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179 RESENHA CONTRIBUIÇÕES DO NÚCLEO DE ALTOS ESTUDOS AMAZÔNICOS PARA A COMPREENSÃO DA VIOLÊNCIA NO CAMPO Gutemberg Armando Diniz Guerra 1 FERNANDES, M. Donos de terra. Trajetórias da União Democrática Ruralista - UDR. Belém: UFPA/NAEA, 1999. COSTA, L. M. Discurso e conflito. Dez anos de disputa pela terra em Eldorado dos Carajás. Belém: NAEA/UFPA, 1999. (2°. Prêmio NAEA de Dissertação de Mestrado). EMMI, M. F. A oligarquia do Tocantins e o domínio dos castanhais. 2.ed. Belém: UFPA/NAEA, 1999. Além de artigos e relatórios de pesquisas, teses de mestrado e doutorado têm sido produzidas no âmbito do Núcleo de Altos Estudos Amazônicos da Universidade Federal do Pará, versando sobre diversos temas, dos quais destacamos algumas obras sobre as transformações no campo, em particular no sul e sudeste paraense. Recentemente, três teses de mestrado, produzidas no âmbito desse Núcleo, foram lançadas em forma de livro, sendo uma delas em segunda edição, depois de uma primeira consagração esgotada rapidamente. O esforço do NAEA em difundir os trabalhos dos seus membros projeta uma literatura que tem sido restritamente acessada, a maioria disponível apenas em algumas bibliotecas especializadas, e por razões particulares de iniciativa dos autores. A publicação de parte desse material em livros constituirá um volume a parte na análise sobre os problemas discutidos e refletidos pela comunidade acadêmica regional, consolidando uma contribuição até então limitada pelos gargalos da difusão editorial do país. 1 Doutor em Socioeconomia pela École des Hautes Études en Sciences Sociales, Paris, pesquisador e professor do Núcleo de Altos Estudos Amazônicos da Universidade Federal do Pará. E-mail [email protected] Cadernos de Ciência & Tecnologia, Brasília, v.17, n.2, p.179-187, maio/ago. 2000

Violência, Campo - 2000 - No Title.pdf

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    RESENHA

    CONTRIBUIES DO NCLEO DE ALTOS ESTUDOSAMAZNICOS PARA A COMPREENSO

    DA VIOLNCIA NO CAMPO

    Gutemberg Armando Diniz Guerra1

    FERNANDES, M. Donos de terra. Trajetrias da Unio Democrtica Ruralista- UDR. Belm: UFPA/NAEA, 1999.

    COSTA, L. M. Discurso e conflito. Dez anos de disputa pela terra em Eldoradodos Carajs. Belm: NAEA/UFPA, 1999. (2. Prmio NAEA de Dissertaode Mestrado).

    EMMI, M. F. A oligarquia do Tocantins e o domnio dos castanhais. 2.ed.Belm: UFPA/NAEA, 1999.

    Alm de artigos e relatrios de pesquisas, teses de mestrado e doutoradotm sido produzidas no mbito do Ncleo de Altos Estudos Amaznicos daUniversidade Federal do Par, versando sobre diversos temas, dos quaisdestacamos algumas obras sobre as transformaes no campo, em particularno sul e sudeste paraense. Recentemente, trs teses de mestrado, produzidasno mbito desse Ncleo, foram lanadas em forma de livro, sendo uma delasem segunda edio, depois de uma primeira consagrao esgotada rapidamente.O esforo do NAEA em difundir os trabalhos dos seus membros projeta umaliteratura que tem sido restritamente acessada, a maioria disponvel apenas emalgumas bibliotecas especializadas, e por razes particulares de iniciativa dosautores. A publicao de parte desse material em livros constituir um volumea parte na anlise sobre os problemas discutidos e refletidos pela comunidadeacadmica regional, consolidando uma contribuio at ento limitada pelosgargalos da difuso editorial do pas.

