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www.harmonianet.org VIVÊNCIAS DE UMBANDA II PABLO DE SALAMANCA 2020

VIVÊNCIAS DE UMBANDA II · O presente trabalho, “Vivências de Umbanda II”, é o 23o livro que se concretiza pelas mãos de Pablo. Atualmente, neste início de 2020, 22 livros

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VIVÊNCIAS DE UMBANDA II

PABLO DE SALAMANCA

2020

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SOBRE O MÉDIUM

Pablo de Salamanca nasceu no Rio de Janeiro em 1968. Possui formação de nível superior em

engenharia, graduando-se em 1991. Realizou mestrado a partir de 1992, defendendo sua tese em

1994. Ainda na sua área original de atuação profissional, iniciou doutoramento em 1995,

finalizando sua tese no ano de 2000. Começou seu desenvolvimento mediúnico em 1993,

psicografando a partir de 1994. O presente trabalho, “Vivências de Umbanda II”, é o 23o livro que

se concretiza pelas mãos de Pablo. Atualmente, neste início de 2020, 22 livros já eram

disponibilizados por Pablo ao público: Sabedoria em versos (2001), Depoimentos do Além

(2005), Vidas em versos (2005), O Trabalhador do Umbral (2007), Experiências extrafísicas

(2008), Fundamentos de Psicoterapia Reencarnacionista e um estudo de caso (2009), Reflexões

(2009), Experiências extrafísicas II (2010), Percepções (2011), Sonetos para refletir (2011),

Espiritualismo em foco (2012), Faces da projeção astral (2012), Novas percepções (2013),

Experiências extrafísicas III (2013), Vivências (2014), Projeção astral: perguntas e respostas

via Internet (2014), Guardião (2014), Viagem astral: relatos comentados (2015), Vivências de

Umbanda (2016), Umbanda e experiências fora do corpo (2017), Aqui e Além - Crônicas de

Umbanda (2018) e Experiências extrafísicas IV (2019).

AGRADECIMENTOS

Agradeço, primeiramente, aos mentores espirituais pelo amparo e proteção. Pai e mãe, muito

obrigado pelo amor e sacrifício desinteressados. Sou profundamente grato, também, aos amigos

materiais que de forma indireta contribuíram para a execução desta obra. Estes são tantos, que

prefiro não citá-los, para evitar cometer injustiça com alguém. Agradeço especialmente a Terezinha

S. do Carmo e a Nélson Vilhenna, pois colaboraram diretamente na elaboração deste livro.

CAPA

A capa é fotografia de Gerd Altmann, que pertence aos arquivos do site http://pixabay.com/pt/

(acesso em 04/02/2020), e, conforme o mesmo, de uso inteiramente livre.

DIREITOS AUTORAIS - Atenção!

Esta obra possui direitos autorais devidamente registrados, e não será comercializada de forma

alguma. Embora o livro seja oferecido gratuitamente, através de download, pelo site

www.harmonianet.org, ele só poderá ser reproduzido com a autorização do autor, após contato

através do e-mail [email protected], quando será permitido citá-lo em parte ou no todo,

desde que denominando o “autor” e a home page responsável pela sua manutenção na internet.

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ÍNDICE

PREFÁCIO 1

INTRODUÇÃO 2

RELATOS DAS VIVÊNCIAS (PARTE 1) 4

1- A ação de Ogum Beira-mar 5

2- A atenção do Exu Caveira 7

3- A chegada do Erê Zequinha 10

4- A corrida dos erês 13

5- A resposta 16

6- A resposta de Iemanjá 18

7- O passe do Caboclo Treme-terra 20

8- A balinha do erê 23

9- A proteção do Exu Pinga-fogo 25

10- A revelação do Erê Crispiniano 28

11- A solução do exu 31

12- A volta da consulente de Pai Cipriano 34

13- Ajuda da malandragem 37

14- Ajuda imprevista do Caboclo Serra Negra 39

15- Armadilha no terreiro 42

16- Cigana Maria de la Cruz 45

17- Clarividência na mata 47

18- Pedrinho da Praia 49

19- O aniversário do terreiro 52

20- Erê Manguinho 55

21- Orientação e previsão do Sr. Pena Verde 59

22- O alerta de Exu-mirim 62

23- Joãozinho da Mata 65

24- Oferenda a Oxóssi e desdobramento espiritual 68

25- Umbanda presente no lar 71

26- Sessão de Umbanda além da matéria 74

27- Oferenda a exu e o resultado no Plano Astral 77

28- O Sr. Pena Verde e meu processo cármico 80

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RELATOS DAS VIVÊNCIAS (PARTE 2 – COM PSICOGRAFIAS) 83

A- Pai Cipriano: “Folhas ao vento” 84

B- Um trabalho de Zé Pelintra 86

C- Pai Cipriano: “Pontas soltas” 88

D- O homem julga, mas a justiça é de Xangô 91

E- Pai Cipriano: “Pés sujos” 93

F- Exu Caveira: “Na hora da morte” 95

PALAVRAS FINAIS 98

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PREFÁCIO

Este livro é composto por relatos de vivências de Pablo de Salamanca, dentro

da Corrente Astral de Umbanda, após mais de 25 anos de experiência com a

mediunidade umbandista.

Os relatos de vivências foram divididos em duas partes. Na primeira, estão os

que envolvem, em grande proporção, a atuação das entidades de Umbanda em

sessões de terreiro, mas também casos que se passam no cotidiano do autor, ou

mesmo que foram assimilados a partir de experiências fora do corpo. Na segunda

parte, estão os relatos que apresentam psicografias de trabalhadores espirituais do

Umbandismo, através da mediunidade de Pablo de Salamanca. As vivências, de

forma geral, não foram dispostas em ordem cronológica, mas sim, conforme foram

relembradas.

O objetivo desta obra não é ser um mero compartilhamento de casos verídicos

curiosos, mas sim de expressar a Espiritualidade de Umbanda, em sua essência, bem

como apresentar alguns esclarecimentos pertinentes. Além disso, o leitor poderá

aproveitar orientações preciosas trazidas por guias e guardiões da corrente

umbandista, que servirão de apoio as suas jornadas terrenas.

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INTRODUÇÃO

O presente livro é, de certa forma, uma continuidade do seu predecessor, o

“Vivências de Umbanda”, que veio a público em 2016. Os leitores perceberão, sem

dificuldade, que os personagens encarnados e as entidades são, em sua maioria, os

mesmos do livro anterior, já que o conteúdo trata de minha própria jornada material

e espiritual. Apenas assinalo que, quanto ao amigo Nélson Vilhenna, ele já não se

encontra no Plano Físico, tendo desencarnado em 27/09/2018, e, ao que me consta,

tendo cumprido muito bem a sua mais recente missão terrena.

Ainda recordando o livro anterior, o primeiro do que se pretende ser uma série

sobre as minhas vivências no Umbandismo, lá ficou salientado que, na década de 90,

eu recebia uma entidade da Linha das Crianças, o Pedrinho da Praia, que havia

apontado este aspecto de minha programação mediúnica: escrever sobre a Umbanda.

Então, expresso aqui, mais uma vez, minha gratidão e respeito a esta entidade.

Bem, mas enquanto escrevo este texto introdutório, sinto-me na obrigação de

registrar uma reflexão que me veio à mente há poucos dias. O assunto é relativo a

uma velha história, que muitos devem conhecer, cujo título seria algo como “O

cavalo e a cenoura”. Na história, quem monta o cavalo segura uma vara com uma

cenoura amarrada na ponta de um fio, expondo-a na frente do animal, que marcha em

direção a ela, no intuito de comê-la. Assim, o cavaleiro consegue que o animal ande

para a frente, sem maiores dificuldades, porque o cavalo quer aquela “recompensa”,

ou seja, tem a cenoura como meta ou objetivo. A história é basicamente isto e

pretende demonstrar, de forma metafórica, que com o ser humano não é muito

diferente. Isto é, a pessoa que não têm um ou mais objetivos de vida, perde o rumo e

não consegue ir à frente, ainda que sua meta seja um tanto ilusória.

Entretanto, ao refletir sobre esta história, pensei que, na prática, muitos

cavaleiros usam um chicote para fazer o animal caminhar adiante. Ou seja, na

ausência da apetitosa cenoura, o cavalo é instigado a avançar pela chibata. E isto não

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acontece com muitos seres humanos, que pretendem apenas a estagnação? Nestes

casos, a vida vai impondo uma caminhada à força…

Contudo, o espiritualista equilibrado compreende que nem tudo é somente

“cenoura” ou “chicote”. A vida não é para ser vivida num ritmo de “oito ou oitenta”.

A harmonia precisa ser encontrada…

No presente livro, “Vivências de Umbanda II”, o leitor encontrará situações

em que pessoas estão como o cavalo que corre atrás da cenoura, sem alcançá-la, bem

como perceberá indivíduos que caminham movidos pela dor da chibata. Assim,

quem tiver interesse em olhar para dentro de si, através das experiências de outros,

poderá caminhar para frente, atrás de sua “cenoura”, mas entendendo que ela não é a

meta em si, mas apenas algo que lhe faz avançar em seu percurso e ir aprendendo em

cada passo. Por outro lado, o leitor atento poderá notar quais caminhos são

estimulados pelo chicote e, assim, avaliarem por si mesmos, se vale a pena...

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RELATOS DAS VIVÊNCIAS

(PARTE 1)

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1- A AÇÃO DE OGUM BEIRA-MAR

Na década de 90, quando eu ainda atuava no centro do amigo Nélson

Vilhenna, pude registrar um acontecimento interessante, envolvendo a entidade

Ogum Beira-mar. Nos relatos sobre guias e protetores da Umbanda, geralmente se

contam casos de caboclos, pretos-velhos, exus e crianças, porque essas linhas de

trabalhadores são mais comuns na atividade de consulta. Assim, não podia deixar

este fato relegado ao esquecimento e o exponho a seguir.

Naquela gira, estava uma jovem senhora de nome Leandra. Ela trabalhava

como auxiliar de enfermagem numa tradicional instituição de saúde. Já vinha

frequentando o terreiro há alguns meses, mas, naquela sessão, estava muito chateada.

Cerca de dois ou três dias antes, Leandra havia sido chamada à atenção por um

médico, chefe do setor no hospital, de uma forma muito rude. Além disso, ela não

tinha culpa do acontecimento, o que fazia aquela senhora sentir-se verdadeiramente

injustiçada.

Após a abertura da reunião, ocorreram algumas atividades dentro de cada

corrente vibratória invocada, quando chegou o período de cânticos a Ogum. Eu

recebi, como sempre, o Sr. Ogum Beira-mar. A entidade abordou à senhora Leandra,

colocando que a situação dela não ficaria daquele modo. Confirmou que havia

ocorrido, de fato, um erro, e que este não poderia ficar sem reparo. Ao final, o

espírito-guia disse que ela veria o que ia acontecer mais à frente.

Sete dias depois da citada gira, a convite da companheira de trabalhos

mediúnicos, Tetê Souza, fui com ela ao hospital onde trabalhava Leandra, para

visitar uma pessoa em recuperação. Depois da visita, Tetê Souza me chamou para

irmos até o setor onde trabalhava Leandra.

No caminho, pelos corredores do hospital, Tetê contou-me rapidamente que

Leandra estava muito surpresa. O médico que a havia ofendido, resolveu pedir

desculpas à Leandra, fazendo isso de forma muito educada e reconhecendo que agira

erradamente em relação à auxiliar de enfermagem.

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Quando estávamos quase no setor de Leandra, terminando de subir um lance

de escadas, solicitei mais detalhes à Tetê Souza sobre o caso. Leandra logo apareceu

e me pediu para falar em tom mais baixo, pois alguém poderia ouvir, e o fato corria o

risco de se tornar uma fofoca em seu ambiente profissional.

Então, a auxiliar de enfermagem nos conduziu a um outro local, explicando

que o médico, quase sempre muito arrogante, a havia abordado com muita

serenidade e até humildade, dizendo que passara do limite e que precisava se

desculpar com ela. Em seguida, assinalou alguns pormenores, mas que não são

relevantes detalhar neste relato.

O que posso acrescentar ao contexto do fato é que, naquela época, eu era um

médium ainda bem novo. Não tinha experiência para compreender que, às vezes, a

ação das entidades de Umbanda pode ser muito rápida, quando necessária e

justificada pela Lei Maior, conforme fui percebendo ao longo do tempo.

Até hoje me pergunto qual teria sido o mecanismo de ação do Sr. Ogum Beira-

mar, com ou sem os seus falangeiros, perante a consciência do médico, de maneira a

promover um despertamento quanto a sua falha. Tenho algumas hipóteses em mente,

mas não percebo uma resposta definitiva...

No entanto, prevalece, em mim, a certeza da atuação positiva dos

trabalhadores espirituais de Umbanda, na direção de uma sociedade humana mais

harmônica. Salve Ogum Beira-mar! Ogunhê!

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2- A ATENÇÃO DO EXU CAVEIRA

Aquela médium, a quem vou chamar de Samara, para preservar sua identidade,

era uma pessoa que causava muitos problemas naquele terreiro. Ela e seu marido

eram médiuns naquela casa há cerca de 40 anos. Ambos consistiam em um foco de

grande negatividade, porque, embora não dirigissem o centro, se julgavam com

maior sabedoria que os demais. Inclusive, volta e meia, afrontavam a própria mãe de

santo do templo. Era comum, também, que Samara, mas principalmente o seu

esposo, intimidassem os médiuns mais novos, de várias formas.

Contudo, o foco deste relato foi um fato acontecido com Samara, que atuava

muito através de intrigas, que criava no local. Sua mente, seu coração e sua língua

agiam constantemente para envenenarem o semelhante, de modo a trazer

desequilíbrio. Mas, ela não percebia que, aquilo que espalhava, voltava para si. Isto

ficou evidente numa sessão de exu, conforme o texto a seguir.

Naquela oportunidade, trabalhei intensamente com o Sr. Caveira. O exu havia

atendido a sete consulentes, mas, ao final, sempre alguns médiuns da casa o

procuravam para pedir alguma orientação ou a sua proteção. Portanto, o guardião já

havia conversado com mais de 10 pessoas.

No entanto, durante os pontos cantados de subida, o Sr. Caveira demonstrou

que a sua tarefa do dia ainda não havia findado. No seu deslocamento pelo terreiro,

ele foi ao encontro de uma médium. O exu simplesmente enlaçou um braço meu no

da mulher, conduzindo-a até um ponto de firmeza do terreiro. Chegando lá, ele disse:

"Eu vou subir, mas vou levar essas mazelas que estão contigo!"

Após a desincorporação da entidade, através de um tranco forte em meu corpo,

percebi que, ao meu lado, estava Samara. Ela me perguntou se eu estava bem.

Respondi que sim e me dirigi até o local onde estava o ponto firmado do Sr. Caveira,

bem como alguns apetrechos de seu uso.

Depois do fechamento da sessão pela mãe de santo, fui recolher alguns

materiais para depositá-los ao pé de uma árvore, no grande quintal do terreiro. Para

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minha surpresa, Samara me seguiu, puxando conversa e perguntando se poderia me

ajudar em alguma coisa. Fui cordial com ela, dizendo que estava tudo sob controle.

Mas, ela continuou atrás dos meus passos. Estava solícita e demonstrava querer me

falar algo...

Ao pé da planta, coloquei uma vela remanescente das atividades do guardião,

bem como ervas e um restante de marafo. Então, Samara me abordou. Começou a

contar fatos do seu passado, sendo algumas informações particulares e outras sobre

como havia se agregado àquele centro umbandista. Achei estranha aquela

aproximação, porque eu não tinha afinidade com ela, nem com o seu esposo. Mas,

fui respeitoso e paciente, até porque ela estava falando alguns assuntos quase em tom

de desabafo. Em dado momento, apesar de todas as fofocas que ela sempre promovia

no terreiro, tive pena daquela senhora. Ouvindo-a falar, em certo instante, mirei os

seus olhos. Só então percebi que exprimiam muito cansaço e olheiras fundas.

Em seguida, nos despedimos. Eu precisava trocar de roupas e ir embora.

Dentro do templo, a mãe de santo se dirigiu a mim. Trocamos algumas ideias sobre a

sessão e, na sequência, ela me contou que Samara estivera bem adoentada nos

últimos dias e com muita insônia. Havia um processo obsessivo com ela. Por isso,

quase não tivera forças para ir à sessão. Só então entendi porque o Sr. Caveira se

dispôs a ajudá-la, ao final dos trabalhos do dia. Mas, isso não era tudo...

Troquei o uniforme de médium no vestiário e, com a minha mochila pronta

para a partida, fui até a cantina para comer algo antes de ir embora. Enquanto eu

mastigava um sanduíche, se aproximou um velho cambono do centro. Ele me contou,

espontaneamente, que antes de eu chegar ao templo, naquele dia, o esposo de Samara

a havia destratado na frente de muitas pessoas. Aquela senhora, portanto, estava

muito magoada com o marido. As constantes grosserias que ele fazia com outros

médiuns, bem como com alguns consulentes, havia se voltado contra a própria

esposa. A negatividade de ambos estava causando choques familiares, que, naquela

oportunidade, vieram a público.

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Assim, entendi de forma mais completa porque o exu a havia ajudado.

Também compreendi o motivo dela estar simpática a minha pessoa, naquele final de

gira, pois ela tivera a atenção do Sr. Caveira.

Bem, neste final de relato, o amigo leitor deve estar perguntando mentalmente

se a Sra. Samara tornou-se um melhor ser humano e uma médium mais equilibrada,

após este episódio. Respondo que, infelizmente, muito pouco se alterou no seu

comportamento. Mas, isso é um fato normal. O ser humano que não deseja, do fundo

do coração, ser alguém melhor, não realiza transformações evidentes. Ela já tinha

recebido várias oportunidades, ao longo do tempo, naquele terreiro. Entretanto,

quase sempre suas características mais negativas se sobressaíam. O futuro, com

certeza, trará consequências para os seus atos...

Contudo, é possível aprender com as falhas e erros de outras pessoas. Desta

forma, quando eu estiver intuído neste sentido novamente, volto a escrever sobre

casos envolvendo a Samara ou ao seu esposo. Salve Umbanda! Laroiê Exu Caveira!

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3- A CHEGADA DO ERÊ ZEQUINHA

Naquela época, década de 90, eu trabalhava com o Pedrinho da Praia, entidade

sutil, na “Mesa de Umbanda”. No entanto, às vezes, eu sentia a presença de outro

trabalhador espiritual da Linha das Crianças, mais agitado do que o bem-comportado

Pedrinho. Eu não sabia quem era, ou seja, qual o seu nome. Porém, isso não me

preocupava. Apenas fiquei um tanto curioso, como todo médium ainda no início de

sua jornada mediúnica.

Num determinado dia, na universidade, fui comprar algo para comer em um

dos vários quiosques existentes. Ali trabalhavam mãe e filha, mas só a moça estava

presente naquele horário. Ela sabia que eu era espiritualista e começou a puxar

assunto. Embora eu fosse tão jovem quanto ela, aconselhei-a sobre algumas

questões, pois ela passava por problemas e tinha uma personalidade muito impulsiva.

Após um certo tempo, por algum motivo que não recordo mais, ela passou a falar

sobre o erê de sua mãe, cujo nome era Zequinha. E a jovem descreveu suas

características, quando incorporado, salientando que era muito ativo e bagunceiro.

Depois da conversa, fui assistir uma aula e, mais tarde, retornei para casa.

Tomei um banho e, em seguida, aproximou-se o erê que estava me arrodeando já há

algum tempo, inclusive no centro espiritualista onde eu labutava, sob a direção do

amigo Nélson Vilhenna. Fiquei atento, no meu quarto, e pude ouvir a entidade que

dizia repetidamente: “Eu sou Zequinha! Sou eu! Meu nome é Zequinha!”

Sua presença era vívida e marcante. Não tinha dúvida de que estava, ali, o

espírito que já me emitia as suas vibrações há algum tempo. Após uns minutos, ele

se afastou. Entretanto, como eu era médium ainda inexperiente, fiquei um pouco

desconfiado se minha mente não poderia estar me “pregando uma peça”, quanto à

identificação da entidade. Será que eu havia entendido direito? Talvez a moça da

cantina, sem querer, havia me sugestionado quanto ao Erê Zequinha.

Contudo, isso não me incomodou muito. Tendo a entidade este nome, ou não,

era questão de importância relativa. Eu apenas desejava ser um bom instrumento da

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Espiritualidade. Assim, não contei o fato a ninguém, continuando minhas atividades

normais.

Semanas se passaram e o Nélson Vilhenna me convidou a ir visitar a médium

Ivana, que também pertencia ao nosso grupo espiritualista. Nélson era o dirigente e a

senhora Ivana era a médium mais experiente da casa, à época. Ivana iria fazer uma

limpeza espiritual em sua residência e queria a nossa presença e ajuda.

Uma vez no lar de Ivana, fizemos alguns procedimentos, como a defumação

do ambiente. Em dado momento, com o apoio de Nélson e Ivana, permiti a chegada

de uma entidade para auxiliar na limpeza do local. Para a surpresa de todos, era um

erê. Ele trabalhou através de mim, correndo e rindo pelos cômodos da pequena casa

de Ivana.

