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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO DEPARTAMENTO DE PESQUISA PROGRAMA INSTITUCIONAL DE BOLSAS DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA – PIBIC : CNPq, CNPq/AF, UFPA, UFPA/AF, PIBIC/INTERIOR, PARD, PIAD, PIBIT, PADRC E FAPESPA RELATÓRIO TÉCNICO – CIENTÍFICO Período: FINAL IDENTIFICAÇÃO DO PROJETO TÍTULO DO PROJETO DE PESQUISA: Parceria e Desenvolvimento Municipal na Amazônia Paraense Nome do Orientador: SÉRGIO CARDOSO DE MORAES Titulação do Orientador: DOUTOR Departamento: PPGEDAM Núcleo: Núcleo de meio Ambiente (NUMA) TÍTULO DO PLANO DE TRABALHO:

 · Web viewHá divergência quanto às primeiras incursões no território. Segundo a tradição, a primeira penetração no território de Abaetetuba foi feita por Francisco de

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ

PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO

DEPARTAMENTO DE PESQUISA

PROGRAMA INSTITUCIONAL DE BOLSAS DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA – PIBIC : CNPq, CNPq/AF, UFPA, UFPA/AF, PIBIC/INTERIOR, PARD, PIAD,

PIBIT, PADRC E FAPESPA

RELATÓRIO TÉCNICO – CIENTÍFICO

Período:

FINAL

IDENTIFICAÇÃO DO PROJETO

TÍTULO DO PROJETO DE PESQUISA:

Parceria e Desenvolvimento Municipal na Amazônia Paraense

Nome do Orientador: SÉRGIO CARDOSO DE MORAES

Titulação do Orientador: DOUTOR

Departamento: PPGEDAM

Núcleo: Núcleo de meio Ambiente (NUMA)

TÍTULO DO PLANO DE TRABALHO:

Organizações sociais de ribeirinhos em Abaetetuba-PA

Nome do Bolsista: ADRIANA DE ARAÚJO FILGUEIRA

Bolsa: PIBIC/UFPA

INTRODUÇÃO

O Município de Abaetetuba no Pará situado na zona fisiográficaGuajarina à

margem direita da foz do Rio Tocantins, Mesorregião do Nordeste Paraense e

Microrregião de Cametá, é uma região com uma área territorial de 1.610,606

km², e uma contagem populacional estimada em 147.267 habitantes (IBGE

2013).

Há divergência quanto às primeiras incursões no território. Segundo a tradição,

a primeira penetração no território de Abaetetuba foi feita por Francisco de

Azevedo Monteiro quando, em 1745, ali aportou com toda sua família, ao fugir

de um temporal. Porém, segundo Palma Muniz, a fundação de Abaeté ocorreu

em 1750 e as primeiras incursões foram feitas pelos antigos frades capuchos

que fundaram o Convento da Una, seguindo-os, mais tarde, os Jesuítas,

exploradores do rio Uraenga ou Ararenga. Inicialmente, esse município

chamava-se Abaeté, topônimo indígena que significa ‘‘homem forte e valente’’.

Entretanto, por força da legislação federal que proibia a duplicidade de

topônimos de Cidades e Vilas brasileiras e por haver outra cidade brasileira

com esse nome, em 1944, Abaeté, PA, teve o nome alterado para Abaetetuba,

nome de origem tupi que significa ‘‘lugar de homem ilustre’’.

O presente relatório propôs localizar e identificar duas das maiores influências

sociais ribeirinhas no município de Abaetetuba. Assim como compreender a

função social dessas organizações. A realização dessa pesquisa foi

principalmente feita através de entrevistas e conversas em loco, nas sedes do

Movimento dos Ribeirinhos e Ribeirinhas das Ilhas e Várzea de Abaetetuba

(MORIVA) e do Conselho das Associações Extrativistas, Quilombolas, Nossa

Várzea e Grupos Afins (CAGROQUIVAIA). Como resultados foram

identificados as comunidades que são cadastradas no movimento e no

conselho atualmente, organizadas em tabela, suas finalidades e seus projetos -

principalmente o cagroquivaia -. Produziu-se um mapa de localização do

município e, através de imagem de satélite, a localização da sede do

cagroquivaia. Sendo que a sede do moriva, em segunda visita às sedes,

estava, segundo informações, desativada.

