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VIABILIDADE ECONÔMICA PARA IMPLANTAÇÃO DE REPOLHO ORGÂNICO
EM SISTEMA DE PLANTIO DIRETO NA PALHA
Sthefani Gonçalves de Oliveira¹, Lucas Ferenzini Alves², Henri Cócaro³, Marcos Luiz
Rebouças Bastiani4, José Olívio Vieira Júnior
5, Vinícius Candian Marques
6, Lucas Soares
Brangioni7
1Estudante de Mestrado Agronomia/Horticultura – UNESP Campus Botucatu; 2Estudante de Graduação em Agroecologia –
IF do Sudeste de Minas Gerais Campus Rio Pomba; 3Professor do IF do Sudeste de Minas Gerais Campus Rio Pomba; 4Professor do IF do Sudeste de Minas Gerais Campus Rio Pomba ; 5Estudante de Graduação em Agroecologia – IF do
Sudeste de Minas Gerais Campus Rio Pomba; 6Estudante de Graduação em Agroecologia – IF do Sudeste de Minas Gerais Campus Rio Pomba; 7Estudante de Graduação em Agroecologia – IF do Sudeste de Minas Gerais Campus Rio Pomba
RESUMO: A pesquisa foi implantada no IF Sudeste MG – Campus Rio Pomba no ano de
2011 e teve como objetivo estudar a viabilidade econômica do cultivo de repolho orgânico em
sistema de plantio direto na palha de sorgo considerando um módulo de 216m². Como
metodologia o trabalho utilizou técnicas de análise de projetos como Valor Presente Líquido,
Taxa Interna de Retorno e relação Benefício/Custo (B/C) cujos resultados demonstraram a
viabilidade da cultura sob a perspectiva econômica.
PALAVRAS CHAVE: Viabilidade econômica, produtos orgânicos, agricultura familiar.
ABSTRACT: The survey was deployed in Southeast IF MG - Campus Pigeon River in 2011
and aimed to study the economic feasibility of growing cabbage in organic no-till system in
sorghum straw considering a module of 216m ². As the work methodology used analysis
techniques projects like Net Present Value, Internal Rate of Return and relationship Benefit /
Cost (B / C) the results demonstrate the viability of culture in the economic outlook.
KEY-WORDS: Economical viabilility, organic products, family agriculture.
INTRODUÇÃO
O setor agrícola sofreu grandes impactos com a implantação da revolução verde,
acompanhando o aumento do rendimento físico e da produtividade do trabalho para as
grandes propriedades; segue o intenso êxodo rural, desemprego rural, reconcentração de terras
e renda, desgastes ambientais e expansão da fronteira agrícola. Através da revolução verde
houve a disseminação de técnicas agrícolas desenvolvidas nos países centrais para os países
periféricos. Esse pacote tecnológico, exportado para o Brasil, tinha como objetivo aumentar a
produtividade das lavouras destinadas ao mercado externo ou a produção em escala para o
mercado interno a fim de abastecer o setor de transformação (SILVA, 2008).
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O meio rural vem passando por profundas transformações sociais nos últimos vinte
anos, explicadas em parte, pelo avanço do sistema capitalista frente às atividades agrárias
modernizando a agricultura, e propiciando a presença das atividades não-agrícolas no meio
rural (SILVA, 2008).
As áreas cultivadas sob o sistema de plantio direto vêm sendo incrementadas
gradativamente e sucessivamente, principalmente pelos produtores do sul do Brasil. Esse
sistema de manejo do solo tem apresentado resultados animadores na contribuição para
melhoria das características químicas e biológicas do solo, assim como grande redução da
erosão do solo (SECCO, 2003). Este, quando conduzido adequadamente, com emprego de
plantas de cobertura adaptadas regionalmente, conduzidas em rotação com cultivos
comerciais, permite maior diversificação, menores riscos de ataques de pragas e doenças,
melhor aproveitamento dos nutrientes, maior diversidade biológica e maior rentabilidade, com
consequente melhoria das condições socioeconômicas do produtor rural (ALMEIDA, 2004).