    1 Doutor em Socioeconomia pela cole des Hautes tudes en Sciences Sociales, Paris, pesquisador eprofessor do Ncleo de Altos Estudos Amaznicos da Universidade Federal do Par. [email protected]

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    O primeiro deles, Donos de terras. Trajetrias da Unio DemocrticaRuralista - UDR. sobre a UDR no Par um documento-referncia para acompreenso da histria contempornea das categorias patronais rurais no estadodo Par. Baseada em um considervel acervo repertoriado em um esforo depesquisa de 6 anos, faz uma abordagem histrica e sociolgica dos latifundiriospresentes no sul do Par, mostrando suas atividades desde o surgimento at adesativao da Unio Democrtica Ruralista, entre 1985 e 1991.

    Na primeira parte, descreve a formao das estruturas agrrias no Estadodo Par entre 1950 e 1980. Evolui das exploraes nos seringais at a chegadados sulistas, atrados pelos incentivos fiscais, transformando a regio em umcaldeiro de conflitos e disputas pela posse da terra. Mostra, convincentemente,como o interesse dos sulistas pela Amaznia tem antecedentes aos temposatuais, quando eclodem as disputas pelo direito propriedade da terra.

    Na segunda parte de seu trabalho demonstra a ao do Grupo Executivo deTerras do Araguaia Tocantins - o Getat, e sua desestruturao paralela crescente mobilizao camponesa.

    Na terceira parte, analisa as organizaes patronais e seus membros,demonstrando a natureza das relaes sociais assumindo um carter nacionalpelo fato de estarem articuladas no apenas no estado do Par mas tambmcom as regies mais desenvolvidas do pas. De fato, a UDR mostrada comoum prolongamento da Associao dos Empresrios da Amaznia, cujo centrode gravidade se constitua e sediava em So Paulo.

    um trabalho rico de informaes, claro, objetivo, satisfazendo plenamenteo propsito pelo qual foi conduzido: esclarecer as relaes nos bastidores dasclasses patronais rurais.

    Destacam-se, como contribuio, vrios aspectos:

    1. a forte presena histrica dos pecuaristas na Amaznia, em geral, e noPar, em particular, na luta pela manuteno do latifndio;

    2. a articulao e presena de setores econmicos industriais do sul do pascom os latifundirios da Amaznia, desde a dcada de 40, ou seja, umacomposio do latifndio onde interesses de categorias ditas modernas seexpressam com muito vigor, em associao com segmentos ditos tradicionais econservadores;

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    3. o carter temporrio - de campanha - da UDR, da mesma forma que seurecolhimento a um estado de latncia que no pode ser confundido com a morteou extino: a UDR est no nosso esprito, no nosso sangue, diz um de seusdirigentes.

    Como observaes crticas temos, principalmente, duas. A primeira, sobrea diferenciao que feita entre a UDR e os setores tradicionais, de que seconstituriam em antagnicos e, eventualmente, em opositores, argumentaoque nos pareceu ambgua. Da mesma forma que, existindo divergncias entreo Movimento dos Trabalhadores Sem-Terra e os Sindicatos de TrabalhadoresRurais quanto s propostas e atividades polticas, sendo eles, entretanto,complementares na defesa dos interesses dos trabalhadores rurais e pretendentes terra, a UDR e os setores tradicionais foram, igualmente, complementares nadefesa do latifndio. Enquanto uma se dispunha a uma militncia agressiva efugindo aos marcos da legalidade (a UDR e o MST), os outros ( SRB e Contag)negociavam politicamente no parlamento e outras instncias o recuo daspropostas reformistas.

    A segunda observao trata-se da delimitao da UDR paraense ao raio doBico do Papagaio, no estudo, quando na verdade os dados coletados e a anlisefeita dizem respeito mais precisamente ao sul do Par. Embora a proximidadedestas regies possa justificar a associao, sempre importante lembrar queno se trata exatamente da mesma regio.

    Discurso e conflito. Dez anos de disputa pela terra em Eldorado dosCarajs, de Luciana Miranda Costa, foi editado como prmio da segunda versodo Concurso promovido pelo NAEA para dissertaes de mestrado defendidasnesse Ncleo.