Quando ele sossegou um pouco, em plena sala, a senhora Ivana o abordou,

dizendo: “Eu sei o seu nome! O nome que você tinha na terra!” A entidade

incorporada, segundo o Nélson, que assistiu a tudo, ficou parada em frente à

médium, aguardando o que ela iria dizer. Então, a senhora Ivana falou de forma

confiante: “Você se chama José Carlos! Não é isso?” O erê sorriu, satisfeito, e disse:

“Tá certo, tiazinha! Meu nome é Zequinha!” E ela retrucou: “Você não é fácil não,

hein?” O espírito, na sequência, revelou: “Eu sou da calunga, tia! Sou Zequinha da

Calunga e eu vim aqui pra trabalhar!”

Depois que a incorporação terminou, Nélson, eu e Ivana conversamos sobre o

acontecimento. O dirigente de nosso grupo explicou que certos erês, que possuem

uma densidade vibratória maior, realmente atuam em trabalhos mais “pesados”,

como a limpeza de ambientes ou desfazendo magias negativas.

Mais tarde, em minha casa, achei muito interessante o fato da médium Ivana

captar intuitivamente o nome do erê, em sua última vida terrena, José Carlos, cujo

apelido associado é Zeca. Ou seja, como o espírito se manifestava na forma infantil,

adotou o nome diminutivo, que é Zequinha.

Aproveito o ensejo, para falar um pouco sobre a insegurança de médiuns

novos que, muitas vezes, somada à ansiedade, não permitem o entendimento sobre

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qual entidade irá trabalhar através deles. Então, nesse contexto, médiuns

inexperientes não permitem um bom acoplamento na incorporação, de modo que o

falangeiro espiritual possa transmitir corretamente o seu nome. Assim, às vezes, as

entidades passam esta informação através de um sonho ou por outros meios. No meu

caso, à época, eu já sabia o nome do erê, que ainda não havia incorporado. Porém,

mantinha uma certa dúvida, interiormente, que foi debelada de uma maneira muito

curiosa, como descrito acima.

Até hoje trabalho com o Zequinha e existem algumas passagens interessantes,

com ele, na minha jornada mediúnica. Em outras oportunidades, pretendo contar

algo a respeito. Salve todos os erês. Onibejada!

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4- A CORRIDA DOS ERÊS

Por cerca de sete anos, principalmente dentro da década de 90, trabalhei

mediunicamente no centro espiritualista do grande amigo Nélson Vilhenna. Duas

vezes por mês, realizávamos uma sessão que poderia ser chamada de “mesa de

Umbanda”. Na parte inicial, havia estudos com base no “Evangelho Segundo o

Espiritismo”. A segunda parte da reunião era focada em atendimento a espíritos

desequilibrados, bem como na atuação de entidades da corrente umbandista. Dentre

os guias e protetores do Umbandismo, era muito frequente a presença da Linha das

Crianças. Ali, os erês incorporavam em seus médiuns, à mesa, trabalhando sem se

levantarem, mas, mesmo assim, distribuindo suas orientações e auxílios com a sua

alegria peculiar.

As entidades mais frequentes eram o Zequinha, cujo médium sou eu, e o

Crispiniano, que trabalha através de Tetê Souza. Muitas vezes eles disputavam,

jocosamente, quem chegaria primeiro no seu respectivo médium, no momento

destinado aos ibejis. Em diversas sessões, eles incorporavam praticamente ao mesmo

tempo e ambos diziam que tinham chegado primeiro. E ficavam algum tempo

falando frases do tipo: “Eu venci!”; “Eu sou mais rápido!”; “Cheguei primeiro!”;

dentre outras semelhantes. Além disso, fingiam que estavam cansados, sobretudo o

Crispiniano, que fazia a sua médium respirar de forma ofegante, para demonstrar seu

esforço na suposta corrida.

Os consulentes, bem como os demais médiuns, se divertiam com a brincadeira

deles, nos contando alguns detalhes depois da reunião. Entretanto, a diversão dos

erês não durava muito tempo. Os dois “meninos espirituais” não demoravam a voltar

as suas atenções ao que era necessário fazer. Davam consultas a pessoas doentes,

desfaziam situações complicadas de magia negativa, dentre outros assuntos. Muitas

pessoas se beneficiaram da atuação deles, naqueles sete anos de trabalhos

intensivos...

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Contudo, em determinado dia, ocorreu um fato interessante sobre esta

“disputa”, entre Zequinha e Crispiniano, para chegar em primeiro lugar. Naquela

oportunidade, a médium Sarah, que estava desenvolvendo a vidência do Plano

Astral, pôde assistir como os dois erês entraram no centro.

Nós realizávamos a sessão de “mesa de Umbanda” sempre com a porta do

salão aberta. Num dado instante, ela viu os dois garotos adentrarem o recinto, pela

porta, em desabalada correria. Um passou a dar cambalhotas, enquanto o outro o

puxou pela camisa. Depois, o primeiro segurou o braço do segundo, em tremenda

algazarra e alegria. Um ria do outro, enquanto “lutavam” para ver quem chegaria

primeiro nos seus respectivos médiuns. Logo em seguida, eles assumiram seus

aparelhos e ambos falaram que tinham vencido.

Este foi o relato de Sarah, minha prima, que pôde nos contar o fato ao final

daquela reunião, inclusive ao dirigente da casa, o Nélson, que sorria com a revelação.

Sarah estava espantada, porque ela pensava que tudo não passava de um pequeno

“teatro” que as entidades realizavam. Não acreditava que eles vinham correndo,

como sempre diziam. No entanto, naquele dia, sua clarividência funcionara muito

bem e ela estava surpresa, bem como achando tudo aquilo bastante engraçado.

Bem, deixando a brincadeira dos erês de lado, aproveito a oportunidade para

assinalar que, em sua maioria, os espíritos que trabalham na Linha dos Ibejis (ou

Ibejada) não são de fato crianças, mas sim seres maduros e experientes que apenas

usam uma forma infantil. Atuando assim, representando a inocência e a pureza

espirituais, atingem melhor aos seus objetivos. Não detalharei aqui, neste breve

relato, outros aspectos desta valorosa linha de trabalhos da Umbanda, que tem obtido

resultados surpreendentes, nos mais variados tipos de problema do ser humano

encarnado. Também não é possível detalhar ou discorrer sobre a questão anímica na

manifestação dos erês, agora. É claro que médiuns inexperientes ou em desarmonia

podem deixar extravasar os seus conteúdos emocionais, interferindo, em algum

nível, no trabalho dos ibejis. Porém, este assunto exige maior espaço e tempo,

ficando para um artigo futuro.

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Vou finalizar este texto, usando uma frase do meu amigo Zequinha, que

sintetiza muito bem as atividades dos erês: “Eu trabalho brincando e eu brinco

trabalhando!”. E o resultado da ação das crianças, seja no campo psicológico dos

consulentes, seja em fatos bem evidentes e até concretos de suas vidas, têm atestado

a luz dos ibejis. Onibejada! Salve todos os erês!

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5- A RESPOSTA

Às vezes, nós somos utilizados pela Espiritualidade como veículos de resposta

a nossos irmãos de jornada. E, neste contexto, frequentemente trazemos um

esclarecimento para alguém, sem que, ao menos, percebamos o fato. Em muitas

oportunidades, somente depois da ocorrência consumada, constatamos que fomos

instrumentos dos guias e protetores, para algo útil. Este relato é um bom exemplo

disso.

Naquela manhã, eu estava distraidamente no computador, olhando algumas

mensagens que haviam me chegado. Não era nada muito importante. Apenas fazia

uma checagem de rotina. De repente, tive um lampejo, lembrando que Tetê Souza

vinha recebendo, ultimamente, uma entidade masculina da Linha dos Exus: o Sr.

Tranca Tudo das Almas. Por muitos anos, ela trabalhou constantemente com pomba-

gira, não estando ainda acostumada com o guardião comentado.

Logo em seguida, fui tomado por um sentimento brincalhão, típico da

presença do Zequinha, o erê que atua no meu campo mediúnico. Na minha mente,

veio a seguinte interrogação: “Cadê tu, Tetê do Tranca Tudo?” Então, levantei-me

subitamente, com o desejo de fazer uma brincadeira com Tetê Souza. Percebi que ela

não estava no interior da casa, mas sim no quintal, talvez próxima ao grande portão

de entrada. Planejei rapidamente ir até lá e fazer-lhe a pergunta em voz alta. Isto a

incomodaria, porque ela é muito discreta, e não desejaria que qualquer vizinho

ouvisse a nossa conversa. Desta forma, eu já aguardava uma bronca dela, o que seria

engraçado...

Marchei pelo terreno da residência, com este sentimento travesso (com certeza

Zequinha estava presente), até que encontrei Tetê sentada, de costas para mim, em

profunda divagação. Logo disparei a pergunta, em tom relativamente elevado: “Cadê

tu, Tetê do Tranca Tudo?”

Adiantei-me, sorridente, para receber a reação dela, que não deveria ser das

melhores. No entanto, ela virou o rosto em minha direção, com os olhos

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sobressaltados, demonstrando grande surpresa. Em seguida, falou muito séria:

“Nossa, meu Deus!” Eu parei de sorrir e indaguei: “O que foi? Aconteceu alguma

coisa?” Então, ela me explicou que já estava ali, há alguns minutos, pedindo algum

sinal da Espiritualidade para elucidar uma dúvida. Ela interrogava, mentalmente, se o

Sr. Tranca Tudo das Almas era de fato o guardião que ficaria trabalhando através da

sua mediunidade. Queria muito uma resposta do céu, mesmo que fosse através de um

simples sinal da natureza, como um passarinho pousar na sua frente, ou uma folha de

árvore cair aos seus pés. Ela esperava qualquer coisa, qualquer sinal, mas não que eu

surgisse daquela forma, falando justamente do assunto que perturbava ocultamente a

sua mente.

Passamos a conversar sobre o seu questionamento, que era oriundo do fato

dela sempre ter trabalhado com a força feminina da Linha dos Exus. Coloquei a ela

que, na realidade, não sabemos qual a totalidade da nossa egrégora espiritual. Não é

raro, conforme o tempo passa, outras entidades de trabalho irem se apresentando e

ocupando os seus lugares, com as suas especialidades e atributos, dentro da missão

mediúnica de cada um.

Depois de um tempo dialogando, tanto Tetê Souza como eu, ficamos muito

surpreendidos com o singelo e belo fato ocorrido naquela manhã de sábado. A

pergunta que ela fazia mentalmente, desejando rápido esclarecimento, teve uma

resposta inesperada, por alguém que ignorava a sua questão íntima. A Umbanda traz,

em seu bojo, um forte traço de surpresa e imprevisibilidade. Talvez isso seja mais

um dos atrativos desta corrente espiritualista, que tem feito tanto bem a milhares de

pessoas...

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6- A RESPOSTA DE IEMANJÁ

A noite transcorria normalmente. Havia despertado somente por volta das

cinco horas da madrugada, para beber água e ir ao banheiro. Tornei a dormir e, já

quase pela manhã, próximo ao horário do trabalho, tive um sonho simbólico breve,

mas que me deixou curioso quanto ao significado.

O sonho consistiu da visão de uma pequena mesa, forrada com um pano verde.

Sobre o tecido, que parecia-me ser um feltro, havia cartas formando uma sequência

perfeita, todas somente do naipe de copas. Minha visão ficou sobre aquelas cartas

com os coraçõezinhos vermelhos, contrastando com o fundo verde da toalha que

forrava a mesa, até que acordei. De imediato, surgiu um ponto cantado de Iemanjá na

minha mente: “Eu escrevi um pedido na areia...”

Levantei-me e fui para a empresa, mas a imagem era persistente na minha

mente. Volta e meia, entre os afazeres do trabalho, lembrava do sonho e do cântico.

Ao final do dia, fui para casa e, quando foi possível, liguei para Tetê Souza.

Conversei sobre diversos assuntos com a parceira mediúnica de muitos anos.

Em dado momento, de maneira despretensiosa, contei-lhe o meu sonho. Para minha

surpresa, ela disse: "Então, está confirmado!" Eu logo lhe perguntei sobre o que

estaria confirmado. Tetê me falou que, dois dias atrás, ela tinha ido à praia, levando

consigo duas médiuns (Carmem e Liliana) necessitadas de ajuda. Lá, ela realizara

um trabalho na Linha de Iemanjá, de modo a equilibrar as duas jovens. Ao final,

antes de virem embora, a experiente médium orientou as moças a escreverem seus

pedidos na areia, próximos ao mar, e que envolvessem suas súplicas dentro de um

coração riscado. A própria Tetê Souza aproveitou a oportunidade e, mais adiante, fez

o mesmo para si, na areia que beirava o sagrado mar da Grande Mãe. Estas

solicitações foram realizadas, enquanto elas entoavam um ponto a Iemanjá, que

dizia: "Eu escrevi um pedido na areia..."

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Após ouvir a explicação de Tetê Souza, indaguei de que modo o trabalho

realizado estaria confirmado. Ela, então, me confessou que, um pouco antes de

saírem da praia, havia feito mentalmente um pedido à Iemanjá. Desejava um sinal de

que a tarefa mediúnica e os pedidos foram realmente bem executados e, além disso,

se também foram bem recebidos pela Rainha do Mar. Tetê havia compreendido que a

resposta de Iemanjá viera através do meu sonho, que evidenciava o naipe de copas,

ou seja, os corações que foram riscados na areia (junto com os pedidos), bem como

através do cântico que eu captara pela via intuitiva.

Em seguida, eu sorri ao telefone constatando que, com alguma frequência, a

Espiritualidade me usava para dar algumas sinalizações à Tetê. Comentei com ela,

também, sobre os possíveis mecanismos que estariam envolvidos no meu sonho

simbólico. A primeira possibilidade é que a imagem onírica tenha sido colocada na

minha tela mental, isto é, foi formada dentro de minha mente, a partir da atuação de

alguma entidade espiritual da corrente de Iemanjá. A segunda possibilidade é que eu

estava projetado no Plano Astral e, ali mesmo, algum espírito ligado à Rainha do

Mar teria plasmado a mesinha com as cartas de copas.

Bem, pelas circunstâncias, creio mais na primeira hipótese colocada. No

entanto, o mais importante foi a resposta e confirmação de Iemanjá, bem como o

resultado posterior de reequilíbrio das médiuns e atendimento aos seus pedidos.

Odoyá Iemanjá! Salve a Grande Mãe!

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7- O PASSE DO CABOCLO TREME-TERRA

Aquele sábado era destinado a uma palestra e, posteriormente, passes ao

público presente. Ou seja, não era uma tradicional gira de Umbanda, com consultas

de entidades aos frequentadores do terreiro. Portanto, aquele centro não receberia,

naquele dia, as cerca de 80 a 120 pessoas que normalmente compareciam à casa.

Após a palestra realizada por um dos integrantes da instituição, o dirigente

espiritual indagou ao corpo mediúnico quem estava bem-disposto para dar passes. Eu

fui um dos voluntários e, com alguns companheiros, nos dirigimos ao salão

destinado aos trabalhos de cura.

Depois de breves minutos, já entrava no cômodo a primeira leva de pessoas

para receber a irradiação bioenergética por parte dos médiuns, postados lado a lado.

O trabalho transcorreu bem, dentro de uma egrégora espiritual positiva e harmônica,

até que todos os frequentadores externos fossem atendidos.

Então, chegou a vez dos médiuns da casa terem a oportunidade de tomar um

passe. Num dado momento, postou-se a minha frente o senhor Osório, antigo

cambono do centro, ainda na ativa. Automaticamente, senti uma aproximação mais

intensa do Caboclo Treme-Terra.

Assim que estendi minhas mãos para a frente, percebi que não deveria me

concentrar em emitir vibrações. O que se fazia urgente, naquele caso, era a dispersão

de agregações energéticas imantadas ao campo áurico do senhor Osório. Desta

forma, claramente conduzido pelo Sr. Treme-Terra, notei meus braços e mãos

fazendo movimentos indicativos de retiradas de cargas.

Em dado instante, sob impulso do Caboclo, solicitei que o senhor Osório se

virasse e ficasse de costas para mim. Logo as minhas mãos passaram a dispersar

bioenergias densas, localizadas ao longo da coluna vertebral do velho cambono.

Ao final de todo o procedimento, percebi fluxos vibratórios da entidade,

através das palmas de minhas mãos, para promover uma energização, trazendo cura e

vitalidade.

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Quando a sessão de passes terminou e todos os passistas foram liberados,

alguns foram para o setor onde ficava a cantina do centro. Eu ainda permaneci na

área interna, preferindo me dirigir ao vestiário. Troquei de roupa, pensando em ir

logo para casa.

Já sem uniforme do terreiro, atingi o corredor que dava para o quintal da

instituição. Eu estava um pouco cansado, de cabeça baixa, pensando em alguns

compromissos domésticos a realizar mais tarde. Quando ergui a cabeça vi, ao final

do corredor, o senhor Osório se aproximando de braços abertos. Olhei para trás e não

notei ninguém. Ele, então, falou: “É com o senhor mesmo! Preciso te dar um

abraço!”

Em seguida, recebi o amplexo sincero de Osório. O cambono logo passou a

explicar que estava com uma dor de coluna há várias semanas, mas que, depois do

passe, ela havia sumido completamente. Ele estava muito agradecido e detalhou que

vinha tendo muita dificuldade em se locomover, fosse a pé ou com a sua quase

inseparável bicicleta.

Fiquei feliz com o depoimento dele, mas retruquei que aguardasse os próximos

dias, de modo a ter certeza se a dor era devida somente à presença de uma carga

negativa, que fora retirada, ou se ele precisava de algum acompanhamento médico.

Na reunião seguinte, 15 dias depois, o senhor Osório me abordou, muito feliz,

confirmando o sumiço do problema de coluna. Comentou que o "meu passe" era

muito bom e que havia voltado a usar sua bicicleta sem qualquer incômodo.

Respondi a ele que deveríamos agradecer à Espiritualidade.

Bem, concluo este relato assinalando que nós, médiuns, muito pouco podemos

sem a ajuda dos guias espirituais. Sem a presença mais ostensiva, naquele dia, do

Caboclo Treme-Terra, eu não teria identificado o problema oculto do senhor Osório.

Sem a energia do Caboclo, o que poderia eu fazer, apenas com o meu magnetismo

pessoal? O trabalho mediúnico é realizado com a componente física visível,

associada ao fator espiritual, de força e abrangência muito maiores que a nossa, do

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lado de cá. O que precisamos, como médiuns, é termos o preparo necessário e a boa

vontade em sermos úteis. Salve Sr. Treme-Terra! Salve a energia das matas!

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8- A BALINHA DO ERÊ

Transcorria uma típica sessão de Umbanda. Após a chamada de diversas linhas

de trabalho, através de pontos cantados, era chegado o momento das crianças ou

ibejis. Um pouco antes, enquanto se entoavam cânticos a Oxum, eu já havia

percebido a aproximação do Erê Crispiniano da Cachoeira, no entorno da médium

Tetê Souza. Eu sabia que eles se manifestariam.

Não demorou muito e, ao som das cantigas, ocorreram incorporações. Pediram

doces e balas, como sempre faziam, trabalhando com estes elementos, distribuindo-

os entre as pessoas presentes. Depois de um tempo, após toda aquela alegria e

agitação, as entidades se despediram e retornaram para o Plano Espiritual, inclusive

o Zequinha da Calunga, que trabalha através da minha mediunidade.

Alguns minutos mais tarde, a reunião espiritualista estava encerrada. Agora, os

médiuns da casa ajudavam a limpar e arrumar o ambiente, todos satisfeitos com a

boa energia desenvolvida. Em seguida à tarefa, eu, Tetê Souza, Fabíola e Leon

dividíamos o carro rumo ao descanso. Logo eu descobriria uma atitude do Zequinha,

por meio de uma narrativa de Fabíola.

Ela contou que Zequinha, carregando um saco de balas, passava por trás dos

médiuns, que estavam em círculo. Então, o erê puxou a gola da camisa dela, Fabíola,

e jogou uma balinha nas suas costas, por dentro de sua roupa.

Na sequência, o espírito, que se manifestava com a sua típica forma infantil,

passou adiante, nada falando. Mas, Fabíola nos confessou que já estava com uma

forte dor nas costas, por algumas horas, não se queixando a ninguém. A jovem

médium não sabia, ao certo, se aquele processo dolorido era algo somente físico, ou

se era provocado ou intensificado pela presença de alguma entidade obsessora.

Assim, em seguida, retirou a bala de dentro do seu vestuário e a desembalou, para,

em ato contínuo, começar a passá-la na área das costas que lhe doía.

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Enquanto deslizava a bala na região do incômodo, pedia mentalmente para

eliminar aquela aguda dor. Momentos depois, Fabíola levou a bala até um recipiente

com uma oferenda e a depositou lá. Em pouco tempo, não havia mais dor.

Fiquei feliz com a singela ocorrência. Mas, três dias após o fato, enviei uma

mensagem para Fabíola, indagando se, por acaso, o problema havia ressurgido. Ela

respondeu que não, assinalando o completo sumiço do padecimento.

Neste contexto, concluí que o processo dolorido realmente era devido a uma

carga negativa, muito comum em sessões de Umbanda, onde se tratam de pessoas

com problemas e se labuta por encaminhar as chamadas "almas perdidas", ou

mesmo, espíritos francamente mal-intencionados.

A jovem médium agira com inteligência e intuição, ao esfregar a balinha do

erê em suas costas, justamente onde ele tinha depositado o objeto, o que havia sido

uma sinalização, de sua parte, para o problema dela.

