4
VISITA AO INTERIOR DO INTERIOR: UM ESTUDO FOTOGRÁFICO Fernando Gregório Catto (Bolsista PIBIC/CNPq) e Prof. Dr. Mauricius Martins Farina (Orientador) Instituto de Artes - IA, UNICAMP PALAVRAS CHAVE: FOTOGRAFIA, DIANE ARBUS, RETRATO E AUTORRETRATO Resumo A pesquisa propôs a criação de um ensaio fotográfico composto por retratos e autorretratos realizados em um retorno a minha cidade natal, Laranjal Paulista. Trata-se de uma autobiografia inventada, criada em contexto contemporâneo onde a biografia é um valor escasso e, por isso, tão explorada na publicidade e na arte. Iniciei a pesquisa com um estudo estético e metodológico da obra fotógrafa norte-americana Diane Arbus (1923-1972). Conhecida por fotografar pessoas a margem de uma sociedade cosmética e normativa, suas fotografias dialogam com uma vasta gama de artistas contemporâneos anexados à pesquisa. Dentre eles destacam - se os brasileiros Gustavo Lacerda e Juliana Stein , que foram entrevistados. A recorrência do retorno a Arbus em trabalhos artísticos contemporâneos evidencia a necessidade de reação a problemáticas levantadas por sua obra ainda hoje. Dentre elas, o sistema de controle que, silenciosamente impõe a normatividade não mais pela disciplina, mas pela escolha e pela espetacularidade. Após o período de contaminação teórica, iniciei uma série de visitas aos sujeitos em suas casas para retratá-los com o mínimo de direcionamento possível, permitindo uma investigação sobre sua relação com a auto-imagem, com a fotografia e comigo. A série resultante é composta por familiares, amigos antigos ou novos conhecidos, graças a vontade fotográficas e agregá-los ao trabalho. O projeto pretende também embaçar as fronteiras entre retrato e autorretrato, seguindo a lógica de produção contemporânea deste gênero da fotografia, apontada por José Luis Brea no artigo “Fabricas de identidad (retoricas del autorretrato)” (BREA, 2011). Segundo o autor, a biografia seria um valor escasso na contemporaneidade e, por isso, tão explorada na publicidade e na arte. O retrato contemporâneo passa a ser apenas um subgênero do autorretrato, uma busca da própria identidade no outro e ao mesmo tempo uma apropriação do outro para evidenciar uma visão de mundo particular. Portanto, coloco-me como um “autor que identifica seus retratados como um caçador de si mesmo, numa procura incessante por um conhecimento de si que se reflete no outro.” (FARINA, 2003). Estas afirmações materializam-se a partir da escolha de incluir autorretratos no trabalho, que colocam-no entre Diane Arbus e Cindy Sherman, a qual trabalha com a “idéia de que não há mais sentido em se submeter a uma observação diferenciada, antropológica” (FARINA, 2003).

VISITA AO INTERIOR DO INTERIOR: UM ESTUDO ... e me expulsa de um útero que não caibo mais e que ainda caibo, já que não tem tamanho, nem forma, nem morte. Se “a política trata

Embed Size (px)

Citation preview

VISITA AO INTERIOR DO INTERIOR: UM ESTUDO FOTOGRÁFICO

Fernando Gregório Catto (Bolsista PIBIC/CNPq) e Prof. Dr. Mauricius Martins Farina (Orientador)

Instituto de Artes - IA, UNICAMP

PALAVRAS CHAVE: FOTOGRAFIA, DIANE ARBUS, RETRATO E AUTORRETRATO

Resumo

A pesquisa propôs a criação de um ensaio fotográfico composto por retratos e autorretratos realizados em um retorno a minha cidade natal, Laranjal Paulista. Trata-se de uma autobiografia inventada, criada em contexto contemporâneo onde a biografia é um valor escasso e, por isso, tão explorada na publicidade e na arte. Iniciei a pesquisa com um estudo estético e metodológico da obra fotógrafa norte-americana Diane Arbus (1923-1972). Conhecida por fotografar pessoas a margem de uma sociedade cosmética e normativa, suas fotografias dialogam com uma vasta gama de artistas contemporâneos anexados à pesquisa. Dentre eles destacam - se os brasileiros Gustavo Lacerda e Juliana Stein , que foram entrevistados.