Segundo Filgueira (1982), das espécies oleráceas cultivadas no Brasil, as brassicáceas
constituem a família mais numerosa, destacando-se na região centro-sul. As mais cultivadas
são o repolho, a couve-flor, a couve-manteiga e o brócolis. Por isso há uma grande
necessidade de estudos que envolvem essas hortaliças.
A viabilidade econômica da adoção do sistema de plantio direto na produção de
hortaliças é importante para garantir se o método realmente reduz o custo de preparo do solo,
o uso de fertilizantes e se há também a redução de mão-de-obra e muitas vezes a eliminação
do uso de herbicidas no controle de plantas invasoras, devido à presença de palha na
superfície do solo (SECCO, 2003).
MATERIAL E MÉTODOS
O experimento foi realizado no Setor de Horticultura do IF-SEMG- RP, localizado no
campus da própria instituição. O clima, segundo a classificação de Köppen, enquadra-se no
tipo Cwa, com temperatura média anual de 19,4ºC e precipitação média anual de 1.221mm,
numa altitude de 452 metros. Foi realizado em duas etapas: a primeira, constituída pelas
plantas de cobertura de verão (sorgo - Sorghum bicolor) como pré-cultivo para formação de
palhada (novembro de 2010 a março de 2011) e a segunda, com o cultivo de hortaliças da
família das brassicaceae (repolho) cultivada sobre os restos culturais (palha) para avaliar o seu
potencial produtivo sob o sistema de plantio direto agroecológico.
O delineamento experimental utilizado foi de blocos ao acaso com quatro repetições em
uma área de 216m² com 432 plantas.
A análise de viabilidade econômica foi feita durante todo o processo de produção, desde
investimentos iniciais até a venda do repolho orgânico.
A avaliação econômica de um projeto baseia-se em seu fluxo de caixa, que consiste nos
custos e nas receitas distribuídos ao longo da vida útil do empreendimento. A análise de
viabilidade econômica foi dividida em duas fases.
Na primeira fase foi utilizado o método da orçamentação para determinação do custo de
implantação seguindo as orientações de Magalhães (1999). Na segunda fase, seguiram-se as
orientações de Buarque (1984) para realização da análise financeira de projetos valendo-se
dos resultados dos indicadores econômicos Valor Presente Líquido (VPL), Taxa Interna de
Retorno (TIR) e Relação entre o Benefício e o Custo (B/C).
O VPL positivo representa um projeto viável e, comparando-se dois projetos, aquele
com maior VPL seria o mais viável. A TIR é aquela taxa de retorno que torna o VPL do fluxo
de caixa da atividade econômica nulo, sendo determinante da taxa de remuneração do capital
investido. A relação Benefício-Custo (B/C) quando maior que 1 indica que a atividade é
rentável.
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RESULTADOS E DISCUSSÕES
Os resultados esperados para implantação do repolho orgânico, desde a fase de
investimentos iniciais até a venda do repolho orgânico estão demonstrados ao longo da
discussão.
Custos de Implantação
Para determinação do custo de implantação total de um módulo de 216 m² de repolho
orgânico em plantio direto foram calculados separadamente: os custos com o uso da mão-de-
obra e os custos diretos. O custo com a mão de obra foi de R$ 248,40 referente a 8,28
dias/homem considerando uma jornada de 8 horas de trabalho por dia para determinação dos
cálculos e custo da diária de R$ 30,00. O custo direto de implantação foi de R$ 158,40 e
considerou os insumos e serviços necessários. Somando-se o custo de mão-de-obra com o
custo de implantação obteve-se o custo de implantação total de R$ 406,80 para o módulo de
216m² de repolho orgânico.
