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APRESENTAÇÃO Este módulo faz parte da coleção intitulada MATERIAL MODULAR, destinada às três séries do Ensino Médio e produzida para atender às necessidades das diferentes rea- lidades brasileiras. Por meio dessa coleção, o professor pode escolher a sequência que melhor se encaixa à organização curricular de sua escola. A metodologia de trabalho dos Modulares auxilia os alunos na construção de argumen- tações; possibilita o diálogo com outras áreas de conhecimento; desenvolve as capaci- dades de raciocínio, de resolução de problemas e de comunicação, bem como o espírito crítico e a criatividade. Trabalha, também, com diferentes gêneros textuais (poemas, histórias em quadrinhos, obras de arte, gráficos, tabelas, reportagens, etc.), a fim de dinamizar o processo educativo, assim como aborda temas contemporâneos com o ob- jetivo de subsidiar e ampliar a compreensão dos assuntos mais debatidos na atualidade. As atividades propostas priorizam a análise, a avaliação e o posicionamento perante situações sistematizadas, assim como aplicam conhecimentos relativos aos conteúdos privilegiados nas unidades de trabalho. Além disso, é apresentada uma diversidade de questões relacionadas ao ENEM e aos vestibulares das principais universidades de cada região brasileira. Desejamos a você, aluno, com a utilização deste material, a aquisição de autonomia intelectual e a você, professor, sucesso nas escolhas pedagógicas para possibilitar o aprofundamento do conhecimento de forma prazerosa e eficaz. Gerente Editorial Violência e Meio ambiente

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APRESENTAÇÃO

Este módulo faz parte da coleção intitulada MATERIAL MODULAR, destinada às três

séries do Ensino Médio e produzida para atender às necessidades das diferentes rea-

lidades brasileiras. Por meio dessa coleção, o professor pode escolher a sequência que

melhor se encaixa à organização curricular de sua escola.

A metodologia de trabalho dos Modulares auxilia os alunos na construção de argumen-

tações; possibilita o diálogo com outras áreas de conhecimento; desenvolve as capaci-

dades de raciocínio, de resolução de problemas e de comunicação, bem como o espírito

crítico e a criatividade. Trabalha, também, com diferentes gêneros textuais (poemas,

histórias em quadrinhos, obras de arte, gráficos, tabelas, reportagens, etc.), a fim de

dinamizar o processo educativo, assim como aborda temas contemporâneos com o ob-

jetivo de subsidiar e ampliar a compreensão dos assuntos mais debatidos na atualidade.

As atividades propostas priorizam a análise, a avaliação e o posicionamento perante

situações sistematizadas, assim como aplicam conhecimentos relativos aos conteúdos

privilegiados nas unidades de trabalho. Além disso, é apresentada uma diversidade de

questões relacionadas ao ENEM e aos vestibulares das principais universidades de cada

região brasileira.

Desejamos a você, aluno, com a utilização deste material, a aquisição de autonomia

intelectual e a você, professor, sucesso nas escolhas pedagógicas para possibilitar o

aprofundamento do conhecimento de forma prazerosa e eficaz.

Gerente Editorial

Violência e Meio ambiente

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© Editora Positivo Ltda., 2013

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Ruben Formighieri

Emerson Walter dos Santos

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Fábia Berlatto / Cristina Teixeira

Adriano Nervo Codato

Wilma Joseane Wünsch

Wilma Joseane Wünsch

Rose Marie Wünsch

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80440-120 Curitiba – PR

Tel.: (0xx41) 3312-3500 Fax: (0xx41) 3312-3599

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2014

[email protected]

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Acesse o Portal e digite o código na Pesquisa Escolar.

@SOC497Capitalismo fabril

e mais-valia

@SOC497

@

Dados Internacionais para Catalogação na Publicação (CIP)

(Maria Teresa A. Gonzati / CRB 9-1584 / Curitiba, PR, Brasil)

B514 Berlatto, Fábia.Ensino médio : modular : sociologia : violência e meio ambiente / Fábia Berlatto,

Cristina Teixeira ; ilustrações José Aguiar, Marcos Guilherme. – Curitiba : Positivo, 2013.

: il.

ISBN 978-85-385-7451-4 (livro do aluno)ISBN 978-85-385-7452-1 (livro do professor)

1. Sociologia. Ensino médio – Currículos. I. Teixeira, Cristina. II. Aguiar, José. III. Guilherme, Marcos. IV. Título.

CDU 373.33

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SUMÁRIOViolência e Meio ambiente

Unidade 1: Espaços da cidade e segregação social

Combate à pobreza e invenção da favela 5

Segregação social e espacial 12

Unidade 2: Controle social: percurso e interpretações

Integração e bem-estar social 15

Escola de Chicago 16

Emergência da sociedade disciplinar 17

Unidade 3: Sociologia do crime e da violência

Dinâmica do estigma 21

Crime: explicações biológicas e explicações psicológicas 23

O que a Sociologia diz sobre o crime? 24

O que é violência? 24

Unidade 4: Sociedade e natureza

A natureza transformada pela ação e pelo pensamento do homem 27

Diferentes formas sociais de uso e apropriação da natureza 29

Unidade 5: Crise ambiental

Crise ambiental e novos paradigmas 32

Ambientalismo como movimento social 35

Ações do Estado para enfrentar a crise ambiental 39

Unidade 6: Desenvolvimento e sustentabilidade

Discurso do desenvolvimento sustentável 42

Para além do desenvolvimento sustentável 46

Desafios ao desenvolvimento: conflitos ambientais e justiça social 49

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Contemporaneamente, parece que as pessoas designadas com

unanimidade como marginais [...] são para a sociedade moderna

aquilo que os Pharmakoi o eram para os atenienses, isto é, e de uma

só vez, o mal e o remédio.

PETONNET, Collete. On est tous dans le brouillard. Paris: Galilée, 1979.

[Tradução livre].

Os homens não são macacos, não vivem em sociedade, mas produ-

zem uma sociedade para viver; fazem isso porque têm a capacidade

de transformar a natureza que os cerca e sua própria natureza; por

isso, eles têm uma História, e essa História é

contraditória, é a História de suas contradições, e as maiores

contradições são as que se observam nas relações de dominação

e de exploração do homem pelo homem.

GODELIER, Maurice. In: ENTREVISTAS do Le Monde: a sociedade. São Paulo: Ática,

1989. p. 126.

Espaços da cidade e segregação social

1

Violência e Meio ambiente4

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Esta unidade expõe de que modo as questões geoespaciais (onde se mora), as questões étnicas (se se é afrodescendente ou branco, por exemplo) e a classe social a que se pertence (simplificadamente, se se é “rico” ou “pobre”) funcionam na prática como processos de estigmatização dos indivíduos (ver Conceitos sociológicos no final deste módulo). A ideia central é a que se foi construindo no imaginário social brasileiro sobre as favelas e seus habitantes. Essa visão representa o pobre como potencialmente criminoso. Nesse contexto, as políticas de Estado acabam privilegiando um tipo de controle social baseado em ações puramente policiais (repressivas) e não sociais. A consequência disso é que os próprios indi-víduos que são objetos de preconceito acabam vendo a si mesmos como cidadãos “de segunda classe”.

Combate à pobreza e invenção da favela

No início do século XX, a Medicina sanitarista brasileira condenou a casa do pobre, principalmente do pobre urbano. O cortiço, a casa de cômodos, as habitações precárias, enfim, passaram a ser consideradas um ambiente prejudicial à saúde, à produtividade (ao avanço do capitalismo) e à moral de seus moradores. A partir dessa época, as classes mais pobres passaram a ser vistas como “classes perigosas” (ver Conceitos sociológicos).

Essa avaliação sobre o pobre e seu espaço de moradia não foi uma invenção brasileira. Em Paris, no século XIX, as intervenções executadas pelo Barão Haussmann (1809-1881), então prefeito, du-rante o governo de Napoleão III (1808-1873), tinham a intenção de promover uma reforma urbana não só para embelezar a cidade, torná-la imponente, grandiosa, mas também para acabar com o seu antigo desenho medieval, cujo traçado caótico, intrincado, apertado, facilitava as barricadas das insurreições populares. As barricadas impediam o acesso da

repressão do Estado aos movimentos sociais

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Paris e seus boulevards após a reforma urbana

Para alcançar esses objetivos, foi preciso demolir construções antigas, mudar a disposição e o traçado das ruas, expulsando os moradores das áreas centrais. Estes foram então removidos para a periferia da cidade. Paris foi reorganizada de forma geométrica. Surgiram novas casas (palacetes) e novos estabelecimentos comerciais. As ruas, que antes eram sinuosas e estreitas, foram alargadas e urbanizadas, formando os boulevards, o que facilitava o enfrentamento de possíveis levantes da multidão.

Estratificação

e desigualdade

na sociedade

brasileira

@SOC496

Ensino Médio | Modular 5

SOCIOLOGIA

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No Brasil, a grande “operação de limpeza” teve início com o primeiro prefeito do Rio de Janeiro, Barata Ribeiro (1843-1910). Em 1893, ele, que também era médico, mandou demolir todos os cortiços do centro da cidade, alegando que seus moradores não respeitavam as regras de higiene exigidas pela prefeitura. Estima- -se que, ao todo, havia 600 cortiços, abrigando aproximadamente 25% da população. O maior e mais célebre deles era chamado de Cabeça de Porco.

Seus moradores, expulsos pela demolição determinada pelo governo municipal e sem alternativa, mudaram-se em sua maioria para os morros próximos. Parte deles ergueu suas casas em uma encosta que ficava logo atrás do velho cortiço, o Morro da Providência, que posteriormente foi considerado a primeira favela do Rio de Janeiro e do Brasil. De fato, alguns historiadores relacionam as demolições dos cortiços do centro do Rio de Janeiro com a ocupação ilegal dos morros.

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Ilustração de Ângelo Agostini (1893), para a Revista Ilustrada, representando uma barata, em referência ao prefeito da época, Barata Ribeiro, que estaria devorando uma cabeça de porco, fazendo remissão ao cortiço, que, ao que parece, chora. Na literatura, Aluísio Azevedo, em O cortiço, usou o Cabeça de Porco como inspiração para narrar a história

Pouco mais tarde, os soldados que haviam lutado na Guerra de Canudos, na Bahia (1896-1897), também se fixaram no Morro da Providência. Eles aguardavam as casas que o governo lhes havia prometido como soldo de guerra, mas que nunca receberam. De Morro da Providência o lugar passou a ser conhecido como Morro da Favella. É que em Monte Santo (BA) havia um morro com o mesmo nome da vegetação que o cobria, a planta “favella”, e ali ficaram os soldados que lutaram contra os revoltosos do Arraial de Canudos. Em decorrência disso, esse nome é utilizado até os dias atuais para denominar áreas degradadas, caracterizadas por moradias precárias, com falta de infraestrutura urbana e sem regularização fundiária.

Os processos de ocupação e povoamento dos morros da cidade do Rio de Janeiro sofreram novo impulso com o prefeito Francisco Pereira Passos (1836-1913), que governou a cidade entre 1902 e 1906. Em março de 1904, ele mandou demolir 641 casas populares, desalojando em torno de 3 900 pessoas. Esse ato fez parte de um projeto de reforma urbana que foi especialmente segregacionista e marcou a história do Rio de Janeiro.

O Estado é uma instituição que pretende concentrar, com êxito, o monopólio da violência legítima. Ao atribuir significados positivos ou negativos aos agentes sociais (às pessoas) e aos espaços que estes ocupam (urbano/rural, centro/periferia, favela/bairro), o Estado exerce o que em Sociologia se chama violência simbólica.

Morro da Providência, depois Morro da Favella e de novo Morro da Providência, considerada a primeira favela do Brasil. Abrigou remanescentes dos cortiços do centro do Rio de Janeiro, ex-escra-vizados do Vale do Paraíba e soldados da Guerra de Canudos que reivindicavam seus soldos atrasados. Essa fotografia é recente e mostra uma intervenção artística nas paredes das casas

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Cabeça de Porco: em

decorrência desse cortiço,

a expressão “cabeça de

porco” passou a ser usada em relação a qualquer

moradia de má qualidade.

Fundiária: relativo a terrenos;

agrário.

Segregacio- nista: política

que objetiva separar e/ou

isolar as minorias.

Violência e Meio ambiente6

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Pode-se dizer que um ato de violência simbólica ocorre quando o Estado pune “preferencialmente” ações cometidas por determinada categoria social ou por habitantes de certos espaços sociais e deixa de punir outros.

Há violência simbólica quando o Estado atribui qualificações mais negativas que positivas e características depreciativas a determinados locais ou a certas pessoas. Essa prática, muito comum nas políticas de Estado, além de não representar qualquer possibilidade de melhoria daqueles que são o seu alvo preferencial, amplia e reforça preconceitos sociais. Isso ocorre, por exemplo, quando o Estado define um espaço urbano e seus habitantes como vulneráveis ao crime, apoiando-se inclusive em uma suposta cientificidade (estatísticas, mapas da violência, etc.). Nesse caso, presta-se mais um desserviço, porque se promove uma espécie de humilhação pública ou, como define Oliveira (2005), coloca-se em andamento insultos morais que atingem o seu alvo e ampliam os conflitos desintegradores.

Segundo Valladares (2005), o livro de Euclides da Cunha Os sertões (1902), que narra o episódio da Guerra de Canudos, foi a fonte inspiradora para jornalistas, escritores e reformadores urbanos ca-riocas do começo do século XX descreverem as favelas. Esse livro, segundo a autora, teria servido de modelo não só para a descrição da geografia, mas também para a caracterização da população daquele espaço. O que diziam aqueles formadores de opinião (jornalistas, escritores e reformadores urbanos) sobre a favela pode, segundo Valladares, ser considerado a “gênese do processo de construção das representações sociais da favela”. Seus discursos “permitiram o desenvolvimento de um imaginário coletivo sobre o microcosmo da favela e seus moradores” (2005, p. 28).

Alcova: pequeno quarto de dormir situado no interior da casa, sem aberturas para o exterior; recâmara.Atrium: nas casas romanas, o segundo vestíbulo.Civita: palavra latina (civis: cidadão; ita: condição de); cidade. Caótico: que está em caos; confuso, desordenado. Dédalo: cruzamento confuso de caminhos; encruzilhada, labirinto.

Cumeeira: a parte mais alta do telhado.Pau a pique: parede feita de ripas ou varas entrecruzadas e barro.Testada: parte da rua ou das estradas que ficam à frente; testeira. Urbs: palavra latina que designa a cidade, o lugar com as cons-truções, com aspectos urbanísticos.

Desserviço: mau serviço.

BARROS, Flávio de. Arraial de Canudos. 1897. 1 fotografia. Arquivo Histórico do Museu da República, Rio de Janeiro.

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Texto 1

O Arraial de Canudos[...] A urbs civitas

dédalocaótico

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pau a pique

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Os sertões

Ensino Médio | Modular 7

SOCIOLOGIA

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Mister: necessário, urgente.Velhacoito de larápios: abrigo de ladrões.

1. Considerando as informações do texto, explique o título “O arraial de Canudos”.

2. Retire um exemplo que justifique o fato de o autor realizar uma analogia entre aquelas construções e uma que tivesse sido feita “febrilmente, numa noite, por uma multidão de loucos”.

Texto 2Este trecho de um texto do escritor João do Rio (1881-1921) foi publicado na Gazeta de Notícias (jornal

carioca) de 1908, quando ele visitou o Morro de Santo Antônio durante uma festa musical:

A favela descrita como foi descrita Canudos

Tinha-se, na treva luminosa da noite estrelada, a impressão lida da entrada do arraial de Canudos [...].

A invenção da favela

3. Com relação à leitura dos textos 1 e 2, marque a alternativa correta:

a) Apesar da desorganização das construções descritas no texto 1, o material utilizado dava-lhes permanência.b) O fato de as construções respeitarem as condições geográficas, como as depressões, por exemplo,

revela que os habitantes da favela tinham preocupações ambientais.c) Na frase “Traíam a fase transitória entre a caverna primitiva e a casa...” (texto 1), o verbo “trair” tem o

sentido de “atraiçoar”, “enganar”.d) O texto 2 utiliza-se do exemplo do que foi o arraial de Canudos para melhor caracterizar a descrição da favela. e) Os dois autores se servem de elementos comparativos pela similaridade absoluta existente entre eles:

no texto 1, comparando Canudos à antiga morada romana; no texto 2, a favela a Canudos.

Texto 3A leitura seguinte foi retirada do livro A invenção da favela, de Valladares (2005), trazendo um pequeno

trecho de um discurso feito no Rotary Club do Rio de Janeiro em 12 de novembro de 1926, transcrito com a ortografia da época. A fala foi publicada seis dias depois nos jornais cariocas Correio da Manhã e O Jornal. Quem fez essa preleção foi Mattos Pimenta, “apresentado às vezes como médico especialista em questões sanitárias”, “engenheiro e jornalista, personagem importante no meio dos negócios do Rio [...] construtor imobiliário e corretor de imóveis” (2005, p. 41).

Observe o conteúdo desta fala e seu respectivo significado já que esse personagem (e o que ele diz) é representativo da campanha contra as favelas e a pobreza, promovidas naquele período. Essa campanha se inseria no projeto de embelezamento e modernização da capital.

As favellas

mister

velhacoito de larápios

A invenção da favela

Violência e Meio ambiente8

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“Tu pisavas nos astros distraída”:

Esse verso foi citado pelo poeta Manuel Bandeira (1886-1968) como

uma das mais belas construções

poéticas da literatura

brasileira.

“Eu lírico”: Os sentimentos

expressos em um verso ou

poema não estão comprometidos

com o que o poeta possa ter

realmente sentido ou vivido, de

modo que não se trata da expressão

de seu “eu” real, mas de um “eu” poético ou lírico,

que tanto pode ser masculino

como feminino.

