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Jornal da Sociedade Portuguesa de Oftalmologia (SPO) | www.spoftalmologia.pt Distribuição gratuita aos sócios N.º 22 | Ano VIII Maio 2016 Quadrimestral ANTEVISÃO Queratite, biometria, lentes de con- tacto e topografia da córnea estão entre os temas desta reunião Pág.16 REPORTAGEM A «receita» para o crescimento do Serviço de Oftalmologia do Hospital Garcia de Orta, em Almada Pág.8 PERFIL Passeios ao ar livre, ioga e leitura: os segredos para a tranquilidade do Prof. Manuel Monteiro-Grillo Pág.18 Sensibilização para o glaucoma à escala nacional Seis cidades portuguesas assinalaram a Semana Mundial do Glaucoma 2016 com rastreios e ações de sensi- bilização à população, entre os dias 6 e 12 de março. As iniciativas culminaram com a reunião conjunta dos Grupos Portugueses de Glaucoma e de Inflamação Ocular da SPO, no dias 11 e 12 de março, em Viseu. A inves- tigação da uveíte anterior, posterior e pediátrica, o diagnóstico, o tratamento e o seguimento dos doentes com glaucoma foram alguns dos temas discutidos neste encontro, que contou com cerca de 300 participantes Pág.10 Sensibilização para o glaucoma à escala nacional

Visão SPO n.º 22

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Jornal da Sociedade Portuguesa de Oftalmologia n.º 22 - Maio 2016

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Page 1: Visão SPO n.º 22

Jornal da Sociedade Portuguesa de Oftalmologia (SPO) | www.spoftalmologia.pt Distribuição gratuita aos sócios

N.º 22 | Ano VIIIMaio 2016Quadrimestral

ANTEVISÃOQueratite, biometria, lentes de con- tacto e topografia da córnea estão entre os temas desta reunião Pág.16

rEpOrTAgEmA «receita» para o crescimento do Serviço de Oftalmologia do Hospital Garcia de Orta, em Almada Pág.8

pErfIlPasseios ao ar livre, ioga e leitura: os segredos para a tranquilidade do Prof. Manuel Monteiro-Grillo Pág.18

Sensibilização para o glaucoma à escala nacional

Seis cidades portuguesas assinalaram a Semana Mundial do Glaucoma 2016 com rastreios e ações de sensi-bilização à população, entre os dias 6 e 12 de março. As iniciativas culminaram com a reunião conjunta dos Grupos Portugueses de Glaucoma e de Inflamação Ocular da SPO, no dias 11 e 12 de março, em Viseu. A inves-tigação da uveíte anterior, posterior e pediátrica, o diagnóstico, o tratamento e o seguimento dos doentes com glaucoma foram alguns dos temas discutidos neste encontro, que contou com cerca de 300 participantes Pág.10

Sensibilização para o glaucoma à escala nacional

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Oprimeiro ano do nosso man-dato (2015) foi intenso e en-tusiasmante, marcado por uma importante componente cien-

tífica, com múltiplas reuniões nacionais e internacionais, cursos de formação para médicos generalistas e para jovens oftal-mologistas, reuniões de colaboração ibéri-ca e representação nacional em cursos e/ou reuniões promovidas por sociedades cientí-ficas no exterior. O incentivo à investigação e a acreditação de formações e de reuniões pela Union Européenne des Médecins Spé-cialistes (UEMS) são duas fortes apostas deste biénio (2015-2016), que já começá-mos a concretizar e que pretendemos man-ter ativas este ano.

Abrimos também as portas da sede da Sociedade Portuguesa de Oftalmologia (SPO) a vários eventos culturais, para os quais convidámos, de forma entusiástica, todos os sócios, esperando que conti-nuem a participar nestas iniciativas, como até à data. Promovemos ainda a primeira Semana da Visão, que decorreu de 8 a 15 de outubro de 2015, com múltiplas ativida-des de rua – divulgação e rastreios de pro-blemas oftalmológicos nas cidades de Lis-boa, Porto e Coimbra –, que foi um enorme sucesso. Tentámos aumentar a visibilidade da SPO por intermédio da Internet, com a

NOVOS hOrIzONTES NA SpOrestruturação do website e uma presença mais ativa nas redes sociais, nomeadamente no Facebook.

Queremos continuar a trabalhar com o mesmo entusiasmo, apostando numa SPO de todos e para todos. Se 2015 foi um ano de novas ideias, em 2016 o principal objetivo é a consolidação. No início do ano, colaborámos com o Conselho Brasileiro de Oftalmologia na realização do simpósio luso-brasileiro no Congresso Mundial de Oftalmologia, em Guadalajara, no México. No mês de fevereiro, entre os dias 15 e 25, ocorreu, na sede da SPO, o Curso de Ci-ências Básicas em Oftalmologia, destinado a jovens internos desta especialidade e or-ganizado conjuntamente com o Colégio da Especialidade de Oftalmologia da Ordem dos Médicos. Contámos com a presença de formandos de norte a sul do País e os temas foram desenvolvidos por oftalmolo-gistas nacionais com responsabilidade e/ /ou competência reconhecida no ensino pós-graduado.

Seguiu-se a reunião conjunta dos Grupos Portugueses de Glaucoma e Inflamação Ocular, que teve lugar em Viseu, a 11 e 12 de março, e, em maio, entre os dias 26 e 28, vai decorrer a reunião conjunta do grupo de Cirurgia Implanto-Refrativa de Portugal (CIRP) e do Grupo Português de Superfície Ocular, Córnea e Contactologia, em Santa Eulália, no Algarve.

Terminaremos o primeiro semestre de 2016 com a primeira Reunião Ibérica de Re-tina, cuja organização será partilhada pelo Grupo Português de Retina e Vítreo e pela Sociedade Espanhola de Retina e Vítreo, com data marcada para dia 2 de julho, em Madrid. Estamos muito empenhados nes-ta iniciativa e consideramos que este inter-câmbio de influências e de saberes poderá ser proveitoso para ambas as sociedades científicas.

Queremos continuar a fazer mais e melhor!

SUmÁrIO

Propriedade: Sociedade Portuguesa

de OftalmologiaCampo Pequeno, 2-13.º, 1000 - 078 Lisboa

Tel.: (+351) 217 820 443 • Fax: (+351) 217 820 [email protected]

www.spoftalmologia.pt

Edição: Esfera das Ideias, Lda. Campo Grande, n.º 56, 8.º B • 1700 ‑ 093 Lisbo • Tel.: (+351) 219 172 815 • Fax: (+351) 218 155 [email protected] • www.esferadasideias.pt • EsferaDasIdeiasLdaDireção: Madalena Barbosa ([email protected])Marketing e Publicidade: Ricardo Pereira ([email protected]) Coordenação: Luís Garcia ([email protected]) Redação: Ana Luísa Pereira, Luís Garcia, Marisa Teixeira e Sandra DiogoFotografia: Rui Jorge • Design/paginação: Susana ValeColaborações: Ana Rita Lúcio, João Paulo Godinho, Paula Ferreira Fernandes e Sérgio Azenha

Depósito Legal n.º 338827/12

fIchA TécNIcA

Publicação isenta de registo na ERC, ao abrigo do Decreto Regulamentar n.º8/99, de 6 de junho, artigo 12.º, 1.ª alínea

Patrocinadores desta edição:

EM FOCO5 prémio pfizer 2015 de Investigação clínica atribuído a trabalho na área da retinopatia diabética

PONTOS DE VISTA6 Entrevista ao Dr. francisco carrilho, presidente da Sociedade portuguesa de Endocrinologia, Diabetes e metabolismo, um dos oradores do 59.º cpO

OFTALMOSCOPIA8 reportagem no Serviço de Oftalmologia do hospital garcia de Orta, em Almada

GLOBO OCULAR 10 Balanço da reunião conjunta dos grupos portugueses de Inflamação Ocular e de glaucoma

13 O curso de ciências Básicas em Oftalmologia contou com a participação de cerca de 20 internos do primeiro ano

14 cobertura dos colóquios de Oftalmologia 2016, cuja principal novidade foi uma sessão dedicada à investigação

16 principais destaques da reunião conjunta dos grupos de cirurgia Implanto-refrativa de portugal e de Superfície Ocular, córnea e contactologia

17 primeira reunião ibérica promovida pelo grupo português de retina e Vítreo e pela Sociedade Espanhola de retina e Vítreo terá lugar em madrid, no dia 2 de julho

OLHAR INDISCRETO18 Ioga: o «ingrediente secreto» do prof. manuel monteiro-grillo para o seu equilíbrio físico e mental

EditorialVis

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Rita FloresSecretária-geral da SPO

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OfTAlmOlOgISTAS pOrTUgUESES prEpArAm-SE pArA lIDErAr

DIABETES OcUlAr é O TEmA fOrTE DO 59.º cONgrESSO DE OfTAlmOlOgIA

Resolver conflitos, atingir objetivos e saber influenciar os agentes decisores

são algumas das estratégias que três oftal-mologistas portugueses estão a aprender nos cursos de liderança que estão a fre-quentar. O Dr. Guilherme Castela, do Cen-tro Hospitalar e Universitário de Coimbra, está a participar num curso organizado pela Sociedade Europeia de Oftalmologia (SEO), com duração de dois anos, que inclui um projeto final a aplicar no local de trabalho dos formandos. «No meu caso, gostava que o projeto estivesse relacionado com o

retinoblastoma, que é uma área a que me dedico. A ideia é fazer um programa de re-ferenciação nacional das crianças com este tumor», refere Guilherme Castela.

Já a Prof.ª Ângela Carneiro, do Centro Hospitalar de São João, no Porto (também a participar no curso da SEO), e o Dr. Pedro Santos Afonso, da Clínica de São Sebas-tião, em Ponta Delgada (a frequentar o cur-so da Pan-American Association of Ophthal-mology – PAAO), estão a desenvolver um projeto comum: acreditação de eventos de Educação Médica Contínua (CME, na sigla

em inglês) em Oftalmologia, no nosso País. «De acordo com a CME, vai ter de existir recertificação médica, que será feita, prova-velmente, por um sistema de créditos, por isso, é importante que os nossos eventos sejam acreditados segundo os critérios da Union Européenne des Médecins Spécia- listes [UEMS]», explica Ângela Carneiro. «Na prática, iremos acompanhar os promo-tores de eventos CME, perceber as suas dificuldades e encontrar as soluções mais apropriadas com o objetivo de atingir a acre-ditação», reforça Pedro Afonso.

O Dr. Pedro Santos Afonso (sexto a contar da esquerda), na primeira reunião do Curso da PAAO, em novembro de 2015, em Las Vegas, com os outros participantes

A Prof.ª Ângela Carneiro (de verde) e o Dr. Guilherme Castela (à sua direita), numa sessão do Curso da SEO, em Innsbruck, na Áustria, a 26 de fevereiro

Durante o 59.º Congresso Português de Oftalmologia será apresentada e distri-

buída uma monografia sobre a tomografia de coerência ótica (OCT), com a chancela da SPO e coordenada pela Prof.ª Ângela Car-neiro, oftalmologista no Centro Hospitalar de São João, no Porto, com o contributo de mais de 70 especialistas portugueses e es-trangeiros. «Temos oftalmologistas com ex-periência suficiente em OCT para fazermos esta dissertação quase exclusivamente em português», assegura a especialista.

