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9 | CADERNO DEZ! | SALVADOR, TERÇA-FEIRA, 22/1/2008 Visões do futuro, sem culpa REPRODUÇÃO Robô na capa de um livro de Isaac Asimov: quase um pensador VITOR PAMPLONA [email protected] Os fãs de ficção científica, com toda razão, nunca engoliram a fama de nerds esquizofrênicos que a rapaziada pra frentex dos velhos carnavais se encarregou de criar. A implicância era por um lado compreensível: espaçonaves, robôs, monstros mutantes e impérios intergalácticos parecem bobagens demais para serem levadas a sério. Fama, por sinal, é algo que nunca faltou aos principais autores do gênero. Desde Jules Verne e H.G. Wells, pais fundadores da literatura de ficção científica, grandes tiragens e preços baixos fizeram a imensa popularidade das histórias futuristas de fantasia e terror, recheadas por incríveis avanços tecnológicos. Os editores nunca tiveram do que reclamar mas, por muito tempo, foi difícil para bons escritores de ficção científica agüentar o preconceito da crítica, que desprezava, humilhava e caçoava o gênero. “Na primeira metade do século 20, os acadêmicos temiam ser ridicularizados se dessem atenção a tipos bárbaros de literatura ou ‘para-literatura‘, que seus colegas não liam porque achavam perda de tempo“, diz o poeta, músico e premiado escritor de ficção científica Bráulio Tavares, autor da coletânea A Espinha Dorsal da Memória [1989]. Isaac Asimov, russo que foi ainda criança para os Estados Unidos, nunca ligou muito para isso. Escreveu 468 livros, tinha um diploma de doutor em bioquímica na parede e freqüentava convenções de fãs. No fundo, o mestre que formulou as leis da robótica e escreveu clássicos como Eu, Robô [1950] e Fundação [1951] sabia que não era um grande escritor. Era mestre, mas em contar uma boa história, sem muita densidade, mas criativa e afinada com a ciência. Ser reconhecido pela crítica foi quase uma obsessão para Philip K. Dick, consumidor de anfetaminas que não viveu para ver seu nome sair do gueto da FC. Quando morreu, em 1982, aos 53 anos, NA REAL Maltrada por décadas pela crítica, a ficção científica deixou de ser vista como subliteratura Eletric Sheep? [Andróides sonham com ovelhas elétricas?], é irônico e evidencia mais a temática da humanização das máquinas – Blade Runner não foi um sucesso imediato. Tornou-se clássico com o tempo, mas logo que as editoras perceberam o impacto da história do policial-andróide Rick Deckard [Harrison Ford] sobre o público, pipocaram reedições dos principais livros de Dick. Seu talento, porém, já chamara a atenção de escritores do gênero. O primeiro a apontar algo especial nele foi o polonês Stanislaw Lem, autor de Solaris – adaptado para o cinema em 1972 com a devida densidade e angústia por Andrei Tarkovski e vítima inocente de um remake de 2002 a cargo de Steven Soderbergh. A ficção de Dick, assim como a de Lem, explora mais a experiência humana que o maravilhoso mundo novo das máquinas. “É a investigação do ‘espaço interior‘, ou seja, o espaço da mente“, diz o jornalista Fábio Fernandes, tradutor de quase toda a obra de Dick para português. Com livros que envelheceram bem, Dick só teria lamentado não ter visto a compilação de quatro deles feita em 2007 