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>>> Simulação Outubro 2018 - 29 ando continuidade ao artigo Viabilização Econômica no Forjamento com o Auxílio de Simulação, apresen- tamos aqui a terceira e última parte. As duas anterio- res podem ser encontradas na Banca Digital do Portal Aquecimento Industrial, no endereço https://www.aquecimentoin- dustrial.com.br/banca-digital/revista-forge. 3.2.Nova rota de processo do “Garfo” A partir de um modelo de simulação computacional validado e, portanto, confiável, desenvolveu-se um novo projeto de processo de fabricação da peça “Garfo”. A metodologia utilizada no desenvolvi- mento do processo foi baseada no fluxograma apresentado na Fig. 10. Após uma série de iterações de simulações para várias pré-formas idealizadas, conseguiu-se desenvolver uma rota de fabricação confor- me os resultados mostrados na Fig. 13 a Fig. 16. Resumidamente, o tarugo inicial foi substituído por outro com menor diâmetro e maior comprimento. Posteriormente, o tarugo a quente foi conformado na direção radial em 3 estágios sequenciais (Fig. 13 a Fig. 15), sendo sub- metido a um quarto estágio de dobramento (Fig. 16). Finalmente, a pré-forma proposta foi satisfatoriamente forjada por martelamento (simulação), conforme mostrado na Fig. 17. Não foram observados defeitos de forjamento durante a simulação, como “dobras”, e principalmente, houve uma redução significativa no número de golpes de forjamento passando de 13 golpes para 2 golpes. Além disso, a ausência de uma região central no produto forjado (Fig. 9a) eliminou a etapa de usinagem da mesma, a qual levava em média 30 minutos para ser realizada. Soma-se tudo isso a significativa redução no tamanho do tarugo inicial, passando de Stemler, P. M. A. - SIXPRO Virtual&Practical Process, Belo Horizonte (MG) Haase, O. C. - SIXPRO Virtual&Practical Process, Belo Horizonte (MG) Oliveira, F. S. - Forjaria Parceira da SIXPRO, São Paulo (SP) Oliveira, S. F. - Forjaria Parceira da SIXPRO, São Paulo (SP) Lobenwein, R. R. - SIXPRO Virtual&Practical Process, Belo Horizonte (MG) Duarte, A. S. - SIXPRO Virtual&Practical Process, Belo Horizonte (MG) Uma boa previsão da realidade através de simulação depende, necessariamente, da elaboração de um modelo correto e confiável. Por meio de um procedimento metódico, foi possível viabilizar, tecnicamente, a fabricação de um componente pelo processo de forjamento. Vale ressaltar que a prática da simulação em empresas de forjamento não pode ser restrita a aquisição de um software comercial somente. É necessário embasamento teórico consistente por parte dos operadores do software. Viabilização Econômica no Forjamento com o Auxílio de Simulação - Parte III Fig. 13. Simulação do primeiro estágio da pré-forma: vistas (a) isométrica e (b) lateral (a) (b) D

Viabilização Econômica no Forjamento com o Auxílio de … · 2018. 12. 20. · forjamento não pode ser restrita a aquisição de um software comercial somente. É necessário

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  • >>> Simulação

    Outubro 2018 - 29

    ando continuidade ao artigo Viabilização Econômica

    no Forjamento com o Auxílio de Simulação, apresen-

    tamos aqui a terceira e última parte. As duas anterio-

    res podem ser encontradas na Banca Digital do Portal

    Aquecimento Industrial, no endereço https://www.aquecimentoin-

    dustrial.com.br/banca-digital/revista-forge.

    3.2.Nova rota de processo do “Garfo”

    A partir de um modelo de simulação computacional validado e,

    portanto, confiável, desenvolveu-se um novo projeto de processo de

    fabricação da peça “Garfo”. A metodologia utilizada no desenvolvi-

    mento do processo foi baseada no fluxograma apresentado na Fig.

    10. Após uma série de iterações de simulações para várias pré-formas

    idealizadas, conseguiu-se desenvolver uma rota de fabricação confor-

    me os resultados mostrados na Fig. 13 a Fig. 16. Resumidamente, o

    tarugo inicial foi substituído por outro com menor diâmetro e maior

    comprimento. Posteriormente, o tarugo a quente foi conformado na

    direção radial em 3 estágios sequenciais (Fig. 13 a Fig. 15), sendo sub-

    metido a um quarto estágio de dobramento (Fig. 16).

    Finalmente, a pré-forma proposta foi satisfatoriamente forjada

    por martelamento (simulação), conforme mostrado na Fig. 17.

