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Reflexão a respeito da questão das Ruínas
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t)!ass^
Book_Z-
I B-3^
#^
^ 3 7-^-
AS runas,ou
MEDITAlOSOBRE AS
REVOLUES DOS IMPRIOS.cr FfC? DE yOLNEY
Par de Frana , Membro do Instituto , &cLIVREMENTE TRADUZIDA EM VULGAR
PORPEDRO CYRIACO DA SILVA.
Muitas annotagoes tanto do Author^ como doTraductor
,servem d"esclarecimento
,e au-*
thoridades ao textoj e ajuntou-se-lhe o Ca*thecismo da Lei Natural, producgo do mes*mo transcendente engenho.
Nova EdiIorrecta pelo Traductor, e Anfiotador, e em*
belle%ada com o retrato de Volney^
LISBOA:NOVA IMPRESSO SILVIANA, ANNO DE 1834t
No fim da Calada do Garcia, passando oArco, N.** 42.
Com Licena da Commisso de Censura.
Vende-se na Loja de Antnio Marques da SilvaiRua, Augnstai N,"* %,
387270>29
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DUAS PALAVRASk^^ SOBRE
^ TRADUCO.
OEasleisd^um prologo ou prefacio poziti-vamente determinassem um composto d'epitbe-tos affectuozos
,
que remato n'um^ saudaoto cortez como impertinente pelo que tem dequerer alliciar o benigno leitor; se ordenassema empreza de persuadir que as instancias d\i-ma personagem ou d'unba somma d'amigos que tinho rezolvdo a impresso da obra; se,ainda arriscando ser a fachada maior que oedi-ficio, determinassem que o prefacio seria um'patibulo austero de semelhantes escriptors, de-veria d boamente dezistii* delle; mas se elle po-de, e deve ser s , e simplesmente sobre a cau-za e o modo do livro, porque renunciarei a es-te capitulo 4 que justifica a minha inteto , -fadigas ? Seria um capricho vo
,desprezar a fe-
liz occurrencia d'uma anticipada e prudente a-pologia
,to necessria para a cruel everidade
do sculo climatrico dos authores. Como, sen-do os criticos mais eni numero , do que estesque maneira de famintos pescadores d malhaestreita., devoo tudo , o pequeno , e o granei^
* 2
iV
e querem apagar tanto os luminares maiores doliterrio Firmamento , como 6 fsforo vo
,
deixarei de prevenir-me possivelmente para umTribunal sanguinrio , onde a pureza d'intenotio aproveita, e onde emais insigne o Juiz quemaiscondemna? Esforce-se cada qual poracau-telar-se , e suspender seus terrveis arestos.
Muitos e vrios motivos exteriores (como ovilipendio e escravido da Ptria) juntos a umsem nmero d'ideias bebidas na leitura de famo-sos e liberaes Publicistas; que me ero fami-liares, fazio desde muito tempo em mim uniconceito intirrio das verdade pblitiecs engenho-sa e sabiamente enunciadas e desenvolvidas pe-lo grande Volney : o seu pez e a sua fora erofortes, tanto para as supprimir como para asexpor; o despotismo tinha abatido meu espiri-to
,e via-me reconcentrado nos estreitos limites
d'uma conversao,
onde meu desafogo,
e
meus poucos annos, rio meio d'amigos eruditos'me fazio um incanavel declamador, um in-^soffrivel intromettido. Um phenmeno haviamuito esperado pelo homem pensador , veio ar-Tancar-me deste penozo estado d'inaco: as al-gemas que j roxeavo demaziado os pulsos Por-tuguezes d'iraprovizo sedesfizero, etodo o meuser ficou agitado ,6 por um moto inslito eno-bre commovido. Eu peftso , dizia comigo; mascalando-me fico .&3. nivel d'um estpido: cum-"pre que eu procure a felicidade de acertar emmeus sentimentos, screvendo-os corroboradospelo luminozo pensar d^umGefno, por diver-sos ttulos respeitvel. Assim me levantarei tiiu'pouco da medida conmum: acredito-me pelo^
Vneio com que muitos occultndo suas ideias,conseguem estima e proveito ; combaterei oser^-ros, e illustrarei meus cotii patrcios , fallandoi)'uma absoluta generalidade, mostrando quejio e to deplorvel o estado da razo
,
quefaa mil estratagemas inteis para insinuar averdade, e levantar um pouco o espesso vo quea cobre
,fazendo voltar os olhos aos egoistas
sobre os interesses da humanidade. Estas refle-;xes me animaro
,arranoando-me da minha
involuntria occiozidade^ e determinando-me a.esta pequena
,mas interessante empreza
,
queantas luzes ministra
,e tanta instruco diff
funde.E' forozo que alguma coiza diga a respir-, e todos osviciosprprios d^eseravos.
Porem ns ab]uramo,para sempre ieus fu-
nestos principios ; nunca mais pifoiiaaaremos,com ridculas supersties o teu culto : as sa-
persties so filhas do remorso , e ste do cri-me. Se
,levados pela violemcia 4 nossas pai-
xes, commettermos faltas para com os nossossimilhantes
, expia-las-emos cmndarwio^nos ;
xt
tu jamais :i;epelliste o fraco que se arrepende;fortaleces ao^c^ntrrio suas titubeantes rezolu-es: ao homem perdido ou enganado, recon-duzes, pelo irrezistivel attractivo da estima , epelo exemplo poderozo da virtude, na estradado bem.
No consumiremos um tempo preciozo emdisputas vas e interminveis sobre a tua essn-cia, sobre a maneira como existes, sobre o lu-gar que habitas: prestamos credito aoque man-das acreditar
,e fechamos os ouvidos aos que
fomento ridculos debates,
dividindo os ho-mens, armando-os uns contra outros, e fazen-do correr rios de sangue. A virtude em taes ma-trias no raciocina , obra. Praticar o que or-denas no conhecer-te? E o que ordenas
,
no e a fraternidade entre os homens, a mode-rao na prosperidade^ o valor nos revezes da^'ida , o heroisrno e os esforos d'uma naoque recobra seus direitos? O que ordenas noe o desinteresse
,a incorruptvel probidade, o
sacrifcio de tudo a favor da Ptria, a benefi-cncia sem ostentao, a integridade nos ma-gistrados do Povo , amor da justia
,a do^
Cura, a vigilncia, a assiduidade no exercciodas pblicas funces, piedade filial
,a ter-
nura materna, o respeito para cam a velhice,o cuidado para com a infncia, e a compassi-'V sensao para cc)m os desgraado?
Os monstros que mais blazonavo de se af-fadigarem em teu servio, ero os que mais seconspiravo contra atua existncia , opprimin-do debaixo das ordens dos oppressores, e d^ac-cordo com os que se dizem teus ministros (in-
XII
dignos monstros! ) como elles, servis, pergui-ozos, e debochados, lizongeavo e promovioas paixes dos ricos para se subtrahirem ao tra-balho 5 e abandonarera-se mais dissolutamente sua desmoralizao : satellites do despotismo
,
ero os agentes de todos os crimes,
e instrurmentos de todos os vicios.
As internas emoes ^ne agito minha al-ma assim me fazem apostrophar, aconselhan-^do a que se fortifique, e espalhe a doutrina sarlutar que conduz ao conhecimento do Ente Su^premo! Sem esta ideia, angustia-se a alma, eperde sua natural vivacidade
,parece tacitur-
na e nublada a Natureza,, e as campinas semornato; voa a esperana, desapparece a virturde, nem acha eonsolao o infeliz, nem apoiooopprimido; triunfa o ambiciozo, relaxo-seos vinculos sociaes, correm sem freio os vicios,foge a Liberdade com os costumes ,e bem de-pressa levanta o despotismo sua insolente cabe-a. Ao contrrio a ideia de Deos mantm amoral em sua nativa pureza , engrandece aalma, eleva o pensamento , torna inabalveisa virtude, e a Liberdade, anima-se a nature-za, e o seu espectculo e cheio de bellezas, deencantos, e vida.