pela Biblioteca Nacional dos EUA, que só edita a fina flor da literatura americana. Estão lá, e na estante de centenas de bibliotecas, muito bem encadernados e impressos em papel-bíblia, O homem do Castelo Alto [1962], Os Três Estigmas de Palmer Eldritch [1965], O Caçador de Andróides [1968] e Ubik [1969]. FÚRIA DE TITÃS – O valor literário da ficção científica nem sempre tirou o sono de seus escritores. No final do século 19, Verne e Wells estavam mais ocupados numa disputa animada em torno dos critérios para definir a FC. Os dois não se bicavam. Em meio a uma Inglaterra burocrática, tecnicista e decadente, Wells colecionava utopias junto a temas caros ao gênero: viagem temporal [A Máquina do Tempo , 1896], biotecnologia [A Ilha do Doutor Moreau, 1896] e invasão alienígena [A Guerra dos Mundos, 1898]. As “fantasias“ wellesianas causavam urticárias em Verne, que coletava informações e obedecia à lógica científica da época. Em Da Terra à Lua [1865], seu mais famoso relato, não satisfeito em prever a chegada do homem ao satélite dos amantes com 104 anos de antecedência, Verne precisou até a velocidade necessária para atingir o feito: 11 km/s. A previsão levava em conta a força do campo gravitacional da Terra, mas acabou furada – os foguetes partiram rumo à lua um século depois com velocidades muito inferiores. O crítico Roberto de Sousa Causo, autor de Ficção Científica, Fantasia e Horror no Brasil [2003], explica que o buraco é mais embaixo: “O tratamento dado à ciência pode ser importante, assim como a riqueza do estilo, mas também importa o uso que é feito das diferentes tradições e temas que compõem a ficção científica“. E Bráulio Tavares alerta: mesmo nos EUA e na Inglaterra, poucos escritores seguem a ciência à moda dos antigos clássicos. “Asimov e Arthur C. Clarke, apesar de grandes, não são a ‘régua‘ que mede os autores recém-surgidos. Essa ‘régua‘ são escritores mais recentes como Philip K. Dick, Ursula LeGuin e William Gibson”. A exigência do rigor científico traiu escritores na proporção dos avanços tecnológicos, mas não foi uma armadilha para o astrônomo Johannes Kepler [1571-1630], que formulou as três leis fundamentais da mecânica celeste. Pouca gente sabe, mas Kepler, antes de morrer, deixou o manuscrito de Somnium, mistura de tratado científico e obra de ficção no qual o jovem Duracotus [seu alter-ego] é transportado para a lua pelo misterioso poder de demônios lunares. Obra seminal da FC, ao lado de Nova Atlântida [1627], do filósofo Francis Bacon [1561-1626], Somnium foi publicada postumamente pelos filhos de Kepler, em 1634. Dick tinha quase saído era de catálogo. Suas histórias eram praticamente desconhecidas do grande público e apenas sobreviviam na memória de fãs e ex-adolescentes das décadas de 1960 e 1970. No ano de sua morte, porém, o lançamento de Blade Runner , o filme de Ridley Scott, viria a concretizar a profecia de um amigo que lhe disse: um dia, você terá mais influência que autores reverenciados pela crítica como William Faulkner, Norman Mailer e Henry James. Baseado na novela O Caçador de Andróides – cujo título em inglês, Do Androids Dream of “Asimov e Clarke não são a ‘régua‘ que mede autores recém-surgidos“. Bráulio Tavares, escritor de FC