Custos de manutenção
Para determinação das despesas (Custos de manutenção) estas foram divididas em duas
partes: custo direto de mão de obra e custo direto de insumos e serviços. As atividades de
manutenção que compuseram o custo de mão de obra total envolveram capinas e aplicação de
adubação orgânica. Para sua determinação estimou-se que esse custo seria uma porcentagem
do custo de implantação variando a cada ano de acordo com a estabilização do plantio direto
na palha do repolho. As atividades de manutenção equivaleram 7,25 dias/homem o que fez
com que o custo de mão de obra fosse de R$ 217,50, considerando o custo da diária de
R$30,00.
Os insumos e serviços que compuseram o custo direto para manutenção de 216m² de
plantio direto do repolho foram obtidos através do método de orçamentação, pesquisando-se
as praças de Belo Horizonte, Rio Pomba, Juíz de Fora e região. A quantidade de adubação
orgânica requerida foi de 0,172 Toneladas, obtendo-se R$ 18,40 como total de insumos e
serviços.
Portanto, para obtenção do total do custo com a manutenção de um módulo de 216m² de
plantio direto de repolho para um horizonte de 5 anos, foram somados os custos diretos de
mão-de-obra com os custos diretos de insumos e serviços obtendo-se o total de R$ 235,90.
Receitas (Prospecção de vendas)
Para a prospecção das receitas de vendas, foram consultadas as metodologias utilizadas
por Feiden (2001) e elaborados os seguintes passos:
Pesquisa de preços de venda dos produtos e conversão para preço/kg. Em 2011 o
preço por kg de repolho orgânico obtido na praça de Rio Pomba e Barbacena era R$
1,50;
Determinação da produtividade por hectare de repolho, considerando-a em
monocultura comercial e simulação dessa produtividade, em kg/hectare para cultura
orgânica de um módulo - 23000 kg/há (OLIVEIRA, F. L. et al., 2003);
Tabulação das receitas estimadas: considerando que no ano 1 (2011) a produtividade
das culturas seria de 100%. No ano 2 (2012) a produtividades proposta foi de 110%,
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no ano 3 (2013 a produtividade foi de 90% e nos demais anos o repolho estabilizaria
com 100% da produtividade. A partir dessa parametrização, as estimativas de receitas
para o módulo foram calculadas gerando uma média de R$ 745,20/ano de receita
bruta.
Para a visualização das entradas, saídas e saldos foi elaborado o fluxo de caixa do
projeto (Quadro 1). Para Thiesen (2000) o fluxo de as demonstrações do fluxo de caixa
permitem mostrar, de forma direta ou mesma indireta, as mudanças que tiveram reflexo no
caixa, suas origens e aplicações.
Quadro 1: Estimativa do fluxo de caixa para um módulo de 216m² para repolho orgânico
(valores em R$ de junho de 2011)
DESCRIÇÂO ANO 1
2011
ANO 2
2012
ANO 3
2013
ANO 4
2014
ANO 5
2015
MÉDIA
ANO
1. SALDO R$ 0,00 R$ 1.280,55 R$ 1.093,11 R$ 1.527,89 R$ 2.037,18
ENTRADAS
Aquisição de crédito R$ 771,25
Receitas de vendas R$ 745,20 R$ 819,72 R$ 670,68 R$ 745,20 R$ 745,20 R$ 745,20
2. TOTAL DE ENTRADAS
R$ 1.516,45 R$ 819,72 R$ 670,68 R$ 745,20 R$ 745,20
SAÍDAS
Pagamento de
crédito R$ 771,25
Total do módulo R$ 235,90 R$ 235,90 R$ 235,90 R$ 235,90 R$ 235,90 R$ 235,90
3. TOTAL DE
SAÍDAS R$ 235,90 R$ 1.007,15 R$ 235,90 R$ 235,90 R$ 235,90
4. SALDO FINAL ACUMULADO
R$ 1.280,55 R$ 1.093,11 R$ 1.527,89 R$ 2.037,18 R$ 2.546,48
Fonte: Dados da pesquisa (2011)
A análise do fluxo de caixa também permite notar que o saldo final do projeto se
mostrou positivo desde o primeiro ano e o seu saldo acumulado sempre aumentou
demonstrando que a partir dos custos e prospecções de receitas consideradas a indicação de
viabilidade do projeto sob a perspectiva econômica. A média do resultado anual foi de R$
509,30 resultante da diferença entre a média das receitas de vendas e a do total do módulo.