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4. Marque a alternativa incorreta sobre o texto 3. Depois, elabore um pequeno texto, corrigindo essa afirmativa.

a) Pode-se dizer que a visão apresentada da favela é generalista, portanto carregada de preconceito.b) A oposição “lindas montanhas”/“flagello das ‘favellas’” é utilizada como reforço à argumentação.c) Lido o texto, é possível considerar que essa intolerância com relação à pobreza e à favela ainda está

presente em muitos discursos da atualidade.d) A indolência, segundo o discurso apresentado, tem como origem as desobrigações econômico-sociais

e a falta de controle social.e) A insegurança e a intranquilidade que se vive atualmente tem como origem a instauração de favelas.

Texto 4Leia a letra desta música de Sílvio Caldas e Orestes Barbosa, lançada em 1937 e considerada uma das

mais representativas do cancioneiro nacional:

Chão de estrelas

tantes. A divina comédia ou ando meio desligado

5. Qual o espaço em que se localiza o enredo da história retratada nos versos da canção?

6. Que elementos denotam privações na vida das pessoas?

7. Que versos comprovam que o “eu lírico” revela um sentimento poético em relação ao espaço da favela?

8. O sentimento de angústia expresso na letra da música tem por base as condições de vida na favela? Se não, qual o motivo da angústia?

9. Que comparação principal se pode fazer entre o texto 3 e o texto 4 quanto ao ambiente da favela?

Ensino Médio | Modular 9

SOCIOLOGIA

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Valladares (2005), antropóloga brasileira já citada, afirma que existem alguns dogmas em relação à favela. Mas, o que seriam dogmas? Dogma é algo apresentado como certo, indiscutível, inquestionável.

Um desses dogmas é o de que a favela é o espaço específico da pobreza. O que a autora quer dizer com isso e que problemas isso traz?

Primeiro, pode-se constatar esse dogma no fato de que a favela é percebida e descrita como um lugar de exclusão, marginalidade, segregação (ver Conceitos sociológicos) e pobreza. Seguindo esse raciocínio, seria como se a favela fosse o próprio símbolo, o local que aglomera apenas problemas sociais (2005, p. 151). Essa relação, no entanto, está carregada de preconceitos. Logicamente não se pode dizer que a favela é um lugar em que não há pobreza, mas pobreza no sentido de pauperização. O preconceito está em associar obrigatoriamente a palavra “pobreza” a um “vazio”, a uma “falta de tudo”, a uma carência absoluta. O que se quer dizer é que, se há pauperização, ou seja, se porventura falta pão, luz, água, etc., isso não quer dizer que faltarão também valores morais, paz social, rotina, cotidiano, etc. Por exemplo: a pobreza material não implica a ausência de tudo, e não justifica como válido todo tipo de intervenção que a favela e o cotidiano de seus moradores sofram por parte de organizações governamentais e não governamentais (nas áreas de segurança, moradia, etc.).

Há ainda outro dogma a ser questionado. É a ideia de que a favela representa uma “unidade”, uma coisa única, homogênea: “a representação social dominante só reconhece ou trata a favela como um tipo no singular e não na sua diversidade” (VALLADARES, 2005, p. 151-152). Ora, a própria geografia da favela, a diferença entre residências, mostra que, como em qualquer lugar, há uma estratificação social, há uma heterogeneidade, uma variedade de modos e expectativas de vida.

Observe a pintura de Tarsila do Amaral e identifique aspectos que ratificam, isto é, confirmam as afirmações constantes no parágrafo anterior:

AMARAL, Tarsila do. Morro da favela. 1924. 1 óleo sobre tela, color., 64 cm x 76 cm. Coleção João Estéfano, São Paulo.

Diferentes formas

de desigualdade

social

@SOC782

Violência e Meio ambiente10

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Os dogmas traduzem, na realidade, grandes equívocos porque eles reforçam e ampliam uma visão dualista (e, portanto, irreal) da cidade.

Essa visão contrapõe uma cidade legal a uma cidade ilegal; a favela contra o asfalto; a favela como o oposto do bairro; o longe contra o perto. Esses dualismos são muito problemáticos. Além de ressaltarem e reproduzirem os estigmas (positivos e negativos), que marcam tanto os diversos espaços quanto os diferentes moradores dos variados espaços da cidade, assumem que o endereço define a pessoa. É como se alguém fizesse a seguinte acusação: você é o lugar em que você mora.

1. (PUC-Rio – RJ)

A condição urbana

O perigo, então, do uso desse vocabulário é que:I. a exclusão social deixe de ser apenas um estatuto abstrato e ganhe a forma de um território;II. os habitantes do Rio de Janeiro acreditem que em uma mesma cidade existam dois territórios mutuamente

excludentes;III. a questão da violência possa ser resolvida com a destruição das favelas.

A(s) afirmativa(s) que mostra(m) o perigo do uso do vocabulário é (são):a) I.b) I e II.c) I e III.d) II e III.e) I, II e III.

2. Analise o conteúdo da tirinha e responda às perguntas a seguir:

QUINO. Toda Mafalda. São Paulo: Martins Fontes, 1992. p. 384.

a) A tirinha é um gênero textual que se caracteriza pela comicidade. Considerando o conteúdo expresso nas falas das personagens, de que forma é possível entender que esse texto seja cômico? Relacione-o ao conteúdo estudado nesta unidade.

b) O que a resposta de Mafalda evidencia?

Ensino Médio | Modular 11

SOCIOLOGIA

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Segregação social e espacial

As representações dominantes da favela e do pobre na passagem do século XIX para o XX, conforme vistas, tiveram papel decisivo na constituição do imaginário social sobre a favela que se conhece na atualidade. É como se tais representações iniciais tivessem funcionado, a partir de então, como uma espécie de “mito fundador” (VALLADARES, 2005, p. 23). Ou seja, aqueles primeiros relatos tiveram um grande valor simbólico porque foram passando de geração em geração, constituindo-se em uma espécie de tradição que ainda serve de fonte para as narrativas e explicações sobre esse fenômeno social (a favela).

Mas, se antes essa interpretação tradicional caracteri-zava a favela e o pobre como símbolos da desorganização social e do atraso cultural, algo visto como um empecilho, um obstáculo e um incômodo para o progresso da jovem República, ou mais exatamente, como um inconveniente para que o Brasil pudesse ser um país civilizado e uma sociedade sadia, agora a favela e os pobres estão mais fortemente associados ao crime violento. E é esse ponto que será tra-tado, começando por evidenciar as consequências – sociais e sociológicas – dessa associação.

Após os anos de 1980-1990, as cidades brasileiras vêm passando por transformações. Muito se tem escrito sobre essas mudanças espaciais bem como sobre suas implica-ções quanto às formas de sociabilidade, de convivência. São

estudos de teóricos de Arquitetura e urbanismo, Geografia, Antropologia urbana, Sociologia urbana, Sociologia da vio-lência, etc. A antropóloga brasileira Teresa Pires do Rio Caldeira escreveu o livro Cidade de muros: crime, segregação e cidadania em São Paulo (2000), em que ela oferece uma extensa análise sobre um fenômeno social que ela chama de “enclaves fortificados”.

Essa é uma nova categoria de empreendimento urbano cujo melhor exemplo de sua versão residencial são os con-domínios fechados. Mas os enclaves fortificados incluem também conjuntos de escritórios, shopping centers, ruas fechadas e outros espaços adaptados para se tornarem “fortalezas” protegidas. Tanto quanto escolas, hospitais, centros de lazer, etc., a entrada não é livre, a permanência não é simples e as pessoas estão aí submetidas sempre a uma série de regras de convivência vigiada.

Segundo Caldeira, os enclaves fortificados já mudaram e estão mudando cada vez mais a maneira como as pessoas, principalmente da classe média e alta, vivem, consomem, trabalham e gastam seu tempo de lazer (2000, p. 258). Os en-claves fortificados mudaram também a paisagem da cidade. Mas não só dela, mudaram também o padrão de segrega-ção espacial, o caráter do espaço público e das interações públicas entre as classes e os grupos sociais. Isso já trouxe muitas consequências negativas para a vida em sociedade.

1. Oralmente, identifique o sentido de “enclaves fortificados”, fazendo uma análise das imagens apresentadas:

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Filmes de guerra, canções de amor

As interpretações e regulações que já foram do âmbito da higiene, da saúde, da organização urbana, problemas típicos de assistentes sociais, médicos-higienistas, planejadores e filantropos, passaram há algum tempo a ser preocupação de âmbito policial. Em resumo, a favela e o pobre passaram a ser tratados como “casos de polícia”. Pode-se verificar isso nas frequentes operações policiais dirigidas contra esses

locais e contra a sua população. A forma especialmente violenta como essas ações são realizadas não trouxe nem transformação real, nem solução prolongada.

Esse tipo de ação/concepção modifica de maneira trágica as noções de dignidade e cidadania. A associação direta entre favela e crime legitima as ações de ordem puramente policial e não social.

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Texto 1

Universos privados

Cidade de muros

2. Respondam em grupos:

Com relação ao texto “Universos privados” destaquem os principais pontos que giram em torno do fenômeno social analisado pela autora. Anotem esses pontos e discutam sobre suas consequências e seu significado.

Texto 2

Muros e grades

[...]

3. Identifique o aspecto temático comum aos textos.

4. O assunto de que tratam os textos corresponde à realidade social que pode ser identificada em sua cidade? Em que aspectos?

5. O título “Muros e grades” induz a que primeira impressão?

SOCIOLOGIA

13Ensino Médio | Modular

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Controle social: percurso e interpretações

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Há um longo debate em torno da noção de controle social (ver Conceitos sociológicos) na Sociologia. Algumas interpretações mais significativas sobre esse conceito serão vistas nesta unidade de trabalho. Em primeiro lugar, todavia, é necessário não levar em conta o uso comum que se faz dessa expressão, deixando de lado a primeira impressão que vem à mente quando se ouve a palavra “controle”. Para tanto, é preciso pensar que estas duas palavras – “controle” e “social” – são novas, desconhecidas. É preciso tomar, então, a expressão “controle social” como um termo técnico, como um instrumento analítico próprio das Ciências Sociais.

De maneira geral, pode-se entender o controle social como “a capacidade da sociedade de se autorregular [...]. [Essa capacidade] repousa na crença de que a ordem [social] não é mantida apenas, nem sequer principalmente, por sistemas jurídicos ou sanções formais, mas é, sim, o produto de instituições, relações e processos sociais mais amplos” (OUTHWAITE; BOTTOMORE, 1996, p. 138).

Há tanto interpretações negativas quanto positivas da noção do controle social. Isso depende do contexto social em que elas, as interpretações, se inserem.

Émile Durkheim:

teorias que

fundamentaram a

Sociologia moderna

@SOC698

Violência e Meio ambiente14

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Integração e bem-estar social

O tema preferido do sociólogo Émile Durkheim (1858-1917) é o da integração social. Segundo ele, uma sociedade bem integrada é aquela em que as pessoas, de um modo geral, têm a mesma oportu-nidade de participar do bem-estar social alcançado por ela. A integração social produz, assim, coesão social. Ou seja, ela possibilita que os indivíduos se mantenham unidos, permitindo que a sociedade continue a existir como tal. Na perspectiva durkheimiana, portanto, uma sociedade bem integrada é aquela em que o controle social funciona de forma eficiente, conseguindo promover a universaliza-ção do bem-estar social. A integração social pode ser pensada em oposição ao caos, à anomia (ver Conceitos sociológicos), à desintegração social. A preocupação de Durkheim com a integração social está voltada para o conjunto da sociedade, para a sociedade como um todo. Isso, em Sociologia, se chama de análise macrossociológica.

No fim do século XIX, quando Durkheim se dedicava aos seus estudos sociológicos, a indústria expandia-se extraordinariamente, provocando uma revolução nas formas de divisão e organização do trabalho. Esse progresso não era considerado negativo para Durkheim, mas positivo. Uma divisão do trabalho mais complexa geraria cooperação entre os trabalhadores, desenvolveria o que ele chamava de solidariedade social, que estimulava a integração social, conceito durkheimiano que expressa o que chamamos aqui de controle social. Mas, para que esse ciclo se complete, é necessária tanto a intermediação de associações, cooperativas de trabalhadores quanto a intervenção do Estado na relação entre capital e trabalho.

Portanto, a ideia de controle social, inspirada no pensamento de Émile Durkheim e de seus se-guidores, como o sociólogo francês Robert Castel (1933-2013), deve ser entendida como um processo de manutenção do ordenamento social. Um indivíduo integrado estaria na in-tersecção das muitas instituições: fa-mília, escola, vizinhança, trabalho, etc. Aquele que está fora dessa intersecção é chamado por Castel de “desfiliado” (2004). Até recentemente, por exem-plo, acreditava-se que o problema da pobreza urbana seria solucionado pelo trabalho assalariado crescente (“mais empregos”). No entanto, atualmente “uma fração significativa da classe trabalhadora foi convertida em [algo] supérfluo e compõe um ‘excedente po-pulacional perfeito’ que provavelmen-te nunca encontrará trabalho de novo” (WACQUANT, 2001b, p. 215).

O risco, no caso de tal geração de “desfiliados”, de “supérfluos”, seria o da desintegração social.

Que relação se pode estabelecer entre o conteúdo apresentado até aqui e a imagem acima?

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SOCIOLOGIA

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Escola de Chicago

A ideia de controle social assume um sentido diferente no começo do século XX com os trabalhos desenvolvidos pela Escola de Chicago. Essa escola de pensamento nasceu de um conjunto de investi-gações realizadas entre 1915 e 1940 por professores e estudantes de Sociologia da Universidade de Chicago, nos Estados Unidos.

Esses estudos se caracterizaram pela pesquisa sobre temas como a imigração e a assimilação dos imigrantes pela sociedade, as relações étnicas, a criminalidade, etc. Nessa época, no início do século XX, as grandes cidades dos EUA recebiam uma imensa massa de imigrantes.

A perspectiva desses estudiosos era problem solving, isto é, uma perspectiva mais aplicada, desti-nada a resolver os problemas que decorriam do fenômeno da imigração e de suas consequências para a sociedade que os recebia. Assim, diz-se que os trabalhos da Escola de Chicago eram “intervencio-nistas” porque os resultados de suas pesquisas serviriam para direcionar políticas de governo a fim de prevenir (ou corrigir) os efeitos perversos desse novo fenômeno social. O que eles chamavam então de controle social eram as intervenções públicas em áreas pobres que, segundo aqueles estudiosos, eram as áreas “naturais da delinquência e da criminalidade” (FREITAS, 2004, p. 86).

Entre as várias teorias desenvolvidas pela Escola de Chicago há a Teoria da Ecologia Humana. Esta considerava que “o comportamento humano é fruto das condições sociais presentes nos meios físico e social” (FREITAS, 2004). Conforme essa perspectiva, o indivíduo, uma vez inserido em determinado meio, perderia o seu livre-arbítrio (sua capacidade de escolher/decidir por conta própria) e receberia, de maneira conformista, as imposições do meio socioambiental. No caso em questão, esse meio, o dos bairros de imigrantes, caracterizava-se antes de tudo pela “desorganização social”.

A teoria da Ecologia Humana, contudo, não levou em conta elementos importantíssimos que inter-vinham na interação social, como diferenças de classe, desigualdade de poder entre os indivíduos ou o antagonismo entre o capital e o trabalho nas sociedades capitalistas. O que a Escola de Chicago chamava de desorganização social, no caso em questão, tratava-se na realidade de diversidade social. Aquelas comunidades de imigrantes apenas organizavam-se de maneira diferente da prevista na ideologia do American way of life (ver Conceitos sociológicos). Outra crítica possível de se fazer à Escola de Chicago é a de que a teoria ecológica não explicou a existência da criminalidade fora das “áreas delinquentes” e nem as condutas não delinquentes (isto é, as condutas “normais”) existentes nessas áreas (FREITAS, 2004).

Uma das propostas de controle social feitas pela Escola de Chicago, com vistas a intervir preventi-vamente para controlar as taxas de criminalidade, foi a da criação de áreas de lazer, como playgrounds, administradas e monitoradas por escolas, igrejas e outras instituições locais. Pensava-se estar contri-buindo para a formação de associações permanentes entre crianças, criando “vínculos positivos entre as pessoas, a partir da infância, numa tentativa de preencher o espaço formador que antes era ocupado pela família, já que as condições da vida urbana fizeram com que muitos lares fossem transformados em pouco mais do que meros dormitórios” (FREITAS, 2004, p. 86-87).

Para essa corrente da Sociologia, portanto, o trabalho é um grande elemento de integração social. Entretanto, esses pensadores não falam de qualquer trabalho (o trabalho avulso, esporádico) falam, sim, do trabalho como emprego, aquele que pode contar com proteção social (salário fixo, previdência, pen-são, etc.). Eles não se referem àquelas formas de trabalho que não geram ganhos “extratrabalho”. Como assim? São trabalhos temporários, sem estabilidade, que desvalorizam a ideia de carreira, trabalhos com perfil decorrente do crescimento da força dos processos de individualização e que, assim, impedem a integração social. Um trabalho desse tipo não permitiria ao indivíduo prever minimamente o seu futuro, ter a capacidade de planejá-lo. Ora, quando o trabalho gera segurança social, facilita a filiação social, ele tem a possibilidade de contribuir com a construção da identidade do trabalhador (subjetividade). A construção da identidade do trabalhador é um pré-requisito fundamental para o bem-estar social.

Teoria

weberiana e

as formas de

dominação

política e de

legitimação

do poder

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Emergência da sociedade disciplinar

Depois da Segunda Guerra Mundial (1939-1945), a expressão controle social ganhou outro sentido. Os cientistas sociais preocuparam-se, então, em perceber a relação do Estado com os mecanismos de controle social, agora avaliados por um viés bastante negativo. Nesse novo registro, o controle social não seria mais visto como o resultado produzido (ou provocado) por formas de solidariedade e de integração social, mas como uma prática de dominação organizada pelo Estado ou pelas classes dominantes. Essa mudança foi bastante marcante na história do conceito, já que a orientação negativa da temática tomou grande força na década de 1960, inclusive no Brasil, que viveu um longo período de Ditadura Militar.