    Seguindo referencial terico de autores franceses que trabalham com aanlise do discurso, em particular Michel Pcheux e Michel Foucault, o textode Luciana Costa interpreta a fala de agentes sociais envolvidos na luta pelaterra no sudeste paraense, a partir de suas posies na arena desta disputa.Indaga pela longa durao dos conflitos entre madeireiros, fazendeiros eposseiros nesta regio, em que pese o acirramento dos confrontos sangrentos.

    Dado o clima de conflito estabelecido na rea analisada, em virtude do qualas pessoas entrevistadas solicitaram que seus nomes no fossem citados, vrioscuidados foram tomados na elaborao e publicao deste trabalho, o que

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    possivelmente dificulta, para os que no conhecem a regio, uma leitura maisrealista. Os nomes da maioria das pessoas e de algumas propriedades e empresasforam substitudos por nomes fictcios, o que no tira em nada o valor acadmico,mas inviabiliza uma visualizao que poderia ter sido explorada em umacartografia e apresentao de documentos importantes para este perodo dahistria da regio.

    Depois de uma rpida introduo em que justifica a diviso temtica do seutrabalho, a autora apresenta sua opo pela anlise do discurso dos agentessociais em que entende estar expresso o dia-a-dia e a representao construdapor estes mesmos agentes.

    Em seguida apresenta um histrico da regio que servir de cenrio efornecer o contexto com todos os elementos para o seu trabalho de verificaoacadmica. aqui que aparece a maior parte das falas e interpretaes sobrea vida e sacrifcio do lder sindical Arnaldo Delcdio, presidente do Sindicatodos Trabalhadores Rurais de Eldorado dos Carajs, assassinado no dia 1. demaio de 1993. Pude assistir a uma atividade sobre o livro, no NAEA, com aparticipao da autora, do presidente da Sociedade Paraense de DireitosHumanos e de um lder sindical da regio compondo a mesa. Ainda que sobnomes fictcios, os mortos foram apresentados com as suas verdadeiras histrias,emocionando conferencistas e platia, traindo a mscara que o exerccioacadmico obrigou a portar nesta obra.

    Os captulos 4, 5 e 6 do livro trabalham com a complexa trama dos conceitosutilizados de acordo com o lugar social de quem fala e do lugar social aquem destinado o discurso. Pela complexidade com que os agentes semanifestam, estes captulos soam, s vezes, ambguos, exigindo esforo e atenodo leitor. Os termos invasor, ocupante, posseiro, grileiro, violncia, briga,luta assumem conotaes e juzos de valor diferentes a partir do locutor (quese assume como o eu no discurso), do ouvinte do discurso, e do contexto noqual pronunciado. As alianas entre categorias sociais oponentes so evidentesem determinadas circunstncias, como a das serrarias e comerciantes com osposseiros, embora no impliquem confluncia de interesses.

    Divergncias entre os sindicatos de Curionpolis e Eldorado dos Carajsaparecem com uma certa freqncia, o primeiro sendo acusado pela falta detica de seus membros (corretagem de terras), sabendo-se porm que o nveldas diferenas passa tambm pelas orientaes polticas diversas seguidas por

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    ambos, o que em nenhum momento explorado na tese. Em que pese ahegemonia do Partido dos Trabalhadores na regio e no movimento sindical detrabalhadores rurais, existem vrios sindicatos e membros de diretorias que seassociam a outros partidos (PC do B, PSB, PSDB, PMDB), sendo este um dosmotivos frequentes de agresses no campo poltico. A pouqussima projeo doMovimento dos Sem-Terra - MST nesta anlise no se justifica, mesmo sabendoque sua visibilidade nacional tenha mais amplitude do que de fato ocorre emtermos de atuao no campo.

    Algumas questes merecem ser abordadas no comentrio da obra paraforar uma melhor preciso em algumas afirmaes que possam promoverdanos pelo grau de generalizao. So questes de suma importncia masque nos parecem dignas de um maior aprofundamento, o que no pde serfeito no curso desta obra, no lhe tirando o mrito, entretanto, de ter levantadoestes aspectos.

