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1 VI Seminário do PPGCS/UFRB GT 04 – Gênero, Raça e Subalternidades 1 RELAÇÕES DE GÊNERO, POLÍTICAS SOCIAIS E A NATURALIZAÇÃO DA SUBALTERNIDADE DE MULHERES NEGRAS Deise Sousa dos Santos (PPGNEIM/UFBA) 2 RESUMO O referido artigo, emerge com o intuito de problematizar as políticas sociais de inclusão produtiva no tocante a vida das mulheres negras, inseridas na produção e reprodução da divisão sócio-técnica do trabalho, através do Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego. Faz-se necessário, compreender as relações sociais, de gênero, geração, classe e raça, que corroboram nas desigualdades, destacando o caminho perverso das relações do capitalismo patriarcal que produz a exclusão das mulheres negras ou inclui em determinados espaços de trabalho tendo em vista a divisão dos papeis relegadas as subalternidades, contribuindo para o desenvolvimento econômico e a anulação do desenvolvimento social, configurando-se a desvalorização, precarização, invisibilidade e marginalização culminando a naturalização reducionista das mulheres negras no mercado de trabalho. Palavras-chave. Mulheres negras. Interseccionalidades. Desigualdade de gênero. Políticas sociais. INTRODUÇÃO O objetivo do artigo, engendra um olhar crítico-reflexivo, sobre as políticas de inclusão produtiva, nesse contexto, é fundamental questionar a configuração das relações sociais e de gênero, presente no espaço de trabalho, conforme elucida essa política. Assim, faz-se necessário, tecer reflexões e problematizar em que contexto socioeconômico, encontra-se, as mulheres negras beneficiadas por essa política e se existe entre elas, a consciência de gênero, classe, raça e geração. Tendo em vista, um Estado que, em toda a sua história, produz um modelo estrutural e simbólico que engendra uma lógica racista, machista e heteropatriarcal, que descaracteriza as políticas públicas e as políticas sociais a partir do neoliberalismo influenciando assim, a sua des- responsabilização. 1 Trabalho apresentado no VI Seminário da Pós Graduação em Ciências Sociais: Cultura, Desigualdade e Desenvolvimento - realizado entre os dias 09, 10 e 11 de novembro de 2016, em Cachoeira, BA, Brasil. 2 Assistente Social, mestranda do Programa de Pós-Graduação em Estudos Interdisciplinares sobre Mulheres, Gênero e Feminismo da Universidade Federal da Bahia (PPGNEIM/UFBA). E-mail: [email protected]

VI Seminário do PPGCS/UFRB GT 04 – Gênero, Raça e … · 2016. 11. 4. · histórica e cotidiana do movimento de mulheres e intelectuais negras como Patrícia Hill Collins (1986);

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VI Seminário do PPGCS/UFRB GT 04 – Gênero, Raça e Subalternidades1

RELAÇÕES DE GÊNERO, POLÍTICAS SOCIAIS E A NATURALIZ AÇÃO DA

SUBALTERNIDADE DE MULHERES NEGRAS

Deise Sousa dos Santos (PPGNEIM/UFBA)2 RESUMO O referido artigo, emerge com o intuito de problematizar as políticas sociais de inclusão produtiva no tocante a vida das mulheres negras, inseridas na produção e reprodução da divisão sócio-técnica do trabalho, através do Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego. Faz-se necessário, compreender as relações sociais, de gênero, geração, classe e raça, que corroboram nas desigualdades, destacando o caminho perverso das relações do capitalismo patriarcal que produz a exclusão das mulheres negras ou inclui em determinados espaços de trabalho tendo em vista a divisão dos papeis relegadas as subalternidades, contribuindo para o desenvolvimento econômico e a anulação do desenvolvimento social, configurando-se a desvalorização, precarização, invisibilidade e marginalização culminando a naturalização reducionista das mulheres negras no mercado de trabalho. Palavras-chave. Mulheres negras. Interseccionalidades. Desigualdade de gênero. Políticas sociais. INTRODUÇÃO

O objetivo do artigo, engendra um olhar crítico-reflexivo, sobre as políticas de

inclusão produtiva, nesse contexto, é fundamental questionar a configuração das

relações sociais e de gênero, presente no espaço de trabalho, conforme elucida essa

política. Assim, faz-se necessário, tecer reflexões e problematizar em que contexto

socioeconômico, encontra-se, as mulheres negras beneficiadas por essa política e se

existe entre elas, a consciência de gênero, classe, raça e geração. Tendo em vista, um

Estado que, em toda a sua história, produz um modelo estrutural e simbólico que

engendra uma lógica racista, machista e heteropatriarcal, que descaracteriza as políticas

públicas e as políticas sociais a partir do neoliberalismo influenciando assim, a sua des-

responsabilização.

1 Trabalho apresentado no VI Seminário da Pós Graduação em Ciências Sociais: Cultura, Desigualdade e Desenvolvimento - realizado entre os dias 09, 10 e 11 de novembro de 2016, em Cachoeira, BA, Brasil. 2 Assistente Social, mestranda do Programa de Pós-Graduação em Estudos Interdisciplinares sobre Mulheres, Gênero e Feminismo da Universidade Federal da Bahia (PPGNEIM/UFBA). E-mail: [email protected]

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A Inclusão Produtiva consolida-se sobre a coordenação do Ministério do

Desenvolvimento Social e Combate à Fome, o BSM organiza-se em três grandes eixos

de atuação: garantia de renda, acesso a serviços e inclusão produtiva e traz ao poder

público e a toda sociedade o ambicioso desafio de superar a extrema pobreza. (Plano

Brasil sem Miséria). O programa que tem na sua conjuntura a Lei Orgânica de

Assistência Social-LOAS, instituída pela Política Nacional de Assistência Social-

PNAS/2004, viabilizando a inclusão dos beneficiários do Programa de Transferência de

Renda a acessar a inclusão no mercado de trabalho.

O Sistema Único de Assistência Social –SUAS, engloba em sua plataforma, a

Proteção Social Básica, responsável em gerir ações que materializa a prevenção,

proteção e promoção social, entendendo que, a manifestação da Questão Social, carece

ser respondida através de programas estruturantes para cuidar da matriz sociofamiliar de

forma integral, sendo assim, o Programa de Atenção Integral à Família, executado pelo

Centro de Referência de Assistência Social- CRAS.