Na situação em tela, a bala funcionou como um ímã ou esponja, absorvendo as

bioenergias negativas que provocavam o incômodo. É por este tipo de fato, que a

Linha das Crianças é reconhecida como agregadora de trabalhadores espirituais que

sabem promover a cura de mazelas, dentre outros atributos. Onibejada! Salve todos

os erês!

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9- A PROTEÇÃO DO EXU PINGA-FOGO

Naquele final de semana, eu e Tetê Souza tínhamos uma missão especial.

Iríamos ao terreiro de Umbanda, atendendo ao pedido do dirigente espiritual da casa,

para ajudar vários médiuns que estavam desgastados. Não vou entrar em detalhes

sobre os trabalhos realizados, porque foram variados, já que cada pessoa tinha um

problema diferente. Ficamos lá desde as 9:00 h da manhã, até cerca de 16:00 h, ou

seja, foram atividades bastante intensas, mas levadas a bom termo.

Depois disso, fomos para a residência de Tetê Souza, no intuito de descansar.

Embora estivéssemos cansados, estávamos nos sentindo relativamente bem. Além de

tudo, guardávamos o sentimento do dever cumprido.

Após algumas horas, a noite chegou e resolvemos dormir. No entanto, o sono

não chegou tão rápido quanto imaginávamos. Fiquei conversando com Tetê Souza e,

num dado momento, senti uma vibração um tanto negativa. Estava um pouco

nauseado, embora não fosse algo tão significativo.

Paramos de conversar e tentamos dormir. Fechei os olhos. Pensei que, durante

a noite de descanso, alguma sobra de bioenergias densas que porventura pudesse ter

permanecido comigo seria transmutada. Entretanto, logo em seguida tive uma

vidência, enquanto permanecia com os olhos fechados. Notei um homem sem

camisa, no quarto, que vinha caminhando de uma forma razoavelmente lenta.

Percebi que ele tinha algumas dobras de gordura no abdômen, embora não fosse

muito obeso. Era moreno e talvez ele fosse o motivo de eu estar um tanto enjoado.

Para minha surpresa, quando ele passou por onde eu estava, observei que atrás

dele, praticamente o empurrando, havia um outro homem quase grudado nele. Então,

desta segunda pessoa, na altura do seu umbigo, surgiu uma labareda de fogo para o

alto, até a parte superior das costas do homem obeso, que, na sequência, sumiu do

ambiente.

Fiquei espantado com o que havia ocorrido, mas a vidência ainda não tinha

terminado, porque o segundo homem (o que emitiu o jato de fogo) parou próximo de

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mim. O espírito masculino se virou, para que eu pudesse vê-lo de frente. Ele era um

oriental, aparentemente um japonês, sem camisa e com uma tatuagem. Esta era

formada por três listras semelhantes àquelas que os tigres possuem. As listras

estavam na horizontal, em paralelo, uma sobre a outra. A primeira começava na

junção ombro esquerdo com o braço, se estendendo até o meio do tórax. As outras

duas listras, mais abaixo, começavam no braço esquerdo e tinham seu final

desenhado também no meio do tórax. Era um jovem de cerca de 23 anos de idade

aparente, musculoso e de semblante bastante sério. Na sequência, ele desapareceu.

Abri os olhos, na penumbra do cômodo, e perguntei a Tetê Souza se ela já

estava dormindo. A médium logo respondeu que não. Aproveitei o ensejo e contei-

lhe a vidência que eu acabara de ter. Ela achou interessante e disse para eu

permanecer quieto, pois poderia surgir mais alguma coisa. Fechei os olhos e relaxei

novamente.

Senti um formigamento na testa, mais ou menos na região entre os dois olhos

materiais (chacra frontal). Logo surgia uma imagem sombreada de um homem que

usava um quimono (vestimenta tradicional do Japão). Entendi que a nova vidência

era uma confirmação da origem nipônica daquela entidade, no passado. Achei

interessante porque, alguns anos antes, através de uma regressão de memória, revivi

uma vida antiga como samurai, no Japão Feudal. Isto explicava aquele guardião ali,

no quarto, que acabara de me prestar uma ajuda, encaminhando o quiumba que me

incomodava. Aquele exu era possivelmente um amigo do passado...

Então, voltei a falar com Tetê Souza, contando o que eu havia visto. Depois,

novamente a minha testa, na altura do chacra frontal, voltou a formigar. Pensei que

aquela ativação espontânea, novamente me traria alguma vidência. Contudo, não

percebi mais nada. Eu já não tinha nenhum mal-estar e, antes de pegar no sono,

surgiu-me um cântico de Umbanda na mente, que era um ponto do Exu Pinga-fogo.

Aquele espírito de origem japonesa se manifestava dentro da corrente umbandista, na

falange citada.

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No dia seguinte, pela manhã, meditei sobre o assunto. Sei que é relativamente

comum termos, próximos a nós, entidades amigas que conviveram conosco no

passado, em outras vidas materiais. Embora eu nunca tenha trabalhado incorporado

com o Sr. Pinga-fogo, ele ali estivera presente para me prestar um socorro. É

relevante, também, salientar que nos trabalhos umbandistas geralmente se lida com

cargas muito negativas e, não raras vezes, quando ajudamos outras pessoas, sejam

consulentes ou outros médiuns umbandistas, na realidade nós “compramos a briga”

de outros indivíduos, ou seja, se estes tinham obsessores os perseguindo, estas

criaturas desequilibradas acabam por tentar prejudicar a quem interferiu em suas

ações. Portanto, nem sempre um trabalho umbandista termina dentro do terreiro,

porque se o médium, junto com seus guias, retiram um espírito perturbado de alguém

necessitado, lá fora geralmente permanecem outros obsessores, que nos iniciam uma

perseguição.

A Umbanda é, frequentemente, ação de choque contra forças bastante

deletérias e, neste contexto, a ajuda dos senhores exus é fundamental antes, durante e

após as atividades. Desta forma, aproveito esta vivência para colocar este assunto em

pauta e também deixar um agradecimento ao guardião que me acudiu naquele dia.

Laroiê Exu Pinga-fogo! Salve suas forças! Exu é mojubá!

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10- A REVELAÇÃO DO ERÊ CRISPINIANO

Naquela época, eu já tinha uma razoável experiência na Umbanda, quando

assisti a uma manifestação incomum do Erê Crispiniano, através da médium Tetê

Souza. Contarei o fato a seguir, que por ser muito interessante, não poderia cair no

esquecimento. Vamos ao contexto da situação…

Transcorria uma gira, cujo momento pertencia à corrente dos ibejis. Uma

médium nova, Gerusa, havia ficado aparentemente tonta. Suas pernas haviam

afrouxado e amparei-a para que não se machucasse. Ela, muito aérea, acabou

sentando-se no chão, suavemente.

Tudo indicava que ela sentira a presença de uma entidade, mas como nunca

havia incorporado, o processo mediúnico não teve continuidade. Então, algumas

pessoas a chamavam pelo nome, de forma a voltar à normalidade.

Quando o olhar da moça já nos permitia identificar que ela estava plenamente

lúcida, o Erê Crispiniano se aproximou dela para passar uma instrução. O menino

espiritual, quase sempre muito brincalhão, naquela oportunidade tomava um ar muito

sério, para falar: “A tiazinha já fez muita maldade no passado! Agora precisa fazer

caridade!”

Em seguida, Crispiniano se afastou da jovem e eu o acompanhei. Ele, então,

dirigindo-se a mim, reforçou a questão: “A tiazinha foi muito ruim. Já fez muita

ruindade! Precisa fazer a caridade e melhorar…” Não demorou e o erê foi conversar

com outra pessoa, tornando a atuar com a sua alegria e irreverência normais.

De minha parte, embora um pouco surpreso com a revelação da entidade,

sobre o passado espiritual da moça, voltei aos meus afazeres na sessão. Eu estava,

naquele momento, atuando como responsável pela gira, porque eu e Tetê Souza nos

dividíamos naquela tarefa. Enquanto um estava incorporado, geralmente o outro não

estava, de modo a conduzir os trabalhos no Plano Material.

Depois da reunião, fiquei matutando sobre o que a entidade havia falado sobre

Gerusa, uma moça tímida e de aparência frágil. Eu sabia que isso não tinha grande

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correlação com o passado espiritual de cada um, mas normalmente qualquer ser

humano avalia um outro pela forma externa ou pelo comportamento superficial.

Então, fiquei um pouco surpreso à época, mas não duvidei do erê em hipótese

nenhuma, já que conhecia bem a sua ótima atuação através da médium Tetê Souza.

Os dois formavam uma dupla muito harmônica e de acoplamento energético

profundo.

Cerca de dois anos se passaram e Gerusa ainda estava conosco naquele

período. Eu fizera um curso de terapeuta, que incluía a regressão a vidas passadas.

Eu estava disposto a ajudar pessoas próximas e Gerusa manifestava algumas fobias.

Em determinado dia, perguntei à jovem se queria se libertar de um medo

crônico que alimentava. Ela, entre um estado tímido e de certa descrença, aceitou

passar por uma sessão de regressão a vidas pretéritas.

Apliquei a técnica regressiva recomendada e ela rapidamente entrou em transe,

deitada comodamente num colchão, no local onde eu realizava a terapia. Eu, sentado

em uma cadeira, próximo à moça, anotava as suas impressões, que logo se tornaram

uma história muito angustiante.

Gerusa, numa outra época, havia sido um homem. Ele era uma espécie de

cobrador de dívidas. Perseguia indivíduos e os aterrorizava com ameaças. Chegou a

torturar algumas pessoas, cortando pedaços dos dedos de suas mãos.

A moça narrava os fatos com grande aflição, pois revivia intensamente

algumas cenas, constatando sua própria frieza e maldade, enquanto gesticulava

nervosamente, deitada no colchão.

O clímax daquela sua vida passada foi a sua própria morte, quando ela

explicou que, já meio velho e doente, vivendo num casebre em ambiente rural, foi

dado como morto em seu leito. Mas, não havia morrido ainda. Uma pessoa ateou

fogo ao casebre, para que nada sobrasse, e o torturador morreu entre as chamas.

Bem, esta foi apenas a síntese daquela regressão de memória, cujos demais

detalhes não cabe contar aqui. Além desta sessão, fiz mais duas com Gerusa, sempre

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revelando vivências sombrias e sofridas. Não pude continuar o processo terapêutico

com a jovem, mas ela superou duas fobias que atrapalhavam sua vida atual.

Logo após as sessões, num determinado dia, lembrei-me subitamente do que

havia falado o Erê Crispiniano, sobre Gerusa, dois anos antes. O menino espiritual

sabia muito bem o que estava revelando, à época. Os guias e protetores da Umbanda

sempre procuram orientar para que o adepto ou consulente se melhore como criatura

humana. Gerusa, com o tempo, se afastou da Espiritualidade, e hoje sei que vive uma

vida bem focada em vaidade e questões materiais. Contudo, ficou uma semente

dentro dela. Um dia há de germinar…

Ao demais, ficou para mim uma boa experiência de vida e mais uma

constatação da presença marcante do Mundo Espiritual entre nós, aqui na Terra.

Salve Crispiniano da Cachoeira! Onibejada!

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11- A SOLUÇÃO DO EXU

Há alguns anos, eu e um amigo médium fomos conhecer um terreiro de

Umbanda. Assistimos algumas giras e notamos que aquela casa realmente prestava a

caridade pura, não havendo nenhum tipo de cobrança monetária por seus

atendimentos.

Depois de três ou quatro idas ao templo, o meu amigo, a quem vou denominar

"Teobaldo", já que, neste caso, prefiro manter discrição quanto às identidades,

demonstrou interesse em se agregar àquela casa espiritualista como médium.

Não só Teobaldo, mas também eu, fomos aceitos para sermos integrantes do

corpo mediúnico do centro, porém Téo começou a participar das giras antes do que a

minha pessoa, porque eu estava em recuperação de uma doença.

Numa determinada sessão, onde os trabalhos se restringiriam somente às

entidades da Linha de Iemanjá, apenas para passes, de repente ouvi uma gargalhada

típica de exu. Lá fora, ainda como consulente da casa, eu reconheci que aquela

manifestação ocorria pela voz de Teobaldo. Sabia que ele era um médium muito

firme e equilibrado, mas me preocupei com o que pensaria o pai de santo e demais

médiuns da casa. Eu tinha certeza de que o exu não “baixaria” à toa, mas não sabia o

contexto do que ocorria lá dentro. Assim, só poderia esperar o momento do meu

atendimento e o desenrolar dos fatos.

Ao final da gira, encontrei-me com Teobaldo e, no caminho de volta as nossas

respectivas residências, pude conversar com ele. Notei que estava um pouco

constrangido por ter dado passagem ao exu, durante os passes aos consulentes,

dentro da corrente de Iemanjá. Lembro que eu disse, ao médium, que o guardião não

se manifestaria sem um motivo sério. Téo explicou que aquilo havia ocorrido para

ajudar a uma jovem senhora, mas que não sabia o porquê. Confessou que estava

envergonhado, porque, embora tivesse muitos anos de experiência, ali, naquele

templo, era um participante novo. Não pretendia quebrar as regras da casa...

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Quinze dias depois, na sessão seguinte, eu estava de volta com o meu amigo.

Então, o pai pequeno nos abordou e falou com Téo. A princípio, disse que

normalmente lá não contavam aos médiuns o resultado positivo dos trabalhos de

suas entidades, de modo a não estimular a vaidade. Mas, contou que abriria uma

exceção, porque um problema de vários anos havia sido solucionado.

Zé Maria (nome fictício do pai pequeno) explicou que, na gira anterior, logo

após a incorporação de Téo, o pai de santo notou e sinalizou para encaminhar o

médium em transe e a consulente para uma área específica do terreiro. Ali, o

guardião de Téo pôde dar uma consulta à mulher e realizar um trabalho de limpeza.

Em seguida, o exu disse que iria resolver o problema dela em até sete dias,

demonstrando que sabia detalhes...

Após um intervalo na narrativa de Zé Maria, ele sorriu e revelou que o

problema da Sra. Jane, consulente antiga do templo, era que o marido dela tinha uma

amante de longa data, uma mulher atrevida, que chegava mesmo a telefonar para

Jane, na intenção de afrontá-la.

O pai pequeno, a seguir, expressou um sorriso de satisfação no rosto e

assinalou que, poucos dias após a sessão passada, a amante tomara uma decisão

inesperada, resolvendo voltar em definitivo para o Nordeste, de onde havia vindo há

muitos anos para o Rio de Janeiro.

Teobaldo ficou um tanto surpreso com o acontecimento. Eu não me espantei

muito, porque já havia percebido várias atividades das entidades, através da

mediunidade de Téo, que resultavam em efeito visível e rápido.

Bem, este caso permite algumas boas reflexões. Uma delas é o fato de que

algumas casas umbandistas são rígidas em excesso quanto as suas regras internas.

Embora o regulamento das atividades seja muitíssimo importante para o bom

funcionamento de um centro, evitando ações desequilibradas de médiuns, ou mesmo

de consulentes, é preciso ter o cuidado de não tolher a Espiritualidade. É

fundamental se ter um meio termo entre a disciplina do corpo mediúnico e a atuação

legítima dos trabalhadores espirituais. Ali, naquele dia, o pai de santo notou que

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havia um bom acoplamento mediúnico entre o exu e Téo, permitindo o desenrolar da

tarefa. O pai de santo também estava verdadeiramente intuído, indo além do que

normalmente faria, ou seja, solicitar que o guardião voltasse para trabalhar em outra

oportunidade, deixando a consulente sem a ajuda esperada há tantos anos...

Aliás, é relevante esclarecer que a Sra. Jane já havia se consultado naquele

terreiro com várias entidades, por diferentes médiuns, em inúmeras vezes. Nada

possibilitava uma solução para o seu dissabor. É claro que aspectos cármicos

deveriam estar envolvidos no seu problema conjugal, mas não posso deixar de

apontar que o terreiro passava por fortes adversidades internas. Eu e Téo, com o

tempo, descobrimos que aquela casa espiritualista estava com o corpo mediúnico

desgastado. Havia questões mal resolvidas, disputas internas, queixas, ciúmes e

outros obstáculos causados pela parte humana daquele templo. Em outras palavras,

faltava um médium firme, saudável e equilibrado, como o Teobaldo, para ajudar na

transformação daquela tribulação pela qual passava a Sra. Jane. Os médiuns daquele

centro umbandista, na verdade, usavam as regras de conduta para vigiarem uns aos

outros, maldando qualquer atitude e criando um clima muito pouco amistoso. Assim,

esqueciam de se dedicarem à própria Espiritualidade, o que é essencial na Umbanda.

Havia uma verdadeira guerra interna...

Para fechar este relato, deixo como uma última reflexão as palavras de Zé

Maria, o pai pequeno: "Muitas vezes se criam regras para isso ou para aquilo e vem

uma entidade e passa por cima disso tudo, mostrando que a Espiritualidade é maior

do que todos nós".

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12- A VOLTA DA CONSULENTE DE PAI CIPRIANO

Naquele terreiro, já com a experiência adquirida ao longo de mais de duas

décadas, eu comuniquei ao dirigente da casa que só poderia atender sete consulentes

por sessão. As entidades que trabalham através da minha mediunidade, quase

sempre, não dão apenas orientações durante a consulta, mas também descarregam

aos mais necessitados. Neste contexto, compreendi que não deveria ficar muito no

limite de minhas forças, o que quase sempre pratiquei no início de minha jornada

mediúnica, para meu próprio risco. Desta forma, encontrei melhor equilíbrio

energético e de saúde.

Naquela sessão de pretos-velhos, mais uma vez, todos os números de

atendimento de Pai Cipriano foram preenchidos. Seria um dia de atividade intensa

para mim e para o guia. Trabalho na semiconsciência e, quando me é útil, Pai

Cipriano me permite compreender parte do problema do consulente e parte da

solução apontada, conseguindo reter na memória algum conteúdo.

Após um tempo atendendo incorporado, chegou mais um consulente em frente

ao preto-velho. Era uma mulher desconhecida. O que pude entender da conversa

entre ambos é que aquela senhora estava desempregada e pedia ajuda para trabalhar

como acompanhante de idosos. O espírito passou alguns banhos de ervas e ensinou

uma “mandinga”, não registrada pela minha mente. Não pude reter maiores detalhes

da consulta do preto-velho, que costuma ser relativamente longa, já que, não raras

vezes, numa sessão como essa, eu permaneci sentado por cerca de quatro horas,

mediunizado pelo guia. Fazendo uma conta simples, em média, uma consulta com

Pai Cipriano poderia durar cerca de 30 minutos. Entretanto, guardei bem na memória

o rosto da mulher e o seu sentimento de angústia pelos poucos recursos financeiros.

Depois da sessão, já debaixo do chuveiro quente, em casa, a imagem dela e o

seu problema retornaram a minha tela mental. Rezei pela mulher e pedi aos guias que

pudessem lhe abrir os caminhos. Eu, na minha limitação humana, sentia-me

impotente. Pensava na infinidade de pessoas em penúria no País, desejando uma

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oportunidade, e aquela senhora era apenas mais uma. O que, pessoalmente, eu

poderia fazer a mais? Nada vinha a minha mente... Só poderia, mesmo, entregar nas

mãos dos bons espíritos…

O tempo passou e chegou o dia de uma nova gira de pretos-velhos. À

distância, vi a mulher em meio a outros consulentes, aguardando o início da sessão.

Deveriam ser em torno de 100 pessoas ali, esperando a chance de conversar com

algum dos vários trabalhadores da Linha das Almas. Naquela gira, dentro do meu

processo de semiconsciência, não recordei de ter visto aquela consulente, em frente

ao Pai Cipriano.

Semanas se passaram e, com elas, ocorreram sessões de exu e de caboclos. Às

vezes eu distinguia a presença daquela senhora junto ao público, mas não entre as

pessoas que se consultavam com os meus guias.

Meses foram transcorrendo e a mulher sumiu. Não mais notei a sua presença,

nem mesmo nas datas festivas. Eu havia ficado sem saber se ela tinha conseguido

oportunidade de trabalho. Aliás, essa questão aflige em maior ou menor grau quase

todos os médiuns. Nós temos algum desejo de obter um retorno sobre a eficácia de

nossos esforços mediúnicos e também quanto às orientações que são proferidas pelas

nossas bocas, durante as tarefas executadas em transe. Não devemos ter excesso de

preocupação, mas sim confiar na Espiritualidade, também lembrando que o

consulente receberá conforme o seu mérito. Não basta apenas pedir, mas, além disso,

fazer por merecer.

Contudo, a vida dá voltas. Cerca de um ano e meio depois, numa nova gira de

pretos-velhos, eis que surge à frente de Pai Cipriano, aquela senhora. Ele me deixou

captar razoavelmente o início da consulta, talvez atendendo ao meu desejo interior

de compreender se ela estava bem e também para eu poder ouvir o resultado do

trabalho realizado. Lembro que a mulher estava feliz, porque, segundo a própria,

após a única consulta com o Pai Cipriano, a vida dela havia melhorado muito. Ela

teve várias oportunidades de trabalho e, desde então, estava ganhando o dinheiro

dela sem interrupção. A mulher colocou que, finalmente, havia conseguido um

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número para se consultar novamente com o Pai Cipriano, já que, por morar longe,

não chegava cedo o suficiente para pegar uma das sete vagas daquela entidade. A

conversa transcorreu. Notei que ela agradeceu muito e veio pedir algo a mais, porém

não registrei o restante da consulta.