O' Natureza ! Tu s a bemfeitora do homem,e a inseparvel companheira de suas ditas! Farzes amar na infncia a ingenuidade, desenvol-ves as graas da adolescencija , enches de foraa idade viril, imprimes nos brancos cabellos,uma doce magestade , as mais te devem a fe-cundidade
,e o interesse que inspiro ; revestes
de pudor as jovens, c os homens do irrezistivel
XIII
impulso 9 que osattrahe para abelleza modestae sem artificio; fazes que o pai verta lagrimasde oosto ao ver o nascimento do filho, tornasupportaveis as dores d maternidade, com go-20S e contemplaes; o que teregeita se depra-va, e torna mu 5 e e o flagelo de si prprio, da sociedade : a Ptria lhe e insupportave
,
cahe de precipicio em precipcio , de desvarioiem desvario, peza-lhe vida, e a ideia da mor-te o atormenta
Ao contrrio o que segue as leis da Nature-za, compraz-se na virtude, decorrem para elleos dias com rapidez, e amante e amado, nov em torno de si mais do que irmos, adora aLiberdade e o seu paiz , nem teme a morte por-que a toda a hora est prompto a dar conta davida.
Tal a pintura do homem da Natureza, equanto differe do homem dos sacrdotess [#] Es-te e cruel , duro, avaro, intolerante : aquelle,humano , doce, indulgente e desinteressado; osegundo persegue a familia , despreza a P-tria, e os sacrifica aos seus absurdos e perjui-j503 ; o primeiro e bom pai , bom espozo, ebonlfilho, bom amigo, bom vezinho , bom cida-'do ; um vive sem cessar em trances e agonias,e no faz o bem seno pelo terror ; outro esttranquillo em sua conscincia, aprecia a virtu-de porque virtude, e no pode sem ella vivei^
[#] Entenda-se sentido em que discorro.Por homem dos sacerdotes fao alluzo ao qu educado segundo os princpios de fanatismo esuperstio da generalidade d^sta clp^sse.
XIV
feliz; o homem dos sacerdotes e' hypocrita , fal-sario, triste e embusteiro; e o da Natureza, a-legre 5 frauco, ingnuo e no conhece a nlenti-ra; o homem dos sacerdotes trata os mais ia-nocentes prazeres de mundanas e culpveis sen-sualidades; e o da Natureza, colhe em paz a flordos campos, saborea osfructos, embellece o seualbergue com os thezoiros da terra, multiplicasua existncia, e d a vida, a felizes entes; aohoniem dos sacerdotes rodeo no leito da mor-te horrorozos objectos
,experimenta os mar-
tyrios precursores rezervados ao crime; seus fi-lhos, seus amigos so testemunhas cuja vista o,dilacera: lgubres ceremonias redobro seus ma-les; o tom fnebre dos sinos, o aspecto atterra-*dor dcy figuras hediondas que roda delle gri-^to , e esbracejo 5 de cabeas descarnadas, deossos, &c. : s fantasmas carrancudas, espectrosarmados de ties, forcados e punbaes, prestes aarremea-lo em abysmos de betume efogo
,se lhe
leprezento ; no morre,obrigo-no a morrer
:
mas o homem da Natureza, acaba como viveu;D termo da sua carreira vedes em sua frentevoltearem os rizos, e a tranquillidad augustada innocencia e da paz, sorri a tudo que o cer-ca ; seu ultimo pensamento a lembrana q bemque fez; seu derradeiro suspiro dedicado j^ros-peridade da Ptria; no morre, adormece.
Glorifiquemos pois a Natureza : para ellanascemos, junto delia vivemos; sem cessar per-suade nossas almas , e lhes falia a linguagemda beneficncia; amontoa seus dons, e no-losrezerva ; sustenta nossos rebanhos, produz, pormeios diversos , a la de que fprmamos nossos
xr
vestidos, o colmo de que cobrimos nossas cabanas, e a madeira de que edificamos nossasnoradas; amadurece as sementeiras, que ali-irento as cidades populozas , t as humildes emodestas choupanas; colora as uvas ; preparaas vindimas, d sombra aos vergis, e cobre osprados de pastagens, edevzas: constantementeoccupada de nossas precizes^ no instante emque suppomos repouza, e nesse mesmo que mais'se afadiga, sendo o homem o objecto e fim detens disvellos.
Porem no esqueamos que ella obra doEnte Supremo, eno independente delle; guar-demo-nos de a separarmos dando-lhe um cultoidlatra , e considerando-a como uma particu-lar Divindade. A Natureza e a aco de Detrs so-bre tudo que respira ; esse eterno movimento queimprimio em tudo que existe para perpetuar ognero humano, creando tudo que anima e vivi-fica a sua habitao. Seguir a Natureza (no queno contrariar os livros sagrados) e seguir avontade do mesmo Deos, e obedecer s insi-
, nuantes, suaves leis da humanidade, e' reali-Ear a felicidade dos outros concorrendo para a$ua prpria; seguir a Natureza, e^ ceder aos im-pulsos do seu corao
,quando no e corrom-
i pido pela dependncia, e hbito do vicio.I
O' Natureza! nossos cnticos de ternura, ereconhecimento sero repetidos m prezena doscamposenfeitados de teus dons: reunir-nos*hemosdebaixo da proteco do olho vivificante daProvidencia
,pediido-te qiie vigies sobre a Li-
berdade dos PortUguezes, alentes a coragem dosgcnerozos, e yalcr^tes defeasor^* da Ptria, fa-
XVI
as corar de vergonha e confuzo a face do co-barde que larga as armas, dezerte dasLuzas fi-leiras impvidas, e invenciveis, immorlalizes abravura, e herosmo do soldado vencedor, di-fundas os raios de uma eterna glria sobre otmulo do que morrer defendendo a nao;nossas incessantes spplicas te movero aesten-.der sobre os nossos semelhantes, sobre tudo qu^respira, as benficas azas da Liberdade, aanni-Jquillar a.raa perversa dos tyrannos, dessa pes-te, desses inimigos da humanidade, e Portugal'livre e feliz, dando exemplos de justia, inde-pendncia, e virtude, proclamar a emancipa-o do gnero humano. Solemne e voluntriaser esta homenagem
,que rendermos Nature-
za e ao Ente Supremo: tomemos jirecaueacoDtra os que regeitarem
,por uma singular es-
travagancia, estas consoladoras ideias, porqueento serio os successores do- clero , e nobresem nos escravizar. Taes homens esto aptos
!
reprezentar todos os papeis : a ser perseguido-res dos sacerdotes, e seus sectrios, a serviras vistas dos estrangeiros
,acrrimos advers-
rios da nossa Liberdade, a fingir-se desta oscmais decididos enthuziastas, para depois a tra->liirem, e a baixamente adularem o Povo para-o surprehenderem e assassinarem : altivos depois^por um dominio uzurpado , tomario o tomda audcia, e tratario o Povo insolentemen^te, e como sabem que os costumes firmo as Re-pblicas, pregario o atheismo para os desstrnir, fario gala do descaramento e pervepsi-*dade, irsultario a modstia, assim reflexio-^liando : S o^ excesso da corrupo tem derri
XVII
bado os ihronos , derribemos a liberdade peloxcesso da corrupo. Mas os punhaes vinga-dores
,
que nada soffrem impuro,os alcanario
,
affogando-os em lagos de sangue, e sua memo-ria ficaria em execrao aos vindouros. Mosejo pois a hypocrizia , o erro , o temor , uma servil habitude, que dilatem nossos cora-es, exaltem nosso intellecto, e desliguem nos-^sa lingua : manifestem-se os sentimentos semrebuo: pais, velhos, instituidores, no faaesperder esta poca memorvel para a nascentegerao; derramai na alma virginal da infn-cia os principios salutares que consagramos:pintai-lbe a virtude com lindo colorido, demo-*do que a appeteo, influi-lhe o dezejo de at-marem como necessidade, e a Ptria reconhe-cida vos contar em o nmero de seus melho-^les cidados.
Porem , oh assombro ! eu ainda encaro in-divduos vilmente prostrados! Donde provemsemelhante abjeco! E* que a razo imita oOcceano que s adianta passos seculares, enoiminou todas as barreiras da tyrannia; e que aliberdade, entre alguns Povos, se mostrou co-mo um methero ephemero
,
que n'um ihstan-te brilha, e amortece; os que tem intentadoreanimar este facho expirante, descero a se-pultura
,e suas cinzas calcadas pelo orgulho
^
so ainda espezinhadas pof uma nova geraod'escravos; mas o thalisman fatal, que curvaos povos diante da vara de ferro de seus oppres*sores, quebrou-se: sero Corisolados os manesde nossos irmos, esuas desventuras reparadas*
Deos parece, rezervou para as duas nae^
que os Pyrineos dividem do resto da Europao honrozo destino de serem as vingadoras doTiiundo 5 e confiou a universal emancipao sua coragem : os infelizes no se illudiro emsuas esperanas, para o que desprezemos osprfidos conselhos desses hypocritas philanthro-pos que s vem na sua Ptria uma poroininima da espcie humana, e por isso recuzointeressar-se em sua utilidade: intitulo-se fas-tozamente cidados universaes, legisladores doinundo, e seus coraes gelados se apaixonoartificiozamente pelo gnero humano, e per-manecem indifferentes aventura da sua familia, do seu paiz natal: taes homens so riera-mente charlates.