Michel Foucault é o autor exemplar dessa perspectiva. Suas pesquisas, voltadas para a história da prisão, dos asilos, dos hospitais, etc., ressaltaram o poder disciplinar como o mecanismo de controle social, que é aplicado ainda na atualidade.

No livro Vigiar e punir (de 1975), Michel Foucault (1926- -1984) defendeu que os séculos XVII e XVIII viram nascer o que ele chamou de sociedade disciplinar, que seria aquela cujo sistema de controle social funcionava por meio da combinação de técnicas de classificação, seleção, vigi-lância e controle sobre os indivíduos. Essa combinação de tecnologias ramifica-se com base em um conjunto de ações sucessivas que partem de um poder central e se multiplicam hierarquicamente em uma rede de poderes interligados até chegar ao indivíduo. Por meio da ramificação das técnicas de controle, cada indivíduo é catalogado individualmente para ser mais bem controlado.

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(PUCPR) Em sua obra Vigiar e punir, Michel Foucault trata do poder disciplinar, ao escrever:

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SOCIOLOGIA

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Sobre essa passagem, seria CORRETO afirmar que:

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O panóptico foi desenhado em 1785 pelo filósofo britânico Jeremy Bentham (1748-1832) e é, segundo o próprio Foucault, a figura arquitetural do poder disciplinar. O modelo arquitetônico do panóptico (óptico: ver; pan: tudo) tem por característica uma torre no centro e um só vigilante, o qual, pelo lugar central da torre, percebe os movimentos dos condenados em suas celas. A primeira prisão panóptica foi construída em 1800, nos EUA

O panóptico

O princípio é conhecido: na periferia uma construção em anel; no centro, uma torre; esta é vazada de largas janelas que se abrem sobre a face interna do anel; a construção periférica é dividida em celas, cada uma atravessando toda a espessura da construção; elas têm duas janelas, uma para o interior, correspondendo às janelas da torre; outra, que dá para o exterior, permite que a luz atravesse a cela de lado a lado. Basta então colocar um vigia na torre central, e em cada cela trancar um louco, um doente, um condenado, um operário ou um escolar. [...] Em suma, o princípio da masmorra é invertido; ou antes, de suas três funções – trancar, privar de luz e esconder – só se con-serva a primeira [...] É visto, mas não vê; objeto de uma informação, nunca sujeito numa comunicação. [...] Daí o efeito mais importante do panóptico: induzir no detento um estado consciente e permanente de visibilidade que assegura o funcionamento automático do poder. Fazer com que a vigilância seja permanente em seus efeitos, mes-mo que descontínua em sua ação; que a perfeição do poder tenda a tornar inútil a atualidade de seu exercício; que esse aparelho arquitetural seja uma máquina de criar e sustentar uma relação de poder independente daquele que o exerce; enfim, que os detentos se encontrem presos numa situação de poder que eles mesmos são os portadores.

FOUCAULT, Michel. Vigiar e punir. Petrópolis: Vozes, 2007. p. 165-166.

Os princípios

da vigilância

e da

disciplina

por meio do

"panóptico"

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I. para Foucault o poder disciplinar é restrito apenas às prisões, como instituições centrais de controle dos delitos;

II. para o autor, o modelo das casas de correção e das penitenciárias do século XIX foi ampliado a outros níveis e relações sociais, de maneira a fundar aquilo que ele chama de sociedade disciplinar;

III. para o autor, a disciplina não é nada mais do que um sistema de punição reduzido ao âmbito das peniten-ciárias e casas de correção;

IV. a sociedade disciplinar está ligada ao exercício de um poder disciplinar que saiu do âmbito corretivo e punitivo das penitenciárias e atingiu a sociedade como um todo, fazendo com que o poder não seja reconhecido mais do ponto de vista de uma instituição, mas de um conjunto de procedimentos que marcam todas as relações sociais.

a) Apenas as assertivas II e IV estão corretas.b) Apenas as assertivas I e II estão corretas.c) Apenas a assertiva III está correta.d) Todas as assertivas estão corretas.e) Apenas a assertiva IV está correta.

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O importante é pensar que o panóptico funciona, ao mesmo tempo, como um paradigma, um modelo da sociedade disciplinar, e como um instrumento, uma metáfora para interpretar o mundo social. Ou seja, segundo Foucault, o esquema do panóptico é difundido por todo o corpo social, tendo sua função generalizada. Os mecanismos de poder dispos-

tos no panóptico representam os mecanismos de funcionamento do poder na sociedade disciplinar. Nela, o poder é extensivo, amplo, abrangente, porque ele age sobre todos os corpos individuais. A sociedade disciplinar, segundo Foucault, seria aquela que é “atravessada/constituída pela hie-rarquia, pela vigilância, pelo olhar que tudo vê, pelos regulamentos, pela documentação, pela proibição”.

A noção de “sociedade disciplinar” de Michel Foucault tem sido comumente acionada em análi-ses de formas de controle e vigilância utilizadas contemporaneamente, principalmente em grandes cidades. Um exemplo disso são as câmeras instaladas em espaços públicos, como ruas, praças, etc. Elas também estão presentes em lojas, elevadores de edifícios públicos e privados, em uma vigilância constante legitimada pela “promoção da segurança”.

GOYA, Francisco de. Uma cena de prisão (A prison scene). 1810-14. 1 óleo de zinco, color., 42,9 cm x 31,7 cm, Bowes Museum, Barnard Castle, Inglaterra.

GOYA, Francisco de. Um lunático atrás das grades (A lunatic behind bars). 1824-28. 1 giz preto, P&B, 19,13 cm x 14,5 cm. Galeria Nacional de Arte, Washington.

Suspeita de espionagem eletrônica a alunos acaba na Justiça nos EUA

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[...]

Os eventos como os descritos na matéria “Suspeita de espionagem eletrônica a alunos acaba na Justiça nos EUA” estão ficando cada vez mais comuns. Desenvolva um pequeno texto argumentativo com base no que foi lido até o momento sobre a noção de controle social de Michel Foucault. Use, como exemplo, o seu próprio conhecimento e a sua vivência sobre esse assunto.

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Sociologia do crime e da violência

3

O cotidiano, as atividades e a convivência seriam caóticos, caso os indivíduos não aderissem minimamente às regras que definem os tipos de comportamento adequados e os inadequa-dos nos mais diversos contextos.

É certo que, ao se analisarem sociologicamente as con-dutas que fogem ao padrão normal (“normal” aqui não no sentido de correto, mas de regular, corriqueiro, comum à maioria das pessoas), deve-se, primeiramente, levar em conta a que regras os indivíduos estão submetidos e quais delas eles estão, porventura, infringindo. O desvio e o crime não são, portanto, inerentes aos atos humanos; o que é desvio (em relação à norma) e o que é crime (ou transgres-são) são comportamentos que variam conforme as normas estabelecidas socialmente.

Howard Saul Becker (1928-), sociólogo e professor universitário estadunidense, explica, em seu livro Outsiders, o que define um comportamento desviante.

Por certo, crime e desvio são coisas diferentes. O so-ciólogo britânico Anthony Giddens (1938-), professor na Universidade de Cambridge, destacou que muitas formas de desvio não são sancionadas pela lei, enquanto o crime é uma forma de conduta determinada e reconhecida como tal. O desvio, portanto, é mais abrangente, ele pode abarcar fenômenos individuais ou grupais tão diferentes quanto as normas sociais existentes. Já o crime, para ser considerado como tal, precisa violar o Direito.

Mas, por que determinados tipos de comportamento são considerados desviantes ou criminosos?

E por que a ideia de crime é aplicada de maneira diferenciada às pessoas dentro de uma mesma so-ciedade?

Essas são duas importantes questões que permeiam os estudos sobre o desvio e o crime.

Comportamento desviante

[...] [O comportamento desviante] é criado pela sociedade. Não quero dizer isto no sentido normalmente com-

preendido, em que as causas do desvio são localizadas na situação social do desviante ou em “fatores sociais”

que condicionam seu comportamento. Quero dizer que os grupos sociais criam o desvio ao estabelecer as regras cuja infração constitui desvio e ao aplicá-las a pessoas particulares, marcando-as como outsiders. Sob tal ponto

de vista, o desvio não é uma qualidade do ato que a pessoa faz, mas sim a consequência da aplicação por ou-

trem de regras e sanções ao “transgressor”.

BECKER, Howard Saul. Outsiders. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2008. p. 21-22.

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Dinâmica do estigma

Quando se está falando de comportamentos que fogem aos padrões considerados socialmente “normais” ou “legais”, é preciso compreender o que a Sociologia chama de estigma (ver Conceitos sociológicos).

Mas por quê? Porque o desvio é “uma forma de classifi-cação social pela qual um grupo – ou indivíduo – identifica em outro [grupo ou indivíduo] certos atributos seletivamente reconhecidos pelo sujeito classificante como negativos ou desabonadores” (GOLDWASSER, 1981, p. 29).

Ou seja: desvio é tudo aquilo que é considerado fora do padrão “normal”, portanto, o indivíduo desviante é um indiví-duo que cedo ou tarde sofrerá estigma. Como é a sociedade quem define o que é “normal” e o que é desviante, quando se classifica um grupo ou um indivíduo como desviante, está se iniciando um processo de estigmatização. Como assim?

Becker desenvolveu uma teoria conhecida como Teoria dos Rótulos para explicar esse fenômeno social. De

um lado, existem os rotuladores, aqueles considerados “normais” (por eles mesmos), e de outro, os rotulados, os “desviantes” (considerados assim pelos rotuladores). Os primeiros dispõem de uma linguagem específica para descrever os segundos, que no final das contas acabam assumindo o rótulo que lhes foi atribuído. Isso ocorre, segundo outro sociólogo estadunidense chamado Robert King Merton (1910-2003), porque o self, ou o “eu mesmo”, é socialmente construído ou reconstruído por meio das interações que cada indivíduo tem com sua comunidade. Sendo o desvio um descompasso em relação às regras observadas pela maioria do grupo, a reação desse grupo será rotular o indivíduo diferente como “desviante”. Esse é o poder da sociedade: marcar a violação de suas regras como algo errado e tratar o desviante de forma diferente. A graduação dessa diferença de tratamento depende da gravidade da violação cometida.

Faça uma leitura das imagens, procurando definir

o que seria um comportamento desviante no seu

contexto social.

Estas duas ideias, a de desvio e a de estigma, só

funcionam em uma perspectiva interacionista

(ver Conceitos sociológicos), na interação so-

cial, ou de forma relacional, entre um grupo,

os “normais”, e outro grupo, os “anormais”.

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Relação entre

minorias, identidade e

segregação

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1. Em grupos, façam uma pesquisa sobre o que é o bullying, relatando situações veiculadas pela mídia.

2. Estabeleçam relações entre o conteúdo apresentado nesta unidade e o bullying.

Geralmente, os autores que analisam como funciona a dinâmica do estigma veem a sociedade como uma estrutura. Esse entendimento considera que o estigma delimita os grupos sociais, demarca e fixa sua posição na sociedade.

Sendo o estigma algo que funciona apenas “em relação”, quer dizer, por exemplo, que o fato de alguém ter educação supe-

José Aguiar. 2010. Digital.

rior pode ser, dependendo da circunstância social, algo honroso ou desonroso. No caso de determinada pessoa, possuidora de curso superior, ocupar um cargo que exige baixa qualificação, ela será, muito provavelmente, obrigada a esconder sua esco-laridade caso não queira sofrer algum tipo de constrangimento social, como, por exemplo, ser taxada de fracassada.

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1. Leia este texto e relacione a ideia de minoria com a de estigma social:

Minorias

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The Science of Man in the World Crisis

2. (UEM – PR) Leia o texto a seguir:

Sociologia

Considerando o texto e os processos de exclusão social no Brasil, é correto afirmar que:

(01) a estigmatização estabelece distinções sociais entre grupos considerados dignos e outros associados com noções de vergonha, desvio e criminalidade.

(02) a população pobre é a principal responsável pelo crescimento da criminalidade nos centros urbanos, aliando-se a organizações ilegais e exaltando a “cultura da pobreza” em produções culturais como o rap ou o hip hop.

(04) o apelo ao consumo, feito pelas campanhas publicitárias veiculadas nos meios de comunicação de massa, evidencia o contraste entre uma sociedade construída nas propagandas e a situação de carência e de exclusão de grande parte da população.

(08) a principal causa da pobreza, sobretudo nos centros urbanos, é a carência psicológica, ou seja, o senti-mento de autodesvalorização das populações pobres em relação às ricas.

(16) é possível identificar, no perfil biológico da população de uma determinada cidade, as justificativas para as condições precárias.

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Crime: explicações biológicas

e explicações psicológicas

É comum as pessoas especularem sobre as razões que cercam a ocorrência de um crime, principalmente as razões que teriam levado seu executor a cometê-lo.

Uma das primeiras tentativas de explicação do crime concentrava-se em qualidades inatas (de nascença) daqueles que o cometiam, apontando-as como fatores determinantes. A isso chamamos de determinismo biológico.

Um dos mais famosos expoentes dessa linha explicativa é o médico, antropólogo e criminologista (ver Conceitos socio-lógicos) italiano Cesare Lombroso (1835-1909). Ele trabalhou, principalmente durante a década de 1870, construindo e de-fendendo o que o tornaria conhecido como o “pai [da teoria] do

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O mundo científico da época de Cesare Lombroso foi tomado por um frenesi de medições. Centenas de milhares de observações em crânios, cérebros e esqueletos de supostos criminosos foram efetuadas em toda a Europa

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sCampo visual médio de um delinquente nato. Edição de 1895 de O homem criminoso (p. 319)

criminoso nato”. Segundo sua teoria, os criminosos poderiam ser identificados por características, como formato e tamanho do crânio, tamanho do maxilar, extensão dos braços, entre outras. Esses traços acompanhariam a genealogia (ver Conceitos socioló-gicos) do indivíduo, segundo ele, desde os estágios mais remotos da humani-dade (há aqui uma inspiração na teoria darwinista, ou no que Lombroso teria entendido de Darwin), o que insinuava que o criminoso era meio homem, meio animal. Os argumentos de Lombroso deram origem a um dos maiores debates de ideias do final do século XIX.

Césare Lombroso e seu criminoso nato

No decurso do Sexto Congresso de Antropologia Criminal, que teve lugar em Turim no ano de 1906, Cesare Lombroso

relatou, com a ênfase teatral e a maestria oratória que lhe eram habituais, a origem da descoberta que iria abalar

a criminologia: Em 1870, eu prosseguia há vários meses, nas prisões e nos hospícios de Pavia, em cadáveres e em vivos, pesquisas que visavam fixar as diferenças substanciais entre os loucos criminosos, sem chegar a um resultado: de repente, numa triste manhã de dezembro, encontro no crânio de um malfeitor toda uma longa série de anomalias atávicas, sobretudo uma enorme fosseta occipital média [abertura situada no nível da parte inferior da caixa crania-

na que dá passagem ao eixo cérebro-espinal] e uma hipertrofia da fosseta vermiana [região mediana do cerebelo]

análogas às encontradas nos vertebrados inferiores. À vista dessas estranhas anomalias, como se tivesse surgido uma grande planície sob um horizonte em chamas, o problema da natureza e da origem do criminoso pareceu-me resolvido: os caracteres dos homens primitivos e dos animais inferiores deviam reproduzir-se em nosso tempo.

DARMON, Pierre. Médicos e assassinos na Belle Époque: a medicalização do crime. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1991. p. 35.

Determinismos

biológico e

geográfico e seus

efeitos sociais

@SOC656

Ensino Médio | Modular 23

SOCIOLOGIA

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Enquanto as explicações biológicas defendiam que aspectos da fisionomia do rosto, características dos ossos e tamanho do crânio, enfim, que aspectos físicos dariam uma “natureza criminosa” ao indivíduo, as explicações psicológicas apontavam os aspectos da personalidade individual como responsáveis pelos atos criminosos. Esse último tipo de explicação sugeria a ocorrência da transmissão hereditária de alguma anormalidade, de um estado mental, de uma personalidade amoral, que impulsionaria o indivíduo ao crime ou, no melhor dos casos, faria com que tivesse graves problemas em seu processo de socialização.

A característica essencial desses dois princípios explicativos é o fato de eles buscarem encontrar no indivíduo, no seu corpo, na sua mente, e não na sociedade, a explicação para o crime. Em poucas palavras: eles defendiam a ideia de que o problema estava no indivíduo e não na sociedade.

O que a Sociologia diz sobre o crime?

Émile Durkheim promoveu uma reviravolta na criminologia do final do século XIX, dizendo que as causas do crime devem ser procuradas na sociedade e não no indivíduo. Durkheim percebeu ainda que o crime era um fenômeno social “normal”, já que é encontrado em todas as sociedades.

Crime, fenômeno normal

Le crime, phénomène normal.

1. Por que o crime é, para Durkheim, um fenômeno social normal?

2. Por que o autor afirma que o crime é necessário?

O crime é um fenômeno social normal quando a criminalidade permanece em taxas normais. Se-gundo Durkheim, quando a taxa de criminalidade é elevada, é sinal de que a sociedade está passando por dificuldades em sua integração social. Uma sociedade com um índice alto de criminalidade está em situação de anomia, um estado em que a coesão social está ameaçada.

O que é violência?

Há algum tempo, duas décadas aproximadamente, o brasileiro preocupava-se principalmente com problemas no sistema de saúde pública, com o déficit habitacional, as crises econômicas, os juros altos, o desemprego e a inflação. Não que essas questões, que realmente são problemas reais, tenham desaparecido. Mas, atualmente, pesquisas de opinião têm apontado que a violência é um dos problemas que mais preocupam o brasileiro. Que violência é essa?

