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VALERIA SCARANCE

VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER - mpes.mp.br · VIOLÊNCIA NA Lei Maria da Penha VALERIA SCARANCE Art. 5o Para os efeitos desta Lei, configura violência doméstica e familiar contra a

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VALERIA SCARANCE

- Mulheres destinadas ao casamento com homens bem

mais velhos, da mesma família e atividades domésticas

- No século XVII – apenas duas mulheres sabiam assinar o nome

- Ordenações Filipinas:

. previsão de “tutela” da mulher, porque tinha “fraqueza de entendimento”

. proteção da classe social, religião, família (o incesto era punido com morte por fogo – Titulo XVII) e dos bens da mulher inocente, nos crimes de lesa majestade (meação, herança da mãe)

Brasil Colônia

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- Constituição Política do Império (1824) de cunho

humanista, com a igualdade “de todos perante a lei” (art. 179, XIII) e instrução primária a todos os cidadãos (art. 179, XXXII).

- Estudo: para as mulheres, restrito ao ensino de primeiro grau; conteúdo diverso dos meninos (atividades do lar, quatro operações matemáticas, não se ensinava geometria)

- Em 1887, formou-se a primeira médica Rita Lobato Velho Lopes

Brasil Império

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Constituição de 1891: igualdade de “todos” perante a lei;

eleitores “cidadãos maiores de 21 anos, alfabetizados” (art. 72, par. 2º e 70, par. 1º).

Código Civil de 1916: mulher casada era relativamente capaz (art. 6º, II); homem definia o domicílio do casal, era o chefe da sociedade conjugal e se considerava erro essencial o defloramento da mulher (art. 233 e 219, IV)

Convenção CEDAW (ONU) promulgada com reservas aos artigos 15 e 16, que tratavam da igualdade de homens e mulheres no matrimônio (1984). Somente em 1994 foi aprovada sem reservas e promulgada em 2002 (DL 26/94 e Decreto 4377/2002).

Brasil República

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Código Eleitoral de 1932, autorização para votar, mas as mulheres eram isentas de obrigação ou serviço eleitoral.

CF de 1934 – eleitores maiores de 18 anos “de um e outro sexo”, mas voto somente obrigatório para mulheres com função pública remunerada.

CF 1967 – voto obrigatório para homens e mulheres

VOTO

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“A história da mulher no Direito, ou melhor, o lugar dado pelo Direito à mulher, sempre foi considerado um não-lugar” (Marco Aurélio Marsiglia Treviso) CRIME DE ESTUPRO AO LONGO DO TEMPO: Código Criminal do Império (1830) – era um crime contra a segurança da honra, ao lado dos crimes de calúnia e injúria Código Penal de 1890 – crime contra a segurança da honra e honestidade das famílias Código Penal de 1940 – crime contra os costumes Somente em 2009, a Lei nº 12.015 modificou o título para “CRIMES CONTRA A DIGNIDADE SEXUAL” e o estupro foi considerado um crime contra a LIBERDADE SEXUAL.

PROTEÇÃO PENAL

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Até a Lei nº 11.106/05, o casamento da vítima de estupro era causa

extintiva da punibilidade (art. 107, VII e VII, CP) e havia expressões como “honesta” e “virgem” no Código Penal

No Marrocos, Amina Al Filali (16 anos) suicidou-se após Casamento forçado. O art. 475 permite o casamento para “restaurar as virtudes”

. Na Argentina, o artigo 132 do Código Penal permitia

um acordo em casos de estupro, o que foi revogado em

2012.

. No Afeganistão, muitas mulheres colocam fogo

no próprio corpo para fugir da violência e é comum o

casamento de meninas de 10 anos.

Casamento da vítima de estupro

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Em muitos países, a vítima de estupro é condenada por “sexo ilícito”

A norueguesa Marte Dalelv (24 anos), estuprada em Dubai, foi condenada a 16 eses de prisão por ingerir bebida alcoólica, fazer sexo fora do casamento e atentar contra a decência (mar/2013)

Vítima de estupro “condenada”

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Ordenações Filipinas – autorização para matar, salvo se o

marido fosse peão e o adúltero de maior qualidade (Título XXXVII, itens 1 e 3).

Código Penal de 1890 – isenção de pena em razão de completa privação dos sentidos e de inteligência no momento do cometimento do crime (art. 27, par. 4º). Réu entregue à família ou recolhido em hospital.