Ângela Carneiro justifica o tema escolhido com a relevância que o OCT tem adquirido nos últimos anos, sendo «fundamental no estudo da patologia da retina e do glauco-ma, de importância crescente na avaliação de doenças do foro neuroftalmológico e do segmento anterior», explica. E acrescenta: «Mais recentemente, surgiu o OCT-angio-grafia, que permite estudar em detalhe a vas-cularização retiniana e coroideia e substituir, em muitos casos, as angiografias clássicas que requerem injeções endovenosas de pro-dutos de contraste. Ou seja, esta técnica vai permitir realizar exames mais rápidos, não invasivos e com maior detalhe dos perfis vas-culares. Vamos tentar, com esta monografia, criar um manual prático e com muitas ima-gens, que ilustre a utilidade do OCT nas mais variadas patologias oculares.»

NOVA mONOgrAfIA SOBrE OcT

A diabetes ocular será o tema central do 59.º Congresso Português de Of-

talmologia, que decorrerá entre 8 e 10 de dezembro, no Convento São Francisco, em Coimbra. «Iremos abordar as conse-quências da diabetes em todas as zonas do globo ocular, desde a parte anterior (o filme lacrimal) até à posterior (a retina)», informa a Prof.ª Maria João Quadrado, pre-sidente da SPO.

O leque de oradores já confirmados inclui o Prof. Paulo de Carvalho Pereira, investi-gador no Chronic Diseases Research Cen-ter (CEDOC) da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Nova de Lisboa e na Faculdade de Medicina da Universi-dade de Coimbra, que organizará o Curso «Investigação na diabetes em Portugal: da investigação básica à clínica»; o Dr. Fran-cisco Carrilho, presidente da Sociedade Portuguesa de Endocrinologia, Diabetes

e Metabolismo, que fará a ligação entre a diabetes e a Oftalmologia; o Prof. Adnan Tufail, oftalmologista no Moorfields Eye Hospital, em Londres; e a Prof.ª Joanne Miller, oftalmologista no Massachusetts Eye and Ear, nos EUA, que irá proferir a Conferência Cunha-Vaz, sobre retina. O Prof. Jesus Merayo, diretor de investiga-ção no Instituto Oftalmológico Fernández- -Vega, irá abordar os avanços terapêuticos na área da superfície ocular.

Para Maria João Quadrado, as expecta-tivas estão ainda mais elevadas devido ao local onde o Congresso irá ser realizado e que, aliás, determinará o tema social do encontro. «O Convento São Francisco está envolvido de história e virado para a Uni-versidade de Coimbra. Neste enquadra-mento, vão ser obrigatórias as referências ao passado desta instituição, da Medicina e da Oftalmologia.»

Dr Dr

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NOVA ErA NO DIAgNóSTIcO E NO SEgUImENTO DAS pATOlOgIAS OfTÁlmIcAS

Oftalmologista no Instituto de Oftalmologia Dr. Gama Pinto, em Lisboa

OPI

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Dr.ª SAnDrA BArrãO

A evolução tecnológica em Oftalmolo-gia tem assumido um papel deveras importante, quer no diagnóstico quer

no tratamento das doenças oculares. Para isso, tem contribuído, de forma especial, a estreita relação entre a Medicina e a Física. A imagiologia da retina, em particular, tem sido alvo de grande desenvolvimento nos últi-mos 18 anos, com o advento da tomografia de coerência ótica (OCT, na sigla em inglês). Esta tecnologia revolucionou o diagnóstico e o seguimento da patologia oftálmica, particu-larmente ao nível da retina.

A OCT marcou o início de uma nova era na Oftalmologia: a análise estrutural do glo-bo ocular. As suas imagens de alta resolução

são comparáveis, em termos de detalhe, ao exame histológico – «biópsia» in vivo, não in-vasiva, de não contacto, reprodutível e rápida das estruturas oticamente acessíveis do glo-bo ocular. Esta tecnologia está amplamente divulgada e, em poucos anos, tornou-se um exame indispensável em Oftalmologia, da-das as suas características únicas.

A degenerescência macular relacionada com a idade (primeira causa de cegueira nos países desenvolvidos) e a retinopa-tia diabética (primeira causa de cegueira nas pessoas em idade ativa) são patologias para as quais a OCT se tem revelado cru-cial. Este exame faculta-nos uma avaliação morfológica e morfométrica das estruturas – análise qualitativa e quantitativa – e tem um papel preponderante na decisão terapêutica e na avaliação da eficácia da mesma. A pro-cura de mais informação e maior resolução tem levado a indústria a um aperfeiçoamen-to da técnica, sempre com o intuito de me-lhor servir o doente.

Atualmente, está disponível uma nova tec-nologia OCT – o Swept Source OCT. Ao uti-lizar um feixe de luz com maior comprimento de onda, permite uma maior visualização dos tecidos mais profundos e maior penetra-ção, ultrapassando algumas opacidades dos meios, como a catarata ou condensações

do vítreo. Num mesmo scan de aquisição, o Swept Source OCT analisa, com alta resolu-ção, o vítreo, a retina, a coroideia e a escle-ra. A grande rapidez de aquisição (100000 A scan/segundo) e o facto de o scan ser invisí-vel facilitam a fixação do olhar por parte do doente, reduzindo os erros originados pelos movimentos oculares involuntários. Esta nova tecnologia incorpora, ainda, num mes-mo aparelho, a capacidade de realizar a foto-grafia a cores do fundo ocular, a avaliação da autofluorescência da retina e a angiografia fluoresceínica convencional.

O Instituto de Oftalmologia Dr. Gama Pinto (IOGP) tem o privilégio de ser o primeiro hos-pital público português a ter disponível esta mais-valia no apoio aos seus utentes e aos referenciados por outras instituições que não disponham do Swept Source OCT. A preo-cupação permanente em disponibilizar cada vez melhores cuidados ao doente culminou num novo modo de realizar a angiografia – o angio-OCT –, que permite visualizar a vascu-larização do fundo ocular de forma não inva-siva, sem a injeção de contraste (que pode ter efeitos adversos graves) e, ainda, de forma tridimensional. De momento, o angio--OCT tem aplicações específicas, mas o seu aperfeiçoamento terá grande impacto como método complementar de diagnóstico.

Miopia retinosquisis

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prEmIADA NOVA TécNIcA DE DIAgNóSTIcO DA rD

A ArTE rEINVENTADA DE hélDEr mENDES

Uma investigação liderada pela Asso-ciação para a Investigação Biomédica

e Inovação em Luz e Imagem (AIBILI), em Coimbra, na área do diagnóstico da reti-nopatia diabética (RD) foi distinguida, a 15 de dezembro passado, com o Prémio Pfizer 2015 de Investigação Clínica, no valor de 20 mil euros. O trabalho tem como título «Au-tomated analysis of retinal extracellular space using spectral domain optical cohe-rence tomography. A non-invasive indirect identification of the sites of alterations of the blood retinal barrier». Nesta investiga-ção, é apresentado um novo método de mo-nitorização não invasiva da barreira hema- torretiniana, essencial para a proteção do tecido da retina, ao contrário do método da angiografia fluoresceínica, que exige a inje-ção da fluoresceína no doente.

Muitos foram os oftalmologistas que tiveram oportunidade de visitar a ex-

posição «Arte Pro’Vera», do artista plás-tico Hélder Mendes, que esteve patente na sede da SPO no início deste ano. Com cerca de 50 convidados, a inauguração da mostra, a 9 de janeiro, foi, segundo a Dr.ª Leonor Almeida, responsável pelas ativida-des culturais da SPO, um momento singu-lar: «Das diversas abordagens ao acervo apresentado resultou uma evocação à arte ao mais alto nível.»

Para o Prof. José Cunha-Vaz, presiden-te da AIBILI, a grande vantagem da nova abordagem é o seu caráter não invasivo. «A ideia é que, com a tomografia de coerência ótica [OCT, na sigla em inglês], seja possível identificar as alterações da barreira hema-torretiniana pelo aumento de líquido que se acumula na retina. Este é um método ótico que determina, identifica e quantifica essas alterações das inundações na retina sem precisar de injetar nada», salienta.

A abordagem habitual da injeção pode gerar, ocasionalmente, reações alérgicas graves. No entanto, este novo softwareintegrado para as avaliações no OCT tem o desafio de «conseguir a mesma informa-ção», estando agora em fase de desenvol-vimento e pedido de patente. Para José Cunha-Vaz, este prémio «é o reconheci-

Nesta ocasião, a também oftalmologista no Centro Hospitalar Lisboa Norte/Hospital de Santa Maria quis «sair do esquema habitual de convite a médicos, que são muito talento-sos, e ir buscar alguém do mundo da arte».

A SPO recebeu uma coletânea de 14 obras, as quais, na definição de Hélder Mendes, «são artefactos únicos, convencio-nados como escultura e assemblage po-lícroma». Do conjunto, selecionado pelo seu curador, destacam-se duas esculturas de média dimensão, que integram materiais

mento de uma inovação que poderá ter impacto na clínica diária e um sinal de que este é um caminho certo».

primários, como a madeira e o vidro, muito utilizados nestas peças. Uma delas poderá considerar-se «art in progress, sendo repre-sentativa de um estádio evolutivo»; enquan-to a outra é já «um conjunto definitivo».

Os restantes 12 artefactos em exibição – assemblages polícromas –, poderão ser vis-tos como pintura mais convencional, mas, como refere o artista, «são composições construídas segundo eixos ortogonais, sobre uma base plana, enquadrada e inte-grada em emolduramento próprio, adequa-do estetica e tecnicamente à conservação da sua plasticidade ou durabilidade».

A execução destes trabalhos é longa e construtiva, envolvendo a utilização de téc-nicas mistas e collage, com efeitos de relevo e irregularidades. Sobre a sua inspiração, Hélder Mendes salienta: «A criatividade é caprichosa. Por vezes, na solidão, explode--me na cabeça. Noutras ocasiões, sinto-me oco e fujo do ateliê.» Do que não consegue fugir, quando trabalha, é dos «sentimentos e impressões, evocações ou alegorias, esta-dos de espírito, coisas abstratas», que, se-gundo diz, dão consistência às peças, sem qualquer intenção de abordar uma temática ou mesmo de terem simbologia específica.

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O Dr. francisco carrilho, presidente da Sociedade portuguesa de Endocrinologia, Diabetes e metabolismo (SpEDm), será um dos convidados do 59.º congresso português de Oftalmologia, que vai decorrer entre 8 e 10 de dezembro, tendo como tema central a diabetes ocular. Sublinhando a importância de construir pontes entre os dois campos contra a proliferação desta patologia, o também diretor do Serviço de Endocrinologia, Diabetes e metabolismo do centro hospitalar e Universitário de coimbra realça a diminuição, nos últimos anos, da prevalência das formas mais graves da retinopatia diabética (rD), devido ao melhor controlo da diabetes e dos restantes fatores de risco, mas defende que há ainda muito a fazer na prevenção e no tratamento desta patologia.

