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ÍNDICE 1. INTRODUÇÃO 2. PROCESSO ENSINO-APRENDIZAGEM DO JOGO 3. NOVO PARADIGMA DO TREINO 4. NOVO PARADIGMA DO JOGO 5. MODELO DE JOGO 6. MODELO DE TREINO 7. MODELO DE COMPORTAMENTO 1

 · Web viewDispositivo 3:3 muito profundo e amplo, para encontrar pontos de apoio na zona central, que criem condições favoráveis às desmarcações (Figura 16); Ataque em inferioridade

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ÍNDICE

1. INTRODUÇÃO

2. PROCESSO ENSINO-APRENDIZAGEM DO JOGO

3. NOVO PARADIGMA DO TREINO

4. NOVO PARADIGMA DO JOGO

5. MODELO DE JOGO

6. MODELO DE TREINO

7. MODELO DE COMPORTAMENTO

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INTRODUÇÃOO Guia Espiritual (GE) condensa toda a informação de natureza didáctica, pedagógica e metodológica, que norteará a actividade de todos os treinadores da Associação Académica da Amadora (AAA). Aquela informação encontra-se dispersa por vários documentos, em diferentes suportes.

Pretende-se assim, por um lado, dar um sentido muito objectivo ao trabalho a desenvolver nos diferentes escalões e, por outro, garantir a sua articulação vertical. Noutra perspectiva, procura aproximar “ideologicamente” os treinadores, sem pretensões a cloná-los, convém sublinhá-lo.

O GE, convém referi-lo, não se quer constituir como “livro único”, mas antes balizar a autonomia e a liberdade criativa dos treinadores, de modo a criar sinergias.

Em termos gerais, o GE é um documento aberto, pois não fornece receitas, enunciando antes princípios e orientações gerias, cuja aplicação inteligente, criativa e eficaz, é da responsabilidade de cada treinador. Ainda decorrente da sua natureza, não esgota de modo algum os temas abordados, exigindo dos treinadores um permanente e actualizado contributo.

Na sua essência, o GE tendo por fonte inspiradora o mais recente quadro teórico que suporta o Processo de Ensino-Aprendizagem do Jogo (PEAJ), formula dois novos paradigmas – Treino e Jogo, que criam uma ruptura definitiva com o passado-presente do nosso Andebol (Figura 1). Depois, com base naquele constructo e na realidade objectiva da AAA, propomos três modelos de funcionamento – Jogo, Treino e Comportamento, que se constituem como o referencial prático da acção dos treinadores.

Por último, queremos dizer que aquele conjunto de intenções é uma tarefa complexa, que requer o melhor de todos os intervenientes (jogadores, treinadores e dirigentes).

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Processo Ensino-Aprendizagem

do Jogo

Novo Paradigma do Jogo

Modelo de Treino

Modelo de Jogo

Novo Paradigma do Treino Modelo de

Comportamento

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Figura 1

PROCESSO ENSINO-APRENDIZAGEM DO JOGOO PEAJ (Figura 2) corresponde a uma lenta e complexa sucessão de mudanças, que se regem por um vasto conjunto de pressupostos, dos quais destacamos aqueles que, pela sua natureza, servem os nossos propósitos imediatos:

“As capacidades individuais dos jogadores não garantem o funcionamento eficaz da equipa. Este, em primeiro lugar, depende da inter-relação entre os parceiros da equipa e da capacidade de interagir com o meio”1;

Em situações de “táctica instantânea (estímulos/problemas inesperados) a solução do problema encontra-se na interacção praticante-contexto;

O principal objectivo do PEAJ é formar bons jogadores e não bons executantes;

A capacidade de diagnóstico do treinador é fundamental (Figura 3), para garantir uma intervenção pedagógica de qualidade (treino e jogo). Assim, o treinador deve observar os jogadores a interagirem com o contexto, e daí retirar informações significantes, dando-lhes depois sentido e inteligibilidade, de modo a conseguir prescrever as medidas pedagógicas adequadas – feedback e criação de contextos no espaço-treino;

