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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ
PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO
DEPARTAMENTO DE PESQUISA
PROGRAMA INSTITUCIONAL DE BOLSAS DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA – PIBIC : CNPq, CNPq/AF, UFPA, UFPA/AF, PIBIC/INTERIOR, PARD, PIAD,
PIBIT, PADRC E FAPESPA
RELATÓRIO TÉCNICO – CIENTÍFICO
Período:
FINAL
IDENTIFICAÇÃO DO PROJETO
TÍTULO DO PROJETO DE PESQUISA:
Parceria e Desenvolvimento Municipal na Amazônia Paraense
Nome do Orientador: SÉRGIO CARDOSO DE MORAES
Titulação do Orientador: DOUTOR
Departamento: PPGEDAM
Núcleo: Núcleo de meio Ambiente (NUMA)
TÍTULO DO PLANO DE TRABALHO:
Organizações sociais de ribeirinhos em Abaetetuba-PA
Nome do Bolsista: ADRIANA DE ARAÚJO FILGUEIRA
Bolsa: PIBIC/UFPA
INTRODUÇÃO
O Município de Abaetetuba no Pará situado na zona fisiográficaGuajarina à
margem direita da foz do Rio Tocantins, Mesorregião do Nordeste Paraense e
Microrregião de Cametá, é uma região com uma área territorial de 1.610,606
km², e uma contagem populacional estimada em 147.267 habitantes (IBGE
2013).
Há divergência quanto às primeiras incursões no território. Segundo a tradição,
a primeira penetração no território de Abaetetuba foi feita por Francisco de
Azevedo Monteiro quando, em 1745, ali aportou com toda sua família, ao fugir
de um temporal. Porém, segundo Palma Muniz, a fundação de Abaeté ocorreu
em 1750 e as primeiras incursões foram feitas pelos antigos frades capuchos
que fundaram o Convento da Una, seguindo-os, mais tarde, os Jesuítas,
exploradores do rio Uraenga ou Ararenga. Inicialmente, esse município
chamava-se Abaeté, topônimo indígena que significa ‘‘homem forte e valente’’.
Entretanto, por força da legislação federal que proibia a duplicidade de
topônimos de Cidades e Vilas brasileiras e por haver outra cidade brasileira
com esse nome, em 1944, Abaeté, PA, teve o nome alterado para Abaetetuba,
nome de origem tupi que significa ‘‘lugar de homem ilustre’’.
O presente relatório propôs localizar e identificar duas das maiores influências
sociais ribeirinhas no município de Abaetetuba. Assim como compreender a
função social dessas organizações. A realização dessa pesquisa foi
principalmente feita através de entrevistas e conversas em loco, nas sedes do
Movimento dos Ribeirinhos e Ribeirinhas das Ilhas e Várzea de Abaetetuba
(MORIVA) e do Conselho das Associações Extrativistas, Quilombolas, Nossa
Várzea e Grupos Afins (CAGROQUIVAIA). Como resultados foram
identificados as comunidades que são cadastradas no movimento e no
conselho atualmente, organizadas em tabela, suas finalidades e seus projetos -
principalmente o cagroquivaia -. Produziu-se um mapa de localização do
município e, através de imagem de satélite, a localização da sede do
cagroquivaia. Sendo que a sede do moriva, em segunda visita às sedes,
estava, segundo informações, desativada.
JUSTIFICATIVA
A história da organização social na Amazônia profunda conforme Virgílio
Viana é permeada de processos de mobilização e desmobilização de
comunidades. Momentos de forte mobilização ocorreram ao redor de conflitos
de pesca, em lagos desde a década de 70. Comunidades ribeirinhas se
revoltaram contra pescadores comerciais que praticavam pesca predatória e
pouco, ou quase nada, deixavam de benefícios para as comunidades locais.
Muitas conquistas foram alcançadas, com acordos de pesca e planos de
manejo de lagos, com especial destaque para o pirarucu. Comunidades
ribeirinhas também se organizaram para reivindicar direitos sobre o uso de
recursos florestais extrativistas como borracha, castanha, andiroba e outros.