Ana rita Lúcio e João Paulo Godinho

O último Relatório Anual do Observatório Nacional da Diabetes aponta para uma incidência da doença de 13,1% na popu-lação portuguesa com idade compreen-dida entre os 20 e os 79 anos, sendo que, entre 2009 e 2014, a prevalência da dia- betes cresceu na ordem dos 12%. Como se explicam estes números?Há dois tipos de diabetes: a diabetes tipo 1, que surge essencialmente na criança, no adolescente e no adulto jovem e que requer sempre tratamento insulínico intensivo; e a diabetes tipo 2, que surge normalmente no adulto, com pico entre os 50 a 65 anos. Quando se fala do aumento do número de casos, estamos a referir-nos, essencial-mente, à diabetes tipo 2. As duas causas que explicam o aumento da prevalência e da incidência desta doença são o aumen-to da expectativa de vida e a obesidade, decorrente dos maus hábitos alimentares e da inatividade física. Esta tendência não é

exclusivamente nacional: a diabetes tipo 2 é um problema de saúde pública em todo o mundo.

Em Portugal, está a ser dada a devida atenção às medidas preventivas?Sim. Quem não leu já nos jornais que deve ter uma alimentação saudável e andar ou fazer exercício físico? Uma coisa é dizer à pessoa o que deve fazer, outra é ela aceitar e seguir essa norma. O médico já não con-trola essa parte do processo. Qual o impacto das complicações oculares da diabetes?A diabetes ocular é uma complicação major da patologia. A diabetes tem dois tipos de complicações vasculares: a microangiopa-tia e a macroangiopatia. A primeira atinge essencialmente os olhos (microangiopatia na retina), os rins (microangiopatia de le-são renal) e os vasos que irrigam os nervos

(microangiopatia de lesão neurológica, a chamada neuropatia). Já a macroangiopa-tia é uma complicação diferente, que atinge os grandes vasos, provocando, essencial-mente, o enfarte do miocárdio, o acidente vascular cerebral e a doença arterial perifé-rica. É este o panorama das complicações vasculares da diabetes, no qual a diabetes ocular – seja a RD ou o edema da mácula – se encerra.

O que dizem as estatísticas sobre a RD?A RD na diabetes tipo 1 atinge valores entre 20 a 50% dos doentes e, na diabetes tipo 2, atinge entre 25 a 35%. Globalmente, pode-mos dizer que 35 a 40% dos indivíduos com diabetes têm algum tipo de lesão decor-rente da diabetes ocular. No entanto, esta-mos a assistir a uma diminuição da incidên-cia da RD e, principalmente, uma redução dos casos mais graves, nomeadamente a cegueira por diabetes, que, ainda assim,

«AS fOrmAS mAIS grAVES DA rETINOpATIA DIABéTIcA

ESTÃO A DImINUIr»

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pontos de vistaentrevista

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representa 4,8% dos casos de cegueira em todo o mundo (37 milhões de pessoas), com grande variabilidade entre países e continentes.

A que se deve a diminuição da incidência de RD?Alguns trabalhos na década de 1990 foram decisivos ao mostrar que a incidência de RD tem fatores modificáveis. O primeiro é o controlo da diabetes: quanto mais baixa for a hemoglobina glicada [HbA1c], menor a pro-babilidade de aparecimento de RD. Por cada 1% de redução da HbA1c, há um decréscimo de 40% no risco de vir a ter RD, uma diminui-ção de 25% na necessidade de fazer laser e uma redução de 15% na cegueira. O se-gundo fator modificável é a pressão arterial [PA]: a redução de 10 mmHg é acompanha-da de uma diminuição de 35% no risco de RD, de 35% na necessidade de fazer laser e de 50% no risco de ficar cego. O terceiro fator é a dislipidemia, ou seja, os níveis de lipoproteínas no sangue. Depois, o índice de massa corporal [IMC]: quanto mais obesa for uma pessoa (IMC acima de 31 kg/m2 no homem e acima de 32 na mulher), maior o risco de RD. Portanto, o controlo calórico das refeições, da PA, dos lípidos plasmáticos e a redução do peso para um IMC abaixo de 30 kg/m2 são aspetos fundamentais. Se o do-ente não colaborar, o tratamento da diabetes é um fracasso.

Na linha da frente da prevenção estão os especialistas de Medicina Geral e Fami-liar e de Endocrinologia?Esta luta é de internos e de especialistas em Medicina Geral e Familiar e em Endocri-nologia. O problema é global: por um lado, há que prevenir a diabetes; por outro, de-pois do diagnóstico, tratá-la de forma efi-ciente e atualizada, sendo certo que, sem a colaboração dos doentes na implementa-ção do tratamento, será difícil a obtenção de resultados.

Que ferramentas e mecanismos existem para diagnosticar precocemente a RD?Esta complicação leva alguns anos a de-senvolver-se. Só começa a surgir após cinco ou seis anos de mau controlo da dia-betes. O diagnóstico precoce é feito através da retinografia. Embora devesse funcionar ainda melhor, a utilização desta técnica de rastreio em Portugal resulta bastante bem e é útil no despiste de milhares de casos de RD. No entanto, é preciso aumentar o número de rastreios. Mas é também essencial não esquecer que a prevenção da RD começa por evitar a própria diabe-tes e, estando já a doença instalada, tratar bem o doente, para conseguir que ele tenha valores de HbA1c, PA, triglicéridos e IMC perto do normal.

Que pontes se estabelecem entre a Endocrinologia e a Oftalmologia na prevenção e no tratamento da dia- betes e das suas consequências?Une-nos um esforço conjunto para que o doente aceite tratar-se melhor, transmitindo--lhe uma mensagem comum. Os oftalmolo-gistas devem estar (e estão) despertos para esta realidade; a nós, compete-nos tratar o melhor possível a diabetes e informar o do-ente sobre a necessidade absoluta de fazer periodicamente o rastreio da RD e os trata-mentos, quando necessário.

Existem grupos em maior risco de desenvolver RD entre as pessoas com diabetes?Todos os doentes diabéticos não com-pensados têm maior risco de desenvolver RD. Como em todas as doenças, há uma

base genética que desconhecemos e que facilita, em certas pessoas, o aparecimento de formas mais graves de RD. A genética é o fator não modificável major. Existem mui-tos estudos à procura de marcadores gené-ticos, que seriam um avanço fantástico. Po-rém, não há ainda conhecimentos médicos suficientemente avançados nesse campo.

Que mensagens lhe parece ser necessário reforçar neste âmbito?Que o Serviço Nacional de Saúde e os gran-des hospitais facilitem o acesso a consultas de diabetes ocular e a tratamentos; que é necessário melhorar o rastreio, alargando-o; e que os oftalmologistas mantenham e reforcem junto dos doentes as mensagens que lhes transmitimos. Isto é: melhorar o controlo da diabetes, da PA e dos lípidos no sangue.

13,1 %

95 535 1 540MILhõES DE EurOS

44 %

61 %

da população portuguesa com idade entre os 20 e 79 anos

tem diabetes

retinografias foram realizadas em 2014, no âmbito

dos programas de rastreio da retinopatia diabética

foi o custo estimado da diabetes em Portugal,

no mesmo ano

das pessoas com diabetes internadas nas unidades do Serviço Nacional

de Saúde em 2014 tinham manifestações oftalmológicas

destes indivíduos não foram ainda diagnosticados

Uma realidade PreocUPaNte

FoNte: Relatório Anual do Observatório Nacional da Diabetes – Edição de 2015

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O Serviço de Oftalmologia do Hospital Garcia de Orta (HGO), em Almada, «tem um ADN de máxima liberdade, máxima responsabilidade». Este é o segredo do sucesso de uma equipa que tem vindo a crescer e a diferenciar-se continuamente, nas palavras do seu diretor, Dr. Nuno campos. Marisa Teixeira

O alvoroço é grande nos corredores do terceiro piso do HGO, fazendo adi-vinhar um dos desafios dos oftalmo-

logistas: a elevada carga assistencial. Nuno Campos vem ao encontro da equipa de re-portagem do Visão SPO, encaminhando-nos ao seu gabinete, onde rapidamente nos traça o passado, o presente e o futuro do Serviço que lidera desde 2010. «O primeiro diretor, Dr. Manuel Ferreira Pinto, era inovador e conferiu ao Serviço de Oftalmologia, desde 1991 – data em que nasceu este hospital –, um cunho de dinamismo, que prosseguiu e foi reforçado pela sua sucessora, a Dr.ª Manuela Cidade. Portanto, quando aqui che-guei, a base de trabalho era excecional – o Serviço foi-me entregue como uma “criança saudável” e o meu propósito foi fazê-lo cres-cer um pouco mais.»

Segundo este responsável, no ano em que assumiu as atuais funções, assistiu-se a uma mudança de filosofia, pois foi nessa data que o Serviço se transformou em Cen-tro de Responsabilidade de Oftalmologia, o que «permitiu amplificar a atividade, quer no âmbito quantitativo quer qualitativo». E as-sim foi: aos nove oftalmologistas da época somaram-se outros sete e mais três inter-nos, até porque as responsabilidades assis-tenciais foram aumentando. Atualmente, es-

tima-se que o HGO sirva uma população de cerca de 350 mil habitantes dos concelhos de Almada e Seixal. «Como todas as estru-turas que servem aglomerados populacio-nais tão grandes, teremos algumas falhas, que é impossível não existirem, mas tenta-mos sempre dar o nosso melhor», afirma.

Palavras quiçá modestas, tendo em conta o que já foi alcançado até agora e os planos para este ano. «Do ponto de vista técnico, te-mos conseguido manter um update tecnoló-gico adequado, com equipamento recente e gold standard a nível internacional nos vários campos da Oftalmologia, inclusive na colhei-ta e na transplantação de córneas [ver caixa na página ao lado]», refere Nuno Campos.

Um «braço» no centro de AlmadaO crescimento exponencial do Serviço de Oftalmologia do HGO não teve o acompa-nhamento devido em termos físicos, sendo essa a principal dificuldade da equipa nos dias que correm. No total, os profissionais dispõem de três blocos operatórios, dois de ambulatório e um central, seis gabinetes de consulta e nove gabinetes para exames com-plementares de diagnóstico. Por sua vez, a urgência, a funcionar em todos os dias úteis, entre as 8h00 e as 20h00, recebe doentes referenciados de toda a península, em articu-

lação com os hospitais de Setúbal e Barrei-ro. «Nos restantes períodos, coordenamos e referenciamos os doentes para o Centro Hospitalar de Lisboa Central, que tem con-nosco uma articulação exemplar», adian-ta o diretor. De acordo com Nuno Campos, neste momento, seria necessário o dobro do espaço, uma situação que não está fora de hipótese, até porque existe um projeto de ampliação do HGO para um edifício de am-bulatório, que provavelmente acontecerá em breve. «O atual Conselho de Administração tem sido muito sensível aos nossos anseios e dificuldades, dando, quando possível, res-postas quase imediatas no sentido de suprir as necessidades», assevera.