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50 anos depois

Com base na leitura do texto “Violência, conflito e controle”, assinale a alternativa correta:

a) Conforme o autor, há várias formas de violência porque a sociedade brasileira é historicamente violenta. Isso é resultado da desigualdade social acumulada no decorrer de gerações.

b) Segundo o autor, apesar de haver várias formas de violência, elas podem ser caracterizadas com base em um único critério: a intenção do agente violento.

c) O autor estabelece uma tipologia da violência com base em vários critérios, como as características das vítimas, os agentes da violência, sua forma, seus objetivos, etc.

d) Para o autor, apesar de haver vários tipos de comportamento violento, há uma só causa da violência: a natureza humana degenerada. Ela antecede as explicações por meio de fatores sociais, culturais e históricos.

O que possui o nome genérico de “violência” tornou-se, nas últimas décadas, uma das questões mais presentes nos grandes debates públicos. No entanto, falar em violência é tão pouco explicativo quanto falar na cartola de um mágico. Não se explica o que há dentro.

A tendência mais frequente nos debates sobre a violência é a de classificá-la e medi-la. Todavia, de uma perspectiva sociológica, interessa dar um passo a mais. É preciso perguntar-se sobre:

as causas das várias formas de violência;

o impacto da violência nas condições de sociabilidade de uma comunidade;

os agentes sociais que são sujeitos e os que são objetos da violência;

as formas de punição social da violência.

SOCIOLOGIA

25Ensino Médio | Modular

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Sociedade e natureza4

A discussão sobre problemas ambientais foi originalmente realizada pelas Ciências Naturais. Mas, nas décadas de 1960 e 1970, quando se desenvolveu a ideia de uma crise ambiental, constatou-se que os problemas do meio ambiente não eram só uma consequência das dinâmicas e dos processos específicos da natureza. Eles estavam ligados à maneira pela qual a sociedade se relacionava com o meio ambiente, principalmente, estavam ligados à forma como a sociedade explorava os recursos naturais. Logo, as causas das dificuldades ambientais não poderiam ser analisadas somente pelas Ciências Naturais. Era necessário convocar outras áreas do conhecimento para se entender a interação da sociedade com o ambiente. Entre essas áreas estava a Sociologia.

Assim, conceitos como os de sociedade e de relações sociais passaram a fazer parte do suporte científico para a compreensão dos problemas ambientais, especialmente daqueles que dizem respeito à apropriação e ao uso – social, coletivo – da natureza (ver Conceitos sociológicos).

O conhecimento produzido sobre a relação entre o homem e a natureza considera aquele como parte do meio natural. Não só como mais uma espécie do sistema natural, mas como um ser social que participa dos processos de reprodução e mudança dos ecossistemas.

As demais espécies organizam-se coletivamente como uma estratégia para garantir a sua repro-dução biológica. O ser humano também faz isso, mas o faz por meio da sociedade. Essa forma de organização é diferente das demais, pois ela produz e faz circular uma série de sentidos, de significados da ação humana. Isso, por sua vez, afeta a existência dos seres humanos de modo especial. Como?

Violência e Meio ambiente26

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A natureza transformada pela ação

e pelo pensamento do homem

Tanto as relações materiais ligadas à produção e ao con-sumo (extrativismo, agricultura, utilização da água para matar a sede ou fazer uma usina hidrelétrica, etc.) quanto as relações não materiais (apreciar uma paisagem, considerar um lugar sagrado ou bonito, conhecer cientificamente o funcionamento de um ecossistema, etc.) que o homem estabelece com o seu meio natural devem ser consideradas dimensões complementares e interdependentes. A sociedade consolida padrões historicamente transmitidos de significados sobre a natureza. Estes, que são compartilhados por meio das crenças, dos valores, das normas e dos conhecimentos socialmente elaborados, servem de referência para o uso e a apropriação da natureza em diferentes sociedades. Além disso, em cada sociedade, o uso e a apropriação da natureza diferem segundo os grupos sociais considerados.

A partir de uma necessidade básica da espécie, a alimentação, podemos pensar essa questão da interdependência entre práticas materiais e as relações não materiais com a natureza. E sobre as maneiras daí derivadas de pensar e agir sobre o meio ambiente.

Comer é uma necessidade natural, fundamental. Mas a maneira de satisfazer essa necessidade está sujeita aos meios que a natureza oferece, como solo propício (ou não) à agricultura, rio ou mar para pesca, disponibilidade de animais e plantas comestíveis em um dado ambiente, etc. A maneira de satisfazer essa necessidade fundamental depende não só das técnicas empregadas para preparar os alimentos. Depende também dos significados presentes em determinada cultura sobre como é (ou como deveria ser) a relação dos homens com a natureza. Se é apropriado cozinhar ou não a carne, designar

a agricultura como prática feminina ou masculina, plantar utilizando agrotóxicos ou controle natural das pragas, utilizar talheres ou comer com as mãos não são opções naturais, mas culturais – isto é, arbitrárias.

Considere o exemplo do consumo da carne bovina. A es-pécie humana pode consumir carne bovina como alimento. No entanto, nem todas as pessoas o fazem. Algumas por não terem esse animal em seu meio natural (era o caso dos indígenas no Brasil antes da chegada dos colonizadores), outras porque não têm dinheiro para comprar a carne, há quem ache que faz mal à saúde, e há, ainda, aquelas que consideram a vaca um animal sagrado.

No hinduísmo, uma vaca transporta-va o deus Shiva (deus da transformação) e tinha também a fun-ção de controlar sua força de destruição. Por ser um animal sa-grado, a sua carne não devia ser consumida, ainda que o leite, a urina, o estrume e a sua força motriz pu-dessem ser utilizados livremente.

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Imagem de uma vaca, representando a divindade hindu Kahamadhenu

Ensino Médio | Modular 27

SOCIOLOGIA

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Já no cristianismo a visão é outra. Os animais e as plantas, acredita-se, foram criados por Deus para servir ao ser humano. Logo, podem e devem ser utilizados para o trabalho, para o lazer e para a alimentação. Há exceções entre os cristãos, como o caso dos adventistas do sétimo dia, que consideram alguns animais impuros, tóxicos, como o porco e o caranguejo. Também nesse caso a carne não deve ser consumida.

Em sua obra O homem e o mundo natural (1983), Keith Thomas descreve como era a subordinação da natureza ao ser humano na Inglaterra dos séculos XVII e XVIII apoiando-se em interpretações de relatos bíblicos. Especificamente sobre o consumo de carne bovina, encontram-se relatos de religiosos e pensadores cristãos afirmando que o abate de vacas e ovelhas não era condenado, pois forneceriam alimentos para o ser humano, um animal, conforme essa cosmogonia, mais nobre.

A superioridade dos homens diante dos animais

Até mesmo quem desejava matar animais por simples prazer podia invocar, como observou Thomas Fuller em

1642, “o alvará dado ao homem para dominar as criaturas”. [...] Os provérbios tradicionais sobre a autoridade do

homem diante dos animais foram muito bem resumidos, em 1735, pelo poeta e caçador William Somerville:

As criaturas brutas são sua propriedade,

Feitas para ele, servis à sua vontade.

Tão útil o que ele preserva, como o que mata é nocivo;

O seu soberano único e exclusivo.

THOMAS, Keith. O homem e o mundo natural: mudança de atitudes em relação às plantas e aos animais, 1500-1800. São Paulo: Companhia das

Letras, 1988. p. 27.

Cosmogonia: conjunto de representações que, operando explícita ou implicitamente nos mais diversos aspectos da vida coletiva, forma a concepção que os membros de um grupo sociocultural têm a respeito do mundo; concepção de mundo; cosmovisão.

Esses exemplos mostram como valores – no caso, reli-giosos – condicionam a relação das pessoas com a natureza.

Contudo, convém ressaltar que a relação entre as práticas materiais e as não materiais (ou simbólicas) é de mão dupla. Ou seja, não há uma determinação simples do material sobre o simbólico e vice-versa.

O fato de os cristãos no século XVII justificarem exausti-vamente a superioridade do homem diante da natureza (fato que diz respeito à sua relação simbólica com o mundo natural) está relacionado ao controle do meio ambiente para o desenvolvimento de atividades produtivas (que é uma prática material). Esse último fato está ligado, por sua vez, às origens do modo de produção capitalista.

A moral cristã abonava as ações do homem moderno diante da natureza, inclusive o conhecimento científico para o seu con-trole e posterior utilização nas práticas produtivas. Um exemplo foi o desenvolvimento da Botânica para o aproveitamento das plantas na manufatura (o algodão para a fabricação de tecidos) ou da Zoologia para o aproveitamento de espécies na tração animal. Thomas Keith relata que, para Francis Bacon, “o fim da ciência era devolver ao homem o domínio sobre a criação que ele perdera em parte com o pecado original” (p. 32).

Nesse contexto, observa-se uma afinidade eletiva (ver Conceitos sociológicos) entre a religião cristã, as práticas produtivas capitalistas e a ciência no processo de apropria-ção da natureza.

Entretanto, não se trata apenas de se apropriar do mun-do natural em benefício próprio. Nossa espécie, organizada socialmente, articulando a dimensão material e simbólica, desempenha um papel ativo, um papel de transformação da natureza. Seleciona espécies para melhor aproveitamento na produção, incrementa a biodiversidade de florestas, seca rios, abre lagos, muda o clima e até mesmo cria novas espé-cies, como se supõe ser o caso do cachorro doméstico (Canis familiaris), que se originou do lobo selvagem (Canis lupus) pela convivência com os restos de alimentos produzidos pelas primeiras vilas há cerca de 15 mil anos1.

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Campo de girassol na região de Andaluzia, Espanha. O girassol, originário das Américas, utilizado como alimento pelos indígenas, foi introduzido na Europa no século XVI como planta ornamental e hortaliça, mudando a paisagem das áreas agrícolas

1 Sobre este assunto, sugere-se a leitura da matéria intitulada “Cachorros: por que eles viraram gente”, publicada na revista

Superinteressante, São Paulo, ed. 263, ano 23, n. 3, mar. 2009.

Violência e Meio ambiente28

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Assim, não existe mais uma natureza imaculada, um ambiente que esteja fora do alcance do homem, um cenário que de alguma maneira não tenha sido organizado por ele. Até mesmo quando se descobre um lugar intocado, ele é imediatamente definido como sagrado, selvagem ou com potencial para a exploração agrícola ou turística. A partir daí, o homem age sobre ele fazendo uma reserva ecológica, um resort ou um assentamento agrícola.

Em resumo: transformar a natureza é uma característica da espécie humana. Sempre foi assim e vai continuar sendo. Há, portanto, uma história humana da natureza.

Isso posto, as questões em que a Sociologia se coloca são:

1. Como cada grupo social transforma a natureza?

2. Com base em quais interesses, em que valores e de que forma se estabelecem relações com a natureza?

Para responder a essas questões, é necessário entender os fatores sociais que determinam as diferentes formas de uso e apropriação da natureza. Essa é a contribuição da Sociologia para a compreensão (e a solução) de problemas ambientais.

Identifique as ações realizadas hoje por você que implicaram uma relação com a natureza (respi-rar, comer, tomar banho, etc.). Em seguida, observe de que forma essas ações estão condicionadas socialmente, identificando os valores, as visões, as concepções a elas relacionados. Faça um pequeno relatório, por escrito.

Diferentes formas sociais de uso e

apropriação da natureza

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Foi visto que a relação do ser humano com a natureza a transforma. Não se trata de uma relação simples. Ela é mediada pela sociedade. O ser humano é o mesmo, ainda que viva em culturas diversas, como a brasileira ou a russa, esteja no campo ou na cidade, trabalhando em uma fábrica ou no mercado de capitais. No entanto, como viver em sociedade é necessário pensar no ser humano inserido não só em culturas distintas, mas em relações sociais determinadas, ocupando posições sociais diferenciadas dentro da estrutura social.

Logo, quando se procuram, contemporaneamente, as respon-sabilidades “da sociedade” por determinados problemas ambien-tais (por exemplo, a mudança climática), não se pode dizer que a humanidade é responsável pelo aquecimento global. Do ponto de vista da Sociologia, a obrigação é pensar no indivíduo, organização ou grupo social que executa uma ação determinada – e que é condicionada socialmente – e não na espécie humana.

Se a investigação se relaciona ao impacto da agricultura sobre a mudança climática, interessa à Sociologia analisar o tipo de agricultura realizada (de subsistência, familiar, tradicional, orgânica, monocultura extensiva, etc.), observando quais as implicações técnicas, as diferentes lógicas de produção e as relações sociais específicas que cada uma dessas modalidades de produção mobiliza. Consequentemente, o impacto sobre a mudança climática é também diferenciado: o agricultor de sub-sistência da Floresta Amazônica não causa o mesmo impacto sobre o meio ambiente que a agricultura extensiva da soja.

Plantar soja em grande escala para ex-portação, produzir feijão para o consumo próprio, explorar o coltan (mistura de dois minerais: columbita e tantalita), utilizado em celulares e computadores, fazendo uso de mão de obra escravizada infantil, criar reservas naturais para realização de pesquisa científica ou apreciar o pôr do sol para se sentir bem são exemplos de diferentes formas de uso da natureza.

Além de condicionadas pelos padrões culturais, as diversas formas de uso e apropriação da natureza se dão por meio de técnicas específicas. O ponto que mais interessa, entretanto, são as relações sociais implicadas nesse processo. Elas definem quem usa, com qual finalidade, em qual escala e gerando que transformação do meio natural. Cultura, técnica e relações sociais estão, portanto, inter-relacionadas. Esses três aspectos caracte-rizam a relação da sociedade com a natureza.

A campanha da ONG Friends of the Congo denuncia a exploração do trabalho infantil na exploração do coltan que é utilizado na maioria dos eletrônicos portáteis. A columbita e a tantalita são minerais considerados raros na natureza, e a República Democrática do Congo possui 80% de suas reservas

Efeitos da

agricultura

intensiva

sobre a vida

selvagem

@SOC844

Ensino Médio | Modular 29

SOCIOLOGIA

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Técnica, sociedade e natureza

Nesta interface entre o mundo social e a sua base material, podem-se distinguir analiticamente três tipos de práticas.

Através das práticas de apropriação técnica do mundo material, configuram-se os modos de uso, transformação biofísica,

extração, inserção e deslocamento de materiais nos diferentes territórios da ação técnica. Resultante de um conjunto

de saberes e, ao mesmo tempo, base experimental para a constituição de novos conhecimentos, as técnicas consistem

no “conjunto de atos, organizados ou tradicionais, que concorrem para a obtenção de um fim puramente material –

físico, químico ou orgânico”. Tais atos constituem as chamadas formas técnicas de apropriação do mundo

material. Através das práticas de apropriação social do mundo material, por sua vez, configuram-se os

processos de diferenciação social dos indivíduos, a partir das estruturas desiguais de distribuição, acesso,

posse e controle de territórios ou de fontes, fluxos e estoques de recursos materiais. Tais práticas são

historicamente constituídas, configurando lógicas distributivas das quais se nutrem as próprias dinâmicas

de reprodução dos diferentes tipos de sociedade, com seus respectivos padrões de desigualdade. Base da

produção de diferenciação social, a desigual distribuição de poder sobre os recursos configura assim as

diversas formas sociais de apropriação do mundo material. Por fim, é pelas práticas de apropriação cultural

do mundo material, onde, para além dos modos de apropriação propriamente produtivos movidos pela

dinâmica utilitária da economia e do processo de diferenciação social dos indivíduos, o mundo material

é objeto de inúmeras atividades de atribuição de significados. Pois os fatos culturais não se restringem

a simples epifenômenos das estruturas produtivas da sociedade, mas mostram-se, ao contrário, como

parte integrante do processo de construção do mundo, dando-lhe sentidos e ordenamentos, comandando

atos e práticas diversas a partir de categorias mentais, esquemas de percepção e representações coletivas

diferenciadas. Tais operações de significação do espaço biofísico em que se constrói o mundo social

configuram as chamadas formas culturais de apropriação do mundo material.

ACSELRAD, Henri. As práticas espaciais e o campo dos conflitos ambientais. In: ______ (Org.). Conflitos ambientais no

Brasil. Rio de Janeiro: Relume Dumará, 2004. p. 14-15.

é

Interface: área de fronteira

entre regiões adjacentes, e que constitui

ponto em que interagem

sistemas inde-pendentes de

diversos grupos.Epifenômeno:

fenômeno que é um subproduto

ocasional de outro, sobre o

qual não exerce qualquer influên-

cia, e do qual é dependente.

Responda às seguintes questões:1. De acordo com o texto, qual o papel das técnicas produtivas no processo de transformação social da natureza? 2. Dê um exemplo de exploração de um recurso natural, identificando a região onde ela ocorre, sua finalidade, os

agentes sociais que estão aí envolvidos e a situação social que esse processo produz graças ao tipo de mão de obra empregada.

Leia este trecho e identifique os problemas sociais e ambientais decorrentes da forma de exploração do carvão vegetal. Identifique também os atores sociais envolvidos. Em seguida, enumere os aspectos positivos e nega-tivos, caso esta atividade fosse interditada pelos órgãos públicos.

Escravos do aço

Homem, tecnologia e reconciliação

com a natureza

@SOC719

Violência e Meio ambiente30

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Observatório Social

Assim, ao analisar determinado problema ambiental (a redução da Floresta Amazônica e seu im-pacto sobre a mudança climática, por exemplo), é preciso estender essa análise a outras dimensões, além das variáveis propriamente naturais. É preciso prestar atenção a fim de explicar os diferentes fatores econômicos, políticos e culturais envolvidos no desmatamento. Esse é um problema, em última instância, socioambiental.

Uma abordagem socioambiental da relação do homem com a natureza deve considerar tanto o meio biofísico e seus ciclos naturais como a sociedade e a relação entre esses dois elementos.