JUSTIFICATIVA

A história da organização social na Amazônia profunda conforme Virgílio

Viana é permeada de processos de mobilização e desmobilização de

comunidades. Momentos de forte mobilização ocorreram ao redor de conflitos

de pesca, em lagos desde a década de 70. Comunidades ribeirinhas se

revoltaram contra pescadores comerciais que praticavam pesca predatória e

pouco, ou quase nada, deixavam de benefícios para as comunidades locais.

Muitas conquistas foram alcançadas, com acordos de pesca e planos de

manejo de lagos, com especial destaque para o pirarucu. Comunidades

ribeirinhas também se organizaram para reivindicar direitos sobre o uso de

recursos florestais extrativistas como borracha, castanha, andiroba e outros.

Não basta ser um movimento organizado, é necessário que seja um

movimento organizado pelos próprios ribeirinhos, o distanciamento com a

realidade pode velar muitas condições e prioridades dos ribeirinhos, sobre o

movimento dos ribeirinhos e ribeirinhas, a Comissão Pastoral da Terra discorre:

‘‘Para ser MOVIMENTO, dos Ribeirinhos e das Ribeirinhas das Ilhas de

Abaetetuba, é preciso ir mais a fundo. Ser MOVIMENTO pressupõe ter clareza

do que queremos e construí-lo. Entretanto, essa clareza decorre da

consciência de quem somos, do que mais nos caracteriza. ’’ (Equipe da CPT-

região guajarina.).

Para compreender melhor como está estabelecida a relação do

ribeirinho com a terra em que vive, no que diz respeito à forma como essa

população estabelece sua territorialidade no lugar, é extremamente importante

que se tenha clareza, primeiramente, como é definido esse morador que se

estabelece às margens dos rios. Sabe-se que são vários os conceitos que o

define. No entanto, encontra-se nas palavras de Castro e Pinton (1997,p. 226-

227) uma definição bastante pertinente à realidade desses cidadãos:

Encontramos nos denominados ribeirinhos, na Amazônia, uma

referência, na linguagem a imagem de mata, rios, igarapés e lagos,

definindo lugares e tempos de suas vidas na relação com as

concepções que construíram sobre a natureza. Destaca-se, como

elemento importante no quadro de percepções, sua relação com a

água. Os sistemas classificatórios dessas populações fazem prova do

patrimônio cultural. O uso dos recursos da floresta e dos cursos

d’água estão, portanto, presentes nos seus modos de vida, enquanto

dimensões fundamentais que atravessam as gerações e fundam uma

noção de território, seja como patrimônio comum, seja como de uso

familiar ou individualizado pelo sistema de posse ou pelo estatuto da

propriedade privada (CASTRO; PINTON. 2005).

Assim, pode-se perceber que o ribeirinho mantém uma forte relação com

a água, visto que esta é utilizada tanto como meio de circulação quanto de

subsistência, através de uma das suas principais atividades econômicas – a

pesca –, e com a terra, através da apropriação de seus recursos naturais e

manejo dos mesmos para a reprodução econômica (com a agricultura e a

extração, por exemplo, - o que no território ribeirinho das ilhas de Abaetetuba

fica evidente com a comercialização do açaí -). Todavia, apesar da íntima

relação com o espaço em que vive, essa população tradicional não encontra

estabilidade por não possuir a titulação das terras que ocupam. As terras

ribeirinhas são de domínio da União, que significa, de domínio do governo

federal, logo, não podem ser vendidas, doadas, alugadas e nem trocadas. Mas

é possível o acesso ao solo e aos recursos naturais por meio de autorização do

uso.

Em Abaetetuba, o território ribeirinho, as ilhas são assentamentos do

INCRA, portanto, essa população se compromete a morar nessa parcela de

terra destinada e a explorá-la para seu sustento, com a mão de obra

exclusivamente familiar. As famílias assentadas, segundo o incra, devem

contar com créditos, assistência técnica, infraestrutura e outros benefícios que

apoiem as famílias assentadas. E, enquanto não portarem a escritura do lote

da terra em seus nomes, seus beneficiados não poderão formalizar qualquer

tipo troca, venda, ou atividade lucrativa que não seja a produção familiar.

