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VEXILOLOGIA E PROTOCOLO Artur Filipe dos Santos email: [email protected] Web: www.artursantos.no.sapo.pt Facebook: https://www.facebook.com/arturfilipe.santos 1 VEXILOLOGIA PORTUGUESA E PROTOCOLO A BANDEIRA DE PORTUGAL (Compilação de textos publicados na página do Facebook de Artur Filipe dos Santos) AUTOR Artur Filipe dos Santos [email protected] Professor Universitário de Comunicação e Património Cultural, Doutorado em Comunicação, Publicidade Relações Públicas e Protocolo pela Universidade de Vigo, consultor da UNESCO para o Património Mundial, membro do grupo de investigação em Comunicação da Universidade de Vigo (Icom-x1), membro do grupo de pesquisa e m Comunicação e Turismo da Universidade de Westminster, Reino Unido. Professor convidado em várias instituições universitárias e de formação: Escola Superior de Educação de Coimbra, Escola de Jornalismo do Porto, Centro de Estudos Politécnicos de Torres Novas, Universidade Federal de Pernambuco. Protocolista, Cerimonialista e Vexilólogo, Membro da APEP - Associação Portuguesa de Estudos de Protocolo. NOTA: Este documento não tem o objectivo de ser um artigo científico, mas sim um documento de reflexão e caracterização da simbologia da Bandeira Portuguesa, signo máximo da soberania portuguesa no espaço da União Europeia e no concerto diplomático das nações, adoptada pela Assembleia Nacional Constituinte em 1911. Este texto visa dar a conhecer os vários elementos que constituem a bandeira, sendo uma compilação contínua e revisada dos textos que o autor publica com periodicidade na página do facebook sobre a temática do protocolo, da vexilologia e da heráldica.

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VEXILOLOGIA PORTUGUESA E PROTOCOLO

A BANDEIRA DE PORTUGAL

(Compilação de textos publicados na página do Facebook de Artur Filipe dos Santos)

AUTOR

Artur Filipe dos Santos

[email protected]

Professor Universitário de Comunicação e Património Cultural, Doutorado em Comunicação,

Publicidade Relações Públicas e Protocolo pela Universidade de Vigo, consultor da UNESCO para

o Património Mundial, membro do grupo de investigação em Comunicação da Universidade de

Vigo (Icom-x1), membro do grupo de pesquisa e m Comunicação e Turismo da Universidade de

Westminster, Reino Unido. Professor convidado em várias instituições universitárias e de formação:

Escola Superior de Educação de Coimbra, Escola de Jornalismo do Porto, Centro de Estudos

Politécnicos de Torres Novas, Universidade Federal de Pernambuco. Protocolista, Cerimonialista e

Vexilólogo, Membro da APEP - Associação Portuguesa de Estudos de Protocolo.

NOTA: Este documento não tem o objectivo de ser um artigo científico, mas sim um documento de

reflexão e caracterização da simbologia da Bandeira Portuguesa, signo máximo da soberania

portuguesa no espaço da União Europeia e no concerto diplomático das nações, adoptada pela

Assembleia Nacional Constituinte em 1911.

Este texto visa dar a conhecer os vários elementos que constituem a bandeira, sendo uma

compilação contínua e revisada dos textos que o autor publica com periodicidade na página do

facebook sobre a temática do protocolo, da vexilologia e da heráldica.

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A BANDEIRA DE PORTUGAL

creditando que todos os portugueses conhecem as características da bandeira da

República Portuguesa, este texto visa sobretudo elucidar sobre alguns aspectos menos

explorados do principal signo da soberania portuguesa e, porque não, dar a conhecer aos

"nuestros hermanos", que de vez em quando fazem o favor de apontar por estas bandas, o

significado simbólico daquela que é reconhecidamente uma das mais belas bandeiras do mundo.

A atual bandeira de Portugal, adoptada a 30 de Junho de

1911, menos de um ano depois da queda da Monarquia

Constitucional, que teve como último monarca, Sua Majestade o

Rei D. Manuel II, é dramaticamente diferente das restantes

bandeiras da história de Portugal, onde sempre pontificaram o

branco e azul, desde os tempos de D. Afonso Henriques (cuja

bandeira era inspirada da do seu pai, com uma cruz sobre um pano branco) até 1910.

Na Comissão que presidiu à escolha da nova bandeira encontravam-se figuras ilustres

republicanas como Columbano Bordalo Pinheiro (irmão do célebre criador da caricatura do Zé

Povinho, Rafael Bordalo Pinheiro o diplomata e coronel Abel Botelho e ainda João Chagas,

implicado na revolta portuense do 31 de Janeiro, tendo sido ainda o primeiro presidente do

ministério (atualmente a este cargo é dado o nome pelo que todos nós conhecemos como Primeiro-

Ministro).