Leia este trecho de uma notícia publicada em 13 de dezembro de 2008 sobre as enchentes ocorridas naquele ano no estado de Santa Catarina:

A culpa não é só da mudança climática

Com base na leitura, faça uma pesquisa em alguns meios de comunicação sobre as enchentes que geralmente ocorrem nos meses de dezembro e janeiro em algumas regiões do nosso país. Procure identificar, nas informações levantadas, as causas:

a) naturais das enchentes;

b) sociais das enchentes.

Discuta em sala de aula os resultados encontrados e observe as concordâncias e discordâncias entre as expli-cações, destacando a quem são atribuídas as responsabilidades pelo fenômeno.

Consequências

ambientais

das atividades

humanas

@SOC511

Ensino Médio | Modular 31

SOCIOLOGIA

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Crise ambiental5La

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Rachel Carson e seu livro A primavera silenciosa, considerado um alerta para a comunidade internacional sobre o balanço entre crescimento econômico e qualidade de vida

Até a primeira metade do século XX, as denúncias dos impactos ambientais provocados pela sociedade industrial ficaram restritas a um pequeno grupo de cientistas e ambientalistas da natureza. As soluções para os problemas identificados eram localizadas. Por exemplo: defendia-se a criação de parques naturais para a apreciação estética e espiritual da vida selvagem ameaçada pela sociedade moderna.

A partir dos anos de 1960, a ciência identificou dois fatores que formaram a ideia de uma crise am-biental: as consequências do modelo de crescimento econômico da sociedade moderna sobre a natureza e a mundialização dos problemas ambientais. Nesta unidade, serão tratados três tópicos interligados: a crise ambiental, sua história e as novas formas de pensá-la sociologicamente; o ambientalismo como um movimento da sociedade civil em resposta à crise ambiental; e as ações do Estado para enfrentar essa crise.

Crise ambiental e novos paradigmas

A lógica da produção industrial capitalista atingiu dimensões planetárias após a Segunda Guerra Mundial, expandindo-se aos países não desenvolvidos e às sociedades não capitalistas. Com isso, percebeu-se que a forma de exploração dos recursos naturais poderia ameaçar a vida na Terra, pois retirava dos ecossistemas mais do que eles poderiam regenerar e depositava sobre eles mais do que poderiam absorver. Atualmente, duas consequên cias desse processo chamam a nossa atenção: as mudanças climáticas globais e a perda de biodiversidade dos ecossistemas.

Um marco importante dessa constatação foi o livro A primavera silenciosa, de Rachel Carson, zoóloga e bióloga estadunidense, publicado em 1962. O livro se tornou um best-seller. Nele havia a denúncia dos efeitos do pesticida DDT sobre a natureza, inclusive sobre a saúde humana. Essa denúncia levou o Senado estadunidense a proibir quase totalmente o seu uso nos EUA, apesar dos protestos dos agricultores.

Nas Ciências Humanas, o filósofo e sociólogo alemão Jürgen Habermas atribuiu, em 1968, a responsabilidade dos problemas ambientais ao modo de produção capitalista e à busca ilimitada de lucro. Para ele, o cresci-mento da produção, aliado ao crescimento da população, encontraria um limite colocado pela capacidade biológica do ambiente.

Na década de 1970, o tema dos impactos do modelo do crescimento econômico sobre a natureza chamou a atenção não só de cientistas, mas de outros atores da sociedade civil e de governos, particularmente dos países capitalistas desenvolvidos.

Violência e Meio ambiente32

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Em 1972, o Clube de Roma publicou o relatório Os limites do crescimento. Com base em estudos sobre o crescimento demográfico e a exploração dos recursos naturais, o Clube denunciou o colapso da humanidade, resultante do esgotamento dos recursos naturais, e propôs o crescimento zero. Em função dessa mesma preocupação, aconteceu a primeira Conferência das Nações Unidas sobre o ambiente humano, organizada pela ONU, em 1972. Ela ficou conhecida como a Conferência de Estocolmo. Foi discutido o impasse entre crescimento econômico e esgotamento dos recursos naturais. Ou seja, o dilema entre a manutenção das condições bio-físico-químicas para a reprodução da nossa espécie e o modelo de crescimento adotado pela sociedade moderna, no qual progresso é sinônimo de aumento do potencial econômico.

A discussão sobre a crise ambiental desenvolveu-se nas décadas de 1980 a 2000 e incorporou ao conhecimento de suas causas e consequências novos fenômenos sociais e naturais. As catástrofes ambientais dos anos 1980 tiveram um papel importante nesse processo porque expuseram a dimensão global dos problemas ambientais. Mostraram também a articulação entre os problemas ambientais e diversos outros fatores, como pobreza, interesse econômico, ciência e tecnologia, além da ausência de controle do poder público sobre práticas produtivas de risco.

Entre essas catástrofes, destacaram-se:

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Acidente químico provocado pela

explosão de um tanque de

metil-isso-cianato de uma indústria

estadunidense de pesticidas, na

cidade indiana de Bhopal, em 1984 Gado (búfalos) mortos, vítimas do

desastre de Bhopal em 1984

Explosão da usina nuclear da cidade de Chernobyl, na Ucrânia, em 1986

Getty Images/Contributor/Pablo Bartholomew

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Incêndio provocado por vazamento de gasolina em um oleoduto da Petrobras, na Vila Socó, no município de Cubatão, em 1986

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Vazamento de óleo do navio da maior petrolífera do mundo, o Exxon Valdez, no Alasca, em 1989

Poluição

química: os

malefícios

dos

pesticidas

@SOC712

O efeito

estufa e

a crise

ambiental

@SOC1002

Ensino Médio | Modular 33

SOCIOLOGIA

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Esses desastres influenciaram o surgimento de novas reflexões teóricas na Sociologia. Em 1986, o sociólogo alemão Ülrich Beck publicou a obra A sociedade de risco: para uma nova modernidade, em que os perigos ambientais e tecnológicos foram entendidos como elementos centrais para se explicar a sociedade contemporânea, por ele denominada sociedade de risco. Riscos ambientais e tecnoló-gicos são o produto do conhecimento sobre a sociedade e a natureza. Apesar do desenvolvimento (ou por causa do desenvolvimento), o ser humano não consegue controlar os efeitos daquilo que produz.

Da sociedade de classes à sociedade de risco

O marco para o surgimento da sociedade de risco teria sido a catástrofe de Chernobyl, que provocou um “choque

antropológico” nas populações das sociedades industrializadas do Ocidente no referente ao desenvolvimento tecnológico.

Especialmente, deve-se considerar que Beck toma como fonte de referência para suas reflexões a situação da Alemanha,

onde se destacam as preocupações com os riscos globais. Beck analisa uma sociedade na qual a preocupação com

a satisfação das necessidades materiais básicas teria sido substituída pela preocupação pelo risco potencial de

autodestruição da humanidade. Dado o caráter global dos riscos, perpassando fronteiras de classe e nação, Beck considera

que este novo tipo de sociedade já não pode ser explicado como sociedade de classes. Se antes a fome era hierárquica,

agora a poluição é democrática: a sociedade de risco significa o fim do outro como categoria social. Antes os riscos eram

vistos como pessoais; agora passam a ser globais, atravessando fronteiras nacionais e de classes.

GUIVANT, Julia Silvia. A trajetória das análises de risco: da periferia ao centro da teoria social. Revista Brasileira de Informações Bibliográficas

em Ciências Sociais, Rio de Janeiro, n. 46, p. 3-38, 1998, p. 19.

Crise ambiental como crise do pensamento ocidental

A crise ecológica não é uma catástrofe ecológica, mas o efeito do pensamento com o qual temos construído

e destruído o mundo globalizado e nossos modos de vida. Essa crise civilizatória se apresenta como um limite do

real que ressignifica e reorienta o curso da história: limite do crescimento econômico e populacional; limite dos

desequilíbrios ecológicos e das capacidades de sustentação da vida; limite de pobreza e da desigualdade social. A

crise ambiental é a crise do pensamento ocidental, da metafísica que produziu a disjunção entre o ser e o ente,

que abriu caminho à racionalidade científica e instrumental da modernidade, que produziu o mundo fragmentado e

coisificado em seu afã de domínio e controle da natureza. A crise ambiental se expressa como um questionamento

da ontologia e da epistemologia com as quais a civilização ocidental compreendeu o ser e as coisas, da ciência e

da razão tecnológica com as quais dominou a natureza e economicizou o mundo moderno.

LEFF, Enrique. Racionalidade ambiental: a reapropriação social da natureza. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2006. p. 288-289.

Já para o economista Enrique Leff, em sua obra Ra-cionalidade ambiental: a reapropriação social da natureza (2006), a crise ambiental se configura como uma crise civilizatória, provocando a revisão das racionalidades e dos paradigmas que regem a relação entre a vida social e o mundo natural.

Por que a autora afirma que a poluição é democrática?

Atividades humanas

e tipos de poluição

@SOC992

34 Violência e Meio ambiente

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A constatação da existência de uma crise ambiental desencadeou novas formas de pensar e de agir por parte da sociedade civil e do Estado a fim de solucionar os problemas por ela identificados. É o que irá ser abordado a seguir.

Ambientalismo como movimento social

O ambientalismo como um movimento social (ver Conceitos sociológicos) é definido pelo sociólogo espanhol Manuel Castells, no livro O poder da identidade (2000), como “todas as formas de compor-tamento coletivo que, tanto em seus discursos como em sua prática, visam corrigir formas destrutivas de relacionamento entre o ser humano e seu ambiente natural, contrariando a lógica estrutural e institucional atualmente predominante” (CASTELLS, 2000, p. 143).

As origens desse movimento se encontram nos anos 1960 em países desenvolvidos e industriali-zados, como Estados Unidos, Alemanha e Inglaterra. Nesses lugares, a redução de preocupações com emprego, moradia, salário, democratização política, saúde, educação e outras necessidades básicas abriu espaço para que uma classe média escolarizada se dedicasse a problemas até então relegados a segundo plano pela sociedade, como poluição e esgotamento de recursos naturais.

Na década de 1970, o ambientalismo incorporou os problemas sociais como uma das dimensões inter- -relacionadas à crise ambiental, particularmente a partir de acontecimentos em países do Terceiro Mundo, como o movimento Chipko, que teve início como um movimento de direito de exploração da floresta, reve-lando que não só as árvores devem ser preservadas, como também as condições de reprodução material e social de grupos sociais e comunidades, particularmente o direito de acesso aos recursos naturais.

Formas de

conservação

de

ecossistemas

@SOC1003

O ponto de partida da crise civilizacional é a crítica à cultura técnico-científica, cujo fundamento é a racionalidade instrumental (ver Conceitos sociológicos) capitalista, econômica, industrial e tec-nológica. A crise expõe os limites da relação do ser humano com a realidade. Ela “aparece como uma problemática social e ecológica generalizada de alcance planetário, que mexe com todos os âmbitos da organização social, os aparatos de Estado e todos os grupos e classes sociais” (LEFF, 2000, p. 282) e exige uma releitura das formas de compreensão do mundo para abarcar a complexidade da relação entre a sociedade e a natureza.

Responda às seguintes questões:

a) Quais são, na atualidade, os dois grandes problemas decorrentes das transformações do meio ambiente e da sua exploração desordenada?

b) Quais são, para os autores mencionados (Habermas, Beck e Leff), as características fundamentais da crise ambiental?

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SOCIOLOGIA

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Reflita sobre a relação entre o movimento Chipko e o enfrentamento da crise ambiental e responda à seguinte questão:

Como esse movimento lidava com a crise? Justifique a sua resposta com base em informações contidas no texto.

O ambientalismo no Brasil, influenciado por experiências internacionais, também aliou a necessidade de conservação dos recursos naturais às reivindicações de movimentos populares a partir do final dos anos de 1980. O exemplo mais conhecido é o movimento dos seringueiros no Acre, liderado por Chico Mendes. Anteriormente ele se desenvolvera por meio de ações localizadas de protesto e denúncia em torno de desastres ou ameaças ao ambiente, com caráter mais preservacionista (ver Conceitos sociológicos).

Filas formadas por caravanas que chegaram para o movimento do Adeus Sete Quedas, em 1982, realizado durante os três dias anteriores ao fechamento das comportas da Usina de Itaipu que extinguiu as Sete Quedas, causando forte impacto ambiental e social com a inundação da paisagem, a perda de espécies animais e vegetais além de terras agricultáveis de pequenos proprietários e populações indígenas. Como relata a jornalista Teresa Urban (1946-2013) em seu livro Missão (quase) impossível: aventuras e desventuras do movimento ambientalista no Brasil (2001), esse movimento reuniu cerca de 3 mil pessoas e impulsionou movimentos ambientalistas no Brasil

A expansão do movimento ambientalista ocorreu com a segunda conferência das Nações Unidas sobre o ambiente humano, em 1992, na cidade do Rio de Janeiro, a Rio-92, considerada a maior reunião de chefes de Estado (com 117 participantes) para discutir soluções para a crise ambiental. Em evento paralelo, organizado por ambientalistas, estiveram presentes cerca de 20 mil pessoas, pertencentes a ONGs, grupos religiosos e outras organizações da sociedade civil preocupadas com a crise ambiental.

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Na década de 1990, o ambientalismo afirmou sua dimensão global, utilizando fortemente a mídia não só como instrumento de denúncia, mas como meio para a constituição de redes de apoio e soli-dariedade ao movimento. As redes tinham a finalidade de aproximar diferentes experiências, discutir os problemas enfrentados e agir além dos limites territoriais e político-administrativos dos países. Um exemplo disso é a Coalizão Rios Vivos, rede formada em 1994 por ONGs e populações tradicionais. Seu objetivo era “diminuir os processos de degradação cultural, social e ambiental, e promover o desenvolvimento sustentável relacionado às bacias hidrográficas”. Ela atuou na Bacia do Prata, na Argentina, na Bolívia, no Brasil e no Uruguai.

O lugar central dos movimentos sociais

Ao contrário do que ocorria no capitalismo industrial, as reivindicações de classe do capitalismo monopolista

vão além de uma simples recusa da inserção em uma lógica capitalista voltada para a produção de bens e

mercadorias. A luta política passa a incorporar, além da dimensão econômica, um conjunto de reivindicações por

direitos de cidadania e qualidade de vida [...]. Por essa razão, [...] o locus dos conflitos de classe é o Estado, e

os movimentos sociais – e não mais a classe operária – seriam os atores privilegiados da sociedade civil na luta

contra o capitalismo em sua nova fase. Isso porque os movimentos sociais representariam interesses mais amplos

da sociedade civil e possibilitariam uma oposição mais eficaz a uma classe dirigente com domínio sobre o conjunto

dos campos da vida social e não apenas da esfera de produção [...].

BRYM, Robert J. et al. Sociologia: sua bússola para um novo mundo. São Paulo: Cengage Learning, 2008. p. 512.

Da organização simbólica à organização material da sociedade, o ambientalismo, assim como outros novos movimentos sociais (o feminismo, os movimentos pela paz, pelos direitos humanos, etc.), não luta somente por maior equidade e participação no sistema econômico e político, como os movimentos sociais do século XIX e início do século XX. Ele propõe a construção de uma nova ordem social. Ao ambientalismo é atribuído o caráter desmistificador do crescimento econômico capitalista.

Por outro lado, o ambientalismo influencia o comportamento de empresas, as políticas públicas, o debate em organizações internacionais sobre o desenvolvimento, abre espaços de poder e mobiliza processos políticos em que surgem novos atores na cena de uma ecologia política. Ele influencia a educação, a cultura de massa, o consumo e outras dimensões do cotidiano, além de ser um poderoso formador de opinião pública.

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Michael Jackson (1958-2009) compôs a música Earth song

(Canção da Terra) em 1995, pouco tempo depois da

realização da conferência Rio-92. A composição ficou em

primeiro lugar entre as canções mais tocadas em diferentes

países europeus. Ele se tornou um dos artistas mais engajados

pelas causas ambientais

SOCIOLOGIA

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Faça um levantamento de três ações realizadas por uma ONG ambientalista (propaganda, passeata, manifesto, performance artística, etc.). Apresente o objetivo desse protesto e o seu principal adversário. Você acha que essa ação contribui para a resolução dos problemas colocados pela crise ambiental? Justifique sua resposta.

O ambientalismo envolve uma diversidade de identidades. Ele vai da ecologia profunda do movi-mento estadunidense Earth First (que defende que as pessoas vivam segundo as leis da natureza) até o ambientalismo internacionalista da ONG Greenpeace, que defende a sustentabilidade ecológica contra o desenvolvimento insustentável. Dele participam diversos grupos: ONGs, associações de bairro, seringueiros, partidos políticos, organizações internacionais. Juntos, eles têm diferentes adversários, como as empresas poluidoras, o capitalismo industrial e os Estados sem regulamentação de uso dos recursos naturais. São diversas também suas estratégias de atuação. O ambientalismo investe na formação de hábitos e valores por meio da educação, da informação científica sobre a degradação do meio ambiente e em campanhas publicitárias, fazendo pressão sobre governos para a elaboração de regulamentação ambiental e outras medidas.

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Segundo Manuel Castells (2000), apesar da diversidade existente no discurso e nas práticas do ambientalismo, há algumas linhas de força presentes no movimento. Uma delas é a identificação do papel central que a ciência e a tecnologia possuem no desenvolvimento do movimento, embora ele reconheça o papel de ambas no desen-volvimento da crise ambiental. Muitas organizações ambientalistas possuem cientistas e militantes em seus quadros dirigentes, ou contam com a cooperação e a assessoria deles para sustentarem suas reivindicações.

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Faixa exposta pela ONG Greenpeace

em 2009, no Teatro Amazonas, em

Manaus, com pedido a Obama, Lula e Sarkozy

para “salvarem” o clima

Ativistas do Greenpeace fazem protesto contra a comercialização da soja transgênica na porta do Ministério da Ciência e Tecnologia.  24 set. 1998,  Brasília

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Outra linha comum no discurso do ambientalismo é a redefinição do tempo e do espaço na sociedade. A noção de tempo é redefinida quando se afirma que a relação do homem com a natureza é um pro-cesso de evolução de longo prazo, fazendo com que se pense não só no presente, mas no futuro, nas próximas gerações. Ele redefine também o espaço quando considera o âmbito local (e não o âmbito planetário, mundial) como o lugar privilegiado de ação e de participação do cidadão nas decisões relativas aos problemas ambientais, propondo assim outra forma de organização política da sociedade.