    Atribuir, exclusivamente, venda de madeira o sustento da famlia at aprimeira colheita, sem apresentar dados tabulados que calcem esta afirmativa,parece-nos frgil, haja vista a conhecida abundncia da floresta em frutos(castanha, bacuri, aa, ux, fruto), caa (paca, jaboti, aves), e pesca, alm deoutras estratgias utilizadas pelos ocupantes no primeiro ano como oassalariamento em fazendas ou nas cidades. Neste ponto, senti falta de umainterlocuo com literatura produzida por grupos de pesquisadores que trabalhamsobre o tema na regio e que no foram citados na bibliografia.

    A fraqueza, parcialidade ou ausncia do Estado para conduzir o processode apropriao das terras na Amaznia, em geral, e em Eldorado, em particular,aparece no discurso dos fazendeiros justificando a volta dos militares comomodelo ideal de gesto.

    O tema das mfias das invases extremamente relevante e, embora citado, pouqussimo explorado no livro, assim como a relao entre membros dojudicirio e altos escales da Polcia com fazendeiros, dando a estes um cabedaldiferenciado na disputa pela terra, no aparea em nenhum momento abordada.

    A bibliografia apresentada no final do livro seletiva. A que aparece citadanas notas de rodap indica uma pesquisa significativa em jornais do Estado e daregio de estudo, fazendo falta, porm, uma maior interlocuo com autoresque estejam produzindo na e sobre a regio.

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    Este livro provoca o incmodo que o massacre de Eldorado dos Carajsdeixou entre os brasileiros em geral: o de que a questo da terra de vida oumorte, exige uma mobilizao muito mais ampla do que tudo o que se fz atagora e que a compreenso que temos sobre os agentes e atores envolvidosneste tema precisa ser em muito melhorada.

    A terceira obra que privilegiamos neste comunicado uma da mais citadasde toda a literatura recente sobre a regio amaznica. Depois de doze anos deesgotada a primeira edio, A Oligarquia do Tocantins e o domnio doscastanhais, da professora Marlia Emmi, referncia sobre a anlise dasoligarquias, vem preencher a falta que vinha fazendo desde o esgotamento daprimeira edio.

    O interesse que a obra tem despertado demonstra a atualidade e pertinnciada abordagem desenvolvida pela pesquisadora.

    O objetivo principal deste trabalho consistiu em estudar as relaesentre a transformao da estrutura fundiria e as mudanas do poderpoltico em Marab. Para isto, resgata a sua histria em detalhes, apresentandonovos dados sua compreenso. O municpio originou-se do burgo agrcolaformado em fins do sculo passado (1895) por adeptos do florianista CarlosGomes Leito, escorraados de Boa Vista do Tocantins, hoje Tocantinpolis. Aluta ento deflagrada tinha por razes as divergncias polticas surgidas aps aProclamao da Repblica, em 1889, entre os partidrios de Floriano Peixoto eDeodoro da Fonseca. Instalado o burgo, com subveno do governo do Par,houve um deslocamento do primeiro local de povoamento por problemasrelacionados com a insalubridade do lugar para rea mais saudvel. Desdeo incio, a economia do burgo e da povoao se baseia na explorao da borrachado caucho, da madeira, da castanha, da atividade agrcola e pecuria. Marabse torna municpio por lei estadual de n. 1278 de 27 de fevereiro de 1913.

    Uma boa reviso bibliogrfica conduz a uma definio de oligarquia comoelemento do poder econmico e poltico, expresso na regio com caractersticasprprias, diferenciadas da oligarquia nordestina: ... quando me refiro oligarquia no Tocantins, estou fazendo aluso a grupos constitudos emtorno de famlias ou empresas que vm controlando a atividade econmicaprincipal da rea: a coleta e o comrcio da castanha. O vale do Tocantinsascende como produtor de castanha na dcada de 20, precisamente a partir de

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    1927, quando Marab passa a primeiro lugar, suplantando Alenquer e bidos,fornecendo 60% do total estadual deste produto.