Para Barbosa (2012),

O Programa tem, sobretudo, o foco na atenção à população que está distante do centro da dinâmica produtiva e que está mais vulnerável “[...] ao desemprego estrutural [...] que serve para consolidar atenção pública à miríade de ocupações informais que crescem a par com a diminuição do emprego regulamentado” (BARBOSA, 2012, p.121).

Para entender esse contexto, as inserções das lentes de gênero, foram necessárias

para revelar um falso protagonismo feminino, a partir das políticas de inclusão

produtiva, sendo esse, mas um modelo do capitalismo patriarcal que inclui as mulheres

negras em espaços de subalternidade, monopolizando a divisão sexual do trabalho, que

marca de forma perversa a trajetória de vida das mulheres negras.

Ainda com alguns avanços, segundo fontes do Instituto de Pesquisas Econômica

Aplicada – IPEA, nos últimos dez anos, o mercado de trabalho, entre 2004 a 2014,

observa-se que, “não foi suficiente para equiparar os ganhos entre gênero e raça”

(IPEA). Quando se trata das políticas sociais, sabemos que ela tem cor, sexo e classe

social, deste modo, são categorias que indicam e direcionam o preenchimento de

lacunas, e a necessidade da emergência de resposta do Estado que não são suficientes

para erradicar essas desigualdades.

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A introdução do modelo econômico-neoliberal, vigente no Brasil, no início da

década de 1990, implica diretamente nas políticas públicas e na vida das mulheres

negras. Assim, o que me instiga nesse ensaio, é compreender e problematizar as

políticas sociais que atuam em nosso cotidiano, e a importância de tecer reflexões

nas interseccionalidades, compreendendo, de que forma, essas políticas podem

desencadear a autonomia e o desenvolvimento do protagonismo na trajetória de vida

das mulheres negras.

Os cursos oferecidos na plataforma do Programa Nacional de Acesso ao Ensino

Técnico e Emprego – PRONATEC, vão desde dos cursos técnicos aos cursos de

cuidador(a) de idosos, camareira(o), costureira(o), cozinheiro(a), padeiro(a),

manicure, dentre outros. Sendo assim, esses programas são limitados, pois, são vistos

como uma alternativa que apenas amenizam a questão do desemprego, não dando conta

de responder a problemática em sua totalidade, construído historicamente.

Para tanto, finalizamos como as mulheres negras, chefes de família são as

maiores prejudicadas, mesmo havendo uma transformação pouco relevante, mas

não o suficiente para desconstruir e superar as assimetrias na divisão sócio técnica

do trabalho e nas relações de gênero.

Para dar sustentabilidade teórica a esse artigo, trago as contribuições teóricas do

feminismo negro, teorias feministas e o movimento de mulheres negras que vão

combater as opressões de gênero no que tange exclusivamente ao racismo, bem como,

autores e autoras da política de assistência social, para colaborar no debate de classe,

provocado nas relações do antagonismo entre capital e trabalho.

MULHERES NEGRAS INSUBORDINADAS E A SUBALTERNIDADE E M

QUESTÃO: ALGUMAS REFLEXÕES SOBRE A POLÍTICA DE INCL USÃO

PRODUTIVA

Quero aqui, trazer o discurso de Sojourner Truth, proferido em 1851, na

“Convenção de Mulheres” ocorrido na cidade de Akron, Ohio, nos Estados Unidos.

Esse discurso, ecoou como inspiração para compreender como as opressões e

explorações se reproduzem acerca do sexismo, machismo, racismo, geração dentre

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outros marcadores sociais, imbricados nas matrizes opressoras do sistema

heteronormativo do capitalismo patriarcal.

Seguimos com o discurso de Sojourner Truth, “E eu, não sou uma mulher”?

Aqueles homens ali dizem que as mulheres precisam de ajuda para subir em carruagens, e devem ser carregadas para atravessar valas, e que merecem o melhor lugar onde quer que estejam. Ninguém jamais me ajudou a subir em carruagens, ou a saltar sobre poças de lama, e nunca me ofereceram melhor lugar algum! E não sou uma mulher? Olhem para mim? Olhem para meus braços! Eu arei e plantei, e juntei a colheita nos celeiros, e homem algum poderia estar à minha frente. E não sou uma mulher? Eu poderia trabalhar tanto e comer tanto quanto qualquer homem – desde que eu tivesse oportunidade para isso – e suportar o açoite também! E não sou uma mulher? Eu pari 13 treze filhos e vi a maioria deles ser vendida para a escravidão, e quando eu clamei com a minha dor de mãe, ninguém além de Jesus Cristo, me ouviu! E não sou eu uma mulher? (TRUTH, 1851)

Pensar sobre as interseccionalidades, atento-me a observar que, além de ser uma

questão fundamental dos intercruzamentos de gênero, classe e raça, é, acima de tudo,

um viés político-afirmativo para combater os atravessamentos que nós mulheres negras

experimentamos.

O discurso de Truth em 1851 concebeu reflexões epistemológicas, e, sem dúvida,

consolidou-se, como um dos eixos fortíssimos e fundamentais para o enfrentamento das

desigualdades, no contexto da luta histórica e atual contra as estruturas que reforçam os

estereótipos e apontam a criminalização da pobreza, fruto do racismo, construído ao

longo da nossa história pela classe dominante (GONZALEZ, 1988).

A interseccionalidade vai ser incorporada na vida social, econômica, política,

histórica e cotidiana do movimento de mulheres e intelectuais negras como Patrícia Hill

Collins (1986); Bell Hooks (1981-1995); Luiza Bairros (1995 – 2000); Kimberlé

Crenshaw (2002); Sueli Carneiro (2003), dentre outras.

Observa-se, que é justamente “por uma visão política e ideológica que colocou

coletivamente os brancos no topo da pirâmide social do comando e do poder”

(MUNANGA, 2004, p.31). Dada a incorporação do enfrentamento as matrizes

opressoras, o autor chama atenção que faz-se necessário, tomar consciência do contexto

político-histórico-ideológico, para problematizar os conceitos biologizantes

essencialista inscritos historicamente sobre a categoria mulher e raça, que contribuíram

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para naturalização de conceitos que induziram aos abismos sociais, sexistas e racistas,

Munanga (2004).