Visões do futuro, sem culpa

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Matéria sobre a ficção científica, integrante de série sobre os gêneros literários publicada pelo Caderno Dez!, suplemento juvenil do jornal A Tarde

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Robô na capa de umlivro de Isaac Asimov:quase um pensador

VITOR PAMPLONAv p a m p l o n a @ g r u p o a t a rd e . c o m . b r

Os fãs de ficção científica, comtoda razão, nunca engoliram afama de nerds esquizofrênicos quea rapaziada pra frentex dos velhoscarnavais se encarregou de criar. Aimplicância era por um ladocompreensível: espaçonaves, robôs,monstros mutantes e impériosintergalácticos parecem bobagensdemais para serem levadas a sério.

Fama, por sinal, é algo quenunca faltou aos principais autoresdo gênero. Desde Jules Verne eH.G. Wells, pais fundadores daliteratura de ficção científica,grandes tiragens e preços baixosfizeram a imensa popularidade dashistórias futuristas de fantasia eterror, recheadas por incríveisavanços tecnológicos. Os editoresnunca tiveram do que reclamarmas, por muito tempo, foi difícilpara bons escritores de ficçãocientífica agüentar o preconceitoda crítica, que desprezava,humilhava e caçoava o gênero.

“Na primeira metade do século20, os acadêmicos temiam serridicularizados se dessem atençãoa tipos bárbaros de literatura ou‘para-literatura‘, que seus colegasnão liam porque achavam perdade tempo“, diz o poeta, músico epremiado escritor de ficçãocientífica Bráulio Tavares, autorda coletânea A Espinha Dorsalda Memória [1989].

Isaac Asimov, russo que foiainda criança para os EstadosUnidos, nunca ligou muitopara isso. Escreveu 468 livros,tinha um diploma de doutorem bioquímica na parede efreqüentava convenções defãs. No fundo, o mestre queformulou as leis da robótica eescreveu clássicos como Eu,Robô [1950] e Fundação [1951]sabia que não era um grandeescritor. Era mestre, mas emcontar uma boa história, semmuita densidade, mas criativa eafinada com a ciência.

Ser reconhecido pela crítica foiquase uma obsessão para Philip K.Dick, consumidor de anfetaminasque não viveu para ver seu nomesair do gueto da FC. Quandomorreu, em 1982, aos 53 anos,

NA REAL ❚ Maltrada por décadas pela crítica, a ficção científica deixou de ser vista como subliteratura

Eletric Sheep? [Andróides sonhamcom ovelhas elétricas?], é irônico eevidencia mais a temática dahumanização das máquinas –Blade Runner não foi um sucessoimediato. Tornou-se clássico com otempo, mas logo que as editorasperceberam o impacto da históriado policial-andróide Rick Deckard[Harrison Ford] sobre o público,pipocaram reedições dos principaislivros de Dick.

Seu talento, porém, já chamaraa atenção de escritores do gênero.O primeiro a apontar algo especialnele foi o polonês Stanislaw Lem,autor de Solaris – adaptado para ocinema em 1972 com a devidadensidade e angústia por AndreiTarkovski e vítima inocente de umremake de 2002 a cargo de StevenSoderbergh. A ficção de Dick,assim como a de Lem, explora maisa experiência humana que omaravilhoso mundo novo dasmáquinas. “É a investigação do‘espaço interior‘, ou seja, o espaçoda mente“, diz o jornalista FábioFernandes, tradutor de quase todaa obra de Dick para português.Com livros que envelheceram bem,Dick só teria lamentado não tervisto a compilação de quatro delesfeita em 2007 pela BibliotecaNacional dos EUA, que só edita afina flor da literatura americana.Estão lá, e na estante de centenasde bibliotecas, muito bemencadernados e impressos empapel-bíblia, O homem do Castelo

Alto [1962], Os Três Estigmasde Palmer Eldritch [1965], O

Caçador de Andróides[1968] e Ubik [1969].

FÚRIA DE TITÃS – Ovalor literário da ficçãocientífica nem sempretirou o sono de seusescritores. No final doséculo 19, Verne e

Wells estavam mais ocupadosnuma disputa animada em tornodos critérios para definir a FC. Os

dois não se bicavam. Em meio auma Inglaterra burocrática,

tecnicista e decadente,Wells colecionava

utopias

junto a temas caros ao gênero:viagem temporal [A Máquina doTe m p o , 1896], biotecnologia [AIlha do Doutor Moreau, 1896] einvasão alienígena [A Guerra dosMundos, 1898]. As “fantasias“wellesianas causavam urticárias emVerne, que coletava informações eobedecia à lógica científica daépoca. Em Da Terra à Lua [1865],seu mais famoso relato, nãosatisfeito em prever a chegada dohomem ao satélite dos amantescom 104 anos de antecedência,Verne precisou até a velocidadenecessária para atingir o feito: 11km/s. A previsão levava em conta aforça do campo gravitacional daTerra, mas acabou furada – osfoguetes partiram rumo à lua umséculo depois com velocidadesmuito inferiores.