Importante frisar que as famílias assentadas pagam pela terra que receberam

do incra, assim como pelos créditos contratados. Em outras palavras, no uso

privado de bens públicos, não há transferência de domínio, mas sim a cessão

de uso do bem.

O espaço é um verdadeiro campo de forças cuja formação é desigual.

‘‘Eis a razão pela qual a evolução espacial não se apresenta de igual forma em

todos os lugares”. (Por Uma Nova Geografia. Santos, p.122). Santos aborda e

identifica a materialização desigual que o espaço se dá no território.

Identificamos na desigualdade, as diferentes formas e forças de poder, de

atuação e de relações. Quando voltamos nosso olhar para o território

abaetetubense e espaço ribeirinho, apreendemos na realidade a desigualdade

estabelecida no espaço. Abaeté não diferente das outras cidades paraenses, é

formada por contrastes econômicos, paisagísticos, sociais. Não obstante, em

Abaeté, a característica da cidade ‘‘urbano-rural’’ é muito forte. Abaetetuba

contém aproximadamente 72 ilhas, o que dá à cidade uma característica

ribeirinha. Os próprios ribeirinhos lutam pela qualidade do ser e permanecer

ribeirinho. As ilhas são assentamentos, ou seja, os moradores das ilhas não

contêm a titulação de posse da terra, como já foi referendado anteriormente, o

que também é pauta das lutas dos movimentos e organizações ribeirinhas do

município. O que remonta-se à centralidade da pesquisa, que é justamente

identificar e analisar as potencialidades de articulação das principais

organizações ribeirinhas em Abaetetuba para a melhoria de vida nas ilhas.

Assim como identificar o envolvimento das organizações com a comunidades

que representam.

Carlos Walter discorre em Amazônia, Amazônias as várias visões que se

tem sobre a Amazônia, e de como ela pode conceber a pluralidade em virtude

das várias concepções e acepções sobre Amazônia. Ele nos mostra que

muitas das visões concebidas sobre a Amazônia são vistas externamente, por

quem está de fora. Principalmente a visão de vazio demográfico, de reserva

natural, e o que ele chama de Amazônia como ecossistema, uma grande e

vasta extensão de terra, de floresta e de fertilidade, onde a harmonia é plena.

Não obstante, voltando-se para uma fração da amazônia paraense, ou do

nordeste paraense, que é Abaetetuba, ainda que em menor escala geográfica,

identificamos o desconhecimento que o distanciamento com a realidade

ribeirinha em detrimento do tempo rápido na vida urbana nos causa. Walter

organiza o espaço amazônico em dois padrões: rio-várzea-floresta e estrada-

terra firme-subsolo. O primeiro até 1960 e o segundo até os dias atuais. Onde o

primeiro padrão se dá pelos fluxos naturais de deslocamento, os leitos de rios e

áreas próximas. É um momento de base histórica. O segundo padrão revela a

inserção da Amazônia na produção e reprodução capitalista, e é caracterizada

pelo momento de abertura das estradas e rodovias como a Belém – Brasília,

Cuiabá – Santarém, Cuiabá – Porto Velho e a Transamazônica; e a

implementação de alguns projetos de integração. Abaetetuba ainda que

enquadrada no segundo padrão de Carlos Walter, a população ribeirinha das

ilhas, se desloca e se articula através dos fluxos naturais, os rios, furos.

OBJETIVOS

• Analisar as potencialidades de articulação de organizações sociais

ribeirinhas em Abaetetuba-PA.

• Identificar as principais organizações sociais em que os ribeirinhos

participam;

• Fazer uma cartografia da região identificando as organizações sociais;

Verificar as estratégias e ações das organizações sociais.

METODOLOGIA

A pesquisa foi realizada principalmente através de visitas às sedes.

Portanto, foi construída através de entrevistas e conversas. Na data de 23 de

abril de 2015, foi realizada a primeira em ambas as sedes, onde foi possível

identificar as comunidades que fazem parte do MORIVA e do

CAGROQUIVAIA. Entretanto, esse número não significa restrição a um grupo

de ribeirinhos, o movimento e o conselho buscam resultados para toda a classe

ribeirinha do município. A segunda visita na data de 1 de agosto de 2015, se

deu apenas na sede do cagroquivaia, haja vista o local de sede do moriva estar

desativada naquele presente momento. Portanto, foi possível a identificação

dos principais projetos do conselho e localizá-la através de imagem de satélite.