As matrizes opressoras, estruturam-se, sob a vida das mulheres negras,

influenciando nas relações sociais que igualmente, “implica dizer que as respectivas

categorias de gênero, raça e classe e outras categorias sociais similares não são

categorias autônomas” (SARDENBERG, 2015, p.59), portanto, os marcadores sociais

imbricam-se, como um “atributo socialmente elaborado, relaciona-se diretamente com o

aspecto subordinado da reprodução das classes sociais [...]” (GONZALEZ, 1979, p.8).

Stolke (2006) revela que:

Em suas análises dos sistemas de classificação e estratificação social na sociedade colonial em desenvolvimento, e suas implicações sobre o gênero, alguns pesquisadores têm privilegiado a raça e/ou a classe social como princípio estruturador dominante. (STOLKE, 2006, p.24)

Carlos Moore (2012, p.226), afirma que “tanto o sexismo quanto o racismo

compartilham a singularidade de serem dinâmicas determinadas e construídas

historicamente e não ideologicamente”. Assim, dois fenômenos enraizados na estrutura

do patriarcado.

As desigualdades de gênero e raça, aludem substancialmente na questão de classe,

são nessas relações, que as mulheres negras são acometidas pela corrente do racismo,

sexismo e machismo, nesse percurso, os entrelaçamentos dos marcadores sociais,

desdobram-se nas categorias postas,

[...] da mesma forma, observa-se que recortes de classe e raça, reconfiguram as vivências de gênero e estas, junto às de classe, recortam a maneira em que homens e mulheres vivenciam o racismo e suas implicações, produzindo experiências muito distintas. (SARDENBERG, 2015, p.58)

Logo, as feministas, rebelam e se posicionam contra as opressões e explorações

que conduzem as tramas das desigualdades, uma vez que, “o gênero se constrói-

expressa através das relações sociais” (SAFFIOTI, 1992, p.190).

Para o feminismo negro, além de resistir contra o androcentrismo, teve que

exercer duas lutas contra a falsa ideia de que, há um modelo universal de mulheres, o

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que ocasionou em reivindicações, uma vez que, sua a história era/é marcada de opressão

e exploração, sobretudo, no âmbito do trabalho. Conforme relata a autora, “gênero e a

etnicidade são manipulados de tal modo que, no caso brasileiro, os mais baixos níveis

de participação na força de trabalho, “coincidentemente”, pertencem exatamente às

mulheres e à população negra” (GONZALEZ, 1979, p.3).

Não obstante, ancorada no pensamento feminista negro, instrumentalizo-me, para

o enfrentamento e a desconstrução continua ao androcentrismo e ao sistema do

capitalismo patriarcal. O feminismo negro, irá questionar ambas as teorias, nessa

perspectiva, os anos de 1980, cunhado pelas produções teóricas do pensamento

negro feminista, problematizou, as relações de poder constituídas nas relações

sociais e de gênero e, sobretudo, aportado no feminismo hegemônico, assim, a luz de

Gonzalez (1979), sobre os desafios que sobressaem a questionar essa subordinação,

denunciando que “a libertação da mulher branca se tem feito às custas da exploração da

mulher negra” (p.15).

Assento-me, na perspectiva das interseccionalidades, ancorada em especial, no

feminismo negro, que engendra criticidade, para analisar, compreender e intervir sobre

as correntes de opressão e exploração em que, nós, mulheres negras, vivenciamos.

Particularmente, essa corrente teórica, emerge, como inspiração e sentimento de

pertença grandioso, para o desenvolvimento desse estudo. Assim, as experiências

políticas do movimento feminista negro e das intelectuais negras, irá concentrar-se, nos

sujeitos femininos, constituindo-se, a práxis política e analítica entorno do objeto. Para

as intelectuais negras essa teoria é denominada como “feminst standpoint” (ponto de

vista feminino). (COLLINS, 1986; BAIRROS, 2000).

Os impactos das políticas sociais na conjuntura neoliberal frente às refrações

da Questão Social, reincidem na matricialidade sociofamiliar no âmbito das políticas

sociais que vem sofrendo com as intervenções do projeto neoliberal vigente. Assim,

o Estado negligência suas ações no contexto social, cultural e econômico,

fortalecendo e reproduzindo em sua plataforma as políticas compensatórias, pontuais

acarretando na reprodução da desigualdade de gênero e nas relações sociais,

contribuindo para as matrizes opressoras e o racismo.

Compreender o processo de trabalho das mulheres negras em meio ao contexto do

capital neoliberal é no mínimo constrangedor, pois, o modo produtivo, é reduzir o papel

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da mulher negra inserida na sociedade, delegando a ela, os piores espaços no mercado

de trabalho, assim, as políticas de inclusão produtiva (PRONATEC) configura-se,

simbolicamente com a face machista, racista e sexista marcados pela tendência

neoliberal.

A autora Duque-Arrazola (2010) completa a partir de dois pressupostos:

[...] a restauração capitalista e a reforma do Estado, enquanto resposta à crise estrutural do capital, além do caráter de classe, possuem, também, um caráter sexuado ou generizado, na medida em que esses processos atingem diferente e desigualmente a mulheres e homens, reproduzindo assim, as desiguais relações de gênero, a divisão sexuada e hierárquica do trabalho e os tempos sociais sexuados. O outro, que a participação coletiva das mulheres nos programas estatais de assistência social, em especial os de renda mínima, criaria condições de empoderamento das mesmas. O empoderamento permitiria às mulheres inflexionarem, em nível local, o caráter patriarcal e sexista do Estado, na medida em que essa participação não se constituísse apenas numa apropriação por parte do Estado, do trabalho das mulheres e dos tempos femininos da reprodução dos membros da família. (DUQUE-ARRAZOLA, 2010, p.228)

São políticas da agenda do Estado que contribuem para a reprodução do papel da

mulher como uma figura subalternizada.