Para amar o gnero humano e indispens-vel possuir uma alma sensvel e compassiva; ea bem de que pessoas deve a sensibilidade de-senvolver-se, do que a respeito daquellas juntodas quaes nascemos , com quem entretemos con-tinuas relaes, de cujas magoas, e prazeres par-ticipamos, e cujos interesses esto a cada mo-mento confundindo-se com os nossos ? S o queama a Ptria pela qual feliz e livre, ama ognero humano. Longe das duas naes o in-sensato projecto que tantas outras tem perdido,de conquistar o nmndo com as armas na mo,e dar-lhe um s governo, dividindo-o em mi-lhes de xiestictos dos quaes fosse a Pennsulao ponto central: e que brao atrevido ouzariaenearrtgar-se da alavanca destinada a moveruma massa io enorme ?
As camars so compostas de d ifferentes fa-mlias^ cujas relaes domesticas teaj limites;
XIX
cada camar tem interesses particulares , cujotermo est fixado pela lei ; diversas camars for-mo comarcas, cestas, provindas circumscrip-tas por localidades e relaes; a Pennsula forniada de diversos elementos que por suacor-jespondencia continua e progressiva, do acti-vidade administrao. Parti esta cadeia con-servadora e necessria ; tudo se desordena e ca-]ie na confuzo : de todo o produzido fica evi-dente que os povos, para conservarem o exer-ccio de seus direitos, para regularem o com-plexo de seus movimentos, devem constantemen-te parar nos limites indicados pela Natureza.
Longas cordilheiras de montanhas, rochedose penedias orgulhozas e inexpugnveis, maresimmensos e tempestuozos, rios largos e rpi-dos ^florestas impenetrveis, temperaturas di-versas
,marcaro fortemente sobre o Globo o
domnio de cada nao ; prolongando este do-minio, precria a fora dos governantes, enfraquece a policia geral , e expressa-se difficilr*mente a vontade dos Povos : as leis chocandoos climas, e os costumes, deixo de ser respei-tadas, e os uzurpadores sempre dispostos aaproveitar as circumstancias felizes, tiro a mas-cara, mostro-se com audcia, e a cauza pu-blica perece com a Liberdade, Por isso judicio-55amente se diz que os que pertendro uma Re-publica universal no querio Republica, eeroos instrumentos eos cmplices dos dspotas; stinho em vista perpetuar as borrascas da revo-luo , tornar interminveis as guerras , e fatigarQ JPoyo com o benefjciodf^ Liberdade, pela im-p^ossibilidade de jamais o alcanar.
o meio seguro de conquistar o mundo of-frecer terra o exemplo d'uma coragem he-rica, d'uma perzeverana a toda a prova, Sdtictora imagem da pblica ventura
,fructo
inseparvel da igualdade. Desde ento " s for-liaremos no Universo uma famlia d*irmos: homem n ser estranho ao homem
;gostate-
nos em todos os lugares s encantos das virtu-des hospitaleiras: d gnero humano
,
por tolongo tempo dividido, se unir por laos in-dissolveis, a Natureza ultrajada recuperarss direitos: nurCa mais s dir; e Europo
,
Africano; este e do Norte, aiqtelle do Sul^
queFoutro Aziatico, est'outro Chinez ; massimi; e' nosso semelhante; e hornem ; estenda-nos^-lhe um brao auxiliador ; seja ua a nossacaza, partamos com elle o po d fraternidade.
Oh! tjahdo vir esse d;iejado momento!Quando s'efFeitar esta consoladora esperana!E m que epca fortunada cubrifo de som-bras os vigorozos ramos da liberdade tantossolos diversos! No duvidemos; aepoca nSo es-^t distante : machado popular et levanta-do , e j os dspotas tremem em seus thronos!Ns revelmos o segredo do seu poder oppressi-^TO j dentro m pouco s tero por azilo o ca-dafalso. A Amrica, alem dos mares, deu aospovos que lhe slo confinantes osignal d eman-cipao, que elles applaudro ; a Europa temsobre ns fitos os olhos para rios imitar: nos-sos vazos ravaes, decorrendo ds mares im dotrrido Equador, fazem fluctuar os estandartesda Liberdade; o ndio , e o Africano se indi-gno
,sacodem as cadeias
, medito o sup-
:xxt
plicio dos tyrannos; por toda a parle, adian-te de nossos passos, espalhamos as sementespreciozas da verdade, que o Impo far berudepressa brotar e tlorecer: eu ouzo espera-lo; oUniverso, colher a abundante sementeira qqelhe preparamos.
Grande valor ^ certo, nos dever inflam-^ipar para rotear o vasto terreno dos erros ; pa-ra ciirar o gnero humano de suas inveteradasiqolestias, das quaes e a rnais obstinada e eon-tagipza a dos prejuzos; os dspotas se esfora-ro por prolonga-las com arte prfida a fim4'eternizar o seu domnio ; mas tambm entrens hayio preoccupaes
,e ero , o fanatis-
mo,
e seus annexos, cos direitos feudaes: 05Portugnezes acordaro
, e djssero que fossem^blidos , e similhante lepra tenaz desappare-ceu. Preparem-se os mesmos prodigios, e bra-demos s desgraadas victimas das preoccupa-es,, deste modo: Vossos oligarchas e pon-?tjficts so fortes e poderozos porque vs sois ce-gos crdulos: escutai a verdade: destrui ossanctuarios da mentira e do absurdo , despeda-ai os dolos diarite dos quaes vos cozeis com aterraj, rasgai a venda que vos tira a luz , apii^i)halai o fanatismo e a tyrannia , fulminai-oscom vossas cadeias, sahi da lethargia, injitai-nos era fim, e a Natureza vos sorrir, semean-do de prazeres deliciozos vossa mizeravel carrei-ra! Engrand^cer-se-bao vossas faculdades peloconhecimento do verdadeiro Deos, principio detodos os bens e de todas as virtudes, alma de to-4p5 08 seres, author da vida e da morte. No%cdes o ^eu poder grande nas abobadas celestes,
nas vagas ameaadoras do Occean , e nas ca-ternas profundas onde o Leo furiozo bramecom seus ferozes amores? E* por elle qiue tudoTespira e se move. Formpu o homem pra a^teatura e Liberdade; detesta os oppressores, to-dos osmortaes diante dlle so iguae^ e irmosvUmas vezes impostores arteiros, e modestos,outras audazes e brbaros, corrompio estadoti-Irina simples e consoladora
,para vs sutnjet-
ferem sua ambio e orgulho ; seus apstolosaccendro e nutriro odis invenciveis entre asiaoes que no professavo seus mesnios erros
,
e seus successores por toda a parte erguero'templos sobre os cadveres de vossos pais; pa-Talyzro vossa inteligncia e pensamento
, pelos pavores da credulidade vos arrastaro a;um tal g^ru d'embrutecimento que a servidovos pareceu o estado natural do Homem.
Oh vergonha ! oh attentado oh rnas es^^pantozo dos crimes ! conseguiriio o consumaresta conspirao universal, se h fosse o gnio'libertador dos peninsuiafsl ' \ " -,
Oh naes infelizes F vossos filhos serstl-Tos^ de tantas infamius ;' viemos proclamar ostossos e seu direitos, trazemos o dipma re-generador, que, desde que for appropriadb .&vosso idioma, fulminar com rpida morte vos*SOS uzurpadres e seus cobardes missionrios:deste modo o genefo Humano arrancado de seurlongo abatimento , e cumprindo seus altos des-tinos, offertar a seu author uma s^eena mages-oza, e digna de sua suprema grandezra.