O ambientalismo inspira a criação de uma nova identidade como espécie. Ele quer passar da identidade vinculada ao Estado Nacional (e aos vários nacionalismos daí derivados: ser brasileiro, ser alemão, ser francês, etc.) para uma identidade sociobiológica capaz de fundar uma cultura da espécie humana como componente da natureza.

Ao lado de tudo isso e apesar de todas as possibilidades de mudança trazidas pelo ambientalismo desde os anos 1990, ele vem sendo acusado de estar perdendo o seu potencial revolucionário, diluído pela racionalidade econômica dominante que foi capaz de convencê-lo de que crescimento (capitalista) e conservação (do meio ambiente) não são contraditórios.

Ambiente versus desenvolvimento econômico?

Se nos anos setenta a crise ambiental levou a proclamar a necessidade de travar o crescimento antes que se

atingisse o colapso ecológico, nos anos noventa a dialética da questão ambiental produziu a sua negação: hoje o

discurso neoliberal afirma o desaparecimento da contradição entre ambiente e crescimento [...]. [...] as milagrosas

leis de mercado encarregam-se de ajustar os desequilíbrios ecológicos e as diferenças sociais gerando a equidade

e sustentabilidade.

LEFF, Enrique. Ecologia, capital e cultura: racionalidade ambiental, democracia participativa e desenvolvimento sustentável. Blumenau: EDIFURB,

2000. p. 291.

Elabore uma campanha publicitária sobre um assunto que você considere importante dentro da crise ambiental atual. Crie uma imagem e um pequeno texto de cinco linhas. A seguir, justifique sua produção, dizendo por que escolheu esse tema em especial, para quem você está dirigindo a campanha (qual o público-alvo) e quais são os efeitos esperados.

Ações do Estado para

enfrentar a crise ambiental

Intermediando a relação entre a sociedade e o ambiente, o Estado desenvolve estratégias para enfrentar a crise ambiental com base em diversos fatores que pressionam o poder público.

Essas pressões vêm de ambientalistas, de organizações internacionais, de cientistas, de bancos que financiam projetos de desenvolvimento e do próprio mercado. Há países que recusam a importação de madeira de árvores que não sejam originárias de manejo florestal. O Estado, então, ponderando interesses econômicos, políticos e sociais e as características naturais de seu território, responde à crise ambiental por meio de instrumentos políticos e administrativos.

As políticas ambientais definem os princípios e as ações para resolver problemas socioambientais, como a Política Nacional de Meio Ambiente brasileira, de 1981.

SOCIOLOGIA

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A legislação ambiental, afinada com os princípios definidos pela política ambiental, regulamenta a organização administrativa relativa ao meio ambiente e os usos e apro-priação dos recursos naturais, por exemplo, a proibição do comércio de animais silvestres (Lei de Crimes Ambientais de 1998). Além das ações de controle, o Estado desenvolve ações de gestão dos fatores naturais envolvendo o poder público e a sociedade civil, como é o caso da administração de recursos hídricos, realizada pelos Comitês de Bacia Hidrográfica, instituídos por leis estaduais para administrar os problemas relacionados à utilização dos rios.

Portanto, as formas de intervenção do Estado variam. Ele institui políticas setoriais (Política Nacional de Educação Ambiental, Política Nacional dos Resíduos Sólidos, etc.),

cria órgãos ambientais (Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade, Secretaria do Meio Ambiente do Estado de São

Paulo), atua por meio de incentivos fiscais (ICMS Ecológico, isenção de imposto para empresas que desenvolvem pro-gramas de responsabilidade ambiental), fiscaliza o uso dos recursos naturais e utiliza instrumentos de análise de impacto ambiental para o licenciamento de empre-

endimentos (Estudo de Impacto Ambiental e Relatório do Impacto Ambiental).

A atuação do poder público ocorre em diferentes escalas. Em âmbito mais local, as unidades administrativas menores se encarregam de definir suas próprias ações ambientais. A prefeitura do município de Curitiba, por exemplo, possui um sistema de coleta seletiva de lixo, o “Lixo que não é lixo”, criado em 1989.

Em escala mais global, há ações dos governos federais, tais como: a inclusão de um capítulo sobre o meio ambiente na Constituição Federal. Em seu Artigo 255, a Constituição brasileira determina que “Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e es-sencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao poder público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações”.

Nessas ações, é importante a influência de decisões de fóruns internacionais, constituídos para “governar” os problemas ambientais globais, como a ONU e o Fórum Social Mundial. O primeiro reúne representantes de Estado de todos os continentes para discutir e propor diretrizes e ações para questões ambientais, como é o caso da COP-15, 15.a Conferência das Partes, promovida pela UNFCCC – Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima, realizada em Copenhague em 2009. O segundo foi organizado por movimentos sociais de diversos países para elaborar alternativas de transformação social àquelas propostas por fóruns de Estados.

A relação desses fóruns internacionais com os Estados é de compromisso. As decisões sobre problemas ambientais globais são instituídas na forma de documentos aos quais os países participantes aderem ou não às determinações elaboradas. A adesão implica transformação das determinações em ações de Estado, o que nem sempre acontece.

Além dos fóruns internacionais, movimentos sociais e grupos de cientis-tas, representantes políticos e outros atores influenciam nas ações do Estado em relação ao meio ambiente. O exemplo do movimento dos seringueiros é bastante ilustrativo. Dele originou-se a criação da Reserva Extrativista em 1987, considerada uma unidade de conservação com cerca de 9 mil habi-tantes. Segundo o Sistema Nacional de Unidades de Conservação (2000), entende-se por Resex “áreas utilizadas por populações extrativistas tradi-cionais, cuja subsistência se baseia no extrativismo e, complementarmente, na agricultura de subsistência e na criação de animais de pequeno porte, e tem como objetivos básicos proteger os meios de vida e as culturas dessas populações, e assegurar uso sustentável dos recursos naturais da unidade”.

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Fiscais do Ibama e do IAP (Instituto Ambiental do Paraná) detectam, durante fiscalização, exploração ilegal de madeira de araucária em agosto de 2006

Castanha produzida na Resex Chico Mendes e vendida no comércio local

Folhapress/Odair Leal

Ações

globais para

a proteção da

natureza

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Violência e Meio ambiente40

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Se em determinadas situações o Estado atende aos interesses de ambientalistas, em outras, isso não acontece.

Em consequência de uma série de medidas adotadas pelo governo federal em relação à política ambiental brasileira, um grupo de ONGs ambientalistas publicou, no dia 4 de junho de 2009, uma nota pública contra o desmonte da política ambiental brasileira que, segundo o documento, atende aos interesses da “lógica do crescimento econômico a qualquer custo”. O seguinte trecho evidencia o conflito de interesses entre, de um lado, o Estado e ruralistas e, de outro, os ambientalistas.

Crise da legislação ambiental brasileira

Diante desse clima de desmonte da legislação ambiental, a bancada ruralista do Congresso Nacional, com o

apoio explícito do Ministro da Agricultura, se animou a propor a revogação tácita do Código Florestal, pressionando

pela diminuição da reserva legal na Amazônia e pela anistia a todas as ocupações ilegais em áreas de preservação

permanente. Essa movimentação já gerou o seu primeiro produto: a aprovação do chamado Código Ambiental

de Santa Catarina, que diminui a proteção às florestas que preservam os rios e encostas, justamente as que, se

estivessem conservadas, poderiam ter evitado parte significativa da catástrofe ocorrida no Vale do Itajaí no final

do ano passado [2009].

NOTA pública contra o desmonte da política ambiental brasileira. Disponível em: <http://www.apremavi.org.br/noticias/apremavi/534/nota-publica-

contra-o-desmonte-da-politica-ambiental-brasileira>. Acesso em: 5 jan. 2010.

Outro aspecto a ser observado é a efetividade das ações propostas pelo Estado para resolução da crise ambiental.

No Brasil, fatores como o descumprimento da regulamentação ambiental, as formas não democráticas de aproveitamento de espaços de gestão, a corrupção seguida de impunidade e os escassos recursos destinados aos órgãos públicos ambientais impedem que conquistas instituídas pelo Estado sejam realizadas. Ainda, a abordagem dos problemas socioambientais restrita aos órgãos ambientais faz com que eles sejam tratados de forma isolada das questões econômicas, políticas e sociais. Muitas vezes, observa-se que o mesmo Estado toma decisões que são contraditórias aos objetivos colocados pela política ambiental ou aos compromissos assumidos em fóruns internacio-nais. Por exemplo, a redução de impostos para estimular a produção de automóveis como medida para enfrentar a crise econômica internacional (2008) não foi afinada com o compromisso de reduzir a emissão de gases do efeito estufa.

Em grupos, enumere situações do seu cotidiano em relação ao meio ambiente em que se possa perceber a influência de ações do poder público. Posteriormente, discuta as seguintes questões:

a) Quais são as dificuldades encontradas para a realização dessas ações e seus possíveis resultados?

b) Essas ações são importantes para a solução efetiva de algum problema socioambiental?

SOCIOLOGIA

41Ensino Médio | Modular

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A noção de desenvolvimento sustentável foi lançada no Relatório Brundtland em 1987. Sua definição é a seguinte: é o desenvolvimento “que responde às necessidades do presente de forma igualitária, mas sem comprometer as possibilidades de sobrevivência e prosperidade das gerações futuras”. Parte-se da ideia de sustentabilidade como permanência no tempo, mais especificamente, da permanência das condições naturais essenciais para a sobrevivência e o bem-estar do ser humano, garantindo a satisfação de suas necessidades básicas.

Discurso do desenvolvimento sustentável

O desenvolvimento sustentável pode ser considerado um discurso (ver Conceitos sociológicos) sobre a necessidade de compatibilizar desenvolvimento econômico com a conservação dos recursos naturais: a atmosfera, a água, o solo e a própria espécie humana. Ao contrário do que se discutia na década de 1970 sobre ideia de crescimento zero, o crescimento econômico é considerado possível, desde que atenda a novos referenciais, principalmente uma distribuição equitativa da satisfação das necessidades entre toda a espécie humana, desta e das próximas gerações.

Da controvérsia entre crescimento econômico e seus impactos sobre os ecossistemas, presente no discurso da crise ambiental, originaram-se diferentes posições.

Para alguns, como o Clube de Roma, chamados de catastrofistas, a saída era frear o crescimento. Para outros, os desenvolvimentistas, a natureza era fonte inesgotável de riquezas, e o mercado regularia a escassez dos recursos. Outros ainda propunham uma volta ao passado e às pequenas comunidades autossustentáveis.

O desenvolvimento sustentável seguiu outra via, levando em consideração as constatações da crise ambiental (o impasse entre o modelo de desenvolvimento adotado e a reprodução do sistema natural) e compatibilizando a sustentabilidade ecológica com o desenvolvimento do capitalismo.

A partir de 1990, surgiram aqueles que criticavam a noção de desenvolvimento sustentável, afirmando que capitalismo e sustentabilidade são incompatíveis.

Em 1972, em reunião preparatória para a Conferência de Estocolmo – a ONU-EPHE –, sur-giu a ideia de ecodesenvolvimento. O economista francês Ignacy Sachs definiu-o como um desen-volvimento desejável economicamente e prudente do ponto de vista ecológico. Essa definição es-tabeleceu princípios que permanecem atuais nas discussões sobre desenvolvimento sustentável. Em seu artigo sobre as estratégias de transição do modelo de desenvolvimento para o século XXI (1994, p. 52-53), Sachs afirmou que a viabilidade do desenvolvimento depende de outros fatores que não somente o crescimento econômico e que dizem respeito à viabilidade:

social, com distribuição de riquezas e qualidade de vida a toda a população; ecológica, reduzindo o impacto sobre os ecossistemas, limitando o consumo de bens materiais, substi-

tuindo os recursos com possibilidade de esgotamento, diminuindo os resíduos sólidos e regulamentando a utilização dos recursos naturais;

Desenvolvimento e sustentabilidade6

Violência e Meio ambiente42

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espacial, com melhor equilíbrio entre cidade e campo, melhor repartição populacional e das atividades econômicas no território;

cultural, traduzindo o ecodesenvolvimento para cada situação cultural e considerando outras formas de produção possíveis.A Conferência de Estocolmo incorporou as discussões sobre o ecodesenvolvimento e responsabi-

lizou a industrialização, a explosão demográfica e o crescimento urbano pelos problemas ambientais, proclamando que todos têm direito ao meio ambiente sadio. Este deve ser protegido e melhorado para as futuras gerações.

Outras reuniões foram realizadas depois dessa por fóruns criados em Estocolmo para discutir a relação entre desenvolvimento e o ambiente. Para enfrentar os problemas ambientais, esses fóruns propuseram o uso de tecnologia limpa, o controle populacional e a transferência de recursos financeiros e técnicos para o Terceiro Mundo.

A continuidade dessa discussão culminou com a elaboração do Relatório “Nosso futuro comum”, da Comissão Mundial para o Meio Ambiente e Desenvolvimento (WCED), em 1987, conhecido como Rela-tório Brundtland. Nesse documento, define-se desenvolvimento sustentável como: “O desenvolvimento que procura satisfazer as necessidades da geração atual, sem comprometer a capacidade das gerações futuras de satisfazerem as suas próprias necessidades e afirma-se que pobreza, igualdade e degradação ambiental estão inter-relacionadas”. Qual a implicação desse princípio? “Isso significa possibilitar que as pessoas, agora e no futuro, atinjam um nível satisfatório de desenvolvimento social e econômico e de realização humana e cultural, fazendo, ao mesmo tempo, um uso razoável dos recursos da terra e preservando as espécies e os hábitats naturais”.

A segunda Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento e Meio Ambiente – CNUMAD, a Rio-92, foi organizada com o objetivo de propor estratégias específicas para o controle da degradação ambiental e promover o desenvolvimento sustentável. Dela participaram 179 representantes de governos

nacionais, organizações não governamentais, intelectuais, cientistas, reli-giosos e instituições econômicas, entre elas o Fundo Monetário Internacio-nal (FMI), o Acordo Geral de Tarifas e Comércio (GATT) e o Banco Mundial. Todos dispuseram-se a discutir o desenvolvimento econômico e social com base na perspectiva da sustentabilidade global.

Na Rio-92, várias declarações foram elaboradas em convenções sobre problemas específicos, entre elas a declaração da convenção das mudanças climáticas, a declaração da convenção sobre a biodiversidade e a Agenda 21 Global.

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SOCIOLOGIA

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Esta última é um programa de ação para o desenvolvimento sustentável que compatibiliza a conser-vação ambiental, a justiça social e a eficiência econômica. Ela redefine o desenvolvimento sustentável como aquele que “atende às necessidades do presente, sem comprometer as possibilidades das gerações futuras de atenderem às suas próprias necessidades”. Para isso, o desenvolvimento sustentável deveria promover a sustentabilidade ecológica, econômica, social, política, espacial, cultural e demográfica, dimensões estas a serem alcançadas graças ao ecodesenvolvimento.

O caráter normativo do discurso do desenvolvimento sustentável está presente na Agenda 21. Ela possui cerca de 2 500 recomendações para promover o desenvolvimento sustentável. Entre elas estão:

Cooperação internacional para ajudar os países em desenvolvimento. Mudança nos padrões de consumo. Combate à pobreza. Conservação da biodiversidade. Produção da qualidade do abastecimento dos recursos hídricos. Promoção do desenvolvimento rural e agrícola sustentável. Fortalecimento do papel dos trabalhadores e seus sindicatos. Manejo ambientalmente saudável dos resíduos perigosos.

Combate à pobreza

3.2. [...] A fim de que uma estratégia possa fazer frente simultaneamente aos problemas da pobreza, do

desenvolvimento e do meio ambiente, é necessário que se comece por considerar os recursos, a produção e as

pessoas, bem como, simultaneamente, questões demográficas, o aperfeiçoamento dos cuidados com a saúde e a

educação, os direitos da mulher, o papel dos jovens, dos indígenas e das comunidades locais e, ao mesmo tempo,

um progresso democrático de participação, associado e um aperfeiçoamento de sua gestão.

AGENDA 21 Global. Disponível em: <http://www.mma.gov.br/sitio/index.php?ido=conteudo.monta&idEstrutura=18&idConteudo=575>. Acesso

em: 5 fev. 2010.

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Mesmo que todos reconheçam a existência de uma crise ambiental e a necessidade de conter os impactos do crescimento econômico sobre os ecossistemas, as discussões sobre a forma de compati-bilizá-los sempre enfrentou fortes obstáculos nas conferências e reuniões de chefes de Estado. Talvez a discussão mais clara seja a seguinte: os países pobres e em desenvolvimento precisam crescer, assim como o fizeram os países ricos responsáveis pelo surgimento da crise ambiental, ainda que isso tenha um custo ambiental; os países ricos afirmam a necessidade de manter o crescimento, alguns deles não se comprometendo com acordos internacionais, como foi o caso dos EUA que não ratificaram o Protocolo de Kyoto em 1997, um acordo internacional que visa ao controle da emissão de gases do efeito estufa nos países industrializados para promover o controle do clima na Terra.

Em dezembro de 2009, na 15a. Conferência das Partes sobre Clima, a dificuldade de consenso permaneceu diante dos interesses de desenvolvimento econômico. Esperava-se dessa Conferência um documento com valor decisório, com metas de redução para cada país e metas globais, a serem cumpridas pelos 193 países participantes da ONU, e não somente o reconhecimento de que o aumento da temperatura da Terra não deve passar de 2oC. Apesar de a Conferência anunciar um fundo para ajuda aos países mais pobres, ela foi considerada um “fracasso”. Segundo o jornal Deutsche Welle, “Os chineses não querem fiscais em seu país; os europeus não querem elevar suas metas de redução de dióxido de carbono (CO

2); os norte-americanos não querem avançar demais. Os africanos queriam

muito mais dinheiro, mas têm um problema em prometer transparência quanto à forma como ele será gasto. No fim, a ameaça era de impasse total”2. 