Bem, o que pude assimilar daquele último diálogo entre aquela senhora e o

preto-velho foi o suficiente, para eu me dar por satisfeito, dentro de minhas

limitações humanas. Alguns meses depois, tive que me desligar daquele terreiro.

Espero que aquela consulente faça uma boa jornada nesta sua vida terrena e agradeço

a Pai Cipriano pelo aprendizado. Nós médiuns precisamos trabalhar com serenidade

e entregar os resultados à Espiritualidade Maior. Salve as Almas!

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13- AJUDA DA MALANDRAGEM

No sábado, eu participara de uma sessão com consulta de pretos-velhos. Pai

Cipriano havia trabalhado através da minha mediunidade, atendendo a sete

consulentes. A reunião foi finalizada com todos os presentes sentindo-se bem,

embora houvesse um certo cansaço por parte dos médiuns incorporantes e daqueles

mais ativos no período.

Porém, como a maioria dos umbandistas já sabe, a sessão termina, mas não o

trabalho espiritual. Aliás, as atividades espirituais iniciam-se antes da reunião formal

no Plano Terreno e alongam-se para além desta. Assim, já no domingo à tardinha,

comentei com Tetê Souza, parceira nas tarefas mediúnicas, que estava sentindo uma

corrente vibratória bem densa. Coloquei para ela que eu precisava tomar um banho

de ervas e que aquele fluxo de energias era devido a alguém do nosso grupo. Após o

banho, houve um bom alívio das sensações desagradáveis.

Na segunda-feira, pela manhã, recebi mensagem através do WhatsApp de um

componente do grupo espiritualista. Ele solicitava alguns esclarecimentos para o seu

filho, que não pudera comparecer à sessão dos pretos-velhos. Fiz alguns áudios,

passando informações, e recebi a notícia de que o jovem se sentira mal justamente no

domingo à tardinha, o período que eu afirmara estar sob impacto de uma corrente

vibratória negativa. Depois, ficou tudo bem com o rapaz e comigo, o que me

permitiu bom desempenho na atividade profissional ao longo da segunda-feira.

Contudo, ao final da tarde deste dia, já em casa, tive uma dor de cabeça

persistente, perceptivelmente provocada por nova corrente espiritual densa. Tomei

um banho comum e jantei, ainda dentro do quadro relatado. Antes de ir dormir, fui

firmar a entidade da Linha dos Malandros que me acompanha, o que faço todas as

segundas-feiras à noite. Ouvi sua risada típica e não demorei a deitar-me.

Na cama, eu sabia que haveria uma transformação da situação, durante o meu

sono. Porém, não conseguia dormir. Então, após deitar-me em várias posições,

resolvi ficar em decúbito dorsal (de barriga para cima) e utilizar uma técnica de

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relaxamento. Após alguns minutos, para minha surpresa, tive uma visão. Notei uma

mulher desencarnada, de frente, com expressão facial tensa. Era uma morena clara e

seus olhos foram se abrindo mais, até ficarem arregalados. Na sequência, abriu a

boca e soltou um grito longo, que não pude ouvir. Então, a imagem sumiu da minha

tela mental.

Poucos segundos depois, o meu telefone fixo tocou. Levantei rapidamente da

cama para atendê-lo. Eram 23:00 horas e uma amiga queria falar comigo, antes que

eu dormisse. Conversei com ela rapidamente e desliguei o aparelho. Então percebi,

muito surpreso, que a dor de cabeça e o mal-estar haviam sumido totalmente.

Logo entendi que a entidade feminina em desequilíbrio, acessada pela minha

clarividência um pouco antes, havia sido levada. Possivelmente, se minha amiga não

tivesse me ligado naquele instante, eu poderia ter esquecido a vidência noturna, após

adormecer. Agradeci ao Sr. Camisa Preta, trabalhador espiritual da Linha dos

Malandros que atua por mim, e deitei-me novamente. Em outra oportunidade, vou

contar sobre a chegada deste espírito, que tem me ajudado muito ultimamente, bem

como às pessoas que o procuram. Salve Sr. Camisa Preta! Salve a malandragem!

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14- AJUDA IMPREVISTA DO CABOCLO SERRA NEGRA

Naqueles dias, eu me encontrava bastante cansado. Era o final do ano de 2019

e estava com muitas tarefas no trabalho, bem como me sentia sobrecarregado devido

a algumas preocupações, inclusive em relação a três pessoas amigas, que passavam

por problemas. Além disso, volta e meia percebia um assédio espiritual sobre a

minha pessoa. Quando se ajuda a alguém, as entidades obsessoras a ela associadas

acabam por nos julgar inimigos, passando a nos seguir por um tempo, até que os

guias espirituais as encaminhem.

Nesse contexto, fui me deitar naquele domingo não muito animado. Na

segunda-feira, precisaria levantar-me de madrugada para chegar ao trabalho bem

cedo e participar de uma reunião que duraria o dia inteiro. Seria um grande desafio

para quem já tinha permanecido em insônia por três dias seguidos. As poucas horas

de repouso, no período citado, não tinham sido suficientes para me manter em bom

estado, de maneira a realizar uma boa apresentação técnica e debater positivamente

na longa reunião programada.

Deitei-me depois das 23:00 h e, felizmente, logo adormeci. No entanto, um

tempo depois, despertei abruptamente com o barulho de algo quebrando. Era uma

caneca d'água que ficava numa mesinha ao lado de minha cama. Ela acabara de cair

no chão, devido a um acidente noturno. Levantei rapidamente, constatando o fato, e

passei a limpar a bagunça, apanhando todos os cacos. O relógio marcava 01:20 h,

início da madrugada.

Após a limpeza, dormi rapidamente. Depois de um tempo, encontrei-me lúcido

no Astral, com uma amiga projetada, que estava acompanhada de uma outra mulher

desconhecida. Caminhamos por várias ruas e conversamos por um tempo razoável.

Não consigo recordar de detalhes da conversa, mas sei que o tema era xamanismo.

Então, chegamos numa espécie de casa. Adentramos o local e ficamos numa

sala, sendo eu por um curto tempo. Eu logo me dirigi a um quarto, deixando as

mulheres para trás, movido por uma força estranha. Estando ali, logo vi um homem

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com fisionomia indígena. Entretanto, ele estava trajado com uma roupa social

comum, ou seja, não vestia trajes tradicionais de qualquer etnia indígena. Fiquei

surpreso com a sua presença, mas ele não mostrou estar surpreendido. Apontou-me

um banco e entendi que ele me convidava a sentar. Obedeci e ele se aproximou de

mim. A seguir, sentou num outro banco a minha frente. Não sei de onde ele tirou um

pequeno cocar, formado por penas não muito longas, talvez de um palmo e meio.

Todas as penas eram pretas com as pontas brancas, numa proporção de 2/3 para a cor

negra e 1/3 para a cor branca. Na sequência, me falou em português bem claro:

“Conheço técnicas amazônicas”.

Em seguida, ele manuseou um cachimbo, que também não percebi de onde

retirou, logo fazendo fumaça. O espírito parecia dominar muito bem as plasmagens

naquele ambiente extrafísico. Então, baforou a minha direita e a minha esquerda.

Logo após, ele fez um gesto que me induziu a olhar para baixo. Assim, notei que

entre mim e ele havia um tronco escavado como se fosse um vaso tosco. Dentro dele

haviam resíduos semelhantes a folhas secas e outras coisas que não pude distinguir.

A fumaça do cachimbo era relativamente intensa e, por isso, facilmente

perceptível. Contudo, o seu cheiro era suave e não se assemelhava a fumo queimado,

mas sim a incenso misturado com ervas. Aquele processo não durou muito tempo e

logo eu despertei na cama.

Levantei-me sem delongas e fui olhar o relógio. Eram 05:30 h da madrugada.

Como eu me sentia muito energizado, desliguei o despertador, antes que fizesse

barulho. Fui me arrumar para ir ao trabalho, sentindo-me muito bem. Durante o dia,

desempenhei positivamente as minhas funções. Aquela entidade havia me ajudado

de uma forma evidente. Ele realizou uma retirada de cargas negativas e trouxe-me

vitalidade. Fiquei muito grato àquele ser, no meu entendimento, um caboclo.

Terminei de escrever o presente relato, numa quarta-feira. Na sexta-feira, pela

manhã, lembrei-me do texto subitamente e pensei que deveria publicá-lo no final de

semana. Enquanto idealizava a publicação, veio-me à mente uma melodia. Enquanto

eu fazia a barba, a letra foi ficando clara e finalmente a recordei de forma completa:

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“Seu Serra Negra vem descendo pirambeira. Ele vai caçar lá na mata da jurema. Seu

Serra Negra vem descendo pirambeira. Ele vai caçar lá na mata da jurema. Seu Serra

Negra! Ele não vem só! Ele gira na Umbanda! Ele é rei no Catimbó! Seu Serra

Negra! Ele não vem só! Ele gira na Umbanda! Ele é rei no Catimbó!” Então, tive a

identificação da entidade que me ajudara, no Astral, há poucos dias. Um pouco

depois, me lembrei do Caboclo Treme-Terra, que é o guia que atua pela minha

mediunidade nas giras de Oxóssi. Há cerca de 25 anos, ainda no início de minha

jornada na Umbanda, ele dizia que trabalhava junto com o Caboclo Serra Negra, no

Plano Espiritual. Eram como irmãos. Desta forma, depois de tanto tempo, pude ver o

Sr. Serra Negra. Gratidão a esta entidade e a outras que trabalham, muitas vezes,

ocultamente. Okê Arô Oxóssi!

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15- ARMADILHA NO TERREIRO

O centro estava ficando cheio, naquele dia em que se realizava uma sessão de

pretos-velhos. Cerca de 100 pessoas seriam atendidas e alguns consulentes já saíam

do salão de trabalhos, pois, tendo chegado cedo, haviam sido os primeiros a assinar a

lista de consultas.

Uns se dirigiam à cantina, de modo a fazerem um lanche, enquanto outros

preferiam retornar as suas casas, pois outros afazeres, certamente, os esperavam. No

entanto, uma senhora, ao sair do terreiro, logo após a sua consulta com um preto-

velho, parou em frente a um cambono que tomava conta da entrada do salão. Ela

disse que precisava confessar algo. Afirmou que uma força irresistível a impelia a

contar o que havia realizado.

Tendo ouvido isso, o cambono conduziu a senhora para um canto mais

reservado. Ela, então, revelou que estivera ali, a pedido de uma pessoa, para inventar

histórias e problemas ao Pai Manoel, que se manifestava através do médium Sérvio

(nome fictício). A mulher estava arrependida de aceitar aquela proposta e de ter

ocupado uma entidade com mentiras.

Espantado com o fato, o cambono indagou quem a havia estimulado a

promover aquela farsa. A mulher disse que Samara, sua amiga e médium antiga

daquele centro umbandista, havia lhe contado que Sérvio fingia a incorporação. Por

isso, Samara queria desmascará-lo, através de uma falsa consulta, onde ficaria

evidente o suposto fingimento de Sérvio.

Aqui faço um parênteses neste texto, para lembrar que Samara é a mesma

médium que citei no relato "A atenção do Exu Caveira", e que o nome dela também é

fictício. O objetivo deste conteúdo não é execrar publicamente ninguém, mas sim

mostrar uma atitude negativa que deve ser evitada por qualquer umbandista.

Voltando ao relato, a mulher que estava com a consciência pesada concluiu

sua confissão ao cambono, pedindo perdão, e dizendo que não retornaria mais àquele

terreiro. Depois, o cambono revelou os acontecimentos à mãe de santo e a mais

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quatro integrantes do centro, todos de confiança dela, dentre eles, eu e Sérvio. Aliás,

Sérvio reagiu de forma muito nobre à armadilha que lhe fora feita por Samara.

Preferiu ficar sereno e confiante na Justiça Divina, que a todos avalia

equanimemente, agindo no reequilíbrio e correção quanto às ações mal pensadas, no

tempo certo. Creio que o conteúdo da conversa entre a falsa consulente e Pai Manoel

vai ficar oculto de todos nós...

Nesta fase do relato, cabe explicar sobre a questão anímico-mediúnica. Os

médiuns que estudam, ao menos um pouco, sabem que durante uma incorporação

ocorre sempre uma participação do indivíduo incorporante. A porção da mente

humana, chamada por uns de inconsciente, e por outros de subconsciente, pode

influenciar na comunicação das entidades, em determinado grau. Isso é denominado

animismo, ou seja, há uma contribuição da alma do médium (anima, do latim alma)

nas orientações transmitidas. Isto é mais intenso nos dias de hoje, quando a grande

maioria dos médiuns trabalha através de incorporações mais leves, mantendo um

grau significativo de lucidez, durante as manifestações mediúnicas. Ou seja, a

interferência da mente humana tende a ser maior. Atualmente, são muito raros os

médiuns com um nível de acoplamento mediúnico bem profundo com os seus guias,

de forma que, no retorno do transe, nada recordem das consultas.

Porém, o animismo não deve ser tão temido. Se o indivíduo realizar bons

estudos e preencher sua mente com conhecimentos úteis e normas de conduta éticas,

poderá contribuir positivamente com o guia espiritual, durante uma orientação a

alguém. Não é objetivo do médium honesto passar à frente do seu mentor, mas os

conteúdos de sua própria alma (anima) poderão atuar no contexto de um animismo

colaborativo.

Contudo, o que Samara estava julgando, no comportamento de Sérvio, é que

ele estaria sendo um médium não apenas com alto grau de animismo, mas sim, que

estava fundamentalmente fingindo durante as incorporações. Ou seja, era uma

desconfiança de algo grave. Entretanto, esta tarefa de vigilância sobre a mediunidade

de alguém, naquele terreiro, não cabia exatamente a ela, mas sim à direção da casa.

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Ela estava usando o "Orai e vigiai" não para si própria, mas sim vigiando o

procedimento de um irmão médium. E não satisfeita com isso, que já era uma atitude

de ultrapassar as suas atribuições, realizou uma ação extremamente desleal com um

parceiro de terreiro, tentando desmascará-lo quanto a um suposto fingimento, hoje

também chamado "marmotagem".

Porém, a Espiritualidade agiu e a senhora que serviu de instrumento para a

armadilha arrependeu-se, conforme relatado. O escândalo desejado e planejado por

Samara, para Sérvio, voltou-se contra ela, uma médium que fazia parte daquele

terreiro há cerca de 40 anos. O que ela havia aprendido em todo aquele período?

Havia se tornado um ser humano melhor? Parece que não...

Numa tentativa de elucidar melhor este caso, assinalo que Samara me

segredou, numa conversa informal anterior, que sempre teve um grande desejo de

trabalhar com a preta-velha dela, dando consultas. Sua atitude contra Sérvio apenas

evidenciou uma espécie de "inveja mediúnica". Ela gostaria de estar no lugar de

Sérvio, trabalhando com as Santas Almas Benditas. No entanto, para isso, o médium

precisa ter essa missão específica. Não é uma questão de querer individual. Além

disso, o médium que vai trabalhar com um "vovô" ou "vovó" precisa ter traços de

caráter próximos da humildade, paciência e amor dos pretos-velhos. E isso,

infelizmente, ainda não estava no coração de Samara.

Termino este relato, que é um alerta para todos nós médiuns umbandistas. A

nossa religião, bem como qualquer outra, tem a função básica de nos ajudar a sermos

indivíduos mais solidários e com maior capacidade de amar. Não estamos aqui,

encarnados, para mantermos os velhos hábitos de julgarmos ao semelhante, de

apontarmos suas falhas, enquanto agimos no dia a dia com obscuridade. Precisamos,

fundamentalmente, melhorarmos a nossa própria essência. Salve as Almas!

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16- CIGANA MARIA DE LA CRUZ

O início de uma jornada mediúnica é sempre muito importante, porque, a

partir deste período, podemos ter boas impressões e aprendizados, bem como

verdadeiras fontes de inspiração. Infelizmente, para algumas pessoas, esta fase

inicial pode ser conturbada. Mas, para mim, posso afirmar que tive mais exemplos

positivos do que negativos, muito embora, não posso deixar de assinalar que também

aprendemos com os exemplos negativos.

Um dia desses, pela manhã, veio-me à mente o ponto de uma Senhora Cigana

que trabalhava no primeiro terreiro em que atuei como médium, há 26 anos. A

cantiga surgiu claramente e passei a cantarolar: “Ela é Maria de la Cruz. Ela é Maria

de la Cruz. Maria das Sete Encruzilhadas do Cruzeiro! Ela é a Maria da luz!”

Então, recordei da médium que era a intermediária para aquela Cigana tão

formosa em seu jeito de trabalhar. A senhora Rosângela era de origem portuguesa e

trabalhava como costureira. Fazia vestidos finos, para se sustentar materialmente,

não faltando a nenhuma gira do terreiro. Ela deveria ter em torno de 55 anos de

idade, à época, mas parecia remoçar muito enquanto estava incorporada com a

Cigana.

A Senhora Maria de la Cruz, sempre que vinha à Terra, pedia um lenço

vermelho para cobrir a cabeça da médium. Usava também algumas pulseiras e

pequenos apetrechos, característicos de sua linhagem, e que eram permitidos pelas

regras daquele terreiro. Cada centro de Umbanda tem as suas normativas e

especificidades de doutrina, sendo isto muito importante respeitar.

A entidade dançava em giros harmônicos, junto de outras pomba-giras, no

início de cada sessão de exu. Dava consultas com uma elegância sóbria. Não se

percebia qualquer exagero ou deslize, porque era notável o bom acoplamento

energético entre médium e entidade. Além disso, a senhora Rosângela tinha uma boa

educação mediúnica. Ela sabia que deveria permitir a manifestação e colaborar com

a sua Cigana, de modo que a atuação daquele espírito fosse a mais pura o possível.

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Pude observar os trabalhos daquela Cigana, com algum detalhamento, durante

os meses em que tive a função de cambono naquele centro. Depois, passei à

incorporação e, nas sessões de esquerda, eu recebia o Senhor Sete Encruzilhadas.

Mas, sempre que possível, analisava as atividades das entidades, através de seus

médiuns mais experientes. Não os assistia com uma mentalidade crítica, mas sim no

intuito de aprender ou assimilar algo construtivo.

Numa determinada oportunidade, após o meu exu ter subido, acabei por

receber uma mensagem da Senhora Maria de la Cruz. Eu ainda estava meio grogue,

do lado do cambono que havia assessorado ao Senhor Sete Encruzilhadas, quando a

Cigana se aproximou. Ela dirigiu-se ao cambono, falando sobre mim: "Este moço aí

vai trabalhar no santo até ficar bem velho. Enquanto estiver vivo, vai trabalhar com o

povo dele, de pés no chão."

Levantei a cabeça na direção dela e a entidade sorriu sutilmente, para, em

seguida, se afastar. Já cantavam um ponto de subida e a Cigana iniciava alguns giros

dançantes. Era hora de "sacudir a poeira..."

Bem, enquanto termino de escrever este relato, em setembro de 2019, conto

com 51 anos de idade. Ainda não estou exatamente velho, mas espero manter um

bom percurso e cumprir bem a minha missão mediúnica, como apontou a Senhora

Cigana, até o ponto final da minha estrada.

Agradeço a ela e às demais entidades e seus médiuns, que me orientaram ou se

constituíram como verdadeiras fontes de inspiração. Salve Senhora Maria de la Cruz!

Salve todo o Povo Cigano!

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17- CLARIVIDÊNCIA NA MATA

Estávamos em um trabalho fora do terreiro, com um foco principal na Linha

de Oxóssi. Para nós, sempre que possível, é bastante relevante iniciarmos o ano na

busca das energias das matas e das cachoeiras.

Assim, o nosso grupo chegou cedo àquele belo espaço da natureza e, após as

devidas firmezas, procedeu-se a uma limpeza da coroa de cada médium, nas águas

daquela linda cachoeira.

Em seguida, as oferendas foram colocadas num altar natural, formado por uma

pedra relativamente achatada. Orações foram feitas e alguns cânticos foram

entoados, de modo a que as bioenergias (ectoplasma) daqueles alimentos, velas e

bebidas fossem utilizados da melhor forma pelos guias espirituais de Umbanda.

Na sequência, as entidades foram chamadas através de pontos cantados e

fomos devidamente atendidos pela Linha de Oxóssi. Primeiramente, os caboclos e

caboclas vieram nos abençoar com as suas presenças, nos beneficiando com

descarregos, desenvolvimento mediúnico para os mais novos e algumas consultas.

Entretanto, essas consultas foram breves, porque aquele dia era programado mais

para um trabalho energético do que para orientações mais profundas.

Depois, a gira na mata foi direcionada aos boiadeiros. Eles se manifestaram

através da incorporação e algumas atividades intensivas foram realizadas. Quando

todos os boiadeiros subiram, eu relaxei. Senti que eu tinha cumprido grande parte da

minha missão, naquele dia. Eu havia trabalhado antes com o Caboclo Treme-terra e,

há poucos minutos, com o Boiadeiro Sete Estrelas.

As cantigas, daquele instante em diante, seriam entoadas para os demais

orixás, basicamente para homenageá-los. Eu ajudava a puxar os pontos, no círculo de

médiuns, e podia observar as pessoas do lado oposto. Bem a minha frente, a cerca de

oito metros, estava Tetê Souza, ladeada por dois integrantes do grupo. Em dado

momento, tive uma surpresa. Vi um volume expressivo de "fumaça esbranquiçada",

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saindo do topo da cabeça de Tetê Souza. Não durou muito o fenômeno e logo deixei

de enxergar aqueles estranhos vapores.