Todos os atletas têm um determinado potencial e determinadas predisposições, que apenas se transformam em competências, se forem estimulados no modo e tempo certos. O modo corresponde à criação de ambientes, que possibilitem o surgimento de comportamentos emergentes2, adaptados à idiossincrasia motora de cada atleta e eficazes. Nesta perspectiva, deixamos de falar em técnica correcta, para falarmos em técnicas correctas;

O PEAJ tem de possuir um significado muito claro para o jovem. Quer isto dizer, que ele deve treinar duma certa maneira, para jogar duma certa maneira;

A (crescente) compreensão do jogo é, sem sombra de dúvida, o factor mais decisivo para o sucesso do PEAJ. Isto só é possível, nas fases iniciais do PEAJ, se o contacto com o jogo for feito de uma forma global – “aprender a jogar jogando”. Mais tarde, aquele contacto pode ser feito também, através das unidades funcionais do jogo3. A ideia de promover aquele contacto através do isolamento dos elementos funcionais do

1 Anna Volossovitch2 “Uma das regras para que um comportamento emergente ocorra é o número de interacções entre os componentes de um sistema, que aumenta combinatoriamente com o número de componentes, o que permite potencialmente que uma série de novos e diferentes tipos de comportamento apareçam” adaptado da Wikipedia3 As unidades funcionais do jogo correspondem a contextos de jogo reduzidos, que contêm todos os ingredientes do jogo.

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jogo4, numa tentativa de lhes dar inteligibilidade é completamente errónea. E isto porquê? Porque, aqueles elementos não têm existência individual, só adquirindo significado funcional, quando interagem no contexto de aplicação – não existem, coexistem. Significa isto que, do ponto de vista pedagógico, ao contrário do que é comummente aceite, o PEAJ segue uma lógica do complexo para o simples;

“A grande maioria das pessoas foi acostumada a pensar e agir de acordo com o paradigma cartesiano, baseado no raciocínio lógico, linear, sequencial (cérebro esquerdo), deixando de lado as suas emoções, a intuição, a criatividade, a capacidade de ousar soluções diferentes (cérebro direito). António Damásio, respeitado e premiado neurologista português, radicado nos Estados Unidos e com muitos trabalhos publicados, em seu recente livro “O Erro de Descartes”, afirma que “o ponto de partida da ciência e da filosofia deve ser anti-cartesiano: “existo (e sinto), logo penso”. “ 5

4 Os elementos funcionais do jogo correspondem às componentes do jogo (drible, passe, remate, etc.).5 Celeste Carneiro

5

Formar bons jogadores e não bons executantes;Treinar duma certa maneira, para jogar duma certa maneira;

Privilegiar a utilização do Cérebro Direito

PROCESSO ENSINO-

APRENDIZAGEM DO JOGO

Figura 2

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CRIAR CONTEXTOSTomada de

DecisãoComportament

o EmergenteCompreender o

Jogo

DIAGNOSTICAR

Figura 3

NOVO PARADIGMA DO TREINO (PT)Com base nos pressupostos enunciados no capítulo anterior, diremos que o PT se caracteriza pelas seguintes ideias (Figura 4):

Os Meios de Ensino (ME) devem desenvolver-se (quase) sempre no contexto de aplicação (por exemplo: se é treino de GR tem obrigatoriamente de haver bola, rematador e defensor; se é treino defensivo, tem obrigatoriamente de haver GR, defensores, atacantes e bola);

Os ME devem ser estruturados tendo como referência três indicadores: Modelo de Jogo (MJ), Princípios do Jogo (PJ) e Projecto de Jogo (PRJ);

Os ME devem desenvolver-se tendo como referência a “velocidade funcional” das acções, que é uma “grandeza técnica, táctica e informacional”;

Os ME devem constituir-se como problemas de resposta múltipla, de alguma complexidade, que obriguem permanentemente os jogadores a pensarem e a decidirem;