Todas estas mudanças materializam-se no aumento globalizado da pobreza, particularmente nos países periféricos que, uma análise na perspectiva de gênero, revela quanto tal agravamento da pobreza tem afetado sobremaneira as mulheres da classe trabalhadora ou classes subalternas, em especial a das camadas mais empobrecidas, chegando a caracterizar-se esse processo de pauperização como de feminização da pobreza. (DUQUE-ARRAZOLA, 2010, p.231)

Para o Estado Neoliberal, a política de inclusão produtiva, pode ser um dos

indicadores principais em impulsionar as mulheres negras ao mercado de trabalho, mas,

é importante problematizar com as lentes de gênero, e refletir criticamente em que

condições de trabalho serão ofertadas para as mulheres negras usuárias dos serviços

socioassistenciais? Como se desenha a forma de contratação dessas mulheres?

Pode-se observar, por exemplo, que, nessas políticas de inclusão produtiva, os

cursos estimulam a manutenção feminina no espaço doméstico, mesmo estando no

âmbito público, deste modo, pouco produz, significados acerca de sua transformação

efetiva na sociedade e no contexto econômico, objetivando a valorização do seu

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trabalho. Portanto, a minha consciência de gênero, engendra um olhar crítico-reflexivo

sobre esses programas de caráter minimista, que por ora, reforça e reproduz a divisão de

papeis nas relações sociais e de gênero.

Duque-Arrazola, (2010) destaca que, neste sentido,

O Estado consome e usufrui o tempo de trabalho das mulheres sem custo financeiro, materializando a opressão, dominação e exploração do trabalho sob os argumentos da sua participação e da valorização pública da família-mulher. (DUQUE-ARRAZOLA, 2010, p.245)

A prática das contradições referentes aos direitos sociais, implantados nessa

perspectiva, paradoxalmente, as políticas sociais, caracteriza-se num viés estrutural,

com ênfase racista, machista, sexista lançado nas assertivas para manter as hierarquias

da estrutura hegemônica. Como já observava Sueli Carneiro (2003):

É sobejamente conhecido a distância que separa negros e brancos no país no que diz respeito à posição ocupacional. O movimento de mulheres negras vem pondo em relevo essa distância, que assume proporções ainda maiores quando o tópico de gênero e raça é levado em consideração. Nesse sentido, é mister apontar que os ganhos obtidos pela luta feminista no mercado de trabalho. Malgrado se constituírem em grandes avanços, não conseguiram dirimir as desigualdades raciais que obstaculizam maiores avanços para as mulheres negras nessa esfera. Sendo assim, as propostas universalistas da luta das mulheres não só mostraram a sua fragilidade, como a impossibilidade de as reivindicações que daí advêm, tornarem-se viáveis para enfrentar as especificidades do racismo brasileiro. (CARNEIRO, 2003, p.120)

Em sua pesquisa Duque- Arrazola (2010) destaca que:

As políticas sociais de assistência, em particular as de renda mínima, revelou que o poder e o controle por parte do Estado burguês e patriarcal, sobre essas mulheres não ocorre apenas sobre a sexualidade das mesmas, mas principalmente se exercem envolvendo o usufruto dos tempos femininos de trabalho, sobretudo os tempos da reprodução, de sua capacidade de trabalho e competências de gênero. Nesse sentido, determina o lugar do feminino (prático e simbólico) nas políticas de assistência social e de transferência de uma renda mínima. Não é por acaso que as mulheres desse segmento de classe passam a ser vistas como “insumos” ou como figuras disponíveis para implementar ações compensatórias e residuais do Estado, mediante suas políticas de proteção social. (DUQUE-ARRAZOLA, 2010, p.245)

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De certo, o meu lugar de fala, como mulher negra, feminista, e assistente social,

traz inquietações, mediante a plataforma dessas políticas sociais, pois, pouco avança nos

caminhos para inclusão, especificamente, para as mulheres negras, porém, essa mão de

obra, implantada nessa perspectiva de trabalho, apenas tende a retroalimentar o poder do

capital neoliberal e estigmatizar as mulheres negras.

Sendo assim, ser negra, no construto de uma sociedade que reproduz

comportamentos racistas, ser mulher, numa sociedade que imprime a prática machista,

bem como, ser vítima do devastador capitalismo, onde as mulheres negras estão em

desvantagens desde a sua história nas relações sexuais, sendo objeto de exclusão. O

caminho da conjuntura histórica, de políticas, econômicas e culturais, está longe de

promover igualdade de gênero, e, não será através de políticas emergenciais-

compensatórias, que as políticas de inclusão produtiva, irá superar a desigualdade de

gênero, classe, raça, sexualidade dentre outros marcadores de opressão.

A TRANSVERSALIZAÇÃO DE GÊNERO, CLASSE E RAÇA NA POL ÍTICA

DE ASSISTÊNCIA SOCIAL: UM DEBATE NECESSÁRIO

A Política Nacional de Assistência Social, acena, a transversalidade de gênero.

O que atende esboçar grandes contribuições acerca da matricialidade sociofamiliar.

Pensar nas relações de gênero, indiscutivelmente, é obrigação colocar lentes afiadas

para compreender outras categorias de opressão que recai com mais ênfase nas mulheres

negras e pobres. Para explicitar a abordagem, seguimos com o pensamento de Kimberlé

Crenshaw (2002),

A discriminação interseccional é particularmente difícil de ser identificada em contextos onde forças econômicas, culturais e sociais silenciosamente moldam o pano de fundo, de forma a colocar as mulheres em uma posição onde acabam sendo afetadas por outros sistemas de subordinação. (CRENSHAW, 2002, p.176)

Cecília M. B. Sardenberg instiga pensarmos que, “é evidente a preocupação em

assegurar que a transversalização do enfoque de gênero não venha em pacotes de

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‘tamanho único’ mas que se processe a partir de uma perspectiva flexível, [...]”

(SARDENBERG, 2010, p.38).

A autora aponta o cuidado em que se propõe o termo da transversalização, refletindo

que: “a transversalidade das hierarquias de gênero é um fato amplamente constatável. Daí

porque a necessidade da transversalização da perspectiva das relações de gênero nas

políticas públicas: para garantir a promoção social, econômica, política, cultural etc. das

mulheres” (SARDENBERG, 2010, p.47).