Então, parei de entoar os cânticos e observei fixamente, novamente, a cabeça

dela. Nada ocorreu. A seguir, mirei os dois médiuns que estavam à direita e à

esquerda de Tetê Souza. O fenômeno de clarividência não se repetiu, em relação a

eles.

Contudo, quando voltei a olhar para a Tetê, percebi uma expansão

razoavelmente luminosa no topo de sua cabeça. Então, aquela borda foi se dilatando

mais e mais, até formar uma massa de “gases”, que rompeu-se. Rapidamente uma

“fumaça esbranquiçada” estava subindo. Desta forma, compreendi que aquilo era

ectoplasma e achei muito interessante a clarividência espontânea. Apenas lamento

que o fenômeno não perdurou.

Aproveito o ensejo para salientar que o processo de liberação daquelas

bioenergias, durante os pontos cantados, deve ser favorecido pela própria melodia

entoada e o pelo bom ritmo das palmas. Ou seja, enquanto se louva aos orixás, um

trabalho oculto está em andamento...

A sessão terminou com os exus e pomba-giras. Após o fechamento, tive a

intuição de que me permitiram ver o desprendimento das bioenergias (ectoplasma)

de uma médium, de modo a lembrar que não bastavam as oferendas entregues na

mata, para executar os trabalhos densos que realizamos. Neste contexto, e aliás em

qualquer situação mediúnica típica de Umbanda, as bioenergias dos médiuns são

fundamentais para a produção de bons resultados nas atividades espirituais. Em

síntese, combinando-se o ectoplasma dos alimentos, com o ectoplasma dos médiuns,

há maior efetividade em casos difíceis como os de desmanche de magia negativa.

Muito axé a todos.

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18- PEDRINHO DA PRAIA

A partir de setembro de 1993, eu iniciava meu desenvolvimento mediúnico. A

entidade da Linha das Crianças que se apresentou, para me ajudar neste processo, foi

o Pedrinho da Praia. Ele explicava que vinha na irradiação de Xangô e de Iemanjá.

De início, eu não sabia que ele estava basicamente me preparando para a chegada de

outro erê, o Zequinha da Calunga, cuja vibração estava mais afinada com a minha

tarefa mediúnica, ligada a atividades mais densas.

No entanto, aquela fase do Pedrinho da Praia foi de grande aprendizado para

mim. Durou cerca de três anos e neste período o menino espiritual realizou alguns

trabalhos, mais frequentes na chamada "mesa de Umbanda". Alguns conteúdos

dessas atividades chegaram ao meu conhecimento, ficando registrados na minha

memória.

O Pedrinho, sempre que possível, gostava de conversar com a minha tia

Emereciana. Numa dessas oportunidades, enquanto incorporado, ele falou para ela

que a tinha visitado à noite, enquanto minha tia dormia. Após esta informação, não

demorou e Emereciana lembrou-se de ter sonhado, há dois dias, com um pequeno

menino. Ela narrou que a criança estava sobre um muro e parecia que ia cair. Isso fez

com que ela fosse até ele, de modo a ampará-lo, impedindo uma suposta queda.

Em seguida, Pedrinho sorriu e confirmou a experiência noturna fora do corpo

da minha tia, dizendo que ela o vira de fato. Entretanto, naquele dia, estava presente

Sarah, minha prima e filha de tia Emereciana. O erê voltou sua atenção à jovem

mulher, que era mãe de dois garotos que, à época, não ultrapassavam os 10 anos de

idade.

Então, Pedrinho falou um pouco sobre as origens espirituais de seus dois

filhos, dando ênfase ao Gilberto, o mais novo, assinalando que ele era um espírito

guerreiro. Comentou, inclusive, um aspecto bem interessante sobre uma espada, que

volta e meia surgia em nível sutil junto à cintura do garoto. Aquela ferramenta de

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combate, invisível aos olhos humanos, era "arrastada" por Gilberto em certas

circunstâncias...

Aqui faço um parênteses quanto a este fato narrado por Pedrinho, que, naquele

tempo, explicou que aquele objeto sutil era decorrente da memória daquele espírito,

quanto a vidas passadas, quando empunhou a espada em reencarnações voltadas à

guerra. Assim, aquela arma era plasmada no Astral com alguma frequência, por um

acionamento mental inconsciente do garoto Gilberto. Hoje, além disso que a

entidade apontou, penso que Gilberto deve também ter a proteção do campo

vibratório correspondente ao orixá Ogum.

Bem, retornando ao relato, Sarah ouviu com muita atenção ao Pedrinho da

Praia, mas ela retrucou, dizendo que tinha maiores dificuldades com o seu filho mais

velho, o Laércio, que era frequentemente rebelde. E em relação ao Gilberto, disse

que era muito amoroso com ela, não causando maiores problemas e tendo quase

sempre um legítimo bom humor.

Neste momento, é necessário um adendo. Na verdade, na época, Sarah

desconhecia que tinha forte dívida cármica com Laércio, enquanto que, com relação

ao Gilberto, os laços anteriores eram bem mais positivos.

Voltando à conversa entre a entidade e a minha prima, Pedrinho reafirmou que

Gilberto era um espírito muito guerreiro e que o futuro iria mostrar isso. A seguir,

ocorreram outros diálogos, mas não são relevantes para este relato.

Os anos se passaram, na realidade, mais de duas décadas, até chegarmos à data

de 5 de outubro de 2019. Este dia era um sábado e eu iria visitar a tia Emereciana,

que se encontrava numa instituição geriátrica. Eu me dirigia para lá com o filho dela,

meu primo Márcio. Quando o carro foi estacionado, Márcio comentou comigo que

Gilberto, filho de Sarah, agora um homem-feito, visitaria Emereciana num outro dia.

Márcio colocou que Gilberto era bombeiro militar e que trabalhava próximo da casa

de repouso onde se encontrava minha tia.

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Ao ouvir isso, algo aconteceu na minha mente. Recordei, repentinamente,

quase tudo o que descrevi desde o início deste relato. Naquele instante, eu acabara de

decidir que precisava escrever sobre esta ocorrência, acontecida há mais de 20 anos.

Pedrinho da Praia, na década de 90, havia dito que, no futuro, o aspecto

guerreiro de Gilberto iria se manifestar. Hoje, ele é um “soldado do fogo”! O jovem,

nesta vida, resolvera trocar a velha espada de outrora, que ainda se plasmava em sua

cintura enquanto criança, pelo combate a incêndios. Provavelmente, no passado,

Gilberto tirava vidas. Agora, veio com um dever íntimo de salvar vidas.

Por fim, assinalo que estou bastante satisfeito em compartilhar este caso. Sou

grato pela vivência com o Pedrinho da Praia e pelo tempo que esteve comigo,

naquele início do meu desenvolvimento mediúnico. Salve Pedrinho, onde quer que

esteja! Onibejada!

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19- O ANIVERSÁRIO DO TERREIRO

Aquele era um dia festivo no terreiro de Umbanda. A casa completava pouco

mais de 40 anos de existência. A sessão, naquela data, seria composta pela abertura

tradicional, por um trabalho de passes com os guias, mas sem consultas, finalizando

com uma confraternização entre médiuns e consulentes.

Ali não era estimulado um contato mais próximo entre médiuns e consulentes,

no dia a dia dos trabalhos. Porém, naquela data comemorativa, se fazia uma exceção.

Então, ao final da atividade mediúnica, os médiuns foram chamados ao pátio

interno da instituição, onde se encontrava um grande bolo, bem como os consulentes

que desejaram permanecer na casa, para cantar o “parabéns” e interagir.

Enquanto o dirigente do centro fazia uma oração de agradecimento, permaneci

junto aos demais médiuns, em expectativa. A seguir, as velas do bolo foram acesas e

cantou-se o “parabéns”.

No momento de distribuição das fatias do bolo, preferi ficar num canto,

conversando com Amanda, uma tarefeira da casa, como eu. Contudo, percebi que, a

certa distância, uma senhora olhava para mim sorridente. Seu rosto não me era

estranho, mas não recordava de onde poderia conhecê-la. Preferi deixar isso de lado

e focar minha atenção em Amanda.

Num dado instante, a nossa conversa foi interrompida gentilmente pela

senhora mencionada, que disse: “Bom dia, o senhor não me conhece, mas eu

precisava falar... Eu precisava agradecer ao senhor.” Eu e Amanda nos calamos,

aguardando o que ela diria a mais. E ela continuou: “As suas entidades me ajudaram

muito! O senhor nem imagina! Eu não dormia direito. Quase nada o meu estômago

digeria. Eu vivia dando trabalho para o meu marido, um homem tão bom!

Preocupava os meus filhos. Eu só vivia doente, me sentindo imprestável. Eu tinha até

vergonha do meu estado! Os médicos não davam jeito na minha situação. Eu tinha

muita vergonha de não ter forças para nada!”

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Então, lembrei-me daquela senhora, ainda que um tanto vagamente. Durante

os transes mediúnicos do caboclo, do preto-velho e do exu, seu rosto havia sido

registrado em minha mente. Até os assuntos que ela vinha apontando, em

agradecimento, passaram a ter alguma lógica para mim. Aquela senhora era um dos

consulentes mais frequentes, para as entidades que trabalhavam através da minha

coroa. Nas memórias esparsas da semiconsciência de minhas atividades mediúnicas,

realmente constava a presença daquela pessoa.

Ela, agora, passava a falar detalhes de sua melhora, exaltando sua alegria e

satisfação, até que se emocionou e foi às lágrimas. Nesse contexto, intervi e disse

que eu estava muito feliz por ela ter recuperado sua saúde, e que deveríamos

agradecer a Deus. Ela me perguntou se poderia me dar um abraço e eu a abracei. Em

seguida, ela se desculpou por estar tão expansiva, mas comentou que precisava ter

vindo me agradecer pessoalmente. Então, afastou-se.

Amanda, que acompanhou a nossa conversa, também estava emocionada. A

médium me falou: “Isso já aconteceu uma vez comigo! É tão bom, não é mesmo?”

Respondi que sim e acrescentei que esta é a verdadeira recompensa do médium.

Ao final deste relato, necessito salientar que, num centro umbandista, nem

sempre há irmandade suficiente. Às vezes, alguns médiuns preferem estimular

sentimentos menos nobres, como o ciúme e a inveja. Preferem também praticar a

maledicência e a fofoca, bem como outras atitudes destrutivas. Não é raro, nos

terreiros, “filhos-de-santo” atuarem negativamente contra o dirigente espiritual da

casa, mas também o próprio não ser muito equilibrado ou justo.

Bem, mas isso tudo não é privilégio da Umbanda. Em todas agremiações

religiosas está o elemento humano e, desta forma, ali reside a imperfeição. Mas,

porque estou colocando estes aspectos agora? Já respondo. Quero salientar que

devemos trabalhar fundamentalmente pela nossa própria melhoria, dando

oportunidade também às entidades para evoluírem e uma chance aos consulentes

que, verdadeiramente, sofrem. O restante não importa!

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Por fim, acrescento que, naquele dia do aniversário do terreiro, quem recebeu

um presente fui eu. Salve Umbanda!

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20- ERÊ MANGUINHO

Eu estava no computador, montando uma palestra sobre Xangô e Nanã,

principais correntes espirituais da próxima sessão no terreiro. Em dado momento, um

pensamento súbito surgiu em minha mente: eu receberia uma criança que não podia

andar.

Parei de elaborar a palestra por um instante, recordando que eu já tinha

presenciado uma situação assim. Há mais de 20 anos, num determinado centro, o pai

pequeno da casa trabalhava com um erê que se mantinha como na sua última

encarnação, com uma deficiência nas pernas. Em seguida, voltei a trabalhar na

palestra, deixando qualquer possibilidade futura para depois.

Após cerca de 10 dias, estávamos no dia da sessão de Xangô e Nanã. Os

preparativos, desde a manhã, estavam intensos, arrumando-se o terreiro e realizando-

se as oferendas. Em certo instante, senti a presença de um espírito da Linha das

Crianças, que soprou no meu ouvido que viria à Terra pela incorporação. Colocou,

também, que não podia andar. Então, lembrei da minha intuição ocorrida há um

pouco mais de uma semana. Eu havia esquecido completamente do fato. Entretanto,

respondi mentalmente: “Tudo bem.”

Antes do início da sessão, ao longo do dia, o erê se aproximava e se afastava

intermitentemente. Eu não o conhecia e, por isso, a entidade estava irradiando suas

energias de maneira a estabelecer um vínculo comigo.

Quando a gira foi iniciada, o menino espiritual voltou a falar e suas palavras

foram: “Eu preciso descer!” Eu, logo argumentei: “Agora não dá! Vamos esperar um

momento mais adequado, está bem?”

Durante os cânticos a Xangô, ele voltou a pedir: “Eu preciso descer, tio!”

Novamente, através do diálogo mental, respondi: “Percebi que você é da Linha de

Nanã. Vamos esperar os pontos dela...”

O trabalho transcorreu e chegamos ao período de louvar Nanã. Alguns pontos

foram cantados e houve a necessidade de descarrego de algumas pessoas presentes.

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Desta forma, passou-se a entoar cânticos a Obaluaê/Omulú, acontecendo

incorporações nesta corrente vibratória. Nesta fase, o erê voltou a se aproximar,

perguntando: “Pode ser agora, tio?” Logo, retruquei: “Espere um pouquinho mais...”

Quando os descarregos terminaram, tornou-se a cantar para Nanã. Então, dei

passividade ao menino espiritual. Tetê Souza, médium muito experiente, foi lidar

com ele. Ela me relatou que o garoto se manifestou sentado no chão, com minhas

pernas de lado, sem qualquer movimento. A criança se apresentou como

“Manguinho”. Ele disse à Tetê Souza que queria se aproximar de uma oferenda que

estava depositada no solo, mais à frente. Ela disse que podia.

O menino espiritual, com agilidade, se deslocou pelo chão, usando os braços

do médium (eu) como alavancas. Ao chegar na borda da oferenda, disse à Tetê Souza

que precisava arrodear o trabalho ofertado. A médium permitiu e lá foi ele se

deslocando com rapidez inesperada.

Então, após ter arrodeado metade da circunferência, comentou: “Preciso dar

uma volta completa, tia!” Tetê falou: “Aí entre a mesa e a oferenda é muito apertado

pra você passar...” O erê, rapidamente, disse: “Dá sim, tia! E foi passando por ali,

habilmente, como se tivesse vivido desta forma, na Terra, por alguns anos. Depois

que deu a volta completa, ficou feliz e retornou ao Plano Espiritual.

O que posso dizer, após a desincorporação de Manguinho, é que a entidade me

deixou uma vibração muito boa. Eu tinha ido para aquela sessão meio adoentado,

com problema na garganta e baixa vitalidade. Levantei-me do solo, sentindo-me

tranquilo e bem-disposto. O erê da corrente de Nanã havia me ajudado. Se houvesse

mais duas ou três horas de gira, eu teria participado sem problema...

À noite, após a janta, não tinha sono e não apresentava cansaço. Deitado na

cama, não era possível adormecer. Mesmo depois de uma hora em repouso, o sono

não vinha. Mantive-me relaxado e, espontaneamente, começaram a surgir imagens

coloridas na minha tela mental. A clarividência fora ativada por alguma entidade.

Primeiramente, vi um muro comprido, com cerca de 1,80 de altura, todo

grafitado. Era uma espécie de mosaico em tons verde, vermelho, amarelo e azul. Em

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seguida, vi o interior de uma casa. Para ser mais exato, era um cômodo, talvez um

quarto, pintado de branco, com algumas rachaduras na parede.

As imagens se dispersaram e senti fome. Era o início da madrugada e ainda

não tinha sono. Estava energizado e tranquilo, resolvendo fazer um lanche. Após

comer um sanduíche e um suco de laranja, tornei a deitar-me.

Ainda estava extremamente desperto e, após fechar os olhos, procurei relaxar

novamente, no intuito de dormir. Entretanto, a clarividência voltou a funcionar,

involuntariamente. Passei a enxergar uma área de manguezal. O solo cinzento

acabava de receber um fluxo de água modesto, aparentemente água do mar, já que os

mangues se comunicam com os oceanos. Vi, nitidamente, quando uma onda bem

pequena se chocou com outra lateralmente, se espalhando pelo terreno.

Então, lembrei-me do Erê Manguinho, ao qual dei passagem horas antes, na

sessão umbandista. Entendi que deveria ser ele que ativava minha "terceira visão".

Veio a minha mente que ele transmitia imagens guardadas na sua própria memória,

da época em que fora encarnado. Estava confirmando sua identidade, através da

visão proporcionada do manguezal, que é campo vibratório de Nanã. Percebi,

também, que o local onde ele residia, quando tinha um corpo material, era próximo a

uma área de mangue.

A seguir, passei a ver um canal escavado no solo acinzentado, por onde corria

uma água não muito limpa. Ela desaguou num terreno mais baixo, também de

tonalidade cinza. Na sequência, vi um muro mal construído, cuja uma parte estava

semitombada, pendente num ângulo de cerca de 30 graus. Pela fresta formada, pude

enxergar uma casa muito humilde, cuja parte externa era de tijolos de barro, sem

qualquer reboco. Logo compreendi que Manguinho vivera naquele lugar, quando na

matéria.

Para minha surpresa, a entidade presente em meu quarto quebrou o silêncio.

Passou a me contar algumas coisas através de frases curtas, mas objetivas. Uma delas

foi: “Vivia ali e foi uma vida curta.” Um pouco depois, falou: “Morri de problemas

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respiratórios.” Após isso, pude visualizar mentalmente o seu corpo. Percebi um certo

estreitamento de seu tórax. Ele nascera assim...

Depois de um intervalo, Manguinho tornou a se comunicar: “Minhas pernas

eram mirradas, sem movimento.” Permaneci prestando atenção e ouvi: “Me

deslocava com os dois braços, pelo chão”. Mantive-me relaxado e escutei: “Eu

aprendi a ler e a escrever. Gostava de desenhar...” Achei essa informação

interessante e ele argumentou: “Se me derem uma pemba, quando estiver na Terra,

eu mostro que sei escrever...”

Gostei das revelações da entidade e permaneci quieto, na cama, quando ele

comentou: “Os outros erês da minha linhagem não são iguais a mim não. Eles

andam...” Quanto a isso, pensei que o que definia a vibração desses erês era a energia

deles em si, e não o fato de terem apresentado alguma deficiência na última

encarnação. Após eu pensar nisso, o erê colocou: “Conheço o Exu do Lodo. Já vi ele

trabalhando...” Então, recordei que recebi este guardião, há uns anos, por duas ou

três ocasiões específicas. Mas, o menino não parava de falar e explicou: “Trabalho

sentado, porque a minha última vida foi importante pra mim. Prefiro lembrar o que

aprendi nela e ser um bom trabalhador.”

Fiquei emocionado com a história deste Erê Manguinho. Senti a sua

humildade e determinação em ser útil, quando ele interrompeu meus pensamentos,

dizendo: “Sou feliz trabalhando e trabalho sentado porque até ajuda a movimentar

melhor as energias da terra.” Após eu ouvir ele comentando os tipos de doces que

utilizava, fui sentindo sono. Ele se calou e eu adormeci.

Pela manhã do dia seguinte, tudo estava ainda na minha memória. Assim que

foi possível, registrei tudo em papel. O encontro com o Erê Manguinho foi muito

positivo e fico no aguardo e à disposição de uma nova interação. Salve Manguinho e

que a sua luz, sustentada pelo Orixá Nanã, a “Avó do Mundo”, possa se fazer

presente sempre que possível ou necessário.

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21- ORIENTAÇÃO E PREVISÃO DO SR. PENA VERDE

Em meados da década de 90, eu estava presente a um trabalho espiritual do

Caboclo Pena Verde, que atuava e ainda atua através de uma médium amiga, com

excelente conexão espiritual.

A entidade estava em frente ao seu gongá, tendo chamado a senhora Yara, que

desejava uma consulta. O caboclo ouviu as queixas da consulente, que, em resumo,

queria uma ajuda para as suas dores reumáticas. Ela era constantemente afligida por

fortes incômodos nas articulações dos membros superiores e inferiores.

Quando a senhora Yara parou de descrever seus sintomas, o Sr. Pena Verde

disse que passaria para ela uma série de procedimentos, que deveria seguir com

grande disciplina. Ele enfatizou bastante que deveria também mudar radicalmente a

sua alimentação e, se não cumprisse persistentemente o que iria orientar, acabaria, ao

final de sua vida, entrevada numa cama. Falou ainda que precisaria modificar seus

sentimentos, evitando brigas e discussões.

A senhora Yara, pessoa de personalidade muito difícil, com fortes

características de arrogância, estava com os olhos arregalados. Ficou um tanto

assustada, mas logo se recompôs e disse ao caboclo que obedeceria os seus

conselhos à risca.

Então, o Sr. Pena Verde dirigiu-se a mim, pedindo-me para anotar suas

orientações. Rapidamente consegui papel e lápis, pondo-me a ouvir a entidade, que

passava uma forma relativamente complexa de uso do limão e do alho em sua dieta,

com horários bem definidos. Também falou de alimentos que deveria evitar e outros

que deveria adicionar às refeições. Enfim, eram vários procedimentos dos quais não

me recordo mais na totalidade e que ficaram registrados naquela folha de papel, que

passei às mãos da senhora Yara.