Esta comissão não teve vida fácil e entre tricas, jogos de poder

e ideologias políticas muito influenciadas pelos ventos centro e leste

da Europa, selecionou, entre muitas propostas, a actual bandeira,

aprovada pela Assembleia Nacional Constituinte e publicada no

Diário do Governo nº 149 a 19 de Junho de 1911. A sua

regulamentação (medidas, variações e regras protocolares de

utilização da bandeira nos mais diversos atos e utilizações) foi publicada mais tarde, a 30 de Junho

A

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do mesmo ano, no Diário do Governo n° 150 e de acordo com o decreto, a Bandeira de Portugal é

"um rectângulo bipartido verticalmente em duas cores fundamentais, verde e vermelho".

Neste estudo vexilólogo da bandeira de Portugal, comecemos por estudar os elementos que a

constituem: as cores, o escudo de Portugal e a esfera armilar (introduzida pela primeira vez no

reinado de D. Manuel I (Dinastia de Avis-Beja), na sua bandeira pessoal:

AS CORES

A bandeira de Portugal encontra-se dividida em duas

cores, num campo desigual, com a cor verde escura do lado

da tralha (região da bandeira que se encontra junto ao

mastro), e vermelho escarlate do lado do batente (parte da

bandeira que é "batida"" pelo vento). A divisão das cores é

feita de maneira a abranger verde em 2⁄5 do comprimento,

sendo os restantes 3⁄5 preenchidos por vermelho (relação 2-3).7 O brasão de armas (o escudo

português no topo de uma esfera armilar em amarelo e avivada de negro), é posicionado sobre a

fronteira entre ambas as cores.

Apesar de o vermelho e verde serem cores conotadas com o movimento republicano desde a

revolta de 31 de Janeiro de 1891, no Porto (onde os revoltosos chegaram a hastear nos Paços do

Concelho uma bandeira vermelha e verde pertencente ao centro democrático federal, clube

maçónico republicano fundado 20 dias antes), vulgarizou-se a ideia de que o vermelho simbolizava

o "sangue derramado pelos heróis que serviram a pátria" e que o verde representa a "esperança do

povo português".

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Interessante referir que as anteriores cores da

bandeira de Portugal, o branco (mais correctamente prata)

e o azul, foram cores de grande simbologia, já que o

branco (prata) sempre esteve presente no curso da história

do mais importante signo nacional e o azul, para além de

estar presente na bandeira da fundação entre outras,

simbolizava a figura da Nossa Senhora da Conceição, que

havia sido coroada como Rainha de Portugal pelo primeiro

Rei da Dinastia de Bragança, D. João IV O Restaurador (ou O Afortunado) em 1646.

Depois de ter abordadas as cores que compõem a bandeira, qual o

significado das mesmas (verde e vermelho), debruço-me, desta feita, no brasão,

começando pelo Escudo de Portugal, que se encontra assente sobre a esfera

armilar. Aliciante recuar ao reinado de D. Afonso Henriques e caracterizar a

bandeira desse período, já que nesta se encontra, assim como na de D. Sancho I e

por aí adiante um elemento fulcral da actual bandeira: os besantes (nome dado à antiga moeda

bizantina).

A bandeira de D. Afonso Henriques era composta por uma

cruz azul sobre um fundo de prata. Os besantes (ou também chamados

de dinheiros), colocados mais tarde, significavam o direito de cunhar

moedas, direito exclusivo dos monarcas, legitimando em signo a

autoridade do primeiro Rei de Portugal face a Afonso VII de Leão e

Castela. Interessantes também são as duas explicações seguintes: a

primeira é a de que a bandeira (signo ainda pouco utilizado naquele

período da história) estava cravada no escudo de Afonso Henriques, assim os besantes, em forma

real de pregos, serviam para segurar as tiras de couro azul que compunham a cruz. A segunda

explicação entra já no domínio da lenda e da tradição cristã, ao referir que o número de besantes

que compunham a bandeira (30) era igual aos 30 dinheiros recebidos por Judas para denunciar

Bandeira Nacional de Portugal de

1830 a 1910

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Jesus, e que foram incluídos na bandeira a seguir à Batalha de Ourique, na qual diz a lenda, Cristo

terá aparecido diante do Rei e lhe terá profetizado a vitória sobre os Mouros.