O jogo e os exercícios competitivos devem constituir-se como os ME preferenciais, devidamente complementados com uma série de constrangimentos;

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NOVO PARADIGMA DO JOGO (PJO)JOGO, LOGO DECIDO

“Para vencer necessitamos de colocar os adversários a responderem às nossas iniciativas e não o inverso”

Com base nos pressupostos enunciados nos capítulos anteriores, diremos que o PJO (Figura 5) se deve caracterizar pelas seguintes ideias-chave:

Jogar com CRIATIVIDADE, o que significa ter a autonomia suficiente para encontrar soluções diferentes, inesperadas e inovadoras, para os problemas colocados pelo jogo;

Jogar com INTELIGÊNCIA, o que significa conseguir colocar o adversário num clima permanente de incerteza, insegurança, imprevisibilidade, instabilidade e ambiguidade:

o Capacidade antecipativa;o Capacidade de mudança, no sentido de procurar modificar o

futuro imediato, provocando acontecimentos;o Capacidade exploratória, no sentido de um aproveitamento

imediato das falhas do adversário;o Capacidade de adaptação, no sentido de ser capaz de se

modificar em função das circunstâncias;o Capacidade de alternância, no sentido de alternar

comportamentos e estratégias;

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MEIOS DE ENSINO

Contexto de Aplicação

Modelo de JogoPrincípios do JogoProjecto de Jogo

"Velocidade Funcional"

Problemas de Resposta Múltipla

Figura 4

Jogar com RISCO, o que significa jogar nos limites da segurança, em espaços cada vez maiores (contra-ataque e maior raio de acção dos sistemas defensivos zonais);

Jogar com FLUIDEZ, o que significa jogar com menos interrupções, com menos faltas e garantindo permanentemente a continuidade do jogo;

Jogar com AGRESSIVIDADE, o que significa constituir-se como uma permanente ameaça para os adversários, obrigando-os a jogar constrangidos;

Jogar com INTENÇÃO, o que significa jogar de acordo com o PJ, MJ e PRJ;

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MODELO DE JOGO (MJ)O MJ corresponde à forma particular de interpretar o jogo, definindo as grandes opções estratégicas colectivas do Clube (ofensivas e defensivas). Pretende-se assim, que todas as equipas tenham uma dinâmica de jogo semelhante – “jogar à académica”. Neste sentido, é necessário automatizar, de uma forma progressiva e faseada, uma série de comportamentos.

A implementação do MJ de uma forma eficaz (Figura 6), só é possível se os atletas revelarem uma grande VONTADE e disponibilidade mental, para o acolherem e o aplicarem convictamente. Os treinadores têm, por um lado, de conseguir persuadir os atletas a interiorizá-lo e, por outro, serem bastante perseverantes no cumprimento rigoroso de todas as etapas que dão corpo ao MJ.

A ideia central que dele emana é a de que a INTELIGÊNCIA e a CRIATIVIDADE, devem ser as armas mais poderosas que os jogadores têm ao seu dispor, para resolverem os problemas colocados pelo jogo.

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NOVO PARADIGMA DO JOGO

CRIATIVIDADE

INTELIGÊNCIA

Risco

Fluidez

Agressividade

Intenção

Figura 5

MODELO DE JOGO OFENSIVO (MJO)

Em termos colectivos, o MJO funciona sob a égide da seguinte premissa: quanto mais rapidamente forem desencadeadas as acções de jogo, maior é a probabilidade de encontrar o adversário vulnerável.

Em termos individuais, a questão fulcral é subordinar o interesse individual ao colectivo!