O crítico Roberto de SousaCauso, autor de Ficção Científica,Fantasia e Horror no Brasil [2003],explica que o buraco é maisembaixo: “O tratamento dado àciência pode ser importante, assimcomo a riqueza do estilo, mastambém importa o uso que é feitodas diferentes tradições e temasque compõem a ficção científica“.

E Bráulio Tavares alerta: mesmonos EUA e na Inglaterra, poucosescritores seguem a ciência à modados antigos clássicos. “Asimov eArthur C. Clarke, apesar degrandes, não são a ‘régua‘ quemede os autores recém-surgidos.Essa ‘régua‘ são escritores maisrecentes como Philip K. Dick,Ursula LeGuin e William Gibson”.

A exigência do rigor científicotraiu escritores na proporção dosavanços tecnológicos, mas não foiuma armadilha para o astrônomoJohannes Kepler [1571-1630], queformulou as três leis fundamentaisda mecânica celeste. Pouca gentesabe, mas Kepler, antes de morrer,deixou o manuscrito de Somnium,mistura de tratado científico eobra de ficção no qual o jovemDuracotus [seu alter-ego] étransportado para a lua pelomisterioso poder de demônioslunares. Obra seminal da FC, aolado de Nova Atlântida [1627], dofilósofo Francis Bacon [1561-1626],Somnium foi publicadapostumamente pelos filhos deKepler, em 1634.

Dick tinha quase saído era decatálogo. Suas histórias erampraticamente desconhecidas dogrande público e apenassobreviviam na memória de fãs eex-adolescentes das décadas de1960 e 1970. No ano de sua morte,porém, o lançamento de BladeR u n n e r, o filme de Ridley Scott,viria a concretizar a profecia de umamigo que lhe disse: um dia, vocêterá mais influência que autoresreverenciados pela crítica comoWilliam Faulkner, Norman Mailer eHenry James.

Baseado na novela O Caçadorde Andróides – cujo título eminglês, Do Androids Dream of

❛“Asimov e Clarkenão são a ‘régua‘que mede autoresrecém-surgidos“.

Bráulio Tavares, escritor de FC

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Han Solo [Harrison Ford], ao lado do chapa Chewbacca, empunha sua pistola laser em Star Wars: “Backstreet Boys da ficção científica”

Monstros que amavam a bombaAs histórias de monstros mutantes,supercomputadores e guerrasintergalácticas nunca foram tãopopulares quanto no pós-guerra,quando o pânico nuclear dosprimeiros anos da Guerra Friaofereceu munição à vontade paraa criação de filmes B, em queexplosões nucleares sempreproduziam um monstro radioativoque iria atazanar a vida damocinha. Em Hollywood, o maiorespecialista no assunto era oprodutor Roger Corman, que tinhaa receita para ganhar muitodinheiro com produções deorçamento ridículo. Seu primeirofilme, O Monstro do Fundo do Mar[1954], custou 12 mil dólares numaépoca em que os grandes estúdiosnão faziam produções médias commenos de 1 milhão. Seu filme maisconhecido, A Loja dos Horrores[1960], teve o privilégio de revelarJack Nicholson. Mas tempos depoisCorman abandonou os monstros efoi fazer filmes lisérgicos com PeterFonda, como Wild Angels [1966] eThe Trip [1967]. O negócio dele eracinema independente, não ficçãocientífica.