Indicadores de Viabilidade Econômica
O VPL com taxa de desconto de 12% ano apresentou resultado de R$3.307,52
indicando viabilidade para a sua execução. A TIR apresentou resultado de 58% superando
também a taxa de mercado considerada (12% ao ano) e aponta que é mais interessante investir
no projeto de plantio de repolho orgânico do que aplicar no mercado financeiro. O resultado
de R$ 1,91 centavos da relação B/C é superior a 1 e indica que atividade é rentável segundo
as prospecções planejadas.
Quadro 2: Indicadores de viabilidade econômica para um módulo de 216m² para repolho
orgânico
INDICADORES DE VIABILIDADE ECONÔMICA
Valor Presente Líquido (VPL) R$ 3.307,52
Taxa Interna de Retorno(TIR) 58%
Relação Benefício/Custo (B/C) R$ 1,91
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Fonte: Dados da pesquisa (2011)
CONCLUSÃO
Na implantação de um módulo de 216m² de repolho orgânico em sistema de plantio
direto na palha, a análise de viabilidade econômica se mostrou positiva, sendo viável a
implantação deste. Os indicadores econômicos pesquisados (VLP, TIR, B/C) foram essenciais
para a conclusão dessa análise. De acordo com as prospecções de receitas, o agricultor poderá
ter uma receita média bruta de R$ 745,20/ano.
A receita bruta do agricultor está boa, pois essa renda é somente do plantio do repolho,
podendo ele estar produzindo outras culturas e não dependendo exclusivamente desta renda.
Sem contar, que com esse sistema de plantio o agricultor e sua família desfrutam de uma
melhor alimentação e um maior cumprimento da responsabilidade social e ambiental, pois
produz de maneira sustentável.
Esse resultado não é muito expressivo quando considera-se apenas uma cultura em um
ano inteiro, porém, sabe-se que as unidades de produção familiar que trabalham com produtos
orgânicos compõem a sua receita a partir da diversificação da produção. Sendo assim
entende-se que os resultados do fluxo de caixa e a análise de viabilidade econômica são
complementados pelos resultados de outras culturas da unidade de produção.
É importante observar também que houve a valoração da mão de obra familiar para a
composição dos cálculos (R$ 30,00). Na prática essa valor não é desembolsado pelo
agricultor o que, portanto, aumenta o valor do resultado. Na simulação sem essa valoração a
média do resultado anual sobre de R$ 509,30 para R$ 726,80. Esse sistema também
possibilita ao agricultor e sua família desfrutarem de uma melhor alimentação e o
cumprimento da função social e ambiental da unidade de produção rural, pois aplica
princípios de agricultura ecológica.
O cultivo do repolho em plantio direto proporciona para o solo melhores condições
(umidade, fertilidade, ciclagem de nutrientes), elimina o uso de dessecantes sintéticos e
protege contra erosão, assim possibilitando uma alta produtividade e tornando a atividade
rentável. Outro ponto positivo deste método é a supressão de plantas espontâneas de forma
natural ou pela alelopatia (da planta de cobertura sobre as plantas espontâneas). A
possibilidade de produzir um alimento agroecológico, com preocupação sócio-ambiental e
rentável, é o que torna esse método eficiente.
Tal possibilidade em conjunto com a criação e fortalecimento de programas municipais
e/ou regionais de comercialização da agricultura familiar podem potencializar a produção de
alimentos orgânicos constituindo-se em ações econômicas, ecológicas e socialmente viáveis
ao aumento do emprego, da produção e da renda dos produtores rurais.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Curso para instrutores em manejo e conservação do solo. Ponta Grossa: Iapar/Emater, p. 123-
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