Vejamos então, como se deve desenvolver o MJO:

1º Assim que se recupera a bola, inicia-se de imediato o Contra-Ataque (CA)

Não sofrer falta de posse da bola;

Pouco tempo de posse da bola (decidir rápido): o Passes em apoio;o Gestos curtos;o Pouco drible;o Poucos apoios;

Trajectória rápida e errática da bola:o Passes tensos e curtos;o Progressão dos jogadores por vagas;o Pontos de apoio;

Passar só depois de atrair/fixar;

Bola nos 12 mts, sem possibilidade de concretização imediata - entrada do ponta do lado contrário, com reequilíbrio ofensivo (Figura 7);

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SUCESSO

CRIATIVIDADE

VONTADE

INTELIGÊNCIA

Figura 6

Figura 7

2º Se houver golo, inicia-se de imediato o Contra-Golo (CG)

A reposição da bola em jogo é efectuada pelo jogador que se encontra em melhores condições;

À excepção daquele jogador, mais nenhum jogador deve invadir o corredor central;

Não sofrer falta de posse da bola;

3º Se não se conseguiu obter golo nas fases anteriores, procura concretizar-se em Ataque Rápido:

Não sofrer falta de posse da bola;

Pouco tempo de posse da bola (decidir rápido);

Atacar o espaço e evitar o 1 x 1;

Inversões do sentido de circulação da bola;

4º Se não se conseguiu obter nas fases anteriores, procura concretizar-se em Ataque Organizado

Não sofrer falta de posse da bola;

Pouco tempo de posse da bola (decidir rápido):

Concretização após dez passes;

Atrair/fixar e depois passar;

Apoio sistemático ao portador da bola;

Mais ataque ao espaço e menos 1 x 1;

Sem movimentações fechadas;

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No âmbito do Ataque Organizado, vamos enunciar os princípios gerais que devem presidir à construção das movimentações defensivas abertas:

Ataque contra uma defesa 6:0:

o Anular a acção dos segundos defensores (Figuras 9, 10 e 11);

Ataque contra uma defesa 5:1:

o Anular a acção do defesa-avançado (Figuras 12, 13 e 14);

Ataque contra uma defesa 3:2:1/4:2/3:3;

o Entrada dos pontas sem bola, com pivot descentrado (Figura 15);

Ataque a uma defesa individual:

o Dispositivo 3:3 muito profundo e amplo, para encontrar pontos de apoio na zona central, que criem condições favoráveis às desmarcações (Figura 16);

Ataque em inferioridade numérica:

o Entrada sem bola dos pontas, sem reequilíbrio ofensivo (Figura 17);

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CONTRA-ATAQUECONTRA-GOLO

ATAQUE RÁPIDO

ATAQUE ORGANIZADO

Figura 8

Figura 9 – Ataque a uma defesa 6:0 – Entrada do central, com pivot descentrado e trajectória larga do lateral-esquerdo.

Figura 10: Ataque a uma defesa 6:0 – Entrada do lateral direito, na perpendicular, com passe ao ponta, com o pivot central e com trajectória larga do lateral-esquerdo.

Figura 11: Ataque a uma defesa 6:0 – Permuta central – lateral esquerdo, que ataca forte e decide em função do defensor central que sair.

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Figura 12: Ataque a uma defesa 5:1 – Entrada do lateral com passe ao ponta, com pivot descentrado e reequilíbrio rápido e “inteligente” do central.

Figura 13: Ataque a uma defesa 5:1 – Entrada do central, com passe ao pivot (“poste”).

Figura 14: Ataque a uma defesa 5:1 – Entrada larga do ponta, com pivot descentrado, simultânea com permuta central-lateral, do lado contrário.

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Figura 15: Ataque a uma defesa 3:2:1 – três situações distintas.

Figura 16: Ataque a uma defesa individual – três situações distintas.

Figura 17: Ataque em inferioridade numérica.

Como forma de avaliar se o MJO está a ser aplicado com sucesso, definimos dois objectivos competitivos – Golos Obtidos em CA e Remates por Jogo, que se constituem como referencial para treinadores e jogadores (Figura 18).

ESCALÃO GOLOS EM CONTRA-ATAQUE REMATES POR JOGO

Seniores 35% 60

Juniores 40% 55

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Juvenis “A”

45% 60

Juvenis “B”

30% 50

Iniciados 42% 55

Infantis 40% 50

Figura 18: Objectivos competitivos a nível ofensivo, por equipa.