    Não foram observados defeitos de forjamento durante a simulação,

    como “dobras”, e principalmente, houve uma redução significativa

    no número de golpes de forjamento passando de 13 golpes para 2

    golpes. Além disso, a ausência de uma região central no produto

    forjado (Fig. 9a) eliminou a etapa de usinagem da mesma, a qual

    levava em média 30 minutos para ser realizada. Soma-se tudo isso

    a significativa redução no tamanho do tarugo inicial, passando de

    Stemler, P. M. A. - SIXPRO Virtual&Practical Process, Belo Horizonte (MG)Haase, O. C. - SIXPRO Virtual&Practical Process, Belo Horizonte (MG) Oliveira, F. S. - Forjaria Parceira da SIXPRO, São Paulo (SP) Oliveira, S. F. - Forjaria Parceira da SIXPRO, São Paulo (SP)Lobenwein, R. R. - SIXPRO Virtual&Practical Process, Belo Horizonte (MG) Duarte, A. S. - SIXPRO Virtual&Practical Process, Belo Horizonte (MG)

    Uma boa previsão da realidade através de simulação depende, necessariamente, da elaboração de um modelo correto e confiável. Por meio de um procedimento metódico, foi possível viabilizar, tecnicamente, a fabri cação de um componente pelo processo de forjamento. Vale ressal tar que a prática da simulação em empresas de forjamento não pode ser restrita a aqui sição de um software comercial somente. É necessário embasamento teórico consistente por parte dos operadores do software.

    Viabilização Econômica no Forjamento com o Auxílio de Simulação - Parte III

    Fig. 13. Simulação do primeiro estágio da pré-forma: vistas (a) isométrica e (b) lateral

    (a)

    (b)

    D

  • >>> Simulação

    30 - Outubro 2018

    aproximadamente 38,5 para em torno de 30 Kg, reduzindo o custo

    de matéria prima, o tempo de usinagem de acabamento e a quanti-

    dade de material sucateado.

    Frente às novas cargas necessárias para o novo processo e aos

    recursos da forjaria, observou-se a possibilidade de se substituir o

    martelamento pela prensagem. Entretanto, para fins de compara-

    ção econômica simplificada neste artigo, manteve-se a opção pelo

    processo de martelamento.

    3.3.Viabilização econômica

    Baseado em todos os ganhos descritos no Item 3.2, obteve-se uma

    redução de 33% no custo de fabricação da peça “Garfo”. No cálculo,

    considerou-se apenas as operações com reduções de custo mais ex-

    pressivas, sendo essas os casos da “obtenção da matéria prima”, do

    “forjamento” e da “usinagem da região central”. A Tabela 6 mostra,

    comparativamente, os principais custos relativos de fabricação para

    os processos “anterior” e “novo”.

    Como panorama geral de todo desenvolvimento do processo, a

    Tabela 7 mostra a evolução das peças forjadas a partir das 3 tentativas

    realizadas, descritas no Item 3.2. Observa-se que a Tentativa 3, dotada

    de uma abordagem via simulação, propiciou uma viabilização econô-

    mica da peça “Garfo”.

    Fig. 15. Simulação do terceiro estágio da pré-forma: vistas (a) isométrica e (b) lateral

    (a)

    (b)

    Fig. 14. Simulação do segundo estágio da pré-forma: vistas (a) isométrica e (b) lateral

    (a)

    (b)

    Fig. 16. Simulação do quarto estágio da pré-forma: vistas (a) isométrica e (b) lateral

    (a) (b)

    Fig. 17. Produto semiacabado obtido ao fim da simulação de forjamento

    (a) (b)

    Tabela 6. Comparação no custo de fabricação relativo ao custo total anterior

    OperaçãoCustos Relativos Redução

    ConsideradaAnterior Novo

    Matéria Prima 30,5% 24,0% Volume

    Cortar 1,4% 1,4% Não considerado

    Forjar / Rebarbar 18,9% 5,1% Quantidade de golpes

    Têmpera e Revenimento 6,6% 6,6% Não considerado

    Jatear 0,4% 0,4% Não considerado

    Usinagem Central 12,9% 0,0% Tempo de usinagem

    Usinagem Acabamento 29,4% 29,4% Não considerado

    Total 100% 66,7%

  • >>> Simulação

    Outubro 2018 - 31

    Foi possível, portanto, compreender

    a importância do uso de ferramentas de

    simulação computacional com foco nos

    resultados econômicos da indústria do

    forjamento. Assim, ficou estabelecida uma

    nova metodologia de formação de preço e

    conclusão de vendas para peças conformadas

    por forjamento. Essa nova metodologia con-

    sidera, principalmente, a etapa de “simulação

    do processo previsto” para uma determinada

    peça solicitada pelo cliente. Essa etapa visa

    a validar o processo previsto, com fins na

    maior assertividade na formação de preço

    do produto. Exemplificando, a quantidade

    de golpes de forjamento em um processo

    por martelamento possui influência direta

    no custo do processo como um todo. A Fig.

    18 mostra um fluxograma idealizado para a

    formação de preços de peças forjadas.

    4. Considerações Finais

    Por meio de um procedimento metódico

    foi possível viabilizar, tecnicamente, a fabri-

    cação de um componente pelo processo de

    forjamento. Compreendeu-se, ainda, que a

    validação do modelo computacional é de

    fundamental importância para o sucesso na

    previsão da viabilidade técnica em se obter

    a forma forjada. Portanto, somente a partir

    de um modelo confiável, utilizado na análise

    de propostas de fabricação consistentes, é

    possível determinar e/ou proporcionar a

    viabilidade econômica de um determinado

    produto.