MÁxIMA LIBErDADE, MÁxIMA rESPOnSABILIDADE

*EQuIPA (da esquerda para a direita): Dr.ª Belmira Beltran (oftalmologista); Dr.ª Gracinda Alves (coordenadora de Ortóptica); Dr.ª nelvia Donair (oftalmologista); Dr.ª Ana Cardoso (oftalmologista); Dr.ª Mafalda Pereira (oftalmologista); Dr.ª Inês (interna do Ano Comum); Carla Louro (assistente técnica); Dr.ª Ana Vide Escada (oftalmologista); Dr.ª Teresa Fonseca (oftalmologista); Dr.ª Sandra Barros (interna de Oftalmologia); Dr. nuno Campos (diretor); Dr.ª Ana Miranda (interna de Oftalmologia); Dr.ª Inês Machado (oftalmologista); Sofia Brinca (enfermeira); Maria José Gonçalves (assistente operacional); Dr. Filipe Fraga (oftalmologista); Patrícia Torrado (enfermeira); Isabel Mesquita (enfermeira); Dr. Alexandre Lobanov (oftalmologista); Sandra Polena (assistente operacional); Benvinda Lopes (enfermeira); Ana Maria Silva (enfermeira-chefe); Cláudia Santos (ortoptista); Tânia Pinheiro (assistente técnica); Carmélia Albuquerque (enfermeira); Cristina Matias (coordenadora do secretariado clínico); Ana Isabel (enfermeira); Andreia Ferreira (ortoptista); Maria João Sanches (assistente técnica); Sandra Correia (assistente operacional) e Sofia Pinto (enfermeira)

EQuI

PA*

NúmeroS de 201517 oftalmologistas, 3 internos, 6 ortoptistas, 15 enfermeiros, 4 assistentes técnicos e 8 assistentes operacionais28 900 consultas, das quais 13 000 foram primeiras3 526 cirurgias25 372 exames complementares de diagnóstico

OftalmoscopiareportagemV

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Para já, com o intuito de ultrapassar as li-mitações logísticas, está a ser adaptado um espaço num edifício no centro de Almada, que funcionará como um «braço» do Ser-viço. A Dr.ª Mafalda Pereira, oftalmologista nesta equipa desde 1998, avança que o ob-jetivo deste novo núcleo será ampliar a pres-tação de cuidados aos doentes. «O novo espaço será constituído por três gabinetes de consulta e estarão disponíveis exames como OCT [tomografia de coerência ótica] e um retinógrafo não midriático de última ge-ração, bem como um núcleo de diagnóstico de retinopatia diabética, até porque espera-mos uma percentagem elevada de doentes com diabetes.» Neste âmbito, em parceria com o Agrupamento de Centros de Saúde Almada-Seixal, vão decorrer ações de ras-treio de várias patologias oftalmológicas, com posterior reencaminhamento dos do-entes ao hospital, caso seja necessário.

Progama «Ver e Crescer»A pensar nos mais novos, será também cria-do, no novo polo de Oftalmologia, o programa «Ver e Crescer», para despiste da ambliopia na idade escolar. «Temos uma preocupa-ção acrescida em relação às crianças muito jovens, uma vez que o rastreio é mais simples nas mais crescidas, que têm maior facilida-de de comunicação», avança a Dr.ª Teresa Fonseca, que ingressou na equipa em 1994. Esta especialista em Oftalmologia Pediátrica acrescenta que as crianças mais jovens são também as que beneficiam mais da deteção atempada dos problemas visuais. «O principal objetivo do programa será detetar e tratar situ-ações de estrabismo, glaucomas congénitos e ambliopia, patologias em que o diagnóstico precoce faz toda a diferença», acrescenta.

O «Ver e Crescer» funcionará em três ní-veis distintos: «A triagem, na qual vamos receber crianças enviadas pelos centros de saúde da zona, a quem será efetuado um exame oftalmológico simples; a referen-ciação interna, isto é, os doentes que nos chegarão da Pediatria e das consultas (que serão divididos entre estrabismo, ambliopia e visão e doenças sistémicas); e, por fim,

o rastreio da retinopatia na prematuridade», explica Teresa Fonseca. Durante vários anos, esta oftalmologista foi a única dedica-da à Oftalmologia Pediátrica no Serviço. Nesse contexto, a sua preocupação princi-pal era dar resposta aos problemas oriun-dos da Pediatria, pois é daí que chegam os casos mais graves. Esta área foi fortalecida com a entrada de novos especialistas, en-tre os quais se destacam a Dr.ª Ana Vide Escada e o Dr. José Nepomuceno, surgin-do assim a possibilidade de aprofundar esta vertente.

Entreajuda como peça fundamentalApesar de ter de dar resposta o mais rapida-mente possível em várias frentes, a equipa não descura o ensino. «É no HGO que se le-ciona a cadeira de Oftalmologia do Mestrado Integrado de Medicina da Universidade do Algarve e contribuímos também para a forma-ção de técnicos de ortóptica e de enfermeiros, recebendo também internos do Ano Comum para estágio opcional», salienta Nuno Cam-pos. E acrescenta: «O internato neste Serviço tem merecido a escolha dos primeiros clas-sificados a nível nacional; temos a sorte de receber internos com qualidade excecional, dando-lhes a oportunidade de crescerem e absorverem um pouco do espírito desta equi-pa: muita entreajuda, que é essencial para superar os desafios do dia a dia.»

A enfermeira-chefe Ana Maria Silva destaca a verdadeira parceria entre médicos e enfer-meiros. «Esta equipa é muito motivada e dis-ponível, com um sentimento de pertença ao Serviço, característica invulgar nos dias que correm.» Esta é uma mais-valia importante, principalmente num contexto tão exigente,

transplante de córneasa 25 de novembro de 2010, o HGo foi o primeiro hospital público a sul do tejo a realizar um transplante de córnea, no Serviço de oftalmologia. até agora, esse número subiu para 100. Segundo a dr.ª inês machado, oftalmologista neste Serviço desde 2008, «a seleção do doente é um dos fatores mais importantes para o sucesso desta cirurgia e, para tal, as condições do olho e a própria vontade do candidato são cruciais». entretanto, foi criado um banco de córneas, que se encontra já na fase final de acreditação e que permitirá suprir as necessidades do HGo e de outras unidades hospitala-res. Satisfeita com este progresso, inês machado caracteriza a equipa que integra como «jovem e dinâmica», enfrentan-do o desafio de «garantir ao doente a possibilidade de retomar a visão». Para tal, como refere a enfermeira Patrícia tor-rado, «o processo deve observar a maior colaboração possível entre este centro de responsabilidade, o cHlc e o respe-tivo Gabinete coordenador de colheita e transplantação, com os quais existem excelentes relações, permitindo efetuar o transplante no menor tempo possível». No intervalo de tempo até ao transplante, as córneas são armazenadas no Serviço de medicina transfusional.

pois estes profissionais trabalham «quase num “mini-hospital”, onde existem urgências, consultas, internamento, bloco operatório e recobro, sendo necessária, portanto, muita ar-ticulação e colaboração entre todos».

A avaliação de córneas para transplante é realizada numa sala incluída no Serviço de Medicina Transfusional

O Serviço de Oftalmologia dispõe de equipamento recente e gold standard, como o destinado à cirurgia de catarata

A Oftalmologia Pediátrica é uma das várias valências do Serviço. Em breve, vai avançar o programa «Ver e Crescer», para despiste da ambliopia em idade escolar

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A parte do programa científico de-dicada ao glaucoma, concentrada sobretudo no dia 12 de março, teve

início com o tema «Cirurgia refrativa: utopia ou realidade». O Dr. Fernando Vaz, diretor do Serviço de Oftalmologia do Hospital de Braga, começou por fazer um enquadra-mento geral sobre o assunto. «Embora não haja contraindicação para os doentes com glaucoma avançarem para a cirurgia, há grupos em que existe maior dificuldade na avaliação da progressão da doença, pelas alterações induzidas pela biomecânica da córnea», referiu. Nestes casos, na opinião do oftalmologista, há que ponderar bem o risco inerente ao procedimento.

No âmbito da mesma discussão, a Dr.ª Teresa Gomes, oftalmologista no Centro Hospitalar de Lisboa Central, falou sobre as técnicas e opções disponíveis para um candidato a cirurgia refrativa. Esta espe-cialista também sublinhou a importância de uma boa avaliação dos doentes, advertindo para que, «em caso de suspeita de glauco-ma ou perante a existência de vários fato-res de risco, se pondere bem e se alerte o doente para os riscos e cuidados a ter no pós-operatório».

Sobre o seguimento do doente, o Dr. José António Dias, oftalmologista na Clínica Joaquim Chaves Saúde, em Cascais, fri-

sou que, «antes de avançar para a cirurgia, deve-se confirmar e estabelecer um diag-nóstico o mais completo possível, porque pode fazer diferença o facto de se tratar de uma suspeita de glaucoma de ângulo aber-to, de hipertensão ocular ou de glaucoma primário de ângulo fechado». Após realizar os exames complementares, «é importante registá-los, guardar uma cópia e fornecer um exemplar ao doente». O cirurgião que vai proceder ao ato cirúrgico também deve estar bem informado e conhecer todo o pro-cesso, defendeu José António Dias.

Por seu lado, a Dr.ª Cláudia Gonçalves, oftalmologista no Hospital Beatriz Ângelo, em Loures, salientou que, num glaucoma suspeito com antecedentes de cirurgia refra-tiva, o valor subestimado da pressão intrao-cular dificulta o diagnóstico e o seguimento. «Num procedimento queratorrefrativo, esta consequência é independente do perfil de ablação e depende de vários fatores, nome-adamente da pressão ocular pré-operatória, da profundidade de ablação, da idade e do sexo do doente.»

No mesmo painel, a Dr.ª Maria da Luz Freitas, oftalmologista no Hospital da Ar-rábida, em Vila Nova de Gaia, apresentou diferentes casos clínicos de doentes sub-metidos a diversas cirurgias refrativas e que desenvolveram glaucoma anos mais tarde. Esta especialista frisou que «é importante conhecer os dados pré-cirurgia refrativa e, por outro lado, existe a necessidade de um acompanhamento personalizado e de aten-ção aos pormenores, pois estes doentes são uma realidade distinta».

Ainda antes do almoço, decorreu um vídeo--simpósio, que exibiu trabalhos com complica-ções cirúrgicas. «Foi um momento muito par-ticipado, provando que este é um formato de grande interesse», referiu o Dr. José Moura Pereira, coordenador do Grupo Português de Glaucoma.