Ana Alice Costa (2006), em seus estudos sobre “Gênero e Monitoramento de

Políticas Públicas” abre a discussão para a participação da população e nesse objeto

especifico, chama atenção para o posicionamento político no controle social dessas

políticas. Assim, ela endossa, com bastante ênfase, “a incorporação do enfoque de

gênero nas políticas públicas foi fruto, foi resultado, e continua sendo, da atuação das

mulheres enquanto movimento organizado” (COSTA, 2006, p.79).

Posto isso, como entender o “protagonismo” feminino nas relações de gênero

inserida na matricialidade sociofamiliar, uma vez que, o sujeito feminino está

condicionado a cumprir uma série de condicionalidades em termos de saúde e educação

de seus filhos e filhas, o que acarreta numa sobrecarga de trabalho em administrar a

organização do espaço doméstico e, sobretudo ao sucesso familiar?

A política social centrada no Sistema Único de Assistência Social, não está

proferindo respostas objetivas as expressões da questão social, que emerge na trajetória

de vida das mulheres negras, sendo assim, é fundamental problematizar o cenário das

políticas sociais, com efeito, nas relações de gênero presente na dinâmica das relações

sociais, pois, a anulação da categoria de gênero e outros marcadores sociais, perpetrados

pelas influências patriarcais, ainda arraigados ao modelo econômico vigente, reforçam

padrões tradicionais e hierarquizações de gênero que contribuem para homogeneizar e

universalizar a vida social de mulheres negras.

Nesse mesmo pensamento, a autora Lourdes M. Bandeira (2005), chama atenção

para as políticas públicas voltadas para as mulheres, não desdobre para uma visão

naturalizada e essencializada em per si, se ausentando em questionar estruturas

patriarcais e não atentando-se para implicações nas relações, colocando as mulheres em

desvantagens impedindo sua autonomia.

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Nesse contexto, as matrizes opressoras que colocam as mulheres no “olho do furacão”,

Sardenberg (2010, p.46) elabora que, “historicamente, o ‘feminino’ tem sido construído

como subordinado ao ‘masculino’, sendo que, no Brasil, como, de resto, na maioria das

sociedades ocidentais contemporâneas, dominam as relações de gênero ‘patriarcais’”.

Pereira-Pereira (2010) retrata que,

Isso sem falar do equívoco da recuperação de antigos encargos domésticos, incluídos nos planos governamentais sob o nome de solidariedade informal, os quais, por recaírem mais pesadamente sobre as mulheres, incompatibilizam-se com o atual status de cidadã autônoma e de trabalhadora conquistado por esse segmento. (PEREIRA-PEREIRA, 2010, p.28)

Toda via, há um paradoxo nessa dinâmica, pois, caso a matricialidade

sociofamiliar, não estivesse dentro da Política Nacional de Assistência Social – PNAS,

ainda sim, são as mulheres que assumem essa responsabilidade de cuidar dos membros

familiares. Para tanto, chama atenção de uma mudança estrutural dentro do patriarcado.

Com efeito, a matricialidade sociofamiliar, está ancorada na política de assistência

sobremaneira do ideal e não do real.

Esse vazio de sentido, que dissocia a questão racial da social gera um profundo descompasso entre as premissas da política nacional da assistência social e as tratativas da comunidade mundial – e brasileira – de combate ao racismo, ao empobrecimento e, como diria Foucault, ao extermínio das populações afrodescendentes. (AMARO, 2005, p.62-63)

As mulheres negras e suas famílias pobres, com precário acesso aos bens e

serviços, bem como, a ineficiência das políticas públicas fragmentadas podem não dar

continuidade de forma eficaz e efetiva, diante da problemática apresentada, contudo, é

fundamental que as articulações intersetoriais vislumbrem suas ações numa perspectiva

política de diálogo constante que possam compreender o fenômeno que atravessam a

vida das mulheres e seus pares, ainda que estejamos vivenciando e sendo vítimas do

modelo econômico atual. Nessa perspectiva a autora produz que:

Efetivamente, a revolução paradigmática da assistência no caso de sua atenção as populações afrodescendentes passa pela urgência articulação da assistência com outras políticas, sobretudo, com estas que já estão

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implantando ações afirmativas. Uma vez que a questão racial se manifesta e se representa de forma direta ou indireta na agenda de diferentes políticas, subjacente a leis como a Loas – lei Orgânica da Assistência Social, ECA- Estatuto da criança e do Adolescente, o SUS – Sistema Único de Saúde, e a lei de Diretrizes Bases da Educação (LDB), para além de suas especificidades, seria qualitativamente relevante que ganhasse uma atenção articulada, na configuração de uma rede interpolíticas. (AMARO, 2005, p.76-77)

Nessa conjuntura, são as mulheres negras, marcadas pela escravidão que se

manifestam de maneiras diversas nesse cenário, ainda petrificado de forma perversa e

legitimada, estamos ocupando espaços de subalternidade no mercado de trabalho, sem

falar da relação precária nessas relações, tendo em vista a nossa mão de obra

desvalorizada pelo capitalismo.

Nessa questão, é fundamental a incorporação de políticas que tragam a

perspectiva de gênero com o intuito de traçar conexões com outras políticas.

Jussara Reis Prá (2010) ressalta a importância da “transversalização de gênero nas

políticas públicas [...], entende-se a integração do aporte de gênero à agenda

política e aos processos decisórios, por meio de ações políticas integradas” (PRÁ,

2010, p.16).

Prá (2010, p.18) observa com lucidez que: “aborda-se algumas conexões entre o

feminismo e políticas públicas, destacando a pertinência de substituir o viés

assistencialista das políticas para mulheres pelo aporte de gênero, com atenção ao caso

brasileiro”.

Não obstante, refletir sobre essa realidade, cabe a intervenção qualificada da/o

assistente social, com a realidade apresentada. O exercício para perceber os avanços da

política e desatar os nós arraigados no assistencialismo, são desafios já arborizados no

cenário atual. O desmantelamento das políticas públicas aprofundados no terreno

fecundo e regado pelo neoliberalismo, brota frutos amargos alimentando a

(des)responsabilização do Estado, tendo como consequência a focalização, a

precarização da política social e sua face perversa, que não dão conta à concretização da

garantia de direitos das mulheres.