Povos,
que aspirais a trilhar as veredas-^di Liberdadt^ [ E ys que wcobrasteif^ vossos
XXII 1
direitos vomitando sobre os thronos a lava [#]devorante da insurreio ! Ainda no conclui steisa vossa empreza, nem lancisteis ferro em ami-go porto ; novos perigos vos ameao , mil la-gos se vos armo tramando contra a vossaemancipao : camin^kais entre escolhos : unsquerem diminuir vossa energia , desviar vossahumanidade, e tornar estacionrio [##] o car-io impaciente da revoluo
,a fim de que re-
trogradando sobre si mesmo,
percais de repen-te o fructo de tantos suores, e entregueis de no-vo os pulsos s cadeias : outros, dirigindo delonge seus tiros tyrannia popular, com umaalma possuda do amor de dominar , se reves-tem de todo o liberal fingimento, e exaggero,com tal arte, os beneficios do systema
,
que overdadeiro patriota lhe custa a perceber sua trai-o; acaricio vilmente o povo, lizongeo-noperfidamente
,ganho sua confiana para nie-
Ihor s*investirem de seus poderes : tem sempreHa boca os santos nomes d'igualdade e justia,6 sua ambio calca aos pez as leis mais sagra->das: sem curarem se e por meios decorozos oitindecorozos raendigo na tribuna
,por discur-
sos \nvenenadores,
os suffragios dos Cidadossimples' e sem experincia
,
que pervertem ia^sensivelmente.
[*] Matria fundida , e semelhante ao vidroopaco
, e que sahe na erupo dos volcoes doseu seio, e forma como regatos inflammados.
[##] Diz-se do Planeta quando parece noadiantar-se nem recuar noZodiaco. Neste lugartomo*o figuradamente.
Bem depressa uma multido de crealuras osToda : mudo-se em dolos que e vedado otiten-der sem crime , e todos os que prezando a di-gnidade de homens livres recuzo ajoelhar dian-te destes novos deozes , so conspiradores
,pros-
criplos , ou arrastados ao patbulo em premiode sua altivez. Ento comprimem-se todas asalmas , o terror precede a deconfiana , umprofundo silencio reina , os cidados se fogemuns a outros, ^ se olho com horror : fitandoas vistas sobre os symbolos da Liberdade
,jul-
go ver os atribujtos da morte ; o patriotismovem a ser a arte de denunciar, opprimir, rou-bar
,c prescrever os patriotas ; durante este
tempo os inimigos da boa cauza respiro , me-dito seus projectos sinistros
,e regozijo-se
com as desgraas pblicas. Algumas vezes opovo desperta, rasga o veu que lhe tinho pos-to nos olhos, Ifivanta-se outra vez
,
persegue bsnpvos tyrannos
, alcana-os,
prostra-os , ras-ga-^lhes as entranhas, e seu impuro sangue fir-ma sobre suas bazes a Liberdade
,
que tinhoquerido derribar , invocando-a. ,
Povos! sequereis ser livres naoouais os li-zonjeiro: prezai , ao contrrio, o que vos dizverdades amargas: os aduladores, entre um Po-vo livre, so venenozas serpentes que se enros-co na estatua da Liberdade: amimo-na, aper-tSo-na com seus giros sinuozos, serro-na, suf-focorna, abatem-na, e planto seu triu;ifo $0rbre suas runas. Em nome do gnero humano, Portuguezes, conhecei vossos verdadeiros ami-go^ : $o modestos, e afiveis. Longe das m.en-^dazes, e tempestuozas tribuna? ^trao no M-?
XXV
lencio vossa fortuna , e vigio na conservaode vossos direitos; no busco nomeada, nems^ tornp intratveis pelo ar feroz e cruel
,e
gesto ameaador; no affecto irrizoria filozo-fia 5 ou para melhor dizer , extravagncia emseus trages e maneiras, ou outra alguma qua-lidade singular; sempre cuidadozos em instruir-vos no introduzem em seus discursos perdidasdeclamaes; intrpidos nos perigos da Ptria,procuro a obscuridade e um retiro honestoapenas o risco passou ; no gabo seus servi-os
,nem pedem cargos ou recompensas : sua
mais appetecida remunerao, e a conscinciade ter feito o seu dever, servido a Liberdade.
A Liberdade o patrimnio do gnero hu-iiano
;porem quantas naes perdero este bem
preciozo pela confiana, e idolatria! Os gran-des talentos, as reputaes collossaes, as enor-i^es popularidades
,so mais funestas aos Po-
vos que a mais horroroza tyrannia. Quantostem passado por estas tristssimas experincias 1jAquelles em que se confiava como columnasdas Republicas, se foro successivaraente decla-rando chefes de faces
,aos qiiaes muito cus-
tou a arremear dothrono de seu uzurpado po-der, para os precipitar no tuniulo, com satel-lites numerozos. Que monstros d'ambio, quescelerades
,
que fraudulentos tem devorado asrevolues ! Praza aos Ceos que estes terrveisexemplos sirvo de lies aos que tencionotaes projectos d'elevao sobre as reliquias edestroos da Ptria ! Praza a Deos que os Po-vos se curem dessa molstia d'adorar to con-itrria a Liberdade!
.?frt^**)t-
XXVfl
NOTICIA HISTRICASOBRE
O CONBE DE FOLNEY,LIDA N^ CAMAR DOS PARES EM SESSO B %4i' '
'^*' ' DE JtJNHO DE I8f0,
PELO
CONDE DARU.
M R. Constantino Francisco Chssebauf Vorney nasceu em Craon em 1757, na condi-^So midi, amais feliz dietodas, porqire ides-herdada dos favores pergozos da fortiiria 9 ^porcjur as Vantagens sciaes e ntellectuacs s!#accessvefs a uma razovel anibi.
De^ie a moeidad,
se votou ind^gijS*da verdade [W] sx oaeniorizarem.sseH es^
f^^]' Von^y Segui o patecr dW Raynl^({\i& em todas as suHs indagaes filozoficS sofhha o fito na verdade
,invandb-a na s->
guvnfe apsfrophfe. j, Ti Vie sempre pr^zefite imagmt augusttf da verdade. O' verdade san-ttl E^sp objecto que nlais respeito f Se minhasobras ctrem leitores nos futuros Sculos, qu^-TO qiie-| ycrido como fui alhdo s paixes c
tudos qiie s podem iniciar em seu culto. Dei-dade apenas de vinte annos, porem j4 munidodo conhecimento das lnguas antigas. dasScien-cias naturaes, e da historia; j acolhido entreos homens
,que occupavo um lugar diitincto
na republica das letras, submetteu ao exame deuma illustre Accadcmia a soluo de um dosmais diSiceis problemas, que a historia da an-tiguidade nos deixou a rezolver.
Este ensaio no foi aniniadp pelos homenssbios 5 que ero juizes; e o author apellou dasua decizo para a sua coragem e esforos.
Pouco depois lhe couberorpor herana gran-des bens, qu suscitaro nle forte embarao,sobre o modo como os havia, gastar (suas po-zitivas expresses). Rezolveo emprega-los (emadquirir n'uma dilatada viagem , um fundo denovos conhecimentos; e sedecidio a v^zitar oE-gyptQ e a Syria; mas para decorrer estas re-gies com fructo, precizava conhecer a lingua|que nellas sefallava. Esta diBculdade _no des-|'acorooou o mancebo viajante
,e em vez d^
^.prender o ' rabe na Europa , fpi encerrar-sen'uip,coavento de Coptos[#], at que se.yio^em estado defallar este idioma cummum atan-
prejuzos, ignorem O paiz onde nasci, debaixoda influencia deque governo viyi, qup funcpesexercia, qu
xxik
los povos do Oriente esta rezoltiao deu logot perceber uma dessas almas denodadas, quepodem servir d'apoio nos reveles da vida comoinabalveis e enrgicas.
Posto que na qualidade de viajante tivessecom que entreler*-nos, imitao dos outros
,
narrando suas fadigas, e os perigos sobrepuja-dos pelo seu valor, soube vencer a fraqueza ea vaidade que, as mais das vezes, leva os via*jeiros aoccupar-se tanto de suas aventuras pes-soaes como de suas observaes. Em sua relaoaffksta-se das veredas frequentadas: no referepor onde passou^ o que lhe aconteceu
,que im-
presses experimentou : evita com cuidado en-trar em scena : e um habitante daquelles lug*res que por longo tempo os investigou , e quedescreve o estado fyzic, politico, e moral: se*ria Completa a illuzo , se pudesse suppor-sei'um vlho rabe todos os conhecimentos, etoda a filozofia dos Eutopeos , reunidos madu-ramente n'um viajante de vinte e cinco. anho.