Semanas depois, encontrei-me com Yara. Ela seguia criteriosamente as

orientações da entidade. Falou-me que estava bem melhor das dores. Mostrou-me

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como as suas mãos já fechavam e abriam, sem maiores dificuldades. Porém,

queixou-se que era difícil manter a disciplina indicada pelo caboclo.

Não demorou muito e eu soube que Yara deixara completamente de lado as

recomendações do guia espiritual, voltando também a se alimentar desregradamente,

bem como retomando atitudes muito agressivas com familiares e pessoas próximas.

Os anos passaram e Yara foi decaindo de saúde, passo a passo. Em 2014, a

visitei e andava penosamente, se escorando em objetos ou pessoas. No ano de 2015,

pude observar que só caminhava com muletas. No final de 2016, chegou-me a

notícia de que ela estava entrevada numa cama. Em 2017, ela teve que ser internada,

por efeitos colaterais devido às fortes medicações que usa há anos. Recuperou-se e

agora, em 2018, permanece sem conseguir se locomover, presa ao seu leito em casa.

Só pode sair da cama, através de uma cadeira de rodas.

O Sr. Pena Verde havia prevenido a ela sobre esta possível situação futura. A

possibilidade tornou-se realidade. O aviso do caboclo tornou-se previsão certeira.

Mas, porque tudo isso? Bem, posso responder a esta indagação, pois atuei um

tempo como terapeuta, utilizando-me da regressão de memória como boa ferramenta

de auxílio. Numa oportunidade, promovi a regressão de um parente da senhora Yara,

a uma vida passada que ocorreu na época da escravidão, em solo brasileiro. Este

parente narrou sua própria vida e assinalou que conviveu com Yara naquela época.

Ambos eram donos de escravos mas, em especial, Yara era muito severa, ambiciosa

e arrogante. Ou seja, em síntese, ela ainda hoje mantém uma personalidade muito

endurecida, praticamente não se alterando em relação ao passado recente.

Portanto, pela Lei Cármica, como Yara não se modificou em praticamente

nada, acabou recebendo os impactos de seus próprios atos, muito negativos no

pretérito, agora. Por não ter esboçado maior esforço, está colhendo frutos amargos,

sem maior abrandamento. A vida é feita de escolhas. Ela escolheu como agir no

passado e, na vida atual, teve nova oportunidade e um aviso direto de um guia

espiritual. Porém, sua escolha mais uma vez não foi das melhores...

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O que me resta é vibrar, positivamente, para que Yara possa despertar o lado

luminoso que todo espírito tem. Agradeço à Espiritualidade, por eu estar presente no

dia em que o Sr. Pena Verde tentou ajudá-la. E, por fim, deixo minha saudação ao

nobre caboclo: Okê Arô Oxóssi!

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22- O ALERTA DE EXU-MIRIM

Cerca de sete anos atrás, numa sexta-feira, antevéspera de Domingo de Páscoa,

eu acabava de entrar num ônibus tipo “frescão”, rumo a minha residência. A viagem

demoraria algo em torno de uma hora e meia, como de costume. Eu levava uma

mochila, com objetos pessoais, e uma grande sacola plástica com várias caixas de

bombom, para distribuir entre os mais novos da família.

Sentei junto a uma janela, colocando a mochila aos meus pés. Na cadeira ao

lado, pus a sacola com chocolates, porque sabia que, naquele horário, aquele ônibus

sempre trafegava mais vazio. Então, fechei os olhos e relaxei, de modo a realizar um

método de meditação, que vinha praticando há alguns meses.

Não demorou muito e ocorreu uma inesperada vidência. A minha direita, no

corredor do ônibus, surgiu um garoto aparentando ter uns 12 anos. Ele simplesmente

abriu a sacola com as caixas de bombons e começou a mexer no interior dela, como

se fosse furtar algo. Fiquei surpreso com a vidência e abri os olhos, interrompendo o

processo meditativo.

Examinei a sacola e ela estava intacta. Não havia nenhum garoto no coletivo.

Apenas era possível notar seis ou sete passageiros, mais à frente de onde eu estava, e

um senhor atrás de mim, quase na última poltrona do ônibus. O menino que tinha

surgido no meu campo visual mediúnico apresentava a pele clara e cabelos negros.

Estava meio sujinho, assemelhando-se a um garoto de rua. Desconfiei que ele me

alertava sobre algo negativo e, desta forma, resolvi não fechar mais os olhos.

Naquela viagem, eu não entraria novamente em meditação.

O ônibus, então, atingiu a Avenida Presidente Vargas, no Centro do Rio de

Janeiro. Na altura da Central, entraram dois rapazes, sendo que um deles portava

uma mochila. Ambos foram para o fundo do veículo. Poucos minutos depois, um

deles atravessou o coletivo, indo na direção do motorista com um revólver em

punho, anunciando um assalto. O outro rapaz, logo em seguida, também foi à frente

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do ônibus, avisando que era para não reagir e colocar dinheiro e pertences de valor

na sua mochila.

Naquele momento, recordei que eu estava com cerca de 1.500 reais no bolso

da camisa. Era um valor alto, porque eu precisava pagar um pedreiro, que realizava

uma obra na residência. No entanto, mantive o sangue-frio. Como os dois

delinquentes estavam lá na frente do veículo, retirei sutilmente o dinheiro do bolso e

o guardei na cintura, por dentro da cueca. Na sequência, planejei o que ia dar ao

ladrão, que vinha se aproximando. Eu tinha cerca de 80 reais no bolso direito da

calça e um celular de qualidade apenas razoável. Era isso o que eu ia entregar, de

modo a que ele pudesse ficar satisfeito.

O rapaz chegou e logo passei estes pertences. Mostrei o interior de minha

mochila, que só continha roupas sujas. Ele ficou feliz com a minha “colaboração”,

seguindo adiante sem ter me ameaçado, o que acabou fazendo com um homem alto e

forte, bem como com um rapaz que tinha um laptop guardado numa bolsa.

Em certo trecho da Avenida Brasil, os dois ladrões saltaram próximo a uma

área de favela. O motorista, muito nervoso, perguntou aos passageiros se desejavam

ir até a uma delegacia. Nós, que éramos poucos no coletivo, dissemos para ele seguir

viagem. O rapaz que quase foi agredido, e que inclusive foi ameaçado de morte,

lamentava não ter um único centavo para pagar outro ônibus, no trajeto seguinte que

seria necessário para ele chegar até a sua casa. Então, retirei parte do dinheiro que eu

havia escondido e dei dez reais ao jovem, para ele não ficar a pé.

É relevante ressaltar que consegui manter uma calma anormal em todo o

evento, o que reputo à presença da Espiritualidade, em meu amparo e inspiração.

Não fui agredido. Não fui ameaçado verbalmente ou por gestos. A sacola cheia de

bombons não foi tocada pelos ladrões, que ao revistarem alguns passageiros, fizeram

uma verdadeira bagunça com suas bolsas, mochilas e sacolas.

Assinalo que o espírito que me apareceu na vidência, no início deste relato,

pertence à Falange de Exu-mirim. Assim, aproveito a oportunidade para fazer umas

breves considerações sobre esta linhagem de exus. No meio umbandista, existem

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variadas versões sobre Exu-mirim. Essas versões ou visões sobre este agrupamento

de trabalhadores espirituais são respeitáveis, mas não posso ignorar a minha

experiência pessoal com estes guardiões. Deste modo, coloco que já me encontrei

com vários exus desta falange no Plano Astral, através de meus desdobramentos

espirituais ou projeções da consciência. Nestes encontros diretos, ou seja, sem

intermediários, pude interagir com eles e vê-los em ação por diversas vezes.

Constatei que são espíritos que se manifestam com a aparência de garotos, de

adolescentes e até de rapazes. A idade aparente gira em torno de 11 a 18 anos. Boa

parte deles se apresentou como se fossem meninos de rua, mas não todos. A maioria

demonstrou inteligência e esperteza. Poucos se mostraram com alguma timidez.

Por outro lado, aqui no Mundo Terreno, durante trabalhos mediúnicos, pude

conversar com entidades desta falange, incorporadas em seus médiuns. Posso atestar

que conhecem profundamente magia, manipulando como mestres as bioenergias

disponíveis. Não são exatamente garotos ou jovens, pois detêm raciocínio maduro.

Não podemos esquecer que cada espírito já reencarnou muitas vezes e, no

inconsciente de cada um, estão armazenadas suas experiências e habilidades, que

podem ser acessadas e externadas, quando há preparo para isso.

As entidades que labutam dentro da linhagem de Exu-mirim apenas se

apresentam de um jeito brincalhão, meio malandro ou meio infantil, porque isso faz

parte de seu método de trabalho. Por exemplo, eles têm me comunicado que usam

formas e modos infantojuvenis no Astral, porque assim podem enganar seres

obscuros, verdadeiros quiumbas (obsessores), que não lhes dão valor, justamente por

se mostrarem como garotos ou meninos. Então, neste contexto, Exu-mirim desfaz

magias negativas, atua em atividades de limpeza difíceis e “desata nós” bastante

complicados…

Naquele dia, no ônibus, fui ajudado por Exu-mirim. Fui alertado pelo que

estava por acontecer, evitando ficar passivo no veículo, à mercê dos ladrões. De

outra forma, eu seria pego de surpresa. Laroiê Exu-mirim! Exu-mirim é mojubá!

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23- JOÃOZINHO DA MATA

Ainda na primeira metade da década de 90, eu frequentava os trabalhos de

“Mesa de Umbanda”, na residência da Sra. Divina. Foram oportunidades de

aprendizado muito valiosas para um médium novato, como eu, à época. O saudoso

amigo Nélson Vilhenna também colaborava ali e dirigia as sessões, a convite da Sra.

Divina.

Naquele dia, a mesa tinha sete ou oito componentes. Não recordo o número

exato. Um fato curioso é que lá existiam quatro cachorros, que sempre vinham

participar da reunião, ficando deitados e quietos em torno da mesa, colocada junto à

garagem da bela casa. Os animais de estimação se acomodavam no gramado, assim

que a prece de abertura era feita, não latindo mais.

Depois do início da sessão, se lia o trecho de um livro, geralmente o

“Evangelho Segundo o Espiritismo”, para, em seguida, uma ou mais pessoas fazerem

suas colocações sobre o tema abordado.

Então, se chegava à fase ostensivamente mediúnica, com a manifestação de

possíveis espíritos desequilibrados. Estes, quase sempre, eram esclarecidos pelo

Nélson, que argumentava com eles no sentido de se renovarem e aceitarem a ajuda

dos guias presentes, que os levariam para hospitais espirituais ou colônias afins.

Mas, naquela oportunidade, um desencarnado em estado muito precário estava

no ambiente. A entidade se manifestou através da médium Cinira, dizendo que

estava muito fraca. Falecera doente e abandonada. Sentia muito frio e solidão. Não

conseguia ouvir com atenção às palavras do Nélson. Seu estado era, de fato,

lamentável.

Devido a este contexto, ocorreu a presença do Joãozinho da Mata, através da

Dona Divina. O menino espiritual, com a sua simpatia de sempre, pediu aos demais

médiuns que espalmassem suas mãos e enviassem energia na cor verde para aquele

ser em sofrimento, que chorava copiosamente através de Cinira.

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Eu já sabia, naquele tempo, que bioenergias em tons esverdeados têm função

de curar. Levantei minhas mãos na direção da entidade sofredora, tendo, naquele

instante, um sentimento de grande compaixão. Entretanto, quando emiti minhas

vibrações, acabei por mentalizar uma cor rosada. Foi um fluxo muito forte que

envolveu, inclusive, o meu chacra cardíaco.

Na sequência, abri os meus olhos materiais e observei que os demais médiuns

ainda emitiam os seus magnetismos. Ergui novamente minhas mãos, no intuito de

vibrar mais uma vez para o espírito necessitado. Tentei mentalizar uma cor verde,

mas o fluxo foi em tom rosa de novo. Não entendi o que ocorria comigo. Por que eu

não conseguia obedecer à orientação do Joãozinho?

No entanto, o trabalho estava terminando. A entidade em desarmonia havia se

acalmado, passando do choro para o adormecimento. Em seguida, foi levada pelos

espíritos de luz. Cinira voltou a si, embora um pouco atordoada.

Eu estava um pouco cansado. Havia me envolvido emocionalmente com

aquela situação, fazendo uma doação muito intensiva. Também estava cismado com

a cor que havia mentalizado, meio que involuntariamente. Só tonalidades em rosa é

que eu havia conseguido vibrar. Mas, permaneci quieto.

Contudo, para minha surpresa, Joãozinho da Mata começou a falar:

- Tem alguém que não mandou energia verde! Tem uma pessoa que não mandou o

verde!

Ele sorria e repetia aquilo, olhando para mim. Fiquei encabulado e até estupefato

pela entidade ter percebido o teor diferenciado de vibração que eu emitira. Mas, o

menino espiritual colocou:

- Não fica chateado não, tiozinho! Foi o seu guia que jogou o rosa. Sabe o porquê?

Eu balancei negativamente a cabeça e Joãozinho arrematou:

- Precisava também do rosa, tio. Aquele irmãozinho precisava de energia de amor.

Essa energia que você jogou, completou a outra que eu tinha pedido.

Naquele dia, pude constatar como é bonito poder assistir uma entidade bem

acoplada em seu médium. A dupla Sra. Divina/Joãozinho da Mata trabalhava com

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grande afinidade, promovendo singelas, mas marcantes, comprovações da presença

da Espiritualidade aqui no Plano Terreno. Este fato demonstrou, para mim, a forte

visibilidade, no Plano Astral, daquilo que emitimos. Se estamos, por exemplo,

guardando mágoa ou irritados com alguém, enviamos bioenergias de má qualidade

para outras pessoas. Imaginemos que, no dia a dia, em casa ou caminhando pela rua,

que ao pensarmos negativamente, estamos mandando, para os nossos desafetos,

verdadeiros petardos mentais em vibrações e cores que denunciam a nossa atividade.

Visualizemos, ainda que brevemente, a nós mesmos, naqueles momentos de

desarmonia, emitindo energias escuras ou rubras de irritação na direção de alguém.

Somos responsáveis por isso, ao longo de nossas vidas. Mais à frente, colheremos o

que semeamos…

Numa outra oportunidade, pretendo contar pelo menos mais um fato

envolvendo a Dona Divina e o adorável Joãozinho da Mata. Salve todos os erês!

Onibejada!

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24- OFERENDA A OXÓSSI E DESDOBRAMENTO ESPIRITUAL

Num certo 20 de janeiro, dia comemorativo de São Sebastião, eu e Tetê Souza

fizemos uma oferenda à Linha de Oxóssi. Nossa intenção era não somente

homenagear aos caboclos e demais trabalhadores ligados à energia das matas, mas

também pedir ajuda para um grupo de pessoas vinculadas a nós. Assim, ofertamos

aqueles grãos tradicionalmente preparados, de maneira a que aquelas bioenergias

fossem utilizadas pelos guias e guardiões da citada linha de trabalho, em favor de

todos nós, estimulando saúde e harmonia em nossas vidas.

Na madrugada de 22 de janeiro, para minha surpresa, ocorreu um

desdobramento espiritual. Eu estava num local amplo, onde ocorria uma reunião com

várias pessoas conhecidas projetadas, dentre elas Tetê Souza e meu primo Márcio.

No entanto, naquele encontro familiar, no Astral, havia um intruso. Era um homem

desencarnado, muito falante e irônico, um típico espírito que pode ser avaliado como

zombeteiro.

Enquanto ele se movimentava naquele ambiente, tentando interagir com uma

ou outra pessoa, pude observá-lo com alguma atenção, até que uma voz me disse:

“Ele quer afastar o Márcio, para ficar com a mulher dele!” Este aviso, de um guia

mais sutilizado, invisível a mim naquele recinto, deixou-me mais atento.

Assim, passei a observar melhor o obsessor, acompanhando-o a uma certa

distância de seus passos, no lugar, que se parecia com um sítio, cujo portão tinha a

aparência de ser de madeira.

Em certo momento, nos sentamos em cadeiras e bancos, todos brancos. A

nossa frente, pessoas estavam indo falar aos presentes, alternando-se em suas

mensagens. Então, após um tempo, meu primo Márcio levantou-se, pois desejava

prestar um depoimento pessoal. Ele relatou um período de sacrifício em sua vida,

destacando um esforço extra que teve que realizar, para superar uma situação

desagradável.

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Logo a minha frente estava sentado o zombeteiro, prestando muita atenção às

palavras do Márcio. O espírito perturbador, ao ouvir a conclusão do meu primo, logo

se manifestou: “E depois disso, o que aconteceu com você? Conte aí!”

Eu me aborreci com a intromissão dele, pois compreendi que o obsessor queria

que o Márcio discorresse sobre a doença que o afetou, naquele período de lutas

terrenas. O ser queria humilhar ao meu primo e talvez ele estivesse, até mesmo,

envolvido ou contribuído para a patologia. Então, tive um impulso para fazer algo.

Comecei a olhar concentradamente para as costas da entidade. Lancei um cordão

energético até o meio de sua coluna e subi até o seu pescoço, já na base do crânio.

Quando foquei neste ponto, virei a minha cabeça para a esquerda, de forma abrupta.

Quase no mesmo instante da minha ação, o obsessor também virou a sua cabeça

involuntariamente, de maneira brusca, à esquerda.

Logo a seguir, ele exclamou: “Ai! Dei um mau jeito! Fiquei até com dor de

cabeça!” Na verdade, ele não havia percebido a minha manobra bioenergética, que

fora induzida por um guardião de Umbanda, invisível a todos nós no recinto.

Eu guardei, em minha mente, que ele havia ficado com dor de cabeça. Concluí

que era ali que eu devia atuar, no restante daquela reunião no Astral, de modo a

expulsá-lo sutilmente do local. Talvez, até mesmo, ele pudesse ser levado pelos

exus...

Com este propósito, após a fase de mensagens e depoimentos daquele encontro

no Mundo Extrafísico, passei a seguir o intruso por todos os lugares que ele

perambulava, naquele ambiente. Conforme eu irradiava bioenergias para pressionar a

sua cabeça, ele punha uma mão ou a outra, alternadamente, sobre ela, devido ao

desconforto. Assim, fui o empurrando até o portão do sítio e esta foi a última

imagem que retive na memória, após retornar para o meu corpo material.

Dias depois, encontrei com o meu primo e sua esposa, contando-lhes a minha

experiência extracorpórea. Ela não estranhou o fato e me relatou duas viagens astrais

recentes dela. Na primeira, ocorrida em 18 de janeiro, portanto antes da oferenda

para Oxóssi, ela disse ter encontrado no Astral dois homens. Um deles dizia que ela

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deveria se casar com o outro, que estava ao seu lado. Porém, este tinha a mesma

fisionomia de Márcio, seu marido. Conforme o homem, ela deveria assinar um

documento para concluir o “casamento”. Ela achou aquilo esquisito, desconfiando,

pois já era casada com o meu primo. Depois, despertou e não esqueceu a vivência.

Na segunda projeção dela, em 22 de janeiro (mesmo dia que o meu

desdobramento), ela me revelou que, no Astral, o “Márcio” (na verdade, o espírito

que tentava se passar por ele) dizia que ia para uma “balada”, apresentando-se mais

jovem e sorrindo muito, o que não condiz com a personalidade do verdadeiro esposo.

Portanto, ela estava passando por um assédio sexual no Plano Extrafísico,

confirmando a minha viagem astral, que teve a função de tentar afastar pelo menos o

obsessor principal. Este caso é bem interessante, demonstrando que as bioenergias

disponibilizadas em oferendas são utilizadas para trabalhos fora da matéria, já que os

espíritos zombeteiros e similares são bem densos vibratoriamente. Estas entidades,

até mesmo, conseguem alterar as suas aparências, com o intuito de nos ludibriar no

Mundo Sutil. É preciso estar sempre atento, seja aqui, como nas dimensões

imateriais...

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25- UMBANDA PRESENTE NO LAR

Corria o ano de 2010. Eu atravessava um período em que não trabalhava

regularmente em nenhum centro espiritualista, por motivo de força maior. Naquela

oportunidade, tive uma prova de que a Espiritualidade está sempre por perto. Era

noite e naquela época minha nora e meu enteado residiam temporariamente em meu

lar, até que uma obra terminasse na casa deles. Recentemente, no final de 2009,

haviam nascido minhas netas gêmeas que, obviamente, também estavam conosco na

residência de dois andares. No andar térreo, ficavam o meu enteado, a minha nora e

as duas pequeninas.

Bem, como dizia, estávamos em 2010. Era uma noite e fazia calor. Eu não

conseguia dormir, pois eu ouvia, lá do andar de baixo, os resmungos de uma de

minhas netas, no colo de sua mãe. A criança não dormia, embora sua genitora

estivesse a niná-la com muito esforço. O relógio próximo de minha cama marcava

bem mais que 23 horas.

Então, comecei a escutar o preto-velho, que dizia: "Um espírito perturbado

está incomodando a criança!" Fiquei triste com a notícia e logo se instalou uma

dúvida em minha mente. Como eu deveria agir? Descer e interferir diretamente na

questão, ou simplesmente orar? Depois de alguns instantes, comecei a pedir pela

menininha, entrando em oração. Senti grande compaixão pela minha neta e também

pela mãe, uma jovem que atingira a maternidade recentemente, pela primeira vez,

numa gravidez dupla. Porém, Pai Cipriano voltou a se comunicar: "Tem um obsessor

perturbando a criança!" Angustiei-me, pois queria ajudar sem interferir nos tratos da

mãe em relação a sua filha. Mas, na minha mente, agora, ecoava repetidamente: "É

um obsessor! É um obsessor! ..."