A recorrência do retorno a Arbus em trabalhos artísticos contemporâneos evidencia a necessidade de reação a problemáticas levantadas por sua obra ainda hoje. Dentre elas, o sistema de controle que, silenciosamente impõe a normatividade não mais pela disciplina, mas pela escolha e pela espetacularidade. Após o período de contaminação teórica, iniciei uma série de visitas aos sujeitos em suas casas para retratá-los com o mínimo de direcionamento possível, permitindo uma investigação sobre sua relação com a auto-imagem, com a fotografia e comigo. A série resultante é composta por familiares, amigos antigos ou novos conhecidos, graças a vontade fotográficas e agregá-los ao trabalho.

O projeto pretende também embaçar as fronteiras entre retrato e autorretrato, seguindo a lógica de produção contemporânea deste gênero da fotografia, apontada por José Luis Brea no artigo “Fabricas de identidad (retoricas del autorretrato)” (BREA, 2011). Segundo o autor, a biografia seria um valor escasso na contemporaneidade e, por isso, tão explorada na publicidade e na arte. O retrato contemporâneo passa a ser apenas um subgênero do autorretrato, uma busca da própria identidade no outro e ao mesmo tempo uma apropriação do outro para evidenciar uma visão de mundo particular. Portanto, coloco-me como um “autor que identifica seus retratados como um caçador de si mesmo, numa procura incessante por um conhecimento de si que se reflete no outro.” (FARINA, 2003). Estas afirmações materializam-se a partir da escolha de incluir autorretratos no trabalho, que colocam-no entre Diane Arbus e Cindy Sherman, a qual trabalha com a “idéia de que não há mais sentido em se submeter a uma observação diferenciada, antropológica” (FARINA, 2003).

Breve exemplo de fotografias realizadas durante a pesquisa

 

Imagem  1  -­‐  "Autorretrato  001  -­‐  1,20m  x  1,20m  -­‐  2011

A família tornou-se, inevitavelmente, campo de reflexão pulsante do projeto. O "autorretrato 001" (2011, 1,20m x 1,20m) é o primeiro – aquele que, dolorosamente, me coloca para o mundo como filho. Acolhe e me expulsa de um útero que não caibo mais e que ainda caibo, já que não tem tamanho, nem forma, nem morte. Se “a política trata da convivência entre diferentes” (...) a ruína da política (...) surge do desenvolvimento de corpos políticos a partir da família” (ARENDT, 1999).

 

Imagem  2  -­‐  "Meu  pai"  -­‐  1,00m  x  1,00m  -­‐  2011

Na série de retratos de Carlos e Mauri, dois irmãos que conheci graças ao projeto fotográfico são retratados em sua casa. Os retratos embaçam limites entre retrato e autorretrato, pois partem da identificação e admiração entre artista e sujeitos de sua obra. Tocam na questão de gênero, a qual levantou uma série de incômodos durante a vida do artista enquanto vivia na cidade em questão. Uma das fotografias parodia "O nascimento de Vênus", de Botticelli – ícone da padronização da beleza helênica em meio à contemporaneidade cosmética e hipócrita.

Imagem  3  -­‐  "Mauri  -­‐  1,00m  x  1,00m  -­‐  2012

Imagem  4  -­‐  "Carlão"  -­‐  1,00m  x  1,00m  -­‐  2012

BIBLIOGRAFIA

ARENDT, Hannah (autor); LUDZ, Ursula (coaut.). O que e politica ?. 2. ed. Rio de Janeiro, RJ: Bertrand Brasil, 1999.

BREA, José Luis. Fábricas de identidad. Retóricas del autorretrato. Madrid, 2003. 5/4/2011. Disponível em: <http://joseluisbrea.net/>.

FARINA, Mauricius. M. Na altura da carne e depois no espelho. In Studium (UNICAMP). v.13, p.1 - 2, 2003. Disponível em: <http://www.studium.iar.unicamp.br/13/4.html>.