Glaucoma terminal Seguiram-se as sessões dedicadas ao glau-coma terminal e ao glaucoma uveítico. So-bre estes temas, Moura Pereira sublinhou a existência notória de um consenso generali-

A reunião conjunta dos grupos portugueses de glaucoma e de Inflamação Ocular da SpO, realizada entre 11 e 12 de março, em Viseu, contou com cerca de 300 participantes. A terapêutica médica e cirúrgica do glaucoma terminal, a cirurgia refrativa e a investigação da uveíte anterior, posterior e pediátrica foram alguns dos temas abordados. Paula Ferreira Fernandes

DESAfIOS DO glAUcOmA E DA INflAmAçÃO OcUlAr Em rEUNIÃO cONjUNTA

O coordenador do Grupo Português de Glaucoma, Dr. José Moura Pereira, com alguns dos participantes na reunião: Dr.ª Cláudia Gonçalves, Dr. Fernando Vaz, Dr.ª Teresa Gomes, Prof. Fernando Falcão-reis, Dr. José António Dias, Prof.ª Conceição Lobo, Dr.ª Maria da Luz Freitas; Dr. Miguel Trigo, Dr. Sérgio Estrela, Dr. António Melo e Dr. nuno Lopes (da esq. para a dta.)

Fases avançadas do glaucoma terminal não impedem tratamentoo Dr. António Figueiredo, oftalmologista nas Clínicas ALM-Oftalmolaser, fez uma apresentação sobre a terapêutica mé-dica no glaucoma terminal, começando com uma constatação feliz: «ao fim de muitos anos, a incidência do glaucoma terminal e o risco de cegueira diminuíram finalmente, o que se deve sobretudo à melhoria das condições cirúrgicas e ao facto de os doentes serem operados mais cedo.» antónio Figueiredo sublinhou, no entanto, que a incidência da doença continua alta. de acordo com este especialista, a fase adiantada do glaucoma terminal não constitui impedimento para o tratamento cirúrgico. «muitas vezes, as cirurgias menos invasivas têm um risco menor e podem ser uma boa opção em determinadas circunstâncias.» Para os doentes no limite da terapêutica médica, «o melhor tratamento do glaucoma terminal é mesmo evitar a sua progressão». Segundo antónio Figueiredo, o primeiro passo para travar esta escalada é «estipular e manter uma pressão-alvo intraocular eficaz, fixando uma estratégia linear, por exemplo, nos 12 mmHg».

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zado entre os presentes sobre as respetivas abordagens e congratulou-se com a evolu-ção das técnicas e os resultados alcança-dos nesta área: «Felizmente, nos últimos anos, o glaucoma terminal e o risco de ce-gueira diminuíram muito», frisou.

O Dr. Pedro Faria, oftalmologista no Cen-tro Hospitalar e Universitário de Coimbra, corroborou a opinião generalizada de optar pela cirurgia no glaucoma terminal: «O tra-tamento cirúrgico é, na maioria dos casos, a primeira escolha, porque não há tempo a perder e temos de ser eficazes na redução da pressão intraocular para que a doença não progrida mais. O importante é tentar re-duzir ao máximo as complicações cirúrgicas para prevenir a perda de visão.»

Sobre os exames a solicitar, o Prof. Luís Abegão Pinto, oftalmologista no Centro Hos-pitalar Lisboa Norte/Hospital de Santa Maria, realçou que, na fase terminal do glaucoma, os meios complementares de diagnóstico têm fortes limitações na identificação dos do-entes que estão a progredir. «É difícil perce-ber quando um campo visual tão negro fica ainda mais negro. Os exames que usamos têm limitações, pelo que, nesta fase, não há uma resposta errada e tudo depende dos meios ao dispor», admitiu o especialista.

Glaucoma uveíticoNa sua apresentação sobre a fisiopatolo-gia da hipertensão intraocular na uveíte, a Dr.ª Maria Lisboa, oftalmologista no Hos-pital Prof. Doutor Fernando Fonseca, na Amadora, notou que, apesar dos avanços registados na área, «mais de dois milhões de pessoas sofrem de uveíte no mundo e a prevalência de cegueira, como consequên-cia desta patologia, não tem diminuído mui-to nos últimos 30 anos. Sabemos que 10% dos doentes vão acabar com cegueira como resultado da uveíte, e uma das principais complicações que contribuem para esta percentagem é a hipertensão intraocular». Para o tratamento primário do doente com inflamação intraocular estão indicados os corticoides, como defendeu Maria Lisboa.

Além da terapêutica médica, foram abor-dadas as opções cirúrgicas disponíveis, como a trabeculectomia ou os dispositivos de drenagem. «Chegámos à conclusão de que a colocação dos implantes de válvulas será a opção mais consensual. De uma for-ma geral, temos algumas garantias de reso-lução de problemas com a aplicação deste dispositivo», frisou Moura Pereira.

A terminar a reunião, foi eleito o melhor caso clínico. A Prof.ª Maria João Quadrado, presidente da SPO, destacou a «excelente participação dos internos neste concurso, o que revelou o interesse geral pelo conheci-mento por parte dos mais jovens e contri-buiu para o seu melhor desempenho como oradores».

rastreios em todo o País na Semana do Glaucoma

O Grupo Português de Glaucoma (GPG) associou-se às iniciativas da Semana Mun-dial do Glaucoma 2016 e promoveu um conjunto de ações de sensibilização e ras-treios, que decorreram entre os dias 6 e 12 de março. Com a colaboração de vários oftalmologistas, as ações realizaram-se em Aveiro, Braga, Coimbra, Leiria, Vila Nova de Gaia e Viseu. Nesta última cidade, além de uma iniciativa de sensibilização à população coordenada pelo Dr. Mário Cruz, a Semana do Glaucoma culminou com a Reunião do GPG.

No Hospital de Braga, a iniciativa foi coordenada pelo Dr. Nuno Lopes, que salien-tou a importância do diagnóstico precoce para contrariar o avanço de uma patologia progressiva e responsável por nove milhões de cegos em todo o mundo. «Os ras-treios são instrumentos úteis para detetar a doença. Nas pessoas que não sabiam que tinham este problema, contribuímos para a prevenção da perda antecipada da visão.» Durante esta ação, que teve bastante afluência da população, foram encon-trados doentes com fatores de risco significativos para glaucoma, que foram encami-nhados para os seus médicos de família.

Também no Centro Hospitalar de Vila Nova de Gaia/Espinho, o Dr. Joaquim Sequeira e a equipa médica do Serviço de Oftalmologia realizaram ações de sensibi-lização e rastreios aos doentes. O mesmo fez o Dr. João Matias e a restante equipa do Centro Hospitalar do Baixo Vouga/Hospital Infante D. Pedro, em Aveiro, que aler-taram a população para a necessidade de rastrear a pressão intraocular, principal fator de risco para o glaucoma. Os Serviços de Oftalmologia do Centro Hospitalar de Leiria e do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra também se associaram às comemorações e assinalaram a data com sessões de informação à população.

no Centro hospitalar de Vila nova de Gaia/Espinho, além da realização de rastreios, foram distribuídos panfletos com informações essenciais sobre o glaucoma

Em Braga, os rastreios à população foram coordenados pelo Dr. nuno Lopes (na foto)

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Inflamação ocular «à lupa»O dia 11 de março foi dedicado à Reunião do Grupo Português de Inflamação Ocular (GPIO). Na cerimónia de abertura, a Prof.ª Maria João Quadrado, coordenadora do GPIO, felicitou a elevada participação em mais um evento com a chancela da SPO, a que também preside. A primeira interven-ção científica, dedicada à uveíte anterior, coube ao Dr. Luís Torrão, oftalmologista no Hospital CUF Porto. Após um breve enqua-dramento do tema, caracterizando a região anatómica em que ocorre a inflamação, este especialista referiu também a sua clas-sificação e tratamento, esclarecendo que o diagnóstico da uveíte anterior é sobretudo clínico. Uma vez na presença da doença, o tratamento deverá prolongar-se por um pe-ríodo de entre cinco a seis semanas. Quan-to à retirada do corticoide, esta não deve ser feita de forma abrupta, dando algum tempo de desabituação. No seguimento, «é essen-cial estar atento à pressão intraocular do doente», defendeu ainda Luís Torrão.

Por sua vez, a Dr.ª Marta Guedes, oftal-mologista no Centro Hospitalar de Lisboa Ocidental/Hospital de Egas Moniz, falou sobre a uveíte posterior e assumiu que não é fácil chegar a um diagnóstico. Para a ora-dora, existem fatores que indicam o trata-mento a adotar: «É muito importante saber se estamos perante uma uveíte infeciosa ou não infeciosa e, no caso de ser autoimune, se é sistémica ou exclusivamente intraocu-lar». Ainda no âmbito das causas possíveis, «a mais frequente é, sem dúvida, a toxo-plasmose ocular, muito prevalente no nos-so País», reforçou. Por isso, segundo esta

preletora, «é muito importante não esquecer de excluir esta e outras etiologias infeciosas antes de iniciar tratamento, nomeadamente com corticoides».

Sobre a uveíte nos mais novos, o Dr. Vasco Miranda, oftalmologista pediátrico no Centro Hospitalar do Porto/Hospital de San-to António, adiantou que esta é mais rara na criança do que no adulto e pode ter etiolo-gia variada. «As uveítes não infeciosas são quase dez vezes mais frequentes do que as infeciosas, sendo a artrite idiopática juvenil a causa identificável mais frequente de todas», aponta o especialista, acrescentando que, por seu lado, «a toxoplasmose é a causa de uveíte infeciosa mais frequente». A investi-gação e, muitas vezes, também o tratamento da doença nesta faixa etária «exige o apoio da Pediatria», realçou Vasco Miranda.

CErIMÓnIA DE ABErTurA: Dr. Ermida rebelo (presidente do Conselho de Administração do Centro hospitalar Tondela/Viseu), Prof.ª Maria João Quadrado (presidente da SPO) e Dr. António Almeida henriques (presidente da Câmara Municipal de Viseu)

corticoterapia na conferência eurico lisboaUm dos momentos altos do primeiro dia da reunião de inflamação ocular foi a conferência eurico lisboa, proferida pelo Prof. Javier Zarranz-Ventura, oftalmologista no Hospital Clinic de Barcelona, sobre a corticoterapia no glaucoma. o orador referiu-se sobretudo aos dispositivos intraoculares libertadores de corticoides disponíveis no mercado e aos seus efeitos ao nível da pressão intraocular. com larga experiência clínica nesta área e sustentado em estudos referentes ao seguimento de doentes com estes implantes na sua consulta, este especialista sublinhou que «os corticoides têm um perfil de segurança mais forte do que se possa

pensar». existem diferentes tipos de corticoides e de implantes com efeitos muito distintos, referiu o orador.

Perante edema macular diabético ou uveíte, «sabe-se que, em 70% dos casos, não haverá alteração da pressão intraocular». No entanto, «cerca de 30% dos doentes implantados necessitam de tratamento adicional para manter a pressão intraocular estável». É muito importante conhecer o risco e informar o doente sobre o que é expectável que aconteça. Na sua experi-ência clínica, Javier Zarranz-Ventura verificou que, «após a utilização deste tipo de corticoides, a taxa de cirurgias do glaucoma reduziu de 8 para 4%».

Na opinião do dr. José moura Pereira, «existem ainda algumas reservas na utilização dos dispositivos intraoculares que libertam corticoides, pelo que é muito positivo conhecer os resultados dos colegas espanhóis, que têm enorme experiência neste campo». Por seu lado, a Prof.ª maria João Quadrado destacou a atualidade do assunto: «Para a nossa prática clínica diária é de extrema relevância estarmos a par destas inovações.»