Nesse contexto, levantei-me do leito e desci as escadas rumo ao primeiro

andar. Chegando à sala, vi minha nora com os olhos vermelhos de sono e, em seus

braços, minha neta. A jovem mãe estava sentada no sofá, com um semblante cansado

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e bem desanimado, enquanto minha neta contraía seu corpinho e esticava os

bracinhos alternadamente, como se tentasse se libertar de algo.

Sentei-me do lado das duas e disse que eu estava com insônia também. Em

seguida, calei-me. Minha nora comentou: "Ela não quer dormir de jeito nenhum!" Na

sequência, descansei meu braço esquerdo na poltrona do sofá e virei a palma da mão

para cima. Pedi, mentalmente, que descesse do Alto a energia necessária ao

abrandamento daquela situação, de modo que eu a absorvesse pela mão esquerda e,

após circular pelo meu corpo, a transmitisse para minha neta através de minha mão

direita. Em ato contínuo, coloquei minha mão destra bem próximo a testa do bebê.

Então, aconteceu algo inesperado: a menininha adormeceu em dois ou três segundos!

Foi como aplicar uma anestesia na criança, que entrou em sono profundo, parecendo

até mesmo estar desmaiada.

A mãe, com os olhos um tanto arregalados, exclamou: "Pablo, ela dormiu!"

Seu olhar parecia indagar como eu havia realizado aquilo. Eu preferi não falar nada,

pois na realidade não esperava um efeito tão drástico e rápido. Eu também estava

espantado, mas, ao mesmo tempo, muito agradecido a Deus e aos guias espirituais.

Fiz um sinal a minha nora, que se levantou com a menina prostrada, levando-a

para o berço. Em seguida, levantei-me e fui até a escada. Ao subir os degraus, senti

uma pressão na cabeça. Logo entendi o que aconteceu. A energia transmitida à

criança não só a anestesiou, como também desacoplou a entidade perturbadora, que

agora estava atrelada a mim magneticamente.

Fui me deitar numa situação um tanto desconfortável, mas eu sabia que, não

raras vezes, durante a noite, os guias ou guardiões da Umbanda acabam por levar

espíritos desequilibrados. Eles atuam, utilizando o ectoplasma do médium, para

imobilizar entidades obsessoras, encaminhando-as para um local adequado ao seu

tratamento.

Na manhã do dia seguinte, despertei com boa disposição. Na noite anterior, se

não tivesse conseguido adormecer após a ajuda a minha neta, teria que tomar alguma

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providência, como fazer um banho de ervas para mim, por exemplo. Assim como eu,

minha neta acordou bem e sem sinais de qualquer problema. Salve Umbanda!

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26- SESSÃO DE UMBANDA ALÉM DA MATÉRIA

Naquele 26 de outubro, data próxima ao dia de São Crispim e São Crispiniano

(25 de outubro), aconteceria uma festa de crianças no terreiro. Em alguns centros que

apresentam a corrente espiritual dos erês Crispim e Crispiniano, não é incomum uma

sessão específica de ibejis nesta época.

A citada reunião transcorreu positivamente, mas este relato não é sobre os

trabalhos realizados no Plano Físico, no período normal, mas sim no que veio

depois...

Bem, no dia seguinte (27 de outubro), eu e Tetê Souza voltamos ao terreiro

para limpar o local e retirar as oferendas. Naquela oportunidade, teríamos a ajuda

valiosa de duas médiuns da casa, Sofia e Branca.

Entretanto, eu e Tetê Souza acabamos por acordar muito cedo naquele dia e

resolvemos partir logo para o centro. Assim, chegamos antes que as nossas

colaboradoras.

Em dado momento, enquanto eu lavava algumas louças, ocorreu a

aproximação do Zequinha da Calunga, que trabalha pela minha mediunidade há

muitos anos. O menino espiritual me falou: "Pergunte para a Branca se ela não teve

um sonho esta noite!"

Minutos a seguir, a campainha foi tocada. Desci para atender e eram as

médiuns amigas aguardadas. Depois de poucos instantes, estávamos todos no andar

de cima da instituição, onde aconteciam os trabalhos de terreiro, e onde estava a

necessidade da tarefa de limpeza. Lavei mais um pouco de louça e, então, indaguei à

Branca se, por acaso, havia tido algum "sonho" na noite passada.

Ela, que varria o salão, ficou um pouco atônita com a pergunta. Porém, após

alguns segundos, Branca lembrou-se subitamente de ter estado ali naquele ambiente.

Disse, em síntese, que parecia que a festa de ibejada, da qual participara como

médium no dia anterior, havia continuado mesmo após o encerramento dos trabalhos

no Plano Material. Narrou que, no entanto, havia uma diferença marcante: a

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quantidade de crianças que ela viu, no salão, era muito maior do que o número de

entidades que incorporaram nos médiuns. O terreiro, segundo ela, estava com muitos

meninos e meninas em intensa atividade, em meio aos doces que permaneceram às

mesas.

Então, entendi porque o Zequinha, talvez meia hora antes, havia me falado

para perguntar se ela tivera algum "sonho". Ele, na verdade, se referia a um

desdobramento espiritual que a médium realizara, com certo grau de rememoração.

Em seguida, Branca me informou que, quando fiz a indagação, ela ficou um

tanto atônita porque sabia que eu me referia a uma projeção astral, imaginando que

eu havia me projetado e encontrado a ela no Astral. Porém, Branca não se recordava

de ter me visto no Mundo Extrafísico, ou sequer de um sonho comum comigo.

Contudo, a minha pergunta acabou por fazê-la lembrar que havia estado no terreiro.

Ela, inclusive, afirmou que se eu não tivesse indagado, provavelmente esqueceria por

completo sua experiência noturna.

A seguir, fiquei satisfeito com a ocorrência e com a interferência positiva de

Zequinha, de modo que o fato não ficasse “perdido” no inconsciente da mente de

Branca. Porém, ao descer a escada mais uma vez, para realizar uma tarefa no

primeiro piso do centro, o erê se aproximou novamente de mim. Ele me passou que

eu deveria escrever um relato sobre o acontecimento e assinalou alguns pontos

importantes a explicar, que coloco a seguir.

O primeiro é sobre as diversas crianças que estavam no Astral. Algumas delas,

que não incorporaram nos médiuns, eram também trabalhadores espirituais. Quando

um erê se manifesta por um médium, ele não vem sozinho, mas, na realidade, traz

consigo seus companheiros de tarefa, que integram uma falange.

O segundo aspecto apontado pelo Zequinha foi sobre a presença, ali, de

crianças desencarnadas em um período relativamente recente. Como por questões

cármicas tiveram uma vida material curta, ainda são espíritos infantilizados que

precisam de carinho e ambientes alegres, de modo a superarem o afastamento

abrupto de suas famílias terrenas. Assim, esta fase de transição se torna menos

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difícil, até se adaptarem à família espiritual que habita no Plano Astral. Em outras

palavras, estes seres assinalados não são tarefeiros da Umbanda, mas sim espíritos

sendo beneficiados.

A terceira questão, que me foi pedida pelo erê para abordar no texto, foi

relativa à presença de Branca desdobrada na camada energética imediata ao terreiro.

Ele me passou que a médium estava no local, em tarefa, interagindo com os espíritos

ali presentes e doando sutilmente suas bioenergias (ectoplasma), ou seja, sem

perceber. Por outro lado, ela estava recebendo as vibrações espirituais positivas da

corrente dos ibejis, isto é, ocorreu uma troca benéfica para todos.

Bem, estes eram os três pontos que Zequinha solicitou neste relato. Porém,

aproveito a oportunidade para discorrer sobre questões adjacentes ao fato. Uma delas

é assinalar que a experiência fora do corpo de Branca demonstrou, na prática, que as

atividades de um centro espiritualista continuam após o término da sessão no

ambiente material. E é por isso que, em boa parte dos terreiros, se pede que, após o

fim da reunião, as pessoas não fiquem no local conversando sobre temas alheios às

atividades espirituais. Nesses casos, abordar temas negativos ou excessivamente

mundanos pode perturbar as tarefas que perduram no Astral.

Por fim, assinalo uma questão: como Branca retornou, em desdobramento, ao

centro umbandista? Há algumas hipóteses possíveis. Uma delas é que ela, pelos

vínculos magnéticos estabelecidos durante a sessão, retornou naturalmente para o

local, durante a noite, enquanto seu corpo repousava em seu lar. Porém, creio mais

na possibilidade de um amparo espiritual mais direto sobre a médium, ou seja, um

guia dela a trouxe ao terreiro, ou mesmo o próprio Zequinha junto com a entidade

que pertence à coroa mediúnica de Branca.

Fecho este relato, agradecendo a mais esta vivência, que foi especialmente

"patrocinada" pelos nossos amigos espirituais da Linha das Crianças. Onibejada!

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27- OFERENDA A EXU E O RESULTADO NO PLANO ASTRAL

Naqueles dias, estávamos nos movimentando para transformar um local que

fora residência (num passado distante) e, depois, um sítio de festas, em um ambiente

adequado para realizar sessões espiritualistas. Em resumo, era preciso formar uma

egrégora espiritual naquele lugar, de maneira a possibilitar trabalhos mediúnicos

com segurança e efetividade.

Primeiramente eu, Tetê Souza, George e Vânia realizamos uma limpeza no

local, na Linha de Ogum. Um tempo depois, foi preparada uma oferenda bem

consistente e ampla a exus e pomba-giras. O objetivo da limpeza e da oferenda era a

retirada e encaminhamento de possíveis espíritos desequilibrados, que estivessem

morando ou frequentando aquela propriedade.

Nos dias subsequentes à entrega dos padês à Linha de Exu, a cada noite, eu era

retirado do corpo físico durante o sono e levado para o Astral, de modo a ver o que

estava acontecendo no espaço relativo ao sítio. Nessas oportunidades, também fui

chamado a atuar por lá, somando as minhas bioenergias com aquelas ofertadas nos

padês. A combinação das forças dos médiuns (ectoplasma humano) com as energias

das oferendas (ectoplasma dos alimentos) permite uma maior eficácia nos trabalhos

mediúnicos, sobretudo em situações de maior densidade vibratória.

Na segunda e terceira noites após o trabalho para os guardiões, fui levado em

desdobramento para constatar várias entidades apegadas à Terra por questões

sexuais. Elas transitavam pelo local e não posso narrar o que vi, pois é impublicável

num relato espiritualista. Apenas assinalo que presenciei orgias de espíritos

perturbados. A antiga casa de festas deve ter abrigado, obviamente, não apenas

aniversários e comemorações familiares, mas também fora alugada para esbórnias.

Na quarta noite, também projetado lucidamente, percebi que aquela conotação

sexual mais forte havia sido transformada. Muitos espíritos haviam sido

encaminhados, mas restavam alguns. Estes remanescentes eram, na sua quase

totalidade, adolescentes ou jovens. Haviam falecido prematuramente e estavam

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muito afinados com ambientes festivos, como aquele que tinha perdurado naquele

sítio por sete anos.

Um jovem, em especial, me chamou fortemente a atenção naquela experiência

extracorpórea. Ele transitava pelo local como um zumbi. Seus olhos eram meio

vidrados. Parecia ver o ambiente, mas estava muito focado no seu mundo interno.

Agia como um autômato. Ele havia sido conduzido para fora do sítio, pelo portão,

por duas ou três vezes, por meio de uma corrente energética invisível para mim. No

entanto, de onde eu estava, pude notar ele retornando pela entrada teimosamente,

como se estivesse sonâmbulo, pouco tempo após as saídas.

Entretanto, na última oportunidade em que o vi adentrando o quintal frontal,

fui tomado por uma força. Eu estava influenciado mediunicamente em pleno Mundo

Astral. Era a energia decidida de um guardião, num nível vibratório mais sutil que o

meu, invisível às entidades presentes, que se assenhoreava do meu corpo

perispiritual.

Em seguida, fui em direção ao jovem e, sem qualquer cerimônia, foi aplicada

uma verdadeira surra na entidade perturbada. Eu percebia meus braços e pernas

atuando com vigor, sobretudo no rosto do jovem. Pude perceber, durante os golpes,

que os olhos dele continuavam perdidos no vazio. Ele não despertava por nada. Até

mesmo parecia estar anestesiado. Não demonstrava dor.

Sentia pena dele, mas eu praticamente não tinha controle sobre o que fazia. Eu

questionava mentalmente a surra, até que o rapaz caiu ao solo. Joguei-me por cima

dele e alguns socos ainda foram desferidos no seu rosto astral, que já estava meio

amarrotado. Então, em dado instante, observei que seus olhos já me viam. Parecia ter

despertado do seu transe. Agora ele tinha um olhar mais humano e presente, estando

surpreso.

Na sequência, meus braços pararam e voltei a ser eu. A energia do guardião se

afastou e pude conversar com o desencarnado. Expliquei-lhe que aquele lugar estava

se modificando e que ele não poderia morar mais ali. Coloquei que seria melhor

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aceitar e ir para outro ambiente, onde seria esclarecido. Teria uma nova

oportunidade, mas não ali. Não precisava ficar preso ao passado...

Tendo dito isso, ergui-me. Em seguida, vi o rapaz caminhar, meio assustado,

para fora. Contudo, ele tinha um semblante desperto. Havia acordado, depois de um

sono ou transe muito longo. O exu, através do meu corpo astral e bioenergias mais

densas, havia provocado o despertar daquele desencarnado, através de um método

rude, mas eficaz (há outros meios, sem dúvida, conforme a situação). A minha parte

plenamente consciente na tarefa foi travar aquele curto diálogo. Parece que deu

certo…

Depois, conversei com vários outros jovens que permaneciam no ambiente.

Tinham fisionomias tristes, porque já estavam cientes de que não poderiam

permanecer ali. Tive pena deles, mas coloquei que ficariam muito melhor em postos

socorristas e comunidades astrais acima do Plano Terreno. Havia um clima de

despedida…

No momento posterior, eu despertava na minha cama, com o meu corpo todo

doído. Houve um reflexo de toda a ocorrência sobre o meu perispírito, com alguma

somatização no físico. Mais uma vez, eu constatava que trabalhos densos

vibratoriamente não são nada fáceis...

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28- O SR. PENA VERDE E MEU PROCESSO CÁRMICO

No início de minha jornada mediúnica, quando eu já participava de

descarregos, cortes de demanda e processos desobsessivos, às vezes sentia os

impactos mais fortes de bioenergias e entidades negativas. Um sintoma

relativamente comum, naquela época, era ficar com um quadro de tonteiras mais ou

menos intenso, depois que eu colaborava em atividades vibratoriamente densas.

Em determinada semana do ano de 1997, após um trabalho desobsessivo, eu

vinha sentindo um certo desconforto que incluía um pouco de enjoo e tonteiras

intermitentes. Na sessão seguinte do centro espiritualista, em um sábado, comentei

isso com o Caboclo Pena Verde, que se manifestava através da médium Tetê Souza.

Indaguei: "Essas tonteiras não são uma labirintite?” Ele, com a firmeza que sempre o

caracterizou, me disse: "Moço, isto que você está tendo não é doença não!” Em

seguida, o Sr. Pena Verde colocou: "Faça esse trabalho que eu vou indicar e vou

provar pra você que isso não é doença!"

Aceitei realizar a breve oferenda, da qual não me recordo mais, e a médium

Tetê Souza me auxiliou nos procedimentos. Na segunda-feira, eu retornei às minhas

atividades profissionais e, para minha surpresa, mesmo tendo que digitar muitos

textos em frente ao computador, não senti qualquer sinal dos desagradáveis sintomas

de antes. Fiquei muito bem e, na próxima oportunidade, no terreiro, agradeci ao

Caboclo.

Em 1999, o problema ressurgiu. O contexto da minha vida não era nada fácil

naquela época. Eu tinha que trabalhar cotidianamente como funcionário de uma

empresa, ao mesmo tempo em que estava escrevendo a minha tese de doutorado.

Além disso, nos finais de semana, participava intensivamente das sessões

umbandistas. Desta forma, as tonteiras vieram mais fortes e constantes, o que me

tornou um ser irritadiço em boa parte do tempo. Havia um estresse, mas logo entendi

que a origem da questão não era apenas devido ao desgaste.

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Quando tive chance de recorrer ao Sr. Pena Verde, indaguei ao Caboclo

porque eu estava passando por aquela situação novamente, já que eu era tão dedicado

à Umbanda. O guia espiritual me respondeu com outra pergunta: "Você sabe quantas

cabeças você já cortou?" Fiquei atônito por um tempo com a resposta e nada falei,

pois obviamente não recordava minhas vidas passadas. Então, coloquei: "Mas, eu

não trabalho na Umbanda forçado por nada. Eu vou porque gosto!" Na sequência, o

Caboclo assinalou: "Continue assim, meu filho, porque se você agisse de outra

forma, o seu destino seria a psiquiatria."

Essa foi a essência do diálogo. Ele me falou mais algumas palavras e

orientações, não deixando de me ajudar. Porém, fiquei ciente de que teria um período

desafiador em minha vida, o que de fato aconteceu até o ano de 2002. Foi uma

travessia muito difícil para mim, com tantas tarefas e, ao mesmo tempo, com uma

saúde flutuante e um tanto combalida. Naquela fase, percebi que a Lei Cármica se

impõe em certa "dose", apesar de todo esforço e dedicação que possamos exercer no

"aqui e agora", que às vezes não é o suficiente para contrabalançar totalmente os

desvios que cometemos no passado, em sã consciência. Contudo, superei todos os

obstáculos, não deixando de cumprir minhas metas.

Alguns anos depois, enveredei pelo estudo sobre regressão a vidas passadas.

Não só realizei um curso, como também me submeti ao processo, podendo acessar e

revivenciar diversas vidas pretéritas. Descobri que boa parte de minhas antigas

experiências estava ligada a guerras e, em algumas ocasiões, atuando no campo da

magia negativa. Numa das últimas sessões de regressão, em especial, retornei à

época em que fui um samurai. Quase ao final da experiência regressiva, lá estava eu

cortando a cabeça de muitos prisioneiros, no Japão Feudal.

Somente dias depois de ter novamente vivenciado o que fiz no passado,

recordei as palavras do Sr. Pena Verde: "Você sabe quantas cabeças você já cortou?"

Então, finalmente compreendi melhor porque, anos antes, eu havia passado por

aquele período de tonteiras tão desagradáveis.

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Ao final deste relato, é importante salientar que, quando tive o problema de

saúde, fiz uma longa bateria de exames que incluiu, até mesmo, uma tomografia

cerebral. O médico apenas me disse, à época, que os meus sintomas não tinham uma

causa orgânica clara, talvez sendo algo de fundo emocional. Bem, o médico fez o

que pôde. Quem realmente sabia da origem do meu problema, ajudando-me dentro

dos limites da Lei de Ação e Reação, foi o Sr. Pena Verde. Okê Arô Oxóssi!

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RELATOS DAS VIVÊNCIAS

(PARTE 2 – COM PSICOGRAFIAS)

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A- PAI CIPRIANO: “FOLHAS AO VENTO”

Há cerca de quatro anos, o preto-velho que trabalha através da minha

mediunidade me ditou algumas mensagens. Guardei-as zelosamente, mas acabei

esquecendo-as, já que minhas atividades do dia a dia são intensas. Ontem, 13 de

agosto, neste mês em que vibra forte a irradiação de Obaluaiê/Omulu, acabei

achando uma mensagem de Pai Cipriano. Li com atenção e senti que era um bom

momento de divulgá-la. O texto está exposto na sequência e foi intitulado “Folhas ao

vento”.

A natureza sempre ensina. Todos já devem ter notado que, por um motivo

ou por outro, as folhas das árvores se soltam e caem. Umas amareladas, outras

escurecidas e algumas ainda verdes. E qualquer vento leva essas folhas na

direção para onde sopra. Essa direção, quem sabe dizer qual é? Às vezes, por

um capricho da natureza, o vento rodopia e rodopia. As folhas giram e

praticamente não saem do lugar.

Bem, quem sabe observar a natureza e olha para o ser humano, vê que é

tudo a mesma coisa. Então, tem algumas pessoas que se deixam levar por

qualquer vento. Preferem não pensar e acabam por serem levadas pela “sorte”

ou pelo “azar”. Ah filhos de fé! Não existe sorte ou azar. O que existe é o

resultado do que se pensa. O “azar” acontece a quem não pensa direito. É

preciso planejar um pouco mais a sua própria vida. Se você quer um teto,

precisa trabalhar e economizar. Se você quer uma boa esposa ou bom marido,

precisa aprender a amar e respeitar outro ser humano. Se você quer que

tenham paciência com os seus erros, precisa aprender a perdoar os outros.

Ah filhos de fé! Se permitirem que os maus ventos carreguem vocês,

facilmente uns vão cair no atoleiro, outros em buracos fundos e alguns em

verdadeiros precipícios. É bom sempre evitar o vento do egoísmo, o vento da

intolerância e o vento do ódio. Tem outros ventos também bastante ruins, mas

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os filhos de fé devem saber quais são... Não preciso apontar cada tipo que leva à

infelicidade. Mas, preciso lembrar que não se deixem levar por qualquer

engano. A natureza ensina! Mas, é muito importante querer observar e

aprender...

Para aqueles que não estão entendendo, vou deixar um último comentário

nesta mensagem. Você que me lê, agora, pense um pouco na própria vida.