Não basta ser um movimento organizado, é necessário que seja um
movimento organizado pelos próprios ribeirinhos, o distanciamento com a
realidade pode velar muitas condições e prioridades dos ribeirinhos, sobre o
movimento dos ribeirinhos e ribeirinhas, a Comissão Pastoral da Terra discorre:
‘‘Para ser MOVIMENTO, dos Ribeirinhos e das Ribeirinhas das Ilhas de
Abaetetuba, é preciso ir mais a fundo. Ser MOVIMENTO pressupõe ter clareza
do que queremos e construí-lo. Entretanto, essa clareza decorre da
consciência de quem somos, do que mais nos caracteriza. ’’ (Equipe da CPT-
região guajarina.).
Para compreender melhor como está estabelecida a relação do
ribeirinho com a terra em que vive, no que diz respeito à forma como essa
população estabelece sua territorialidade no lugar, é extremamente importante
que se tenha clareza, primeiramente, como é definido esse morador que se
estabelece às margens dos rios. Sabe-se que são vários os conceitos que o
define. No entanto, encontra-se nas palavras de Castro e Pinton (1997,p. 226-
227) uma definição bastante pertinente à realidade desses cidadãos:
Encontramos nos denominados ribeirinhos, na Amazônia, uma
referência, na linguagem a imagem de mata, rios, igarapés e lagos,
definindo lugares e tempos de suas vidas na relação com as
concepções que construíram sobre a natureza. Destaca-se, como
elemento importante no quadro de percepções, sua relação com a
água. Os sistemas classificatórios dessas populações fazem prova do
patrimônio cultural. O uso dos recursos da floresta e dos cursos
d’água estão, portanto, presentes nos seus modos de vida, enquanto
dimensões fundamentais que atravessam as gerações e fundam uma
noção de território, seja como patrimônio comum, seja como de uso
familiar ou individualizado pelo sistema de posse ou pelo estatuto da
propriedade privada (CASTRO; PINTON. 2005).
Assim, pode-se perceber que o ribeirinho mantém uma forte relação com
a água, visto que esta é utilizada tanto como meio de circulação quanto de
subsistência, através de uma das suas principais atividades econômicas – a
pesca –, e com a terra, através da apropriação de seus recursos naturais e
manejo dos mesmos para a reprodução econômica (com a agricultura e a
extração, por exemplo, - o que no território ribeirinho das ilhas de Abaetetuba
fica evidente com a comercialização do açaí -). Todavia, apesar da íntima
relação com o espaço em que vive, essa população tradicional não encontra
estabilidade por não possuir a titulação das terras que ocupam. As terras
ribeirinhas são de domínio da União, que significa, de domínio do governo
federal, logo, não podem ser vendidas, doadas, alugadas e nem trocadas. Mas
é possível o acesso ao solo e aos recursos naturais por meio de autorização do
uso.
Em Abaetetuba, o território ribeirinho, as ilhas são assentamentos do
INCRA, portanto, essa população se compromete a morar nessa parcela de
terra destinada e a explorá-la para seu sustento, com a mão de obra
exclusivamente familiar. As famílias assentadas, segundo o incra, devem
contar com créditos, assistência técnica, infraestrutura e outros benefícios que
apoiem as famílias assentadas. E, enquanto não portarem a escritura do lote
da terra em seus nomes, seus beneficiados não poderão formalizar qualquer
tipo troca, venda, ou atividade lucrativa que não seja a produção familiar.
Importante frisar que as famílias assentadas pagam pela terra que receberam
do incra, assim como pelos créditos contratados. Em outras palavras, no uso
privado de bens públicos, não há transferência de domínio, mas sim a cessão
de uso do bem.
O espaço é um verdadeiro campo de forças cuja formação é desigual.
‘‘Eis a razão pela qual a evolução espacial não se apresenta de igual forma em
todos os lugares”. (Por Uma Nova Geografia. Santos, p.122). Santos aborda e
identifica a materialização desigual que o espaço se dá no território.