RESULTADOS

Em resultado da visita às sedes das organizações estudadas de

Abaetetuba em abril desse ano, foi possível identificar que o MORIVA e o

CAGROQUIVAIA se organizam em 7PAE’s e 9PAE’s respectivamente. PAE é

o Projeto de Assentamento Agroextravistas, que recebem o nome do santo

padroeiro da comunidade pela perspectiva cultural, com exceção do PAE

PIQUIARANA vinculado ao cagroquivaia, que leva o nome do rio de sua

localização. Os PAE’s que fazem parte do CAGROQUIVAIA são:

CAGROQUIVAIA

PAE RIONº DE FAMÍLIAS

SÃO

RAIMUNDO SAPUCAJUBA 880

NsaSra DO PERPÉTUO

SOCORRO QUIAMDUBA 780

SÃO JOÃO BATISTA

II GUAJARAZINHO 587

NsaSra DA

PAZ ARUMANDUBA 550

NsaSra DE NAZARÉ

SAGRADO, COSTA DO

MARATAUÍRA 435

SÃO JOÃO BATISTA CAMPOMPEMA 350

SANTO ANTÔNIO

PALMAR IPIRAMANHA 280

PIQUIARANA PIQUIARANA 170

NsaSra DO

LIVRAMENTO TABATINGA 150

Cada PAE é uma associação legalmente autorizada e trabalham, até

mesmo por serem assentamentos, com os recursos da terra, os PAE’s

vinculados ao Cagroquivaia em questão, trabalham principalmente com a

agricultura, a extração do açaí, e a pesca. Sem desconsiderar, todavia, o

artesanato. Haja vista o município ser intitulado a Cidade do Brinquedo de

Miriti. Espécie nativa do município de Abaetetuba.

O Moriva por sua vez, trabalha com sete ilhas e duas áreas de várzea do

projeto Nossa Várzea vinculada a assentamentos.

As duas áreas de várzea vinculadas ao Moriva são a Área de Várzea I,

localizada no Rio Abaeté com aproximadamente 4718 famílias, e a Área de

Várzea II, aonde a associação vai de Jarumanzinho à Guajará de Beja, com

220 famílias cadastradas. Sustentam-se basicamente do extrativismo e da

pesca. As sete ilhas vinculadas ao Moriva são:

MORIVA MORIVA

PAE RIO N. FAMÍLIASSÃO PEDRO ILHA TAUERÁ DE BEJA 60 FAMÍLIASNªSª DO PARTO PIROCABA 65 FAMÍLIASNªSª DO BOM REMÉDIO ABAETÉ 110 FAMÍLIASSANTO ANTÔNIO II ILHA CAPIM 127 FAMÍLIASSÃO FRANCISCO XAVIER GUAJARÁ DE BEJA 130 FAMÍLIASSÃO FRANCISCO DE ASIS DA PRATA 157 FAMÍLIASSANTO AFONSO ILHA XINGÚ 180 FAMÍLIAS

As intitulações dos PAE’s no caso do Moriva também fazem referência

aos padroeiros da comunidade, vale ressaltar que nas ilhas de Abaetetuba faz

parte do cotidiano localizar-se pelo rio em que mora, daí a cultura impressa nas

tabelas de localização pelo rio de localidade. A Comissão Pastoral da Terra

(CPT) presta assessoria ao Moriva. E as atividades econômicas dessas

comunidades também são predominantemente pesca, extrativismo e

agricultura.

O Moriva, enquanto movimento de ribeirinhos, foi criado a partir de uma

necessidade que foi sendo descoberta nas ilhas, que consistia em grande parte

dos ribeirinhos obterem uma moradia extremamente precária, onde quatro, até

cinco famílias moravam em uma casa de apenas dois compartimentos, sala e

cozinha. Todavia, o movimento precisaria de um conselho com cnpj para gestar

e administrar os fundos e os projetos. Foi quando criou-se o cagroquivaia.