MODELO DE JOGO DEFENSIVO (MJD)

DESENVOLVIMENTO

Em termos gerais (colectivos) o MJD funciona sob a égide de quatro ideias básicas:

O adversário não pode aplicar em jogo, o que faz no treino;

Cometendo faltas, não se recupera a bola;

A falta é uma falha do sistema;

A luta 1 x 1 provoca um enorme desgaste físico;

Em termos individuais, o principal objectivo dos defensores da AAA é recuperar a bola (Figura 20), o que significa que as suas acções devem centrar-se prioritariamente sobre a bola e não sobre o adversário. Assim sendo, a antecipação e dissuasão devem constituir-se como os seus principais argumentos técnico-táctico-estratégicos.

Por outro lado, os defensores da AAA têm de estar preparados para defenderem em situações adversas (1 x 2, por exemplo), o que requer uma grande força mental. Simbolicamente, diremos que o ADN do defensor da AAA se revela em três palavras:

Antecipar

Dissuadir

Neutralizar

Vejamos então, como se deve desenvolver o MJD:

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1º Após a perda da bola, há que conquistá-la em situação de Recuperação Defensiva:

Retardar/dificultar/impedir o passe do GR, que despoleta o CA adversário, exercendo uma grande pressão sobre os eventuais receptores, na ZAJ.

2º Se não se conseguiu recuperar a bola na fase anterior, há que fazê-lo em situação de Defesa Organizada:

Os sistemas defensivos a utilizar (Figura 21), devem funcionar de uma forma muito dinâmica e com um grande raio de acção. Fundamentalmente, devem se expeditos em explorar as seguintes situações:

o Quando o adversário interrompe o drible, sem condições de progredir;

o Quando o adversário comete uma falha técnica, que o impede de progredir ou lhe seja muito difícil passar a um colega;

Alternância de sistemas defensivos e de estratégias;

Ajudar de forma a não criar desequilíbrios no sistema;

Marcação individual ao central, quando sinaliza combinação;

Passagem a sistema misto, em reposta às entradas;

Alinhamento defensivo quando pivot bloqueia na 2ª linha (Figura19);

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Figura 19 – Alinhamento defensivo

Figura 20

19

RECUPERAR A BOLA

SURPREENDER

SEM FALTAS

VONTADE

Figura 21

Como forma de avaliar se o MJD está a ser aplicado com sucesso, definimos um objectivo competitivo – Posses de Bola Provocadas (cada vez que a equipa adversária perder a posse de bola, devido a uma acção defensiva), que se constitui como referencial para treinadores e jogadores (Figura 22).

ESCALÃO POSSES DE BOLA PROVOCADAS

Seniores 12

Juniores 10

Juvenis “A”

10

Juvenis “B”

8

Iniciados 13

Infantis 13

Figura 22 – Objectivos competitivos a nível defensivo

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DISSUASÕES

Neste bloco, vamos enunciar e exemplificar, os princípios pelos quais se devem reger os jogadores, quando desenvolvem uma estratégia dissuasora (Figura 23). Diremos então, que um jogador está “disponível” para dissuadir (na sua zona de influência ou fora dela) quando:

Não está em contacto directo com o pivot;

Quando o seu adversário directo não tem a posse da bola;

Figura 23 – Teoricamente, os jogadores envolvidos por um círculo, estão em condições para dissuadirem.

Os exemplos acima descritos referem-se ao sistema 6:0, devendo os treinadores fazerem a devida extrapolação para os restantes sistemas.

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MODELO DE TREINO (MT)

INTRODUÇÃO

O MT da Associação Académica da Amadora foi idealizado, tendo por base três premissas fulcrais:

O treino é um processo educativo, que tem objectivos hierarquizados:

1º O Homem

2º A Competência

3º O Resultado

Diremos a propósito, que a centralização exclusiva na vitória, impede a evolução dos jogadores e é um factor desestabilizador da equipa.