    O monoplio desta explorao exercido por um grupo reduzido decomerciantes que detm o poder de donos ou arrendatrios dos castanhais.O processo de apropriao destas reas se d dentro de um jogo defavorecimentos aos correligionrios polticos, em detrimento dos adversrios.A cesso feita por contratos renovveis em perodos previstos. Entre os maisaquinhoados neste jogo encontra-se Deodoro de Mendona, influente secretriode governo em diferentes perodos, e a famlia Mutran, esta representando athoje interesses polticos de grupos conservadores da regio.

    Estes oligarcas se mantm at as transformaes provocadas pelo golpemilitar de 1964, que traz em seu bojo os interesses do capital industrial,responsvel pelo deslocamento do centro de poder. A economia deixa de sebasear apenas no extrativismo vegetal, incorporando novas formas de produoagrcola; a minerao industrial, a pecuria, a construo civil e o comrcioassumem um novo papel na regio. A funo da terra se modifica, deixando deser associada ao mero extrativismo. Empresas multinacionais demonstraminteresses na rea e, em 1967, descoberta a provncia mineral de Carajs.

    Os partidos polticos desta poca trazem contradies intestinas. Na AlianaRenovadora Nacional Arena, encontram-se partidrios de Alacid Nunes eJarbas Passarinho, representando intersses diferenciados, embora na mesmaperspectiva de apoio ao regime militar. Em 1979 so extintos a Arena e oMovimento Democrtico Brasileiro MDB, abrindo-se o espao para aconstituio de um novo quadro partidrio, a partir de ento com cinco partidos:Partido Democrtico e Social (PDS), Partido do Movimento DemocrticoBrasileiro (PMDB), Partido Democrtico Trabalhista (PDT), Partido TrabalhistaBrasileiro (PTB) e Partido dos Trabalhadores (PT). No PDS, o Major Curisurge como representante dos militares atuantes na represso poltica, em meadosda dcada de 70. Por outro lado, a Igreja Catlica e os novos partidos polticosexpressam interesses diferenciados daqueles dos donos dos castanhais.

    Os conflitos fundirios afloram em confrontos abertos entre trabalhadoresrurais apoiados pela Igreja Catlica, contra latifundirios cada vez mais agressivosna defesa de seus interesses. A presena de pistoleiros na rea e o envolvimentogradativo da Polcia Militar e do Exrcito abrem um ruidoso processo. A Igreja

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    abre baterias contra o Estado que responde na mesma intensidade. Ostrabalhadores rurais se organizam em sindicatos e comeam a amealhar vitrias.A reao dos donos de castanhais se faz vigorosa, por meio do SindicatoRural de Marab, incluindo desde a formao de uma guarda para reforo dasmilcias particulares dos fazendeiros at memoriais encaminhados aos diversosorgos do setor pblico, propondo a efetivao do domnio pelo fornecimentode ttulos definitivos de propriedade.

    A perda do poder local, a organizao crescente dos trabalhadores rurais ea contradio com outras faces de blocos no poder impedem o eco dassolicitaes dos oligarcas da castanha, paulatinamente enfraquecidos. Oscastanhais vo sendo ocupados e a luta na esfera jurdica permanece, comdiversas propostas de desapropriao, de um lado, acompanhadas de solicitaode reintegrao de posse, de outro.

    A oligarquia do Tocantins e o domnio dos castanhais reflete astrasformaes que ocorreram na histria recente do sul do Par e apresentauma dinmica que desperta para possveis desdobramentos, como o plosiderrgico que ali se implanta.

    Numa linguagem clara, as modificaes nas relaes econmicas, sociais epolticas vo sendo didaticamente expostas. Delimitam-se, no estudo, as classessociais que integram, ao longo do tempo, as diversas fases do processo detrabalho nos castanhais, a lgica de dominao e subordinao caractersticasdo capitalismo e as formas de luta desenvolvidas por cada um dos segmentosenvolvidos.

    A fragilidade da organizao social diante de diretrizes polticas e econmicasexternas fica patente neste trabalho. Pesa, sobretudo, o fato de ser este estudofeito sobre uma rea onde se instala o Plo Siderrgico de Carajs, ameaandoos mesmos camponeses que de algum tempo vm tentando criar razes a custode sangue e a despeito de medidas de Reforma Agrria insuficientes.