Identificamos na desigualdade, as diferentes formas e forças de poder, de
atuação e de relações. Quando voltamos nosso olhar para o território
abaetetubense e espaço ribeirinho, apreendemos na realidade a desigualdade
estabelecida no espaço. Abaeté não diferente das outras cidades paraenses, é
formada por contrastes econômicos, paisagísticos, sociais. Não obstante, em
Abaeté, a característica da cidade ‘‘urbano-rural’’ é muito forte. Abaetetuba
contém aproximadamente 72 ilhas, o que dá à cidade uma característica
ribeirinha. Os próprios ribeirinhos lutam pela qualidade do ser e permanecer
ribeirinho. As ilhas são assentamentos, ou seja, os moradores das ilhas não
contêm a titulação de posse da terra, como já foi referendado anteriormente, o
que também é pauta das lutas dos movimentos e organizações ribeirinhas do
município. O que remonta-se à centralidade da pesquisa, que é justamente
identificar e analisar as potencialidades de articulação das principais
organizações ribeirinhas em Abaetetuba para a melhoria de vida nas ilhas.
Assim como identificar o envolvimento das organizações com a comunidades
que representam.
Carlos Walter discorre em Amazônia, Amazônias as várias visões que se
tem sobre a Amazônia, e de como ela pode conceber a pluralidade em virtude
das várias concepções e acepções sobre Amazônia. Ele nos mostra que
muitas das visões concebidas sobre a Amazônia são vistas externamente, por
quem está de fora. Principalmente a visão de vazio demográfico, de reserva
natural, e o que ele chama de Amazônia como ecossistema, uma grande e
vasta extensão de terra, de floresta e de fertilidade, onde a harmonia é plena.
Não obstante, voltando-se para uma fração da amazônia paraense, ou do
nordeste paraense, que é Abaetetuba, ainda que em menor escala geográfica,
identificamos o desconhecimento que o distanciamento com a realidade
ribeirinha em detrimento do tempo rápido na vida urbana nos causa. Walter
organiza o espaço amazônico em dois padrões: rio-várzea-floresta e estrada-
terra firme-subsolo. O primeiro até 1960 e o segundo até os dias atuais. Onde o
primeiro padrão se dá pelos fluxos naturais de deslocamento, os leitos de rios e
áreas próximas. É um momento de base histórica. O segundo padrão revela a
inserção da Amazônia na produção e reprodução capitalista, e é caracterizada
pelo momento de abertura das estradas e rodovias como a Belém – Brasília,
Cuiabá – Santarém, Cuiabá – Porto Velho e a Transamazônica; e a
implementação de alguns projetos de integração. Abaetetuba ainda que
enquadrada no segundo padrão de Carlos Walter, a população ribeirinha das
ilhas, se desloca e se articula através dos fluxos naturais, os rios, furos.
OBJETIVOS
• Analisar as potencialidades de articulação de organizações sociais
ribeirinhas em Abaetetuba-PA.
• Identificar as principais organizações sociais em que os ribeirinhos
participam;
• Fazer uma cartografia da região identificando as organizações sociais;
Verificar as estratégias e ações das organizações sociais.
METODOLOGIA
A pesquisa foi realizada principalmente através de visitas às sedes.
Portanto, foi construída através de entrevistas e conversas. Na data de 23 de
abril de 2015, foi realizada a primeira em ambas as sedes, onde foi possível
identificar as comunidades que fazem parte do MORIVA e do
CAGROQUIVAIA. Entretanto, esse número não significa restrição a um grupo
de ribeirinhos, o movimento e o conselho buscam resultados para toda a classe
ribeirinha do município. A segunda visita na data de 1 de agosto de 2015, se
deu apenas na sede do cagroquivaia, haja vista o local de sede do moriva estar
desativada naquele presente momento. Portanto, foi possível a identificação
dos principais projetos do conselho e localizá-la através de imagem de satélite.