Para cumprir a sua função, o treino requer por parte dos jogadores, para além de uma grande motivação (ter prazer naquilo que faz), uma atitude mental muito forte, essencialmente ao nível da concentração, empenhamento e responsabilidade;

Joga-se com se treina, o que diz bem da necessidade de se planificar rigorosamente todo o processo de treino.

DESENVOLVIMENTO DO MODELO

Em termos concretos, o MT da AAA deve desenvolver-se tendo em atenção as seguintes recomendações:

UNIDADES TEMÁTICAS

Os conteúdos do treino dividem-se em unidades temáticas, a que correspondem diferentes Meios de Ensino (ME):

o Remate e Guarda-Redes (RGR)o Contra-Ataque e Recuperação Defensiva (CAR)o Ataque e Defesa Organizados (ADO)o Manipulação da Bola (MAB)o Condicional (CON)

O alinhamento criativo daquelas unidades temáticas, ao longo da Unidade de Treino (UT), deve criar contrastes e rupturas no treino, o que potencia o seu valor pedagógico.

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ENFOQUE DO TREINO

O processo de treino da AAA visa, numa primeira fase (época 2010/2011), desenvolver intensamente três conteúdos programáticos (Figura 23): Contra-Ataque, Defesa e Guarda-Redes (Remate).Significa isto que, para além do MJ,PJ e PRJ, aqueles conteúdos têm de ser levados em linha de conta quando estamos a planificar o treino.Para além destes aspectos, vão ser agendadas, ao longo da época, algumas “quinzenas temáticas”, no sentido de reforçar a aprendizagem de algumas matérias, cuja consolidação esteja mais difícil.

Figura 24

MÁXIMA PRODUTIVIDADE INDIVIDUAL

As UT devem ser estruturadas de forma a garantir que todos os jogadores estejam permanentemente ocupados. Assim sendo, as pausas devem ser reduzidas ao mínimo indispensável.

MÁXIMA INTENSIDADE

Todas as tarefas do treino devem ser realizadas com o maior empenhamento possível. Neste sentido, a carga interna dos exercícios deve ser cuidadosamente programada, de modo a não haver sobrecarga de esforço. A magnitude da carga interna pode ser controlada através da complexidade estrutural e/ou exigência funcional do exercício.

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CONTRA-ATAQUE

DEFESAGUARDA-REDES

REMATE

RIGOR NA EXECUÇÃO DAS TAREFAS

Todas as tarefas do treino têm objectivos bem definidos. Se não houver um mínimo de rigor na sua execução, aqueles objectivos não são atingidos, perdendo-se assim toda a sua eficácia pedagógica.

COMPETITIVIDADE

A questão da competitividade (inter e intra-jogadores) na realização das tarefas do treino é um factor decisivo na construção de uma mentalidade competitiva forte. Assim sendo, não pode ser indiferente para o treinador que, por exemplo, num exercício de remate, 80% deles sejam executadas para fora, sem qualquer preocupação por parte dos atletas.

Diremos então que, para além dos objectivos pedagógicos, devem ser definidos também critérios de sucesso para a realização daquelas tarefas de treino. Desta forma, aumentam-se os índices motivacionais e de concentração – o que facilita sobremaneira a consecução daqueles objectivos.

Os atletas que não consigam atingir aqueles critérios de sucesso devem, num ambiente positivo e num quadro pedagógico, realizar algumas tarefas suplementares de natureza condicional.

NÍVEL DE DOMÍNIO DO JOGO

As UT têm de ser elaboradas tendo em atenção o Nível de Domínio do Jogo (NDJ) dos praticantes. A transmissão de conteúdos desajustados das suas capacidades, conduz a uma destas situações:

o O jovem não tem capacidade de utilizar em jogo, o que lhe foi transmitido em treino – factor de elevado potencial desmotivador;

o O jovem aplica em jogo, de uma forma distorcida, o que lhe foi transmitido no treino – factor que lhe condiciona a evolução, por vezes de uma forma irreversível;

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TRABALHO DEFENSIVO SEM FALTAS

É uma regra de ouro! Ao terem de resolver, sem recurso a faltas, os problemas colocados pelos atacantes, os defensores são obrigados a recorrer a um conjunto de competências, que de outra forma não utilizariam e que são fundamentais para atingirem uma prestação competitiva de excelência.