Ainda que possue todos os artifcios pelostples s espalha o interesse e deleite no discur-so
,no reconheceis o mancebo na pompa d
Buas bem trabalhadas descri pees, e apezar deser dotado de uma brilhante e viva imagina-o , nunca osurprehendeis explicando por sys*temas abstractos os phenomenos fyzico o rio-raeS que vos pirita : e sbio que observa comosolhos do intelligente. Com este duplicado litii-lo ajuza circumspecto, e sabe confessar algumas-vezes que ignora os effeits das catizas que aca-ba dlexpor.
A exactido eboa fe, caraclere quepersua-
em , revestem suas relaes, e quando, dez an^nos depois, uma grande empreza militar con-duziu quarenta mil viajantes ^obre esta terra c*lebre, que elle examinara sem companheiros^^em armas, e sem ^polo, todos olharo comoguia segura , e observador esclarecido , o escri-tor que parece os antecedera para lhes aplanarcu marcar uma parte das difficuldades da jor-nada.
De todas as parties se elevou um testemunhaunanime para attestar a exactido de seus es-crito^, e a verdade de suas observaes
,ea
Viagem do Egypto e da Syria foi, por todosos suffragios , recommendada ao reconhecimentoe confiana pblica.
Antes de ser sugeita a esta prova, tinha ob*tido a obra no mundo literrio um applauzo r-pido e geral
,que mesmo na Rssia lhe foi tri-
butado. A imperatriz, que reinava ento sobreaquelle imprio (^ 1787), enviou ao authorlima medalha
XXX4
a organizao das guardas nacionaes , e doscorpos municipaes , e dos departamentos.
Na poca era que se tratava da venda dosbens nacionaes ( 1790 ) , publicou um pequenoescripto, no qual estabelece estes princpios.
?) O poder d*um Estado e proporcional sua povoao ; esta sua abundncia ; a abun-Jancia actividade da cultura, e esta ao inte-resse pessoal e directo; isto e, ao espirito depropriedade. Donde se segue que quanto maiso cultivador se aproxima do estado passivo demercenrio, menos prospera a industria; e que10 contrrio
,quanto mais perto est da cori-
lio de pleno e livre proprietrio, mais desen-volve suas foras, os productos de suas posses-ies, e a riqueza geral dos Estados, j?O author chega a esta consequncia
,qe
im Estado tanto mais poderozo quanto maiorV o nmero de seus proprietrios; isto , adi-.i^izo das propriedades. Acompanhado Cr-sega por esse espirito de observao, que nobi-lita os homens, cujas luf^s so extensas e va-iadas, deseubriu, aoprinieiro golpe de vista,udo que se podia operar no aperfeioamento daagricultura neste paiz; porem elle sabia queen-ve povos dominados por antigos hbitos, noia demonstraes nem meios que persuado
,
ieno o exemplo ; comprou pois um conside-avel dominio, e entregou^-se a experincias so-ore toda a casta de cultura, que julgou poder^laturalizar com o clima: a canna do assucar
,
) algodo, o anil, o c afie bem x:lepressa cer-ifiero o bom xito de seus exforos
,e seus
&lizes acessos fixaro gobrc dk a aiteno do go-
XXXII *
verno: foi nomeado director da agricultura ^do commercio nesta ilha
^onde, por falta de
luzes, todos os novos methodos so difficeis aintroduzir.
No e fcil apreciar os bens que devio es**perar-se desta pacifica magistratura: mas sabe-se que no ero nem as luzes, nem o zelo, nem;x coragem da perzeverana
,que podio faltar
quelle que a exercia: a este respeito j elle setinha ensaiado, e foi para ceder a um senti*mento no menos respeitvel
,que interrompeu
o curso de seus trabalhos. Quando seus^^onci-dados do bailiado d'Ang?rs o elegi^b depu-tado na Assmblea Constituinte, dimittiu-se^doemprego que recebera do governo, professandoa mxima, de que no e licito ser mandatrioda nao, e dependente, por um salrio, dosqiie administro.
Se respeitando a independncia desuasfunc-^coes legislativas, tinha renunciado ao cargoque executava na Crsega antes da sua eleio^nem por isso repulsou a ideia de beneficiar es-te paiz, e esta salutar ambio ahi o recondu-ziu depois das sesses da Assemblea Constituin-te. Habitantes qut3 muito infli/io naqullailha^eque invocavo o soccorrodesuasluzes, o mov-^r a passar a ella fixando a sua rezidencia du-Vante os annos de 179-2 e 1793.
No seu regresso deu luz um Tratado quetinha por titulo: ?? Rezumo do estado actualda Crsega Foi este um acto d' intrepidez-; poisiio SC exigia um quadro fyzico , mas a expo-zio do stdo politico d'uma povoao qumuitos partidos devidiao, e onde fermentavp
XXXUdios inveterados. Mr.de Volney revelou osabu-zos ^em attenes , solicitou a proteco daFrana a favor dos Corsos sem lizongea-los , de-nunciou sem temor suas faltas e seis vicios, ealcanou o premio que o filozofo antolhavapela sua sinceridade : foi accuzado de heregepelos Corsos.
Para demonstrar que no era digno desta qua-*lificao, publicou pouco tempo depois um ops-culo intitulado. ?> A Lei natural, ou princpiosfyzicos da moral. ??
Uma imputao ainda que de diversa natu*reza, d'igual risco, no tardou sem que viessemagoa-^o ; e e&ta, cumpre convir, era mereci^da. Este filozofo, este digno cidado, que, naprimeira de nossas assembleas nacionaes , secun-dara com seu$ votos e talentos o estabelecimen-to d'uma ordem de coizas que julgou favorvel ventura da sua ptria, foi accuzado de noamar sinceramente a Liberdade pela qual pu-gnara, isto ^ de desaprovar a licena. Umaprizo de dez mezes
,
que teve o seu termo a 9^Thermidor [*] era uma nova experincia rezer^vada a seu valor.
A poca em que recobrou a Liberdade foi amesma em que o horror que tinbo inspiradoculpveis excessos reconduziu os espritos paraesses nobres sentimentos que felizmente so umadas principaes necessidades dos homens civili-^ftdo&. Reclamaro das letra* o refrigrio dos
[*] Undcimo niez do anno da RepublicaFraueza. Comeava ein 19 de Julho, eacaUa^va em 17 d'Agosto. [Do Traductor, j
XXXIV
males polticos, e depois de tantos crimes edesgraas, tratou-se d'organi2ar a pblica ins-truco.
Importava de principio ter uma cabal ideiados conhecimentos daquelles a quem se deviaconfiar o ensino; mas os systemas podio serdifferentes
,e era precizo firmar melhores me-
thodos,
e a unidade de doutrina. No bastavaexaminar os professores ; necessitava-se forma-los, e crear outros: com estas vistas institui u-
se em 1794 uma escola, na qual a celebridadedos mestres promettia novas luzes aos homensniis illustrdos: no era, como se disse, co-mear o edifcio pelo remate; era criar archi-lectos para c^irigirem todas as artes emprega-das ii construco do edifcio.
Tanto mais espinhosa era a misso ^ tantomais importante era a escolha dos professores porem a Frana
,accuzada ento d'estar mer-
gulhada na barbaridade, contava em si gniossuperiores, j de posse da estima europea , e po-de affirmar-se, (graas a seus trabalhos! ) quea nossa gloria litteraria foi tambm sustentadapor conquistas. Estes nomes foro exaltados pe-la opinio pblica , e o nome de Mr. de Vol-ney foi associado aos mais illustres nas scien-cias c nas letras [#] ; aos de muitos homens quevimos , e d'outros que ainda hoje vemos comorsfulho sentar-se neste recinto.
[r] Lagrange , Laplace , Bertholet , Ga-rat, Bernardin de Saint Pierre , Drubenton
,
Hauy, Volney, Sicard, Monge, Thouin , LaiJarpe, JSuache, Montelle,
xxxy
,Esta instituio no satisfez com tudo as
tsperanas que se havio concebido, porque osdois mil discpulos, que, de vrios lugares daFrana , tinho concorrido , no se achavotodos igualmente preparados a receber estasprofundas lies, nem se havia cuidadozamen-te examinado ate que ponto pode a theoria doensino ser separada do mesmo ensino.