‘‘ O movimento é um momento popular, ele vai, ele chegar em qualquer lugar,

ele vê, ele defende, ele se manifesta, ele organiza a base. Mas quando chega

na hora de gestar, pro governo o que vale é o que tá escrito, é o documento.’’

(Dona Antônia-Cagroquivaia)

A maior renda dos ribeirinhos é a agricultura e a pesca, como destacado.

Porém, outro ator importante na sobrevivência do ribeirinho são as políticas

compensatórias. O extrativismo do açaí é feito de maio a dezembro, sendo os

outros meses ausentes da abundância do fruto, já a pesca é mais intensa de

março a outubro. Tendo em vista períodos fixos determinados pela natureza

para essas atividades, os ribeirinhos recorrem a outras estratégias de

sobrevivência como à criação de animais, galinhas e porcos, por exemplo, e ao

cultivo principalmente da manga, que vende mais, banana, coco e outros. Não

obstante, a extração da argila também tem seu papel na renda ribeirinha, para

materiais de construção como a telha. O fruto do Miriti, por sua vez, tem um

lugar expressivo no cenário de atividades ribeirinhas, todavia, só dá a cada

dois anos, e em detrimento desse evento, a atividade de extração e venda

desse fruto tem data específica. Diferentemente do fruto, a árvore do miriti é

utilizado durante todo o ano para o artesanato. Daí o motivo da cidade ser

conhecida como a capital mundial do brinquedo de miriti, em detrimento,

evidentemente, dos famosos brinquedos de miriti confeccionados.

Os ribeirinhos não têm uma renda fixa, 50% de sua renda são as

políticas públicas compensatórias como bolsa família, bolsa escola, bolsa

verde. O Período de Defeso para os pescadores consiste no recebimento de

um salário mínimo por quatro meses, totalizando quatro salários mínimos para

a interrupção da pesca no período de desova e preservação e continuidade das

espécies. Entretanto, é um recurso que atrasa meses, inclusive, segundo dona

Antônia, uma das atuais lideranças do cagroquivaia, há pescadores esperando

desde o ano passado.

As ilhas de Abaetetuba têm aproximadamente 80 escolas, e nas ilhas

têm desde a pré-escola ao ensino superior. Há um polo do ensino superior no

rio Quiamduba. A educação avançou muito de 1996 para cá. Segundo dona

Antônia, Abaetetuba, Cametá, Tailândia e Tucuruí são os quatro municípios da

região que mais se destacam em nível de educação, possuem polos de

universidades como a Universidade Federal do Pará (UFPA) e Universidade

Estadual do Pará (UEPA). E em organização social, Abaetetuba é o número

um da região.

Em 2010, o CAGROQUIVAIA recebeu verba da prefeitura, hoje já não

recebe mais, entretanto, está retornando seu convênio com ela. O vínculo do

conselho sempre foi mais ligado ao governo federal. Hoje, como se observa

que dentro do governo a prioridade para aprovação de projetos são as áreas

ambientais, os adolescentes, e a mulher, considerados áreas de risco, segundo

dona Antônia, é o momento de criar projetos e fixar parcerias visando

resultados para esses pontos. Portanto, o conselho planeja iniciar busca por

apoio para projetos, principalmente, nesse momento, voltado para o meio

ambiente, haja vista a cidade possuir um grande problema de acúmulo de lixo,

de saneamento básico, de alternativas para o ribeirinho ter uma melhor

qualidade de vida, assim como o meio em que vive.