    Abordou-se um estudo de caso, a peça

    “Garfo”, para demonstração real de uma

    solução econômica via tratativas técnicas

    com o uso de tecnologias computacionais

    relativamente recentes. Assim, um cenário

    com resultado negativo pôde ser revertido

    para uma obtenção de lucro. Com isso, um

    eventual aumento no número de pedidos

    para fabricação não mais compromete a

    saúde financeira da empresa, contribuindo,

    inclusive, positivamente para o desenvolvi-

    mento da relação com o cliente.

    Entretanto, no Brasil a indústria do for-

    jamento ainda não percebeu claramente os

    ganhos com investimentos em tecnologias

    computacionais. Ao contrário da indústria

    da estampagem, a maior parte das forjarias

    negligenciam essas metodologias. Isso pode

    ocorrer em parte por desconhecimento

    dessas ferramentas, mas também em parte

    por experiências mal sucedidas com o uso de

    simulação.

    Em razão desse último caso, vale ressal-

    tar que a prática da simulação em empresas

    de forjamento não pode ser restrita a aqui-

    sição de um software comercial somente. É

    necessário embasamento teórico consistente

    por parte dos operadores do software. Do

    contrário, o software pode ser subutilizado

    e a simulação computacional erroneamente Fig.18. Metodologia de formação de preço e previsão da margem de lucro

    Tabela 7. Comparação entre os processos desenvolvidos

    Tentativa Solução AbordagemPeso do

    Tarugo (Kg)Espessura

    Central (mm)Margem de

    Lucro (%)Resultado Justificativa

    1Pré forma

    cúbicaTentativa e erro 30,0 12 - Impossível Falta de preenchimento

    2Aumento no

    VolumeTentativa e erro 38,5 25 -1 Inviável Aumento no volume e na usinagem

    3Modificação da

    pré formaSimulação 30,0 0 +13 Viável Redução no volume e na usinagem

    Elaboração teórica do processo

    Validação do processovia simulação

    Processovalidado?

    Formação do preço

    Conclusão da venda

    Realizaçãodo tryout

    Ajuste do custo

    Definição da margem de lucro

    Projeto de viabilização do processo via simulação

    Processovalidado?

    SIM

    SIM

    NÃO

    NÃO

  • >>> Simulação

    32 - Outubro 2018

    classificada com descrédito pela forjaria.

    Agradecimentos

    A empresa SIXPRO Virtual&Practical Process gostaria de agradecer

    às empresas parceiras e à SFTC.

    Referências

    Duarte, A. S. e Viana, R. A. M. Implementação da Simulação. Outubro:

    Revista Industrial Heating, pp.38-39, 2013.

    Duarte, A. S. Reindustrializar… Outubro: Revista Industrial Heating, pp.38-

    39, 2013.

    Duarte, A. S., Aguilar, M. T. P., Campos, H. B., Pertence, A. E. de M. e Cetlin, P.

    R. Aspectos de Influência na Simulção Computacional da Conformação

    Mecânica baseada no Método dos Elementos Finitos. 36⁰ Senafor, 17p.,

    2016.

    Duarte, A. S., Aguilar, M. T. P., Pereira, P. H. R. e Cetlin, P. R. Utilização de

    Dados sobre Materiais em Simulações Computacionais de Conformação

    Mecânica. 35⁰ Senafor, 15p., 2015.

    Guo, Z., Truner, R., Duarte, A. S., Sauders, N., Schroeder, F., Cetlin, P. R. e

    Schillé, J-P. Introduction of Materials Modelling into Processing Simula-

    tion. Materials Science Forum, V.762, pp.266-276, 2013.

    Lobenwein, R. R. Derrubando Barreiras no TT. Outubro: Revista Industrial

    Heating, pp.35-36, 2016.

    Stemler, P. M. A., Silveira, F. D., Duarte, A. S. e Cetlin, P. R. Investigação da

    Influência do Material na Precisão Geométrica de Engrenagens Forjadas

    a Frio. 35⁰ Senafor, 9p., 2015.

    O autor Stemler, P.M.A. é graduado em Engenharia Metalúrgica pela

    UFMG e Assistente Técnico pela SIXPRO Virtual&Practical Process

    ([email protected]). O coautor Haase, O.C. é graduando em

    Engenharia Mecânica pela UFMG e colaborador pela empresa SIXPRO

    Virtual&Practical Process ([email protected]). O coautor Oliveira,

    F.S. é Engenheiro de Processos em forjaria parceira* e o coautor

    Oliveira, S.F. é Gerente Industrial na mesma ([email protected]).

    O coautor Lobenwein, R.R. é Engenheiro Mecânico pela UFMG com

    larga experiência no setor comercial e Gerente Comercial pela SIXPRO

    Virtual&Practical Process ([email protected]). O coautor Duarte, A.S.

    possui pós-doutorado na área de Metalurgia da Transformação, é

    Professor pela UFMG e pela PUC Minas e Consultor Técnico pela SIXPRO

    Virtual&Practical Process ([email protected]). *A apresentação dos

    resultados foi autorizada pela forjaria parceira, exceto o seu contato.