Até a década de 1970, houve absolvições por legítima defesa da honra.

LEGÍTIMA DEFESA DA HONRA

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No Brasil, o Projeto de Lei nº 292/2013, cria uma qualificadora

para o homicídio (art. 121, par. 7º).

Feminicídio como “forma extrema de violência de gênero que resulta na morte da mulher”, nas seguintes circunstâncias:

- relação de afeto ou parentesco

- violência sexual

- mutilação ou desfiguração da vítima

- tortura ou meio cruel

Países que tipificam o feminicídio:

Argentina, Bolívia, Chile, Colômbia, Costa Rica, Nicarágua, El Salvador, Guatemala, Honduras, México, Panamá e Peru

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FEMINICÍDIO

Por que nos últimos 30 anos 92.000 mulheres foram assassinadas? Por que, das vítimas de homicídio, apenas 20 a 30% noticiaram a violência? Por que aproximadamente 80% dos autores de violência contra a mulher são conhecidos ou parceiros? Por que homens primários e de bons antecedentes praticam violência? Por que as mulheres persistem na relação? Por que NÓS consideramos a violência contra a mulher como uma questão privada ou de pouca gravidade?

POR QUE?

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CICLO DA VIOLÊNCIA - Fase da tensão

- Fase da explosão

- Fase da “lua de mel”

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O que leva a vítima a ficar em silêncio ou se retratar? Vários fatores como

A vítima não se vê como “vítima” Fase de “lua de mel” Inversão da culpa Revitimização pelas autoridades Medo de reviver o trauma (“mito do esquecimento”) e

“catastrofização” (Valerie Wynn, psicóloga america) O sistema penal “duplica a vitimação feminina” e “reproduz a

violência estrutural das relações sociais patriarcais e a opressão sexista” (Vera Regina Pereira de Andrade)

Silêncio da vitima

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Campanhas nos Estados Unidos (agosto de 2014)

morte Golpear com objetos asfixiar, violar Isolar, controlar, estapear, morder, dar pontapés

Criticar constantemente empurrar, quebrar objetos

queridos Ameaçar, ironizar, fazer escândalos (Francisco Javier Lavrador e outros – Universidade de Madri)

Escalada da violência

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Motivos da violência

Homem:

Padrão apreendido

Álcool e drogas não são as causas da violência, mas “gatilhos” para a violência

Mulher

Padrão de submissão Dominação Silêncio Nos EUA, as mulheres

apenas ligam pedindo ajuda após o 5º ataque e na Inglaterra após 30 ataques (Mark Wynn, tenente e consultor nos EUA) VALERIA SCARANCE

Há violência de gênero, quando praticada simplesmente porque a vítima é mulher.

O conceito contém os seguintes aspectos:

. Relacional

. Assimetria de poder

. Dominação e submissão

. Naturalização

EUA – “violência com base em poder” (Valerie Wynn)

GÊNERO

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- Violência de GENERO

- No âmbito da unidade doméstica, da família ou relação intima de afeto (art. 5º). Posicionamento do STJ: hipossuficiência e inferioridade; fragilidade/vulnerabilidade da mulher; relações não transitórias

- Forma de violência prevista em lei - física, psicológica, sexual, patrimonial, moral (art. 7º)

VIOLÊNCIA NA Lei Maria da Penha

VALERIA SCARANCE

Art. 5o Para os efeitos desta Lei, configura violência doméstica e

familiar contra a mulher qualquer ação ou omissão baseada no gênero que lhe cause morte, lesão, sofrimento físico, sexual ou psicológico e dano moral ou patrimonial:

I - no âmbito da unidade doméstica, compreendida como o espaço de convívio permanente de pessoas, com ou sem vínculo familiar, inclusive as esporadicamente agregadas;

II - no âmbito da família, compreendida como a comunidade formada por indivíduos que são ou se consideram aparentados, unidos por laços naturais, por afinidade ou por vontade expressa;

III - em qualquer relação íntima de afeto, na qual o agressor conviva ou tenha convivido com a ofendida, independentemente de coabitação.

Parágrafo único. As relações pessoais enunciadas neste artigo independem de orientação sexual.

Art. 5º da lei

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Tipificação mais comum:

FÍSICA: vias de fato, lesão corporal, tortura, homicídio.