Estamos em desvantagem quando fazemos um recorte econômico e social, o

Estado patriarcal, vestido do racismo e outras mazelas, vem dar a resposta através da

política de assistência social.

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Assim, seguimos com a observação de Pereira sobre o Artigo 1º da LOAS que:

Preceitua que a assistência social a par de ser um direito do cidadão e um dever do Estado, é política não contributiva de seguridade social, que provê os mínimos social mediante um conjunto integrado de ações de iniciativa pública e da sociedade, visando ao atendimento de necessidades básicas (PEREIRA, 2011, p.25)

Nessa conjuntura, as políticas sociais têm sido paulatinamente desmanteladas,

pois sua redistribuição aponta o formato compensatório e pontual, com isso, não

devemos encarar como uma única perspectiva, um único caminho, portanto, a ausência

do posicionamento político-crítico-reflexivo diante desse contexto, alude e fortalece a

naturalização das hierarquias nas relações sociais e de gênero. No ângulo de leitura

estratégica sobre as políticas sociais inseridas no neoliberalismo, a autora vai elucidar

que:

Ancorada na tese de que este novo cenário não comportava mais a excessiva presença do Estado, a ideologia neoliberal em ascensão passou, cada vez mais, a avaliar políticas de ingerência privada. Isso teve como resultado uma alteração na articulação entre Estado e sociedade no processo de proteção social, concorrendo para o rebaixamento da qualidade de vida e de cidadania de consideráveis parcelas da população do planeta. (PEREIRA, 2011, p.159)

Efetivamente, a política de assistência social, diante desses paradoxos, precisa

com urgência apresentar um olhar voltado para questão racial, sendo que, a

desigualdade, fruto do contexto escravocrata, atravessa as famílias pobres, toda via, as

mulheres, com isso, não sejamos ingênuas em afirmar que a pobreza está concentrada

na população negra, e nessa rede perversa, engendrado na opressão e exploração,

sabemos que, o mesmo perfil de beneficiárias/os que respondem aos critérios de

elegibilidade, estão também inseridas/os na plataforma dessa política.

Como destaca a autora Sarita Amaro (2005):

Falar de cidadania e de igualdade de oportunidades no direito à assistência não coaduna com essa evasiva ou esse retardo na promoção de ações afirmativas na assistência. Essa tomada de posição, evidentemente, requer uma vontade e atitude políticas combinadas, capazes de ultrapassar a visão romântica e a política das relações de força e de biopoder existentes entre negros e brancos, inclusive da mesma classe social – e perceber que, de modo

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especialmente perverso, mesmo negro que não portem condições sociais, econômicas e educacionais superiores permanecem vítimas da discriminação racial, alcunhados de incapazes, incompetentes e inferiores. Falar de direito universal à assistência social pública requer, portanto, uma leitura crítica e uma consequente ação sociopolítica nas relações que sedimentam a exclusão dos indivíduos. Esse “movimento” só é possível quando com esse propósito são apresentadas propostas voltadas para a aproximação da assistência das políticas afirmativas. (AMARO, 2005, p.76)

Assim, no eixo das políticas sociais, através de seus programas e projetos, tais

ofertas não conseguem dar respostas as desigualdades, tendo em vista as explorações

que pesam sobre nossas vidas. Vale ressaltar que são as mulheres negras, pobres e

chefes de família que são as maiores beneficiárias dessa política, contudo, entre o

mínimo e o básico social, o Estado tem se desresponsabilizado mediante o modelo

econômico e político vigente que produz políticas com teor focalista, ainda que essas

estejam garantidas em sua plataforma de políticas públicas.

Como bem observa a autora:

Sendo assim, mínimo e básico, ao contrário do que tem sido apressada e mecanicamente inferido do texto da LOAS, são noções assimétricas, que não guardam, do ponto de vista empírico, conceitual e político, compatibilidades entre si. Isso nos leva a concluir que, para que a provisão social prevista na LOAS seja compatível com os requerimentos das necessidades que lhe dão origem, ela tem que deixar de ser mínima ou menor, para ser básica, essencial, ou precondição à gradativa otimização da satisfação dessas necessidades. Só então será possível falar em direitos fundamentais, perante aos quais todo cidadão é titular, e cuja concretização se dá por meio de políticas sociais correspondentes. Pois aqueles que não usufruem bens e serviços sociais básicos ou essenciais, sob a forma de direitos, não são capazes de se desenvolverem como cidadãos ativos, conforme preconiza a própria LOAS. (PEREIRA, 2011, p.27)

Diante da exposição da autora, reflito que, ainda que o básico venha ser

contemplado, nós, mulheres negras, podemos ser reparadas, no que diz respeito às

desigualdades que recaem sobre nossa trajetória de vida? Na vida de nossas famílias?

As políticas de cunho neoliberais podem dar respostas há séculos de opressão e

exploração?

É preciso contestar as políticas que dialogam com o patriarcado e o capitalismo, já

que essas incidem com intuito de anular a postura crítica das mulheres negras

postulando e retroalimentando um sistema de produção e reprodução das desigualdades,

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que contribuem para a opressão, subalternidade e exploração das forças de trabalho

feminina.

Porém, como relata Pinheiro (2006),

Estamos sob a margem da exclusão no que se refere aos direitos masculinos, assim, tendo como ponto de referência a mulher e, sobretudo, a mulher negra, a própria desvantagem que engloba o contexto sócio-histórico, econômico-cultural, visando à materialização da má distribuição de renda ao adentrar no mercado de trabalho, a mulher negra está longe da qualificação exigida, uma vez que antes de ser trabalhadora no espaço público, passou anos e anos dentro do espaço privado atendendo as necessidades de sua família e, nessa realidade, sofreu e sofre violência doméstica do seu cônjuge, que apenas visualiza sua companheira para satisfazê-lo sexualmente e reproduzir-se como papel de mãe. Para tanto, a mulher oprimida, subalternizada, vivendo infinitos tipos de violência dentro do espaço privado e ao sair desse cenário tentando vender a sua força de trabalho no universo público, encontra-se meramente excluída e, ausente da qualificação exigida do contexto capitalista, sendo assim, o que lhe resta é o mercado informal ou o doméstico, ambos na sua maioria consolidando a marca de exploração, subalternidade e opressão. (PINHEIRO, 2006, [s/p])