No reinado de D. Sancho I a cruz azul listada desaparece e dá

lugar a cinco escudos, tendo no interior de cada escudo 12 besantes,

perfazendo os mesmos 30 da bandeira anterior, em linha horizontal

ou vertical. Hoje em dia o escudo de Portugal mantém os cinco

escudos da bandeira de D. Sancho I, simbolizando a lenda das taifas

(pequenos reinos árabes) conquistadas por Afonso Henriques

(Sevilha, Badajoz, Elvas, Évora e Beja) coma morte dos respectivos

reis. Mas os besantes já não são 30 mas apenas cinco em cada escudo, simbolizando as quinas ou

cinco chagas de Cristo.

Os castelos do atual escudo de Portugal e o seu significado são sobejamente

conhecidos: representam os sete castelos conquistados, desta feita por D. Afonso III

(O Bolonhês), aquando da tomada dos Algarves aos Mouros.

Contudo esta explicação não é de todo consensual, já que a bandeira de

Afonso III incluía um número indeterminado de castelos (crê-se que 16), em 1385

eram já 12 e só em 1485 é que passaria o escudo de Portugal a ostentar os atuais sete

castelos apenas.

Quanto ao escudo com borda vermelha onde assentam os referidos castelos,

remete provavelmente para os laços familiares do "Bolonhês", já que tanto a mãe

como a segunda esposa eram castelhanas, cujos brasões caracterizavam-se por um castelo sobre um

fundo vermelho.

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É a vez de caracterizar aquele que é provavelmente o símbolo mais

simples de explicar a sua presença, não deixando de ser um dos mais fortes

signos da natureza da história e cultura portuguesa: a esfera armilar.

Instrumento astronómico e de navegação, caracteriza-se por ser um

modelo da abóboda celeste, o céu que nos rodeia ao longo do ano e não um

modelo do globo terrestre como erradamente muitos supõem, e terá sido desenvolvido, pensa-se que

pelos chineses ainda antes da Dinastia Han (que reinou durante 400 anos), no séc. I A.C.

Introduzida em Portugal pelas mãos dos templários, foi

incorporada pela primeira vez na vexilologia portuguesa na bandeira

pessoal de D. Manuel I.

Foi inserida pela primeira vez na bandeira nacional no reinado de D.

João VI a 13 de Março de 1816, para além de já figurar desde 1667 na

bandeira de navegação para o Principado do Brasil. Mas a esfera armilar

foi sol de pouca dura no signo nacional por excelência, já que apenas se

manteve na nossa bandeira até 1826.

Bandeira pessoal de D.

Manuel O Venturoso

Bandeira de

Portugal, de 1816 a

1926

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Com a revolução de cinco de Outubro de

1910 e com a abolição da bandeira da Monarquia

Constitucional (prata e azul: azul em alusão ao

manto da Nossa Senhora da Conceição de Vila

Viçosa, coroada por D. João IV como Rainha de

Portugal) são abolidas as cores anteriores,

substituídas pela vermelha e verde do partido

republicano e da organização de inspiração

maçónica, a carbonaria, e regressa de novo a

esfera armilar sob o escudo de Portugal, ficando

plasmada esta alteração no diploma da

Assembleia Nacional Constituinte e publicado no

Diário do Governo nº150, de 30 de Junho de

1911. Nesse mesmo ano, a um de Dezembro,

celebrar-se-ia pela primeira vez o Dia da

Bandeira, dia em que a bandeira da república foi

apresentada e hasteada oficialmente junto ao Monumento dos Restauradores, em Lisboa, por

ocasião dos 270 anos da Restauração da Independência.

Ainda hoje se celebra, se bem que muito poucos têm noção desse facto, o Dia da Bandeira a

cada primeiro de Dezembro, um dia que já deixou de ser feriado desde 2012.

Diário do Governo nº 150, de Junho de

1911

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Referências Bibliográficas

Bandeira de Portugal. Wikipedia. Página visita a três de Maio de 2014:

http://pt.wikipedia.org/wiki/Bandeira_de_Portugal

Evolução da Bandeira de Portugal. Wikipedia. Página visita a quatro de Maio de 2014:

http://pt.wikipedia.org/wiki/Evolu%C3%A7%C3%A3o_da_bandeira_de_Portugal

Governo de Portugal (2014). Os Símbolos Nacionais. Página visitada a 11 de Maio de 2014:

http://www.portugal.gov.pt/pt/a-democracia-portuguesa/simbolos-nacionais/bandeira-

nacional.aspx

História da Bandeira Nacional. Página Portugal Protocolo, visita a 11 de Maio de 2014:

http://www.portugalprotocolo.com/PROTOCOLO_HIST_BAND.php

Sampaio, Jorge (s/d). Símbolos da República. Página da presidência de Jorge Sampaio, visitada a 10

de Maio de 2014: http://jorgesampaio.arquivo.presidencia.pt/pt/republica/simbolos/bandeiras/