PSICOLÓGICA: perturbação da tranquilidade ou do trabalho, constrangimento ilegal, ameaça, sequestro e cárcere privado, lesão por dano à saúde, tortura psicológica

SEXUAL: estupro, assédio sexual, exploração sexual, constrangimento ilegal (método contraceptivo), aborto

PATRIMONIAL: furto, roubo, estelionato, supressão de documentos, dano

MORAL: calúnia, difamação e injúria

VIOLÊNCIA

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PROVA:

- testemunhas diretas ou indiretas

- ferimentos: laudos, prontuários médicos (art. 10, par. 3º)

Documentos: emails, fotografias, vídeos, mensagens de texto

Na Delegacia: o Delegado deve receber todos os documentos, que servirão para instruir o inquérito e o pedido de proteção.

PROCESSO CRIMINAL

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- A vitima é investigada nos processos por violência

- Questionamentos quanto à vida privada

- EUA: 50% das notícias de estupro eram consideradas falsas e as vítimas eram submetidas a detectores de mentiras. Pesquisas mais recentes revelaram que somente de 2 a 8% das noticias eram falsas (Mark Wynn, tenente e consultor americano)

- “TRAUMA” – a vítima pode ter memória fragmentada, fala sem sentido e se esquecer de detalhes, partes do episódio. Esse é um indicador positivo da violência.

VÍTIMA “investigada”

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RELIGIÃO:

Israel - menina espancada porque não se vestia adequadamente

Irã – “todos os crimes têm aspecto divino”, testemunhas dignas em nome da “Sharia”, há casamentos de meninas com menos de 10 anos (a lei autoriza com 13);

Paquistão – estupro deve ser testemunhado por quatro religiosos. Senão, a mulher é condenada por sexo ilícito à morte.

Mutilação genital – lei, costumes e religião convivem na sociedade. E admitida para conter a sexualidade.

no Mundo..

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- Tipificação de condutas como stalking (Alemanha, Italia,

Israel, Estados Unidos). - Legislação de proteção às mulheres: Argentina (Lei

26.485/09), Afeganistão (EVAW – 2009), Espanha (Lei 01/04) e Estados Unidos VAWA (Violence Against Women Act), além de legislação estadual.

- Legislação de proteção à família: Chile (Lei nº20.066/05); Angola (Lei 25/11 – “encontros reconciliatórios” e desistência da queixa); Camboja (Lei de Violência Domestica de 2005 e Lei do Ataque de Acido); Portugal (Lei 61/91).

Nos Estados Unidos, há Varas de Violência Doméstica, para vítimas/agressores homens e mulheres.

Tendências no MUNDO

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- Lei de 2009 (EVAW)

- Pior país do mundo para as mulheres viverem (mutilação genital, ataque de ácido, 80% das mulheres são analfabetas, casamentos com dez anos)

- Na lei: criminaliza “venda de mulheres” e “baad”

não há medidas de proteção

programas de prevenção para pregadores, mulás

Possibilidade de “acordo”. A vítima pode desistir a qualquer momento

ONU: se a mulher foge para “escapar do casamento”, pode ser processada por crime moral

Afeganistão

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Casamento de “crianças”

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- Lei de Proteção Integral 01/04

- Violência de Gênero

- Somente para relações afetivas

- Não há possibilidade de acordos

- medidas assistenciais: programa de emprego, ajuda financeira (06 meses a 01 ano de subsídio por desemprego, ou até 02 anos ,quando há dependentes)

- reeducação do agressor obrigatória

- capacitação de Juízes e Promotores

ESPANHA

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Atuação tridimensional:

VÍTIMA

AGRESSOR SOCIEDADE

- reeducação/agressor - instruir (saúde/rede/CGM)

Projetos do GEVID

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- Audiência Magna

- Acolher

- Cartilha “Mulher Vire a Página”

Projetos para a vítima

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No inquérito – primeiro pedido de prazo - envio de

carta à vítima pelo STMP

- no dia agendado:

Vídeo

Exposição do Promotor (formas de violência e tipos penais, atuação do MP, inquérito, provas, medidas protetivas, rito processual, sentença, prisão, grupo de reeducação, ciclo da violência)

Exposição do STMP

Plantão de dúvidas

Projeto Acolher

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COMBATER A VIOLÊNCIA e FORMAR UMA

SOCIEDADE JUSTA e PACÍFICA

Nossa missão..

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