No dia 15 de agosto de 2015 (sábado), neste mesmo mês, a

coordenadora do Programa Bolsa Verde se reunirá com a organização e

demais atores sociais para discutir possibilidades para o meio ambiente. O

cagroquivaia está num projeto do governo, que consiste em uma empresa de

assistência técnica. Desde que começou esse projeto de reforma agrária em

terras de marinha na cidade, era necessário, em primeiro lugar, a assistência

técnica, para de fato fazer um levantamento da realidade do ribeirinho, se ele

realmente residia nas ilhas, o que precisava, o que produzia, e quando ele não

tinha essa produção do que ele vivia. Entretanto, aconteceu ao contrário,

primeiro se consolidou o projeto, e desde 2003 buscou-se a assistência técnica

para o ribeirinho, pois até hoje a questão fundiária é muito polêmica dentro do

governo federal. Portanto, para uma melhor gestão do projeto de

assentamento, a união, que hoje é a Secretaria de Patrimônio da União (SPU),

tinha que dar uma autorização para o governo federal, pro INCRA poder

atualizar aquela área. Foi quando o INCRA fez um diagnóstico de todas as

famílias, identificando que essas famílias de fato existiam na cidade, para

assim, reconhecer e validar o projeto de reforma agrária para as famílias. Então

essa luta pela assistência técnica que se iniciou em 2003, obteve êxito em

2014, com a conquista da primeira chamada pública para áreas de

assentamentos em terra de marinha. Portanto, atualmente começou a ser feita

o diagnóstico da realidade do ribeirinho por essa empresa de assistência

técnica no município de Abaetetuba vinculada ao cagroquivaia. Esse trabalho,

na verdade, é feito por duas empresas, o Instituto de Desenvolvimento e

Assistência Técnica da Amazônia (IDATAM) e a EKOS. A IDATAM que em

Abaetetuba, é a empresa que a associação está em projeto, atua com 44

profissionais técnicos agrícolas; agrônomos, eng. Florestal, eng. Ambiental,

técnico em Meio Ambiente, eng. de Pesca, etc. Um corpo técnico diverso e

qualificado para realizar o projeto. Esse diagnóstico das famílias nas ilhas

passa por um processo onde o primeiro passo foi realizar uma oficina nas ilhas,

conhecer o ribeirinho, apresentar o projeto, a empresa, quem é a empresa, o

que ela iria trabalhar, de que forma ela iria trabalhar, entender a razão pela

qual o governo federal estaria mandando esses profissionais; o segundo passo

foi voltar nas ilhas, visitar cada uma das famílias assentadas fazendo uma

pesquisa através de entrevistas, levantando dados sobre o que ela produz,

quais atividades que essa família obtêm renda, o que elas já receberam do

governo, o que ainda está pendente para receber, o que precisa, etc. Portanto,

esse estudo socioeconômico da realidade do ribeirinho é o ponto de partida

para a eficiência do projeto. O terceiro passo seria voltar às ilhas e identificar a

área onde cada família mora, confirmar dados, para então encaminhar esse

banco de dados para o INCRA, o INCRA encaminhar para o governo federal

em Brasília, para assim, poder ser liberado o projeto e retornar para o

assentado em Abaetetuba. Partindo desses dados e resultados, a família

assentada que definirá em qual atividade ela vai empenhar o projeto, em cima

do que ela já trabalha, aprimorando e desenvolvendo melhor a sua produção.

Imagem I: tirada no dia 1 de agosto de 2015. Sede do CAGROQUIVAIA no centro

da cidade. Passará por futuras reformas.

Imagem II: Imagem de satélite produzida com a delimitação do município de Abaetetuba

em vermelho. Localização da sede do cagroquivaia marcada no centro da cidade.

CONCLUSÃO

Geralmente observa-se o mundo em escalas geográficas. Quanto menor

a escala de observação, ou seja, quanto maior a sua aproximação, maior

também é a quantidade de detalhes que é possível enxergar. Isso se aplica

também ao campo de visão do ser humano, à sua escala de observação, o

quão próximo ou distante está do que se observa. Talvez se nos mantivermos

numa distância considerável da realidade do outro, nunca conheceremos de

fato suas necessidade, e isso pouco nos afetará, todavia, a partir do momento

em que se diminui a distância e passa a ser de nosso conhecimento as

dificuldades enfrentadas, no caso pelo ribeirinho, suas lutas, seus objetivos, a

enorme desigualdade que segregam semelhantes, entende-se a dimensão da

importância de qualquer iniciativa e de todas as lutas que essa população trava

em busca de dignidade à reprodução do seu modo de vida. Perder o legado

que a herança cultural ribeirinha nos dá, seria perder grandes e importantes

partes da história amazônica. Portanto, o resgate do papel das organizações

sociais ribeirinhas deve ser constante, entretanto, de forma respeitosa sempre.

DIFICULDADES

No período de término do relatório encontraram-se problemas com os

recursos cartográficos, o que deixa pendente uma representação mais

completa da localização das sedes. Assim como o recente deslocamento da

sede do moriva.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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