2 Disponível em: <http://www.dw-world.de/dw/article/0,,5039299,00.html>. Acesso em: 3 mar. 2010.

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As posições conflitantes entre países vêm dificultando ações reais relacionadas aos impactos globais do crescimento econômico sobre a natureza. Segundo o discurso do desenvolvimento sustentável, é necessário encontrar um equilíbrio entre interesses econômicos e o interesse maior de preservação da espécie.

Para tanto, algumas medidas devem ser consideradas, como a preservação da biodiversidade, com a criação de unidades de conservação de uso sustentável; ou a mudança nos padrões de consumo, visando ao consumo responsável no qual a opção seria a redução de sacolas plásticas ou a diminuição do consumo para que outros pudessem consumir também, conforme o princípio da justiça social.

Mudança nos padrões de consumo

4.5. [...] Embora em determinadas partes do mundo os padrões de consumo sejam mais altos, as necessidades

básicas do consumidor de um amplo segmento da humanidade não estão sendo atendidas. Isso se traduz em demanda

excessiva e estilos de vida insustentáveis nos segmentos mais ricos, que exercem imensas pressões sobre o meio

ambiente. Enquanto isso os segmentos mais pobres não têm condições de ser atendidos em suas necessidades de

alimentação, saúde, moradia e educação. A mudança dos padrões de consumo exigirá uma estratégia multifacetada

centrada na demanda, no atendimento das necessidades básicas dos pobres e na redução do desperdício e do uso

dos recursos finitos no processo de produção.

AGENDA 21 Global. Disponível em: <http://www.mma.gov.br/sitio/index.php?ido=conteudo.monta&idEstrutura=18&idConteudo=575>. Acesso

em: 5 fev. 2010.

shopping center

Com base na leitura do texto, responda às seguintes questões:

a) O que você entende por consumo responsável?

b) Você é um consumidor responsável? Dê exemplos que justifiquem a sua resposta.

c) Como o consumo responsável pode contribuir para o desenvolvimento sustentável?

Agricultura e

conservação da

biodiversidade

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Mesmo diante de alguns desacordos, a Agenda 21 é o resultado do consenso entre os países que participaram da Rio-92. Como ela estabeleceu proposições gerais que poderiam servir de referência para interesses discordantes, sem estabelecer metas ou prazos, a Agenda 21 foi as-sinada por todos os governos participantes. O documento determina que os países signatários, entre eles o Brasil, devem incorporar suas recomendações em políticas públicas.

Ensino Médio | Modular 45

SOCIOLOGIA

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Agenda ambiental brasileira

Os anos seguintes à Rio-92, fortemente marcados pela crise econômica e pelo Plano Real, ensejaram uma

hegemonia economicista nas discussões sobre o futuro do Brasil e na leitura da mídia sobre os problemas nacionais.

As chamadas reformas econômicas se impuseram sobre as mudanças sociais e ambientais [...]. Foi neste contexto

que questões relacionadas ao meio ambiente, aos índios e populações tradicionais, aos conflitos fundiários ou aos

direitos humanos foram incorporadas à estratégia política do governo federal. A ênfase nestas políticas, no entanto,

ficou limitada à função simbólica, ao seu eventual possível impacto de mídia, sem que se tenha estabelecido uma

agenda consistente de ações dirigidas à efetiva solução do desenvolvimento sustentável, dependente de reformas

mais profundas nas estruturas de governo, da sociedade e da cultura.

CAMARGO, Aspásia et al. Os desafios da sustentabilidade no período pós-Rio-92: uma avaliação da situação brasileira. In: CAMARGO, Aspásia

et al. (Org.). Meio ambiente Brasil: avanços e obstáculos pós-Rio-92. São Paulo: Fundação Liberdade: Instituto Socioambiental; Rio de

Janeiro: Fundação Getúlio Vargas, 2002. p. 23.

Em 2003, o Brasil implantou a Agenda 21 Brasileira, que foi elevada à condição de Programa do Plano Plurianual do Governo – PPA 2004/2007 e assim oficialmente incorporada à política de desen-volvimento do país. Posteriormente, iniciou um processo de implantação das Agendas 21 locais.

Em linhas gerais, após a Rio-92, o discurso do desenvolvimento sustentável foi incorporado pela dinâmica social que dele se apropriou, subordinando-o aos diferentes interesses de governos, empresas, ambientalistas e outros atores sociais. Ao mesmo tempo que se institu-cionalizava e se expandia na sociedade civil e no Estado, o discurso de desenvolvimento sustentável foi criticado e redefinido, evidenciando suas possibilidades e seus limites.

Para além do desenvolvimento sustentável

Antes mesmo da Rio-92, o economista indiano Sharachchandra M. Lélé, em seu artigo “Sustainable development: a critical review” (Desenvolvimento sustentável: uma revisão crítica), de 1991, já afirmava

que o ambientalismo e o desenvolvimentismo colocaram de lado suas diferenças e uniram-se em prol do desenvolvimento sustentável. Foi a saída encontrada para os limites ambientais do crescimento econômico e para os problemas sociais – pobreza e desigualdade social. Essa união foi regida pelo imperativo da possibilidade: a de continuidade do sistema produtivo e das relações sociais que o sustentam, mantendo as causas estruturais da insustentabilidade.

O capitalismo verde, em que empresas capitalistas transformam o meio ambiente preservado em mercadoria, exemplifica a forma como a lógica de mercado se apropriou da ideia de sustentabilidade. Assim, seriam preservadas parte dos recursos naturais e, também, as relações de produção insustentáveis.

No Brasil na década de 1990, as questões econômicas foram consideradas prioritárias, e a lógica da sustentabilidade tornou-se pouco importante.

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Atualmente, muitos produtos possuem alguma forma de selo verde que agrega valor ao mostrar que a sua produção, de alguma forma, contribui para a sustentabilidade ecológica. Móveis são produzidos com o selo “FSC Forest Stewardship Council” ou “Conselho de Manejo Florestal”, certificação que garante a origem da madeira e todas as fases do processo, servindo para orientar compradores do atacado e do varejo a escolherem um produto que não agrida o meio ambiente e contribua para o desenvolvimento social e econômico das comunidades florestais

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Discurso liberal, ambiente e desenvolvimento

Se nos anos setenta a crise ambiental levou a proclamar a necessidade de travar o crescimento, antes que se atingisse

o colapso ecológico, nos anos noventa, a dialética da questão ambiental produziu a sua negação: hoje o discurso

neoliberal afirma o desaparecimento da contradição entre ambiente e crescimento [...] as milagrosas leis de mercado

encarregam-se de ajustar os desequilíbrios ecológicos e as diferenças sociais gerando a equidade e sustentabilidade.

LEFF, Enrique. Ecologia, capital e cultura: racionalidade ambiental, democracia participativa e desenvolvimento sustentável. Blumenau:

EDIFURB, 2000. p. 291.

Identifique três produtos que são ecologicamente corretos. Eles podem ser detergentes biodegradáveis, móveis construídos com madeira certificada, embalagens recicláveis, produtos orgânicos ou agroecológicos, etc. Depois disso, encontre os seus similares no mercado, mas sem a especificação acima (detergente comum, produtos não orgânicos, mobiliário proveniente de madeira derrubada e extraída da floresta, etc.). Compare os seguintes aspectos dos produtos escolhidos: preço, qualidade (mais ou menos gostoso, mais ou menos bem acabado, etc.), disponi-bilidade (facilmente encontrado para venda ou não) e discuta quais são os impactos positivos e negativos sobre a natureza, sobre a qualidade de vida do consumidor e do produtor (renda, relações de trabalho, saúde, etc.) e, se possível, o processo de produção e as relações de trabalho envolvidas em cada um deles.

Essas reflexões evidenciam a diferença entre as posições das primeiras discussões ambientais dos anos 1970 e aquelas que se institucionalizaram no discurso do desenvolvimento sustentável.

Agora já não se debate mais se o modelo de desenvolvimento é incompatível com a reprodução de ecossistemas. A preocupação é como promover essa saída, uma vez que ela já não é mais questionada como solução para a crise ambiental. Ela tornou-se a única saída possível.

As críticas mais contundentes ao discurso do desenvolvimento sustentável foram realizadas por autores que problematizaram os limites desse tipo de desenvolvimento como solução para a insus-tentabilidade.

Ao se referir a esses limites, o economista uruguaio Guillermo Foladori em sua obra Os limites do desenvolvimento sustentável, de 2001, afirmou que o desenvolvimento industrial, a tecnologia ou outros aspectos que possam aparecer como causadores da crise ambiental são determinados por relações sociais de produção. Logo, as relações capitalistas não condizem com o desenvolvimento sustentável, mesmo quando este inclui a dimensão da sustentabilidade social como degrau para se chegar à sustentabilidade ecológica.

A sustentabilidade, na visão do autor, deve ser também social, não somente porque esta afeta a sustentabilidade ecológica, mas porque ela se refere à desigualdade social e à exclusão social, que elimina parte da espécie humana por meio de guerras, genocídios, exploração do trabalho, antes mesmo dos fatores ambientais. Assim, torna-se imprescindível transformar as relações sociais que provocam a insustentabilidade socioambiental.

SOCIOLOGIA

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Crescimento versus desenvolvimento

Desenvolvimento é um conceito pluridimensional. Então quais são as suas dimensões? Simplificando o quadro,

eu diria que o tema essencial é dar-se conta de que crescimento econômico não é sinônimo de desenvolvimento.

Pode haver crescimento; mas um crescimento que comporta custos sociais e ecológicos tamanhos é um crescimento

que leva ao mau desenvolvimento. Creio que os três critérios essenciais são estes: o social, o ecológico e o

econômico. Vejamos o problema mais pormenorizadamente. O objetivo é promulgar o bem-estar de todos, ou

seja, é um objetivo social, baseado no princípio ético da justiça social e de solidariedade. O ecológico entra

como uma condicionalidade, porque existe o perigo de crescer distribuindo, do ponto de vista social, os frutos

deste crescimento de uma maneira relativamente equitativa, mas hipotecando o futuro através da incorporação

predatória do capital da natureza do produto. Isto foi o que aconteceu nos anos gloriosos do pós-guerra nos

países industrializados. Tivemos uma taxa de crescimento alta, tivemos o pleno emprego, tivemos o estado de

bem-estar, mas os custos ecológicos deste crescimento foram altos. Foi um crescimento socialmente benigno,

mas não foi desenvolvimento no sentido pleno da palavra. Esta condicionalidade ecológica baseia-se em um outro

postulado ético, desta vez um postulado ético de solidariedade com as gerações futuras; ou seja, a obrigação de

deixar o capital da natureza num estado tal que elas, as gerações futuras, possam desfrutar do fluxo de renda

baseado na utilização deste capital. Solidariedade sincrônica com a geração presente, solidariedade diacrônica

com a geração futura. Agora, quanto à eficiência econômica, é muito importante entender que se trata de um

problema instrumental: não estamos mais na área da finalidade, estamos na área da instrumentalidade. E segunda

observação, eficiência econômica não pode mais ser avaliada unicamente no nível da rentabilidade da empresa.

[...] Ou seja, não é eficiente economicamente só aquilo que traz lucro ao empresário. É eficiente economicamente

aquilo que, do ponto de vista da sociedade inteira, constitui uma utilização racional dos recursos. [...] Não haverá

desenvolvimento social e ambiental responsável sem haver uma regulação das forças do mercado. Temos, portanto,

que distinguir o crescimento selvagem, onde existe crescimento, mas com custo social menor e custo ambiental

maior, do crescimento socialmente benigno, onde têm custos sociais maiores, custos econômicos maiores, mas

custo ambiental menor. Podemos imaginar um crescimento ecologicamente sustentável, mas que socialmente não

seja aceitável. Esta é uma tendência que hoje está aparecendo, ou seja, mais cuidados com a natureza, mais no

crescimento, que se caracteriza por redução de empregos, com custos sociais extremamente altos. Finalmente o

quarto caso dos três mais: um crescimento social razoável, ecologicamente prudente e economicamente eficiente.

Eu reservaria a palavra “desenvolvimento” para este último caso dos três mais.

SACHS, Ignacy. Sociedade, cultura e meio ambiente. Mundo e Vida, v. 2, n. 1, 2000.

Contudo, é importante ressaltar que, mesmo os autores que criticam as contradições do discurso do desenvolvimento sustentável não negam a sua importância como força política.

Ainda conservando os princípios do ecodesenvolvimento, Ignacy Sachs, ao rever o conceito de desenvolvimento em 2004, já não acrescentava mais o “eco” ou o “sustentável” como um adjetivo que especificaria o tipo de desenvolvimento. Ele propôs que se pensasse e que se falasse somente “desenvolvimento”. Mas esse desenvolvimento deve ser entendido considerando três dimensões indis-sociáveis – a social, a econômica e a ecológica – pois o desenvolvimento não ocorrerá efetivamente se uma delas não for contemplada.

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O desenvolvimento sustentável é uma ideia genérica e que serve a muitas finalidades. Por isso, essa expressão pode ser criticada, redefinida e adequada pela sociedade de formas muito diferentes, contraditórias até.

Há empresas que dela se apropriam e desenvolvem medidas que se aproximam mais de relações públicas ou de estratégias de marketing, mas que não alteram a lógica de produção a que elas estão submetidas.

Por exemplo: supermercados estimulam o uso de sacolas retornáveis e, ao mesmo tempo, vendem em suas prateleiras quinquilharias de plástico para uso doméstico ou outros produtos cuja produção tem impactos muito negativos sobre o ambiente, tanto quanto as sacolas de plástico.

Mas são observados também, por outro lado, setores da agricultura familiar apropriando-se da ideia de sustentabilidade social. Eles formam redes de produção e circulação de produtos agroecológicos. Mesmo comercializando seus produtos no mercado capitalista, reduzem o impacto da agricultura sobre o sistema natural e mantêm a reprodução material e social das comunidades agrícolas dentro do modelo de “um crescimento social razoável, ecologicamente prudente e economicamente eficiente”, como afirma Sachs no texto da página anterior.

Assim, ao contrário do que pensam seus críticos, a apropriação do discurso do desenvolvimento sustentável não define uma só possibilidade. O seu resultado depende de arranjos sociais, políticos, econômicos e com a natureza.

Desafios ao desenvolvimento:

A Agenda 21 Brasileira propõe a gestão dos conflitos no processo de desenvolvimento, pois considera que “[...] não se deve aguçar os conflitos a ponto de torná-los inegociáveis, e sim fragmentá-los em fatias menos complexas, tornando-os administráveis no tempo e no espaço”.

Mas será que é sempre possível controlar os conflitos, torná-los administráveis? Segundo Henri Acselrad, conflitos ambientais são “aqueles envolvendo grupos sociais com

modos diferenciados de apropriação, uso e significação do território, tendo origem quando pelo menos um dos grupos tem a continuidade das formas sociais de apropriação do meio que de-senvolvem ameaçada por impactos indesejáveis – transmitidos pelo solo, água, ar ou sistemas vivos – decorrentes do exercício das práticas de outros grupos” (2004, p. 26).

Conforme Paul Little (2001), os conflitos ambientais podem ser classificados em torno:

do controle de uso dos recursos naturais, geralmente por apropriação do território onde se encontra o recurso; o conflito gira em torno do acesso ao recurso;

dos impactos gerados pela ação humana e natural, como a contaminação, o esgotamento dos recursos naturais e a degradação dos ecossistemas; e enfim

do uso dos conhecimentos ambientais, que podem ser conflitos entre grupos sociais ao redor da percepção de risco, envolvendo o controle formal dos conhecimentos ambientais e em torno dos lugares sagrados.

SOCIOLOGIA

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Os conflitos ambientais variam segundo sua escala, da mais local para a mais global. No primeiro caso, tome-se a disputa entre mora-dores de um bairro e uma indústria poluente. No segundo, a briga pela utilização dos recursos hídricos. Eles podem ocorrer de maneira pacífica ou não, chegar a um consenso ou resultar na imposição de interesses de um grupo sobre o outro. Pode haver um fórum de discussão insti-tucionalizado, com reuniões e comitês para discutir as demandas, ou não existir absolutamente nenhum canal de negociação.

A análise dos conflitos ambientais deve considerar o contexto ambiental, geográfico e histórico para compreender os diferentes proje-tos de apropriação e uso dos recursos naturais. Não deve perder de vista que, nesses conflitos, há uma disputa por uma forma de apropriação material e simbólica da natureza em determinado espaço de forças.

Aqueles conflitos que originam movimentos por justiça am-biental têm recebido atenção especial das Ciências Sociais nos últimos anos. Segundo Acselrad (2004), eles revelam a desigual-dade de condições de acesso ao ambiente protegido ou “sadio”.

A injustiça ambiental, contudo, não é recente. Desde a Antiguidade, os melhores solos são apropriados por grupos dominantes ou o depósito de resíduos sólidos nunca se encontra ao lado de um belo condomínio particular. A qualidade do meio ambiente é historicamente distribuída de forma desigual.

No entanto, principalmente após os anos 1980, nos EUA, os desfavo-recidos ambientalmente passaram a se organizar em movimentos capazes de denunciar essa situação e lutar pelo “direito ao meio ambiente sadio”, proclamado em Estocolmo em 1972. Esses movimentos se espalharam para outros países e se acentuaram a partir dos anos 1990.

Para Henri Acselrad (2004), o discurso criado por esses movimentos evidenciaria “a lógica social que associa a dinâmica da acumulação capitalista à distribuição discriminatória dos riscos ambientais” (p. 25), retomando assim a ideia da racionalidade instrumental própria do capi-talismo como causa da crise ambiental.