    A escala das transformaes deve ser considerada tanto do ponto de vistafsico uma vez que os municpios ocupam extensas dimenses , quanto doponto de vista simblico , quando muitas representaes passam a ter outrossignificados.

    Marcionila Fernandes, autora de Donos de terras, formada em Letraspela Universidade Federal da Paraba (1980), professora e doutoranda em

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    Sociologia pela Universidade Federal de Pernambuco, pelo Departamento deFilosofia e Cincias Sociais.

    Luciana Miranda Costa, jornalista formada pela Pontifcia UniversidadeCatlica de So Paulo, PUC/SP, professora do Departamento de ComunicaoSocial da Universidade Federal do Par, atualmente coordena a pesquisa Ossetenta anos do Rdio em Belm e cursa o doutorado em DesenvolvimentoSustentado no Trpico mido, no NAEA/UFPA.

    Amazonense de nascimento, sociloga, mestra em Planejamento doDesenvolvimento, professora de Cincia Poltica da Universidade Federal doPar e pesquisadora do Ncleo de Altos Estudos Amaznicos NAEA, MarliaEmmi tem vrios artigos publicados, participou de vrias pesquisas desenvolvidaspelo NAEA e atualmente vice-coordenadora desse mesmo Ncleo.

    Estes trs trabalhos de mestres formados na melhor tradio acadmicarepresentada pelo NAEA ilustram a significativa contribuio que aUniversidade Federal do Par vem oferecendo anlise dos problemas nomundo rural amaznico e vo servir para uma reflexo sria e aprofundadasobre o problema da terra no pas.

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    CADERNOS DE CINCIA & TECNOLOGIA

    INSTRUES AOS AUTORES

    Os Cadernos de Cincia & Tecnologia (CC&T) so uma publicaoquadrimestral, editada pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuria, como objetivo de refletir, debater e veicular uma viso crtica da cincia, da tecnologiae do desenvolvimento agropecurios, com nfase nos processos sociais, culturaise polticos que envolvem esta problemtica.

    1. Tipo de colaborao

    So aceitos pelos CC&T trabalhos que se enquadrem nas reas temticasde cincia, tecnologia e desenvolvimento agropecurios e que ainda no forampublicados nem encaminhados a outra revista para o mesmo fim, dentro dasseguintes categorias:

    a) artigos resultantes de pesquisa cientfica;

    b) discusses conceituais e metodolgicas;

    c) ensaios e revises crticas;

    d) textos livres para a seo Debates;

    e) resenhas bibliogrficas.

    2. Encaminhamento

    Os trabalhos devero ser encaminhados ao Editor-chefe, em trs vias,juntamente com o disquete correspondente. O arquivo pode ser enviado por E.Mail, no eximindo do encaminhamento das trs cpias impressas.

    3. Procedimentos editoriais

    a) Aps a triagem, os trabalhos so encaminhados para anlise e parecer detrs consultores do Quadro de Pareceristas da revista, que recomendam:aprovao; aprovao condicional ou no aprovao. Os critrios so os seguintes:

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    - adequao linha editorial da revista;

    - valor da contribuio do ponto de vista terico, metodolgico e substantivo;

    - argumentao lgica, consistente, e que ainda assim permita contra-argumentao pelo leitor (discurso aberto);

    - correta interpretao de informaes conceituais e de resultados (ausnciade ilaes falaciosas);

    - relevncia, pertinncia e atualidade das referncias bibliogrficas.

    b) So de exclusiva responsabilidade dos autores as opinies e os conceitosemitidos nos trabalhos. Contudo, o Editor, com a assistncia de consultoresespecializados, reserva-se ao direito de sugerir ou solicitar modificaesaconselhadas ou necessrias.

    c) Eventuais modificaes de estrutura ou contedo sugeridas aos autoresdevero ser processadas e devolvidas ao Editor no prazo 30 (trinta) dias.

    d) A seqncia da publicao dos trabalhos dada pela concluso de suapreparao e remessa oficina grfica, quando ento no sero permitidosacrscimos ou modificaes no texto.

    e) Editoria e ao Conselho Editorial dos Cadernos de Cincia & Tecnologia facultada a encomenda de textos e artigos para publicao na revista.