Essa apropriação do universo daficção científica pela cultura demassa, sobretudo pelas séries deTV, cinema e quadrinhos, foiresponsável por boa parte doranço intelectual com o gêneroliterário. Nem mesmo gente do

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Plástico, espuma e isopor assustavam as garotas nos filmes de Corman

i Notícia integrada: Leiaentrevistas noblogdodez.atarde.com.br

Brasil emtempo deficção científica

A história da ficção científica noBrasil se confunde pouco com a domercado editorial, mas osurgimento de novos autores e aredescoberta de um pioneirismoque vai bater no século 19 nuncaabriram perspectivas tão boas parao gênero no País. Esfinge [1908],de Coelho Neto, A AmazôniaMisteriosa [1925], de Gastão Cruls,e Século 21 [1934], de Berilo Neves,não são livros muito citados por aí.Mas isso pode mudar com areedição de textos desses e deoutros autores prometida poreditoras nacionais. A lista começacom 3 Meses no Século 81 [1947],clássico da FC nacional escrito porJerônymo Monteiro. Além disso, ocrítico Roberto de Sousa Causoorganizou Os Melhores ContosBrasileiros de Ficção Científica,coletânea com histórias deMachado de Assis, Gastão Cruls,Domingos Carvalho da Silva, LevyMenezes, Rubens Scavone e FinisiaFideli, que deve sair no primeirosemestre de 2008.

O prestígio da FC nacionalcresce desde os anos 1990, aliandoo surgimento de revistasespecializadas e obras de novosautores. Nos últimos anos, editorascomo a Aleph, Devir, Mercuryo eNovo Século publicaram novasobras e antologias com históriascurtas. “Falta ainda, por parte dojornalismo cultural, compreenderos autores de maior projeção apartir da especificidade da ficçãocientífica deles“, diz Causo, elepróprio escritor de livros comoDança das Sombras [contos] e ACorrida do Rinoceronte [romance].

São Fausto Fawcett e suaCopacabana tupinipunk, OctávioAragão e o Intempol [políciatemporal], Guilherme Kujawski eseus Piritas Siderais [do livrohomônimo de 1994], além de maisou menos novatos como MaxMallmann, roteirista da RedeGlobo que chegou a ser finalistado Prêmio Jabuti de 2000 comSíndrome de Quimera. “O que sediscute hoje na FC brasileira é achamada coerência interna, ouseja: os personagens são críveis ousão bidimensionais? A premissa éinteressante, ainda que não sejaviável cientificamente? Enfim, olivro é bem escrito?“, questiona otradutor Fábio Fernandes. Com apalavra, o leitor.

calibre de Arthur C. Clarke [2001:uma Odisséia no Espaço], com oempurrão dado por StanleyKubrick e tudo, fez críticos maisexigentes darem o braço a torcer.Os autores ganhavam fama,prêmios e dinheiro, mas poucorespeito. E nem romances de FCescritos por autênticos intelectuais,como o lorde Aldous Huxley, deAdmirável Mundo Novo –

publicado ainda em 1932 –,diminuíam o preconceito. Osurgimento do arrasa-quarteirãoStar Wars [1977] não ajudoumuito. Bráulio Tavares até o acha“simpático”, mas emenda: “Julgara ficção científica por séries efilmes como esse é julgar o rockpela obra dos Backstreet Boys”.

O complexo de inferioridade sócomeçou a desaparecer nas últimas

décadas. “As universidadespassaram a ser ocupadas porpessoas expostas à ficção científicana infância e que tinham umvínculo emocional com ela”, dizBráulio. Depois de beber no pop,na arte performática, na culturahacker e nas artes underground, aficção científica desembocou numasérie de subgêneros, quase todosligados ao ciberpunk – expressãocunhada por William Gibson emNeuromancer [1984], livro quetraumatizou o gênero com a idéiado ciberespaço, tão familiar hoje.

Em entrevista ao New YorkTi m e s ano passado, contudo,Gibson reconheceu que andacomplicado fazer da ficçãocientífica uma visão do futuro: “Seeu falasse em 1981 para um editorque iria escrever um livro sobre ummundo em que o clima está forade controle, terroristas seqüestramaviões e em represália osamericanos invadem o país errado,ouviria: aí já é demais!”. Seuúltimo livro, lançado em 2007,chama-se Spook Country [PaísFantasma]. Já que o futurochegou, a ficção científica decidiufazer previsões sobre o presente.