As lies d'historia de Mr. de Volney , cha*mavo um concurso immenso d^ouvintes, e vie-ro a ser um dos mais bellos titlos de sua glo-ria litteraria Obrigado a interrompe-las pelasuppresso da escola normal [#] , esperou gozarno retiro, da considerao, que suas novas func-coes accrescentavo a seu nome ; porem con*tristado vista do espectculo que lhe exhibraa ptria, sentiu agilar-se pela paixo
,que na
sua mocidade o levara Azia e Africa. AAmerica, civilizada havia menos d'um sculo,livre havia alguns annos
,captivou sua atten?
o. Tudo nestas regies era novo: o povo, aConstituio
,e a mesma terra ero objectos
l^em dignos de sua observao. Embarcandopara esta viagem
,foi movido por sentimentos
bem differentes daquelles que outr'ora o tinhoaccompanhado Turquia. Ento era mance-bo , e tinha partido alegre d'um paiz onde reirnavo a paz e a abundncia, para ir viajar en-tre brbaros : agora
,tocando a madureza da
[#] Escola de Cidados j instruidos , on-de devem formar^-se na arte de ensinar.
[ Do Xi aductor. ]
idade,mas triste pela scena e experincia da
injustia 9 e da perseguio, no era sem algu-ma desconfiana (assim se expressava) que iapedir a um povo Jivre azylo para o amigo sin-^cero da Liberdade profanada.
O viajante tinha idu procurar a paz alemdos mares ; e achou-^se no obstante exposto alima agresso d parte d'um filozofo no menoscelebre; do doutor Priestley. Ainda que o oh^jecto desta discusso se redu^.iu ao exame d\Ugumas opinies especulativas, que o escritorFrancez enunciara na sua obra intitulada
,,As
Runas, &c. >9,
o fyzico armou-se neste ata-que de violncia e acrimonia que no reforoo argumento
,e de expresses incivis impr-
prias d'um sbio. Mr. de Volney, tratado nes-ta diatribe d'ignorante ehottentote- soube con-servar em sua defeza todas as vantagens que asfaltas de seu adversrio lhe davo : respondeuem Inglez, e os compatriotas de Priestley no^onhecro que era Francez o offendido senopela delicadeza e urbanidade da replica.
Em quanto Mr. de Volney esteve na Ame*tica
,creou-se em Frana esse corpo litterario
,
que debaixo do nome dTnstituto,.tomou em
poucos annos utndestincto lugar entre as socie-dades de sbios da Europa. O nomedo nossoillustre viajante foi inscrito desde a sua for-mao, no catalogo de seus membros: ganhounovos direitos s honras acadmicas
,
que lhetinho sido conferidas durante sua auzencia
,
em testemunho do mrito de suas observaespublicadas nos Estados Unidos.
Estes direitos se multiplicaro pelas fadigas
XXXVIt
histricas, e filolgicas do acadmico : o exa-me e justificao da chronologia d^Herodoto;as numerozas , e profundas indagaes sobre abisloria dos povos mais antigos, por longo tem-po occupro o sbio, que observara seus mo-numentos e seus vestgios nos paizes que tinholiabitado. A experincia que tivera da utilidadedas linguas orientaes , despertou nelle o dezejovivissimo de propagar o seu conhecimento
,e
para o propagar,
persuadiu^se da necessidadecie o tornar menos difficil, e nesta vista conce-
beu o projecto d'applicar ao estudo dos idiomasda Azia uma parle das noes grammaticaes,que possuimos sobre as linguas Europeas : nopertence seno quelles que conhecem suas re-laes de dissemelhana
,ou de conformidade,
o apreciar a possibilidade de realizar este Sys-lema : mas pode asseverar-se que j recebera arecompensa menos equivoca
,o impulso m^ais
jiobre pela introducao do nome do author nalista dessa litteraria e illustre sociedade
,
que ocommercio Inglez fundara na peninsula do In-do.
Mr. de Volney explanou o seu systema emduas obras [*] , que provo que esta ideia deaproximar naes separadas por distancias im-mensas e idiomas diversos, nunca cessara de ooccupar durante vinte e cinco annos. Temeumesmo que estes ensaios , cuja utilidade anteve-l - 11 ! ' III. M .. ..1 -. I V
[*] A simplificao das linguas orientaes;1795. O Alphabeto Europeo applicado s lin-guas aziaticas; 1819. O Hebraico simplifica-?oi 182.
XXXVIII
ra, fossem postos de mo depois delle, e aomesmo passo que corrigia a sua ultima obra,traava com sua gelada mo um testamento
,
pelo qual estabeleceu um fundo para a conti-nuao de seus trabalhos. E' assim que soubeprolongar, alem das balizas d'uma vida consa-grada inteiramente s letras, os gloriozos ser-vios que lhes fizera.
No para aqui ^e no sobre tudo a mimque convm apreciar o mrito dos escritos quehonraro o nome de Mr. de Volney; este no-me tinha sido lanado na lista do Senado, edepois na Camar dos Pares, qual perten^cem todas as iliustraes.O filozofo que viajara nas quatro partes do
mundo, observando o estado social , tinha, pa-ra ser admittido neste recinto
,outros titulos,
alem da sua gloria litteraria* A sua vida pbli-ca , a sua prezena na Assembla Constituinte,a franqueza de seus principios
,a nobreza de
seus sentimentos,
a sabedoria e constncia desuas opinies
,o tinho feito estimar dos ho-
mens firmes com quem se aspira a rivalizar ecompetir na discusso d^interesses polticos.
Posto que ningum tivesse mais direito aquerer sustentar uma opinio , ningum sereprimia mais , contendo^-se dentro do circuloda tolerncia, acerca dos contrrios pareceres.Tanto nas Assembleas d^Estado, como nas ses-ses acadmicas , este homem to cheio de lu^zes votava segundo sua conscincia, que nadapodia abalar , e como sbio esquecia sua su-perioridade para ouvir
,para contradizer com
moderao,
e para algumas vezes duvidar. A
XXXIX
Xtenso, e variedade de seus conhecimentos , afora de sua razo , a gravidade de seus costu-mes, a nobre simplicidade de seu caracter, lhetinho
,em ambos os mundos
,
grangeado il-lustres amigos, e hoje que este vasto sabej es-t reduzo no tmulo 5 junto do qual uma es-ooza banhada em pranto , lembra
,
por suas vir-udes, as respeitveis qualidades daquelle, cu-
^a existncia embeleceu , nos e permittido aomenos dizer
,qu pertencia ao pequeno nume-
ro de homens,
a que no dado totalmentemorrer.
^S RUJNJS,o V
MEDITAO SOBRE ASREVOLUES
DOS
IMPRIOS.
NVOCAAO
Eu VOS sudo runas solitrias, sagrados mau-Eolos^ muros silenciozos ! Sois vs quem in-voco, minha spplica unicamente a vs se di-rige. Sim : em quanto vosso sombrio aspectoaffasta as vistas esquadrinhadoras do vulgo porum inslito e secreto pavor , acha meu cora-o em contemplar-vos o encanto de mil pen-samentos, e os attractivos de um sm nme-ro de seductoras idas, que me levo aps sicom irrezistivel impulso. Quo proveitozos do-cumentos ! Que fortes e tocjmtes reflexes offe-
A
receis ao espirito que sabe consultar-Vos ! SoisYus que em quanto o Universo inteiro escravi-zado emudecia ante os tyrannos
,proc'amaveis
verdades,
que elles abomino ; e que confun-dindo os despojos do Potentado com os restosdo vil coptivo, attestaves. o santo dogma daIgualdade! E' junto de vosso recinto 5 que,amante Sditarioda Liberdade ,vi,ohJbilo ! ele-var-se d'enfre os tmulos a sua sombra, e porum inexperado favor, tomar um voo rpido,e chamar de novo meus passos para a minhaPtria reanimada.