«As uveítes não infecio-sas são quase dez vezes mais frequentes do que

as infeciosas»Dr. Vasco miranda

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cUrSO DE cIêNcIAS BÁSIcAS pArA INTErNOS DE OfTAlmOlOgIADurante quase duas semanas, cerca de 20 internos de Oftalmologia frequentaram um curso teórico-prático, no qual foram abordados vários temas da especialidade, desde questões básicas de anatomia, até domínios complexos da cirurgia e dos exames de diagnóstico.

Sandra Diogo

Numa iniciativa conjunta entre o Co-légio da Especialidade de Oftal-mologia da Ordem dos Médicos

(CEOOM) e a Sociedade Portuguesa de Oftalmologia (SPO), um grupo de internos do primeiro ano da especialidade teve a oportunidade de frequentar o Curso de Ci-ências Básicas em Oftalmologia, entre 15 e 25 de fevereiro, na sede da SPO, em Lis-boa. «O curso começou com os módulos de anatomia, genética e fisiologia, porque, sem se conhecer estas ciências básicas, não se pode falar de patologias, de técnicas cirúrgi-cas ou de outros aspetos mais evoluídos da clínica. Em todo o caso, não pretendemos que os alunos absorvam tudo de uma vez só, mas antes que tomem contacto com as técnicas e com as tecnologias que existem na especialidade e percebam, antes de mais, o seu potencial», esclarece o Dr. Au-gusto Magalhães, presidente do CEOOM.

Entre outros, este especialista destaca a importância dos módulos «Exame físico ocu-lar e semiologia ocular» e «Exames comple-mentares em Oftalmologia». «Embora sejam temas que trazem muita informação teórica, são fulcrais para permitir aos internos entra-rem em contacto com as tecnologias usadas nesta área. Uma vez que a Oftalmologia é uma especialidade muito técnica e tecnoló-gica, faz todo o sentido que, desde cedo, os internos tomem conhecimento, pelo menos em linhas gerais, das tecnologias que vão ter disponíveis para avaliar cada segmento do globo ocular», explica.

Enfoque na componente práticaPara dar resposta aos anseios de experiên-cia que os internos costumam ter, este cur-

so integrou diversas componentes práticas, terminando com o módulo «Fios e suturas – teoria e wet lab». «Nesta sessão, foi possí-vel aos internos terem contacto com muitos dos conhecimentos que vão servir de base para estruturar toda a sua aprendizagem ao longo de quatro anos de internato. Foi, sem dúvida, o módulo de que os internos mais gostaram», lembra Augusto Magalhães.

Em muitos outros módulos, como o de ca-sos clínicos e o de Oftalmologia Pediátrica e estrabismo, também se reservou uma parte do tempo para debate. «O que pretendemos foi, nas áreas clínicas, dar um cunho mais prático, para que os alunos percebessem o âmbito e as potencialidades da Oftalmolo-gia, quer em termos de conhecimento bá-sico quer em termos de capacidade diag-nóstica e abordagem terapêutica», explica o presidente do CEOOM.

Com um balanço francamente positivo, a iniciativa, que já vai no segundo ano, deverá continuar com edições anuais e há mesmo planos para que possa ser ampliada. «Por

norma, os internos que acabavam de in-gressar no internato de Oftalmologia deslo-cavam-se ao estrangeiro para frequentarem este curso, mas sou da opinião de que a Oftalmologia portuguesa atingiu o nível de excelência, pelo que temos a capacidade de o realizar cá», reforça a presidente da SPO, Prof.ª Maria João Quadrado.

módulos da formação• anatomia• Biologia e imunologia ocular• embriologia e genética ocular• Fisiologia• Farmacologia e terapêutica ocular• exame físico e semiologia ocular• Ótica física e refração• correção de erros refrativos• exames complementares

em oftalmologia• Patologia ocular• Urgências em oftalmologia• Glaucoma• estrabismo e oftalmologia Pediátrica• retina médica e cirúrgica• Neuroftalmologia• Ética, profissionalismo

e comunicação• casos clínicos • Fios e suturas – teoria e wet lab

A Dr.ª rita Flores e a Dr.ª Luísa Vieira foram as responsáveis pelo módulo de retina médica e cirúrgica, no dia 23 de fevereiro

A Prof.ª Maria João Quadrado coordenou o módulo de casos clínicos, no dia 24 de fevereiro

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Como tem vindo a ser hábito, o Curso EUPO (European University Profes-sors of Ophthalmology), este ano

dedicado às urgências neuroftalmológicas, foi um dos pontos altos do programa dos Colóquios de Oftalmologia. Organizada pelo Prof. Manuel Monteiro-Grillo, diretor do Serviço de Oftalmologia do Centro Hospita-lar Lisboa Norte/Hospital de Santa Maria, e pelo Prof. Carlos Marques Neves, oftalmo-logista e docente na Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa – que também integraram a Comissão Organizadora dos Colóquios –, esta formação contou com três créditos, atribuídos pelo European Accredi-tation Council for Continuing Medical Edu-cation. Entre os temas apresentados aos internos, estiveram perda visual transitória, edema bilateral e unilateral do disco ótico, anisocoria, diplopia, perda visual aguda com disco ótico normal, dor em Oftalmolo-gia, hiperemia ocular, assim como alguns casos práticos para discussão.

Além do Curso EUPO, realizaram-se dois outros cursos: um sobre anestesia em Oftal-mologia, dirigido a enfermeiros, e outro dedi-cado à tomografia de coerência ótica (OCT, na sigla em inglês), destinado a ortoptistas.

A gestão em Oftalmologia (ver caixa) e a cirurgia no glaucoma foram os temas das duas sessões científicas que compuseram o programa do dia 26 de fevereiro. A Prof.ª Ingeborg Stalmans, diretora da Unidade de Glaucoma do Centro de Investigação em Oftalmologia da Universidade de Leuven, na Bélgica, apresentou dados da sua práti-ca de vários anos com os implantes XEN. «Não foi fácil encontrar o equilíbrio entre segurança e eficácia no que se refere à uti-lização destes dispositivos», admitiu. Ainda assim, com o tempo, «duplicou-se o núme-ro de doentes com glaucoma operados com melhores resultados clínicos».

Discussão de práticas na área da retinaNo segundo dia dos Colóquios, a discussão focou-se na área da retina. A este propósito, o Prof. Martin Zinkernagel, docente de Imu-nologia Experimental na Universidade de Zurique, na Suíça, abordou a otimização da injeção intravítrea, seguindo-se uma mesa- -redonda sobre os diferentes protocolos na prática clínica nesta área. O programa ter-minou com uma mesa-redonda dedicada à investigação em Oftalmologia, que, segun-do Monteiro-Grillo, surgiu para dar espaço

aos muitos profissionais não oftalmologis-tas que se dedicam ao estudo do sistema visual.

A Dr.ª Luísa Coutinho Santos, presidente do Conselho de Administração do Instituto de Oftalmologia Dr. Gama Pinto (IOGP), em Lisboa, e coorganizadora dos Colóquios, destacou a «melhoria contínua na escolha de um programa que agrade a todos». O mesmo considerou o Dr. Victor Ágoas, di-retor clínico do IOGP e também membro da Comissão Organizadora que salientou o Curso EUPO e a sessão sobre investiga-ção, rematando: «Não pode haver cuidados médicos de excelência sem ensino de qua-lidade.»

cOlóqUIOS DE OfTAlmOlOgIA ABrIrAm-SE à INVESTIgAçÃOUma sessão dedicada à investigação foi a principal novidade dos colóquios de Oftalmologia 2016, que se realizaram nos passados dias 26 e 27 de fevereiro, no hotel quinta da marinha, em cascais. cirurgia do glaucoma e novidades na área da retina foram outros temas abordados na reunião, que contou com a participação de cerca de 300 especialistas e internos de Oftalmologia, enfermeiros e ortoptistas.

Paula Ferreira FernandesMESA DE ABErTurA (da esq. para a dta.): Dr. Victor Ágoas, Prof.ª Maria João Quadrado, Prof. Manuel Monteiro-Grillo, Dr.ª Luísa Coutinho Santos e Dr. Augusto Magalhães

Gestão em oftalmologiaa já habitual sessão sobre gestão em oftalmologia foi, desta vez, proferida pela Prof.ª Anja Tuulonnen, presidente do Tays Eye Center, em Tampere, na Finlândia, e da Sociedade Europeia de Glaucoma. esta especialista deu a conhecer um método de trabalho implementado na sua clínica, que confere aos enfermeiros grande parte do protagonismo nas intervenções. Um modelo que gerou alguma controvérsia entre os especialistas portugueses, mas que, na sua experiência, como defendeu, «resultou no equilíbrio perfeito entre custo/efetividade/cuida-do ao doente». «Neste momento, consigo tratar 25 doentes com glaucoma por hora», referiu a oradora, sublinhando ainda que é preciso inovar as fontes de financiamento em oftalmolo-gia e na Saúde em geral, não descurando a qualidade dos cuidados prestados.

«Duplicou-se o número de doentes com glaucoma

operados com melhores resultados clínicos»

prof.ª Ingeborg Stalmans

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O Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra (CHUC) vai organizar, nos

próximos dias 17 e 18 de junho, as XXVI Jornadas Internacionais de Oftalmologia de Coimbra. Responsável pela organização do encontro, o Prof. Joaquim Murta, diretor do Centro de Responsabilidade Integrado de Oftalmologia (CRIO) do CHUC, explica que estarão em discussão dois temas centrais: Superfície Ocular e Inflamação. O respon-sável adianta ainda que «estas Jornadas vão centrar-se em aspetos muito práticos, com a apresentação de novas abordagens e trata-mento inovadores, casos clínicos e sua dis-

As Reuniões Científicas do Serviço de Oftalmologia do Centro Hospitalar de

São João (CHSJ) e da Faculdade de Medi-cina da Universidade do Porto, que decorre-ram a 18 e 19 de março, no Porto, contaram com a presença de cerca de 220 participan-tes. Para esse sucesso contribuiu a vinda de alguns palestrantes internacionais.

O encontro iniciou-se com o Curso EUPO (European University Professors of Ophthal-mology) sobre cirurgia do estrabismo, espe-cialmente dirigido a internos, que contou com 120 participantes. O restante programa, baseado no tema «Estrabismo para o século XXI: novos conceitos e novas estratégias», foi preenchido com quatro mesas-redondas sobre cirurgia do estrabismo e das parali-sias oculomotoras, bem como a abordagem de casos de estrabismo pouco frequentes. Houve ainda dois simpósios internacionais, nos quais foi abordada a cirurgia em formas especiais de estrabismo (como o torcicolo de causa ocular, as síndromes de fibrose congénita ou o estrabismo na criança com glaucoma) e a plasticidade cortical.