Para além do mais, nas fases iniciais do PEAJ, aquela recomendação pedagógica faz com que os atacantes não se sintam constrangidos e desmotivados, pela utilização sistemática de condutas anti-regulamentares – e possam assim, desenvolver normalmente as suas competências ofensivas.

GUARDA-REDES

O treino do GR, no quadro de uma UT, deve obedecer à seguinte metodologia:

1º Exercícios Específicos sem oposição. A ideia é que o GR tenha facilidade em contactar com a bola;

2º Exercícios Específicos com oposição. A ideia é realizar remates de diferentes postos específicos, obrigando o GR a constantes recolocações;

3º Exercícios Competitivos em Superioridade Numérica Ofensiva, na Zona Activa de Jogo (ZAJ), com ou sem restrições espaciais: 4x2; 5x3 e 6x4.

TRABALHO CONDICIONAL

Neste âmbito, a ideia é que a maioria do trabalho condicional seja feito em sessões de trabalho suplementares, segundo um programa definido pelo treinador e cuja execução seja da responsabilidade dos atletas.

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MEIOS DE ENSINO

A utilização dos ME deve obedecer ao seguinte critério quantitativo:

Figura 25

Significa isto, que devemos utilizar preferencialmente no treino - o Jogo e os Exercícios Competitivos, conjugados com uma série de constrangimentos, que vão tornar possível direccionar oportunistamente os objectivos pedagógicos, tendo como referência o Modelo de Jogo, o Projecto do Jogo e os Princípios do Jogo.

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JOGO

EXERCÍCIOS COMPETITIVOS

EXERCÍCIOS ESPECÍFICOS

EXERCÍCIOS GERAIS

TREINOPRODUTIVIDADE

INTENSIDADE

RIGOR

COMPETITIVIDADE

SEM FALTAS

Figura 26

CONSTRANGIMENTOS

Jogo, Exercícios Competitivos e Específicos (campo inteiro com oposição)

Limitação da utilização do Drible

- Os jogadores não podem driblar;- Os jogadores só podem utilizar um drible;

- Por Fase do Jogo;- Aplicados Individualmente;

Limitação do Tempo de Posse de Bola

- Os jogadores só podem estar de posse da bola durante 2 segundos;

Limitação do número de Passos

- Os jogadores só podem dar um ou dois passos de posse da bola;

Limitação do Remate

- Os jogadores da 1ª Linha só podem rematar em apoio;- Os jogadores da 1ª Linha só podem rematar em salto dos “6 mts”;- Os jogadores da 1ª linha só podem rematar em suspensão antes dos “9 mts”;- Os jogadores só podem rematar perto da área de baliza (Minis);

Limitação `da utilização do Passe

- Os jogadores só podem passar em apoio;- Os jogadores não podem “passar ao mesmo”;- Os jogadores só podem utilizar o passe picado;- Os jogadores não podem passar com trajectória parabólica;

Variabilidade da Recepção

- Os jogadores só podem receber a bola com as duas mãos;- Os jogadores só podem receber a bola com uma mão;

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Jogo

Utilização de uma determinada Estratégia

Defensiva

- Por exemplo, utilização do sistema defensivo 5:1, com permanente corte de linhas de passe aos pontas;- Utilização exclusiva de um determinado tipo de defesa – individual, zonal ou misto;

Utilização de uma determinada Estratégia

Ofensiva

- Utilização exclusiva de determinadas movimentações abertas;- Utilização exclusiva de um determinado tipo de jogo – posicional ou em movimento;- Obrigatoriedade de concretizar após ter efectuado um determinado número de passes;

Jogo

QUANTIFICAR O RESULTADO

- Por tempo de jogo;- Parciais de tempo;- Pela obtenção de determinado número de golos;- Por determinada diferença de golos;- Por determinada sequência (golos consecutivos);

BONIFICAR

O quê?