Falar da historicidade da mulher negra, é falar da tripla jornada de trabalho, da

invisibilidade e marginalidade na sociedade brasileira e nas assimetrias das relações

sociais e de gênero, é gritar, e muitas vezes não sermos ouvidas, é ter seu/nosso

protagonismo ignorado mediante as raízes da desigualdade, é travar lutas para

demarcar seu espaço e resistir às dores sofridas, tanto pelo machismo, quanto pelas

próprias mulheres brancas que ignoraram as demandas das mulheres negras no

interior do movimento feminista, e nessa esfera, foi preciso destacar a voz de

Matilde Ribeiro (1995) quando refere-se, ao pensamento de Gonzales:

Foram muitas e repetidas vozes buscando desvendar o que se quer dizer com especificidades quais os diferenciais entre as mulheres brancas e negras. Gonzales demonstrou em alguns aspectos como a mulher negra é vista em nossa sociedade. Para nós o racismo constituiu uma sintomática que caracteriza a neurose cultural brasileira. Nesse sentido veremos que sua articulação como sexismo produz efeitos de violência sobre a mulher negra. (RIBEIRO, 1995, p.447)

Diante disso, entender que no cerne dessa discussão postulando a nossa história,

nós mulheres negras, fomos condicionadas nos moldes patriarcais contaminados, tanto

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na ciência androcêntrica, como na própria construção social, econômico e histórico

desse país e da sociedade.

Essa contaminação traz sequelas que ainda não foram cicatrizadas, nos ferem

através do machismo, sexismo, do racismo arraigado na estrutura ideológica do

discurso atribuído a subalternidade dos homens negros e com mais ênfase a nós

mulheres negras, assim, trago as colocações políticas afirmativas de Sueli Carneiro

(1985) quando ela aborda o conceito de Gênero e Raça na democracia da sociedade

brasileira.

[...] em função dessas condições, para analisar a construção de gênero e raça na sociedade brasileira deparamos com inúmeros entraves que dificultam qualquer tipo de levantamento histórico, devido à escassez de documentos oficiais. O tema é pouco mencionado e quando encontramos alguma referência na literatura, em especial sobre a mulher negra, a abordagem é tendenciosa, pois traz implícitas as impressões de quem produz. (CARNEIRO, 1985, p.169)

O impacto dessa construção também tem a ver com o direcionamento das

políticas sociais, a fim de reparar as sequelas da exclusão social, na tentativa de reduzir

a desigualdade das mulheres negras ao mercado de trabalho, toda via, é de extrema

importância atentar-se no direcionamento dessas políticas de inclusão produtiva, a

mesma traz diretrizes com a finalidade de relegar a mão de obra feminina negra nos

espaços de trabalhos.

MULHERES NEGRAS, LIBERDADE AINDA É LUTAR

Investindo contra várias formas de silenciamento, as mulheres negras continuam buscando se fazerem ouvir na sociedade brasileira, conservadora de um imaginário contra o negro. Imagens nascidas de uma sociedade escravocrata perpassam, até hoje, profundamente, pelos modos das relações sociais brasileiras (EVARISTO, 2005, p.205).

A força política do feminismo negro foi fundamental para que as pautas das

mulheres pretas constituíssem na plataforma política do Estado. Com isso, reafirmo que

o pessoal sempre desencadeou de forma política no universo das mulheres negras, a

esfera privada já fazia parte do cenário público e político, uma vez que, nossas lutas

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vêm desde a escravidão e, ainda hoje, resistimos às diversas estratégias perversas de

exclusão presente no capitalismo e patriarcado, principalmente, nas relações de gênero,

classe e raça em meio à sociedade e nas relações internas do próprio movimento das

mulheres.

Assim, ressalto as contribuições de Sueli Carneiro (2003) em seu artigo

elucidador Mulheres em Movimento.

Enegrecendo o feminismo é a expressão que vimos utilizando para designar a trajetória das mulheres negras no interior do movimento feminista brasileiro. Buscamos assinalar, com ela, a identidade branca e ocidental da formulação clássica feminista, de um lado; e, de outro, revelar a insuficiência teórica e prática política feminista para integrar as diferentes expressões do feminino construídos em sociedades multirraciais e pluriculturais. Com essas iniciativas, pôde-se engendrar uma agenda específica que combateu, simultaneamente, as desigualdades de gênero e intragênero; afirmamos e visibilizamos uma perspectiva feminista negra que emerge da condição específica do ser mulher, negra e, em geral, pobre, delineamos, por fim, o papel que essa perspectiva tem na luta anti-racista no Brasil. (CARNEIRO, 1985, p.118)

Essas e outras opressões configuram-se de maneira simbólica e material,

aplaudida e concretizada pelo machismo e racismo que ao longo da escravidão surge

reverberando a exclusão e a desigualdade social, incidindo com muito mais ênfase sobre

o sexo feminino. O conjunto de explorações está ancorado nesses indicadores,

enraizados como um câncer que prolifera-se atendendo paulatinamente a um

comportamento raivoso proveniente da escravidão nunca adormecida, e que,

portanto, emerge e reproduz nas instituições, nas sociedades, nas esferas públicas e

privadas, (re)configurando-se no tempo e espaço com novos modelos de

reformulações.

A nova prática conduzida com o mito da democracia racial, que nada mais é,

um discurso competente e tendencioso para invisibilizar, naturalizar e marginalizar

nossas participações em determinados espaços, na tentativa de calar a nossa voz,

essa que grita pelas marcas da violência na escravidão, essas cicatrizes ainda

inflamadas na alma, que jorra sangue no olhar, quando nos deparamos com

determinadas mazelas sociais.

Assim, quando as pesquisas mostram que as mulheres negras estão em

desvantagens no mercado de trabalho, devido ao quesito cor, classe e geração, Hooks

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(2000, p.195-196) refere que, “apenas se analisando o racismo e sua função na

sociedade capitalista é que pode surgir uma compreensão profunda das relações de

classe. A luta de classes está indissoluvelmente ligada à luta para acabar com o

racismo”.