A reunião contou com a participação de três oftalmologistas de Barcelona: Dr.ª Alicia Galán, do Hospital Vall d’Hebron; Dr.ª Alicia Serra, do Hospital Sant Joan de Déu;

cussão e recomendações para o tratamento das patologias nestas áreas».

A reunião vai contar com «uma participa-ção multidisciplinar, com profissionais de áreas tão diversas como a Dermatologia ou a Imunoterapia, para falar sobre os trata-mentos adequados a cada caso». Segundo Joaquim Murta, as doenças relacionadas com a superfície ocular têm particular impor-tância: «Com o envelhecimento da popula-ção, a abordagem destas patologias está na ordem do dia, o que a torna um assunto premente. O CRIO e as instituições de inves-tigação com quem trabalhamos intimamente

e Dr. Josep Visa, da Corporació Sanitària Parc Taulí. Do Canadá veio o Dr. Robert Hess, diretor do Departamento de Inves-tigação em Oftalmologia do McGill Univer- sity Health Centre, em Montreal. Segun-do o Prof. Fernando Falcão-Reis, diretor do Serviço de Oftalmologia do CHSJ e um dos organizadores do evento, «os quatro oradores estrangeiros proferiram palestras muito interessantes» e, juntamente com os participantes nacionais, foram responsáveis pela elevada qualidade do debate. O res-ponsável refere ainda que «o número invul-gar de cerca de 220 participantes» se deveu

estão muito envolvidos nesta temática, par-ticipando em variados estudos nacionais e internacionais.» O mesmo acontece em rela-ção à inflamação, «já que muitas das doen-ças oftalmológicas são inflamatórias».

A forte evolução ao nível do tratamento torna imperativo «discutir e transmitir o que há de novo nestas matérias». Joaquim Murta explica que os portugueses estão envolvi-dos em diversos projetos científicos nestes campos, «acompanhando o que de melhor se faz no mundo». Além de oftalmologistas dos principais Serviços nacionais, irão par-ticipar nas XXVI Jornadas Internacionais de Oftalmologia de Coimbra os Profs. Frank Larkin e Carlos Pavésio, do Moorfields Eye Hospital, em Inglaterra.

À semelhança de anos anteriores, es-tas Jornadas integram um Curso EUPO, subordinado ao tema da neuroftalmologia. «Nesta formação, também muito prática e direcionada tanto para internos de Oftal-mologia como para especialistas que se queiram atualizar, vai fazer-se uma revisão sobre causas, abordagem e tratamento de algumas doenças do sistema nervoso central com manifestações oculares.» Paula Ferreira Fernandes

ao empenho da organização, que envolveu também os Drs. Jorge Breda e Augusto Ma-galhães, oftalmologistas no CHSJ.

As reuniões dos dois grandes centros hospitalares do Porto continuarão a ser promovidas anualmente, de forma alterna-da, cabendo ao Centro Hospitalar do Por-to/Hospital de Santo António organizar a edição de 2017. «Fica o exemplo de uma atuação muito harmoniosa e alternada entre os dois hospitais», remata Falcão-Reis, sa-lientando a importância de reduzir o núme-ro de reuniões para simplificar agendas. Ana Luísa Pereira

XXVI jOrNADAS DE OfTAlmOlOgIA DE cOImBrA

ESTrABISmO NA rEUNIÃO DO cENTrO hOSpITAlAr DE SÃO jOÃO

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Queratites infeciosas na conferência dr. Pedro abrantes este ano, a conferência dr. Pedro abrantes, na manhã do dia 28 de maio, terá como orador o Prof. rubens Belford Jr., docente no departamento de oftalmologia da Universidade Federal de São Paulo, no Brasil, que vai falar sobre as queratites infeciosas provocadas pelo vírus Zika. mas o tema das doenças infeciosas da córnea será também discutido num curso que antecede esta conferência. «Vamos falar sobre as queratites mais frequentes em Portugal e apresentar algoritmos de tratamento para saber como proceder em cada caso», adianta conceição lobo, que defende também a necessidade de se fazer um exame bacterio-lógico para identificar o agente causal da infeção. «o diagnóstico da queratite tem de ser bem feito, sob pena de haver uma evolução da doença, que pode ser muito negativa», sublinha esta coorganizadora da reunião.

cIrp, SUpErfícIE OcUlAr, córNEA E cONTAcTOlOgIA Em rEUNIÃO cONjUNTAO grupo de cirurgia Implanto-refrativa de portugal (cIrp) e o grupo português de Superfície Ocular, córnea e contactologia (gpSOc) voltam a reunir-se, nos dias 27 e 28 de maio, no hotel grande real Santa Eulália, em Albufeira. queratite, biometria, lentes de contacto, superfície ocular, topografia da córnea, femtofaco e qualidade da visão serão os grandes temas a abordar nas diferentes sessões desta reunião conjunta. Entre os oradores convidados, destaca-se o prof. rubens Belford jr., que vai falar sobre o vírus zika.

Paula Ferreira Fernandes

A reunião vai começar com um cur-so prático sobre interpretação de dados de topografia corneana. A

Prof.ª Conceição Lobo, coordenadora da CIRP, revela o que motivou a escolha do tema: «Cada vez mais, surgem novos mé-

todos para fazer topografia da córnea e, às vezes, há dificuldade em interpretá-los.» A oftalmologista adianta que um dos objetivos do curso, que conta com a acreditação da Union Européenne des Médecins Spécialis-tes (UEMS), é apresentar valores de refe-rência para a utilização uniforme deste meio complementar de diagnóstico. Segundo a Dr.ª Esmeralda Costa, coordenadora do GPSOC, que também é responsável pela organização desta formação, «serão abor-dados temas de interesse mútuo que têm em vista fomentar e enriquecer a discussão entre os dois lados».

Conceição Lobo destaca ainda a sessão dedicada à qualidade da visão, também na manhã do dia 27 de maio: «Nos dias que correm, toda a Medicina, incluindo a Oftal-mologia, caminha no sentido da excelência, pelo que queremos dar uma boa qualidade de visão e não só apostar na acuidade vi-sual dos doentes.» A má sensibilidade ao contraste, além de outros parâmetros que podem contribuir para uma visão com me-nor qualidade, estarão em discussão nesta apresentação.

Por seu lado, Esmeralda Costa salienta a apresentação sobre lentes de contacto na patologia da superfície ocular, pelo Prof. Serge Doan, oftalmologista no Hôpital Bichat-Claude Bernard, em Paris. «Nesta sessão, no dia 27, estará em discussão a intolerância às lentes de contacto e as suas possíveis causas», adianta.

Lentes intraoculares e cirurgia da catarataConceição Lobo designa também como im-portante o módulo sobre o cálculo da lente intraocular em situações especiais, já na

manhã do dia 28 de maio, e outro tema ino-vador que será discutido nessa tarde: «A cirurgia da catarata e refrativa com laser por femtosegundo, ainda fora do alcance da maioria dos oftalmologistas, será o futuro do nosso trabalho, pelo que queremos dotar os especialistas de conhecimento para pode-rem trabalhar com esse equipamento.»

O programa termina com um vídeo-sim-pósio e uma sessão de update sobre cirur-gia da catarata. «Queremos mostrar o que há de novo em termos de equipamentos, técnicas cirúrgicas e dispositivos», frisa a coordenadora da CIRP. E acrescenta: «Além dos internos, para quem os conteú-dos serão novidade, também gostaríamos de cativar os oftalmologistas mais seniores, porque vamos tentar mostrar o que há de inovador nesta área.»

Prof.ª Conceição Lobo

Dr.ª Esmeralda Costa

globo ocularreuniões/formaçãoV

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acho que faz cada vez mais sentido criar alianças e somar redes. É nesse sentido que estamos a tentar dar outro âmbito à Oftalmo-logia nacional.»

O formato da reunião é constituído por duas conferências major, uma organizada pela SERV e outra pelo GPRV, além de três mesas-redondas. Em cada sessão haverá oradores espanhóis e portugueses, sendo que, no final, serão apresentados casos clínicos, de forma a potenciar a discussão dos participantes. Esta é uma das áreas da Oftalmologia que regista maior evolução, quer em termos de novas opções terapêuti-cas quer de meios auxiliares de diagnóstico cada vez menos invasivos. Nesse contexto, o Prof. José Maria Ruiz Moreno, presidente da SERV, destaca que «serão discutidos os assuntos mais prementes da atualidade no que diz respeito às doenças da retina, que constituem uma das principais causas de

A realizar nos dias 9 e 10 de julho, no Hotel Montebelo Aguieira, em Mortágua,

a próxima Reunião Anual de Internos de Oftalmologia (RAIO) vai ter como tema «Ur-gências em Oftalmologia» – o mesmo da pri-meira reunião organizada pela SPO Jovem, há cinco anos, embora com tópicos diferen-tes nesta edição. Segundo o coordenador da SPO Jovem, Dr. Ricardo Amorim, o progra-ma contemplará «questões do dia a dia, que ajudarão a ultrapassar determinados obstá-culos e facilitarão as decisões do interno na prática clínica».

A manhã de sábado começa com a primei-ra das quatro grandes subáreas do progra-ma: urgências em retina, com especial enfo-que nas fotopsias e miodesopsias. «Muitas vezes, as pessoas aparecem na urgência com queixas de flashes ou moscas volan-tes no campo visual. A ideia desta sessão é descodificar as patologias, dar pistas para o diagnóstico e contribuir para uma melhor abordagem destes casos», refere. De segui-da, está prevista uma sessão sobre urgên-

O Grupo Português de Retina e Vítreo (GPRV) e a Sociedade Espanhola de

Retina e Vítreo (SERV) estão a organizar a sua primeira reunião conjunta, agendada para o dia 2 de julho próximo, em Madrid. «A ideia surgiu após anteriores colaborações e intercâmbios entre oftalmologistas portugue-ses e espanhóis da área da retina», adianta o Prof. João Figueira, coordenador do GPRV.

O projeto deverá ter continuidade bienal, al-ternadamente numa cidade diferente de cada um dos países. «Queremos que se torne uma reunião periódica, para fomentar a dinâmica destes grupos que, dessa forma, poderá ser potencializada», refere João Figueira. A Prof.ª Ângela Carneiro, oftalmologista dedicada a esta área e vogal da Comissão Central da SPO, corrobora esta opinião e acrescenta: «Portugal é um país relativamente pequeno e não tem a mesma proximidade com o cen-tro da Europa como outros países. Por isso,

cias em órbita, como o edema periorbitário, que incidirá sobretudo nos cuidados a ter na identificação da doença, nos meios comple-mentares de diagnóstico a realizar e no se-guimento dos doentes.

Ainda na manhã de sábado, estarão em discussão as particularidades inerentes à idade pediátrica e a urgência em glaucoma, com a pressão intraocular como preocupa-ção central. «A abordagem deste problema implica um controlo/tratamento atempado, de forma a evitar alterações irreversíveis», frisa o coordenador da SPO Jovem. Entre as situações que podem ocorrer com frequên-cia neste tipo de urgência, destacam-se as «pressões intraoculares não controladas, o glaucoma agudo de ângulo fechado ou outras situações que impliquem uma atua-ção rápida e eficaz».