- Golos obtidos em CA;- Posses de bola provocadas;- Determinadas acções positivas consecutivas;

Como?

- Conceder mais uma posse de bola;- Duplicar o valor dos golos;

PENALIZAR

Quem?

- A equipa que perca;- A equipa que sofra um determinado número de golos consecutivos;- A equipa que sofra golos em CA;- A equipa que fique a perder por uma determinada diferença de golos;

Como?

- Realização de tarefas suplementares de carácter condicional;

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Exercícios Competitivos na ZAJ

Restrições Espaciais (amplitude e profundidade)

- Quanto maior for o espaço, mais intensa será a utilização da resistência específica;- Quanto menor for o espaço, mais intensa será a solicitação da velocidade e da força específicas;- Quanto menor for o espaço, mais intensa será a solicitação das capacidades técnico-tácticas individuais;- Quanto maior for o espaço, maior será a solicitação dos defesas;- Quanto menor for o espaço, maior será a solicitação dos atacantes.

Variabilidade da Densidade de Jogadores

- Quanto maior for o número de intervenientes, maior será a solicitação das capacidades colectivas;- Quanto menor for o número intervenientes, maior será a solicitação das capacidades individuais;- Quanto menor for o número de intervenientes, maior será a solicitação das capacidades condicionais específicas;

Utilização de Desigualdade Numérica

- Quanto maior for a amplitude da desigualdade numérica, maior será a exigência, ao nível das capacidades individuais, dos que se apresentam em inferioridade numérica;- Quanto maior for a amplitude da desigualdade numérica, maior será a exigência, ao nível das capacidades colectivas, dos que se apresentam em superioridade numérica;

Restrições Técnico-Táctico-Estratégicas

- Utilizar apenas o 1 x 1;- Os defensores têm de manter sempre a sua posição relativa;

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MODELO DE COMPORTAMENTO

“O Andebol é apenas um jogo. É a sério, mas é apenas um jogo. Se ninguém se estiver a divertir então ninguém está a jogar.”

Neste âmbito, a ideia é esboçar um “código de conduta”, que se constitua como referência ética para os jogadores da AAA. Cabe aos treinadores encontrar a forma mais expedita de levar os jogadores a aceitá-lo e a cumpri-lo voluntariamente.

Aquele “código de conduta” corporiza-se em três ideias básicas: (1) Colectivismo, (2) Espírito Desportivo e (3) Sentido de Responsabilidade, que passamos a desenvolver.

COLECTIVISMO

A questão essencial é subordinar o interesse individual ao colectivo, o que significa que todas as atitudes dos jogadores – desportivas, éticas e sociais, devem ter como objectivo prioritário o fortalecimento do grupo/equipa. De forma alguma, se podem tolerar comportamentos individualistas que enfraqueçam ou desestabilizem o colectivo.

ESPÍRITO DESPORTIVO

Neste âmbito, a questão essencial assume três facetas:

o O respeito por todos os agentes desportivos envolvidos na competição: árbitros, adversários, colegas, dirigentes, autoridades, público e comunicação social;

o Mostrar dignidade, tanto na derrota, como na vitória;

o Revelar uma atitude positiva, perante eventuais injustiças – inerentes à natureza social do fenómeno desportivo.

SENTIDO DE RESPONSABILIDADE

Neste âmbito, é fazer perceber os jovens que, ao aceitarem fazer parte do Clube, criaram para com ele uma série de compromissos éticos, que devem cumprir com elevado sentido de responsabilidade.Neste contexto, o atleta deve ser responsável pela sua assiduidade, pelo cumprimento dos horários, pela sua condição física e pela adopção de um estilo de vida saudável

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