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ALGUNS FUNDAMENTOS ONTOLÓGICOS DE COMUNICAÇÃO PROJETO TEMÁTICO DE PESQUISA COLETIVA Coordenação geral: Prof. Dr. Jorge de Albuquerque Vieira Linha de Pesquisa – 1 Resumo Este Projeto pretende discutir alguns fundamentos ontológicos do conceito de Comunicação, como evidenciados pela evolução teórica ocorrida, de maneira geral, na Teoria Geral de Sistemas e, de maneira específica, nas teorias dos sistemas de comunicação. O projeto situa-se, portanto, na pesquisa sobre a transição entre o ambiente ontológico, que envolve um sistema conceitual científico aberto, para a constituição deste último, no caso específico, um sistema de comunicação. Este é o domínio da Metaciência. Palavras Chave Comunicação – Semiose – Ontologia Sistêmica Objetivos, Problema e Hipótese Um problema, nem sempre nítido para aqueles que trabalham em Comunicação e Semiótica, refere-se ao fato de que este domínio do conhecimento não é satisfeito eficientemente pelo Método Científico usual, aplicável às ontologias regionais, ou ciências, e notadamente aquelas ditas “de ciência dura ou exata”. Um aspecto típico dessa limitação metodológica é a dificuldade em estabelecer, eficientemente, uma metodologia para a complexidade (como proposto por Morin, 1977, 1984). Nossa proposta é que a dificuldade em aplicar principalmente conceitos semióticos nas várias áreas da Comunicação decorre do caráter complexo destas, situado na Ontologia Geral, o mesmo ocorrendo com as áreas envolvidas. O problema a ser trabalhado poderia ser, então, assim formulado: “Comunicação e Semiótica, nos seus domínios factuais, constituem um domínio científico ou metacientífico?” Na formulação acima, estamos adotando o conceito de Metaciência como apresentado por Bunge (1976: 49), ou o estudo interno de uma ciência, abrangendo a Lógica, a Metodologia e a Filosofia da Ciência. Enfatizaremos, na dimensão da Filosofia, tanto a Teoria Geral do Conhecimento (Gnosiologia), como a Epistemologia e a Ontologia. Esta última será o alicerce básico de nossa proposta de pesquisa. O principal objetivo desta pesquisa é buscar argumentos que apóiem a seguinte hipótese: “Os processos semiósicos e os sistemas nos quais eles se desenvolvem, ou seja, sistemas de comunicação, têm um caráter ontológico que não é demarcável no contexto de uma ciência ou ontologia específicas ou regionais”.

Vieira, Jorge. Alguns Fundamentos Ontológicos de Comunicação Projeto Temático de Pesquisa Coletiva

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  • ALGUNS FUNDAMENTOS ONTOLGICOS DE COMUNICAO

    PROJETO TEMTICO DE PESQUISA COLETIVA Coordenao geral: Prof. Dr. Jorge de Albuquerque Vieira Linha de Pesquisa 1 Resumo Este Projeto pretende discutir alguns fundamentos ontolgicos do conceito de Comunicao, como evidenciados pela evoluo terica ocorrida, de maneira geral, na Teoria Geral de Sistemas e, de maneira especfica, nas teorias dos sistemas de comunicao. O projeto situa-se, portanto, na pesquisa sobre a transio entre o ambiente ontolgico, que envolve um sistema conceitual cientfico aberto, para a constituio deste ltimo, no caso especfico, um sistema de comunicao. Este o domnio da Metacincia. Palavras Chave Comunicao Semiose Ontologia Sistmica Objetivos, Problema e Hiptese Um problema, nem sempre ntido para aqueles que trabalham em Comunicao e Semitica, refere-se ao fato de que este domnio do conhecimento no satisfeito eficientemente pelo Mtodo Cientfico usual, aplicvel s ontologias regionais, ou cincias, e notadamente aquelas ditas de cincia dura ou exata. Um aspecto tpico dessa limitao metodolgica a dificuldade em estabelecer, eficientemente, uma metodologia para a complexidade (como proposto por Morin, 1977, 1984). Nossa proposta que a dificuldade em aplicar principalmente conceitos semiticos nas vrias reas da Comunicao decorre do carter complexo destas, situado na Ontologia Geral, o mesmo ocorrendo com as reas envolvidas. O problema a ser trabalhado poderia ser, ento, assim formulado: Comunicao e Semitica, nos seus domnios factuais, constituem um domnio cientfico ou metacientfico? Na formulao acima, estamos adotando o conceito de Metacincia como apresentado por Bunge (1976: 49), ou o estudo interno de uma cincia, abrangendo a Lgica, a Metodologia e a Filosofia da Cincia. Enfatizaremos, na dimenso da Filosofia, tanto a Teoria Geral do Conhecimento (Gnosiologia), como a Epistemologia e a Ontologia. Esta ltima ser o alicerce bsico de nossa proposta de pesquisa. O principal objetivo desta pesquisa buscar argumentos que apiem a seguinte hiptese: Os processos semisicos e os sistemas nos quais eles se desenvolvem, ou seja, sistemas de comunicao, tm um carter ontolgico que no demarcvel no contexto de uma cincia ou ontologia especficas ou regionais.