RESULTADOS
Em resultado da visita às sedes das organizações estudadas de
Abaetetuba em abril desse ano, foi possível identificar que o MORIVA e o
CAGROQUIVAIA se organizam em 7PAE’s e 9PAE’s respectivamente. PAE é
o Projeto de Assentamento Agroextravistas, que recebem o nome do santo
padroeiro da comunidade pela perspectiva cultural, com exceção do PAE
PIQUIARANA vinculado ao cagroquivaia, que leva o nome do rio de sua
localização. Os PAE’s que fazem parte do CAGROQUIVAIA são:
CAGROQUIVAIA
PAE RIONº DE FAMÍLIAS
SÃO
RAIMUNDO SAPUCAJUBA 880
NsaSra DO PERPÉTUO
SOCORRO QUIAMDUBA 780
SÃO JOÃO BATISTA
II GUAJARAZINHO 587
NsaSra DA
PAZ ARUMANDUBA 550
NsaSra DE NAZARÉ
SAGRADO, COSTA DO
MARATAUÍRA 435
SÃO JOÃO BATISTA CAMPOMPEMA 350
SANTO ANTÔNIO
PALMAR IPIRAMANHA 280
PIQUIARANA PIQUIARANA 170
NsaSra DO
LIVRAMENTO TABATINGA 150
Cada PAE é uma associação legalmente autorizada e trabalham, até
mesmo por serem assentamentos, com os recursos da terra, os PAE’s
vinculados ao Cagroquivaia em questão, trabalham principalmente com a
agricultura, a extração do açaí, e a pesca. Sem desconsiderar, todavia, o
artesanato. Haja vista o município ser intitulado a Cidade do Brinquedo de
Miriti. Espécie nativa do município de Abaetetuba.
O Moriva por sua vez, trabalha com sete ilhas e duas áreas de várzea do
projeto Nossa Várzea vinculada a assentamentos.
As duas áreas de várzea vinculadas ao Moriva são a Área de Várzea I,
localizada no Rio Abaeté com aproximadamente 4718 famílias, e a Área de
Várzea II, aonde a associação vai de Jarumanzinho à Guajará de Beja, com
220 famílias cadastradas. Sustentam-se basicamente do extrativismo e da
pesca. As sete ilhas vinculadas ao Moriva são:
MORIVA MORIVA
PAE RIO N. FAMÍLIASSÃO PEDRO ILHA TAUERÁ DE BEJA 60 FAMÍLIASNªSª DO PARTO PIROCABA 65 FAMÍLIASNªSª DO BOM REMÉDIO ABAETÉ 110 FAMÍLIASSANTO ANTÔNIO II ILHA CAPIM 127 FAMÍLIASSÃO FRANCISCO XAVIER GUAJARÁ DE BEJA 130 FAMÍLIASSÃO FRANCISCO DE ASIS DA PRATA 157 FAMÍLIASSANTO AFONSO ILHA XINGÚ 180 FAMÍLIAS
As intitulações dos PAE’s no caso do Moriva também fazem referência
aos padroeiros da comunidade, vale ressaltar que nas ilhas de Abaetetuba faz
parte do cotidiano localizar-se pelo rio em que mora, daí a cultura impressa nas
tabelas de localização pelo rio de localidade. A Comissão Pastoral da Terra
(CPT) presta assessoria ao Moriva. E as atividades econômicas dessas
comunidades também são predominantemente pesca, extrativismo e
agricultura.
O Moriva, enquanto movimento de ribeirinhos, foi criado a partir de uma
necessidade que foi sendo descoberta nas ilhas, que consistia em grande parte
dos ribeirinhos obterem uma moradia extremamente precária, onde quatro, até
cinco famílias moravam em uma casa de apenas dois compartimentos, sala e
cozinha. Todavia, o movimento precisaria de um conselho com cnpj para gestar
e administrar os fundos e os projetos. Foi quando criou-se o cagroquivaia.
‘‘ O movimento é um momento popular, ele vai, ele chegar em qualquer lugar,
ele vê, ele defende, ele se manifesta, ele organiza a base. Mas quando chega
na hora de gestar, pro governo o que vale é o que tá escrito, é o documento.’’
(Dona Antônia-Cagroquivaia)
A maior renda dos ribeirinhos é a agricultura e a pesca, como destacado.