    4. Forma de apresentao

    a) Tamanho - Os trabalhos devem ser apresentados em disquete,preferencialmente nos programas, Microsoft Word 2.0/8.0 para Windows,acompanhado de duas cpias impressas com entrelinhado duplo e margens dedois (2) centmetros nas laterais, no topo e na base, no devendo exceder 30(trinta) laudas no tamanho carta. Quanto fonte, recomenda-se a Times NewRoman, tamanho 12 para o texto e tamanho 10 para notas de rodap. Utilizarapenas a cor preta para todo o texto.

    b) Ttulos, Resumo, Abstract e Palavras-chave (key words) Os ttulos,em Portugus e Ingls, devem ser concisos e expressar o contedo do trabalho.

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    O Resumo e o Abstract no devem ultrapassar 200 palavras. exigida, tambm,a indicao de at cinco Palavras-chave e Key words.

    c) No rodap da primeira pgina, devero constar a qualificao profissionalprincipal e o endereo postal completo do(s) autor(es), incluindo o E-mail.

    d) Citaes e Referncias As citaes literais que contenham trs linhasou menos devem aparecer aspeadas, integrando o pargrafo normal, seguidaspelo sobrenome do autor referido no texto, ano da publicao e pgina(s) dotexto citado, tudo entre parnteses e separado por virgulas. As citaes literaismais longas (quatro ou mais linhas), sero destacadas do texto em pargrafoespecial e indentadas (quatro espaos direita da margem esquerda) emespao simples tamanho 10. As demais citaes seguem o padro: autor, anoe pgina; ex: (Silva, 1990: p.45).

    e) Figuras e Tabelas As figuras e tabelas devem ser numeradas emalgarismos arbicos. Quanto ao ttulo, deve ser posicionado acima, no caso dettulo de tabela, e abaixo, em se tratando de figura. S so aceitas tabelas efiguras citadas efetivamente no texto.

    f) Notas de rodap - As notas de rodap devem ser de natureza substantiva(no bibliogrficas) e reduzidas ao mnimo necessrio.

    g) Referncias Bibliogrficas - As referncias bibliogrficas seronormalizadas de acordo com Normas de referenciao e descrio bibliogrficapara o Sistema Embrapa de Informao.

    Os exemplos a seguir constituem os casos mais comuns, tomados comomodelos:

    Livro:

    WEBER, M. Cincia e poltica: duas vocaes. Trad. de Lenidas Hegenberge Octany Silveira da Mota. 4.ed. Braslia: Editora UnB, 1983. 128p. (ColeoWeberiana).Artigo de revista:

    TRIGO, E.J. Pesquisa agrcola para o ano 2000: algumas consideraesestratgicas e organizacionais. Cadernos de Cincia & Tecnologia,Braslia, v.9, n.1/3, p.9-25, 1992.

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    Dissertao ou Tese:

    RODRIGUES, C.M. Estado e seletividade de polticas pblicas: umaabordagem terica e evidncia empricas na poltica de extenso rural noBrasil. Braslia: Universidade de Braslia, Departamento de Sociologia, 1994.295p. Tese de Doutorado.Coletnea:

    OFFE, C. The theory of State and the problems of policy formation. In:LINDBERG, L., org. Stress and contradictions in modern capitalism.Lexinghton: Lexinghton Books, 1975. p.125-144.Trabalhos apresentados em Congresso:

    MUELLER, C.C. Uma abordagem para o estudo da formulao de polticasagrcolas no Brasil. In: ENCONTRO NACIONAL DE ECONOMIA, 8.,1980, Nova Friburgo. Anais... Braslia: ANPEC, 1980. p.463-506.

    5. Outras informaes

    a) O autor ou os autores recebero trs exemplares do nmero da Revistano qual o seu trabalho tenha sido publicado.

    b) Outros pormenores para a elaborao de trabalhos a serem enviados aosCC&T so fornecidos, por solicitao dos interessados, pelo Editor, CyroMascarenhas Rodrigues.

    Endereo:

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