Oh Sepulchros! Que feundo manancial devirtudes abrigais em vosso seio ! Fulminais ostyrannos, os raios fulgentes cjue de vs panemos prostro, envenenais seus mpios gozos, comdesuzado terror cobrem os hediondos semblan-tes, e fogem ao vosso incorruptivel aspecto; oscobardes se apresso em levar para longe de vso orgulho de seus palcios
;punis o oppressor
altivo e poderozo, arrancais da trmula mo doconcussionario avaro o ouro que roubara ao des-valido, de quem quizera beber o sangue; vin-gais o fraco que o Aulico abjecto espezinhara,compensais as privaes do pobre murchando comsolicitudes c anxiedades o fausto do rico, enxugaiso pranto do desditozo dezignando-lhe um asilono contaminado pelo ar que respira o Dspo-ta, finalm^ente dais alma esse justo equil-brio de fora e sf^nsibilidade
,que constitue a
sabedoria e a sciencia da vida. Considerandoque cumpre restituir-vos tudo, despreza o ho-mem reflexivo o pezo gravozo de vas grande-zas
^ e inteis pompas ; bens precrios que tan-
to deslumbro e perdem os humanos . reprimeseus immoderados appetites
,refreia sua ambi-
^'o 5 e a contem nos limites da equidade , epois que indispensvel que cuide dos meiosde prolongar sua carreira vital , emprega util-mente os instantes de sua existncia
,e logra
os bens que delia lhe rezulto* Deste modo pon-des um freio salutar ao impetuozo e sbitaarremeo da cobia , abonanais o ardor febrildos prazeres que perturbo os sentidos , daislugar a que a alma repouze da renhida e enfa-donha luta das paixes , elevais este sopro ani-mador acima dos vis interesses
,que agito e
degrado a multido,
e mesmo no centro devossa taciturnidade magestoza, abrangendo empequeno circulo a scena dos povos, e o quadrogeral dos tempos , conseguis que o espirito sedesenvolva com simultneas e nobres propen-ses , e se torne apto a conceber somente idasde virtude e glria. Ah ! Se terminado o sonho da vida, nem sequer deixarem vestgios deproveito estes combates d'imaginao , inteisse poderio com justia apelidar as vigilias doFilosofo indagador e profundo.
Oh lluinas ! Eu voltarei para junto de vsa beber novas mximas em vossas profcuas li*es. Entranhar-me-hei na paz de v^ossa am-vel solido
,e ahi desviado do expectaculo a-
terrador do tumulto das paixes , amarei oshomens occupando-me da sua ventura, cami-nha felicidade consistir na lembrana de lhater accelerado.
A t
CAPITULO LA Viagem.
A(>0s onze annos cio reinado d'Abdul-Hamd\ji\
,filho d^Hamed , Imperador dos Turcos
;
no tempo em que os Trtaros Nogais foro ex-pulsos da Krimea, e um Prncipe Musulma-na do sangue de Gengis-Kan [**] seconstituiovassallo e guarda d'uma mulher christ e Rai-nha 5 viajei no Imprio dos Ottomanos , diva-gando pelas Provincias que em Sculos remo-tos 5 compunho os Reinos dp Egypto e daSyria.
l^"] Em 1784 de J. C. e 1198 da Hgira.Cumpre que o Leitor no esquea esta poca afim de poder melhor ajuizar da Obra. A emi-grao dos Trtaros foi em Maro, provocan-do-a um Manifesto da Imperatriz
,que decla-
rou ficava dalli em diante a Krima encorpo-rada Rssia.[*] Era Chahin-Guerai. Quando pensaria
Gengis-Kan,Conquistador altivo e indomvel,
que um de seus successores venderia uma dasmais bellas pores de seus domnios mediantea penso de SOjj' rublos ! EUe que era servidopelos Reis que vencera e debellra, e osquaes,por um cmulo d'infortunios e abjeco o le-vavo sobre seus hombros
^prezumria que seu
descendente , alem de sujeita r-se a ceder o ter-ritrio onde absoluta e despoticamente impera-
5 ~
Reconcentiando toda a minha atteno so
.
bre o que diz respeito felicidade dos homensno estado social, entrei nas Cidades, e estu^dei os costumes de seus habitantes; peneirei nospalcios, e obseivei a conducta dos que gover-no ; andei errante pelos campos , e pesquizeia condico dos entes que os agriculto ; e novendo por toda a parte mais que latrocinios edevastao , tyrannia e mizeria, extorses einjustias , ficou todo o meu ser opprimido pe-la tristeza e indignao.
Seguindo a mesma estrada alongava minhasvistas por campos abandonados e incultos , vil-las dezertas
,Cidades em ruinas ! . . . Cami-
nhava sobre os restos de antigas memorias , eencontrava a cada passo vestgios de templos,palcios , fortalezas *, columnas , aqueductos,tmulos, obeliscos!.... Este expetaculo at-trabio meu espirito para a meditao dos pas-rsados tempos
,e suscitou em meu coraa rcio--
cinios mui graves e profundos^,Cheguei s margens, do Orontes , e toquei o
recinto da Cidade de Hems , banhado pelasaguas daquelle rio : recordei-me que pouco dis-tava de Pahnyra, situada nodezerto, e decidi-,me a admirar por mim mesmo seus monumentosto gabados, e cuja descripo srvio de assum-pta para alguns Geiios raros ostentarem a vi-
va, cahiria na baixeza de acceitar uma paten-
te de Capito nas Guardas de Catbarina II. ?Depois destas aces de lustre, tornou o vilChahin para entre os Turcos
,que , segundo a
seu cQbtume^ o estringulro.
6
ve^a de seus engenhos. Depois de trs dias decaminho em 'adustas solides, ermos ingratos^e infecundos dezertos, atravessei umvalle pheiode grutas e tmulos, e de repente ao sahirdel-le 5 descobri na planicie a scena de ruinas amais espantoza ! . . . U ma innum eravel mul-tido de soberbas e bem trabalhadas columnasainda inteiras, e que a semelhana das que em-bellezo as extremidades dos mais vistozos jar-dins se dilaavo at se perderem de vista,em filas symetricas, me rodea,va. Magnificosedifcios se avistavo entre estas columnas
;
uns ainda izentos do fero estrago que a modo tempo faz padecer a todas as obras humanas;por toda a parte estava a terra juncada de rel-quias de capiteis , e pedaos de madeiramento
,
arquitravas,
pilastras,
frizos,
cornijas,sima^
lhas, tudo de mrmore branco, e cujo primo-rozo remate fazia tacitamente acreditar
,
que aArte tinha exhaurido seus recursos , e levadoao maior auge sua perfeio. Mais de trs quar-tos d'hora me entretive na analyze de tantos es-tragos^ e accordando desta espcie de lethargia,entrei no mbito d'um vasto edifcio
,tem-
plo que fora consagrado ao Sol: hospedei-meBas mizeraveis choas de camponezes rabes,que tinho levantado suas cabanas mesmo so-.bre o trio do templo, e rezolvi demorar-mealguns dias para examinar mida eattentamen-te as bellezas
,que em monto se me aprezen-
tavo aos olhos.Nem um s dia se passava sem que sahis-
se a comtemplar alguns dos Monumentos quejazio dispersos na plancie 5 e tendo uma tar-
de o espirito combatido de reflexes , adiantei-me at ao talle dos sepulchros ; subi as alturasque o cingem , e cujo cume domina o todo dasminas , e a immensidade dos dezertos. Acaba-va de se por o Sol; umi cinta avermelhada as-sinalava a sua marcha no Horizonte junto dasmontanhas da Syria ; a Lua cheia se elevavaao Oriente sobre uma abobada azulada por ci-ma das lizas bordas do Euphrates : o Ceo esta-?va sereno, o ar agradvel,' e uma branda vi-rao agitava suavemente os tenros arbustos : omuribundo explendor do dia temperava o hor-ror das trevas; a nascente frescura da noute mo-derava o calor da terra abrazada ; os pastorestinho recolhido seus rebanhos; nenhum movi-mento attrahia minhas curiozas investigaes so-bre a campina montona e cinzenta : uni com-pleto, e no interrompido silencio reinava nodezerto : s6 a longos intevvallos se escuavo osgritos lgubres das Aves agoureiras da noute
,
e de alguns - Chacais - [>i^-] As sombras iocubriudo toda a superfcie , e j no crepsculonada mais distinguido minhas vistas, do que asesbranquiadas sombras das columnas edos mu-ros. Estes sitios tranquillos esta tarde plcida,imprimiro em mim um religiozo retro deimag^inao. O aspecto d'uma grande Cidadedezerta , a comparao do seu estado prezentecom a sua grandeza pretrita , a memoria de
[i^] Animal muito parecido com a rapoza;porem menos astuto , e de um exterior defor-me. Vive de cadveres , e habita os rochedos erunas, onde tem seus escondrijos.
que aquelle fora o theatro de antigo herosmo^
tudo isto suscitou em jnim altas idas e mages-tozas combinaes : assentei-me no tronco deuma columna , e firmando o cotovelo sobre ojoelho 9 e a cabea sobre a mo : ora espraian-do minhas vistas pelo dezertOj ora fixando-asnas ruinas , abandonei-me a um extaze pro-fundo.