Porém, outro ator importante na sobrevivência do ribeirinho são as políticas
compensatórias. O extrativismo do açaí é feito de maio a dezembro, sendo os
outros meses ausentes da abundância do fruto, já a pesca é mais intensa de
março a outubro. Tendo em vista períodos fixos determinados pela natureza
para essas atividades, os ribeirinhos recorrem a outras estratégias de
sobrevivência como à criação de animais, galinhas e porcos, por exemplo, e ao
cultivo principalmente da manga, que vende mais, banana, coco e outros. Não
obstante, a extração da argila também tem seu papel na renda ribeirinha, para
materiais de construção como a telha. O fruto do Miriti, por sua vez, tem um
lugar expressivo no cenário de atividades ribeirinhas, todavia, só dá a cada
dois anos, e em detrimento desse evento, a atividade de extração e venda
desse fruto tem data específica. Diferentemente do fruto, a árvore do miriti é
utilizado durante todo o ano para o artesanato. Daí o motivo da cidade ser
conhecida como a capital mundial do brinquedo de miriti, em detrimento,
evidentemente, dos famosos brinquedos de miriti confeccionados.
Os ribeirinhos não têm uma renda fixa, 50% de sua renda são as
políticas públicas compensatórias como bolsa família, bolsa escola, bolsa
verde. O Período de Defeso para os pescadores consiste no recebimento de
um salário mínimo por quatro meses, totalizando quatro salários mínimos para
a interrupção da pesca no período de desova e preservação e continuidade das
espécies. Entretanto, é um recurso que atrasa meses, inclusive, segundo dona
Antônia, uma das atuais lideranças do cagroquivaia, há pescadores esperando
desde o ano passado.
As ilhas de Abaetetuba têm aproximadamente 80 escolas, e nas ilhas
têm desde a pré-escola ao ensino superior. Há um polo do ensino superior no
rio Quiamduba. A educação avançou muito de 1996 para cá. Segundo dona
Antônia, Abaetetuba, Cametá, Tailândia e Tucuruí são os quatro municípios da
região que mais se destacam em nível de educação, possuem polos de
universidades como a Universidade Federal do Pará (UFPA) e Universidade
Estadual do Pará (UEPA). E em organização social, Abaetetuba é o número
um da região.
Em 2010, o CAGROQUIVAIA recebeu verba da prefeitura, hoje já não
recebe mais, entretanto, está retornando seu convênio com ela. O vínculo do
conselho sempre foi mais ligado ao governo federal. Hoje, como se observa
que dentro do governo a prioridade para aprovação de projetos são as áreas
ambientais, os adolescentes, e a mulher, considerados áreas de risco, segundo
dona Antônia, é o momento de criar projetos e fixar parcerias visando
resultados para esses pontos. Portanto, o conselho planeja iniciar busca por
apoio para projetos, principalmente, nesse momento, voltado para o meio
ambiente, haja vista a cidade possuir um grande problema de acúmulo de lixo,
de saneamento básico, de alternativas para o ribeirinho ter uma melhor
qualidade de vida, assim como o meio em que vive.
No dia 15 de agosto de 2015 (sábado), neste mesmo mês, a
coordenadora do Programa Bolsa Verde se reunirá com a organização e
demais atores sociais para discutir possibilidades para o meio ambiente. O
cagroquivaia está num projeto do governo, que consiste em uma empresa de
assistência técnica. Desde que começou esse projeto de reforma agrária em
terras de marinha na cidade, era necessário, em primeiro lugar, a assistência
técnica, para de fato fazer um levantamento da realidade do ribeirinho, se ele
realmente residia nas ilhas, o que precisava, o que produzia, e quando ele não
tinha essa produção do que ele vivia. Entretanto, aconteceu ao contrário,
primeiro se consolidou o projeto, e desde 2003 buscou-se a assistência técnica
para o ribeirinho, pois até hoje a questão fundiária é muito polêmica dentro do
governo federal. Portanto, para uma melhor gestão do projeto de
assentamento, a união, que hoje é a Secretaria de Patrimônio da União (SPU),
tinha que dar uma autorização para o governo federal, pro INCRA poder
atualizar aquela área. Foi quando o INCRA fez um diagnóstico de todas as
famílias, identificando que essas famílias de fato existiam na cidade, para