  • Descrio: Relevncia e Justificativa A relevncia da pesquisa repousa no aspecto, metacientfico, da demarcao da rea de atuao do pesquisador e do carter do seu objeto de estudo; do ponto de vista da evoluo paradigmtica, por exemplo, sabemos que uma mudana de paradigma ocorre, basicamente, quando o pesquisador sai do sistema conceitual terico, constitudo no contexto da cincia normal (no sentido dado para o termo por Kuhn, 1975: 29), para o seu ambiente imediato, a Ontologia, onde conceitos mais bsicos e gerais so ajustados, permitindo assim a reorganizao do sistema conceitual cientfico em questo. Confundir um sistema conceitual com seu ambiente ontolgico pode, portanto, trazer entraves quanto ao desenvolvimento desta cincia. Corpo Terico e Metodologia Esta pesquisa tem um carter terico. Empregaremos, inicialmente, a proposta de uma Ontologia Cientfica a partir da atual Teoria Geral de Sistemas, baseada nas idias de Mario Bunge (1977, 1979), Avanir Uyemov (1975) e Kenneth Denbigh (1975). Os chamados parmetros sistmicos sero adotados para efetivar o necessrio enlaamento interdisciplinar, caracterstico da relao entre uma teoria particular e os seus pressupostos ontolgicos. Esta etapa permitir a aplicao de conceitos pertinentes aos sistemas complexos, onde a formulao de Mario Bunge e dos demais autores supera a verso mais difundida e j clssica da Teoria Geral de Sistemas de Bertalanffy (1986). Interessa-nos, assim, entender os mecanismos de comunicao e semiose como tpicos de sistemas complexos, o que insere os mesmos nas representaes evolutivas permitidas e estudadas em uma prototeoria bem atual, a Teoria da Complexidade. Sobre este ponto em particular, pesquisaremos a proposta de Charles Sanders Peirce, sobre um possvel princpio de crescimento da complexidade, como sugerido em sua Ontologia (Ibri, 1992: 46). A partir deste enfoque ontolgico, recorreremos a conceitos desenvolvidos em algumas cincias afins com a da Comunicao, que apresentam o carter ontolgico pertinente e coerente com o conceito de Comunicao e aquele de Semiose e passaremos a explicitar tal carter por meio de uma discusso sistmica. Esse processo, da natureza de uma especificao, identificar conceitos comuns e que sejam fatores de conectividade interterica. Exemplos vvidos de tais conceitos so: Funo Memria, Funo de Transferncia e Funo de Resoluo. O esperado desta discusso a identificao de um ncleo semisico e comunicacional, de modo a tornar evidente que tais conceitos situam-se no domnio da ontologia e no da Comunicao vista como cincia especfica. Um outro aspecto a ser explorado da explicitao da proposta peirceana implicada no Idealismo Objetivo, com, por exemplo, a extenso do conceito de semiose (possivelmente, uma protosemiose) para sistemas no necessariamente vivos e/ou culturais, acarretando por conseqncia a extenso dos conceitos de comunicao e semiose para toda a realidade. esse o contexto em que os sistemas de Comunicao e Semiticos surgem como emergncias evolutivas, no processo termodinmico geral da evoluo do Universo (por exemplo, no domnio dos sistemas vivos, ver Mende, 1981 e Ponnamperuma e Cameron, 1974). Viabilidade