Lélia González (1988) trouxe a reflexão e a necessidade do olhar crítico

afirmando que:

Porém, para o movimento negro, o momento é muito mais de reflexão do que celebração. Reflexão, por que o texto da Lei de 13 de maio de 1988 (conhecida como lei Áurea), simplesmente declarou extinguida a escravidão, cancelando todas as disposições contrárias e nada mais. Para os outros, mulheres e homens negros nossas lutas pela libertação começou muito antes deste ato de formalidade jurídica e existentes nos diais de hoje. (GONZÁLEZ, 1988, p.133)

É nesse viés, que temos que nos fortalecer, o grito das mulheres negras em

movimento, ecoam na perspectiva de resistir contra qualquer tipo de discriminação

oriunda do Estado, indissociável, do capitalismo patriarcal, das ciências, tendo em vista,

o androcentrismo, que invisibilizou a história das mulheres, como marginalizou a

história e a vida das mulheres negras no passado refletindo em tempos atuais.

Os nossos corpos, objetificados em mercadorias, assinalando a

hipersexualização arraigado nas sociedades indissociável do machismo, do racismo, da

misoginia, do sexismo. Experimento a dor e a resistência de Elza Soares ‘rasgar’ sua

voz, denunciando a acumulação e a perversidade do capitalismo desenfreado, quando

grita cantando “A carne mais barata do mercado, é a carne negra” [...]. Nessa frase,

podemos exemplificar tudo o que foi construído e denunciado sobre a nossa história,

marcada de exclusão, violência, opressão e exploração.

Imprimo o pensamento de Audre Lorde (1984),

Porém nossa sobrevivência futura depende de nossa capacidade para nos relacionarmos em um plano de igualdade. Se nós mulheres desejamos conseguir uma mudança social que não seja em aspectos meramente superficiais, devemos arrancar pela raiz os modelos de opressão que temos interiorizado. Devemos reconhecer as diferenças que nos distinguem de outras mulheres que são iguais a gente, nem inferiores e nem superiores, e desenhar os meios que nos permitam utilizar as diferenças para enriquecer nossa visão e nossas lutas comuns. (LORDE, 1984, p.114-123)

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A importância de identificar e reconhecer nossas diferenças, no tocante a

interseccionalidade, faz com que, nós, mulheres negras, acionemos aquilo que nos

fortalece, vez que, quando não reconhecemos nossas diferenças, permanecemos na

condição de aceitar o que está no construto social, no “modus operandi”, portanto, se

nos furtarmos de reivindicar aquilo que nos foi negado, corremos o risco de aceitarmos

com naturalidade o que supostamente nos destituiu de nossos direitos ao longo da nossa

história.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Assim, as heranças escravocratas repercutem na conjuntura atuando nas

discriminações impedindo a igualdade e justiça social de homens e mulheres nesse país.

Ainda há muitos “nós” para serem desatados, problematizar, contestar e intervir, é dizer

que não queremos estar aonde a história nos acorrentou, é escrever, e dar continuidade a

uma história de luta e resistência construída pelas mãos de tantas mulheres negras, que

não se calam frente às desigualdades, portanto, é instigante, legitimar o uso das lentes

de gênero de forma crítica-reflexiva para perceber quão estamos em desvantagens nas

relações sociais, nas relações de trabalho, nas imagens de controle que reforçam o lugar

onde nós, não queremos permanecer.

A imagem concebida na vida real reflete o que não queremos ver, apesar dos

poucos, ainda que significativos avanços, esses reflexos, conservar-se fortalecidos,

quando não adotamos as interseccionalidades, um posicionamento político, pois, nos

confere diferentes vulnerabilidades, advertimos ainda, na ausência de consciência crítica

para lutar contra todos os tipos de mazelas oriundas das classes dominantes, nesse

contexto, sobre a reflexão de Lorde (1984),

Aquelas de nós que estão fora do círculo do que essa sociedade define como mulheres aceitáveis, aquelas de nós que foram forjadas nos caldeirões da diferença – aquelas de nós que somos pobres, que somos lésbicas, que somos Negras, que somos velhas – sabemos que sobrevivência não é uma habilidade acadêmica. É aprender a estar sozinha, impopular e às vezes insultada, e a fazer causa comum com aquelas outras identificadas como externas às estruturas, para definir e buscar um mundo no qual todas nós possamos florescer. É aprender a tomar nossas diferenças e torná-las forças. Pois as ferramentas do senhor nunca vão desmantelar a casa-grande. (LORDE, 1984, p.111)

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Com toda conjuntura negativa do contexto histórico do racismo ainda perpetrado

no Brasil, nós resistimos engajadas com a luta do movimento negro, ancoradas com o

pensamento feminista negro que culminou em diversas ações de políticas afirmativas.

De certo, não sejamos passivas ou ingênuas diante das diversas opressões, pois, a

anulação da consciência avança para prevalecer o lado dos opressores, daqueles que

construíram a direção para nos projetar a margem das desigualdades nas diferenças dos

sexos a partir da dominação masculina, que alimenta a conjuntura política, econômica e

social.

A chaga aberta do racismo e sexismo se arvoram em proferir ideologia de uma

sociedade racista e fascista que constrói de maneira estratégica a perpetuação e

reprodução do mito da igualdade racial. Assim, quando olho para dentro de mim, e para

meus pares, vejo as mulheres cotidianamente na labuta da sobrevivência. Deste modo,

corroboro com Jurema Werneck (2010) que afirma, “NOSSOS PASSOS VÊM DE

LONGE”.

Contudo, problematizar e combater as ações racistas e sexista do Estado tem sido

um trabalho contínuo do movimento de mulheres negras, haja vista, que o racismo

estrutural é um elemento fundante para as desigualdades, em âmbitos sociais,

econômicos, políticos e culturais, que operam para materializar as hierarquias das

relações sociais e de gênero de maneira, em que as mulheres negras, não problematizem

já que estão sendo inseridas no mercado de trabalho independente da condição que

foram relegadas. Portanto, ainda que o capitalismo patriarcal ambicione nos conduzir à

pauperização, a margem da sociedade, ainda assim, nós resistimos, quebrando os

paradigmas e avançando nas lutas, pois o significado de liberdade, ainda é lutar.

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