assim, reconhecer e validar o projeto de reforma agrária para as famílias. Então
essa luta pela assistência técnica que se iniciou em 2003, obteve êxito em
2014, com a conquista da primeira chamada pública para áreas de
assentamentos em terra de marinha. Portanto, atualmente começou a ser feita
o diagnóstico da realidade do ribeirinho por essa empresa de assistência
técnica no município de Abaetetuba vinculada ao cagroquivaia. Esse trabalho,
na verdade, é feito por duas empresas, o Instituto de Desenvolvimento e
Assistência Técnica da Amazônia (IDATAM) e a EKOS. A IDATAM que em
Abaetetuba, é a empresa que a associação está em projeto, atua com 44
profissionais técnicos agrícolas; agrônomos, eng. Florestal, eng. Ambiental,
técnico em Meio Ambiente, eng. de Pesca, etc. Um corpo técnico diverso e
qualificado para realizar o projeto. Esse diagnóstico das famílias nas ilhas
passa por um processo onde o primeiro passo foi realizar uma oficina nas ilhas,
conhecer o ribeirinho, apresentar o projeto, a empresa, quem é a empresa, o
que ela iria trabalhar, de que forma ela iria trabalhar, entender a razão pela
qual o governo federal estaria mandando esses profissionais; o segundo passo
foi voltar nas ilhas, visitar cada uma das famílias assentadas fazendo uma
pesquisa através de entrevistas, levantando dados sobre o que ela produz,
quais atividades que essa família obtêm renda, o que elas já receberam do
governo, o que ainda está pendente para receber, o que precisa, etc. Portanto,
esse estudo socioeconômico da realidade do ribeirinho é o ponto de partida
para a eficiência do projeto. O terceiro passo seria voltar às ilhas e identificar a
área onde cada família mora, confirmar dados, para então encaminhar esse
banco de dados para o INCRA, o INCRA encaminhar para o governo federal
em Brasília, para assim, poder ser liberado o projeto e retornar para o
assentado em Abaetetuba. Partindo desses dados e resultados, a família
assentada que definirá em qual atividade ela vai empenhar o projeto, em cima
do que ela já trabalha, aprimorando e desenvolvendo melhor a sua produção.
Imagem I: tirada no dia 1 de agosto de 2015. Sede do CAGROQUIVAIA no centro
da cidade. Passará por futuras reformas.
Imagem II: Imagem de satélite produzida com a delimitação do município de Abaetetuba
em vermelho. Localização da sede do cagroquivaia marcada no centro da cidade.
CONCLUSÃO
Geralmente observa-se o mundo em escalas geográficas. Quanto menor
a escala de observação, ou seja, quanto maior a sua aproximação, maior
também é a quantidade de detalhes que é possível enxergar. Isso se aplica
também ao campo de visão do ser humano, à sua escala de observação, o
quão próximo ou distante está do que se observa. Talvez se nos mantivermos
numa distância considerável da realidade do outro, nunca conheceremos de
fato suas necessidade, e isso pouco nos afetará, todavia, a partir do momento
em que se diminui a distância e passa a ser de nosso conhecimento as
dificuldades enfrentadas, no caso pelo ribeirinho, suas lutas, seus objetivos, a
enorme desigualdade que segregam semelhantes, entende-se a dimensão da
importância de qualquer iniciativa e de todas as lutas que essa população trava
em busca de dignidade à reprodução do seu modo de vida. Perder o legado
que a herança cultural ribeirinha nos dá, seria perder grandes e importantes
partes da história amazônica. Portanto, o resgate do papel das organizações
sociais ribeirinhas deve ser constante, entretanto, de forma respeitosa sempre.
DIFICULDADES
No período de término do relatório encontraram-se problemas com os
recursos cartográficos, o que deixa pendente uma representação mais
completa da localização das sedes. Assim como o recente deslocamento da
sede do moriva.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
AZEVEDO, João Lúcio D’. Os Jesuítas no Grão-Pará: suas missões e a
colonização. Belém, Ed. Secult. 1999.
CRUZ, M.J.M. Territorialização camponesa na várzea da Amazônia. São Paulo,
2007. Tese (Doutoramento em Geografia Humana) - Departamento de
Geografia, Universidade de São Paulo.