvidos ansiosos por novos riffs aguardam pela introdução sombria que precede a pancadaria da primeira faixa que leva o nome do álbum, «Dis-cipline Of Hate». Nota-se que os Korzus estão mais técnicos e, de certa forma, mais pesados, porém, sem perder as suas características próprias. Um fator que chama a atenção são os coros tipicamente Hardcore adi-cionados à quebradeira do Thrash Metal, que casam perfeitamente com o som, trazendo maior carisma aos refrãos já grudentos por natureza. Musicas como “Raise Your Soul” e “Truth” ecoam pelo cérebro durante dias, tamanha é a força das melodias impressas. Impossível não associar os vocais aos de Tom Araya (Slayer), porém Marcelo Pompeu vai além e mostra personalidade numa excelente performance. O trabalho de gui-tarras entre Heros Trench e Antonio Araujo está incrível, tanto na parte rítmica quantos nos solos inspirados. A cozinha, que conta com Dick Sie-bert e Rodrigo Oliveira, se mantêm coesa, beirando a perfeição. Apontar destaques torna-se tarefa cruel devido à qualidade ímpar e constante em todas as faixas do álbum. Apesar de ser uma banda lendária, os Korzus tornaram-se no novo expoente do metal brasileiro, definitivamente! [9/10] Pedro Humangous

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PONTO NULO NO CÉU«Ciclo Interminável»(2010 / Independente)

Responsáveis por uma identidade visual e musical bastante atual, a ban-da Catarinense Ponto Nulo No Céu vem para estremecer as bases do Metal contemporâneo, unindo diversas influências ao seu som. Formada atualmente por Dijjy (vocal), Júlio (bateria), Vinicius (guitarra), Henrique (Baixo) e André (guitarra), a banda busca uma sonoridade inovadora, misturando vocais rasgados do Metalcore, passando pelo limpo em melo-dias belíssimas e conta até com passagens meio rap, bem no estilo Hard-core nova iorquino. Tudo isso cantado no seu idioma natal, o português. A banda esbanja carisma pelas letras marcantes e de fácil assimilação. O EP conta com seis faixas, sendo a primeira delas uma intro. “Fim Do Dia” já começa num ritmo forte e mostra a cara do disco como um todo, sendo por mim considerada o destaque entre as demais. No meu ponto de vista, os Ponto Nulo No Céu assemelham-se de alguma maneira aos As I Lay Dying e aos 36 Crazyfists, com a diferença da língua portuguesa, que dá um certo charme às composições e se faz destacar nesse mar de bandas que surgem a cada dia. Se tens a mente aberta e gostas de um Metal bem executado, moderno e cantado em português, essa banda é para ti![8/10] Pedro Humangous

ZILLA«Pragmatic Evolution(2010 / Independente)

Cada dia que passa fico mais surpreendido com as bandas que surgem na nosso cena nacional. Formada em 2002 por Mark Nagash, esta incrível banda brasiliense lança no mercado o seu álbum de estréia intitulado de «Pragmatic Evolution». Impossível começar essa critica sem mencionar a belíssima arte da capa criada pelo próprio Mark. Muito bonita mesmo. O álbum começa com uma bela introdução dedilhada na guitarra e que cresce aos poucos unindo-se aos outros instrumentos, servindo como entrada para a pancadaria que está por vir. “Neverending Violence” é a segunda faixa e começa destruidora, com os vocais insanos de Lucas se-guidos de riffs que grudam na cabeça após a primeira audição! As bases lembraram-me algo de Arch Enemy, porém com identidade própria. A impressão é que estamos perante uma banda internacional devido ao facto de poucas bandas praticarem este tipo de som aqui no Brasil - um Melodic Death Metal com pitadas de Prog e Tech Death, que me sur-preendeu bastante pela positiva! A terceira faixa, “Down The Edge”, é para mim a melhor de todo o CD. Com riffs perfeitos e o baterista Victor a quebrar tudo e a fazer uma paradinha mortal após o primeiro refrão. Confesso que carreguei no repeat algumas vezes nesta faixa! Vale desta-car o trabalho do baixista que é bem técnico e se faz notar em vários momentos cruciais das músicas. “Confortable Pain” é a quarta faixa e segue a mesma linha das outras, muita velocidade, pedal duplo e riff atrás de riff. O disco parece um “best of” de uma banda com o primeiro lançamento. Assim segue o álbum todo, com muito bom gosto nas com-posições, letras interessantes e uma ótima produção. Desde já, um dos melhores lançamentos de 2010! [10/10] Pedro Humangous

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Em Aveiro, o dia 27 do mês de Novembro ficou marcado pela presença dos Motim, Shallow Injury e Ella Palmer nas instalações do Mercado Negro. Grande ambiente e muita música num evento realizado pela MYOproduc-tions onde o “post-hardcore” foi o género musical em destaque.A abertura dos concertos coube aos Motim, que ajudaram a aquecer esta noite de baixas temperaturas com a boa disposição e animação à qual já habituaram o público aveirense.A missão mais complicada calhou aos Shallow Injury que encontraram uma sala bem mais composta pela frente. Tarefa fácil para esta recente banda da zona de Aveiro. Grande carga de energia que estes rapazes con-seguiram injectar no público presente devido à atitude e entrega com que se apresentaram.Nota 10 para os Ella Palmer que pela primeira vez marcaram presença em Aveiro e facilmente conquistaram o público presente no Mercado Negro aliando riffs poderosos e muita, muita energia ao seu jeito melódico. Acaba mesmo por ser curioso o facto de ver alguns dos elementos mais entu-siastas do público a cantarem as músicas sem sequer conhecerem bem o trabalho desta banda. Um trabalho de grande qualidade apresentado por esta banda oriunda da zona de Setúbal.

Texto: Bernardo LeiteFotografia: Bernardo Oliveira Leite

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