Na parte da tarde do dia 9 de julho, vão decorrer dois workshops dedicados às suturas na urgência e às úlceras de córnea, durante os quais vão ser apresentados ca-sos clínicos e os respetivos procedimentos

a seguir. O dia acaba com atividades de team building. No domingo, decorrerá uma mesa-redonda sobre como fazer um currí-culo e será atribuído o prémio para o me-lhor caso clínico. Paula Ferreira Fernandes

rAIO SErÁ DEDIcADA àS UrgêNcIAS Em OfTAlmOlOgIA

prImEIrA rEUNIÃO IBérIcA DE rETINA E VíTrEO

Prof. João Figueira Prof.ª Ângela Carneiro Prof. José Maria ruiz Moreno Dr. Luis Arias

Dr Dr

cegueira e têm grande repercussão social, sanitária e económica».

Por seu lado, o Dr. Luis Arias, tesoureiro da SERV e coordenador da reunião pelo lado espanhol, antecipa alguns dos temas em discussão: degenerescência macular as-sociada à idade, edema macular diabético, maculopatia miópica, cirurgia macular, novas tecnologias de imagem, como a OCT, intra-operatória e a cirurgia vitreorretiniana com visualização 3D. «As mais recentes técnicas cirúrgicas ao serviço da retina e do vítreo, com a utilização dos maiores avanços em imagem, como a angiografia com OCT, de alta qualidade e detalhe e sem utilização de produtos de contraste, estão entre os tópicos deste atrativo programa científico», refere Luis Arias.

Em 2018, a reunião ibérica de retina de-verá realizar-se no Porto, seguindo-se-lhe Barcelona, em 2020, e Lisboa, em 2022.

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Quando o convidámos para ser o entrevistado desta secção do Vi-são SPO, Monteiro-Grillo hesitou. «Não sei se há grande interesse

em saberem que faço ioga», justificou. Dias depois, com a mesma serenidade com que parece enfrentar tudo na vida, estava deci-dido a encarar o desafio. De facto, poucos associariam o diretor de um dos maiores ser-viços de Oftalmologia do País a esta prática, mas, depois de se conhecerem as suas mo-tivações, parece natural que, há mais de 20 anos, esta seja a sua forma de estar na vida.

Duas a três vezes por semana, nos inter-valos entre consultas, quase sempre à hora de almoço, Monteiro-Grillo dirige-se para o centro onde tem aulas. «Algumas pessoas têm uma ideia errada sobre o ioga. Pensam que há sons estranhos e evocações que não correspondem à realidade», diz. No en-tanto, como faz questão de clarificar, nesta escola, pratica-se hatha yoga, que é uma ramificação adaptada ao Ocidente.

A verdade é que, quando se entra no edifí-cio, deixando para trás todo o rebuliço típico da capital, em plenas Avenidas Novas, algo

é através do ioga que encontra o equilíbrio físico e mental necessário para enfrentar a responsabilidade inerente ao trabalho que desenvolve, seja perante uma cirurgia ou um diagnóstico mais complexo. O prof. manuel monteiro-grillo, diretor do Serviço de Oftalmologia do centro hospitalar lisboa Norte/hospital de Santa maria, deu a conhecer este seu hobby de há muitos anos ao Visão SPO e aproveitou para desmistificar alguns equívocos que possam estar associados ao ioga.

Paula Ferreira Fernandes

de místico parece pairar no ambiente. A porta do centro abre-se e o cheiro, a remeter para a alfazema, sobressai. Os sons da natureza e a decoração, em tons leves, entre o bran-co e o lilás, ajudam a recriar uma atmosfera propícia a esquecer o que ficou para trás. Po-rém, como o oftalmologista esclarece, o ioga consiste, sobretudo, em exercícios físicos. «Não há qualquer tipo de misticismo nem de religiosidade», clarifica.

Depois de preparar o corpo com os mo-vimentos de aquecimento, dá-se início às posturas, as ásanas, «algumas bastante exigentes», sobretudo as que implicam a inversão do corpo. Por isso, a aula deve ser sempre guiada, para não haver risco de lesões. Essenciais à boa energia e ao relaxamento, as pránáyama, técnicas de respiração, fazem parte do exercício e da meditação. É com esta prática regular que o corpo fica fortalecido e ganha flexibilidade, garante o experiente praticante. Ao abraçar o ioga, que significa união, «talvez a liga-ção entre o corpo e o espírito, um pouco como por osmose», Monteiro-Grillo reforça o seu «interesse por um estilo de vida mais

saudável, incluindo a boa alimentação, com impacto ao nível da saúde em geral».

20 anos de iogaA ligação de Manuel Monteiro-Grillo ao ioga começou durante a sua estadia profissional de um mês em Lyon, França, nos anos de 1980. «No final de cada dia de trabalho, al-guns médicos tinham aulas e fui desafiado a experimentar», recorda o oftalmologista, que, regressado a terras lusas, prosseguiu com o ioga, do qual era também adepta a sua mãe. Ao longo do tempo, várias per-sonalidades contribuíram para reforçar o seu gosto pela atividade, como é o caso de Clotilde Ferreira, que tem hoje 92 anos e é a professora de ioga mais antiga de Portugal e, decerto, das mais provectas do mundo. «Tive vários professores, mudei algumas vezes de local, mas, atualmente, pratico o hatha yoga, que é bastante exigente do ponto de vista físico.»

Depois de visitarmos o centro onde faz ioga e de passagem para a clínica ALM Oftalmolaser, cumprindo um circuito ha-bitual do especialista, demorámo-nos nos

O Prof. Manuel Monteiro-Grillo pratica ioga duas a três vezes por semana, num centro em Lisboa, nos intervalos entre consultas

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jardins da Fundação Calouste Gulbenkian – um dos oásis de Lisboa, onde o chilre-ar dos pássaros e a verdejante flora quase nos transportam para outra dimensão –, local ideal para continuar a conversa. Não é consensual se há ou não uma filosofia de vida associada a esta atividade. Na opinião de Monteiro-Grillo, relacionando a boa condição física com o relaxamento generalizado que o ioga proporciona, «há, talvez, uma forma diferente de abordar as situações».

Este oftalmologista tem interesses para-lelos que lhe dão igual prazer nos poucos tempos livres do trabalho, alguns dos quais também contribuem para o seu bem-estar. É o caso das caminhadas quase diárias, junto ao mar, que constituem uma exce-lente alavanca para a boa forma física e mental. Muitas vezes, destas andanças resultam alguns mergulhos de inverno nas águas do Guincho, em Cascais: «As pes-soas arrepiam-se, mas a diferença térmica não é tão grande como no verão e não cus-ta assim tanto.»

A exigência do dia a dia profissional leva as pessoas a procurarem compensações e formas alternativas de ultrapassar eventuais dificuldades. «No meu caso, as situações piores são pouco frequentes, mas ficamos sempre preocupados com uma ou outra questão que, porventura, não terá o desfe-cho esperado», admite o oftalmologista.

A tranquilidade e a busca pelo equilíbrio são importantes para um cirurgião, devido ao peso da sua responsabilidade. Há alguns anos, Monteiro-Grillo conheceu um mestre zen, Claude Durix, que era também oftal-mologista em Casablanca. «Ele divulgou um artigo, num congresso mundial, que de-fendia que o foco da preocupação de uma cirurgia deveria incidir sobre o médico. O cirurgião devia preparar-se para cirurgia no sentido de estar nas melhores condições possíveis». Uma ideia com a qual logo se identificou.

mar, viagens e livrosalém do ioga e das caminhadas pelo paredão perto de casa ou pela praia do Guincho, monteiro-Grillo confessa-se um leitor compulsivo. o cinema também lhe rouba alguma atenção nos tempos livres, assim como as viagens. «Procuro fazer férias perto do mar. Gosto da tranquilidade que me dá a imensidão do oceano.» É na companhia da família que prefere passar o seu tempo de lazer – é casado também com uma médica, tem três filhos e quatro netos.

A caminho das sessões de ioga, o oftalmologista aproveita, com frequência, a hora do almoço para passear nos jardins da Fundação Calouste Gulbenkian

pioneiro na vitrectomia em portugalA carreira de Manuel Monteiro-Grillo é constituída por vários pontos altos. «Esco-lhi a Medicina por exclusão de partes, dado que as opções por Engenharia, Economia ou Direito não me atraíam muito.» No en-tanto, o facto de pertencer à quinta gera-ção de uma família de médicos, incluindo o seu pai, talvez tenha exercido alguma influência.

A escolha da especialidade também não foi imediata. Quando se encontrou com os Profs. António Damásio e Alexandre Castro- -Caldas na Faculdade de Medicina da Uni-versidade de Lisboa (FMUL), a Neurologia foi uma tentação, sobretudo na vertente mais relacionada com os aspetos da linguagem. Na balança, pesou o facto de a Oftalmologia resolver grande parte das situações casuís-ticas. «A Neurologia tem diagnósticos muito interessantes do ponto de vista intelectual, mas a resolução dos problemas é mais di-fícil», refere. Também o facto de ser filho de um oftalmologista poderá ter influenciado.

Dentro da Oftalmologia, tem-se dedicado a áreas específicas. Quando despontou a técnica cirúrgica por vitrectomia, em plena década de 1980, rumou a Nova Iorque, para uma formação de um ano no Hospital Monte Sinai. «Posso dizer que terei sido um dos primeiros a fazer vitrectomia em Portugal», afirma. Na época, já era assistente na FMUL e estava a preparar o doutoramento – outro momento muito relevante da sua carreira, que concluiu em 1988.

Assim que regressou a Portugal, introdu-ziu os conhecimentos adquiridos em Nova Iorque e aplicou esta inovação cirúrgica no Instituto de Oftalmologia Dr. Gama Pinto. «A vitrectomia foi uma revolução enorme nesta especialidade. Através desta técnica, pes-soas que anteriormente não tinham qual-quer possibilidade de recuperação visual, voltaram a ver.» Entre muitas experiências que protagonizou, Monteiro-Grillo destaca a primeira destas abordagens: «Lembro-me perfeitamente da primeira vez em que um doente começou a ver depois da cirurgia. Foi um senhor com uma certa idade, diabé-tico e com uma hemorragia do vítreo. Era uma situação banal para os dias de hoje, mas, na época, era complicada.»

Com grande sentido de missão, quando olha hoje para a Oftalmologia, sente um cer-to orgulho por acompanhar a evolução que a especialidade sofreu. «Quer do ponto de vista de diagnóstico quer do terapêutico, fazemos atualmente coisas que não eram sequer pre-visíveis há uns anos.» Tal como se verificou com a vitrectomia, «outras vertentes foram alvo de grandes avanços nas últimas déca-das, como a cirurgia refrativa e a de catarata, com todo o seu aperfeiçoamento». Alcança-dos todos os graus da carreira hospitalar e académica, Monteiro-Grillo prossegue na senda de proporcionar aos doentes o benefí-cio do que de melhor se conhece na área.

no dia da defesa da tese de doutoramento, em 1988,

com o pai, Dr. Eduardo Monteiro-Grillo, também

oftalmologista

Dr

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