Atualmente, gestão ambiental pública (ver Conceitos sociológicos) em diversos países em desen-volvimento, inclusive no Brasil, tem sido um instrumento de mediação de interesses socioambientais conflitantes na sociedade. Uma espécie de reconhecimento da necessidade de enfrentar conflitos e promover a justiça ambiental como pré-requisito para o desenvolvimento viável socialmente e viável culturalmente.

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O indígena Haru Kuntanawa, o monge budista Dada Suveda e mais 80 pessoas protestaram, no centro do Rio de Janeiro, contra a construção da hidrelétrica de Belo Monte, na Amazônia, terra dos indígenas Xingu. 24 de fevereiro de 2010, Rio de Janeiro

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Em 1960, uma empresa de mineração e metalurgia poluiu o Rio Subaé com carga mortal de chumbo e cádmio. A empresa foi desativada em 1993

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Afinidade eletiva: noção utilizada pelo sociólogo alemão Max Weber (1864-1920) para explicar o surgimento do capitalismo por meio da correspondência entre o desenvolvimento das forças produtivas materiais e os valores religiosos calvinistas. Afirma a ideia de que não há a determinação de uma única causa, nem de uma causa, em última instância, que explique por que o capitalismo surgiu. Esse processo histórico só pode ser compreendido por meio da inter-relação entre uma série de fatores. Eles convergem para a produção de um dado fenômeno social.American way of life (modo de vida americano): conceito que se formou na sociedade dos EUA, sobre um estilo de vida que lhe seria característico e que atingiu o seu auge na década de 1920. Este tinha por base os avanços da

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industrialização e a grande prosperidade econômica dos EUA, notadamente logo após a Primeira Guerra Mundial. Esse modelo foi característico da população estadunidense que exibia prosperidade material, bem-estar social e adquiria bens de consumo duráveis, eletrodomésticos, automóveis e residências nos subúrbios. O modo de vida estadunidense passou a ser exportado para outros países e foi bastante utilizado na década de 1950, durante a Guerra Fria, como símbolo das vantagens do sistema capitalista sobre o sistema socialista. Mostrou suas contra-dições na década de 1960, quando o movimento em prol dos direitos civis dos negros revelou que o conforto do estilo de vida dos EUA só chegava à população branca.

Anomia: um estado de anomia ocorre quando há risco para a paz social. Esse risco existe quando os indivíduos encontram problemas ou estão impedidos de participar da intersecção das muitas instituições sociais, como a família, a escola, a vizinhança, o trabalho, etc. É com base nessa intersecção que internalizamos regras sociais, leis e outras normas que, por sua vez, realimentariam a moral, a coesão e a organização social.

Classes perigosas: noção que se originou no século XIX para se referir tanto aos vagabundos sem dinheiro quanto aos trabalhadores agrícolas e camponeses sem-terra que se viam forçados a se mudar para cidades e trabalhar nas fábricas. Sociólogos e criminólogos têm argumentado que as políticas de policiamento contemporâneo (por exemplo, em relação ao controle de drogas) são ainda formadas por esse conceito. Tais políticas conteriam uma agenda oculta que se destinaria tanto a identificar os “inimigos públicos” (imigrantes, jovens, vários grupos mi-noritários), responsabilizados por vários problemas econômicos e sociais, quanto a eliminá-los. Tudo no interesse da ordem pública e da segurança.

Controle social: na perspectiva durkheimiana, essa expressão é entendida, grosso modo, como um conjunto de processos por meio dos quais os membros de um grupo levam em conta as expectativas mútuas e respeitam as normas e leis produzidas pela sociedade na qual vivem. Tais processos, que partem “naturalmente” do interior da sociedade, pressupõem, entretanto, a existência de condições sociais que fomentem a integração social. A integração social origina-se, como foi visto, do bem-estar social.

Criminologia: nome genérico para o estudo de temas estreitamente ligados à explicação da infração da lei, aos meios formais e informais para lidar com a infração e à natureza e necessidade de suas vítimas.

Discurso: é um conjunto de ideias, conceitos, categorias que dão um significado à realidade. É o resultado de uma interpretação da realidade produzida com as práticas que transformam ou reproduzem o pensamento.

Estigma/estigmatização: do latim stigma, “marcar com ferro quente em sinal de infâmia”, o estigma, como conceito sociológico, foi mais bem esculpido por Erving Goffman. Para ele, estigma é “um atributo que [...] torna (o estranho) diferente dos demais [...] e o converte em alguém menos apetecível, em casos extremos, em uma pessoa quase inteiramente malvada, perigosa ou débil. Desse modo, deixamos de vê-lo como uma pessoa completa para reduzi-lo a um ser inferiorizado e menosprezado. Um atributo dessa natureza é um estigma especial quando produz nos demais [...] amplo descrédito”. (GOFFMAN, Erving. Estigma: la identidad deteriorada. Buenos Aires: Amorrortu Editores, 1970. p. 12. [Tradução livre].)

Genealogia: é um estudo que investiga a origem de um indivíduo ou de uma família, expondo cronologicamente sua filiação e ramificações.

Gestão ambiental: processo de mediação de interesses e conflitos entre diferentes atores socioambientais, vi-sando à promoção de usos sustentáveis do meio ambiente e à justa distribuição de custos e benefícios ambientais.

Interacionismo simbólico: “ramo da Sociologia norte-americana, [...] é um produto da Escola Sociológica de Chicago. [...]. A expressão ‘interação simbólica’ [...] indica que este ramo da sociologia e da psicologia social se concentra em processos de interação – ação social imediata reciprocamente orientada [...]. As relações sociais, então, não surgem como determinadas de uma vez por todas, mas como abertas e dependendo de constante aprovação em comum”. (JOAS, Hans. Interacionismo simbólico. In: OUTHWAITE, Willian; BOTTOMORE, Tom (Org.). Dicionário do pensamento social do século

XX. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1996. p. 393.)

Movimento social: ação coletiva de longa duração que tem como objetivo mudar ou resistir à mudança da ordem social. Para isso, utiliza diferentes estratégias, como greves, passeatas, lobbies, e se apresenta de diferentes formas, seja por meio de associações civis seja por meio de partidos políticos, etc.

Natureza: conjunto de componentes biológicos e físico-químicos que interagem no interior dos grandes domínios de organização biológica: atmosfera, pedosfera, hidrosfera e geosfera.

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SOCIOLOGIA

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1. (UEM – PR) Leia o texto a seguir:

Como problema que inquieta e choca a sociedade, a pobreza aparece, no entanto, no registro da pa-tologia, seja nas evidências da destituição dos mise-ráveis que clamam pela filantropia pública ou priva-da, seja nas imagens da violência que apelam para sua ação preventiva e, sobretudo, repressiva. Num registro ou no outro, a pobreza é encenada como algo externo a um mundo propriamente social.

TELLES, Vera da Silva. Pobreza e cidadania. São Paulo: Editora 34, 2001. p. 31-32.

Considerando que o texto está se referindo à so-ciedade brasileira, assinale o que for correto:(01) A autora apresenta uma análise sociológica

sobre a pobreza no Brasil, alerta para o fato de que esse problema gera violência e defen-de que ações privadas filantrópicas poderiam preveni-lo.

(02) A autora afirma que, no Brasil, há uma natu-ralização da pobreza. Assim, nossa sociedade geralmente não considera os condicionantes sociais e históricos do fenômeno em questão.

(04) A identificação do Estado como um pai, muito presente no imaginário social brasi-leiro, corresponde àquilo que, no texto, a autora denomina “filantropia pública”.

(08) A autora apresenta uma análise sociológica sobre a forma como a sociedade brasileira concebe a pobreza. Com isso, ela procura esclarecer alguns dos fatores que, historica-mente, contribuem para sua reprodução.

(16) Podemos concluir do texto que, em nossa sociedade, as situações de pobreza são en-tendidas, sobretudo, como violação de di-reitos de cidadania.

2. (UEM – PR) Considerando o debate sociológico sobre o tema das “desigualdades sociais” no Bra-sil, assinale o que for correto:

(01) O desemprego é uma condição de vida expe-rimentada por muitos indivíduos na atualida-de. Ele é analisado pelas teorias sociológicas como uma “questão social”, podendo ser um fenômeno que envolve diversos elementos estruturais de uma ou de várias sociedades.

(02) O aumento significativo do número de di-vórcios é resultado dos problemas que afe-tam os indivíduos em particular, destruindo lares e famílias, exigindo soluções específi-cas para cada pessoa.

(04) As desigualdades socioeconômicas entre brancos e negros são explicadas pelo senti-mento de inferioridade que os negros, his-toricamente, cultivaram, não tendo relação com o regime de produção baseado na mo-nocultura, no latifúndio e na escravidão.

(08) Os negros integram o grupo social que per-manece por menos tempo na escola. A im-plantação de políticas públicas que tenham como meta sua inclusão no sistema formal de ensino integra, na atualidade, o grupo das ações afirmativas, discutidas pelas insti-tuições de ensino superior.

Preservacionismo: concepção da relação entre o homem e a natureza baseada na representação de natureza como um ambiente selvagem, intocado, que deve ser preservado dos impactos causados pelo homem, principal-mente pelo desenvolvimento industrial e urbano.

Racionalidade instrumental: forma de pensar que visa organizar os meios adequados para atingir determi-nados fins e realiza escolhas estratégicas para alcançar certos objetivos. Nela, os fins deixam de ser objeto de reflexão e discussão moral e ética. Não questiona se a ação é justa, mas se é eficaz. Os valores éticos e políticos se submetem, de maneira instrumental, a interesses.Segregação: em Sociologia, refere-se a separar grupos, como minorias étnicas, mulheres, homossexuais, minorias religiosas, pessoas com deficiência e pobres, do resto da população. A segregação baseia-se fundamentalmente em questões étnicas, sexuais, religiosas, ideológicas e econômicas. Evidencia-se, por exemplo, na dificuldade ou impedimento ao acesso a recursos básicos (emprego, saúde, educação, representação política e de voto, propriedade privada, etc.), bem como na separação de bairros residenciais nas cidades entre ricos e pobres, com a consequente formação de ilhas urbanas.

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(16) O desemprego, o divórcio e as desigualdades socioeconômicas entre negros e brancos po-dem ser analisadas como “questões sociais” que produzem efeitos perversos exclusiva-mente nas classes sociais menos favorecidas.

3. (UFSCAR – SP) Leia a seguinte carta de um lei-tor, publicada no jornal Folha de S.Paulo de 25.08.1991:

Até quando a cidade de São Paulo será vítima da invasão do povo do Norte e Nordeste? Será que o descaso das autoridades chega a tal ponto que elas não percebem que essa migração está dete-riorando a cidade? Vejam como estão a estação rodoviária do Tietê, o largo 13 de Maio, os nossos viadutos, a quantidade de camelôs, a criminali-dade... É importante citar também que é dessa migração que surgem invasões de terras e, conse-quentemente, novas favelas, instalações de água e luz clandestinas, etc. E isto tudo custa muito caro para nós, os paulistanos.

FOLHA de S.Paulo, 25 ago. 1991.

A partir desse texto, responda:a) O autor externa um ponto de vista democráti-

co ou autoritário? Ele demonstra ou não pre-conceitos? Justifique.

b) Existe alguma evidência de que os migrantes é que são os responsáveis pelos problemas ur-banos mencionados? Explique por quê.

4. (UFPR)

Tem muita gente boa aplaudindo Barack Obama porque ele proibiu a prática de torturas contra presos. O suplício mais conhecido era a simulação de afogamento. Um pedaço dessa mesma plateia emocionou-se com a valentia do Capitão Nasci-mento no filme “Tropa de Elite” e com o poder de persuasão de seus sacos de plástico. É um novo tipo de esquizofrenia política. O sujeito é Obama nos Estados Unidos e George Bush no Brasil.

GASPARI, Elio. O Globo, jan. 2009.

Sobre esse texto, considere estas afirmativas:(1) A esquizofrenia política a que o autor se refe-

re é a atitude paradoxal de algumas pessoas que apoiam Obama e o Capitão Nascimento ao mesmo tempo.

(2) O Capitão Nascimento representa uma sim-biose de Obama e George Bush, mas em lu-gares diferentes.

(3) O texto critica a interferência de George Bush no modo de agir da polícia brasileira.

(4) No que se refere a respeito aos direitos hu-manos, o autor coloca Barack Obama e George Bush em polos opostos.

Assinale a alternativa correta:a) Somente a afirmativa 2 é verdadeira. b) Somente as afirmativas 1 e 4 são verdadeiras.c) Somente as afirmativas 1, 2 e 3 são verdadeiras.d) Somente as afirmativas 3 e 4 são verdadeiras.e) Somente as afirmativas 2, 3 e 4 são verdadeiras.

5. (UEM – PR)

Para o antropólogo (Luiz Eduardo Soares) a violência e o crime não são fáceis de explicar, devendo-se evi-tar, sobretudo, a armadilha da generalização. Refe-re-se, neste caso, ao costume que se tem de definir pobreza, desigualdade e vontade política como cau-sas de criminalidade. Explicações como esta, segun-do o antropólogo, ajudam a exorcizar o medo, mas não contribuem para esclarecer a complexidade da violência. [...] É reconhecida a defesa que este autor tem feito de políticas públicas preventivas voltadas, sobretudo, para os jovens mais vulneráveis, abrindo- -lhes perspectivas de reforço da autoestima.

ROCHA, Lucia. Uma luz sobre a violência. Revista de Socio-logia, Ano II, n. 15, p. 25.

Considerando o que se diz na citação acima, as-sinale o que for correto:

(01) A violência não é um fato social, pois corres-ponde a atos isolados que não afetam dire-tamente a vida coletiva.

(02) Determinadas pesquisas apontam que um dos fatores da violência é a falta de limites resultantes do enfraquecimento das refe-rências afetivas essenciais.

(04) O autor do texto considera equivocada a asso-ciação direta entre criminalidade e pobreza.

(08) O autor do texto defende que investimen-tos em políticas públicas direcionadas para crianças e jovens é uma estratégia ineficien-te de combate à violência.

(16) Segundo o autor citado, para viver em so-ciedade, o homem precisa abandonar o seu estado de natureza, caracterizado pela agressividade e busca violenta pelo prazer.

6. (UEL – PR) Leia o texto a seguir:

A aluna Geisy Villa Nova Arruda, 20, não poderá mais frequentar o prédio em que estudava antes

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do dia 22 de outubro, quando foi perseguida, encurralada, xingada e ameaçada por cerca de 700 alunos, no campus de São Bernardo (de uma Universidade particular), alegadamente por cau-sa do microvestido que trajava.

(Adaptado de: Folha de S.Paulo. (Universidade particular) decide “exilar” Geisy em outro prédio. Caderno cotidiano, C1, 11 nov. 2009.)

A matéria refere-se a recente episódio, de reper-cussão nacional na mídia e que teve como desfe-cho a readmissão da aluna à referida instituição, após o posicionamento da opinião pública.

Com base no texto e nos conhecimentos sobre o pensamento de Durkheim, é correto afirmar que o acontecimento citado revelou

a) a consolidação de uma nova consciência cole-tiva, de bases amplas, representada pelos alu-nos da referida instituição.

b) o desprezo da consciência coletiva dominante na sociedade em relação aos destinos indivi-duais, no caso, à aluna que foi alvo dos ata-ques dos estudantes.

c) a força da consciência coletiva da sociedade que se impôs aos comportamentos morais desviantes com a finalidade de resgatar a har-monia social, preservando as instituições.

d) a presença de um quadro de profunda anomia social e o quanto os valores sociais de decência foram perdidos pela consciência coletiva que se posicionou favoravelmente à estudante.

e) o perigo representado pela presença de uma consciência coletiva forte e majoritária atuan-do como obstáculo para o desenvolvimento da vida social sadia ao impedir que alguns indiví-duos defendessem os melhores valores morais.

7. (UFPR) Uma das questões que vêm afetando a to-dos na sociedade contemporânea são os efeitos da emissão de carbono no meio ambiente. Esse fenômeno não é recente: ele se inicia com o pro-cesso de industrialização instaurado na moderni-dade. Nos últimos anos do século XX, a emissão de carbono passou a ser considerada um dos problemas a serem enfrentados na atualidade.

Identifique os agentes sociais que têm atuado no enfrentamento da questão e o que eles propõem.

8. (UEM)

Os números sobre o desmatamento de diversos biomas, o crescimento das cidades no interior do país e o próprio projeto político trazido pelo crescimento da economia capitalista recolocam o debate acerca de qual é o modelo de desen-volvimento que desejamos construir. Essas ques-tões se apresentam de forma candente quando focamos nosso olhar na região amazônica, alvo de permanentes discussões nacionais e interna-cionais e de poucas ações visando à melhoria concreta de vida da população que lá reside.

Sociologia, Ano II, n. 19, p. 32.

Considerando o trecho da reportagem acima e o tema “meio ambiente e desenvolvimento econô-mico”, assinale o que for correto:

(01) No modo de produção capitalista, a explora-ção do meio ambiente segue uma raciona-lidade econômica que visa garantir retorno financeiro aos investidores.

(02) No Brasil, a produção em larga escala de grãos tem sido feita inclusive na região ama-zônica com o objetivo de valorizar a mão de obra local, detentora de tradição e experiên-cia no plantio dessas culturas.

(04) A construção de alternativas sustentáveis de desenvolvimento econômico na Amazônia deve privilegiar projetos que visam, por exem-plo, à criação extensiva de gado, em razão do relevo de planícies que domina a região.

(08) O desgaste de recursos naturais e o desma-tamento são alguns dos efeitos do desenvol-vimento de atividades produtivas praticadas pelo setor agrícola.

(16) O controle do uso dos recursos naturais da região amazônica atrai a atenção de grupos ambientalistas no Brasil e em vários lugares do mundo, porque a proteção da diversida-de da vida animal e vegetal na Terra se tor-nou um problema ambiental que só pode ser tratado globalmente.

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