Procure lembrar os acontecimentos dos últimos meses ou anos. Se você está

recordando de algumas tristezas ou derrotas, que se repetem de tempo em

tempo, é porque está dentro de um rodamoinho que você mesmo criou ou se

deixou levar. Não é hora de você mudar a direção de sua própria vida?

Ao reler o texto de Pai Cipriano, pude fazer uma proveitosa reflexão sobre a

minha jornada até este momento. Espero que bons ventos levem esta mensagem aos

amigos leitores e que tenham também esta oportunidade. Salve Pai Cipriano! Salve

as Almas!

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B- UM TRABALHO DE ZÉ PELINTRA

Era uma noite agradável de 29 de agosto de 2011. Aproximava-se uma

entidade conhecida. Logo entendi que o “Seu Zé” vinha me contar, sobre um caso

em que ele ajudou uma pessoa. Busquei papel e aguardei o influxo psicográfico. Não

demorou e surgiu a mensagem a seguir, cujo título era “Mulher soturna”.

Estava, eu, numa casa noturna. Uma mulher olhava para o vazio, soturna,

e parecia me ver. Eu, ali, atuava como guardião. Buscava alguém, cujo coração

precisasse de proteção. Sabia que ela não me via, nem pressentia. Apenas queria

uma “solução”, para sua mais recente decepção. Eu conhecia o seu caso, que era

o da vaidade feminina que vai ao chão. Então, ali estava ela, com um copo na

mão, remoendo desilusão. Não era o primeiro copo, nem o segundo. O seu

pequeno mundo se esvaía, através de cada copo que fluía, pelo balcão, em sua

direção. E ela tinha companhia de uma entidade que foi, em vida, um beberrão.

Não era coisa boa, não! Estava se metendo em “buraco sem fundo”, acreditando

que tudo poderia ser esquecido, através do álcool, estimulada pelo intruso.

Assim, acompanhei a mulher de mais perto. O beberrão desencarnado,

acreditando ser muito esperto, tentou me “peitar”. Mas, não pôde me encarar,

porque eu estava agindo pelo lado certo. A luz, que hoje me guia, ajudou e ele

teve que respeitar. Fiquei perto dela, soberano, e pude lhe falar. De alguma

forma ela me ouviu e começou a enjoar. O copo, de sua mão, no chão foi parar.

A mulher foi para casa chorar suas mágoas, afastando-se de certos perigos.

Cumprido estava o serviço, deste Poeta do Rio Antigo.

Após o término do texto, levantei-me e fui beber um pouco de água. Retornei e

li com calma o conteúdo. Tratava-se de uma atividade de proteção espiritual do Sr.

Zé Pelintra, narrada por ele mesmo. Achei muito interessante a mensagem, bem

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como bastante autoexplicativa. Qualquer pessoa de boa vontade leria o assunto e o

compreenderia bem. Eu não teria nenhum comentário adicional a fazer.

No entanto, fiquei bastante curioso em conhecer outros trabalhos espirituais do

“Seu Zé”. Acreditei que ele voltaria, em outras oportunidades, para narrar mais

casos. Quem sabe até ele me ditasse um livro sobre suas tarefas?! Aguardei com boa

disposição, por novas visitas do amigo espiritual...

Bem, estou esperando até hoje, fevereiro de 2017, e ele não voltou para

escrever. Aproximou-se de mim, algumas vezes, mas por outros propósitos. O que

ele tinha que me passar, pela psicografia, já o fez. Quem sabe no futuro?

Nos trabalhos psicográficos, como na mediunidade no geral, o médium precisa

aguardar o que vem do Plano Espiritual. Não pode ter ansiedade e “passar à frente da

entidade”. O médium precisa, simplesmente, ter a boa vontade de cumprir a missão

que foi programada, antes do reencarne. Como não recordamos a nossa programação

espiritual, vamos vivenciando o “fluir da vida”. Aproveito para deixar um “salve” ao

Sr. Zé Pelintra. Laroiê Exu! Exu é mojubá!

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C- PAI CIPRIANO: “PONTAS SOLTAS”

Naquela manhã de segunda-feira, eu estava me sentindo um tanto letárgico,

mas também muito tranquilo. Não estava preocupado com o horário de ir trabalhar.

Uma força maior do que a minha me impelia a ficar em contemplação. Tudo o que eu

fazia no quintal de casa era meio demorado e sistemático. Em definitivo, embora

pudesse me atrasar, não estava com pressa de sair para o trabalho. Um tempo depois,

notei que, na verdade, eu estava irradiado pela presença espiritual de Pai Cipriano.

Lembrei que, no sábado imediato, portanto há dois dias, ele havia dado consultas

através da minha mediunidade no centro. Então, percebendo que a entidade queria

passar uma mensagem, providenciei papel e caneta, anotando as palavras do mentor.

O texto está exposto, a seguir, sendo intitulado “Pontas soltas”.

A vida de uma pessoa é como um fio grosso, formado por muitos fios

finos. Cada fio deste, mais fino, é uma tarefa ou missão. Quando esses fiozinhos

têm um bom início e um bom fim, eles ficam juntos, bem ajustados uns aos

outros. Nesse caso, a vida da pessoa é quase como uma corda forte. E sendo

assim, dá sustentação e segurança a quem precisa.

Ah, filhos de fé! Mas quando cada ação tem um início meio torto e não

chega ao final, começam a aparecer pontas soltas. Elas são um problema que só

cresce, ao longo do tempo. Pontas soltas podem se embolar com outras também

soltas, surgindo até nós-cegos, bem difíceis de desamarrar.

Uma vez, alguém falou com esse velho, aqui presente, que precisava ter

uma casa para morar. Estava difícil pagar o aluguel... Então, perguntei porque

o dinheiro dele não estava sobrando. E ele me respondeu que tinha muitos

gastos. Trabalhava muito, mas precisava distrair a cabeça... Esse velho aqui,

então, perguntou se não era bom deixar a bebida de lado. O homem coçou a

cabeça e disse que precisava dela para relaxar um pouco. Esse velho, que de vez

em quando tem que mexer na ferida, disse que ele não estava bebendo só nos

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finais de semana. Era quase todo dia! O dinheiro estava indo embora, junto com

a cerveja...

O homem, sentado à minha frente, passou a reclamar que o emprego não

era bom. Pagava pouco... Esse velho teve que perguntar porque não tinha

terminado os estudos. Ele teve chance, mas desistiu. A resposta foi que nunca

teve muita paciência com os livros. Confirmou que sua família lhe deu condições

de estudar, mas preferia “botar a mão na massa” e ir ganhar dinheiro.

Então, esse velho teve que cutucar outra ferida. Perguntei porque havia

dispensado a companheira de jornada, porque havia rejeitado a esposa... O

homem mostrou surpresa e tristeza. Tive que dizer a ele que havia trocado o

certo pelo duvidoso. A beleza da matéria nem sempre vem junto com o caráter.

Tive que apontar que ela era também um braço forte no lar. Trabalhava e

ajudava a sustentar a casa.

Mas, esse velho não podia negar ajuda para aquele que estava sentado em

frente. Dei meus conselhos. Indiquei caminhos. Mas, tive que falar para ele que

tinha muitas “pontas soltas” na vida dele. Estava se enrolando nelas cada vez

mais. Era a hora de terminar tudo o que começou, da melhor maneira possível.

E você, filho de fé, que lê as palavras desse velho? Tem muitas pontas

soltas na sua vida? Não vale a pena examinar bem direitinho, com bastante

atenção? Ainda dá tempo... Sempre há tempo para melhorar...

Ao ler o texto de Pai Cipriano, recordei de algumas pessoas que estão quase

sempre por perto na minha vida. São amigos e amigas que têm algumas dificuldades

em suas jornadas terrenas. O conteúdo da mensagem seria útil para eles. Entretanto,

não pude me furtar a fazer uma breve revisão dos meus próprios passos. Pude

assinalar algumas “pontas soltas”, mas, no geral, minha autoavaliação não foi das

piores. Espero que eu esteja sendo lúcido o suficiente para chegar a conclusões

realistas. De qualquer forma, mantenho-me de prontidão para evitar novas “pontas

soltas”. Desejo que este relato seja útil a quem tenha a paciência de lê-lo ou ouvi-lo

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pela internet. Agradeço a presença frequente de Pai Cipriano! Salve as Santas Almas

Benditas!

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D- O HOMEM JULGA, MAS A JUSTIÇA É DE XANGÔ

Numa madrugada fria de inverno, eu acabava de despertar. Eu precisava

dormir mais! Pelo menos, era isso o que eu desejava. Entretanto, não conseguia

adormecer, mesmo permanecendo quieto, deitado debaixo de dois edredons.

Em determinado momento, algumas palavras vieram a minha mente. Logo

formaram-se frases e estas rimavam. Ignorei o fato espontâneo e inesperado. Preferia

descansar. As tarefas dos últimos dias haviam sido intensas...

No entanto, as frases continuavam a brotar dentro de minha cabeça. Rimavam

e faziam sentido. Achei o processo interessante, mas, mesmo assim, não dei maior

importância. Porém, em dado instante, compreendi melhor o contexto geral,

percebendo, também, que eu estava sendo inspirado por uma inteligência externa.

Levantei-me e acendi a luz do quarto. Fui até uma escrivaninha e consegui

papel. Apanhei uma caneta e deixei fluir, sem maiores questionamentos, o conteúdo

que chegava do Plano Espiritual. Logo estava materializada uma mensagem em tom

poético, que ponho na sequência, intitulada “O homem julga, mas a Justiça é de

Xangô”.

Eu sou o certo e o puro.

Você é errado e chulo.

Eu sou lúcido e iluminado.

Tu és estúpido e alienado.

Eu sou amparado por Deus,

Enquanto, você, inspirado pelo diabo.

Eu sou misericordioso: a própria Piedade...

Tu és indecoroso, torto, inclemente e enviesado.

Minhas palavras são corretas: a límpida justiça!

Você é como estrada incerta: cada passada o incrimina.

Minha visão do mundo é única e perfeita!

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A sua é estreita, típica de um vagabundo!

Eu sou culto! Naturalmente, mereço o melhor...

Você já nasceu bruto e será sempre exemplo do pior...

Minhas escolhas são discernimento!

Tuas decisões são como excremento!

Tudo isto parece um absurdo,

Mas apenas é o que acontece a cada momento.

O ser humano é cego e surdo!

Se julga superior e isento.

Mas, verdadeiramente isento é o Senhor da Justiça.

Não mora na Terra e não joga palavras ao vento.

Sua balança é Perfeição Divina.

Sua força a tudo permeia e ensina.

Nos meandros da vida,

Pelos tortos caminhos humanos,

Em meio a falsidades e complôs,

Reina com infinita sabedoria

A luz de Pai Xangô.

(16 de julho de 2019)

Em seguida ao fluxo inspirativo, levantei e fui beber água. No retorno, peguei

as folhas de papel e li o texto. Gostei do que estava escrito. Ao pousar as folhas

numa mesinha, reconheci a energia da entidade, ainda presente, que havia

transmitido o conteúdo. Agradeci, um tanto surpreso, mas logo lembrei que, dentro

de 11 dias, participaria de uma gira de Xangô. Tudo fazia sentido e o tema abordado

poderia ser bem útil para diversas reflexões. Kaô kabecile, meu pai!

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E- PAI CIPRIANO: “PÉS SUJOS”

Naquela tarde eu voltava de um trabalho de Umbanda, com certo cansaço,

após tantas tarefas. Entrei no banheiro, em ritmo lento, ainda pensando nas várias

atividades desenvolvidas. Ao entrar debaixo do chuveiro, que tinha uma boa água

quente, pensei: “Vou esfregar bem esses meus pés. Não gosto deles assim, tão

sujos!” Ali, passei vigorosamente uma bucha com sabão, até tirar todo o pó e a

fuligem típicos de um terreiro, após uma sessão umbandista.

Então, num dado momento, ouvi o preto-velho dizendo: “Seus pés ficam sujos,

mas seus caminhos estão ficando limpos.” Não entendi exatamente o que ele quis me

passar naquele momento, mas guardei sua frase na minha mente.

Alguns dias se passaram e, às vezes, a frase de Pai Cipriano ainda me voltava à

memória. Eu senti que meu entendimento estava incompleto e, dessa forma, emiti

um desejo de compreender melhor. Então, quando surgiu uma oportunidade, em

atendimento aos meus pedidos mentais, houve uma nova aproximação do preto-

velho, para trazer um esclarecimento mais profundo. Ele me passou as explicações,

que estão expressas na sequência.

No passado, muitas pessoas dedicaram-se à magia, movidas por interesses

próprios, que nada mais eram que suas paixões, fome de poder e de riqueza

material. Não viam seu semelhante como irmão de jornada, na estrada da vida.

Em boa parte das vezes, esses “bruxos” ou “feiticeiros” apenas se utilizaram do

conhecimento das forças da natureza, para manipular outras pessoas e tirar

proveito, prejudicando àqueles a quem deveriam considerar como irmãos.

Assim, nesta caminhada egoísta, cheios de vaidade e orgulho, foram sujando a

estrada percorrida, a cada passo, a cada vida. Diversos conhecedores da magia

foram deixando rastros de dor, sangue e revolta, ou seja, os caminhos

percorridos ficaram muito sujos.

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Hoje, muitos desses antigos magistas estão reencarnados como médiuns

umbandistas, para prestar a caridade. Assim, quando vejo que um trabalhador

espiritual da Umbanda volta para casa suado, cansado e com os pés sujos, meu

coração se alegra. E junto comigo, outros pretos-velhos, também antigos

praticantes da magia, nem sempre positiva, ficamos felizes, pois amparamos

àqueles que erraram como nós.

É preciso limpar a estrada que, aparentemente, ficou para trás. Então,

meu filho, quando chegar em casa com os pés sujos, devido ao trabalho

umbandista, repare bem que seus pés ajudaram a limpar um pouco a sujeira

que espalhou no passado. Seus caminhos estão ficando limpos.

Ao terminar o influxo psicográfico do conteúdo passado por Pai Cipriano,

fiquei satisfeito e agradecido à entidade. Olhei a minha volta e reparei num sabiá,

que acabava de pousar a poucos metros de distância. Eu estava debaixo de algumas

árvores, sentado com o bloco na mão, onde tinha anotado as orientações do guia.

Alguns raios de sol chegavam ao solo. Um passarinho, que não identifiquei, cantava

no alto de uma árvore. Havia verde e algumas flores a minha volta. Senti-me

abençoado por aqueles instantes de paz, nessa vida tão atribulada que vivemos hoje.

Nesse contexto, espero que o leitor que absorve este pequeno relato possa

também sentir esses momentos de serenidade, que agora sinto, enquanto finalizo este

texto. Salve as Almas! Axé a todos!

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F- EXU CAVEIRA: “NA HORA DA MORTE”

Uma semana após o chamado “dia dos mortos”, em 2018, eu recordava

situações em que soube sobre o apego excessivo à vida física e sobre lamentações

quanto ao desencarne de parentes ou amigos. Eu meditava acerca de todo o

sentimento tristonho ou angustiado emitido pelos seres humanos, no geral, quanto ao

passamento físico. Infelizmente, nem todos compreendem que a vida continua após a

trajetória material. E mesmo aqueles que sabem disso não deixam de se entregarem à

melancolia, quando ocorrem desencarnes em família ou de pessoas próximas. Eu me

incluo neste último grupo, de certa forma.

Em dado momento de minhas reflexões, senti a presença de um espírito amigo,

um guardião da Umbanda que atua através da minha mediunidade. Ele, captando

meus pensamentos sobre o tema, sem delongas, passou a ditar uma mensagem. Logo

busquei papel e lápis e pus o texto poético, numa folha disponível, que consta a

seguir, intitulado "Na hora da morte".

Quando chegar a hora de tua morte, abrace-a com toda a força e volúpia,

porque é nos braços dela que te libertarás da carne, que já se torna camisa de

força e cálice de amargura.

Quando chegar a hora de tua morte, entenda que ela é libertação. Perde-

se o corpo que maltrata e constringe, como dura e apertada prisão.

Quando chegar a hora de tua morte, não a veja com horror ou como

escuridão. Saiba que ela é rua estreita, rumo à infinita amplidão.

Quando chegar a hora de tua morte, aceite-a, não com resignação, mas

sim com alegria n'alma, com a energia de uma incrível canção.

Quando chegar a hora de tua morte, sorria com forte emoção. Não

permita o apego ao corpo, em decaimento, nem às posses em franca corrosão.

Sejas livre! Sejas livre! Sejas livre! Teu irmão de trabalho, teu irmão nos

caminhos, teu irmão de fé e de coração, Exu Caveira (09/11/2018).

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Quando o processo mediúnico terminou, li e reli a poesia, achando-a bela e

muito coerente. Mas, obviamente, o trabalhador espiritual se referia ao desencarne de

forma natural, ou seja, não provocado pelo indivíduo que tenta fugir as suas

responsabilidades pelo suicídio. O suicida não tem na morte uma libertação, mas

sim, carrega consigo suas angústias e aflições não resolvidas na matéria, para o

"outro lado", aumentando o seu sofrimento.

Fiquei pensando como deve ser positivo viver uma vida produtiva e

equilibrada, até chegar ao momento do desenlace, com a consciência tranquila.

Então, sim, a morte vem como uma libertação rumo a novos aprendizados no mundo

mais leve, que é o Plano Espiritual.

Bem, em 24 de junho de 2019 redescobri a mensagem poética do Sr. Caveira,

que estava guardada numa mochila. Ela estava esquecida por mim, mas o próprio

guardião me fez encontrá-la, após eu sentir que deveria remexer em vários papéis da

referida mochila, de modo a fazer uma limpeza nela. Isto me levou a escrever este

relato e eu já concluía que tudo se devia, fundamentalmente, à proximidade do exu,

pois dentro de poucos dias iria trabalhar com ele num terreiro...

No entanto, para minha surpresa, na tarde do dia 25 de junho de 2019, ao

trocar mensagens pelo WhatsApp com minha prima Sarah, soube que um amigo

espiritualista, William, estava em fase terminal de uma doença. Eu o conhecera na

década de 90, quando já era muito mais experiente que eu. Recordei que, naquela

época, William deu passagem a um Exu Caveira, na única sessão de Umbanda em

que estivemos juntos, e ele dizia que aquele espírito não pertencia a sua coroa

mediúnica. Ele comentou que aquele guardião era da corrente de algum médium ali

presente. Eu, na época, trabalhava com o Sr. Sete Encruzilhadas, que permaneceu

por mais de 10 anos à frente das minhas atividades com a Linha de Exu. Porém, há

alguns anos, atuo com o Sr. Caveira, já que a missão de um médium pode variar

conforme as necessidades cármicas e programação reencarnatória. Então, liguei os

fatos passados ao presente, compreendendo que aquele espírito que se manifestara

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pelo William, no passado, era possivelmente o mesmo que atua comigo no período

atual. Ele estava mostrando a sua presença já naquela época.

Pela manhã de 26 de junho de 2019, ao despertar e ligar o aparelho celular, vi

a mensagem de que William falecera no dia anterior, à noite. Então, tive convicção

de que a mensagem “Na hora da morte” estava relacionada ao William. E

compreendi que ele podia ir em paz e que estava partindo com a consciência de que

fez o melhor possível nessa sua trajetória terrena. Além disso, estava amparado por

seus guias, protetores e amigos espirituais. Deixo um abraço sincero ao William, que

muitas vezes encontrei, visitando meu pai doente numa clínica, onde precisava de

um suporte especial devido a um derrame cerebral. Quem é solidário, não fica ao

desamparo...

Antes de terminar este relato, faço mais um adendo. Algumas pessoas

poderiam questionar como um exu poderia transmitir uma poesia, se são

trabalhadores que enfrentam as sombras, atuando em ambientes densos

energeticamente. Porém, lembro que muitos guardiões e guardiãs, em suas vidas

pretéritas, foram médicos, advogados, padres, professores e outras profissões ou

atividades "letradas". Tiveram estudo e assimilaram culturas diversas, assim como

nós, hoje, estamos tendo a oportunidade de evoluir. Em cada ciclo reencarnatório,

vivenciamos aquilo que é mais relevante aprendermos. E aprendemos na vida física e

na vida espiritual. Em verdade, simplesmente não há morte! Ela somente é a

passagem para outra dimensão de vida! Exu é mojubá! Salve Sr. Caveira!

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PALAVRAS FINAIS

Caros amigos leitores, chegamos ao término desta obra “Vivências de

Umbanda II”. Na totalidade, foram 34 relatos, sendo 28 casos práticos sem textos

psicografados e seis em situações que incluíam psicografias de guias ou guardiões da

corrente umbandista.

Espero que essas vivências possam ser úteis a todos aqueles que buscam

compreender a Espiritualidade, em suas diversas formas de manifestação, neste

nosso planeta ainda tão denso vibratoriamente...

Deverei escrever outro livro, que, de certa forma, seja uma continuação deste.

Para isso, preciso de mais tempo, nesses dias acelerados que passamos, de modo a

buscar na memória o que vivenciei e o que tenho vivenciado na minha jornada

umbandista. Pretendo fazer isso, mais uma vez, sem mistificar ou exagerar sobre os

fatos. A Umbanda não precisa de ilusões ou de interpretações distorcidas. A verdade

sempre deve bastar...

Assim, me despeço e deixo um “até logo”, aguardando também a inspiração

dos mentores, para que, em futuro talvez breve, possamos nos encontrar através de

novas vivências compartilhadas. Abraço a todos.

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