  • O Projeto vivel, dado o carter terico do mesmo, sendo disponvel para o mesmo farta literatura em Filosofia e Cincia. Cronograma Nossa previso primeira de um perodo de trs anos para a execuo do trabalho. Publicao H a previso de publicao de resultados, na forma de texto para peridicos e apresentaes em congressos e similares. Um texto pioneiro foi publicado, na forma de captulo, por Vieira e Santaella (2008 : 77). Formao de Pessoal A formao de pessoal esperada, decorrente da pesquisa, ser efetuada na orientao de alunos de ps-graduao do Programa de Estudos Ps-Graduados em Comunicao e Semitica da PUCSP, tendo como resultado dissertaes de mestrado e teses de doutorado. Da mesma forma, os cursos por ns lecionados no referido Programa tm discutido os temas da pesquisa e outros, correlatos. Bibliografia Bertalanffy, L. v. (1986). General Systems Theory. New York: Braziller. Bunge, M. (1976). La Investigacion Cientifica. Barcelona: Editorial Ariel. Bunge, M. (1977). Treatise on Basic Philosophy - Vol. 3. Dordrecht: D. Reidel Publ. Co. Bunge, M. (1979). Treatise on Basic Philosophy - Vol. 4. Dordrecht: D. Reidel Publ. Co. Denbigh, K. (1975). A Non-conserved Function for Organized Systems. Em Entropy and Information in Science and Philosophy, Kubat, L.; Zeman, J. (Ed). Praga: Elsevier Sci. Publ. Co., 83-91. Ibri, I. A. (1992). Ksmos Noets. So Paulo: Perspectiva. Kuhn, T. S. (1975). A Estrutura das Revolues Cientficas. So Paulo: Perspectiva. Mende, W. (1981). Structure-Building Phenomena in Systems with Power Product Forces. In Haken, H. (Ed.)Chaos and Order in Nature. Berlin: Springer-Verlag, p. 196. Morin, E. (1977). O Mtodo - Vol. I: A Natureza da Natureza. Mira-Sintra: Publicaes Europa-Amrica Ltda.

  • Morin, E. (1984). O Problema Epistemolgico da Complexidade. Mira-Sintra: Publicaes Europa-Amrica Ltda. Ponnamperuma, C. ; Cameron, A. G. W. (Eds.) (1974). Interstellar Communication: Scientific Perspectives. Boston: Houghton Mifflin Company. Prigogine, I. (1980). From Being to Becoming. San Francisco: W. H. Freeman and Co. Prigogine, I.; Stengers, I. (1984). A Nova Aliana. Brasilia: Ed. UNB. Progogine, I.; Nicolis, G. (1989). Exploring Complexity. New York: W.H. Freeman and Company. Prigogine, I.; Stengers, I. (1990). Entre o Tempo e a Eternidade. Lisboa: Gradiva. Santaella, M.L.B. (1995). A Teoria Geral dos Signos - Semiose e Autogerao. So Paulo: Ed. tica SA. Santaella, L. ; Vieira, J. A. (2008), Metacincia como guia de pesquisa. So Paulo: Editora Mrito. Uyemov, A. I. (1975). Problem of Direction of Time and the Laws of System's Development. Em Entropy and Information in Science and Philosophy. Kubat, L.; Zeman, J. (Ed.), 93-102. Praga: Elsevier Sc. Publ. Co. Vieira, J. (2008). Formas de Conhecimento: Arte e Cincia. Vol. 3: Ontologia. Fortaleza: Expresso Grfica e Editora.