CAPITULO ILA Meditao,
ALqtji, disse comigo mesmo , aqui floreceun'outro tempo uma Cidade memorvel; a Se-de d'um poderozo Imprio. Sim: nestes luga-res agora despovoados
,ja uma multido la-
borioza deu alma ao seu circuito,e gente cheia
de nobre fogo e actividade girava nestas estra-das hoje solitrias. Nestes muros 5 onde reina umtriste silencio retumbavo sem cessar os bradosdos industriozos habitantes , dedicados com af-fmco s Aries 5 as acclamaes, os gritos dealegria , as vozes dos convivas nos festins ! Estesmrmores amontoados formavo palcios regu-lares; estas columnas abatidas ornavo amges-tade dos Templos; estas galeras derribadas af-formozeavo as praas, pblicas ; dalli, paraen-^cber as funcoes respeitveis do seu culto, a fimde exercer os deveres essenciaes da sua subsis-4encia, concorria um povo numerozo : d'aco-l, uma industria creadora de prazeres e go-zos accumulava as riquezas de todos os climas
,
9
permutando-se a prpura de Tyro pelo fio pre-ciozo de Serica [*] os brandos tecidos de Ka-chemira [**] pelas pompozas alcatifas de Ly-dia ; o mbar do Bltico pelas prolas e perfu-mes rabes, o ouro doOphir *^.^*-] pelo esta-nho de Tjul.
Mas que resta de tantas maravilhas? Quesubsiste desta Cidade famoza? um lgubre elastimozo esqueleto ! . . . . Dessa vasta domina-o q^e nos ficou? uma lembrana va e obs-cura ! . . . . Ao concurso ruidozo que se atrope-lava debaixo desses prticos que succedeu ? Asolido da morte ! . . . O silencio dos tmulossubstituio o murmrio das praas pblicas ! . .
.
Mudou-se em horrivel pobreza a opulncia des-ta Cidade admirvel .... Os palcios dos Reis
[]^-] Este fio a seda originria do paizmontuozo onde acaba a - grande muralha - econforme judiciozas conjecturas foi o bero doImprio Chinez.
[ ^* ] Os tecidos d que se trata so osque Ezequiel dezignou pelo nome de - Choud.houd. -
[*^B!f] Este paiz tao procurado um dosdoze Cantes rabes
^e ligando-nos aos Au-
thorcs de melhor nota, se denomina hoje -O-for - no terreno d' -Oman- sobre o Golfo Pr-sico
,rico em ouro , diz Strabo , e pouco dis-
tante de - Haula - ou levila - lugar celebradopor ca.uza da pesca das prolas. Veja-se o Ca-pitulo 27 d'Ezequiel, que aprezenla um qua-dro mui curiozo e vasto do Commercio da Azianesta poca.
10
servem de covil de fras, e abrigo de animaessilvestres .... As manadas fazem seu redildentro dos umbraes dos templos
,e immen-'
SOS reptis habito os santurios dos Deozes ! . . .Como se eclipsou tania glria! ..... Porquefunesto destino se inutilizaro tantos traba-lhos?.,.. E' assim que perecem as obras doshomens . . . Deste modo se dissipp os Imp-rios e as Naes ? . . . .
De improvizo^ a memoria dos fcistos memo-randos da antiguidade tomou pos^e de minhasfaculdades intellecfuaes : a Historia, esta mes^tra dos, costumes ^ se avivou novamente eih mi-nha lembrana. Recordei-me desses Sculos deheroicidade
^em que vinte puvos respeitados
existio nestas regies. Figurou-se-me vroAs-syrio sobre as margens do Tygre . o Chaldeojunto das bordas do Euphrates 5 o Persa dictan-do leis desde o Indo ao Mediterrneo : trouxea memoria os Reinos de Damas, Idumea , Je-rusalm, e Samaria; os Estados bellicozos dosFilisteos
,e as Republicas abastadas da Fyni-
cia. Esta Syria,dizia
,hoje quazi deshabitada,^
contava ento cem poderozas Cidades [ * ] '
seus campos estavo cobertos de villas , aldes,e cazaes. De todas as partes unicamenfe seviocampos cultivados , estradas frequentadas , ha-bitaes amenas. Ah ! em que viero a pararestas idades de ouro , estes tempos de abundaii-
[^] Julgando exactos os clculos de Josephe Strabo , continha a Syria dez milhes de ha-bitantes
,e os vestgios decultuia, e habita-
o confirmo este parecer.
cia e vida ? Que fim tivero tantas instituiesbrilhantes? To grande nmero de inventosobras primas da mo do homem? Onde estoos baluartes de Ninive , os jardins de Babylo-lia, o3 'palcios de Persepolis , os templos deBalbek e de Jerusalm? Onde se em prego es-sas frotas de Tyro 5 esses estaleiros d'Arad ^ es-sas escolas de Bellas-Artes de Sydon , essa pas-iiioza multido de marinheiros
,
pilotos,
ne-
gociantes , soldados, artistas? Onde esses agri-cultores 5 essas sementeiras , esses rebanhos , eessa creao de entes vivos
,
queenchio de van-gloria os habitadores da face da terra
;porm y
oh magoa ! Eu peregrinei por essa terra assola-da ; vizitei os lugares que foro theatro de tan-to lustre e sumptuozidade , e sS contemplei des-amparo e solido ! Procurei os antigos , ou pe-lo menos suas obras, e s encontrei mal apa-gados vestgios 5 semelhantes aos que deixo aspizadas do caminhante quando as imprime haara movedia. Os templos esto em terra , ospalacips demolidos, os portos entulhados, ascidades destrudas, e o paiz mi de habitantes, s6 um vasto campo semeado desepulchros !...Um medonho retiro de aves de rapina ! . .Grande Deos ! Donde provem to funestssimas
, revolues? Porque fataes vicissitudes mudou,de um para outro extremo , a fortuna e cele-bridade destes paizes? Quaes as cauzas que pro-duziro a enorme destruio de cidades popu-lozas? Porque motivo se no perpetuaro e re-produziro as antigas geraes.
Entregue deste rnodo ao meu delrio e trans-porte
,novas reflexes se offerecio sem cessar
12
minha ida, T^o,
continuei, desconcertameus juzos-, perturba meu intellecto, e arrojameu espirito na incerleza e agitao. Quandoestas regies logravo os bens , nos quaes fa-zem os homens consistir sua boa fortuna; eromfieis os que as povoavo; era o Fynicio, sa-crificador homicida de Molok
,
que amontoavadentro destes muros os cabedaes de todos os cli-mas; era o Chaldeo prostrado diante da Ser-pente [5^-] 5 que subjugava os palcios dos Reis,e 03 templos dos Deozes ; era o Persa adora-dor do fogo, aqum muitas Naes pagavotributos, e rendio vassaliagem; ero os iiabi-tantes desta mesma cidade adoradores do Sol
.
e dos Astros, que erigio tantos monumentosde prosperidade e luxo. Rebanhos numerozos,campos frteis, colheitas abundantes; tudo quan-to devia ser prmio da piedade estava nas mosda Idolatria 5 e agora que povos crentes e san-^tos abrem as entranhas desta terra fecunda, s ap-parece a esterilidade, e cultivada por suas mosabenoadas brota de si absinthosearas! Oho-^mem sema opprimido e dilacerado pela angustia,e no reeolhe mais que lagrimas e cuidados : aguerra , a fome , e a peste de mos dadas o as-
[ ?^ ] O Drago Belo tirou o. seu nome deum Rei da Assyria, filho de Neptuno e de-Lybia. De principio tributavo-se hom*as divi-^nas sua estatua ; porem depois os Chaldeose outros povos o adoraro debaixo do nome deBaal. Jpiter tambm recebeu adoraes coraiJa denominao de Belo.. Consulte-se Josephliist. Jud. [Do Traductnr.].
_ 13 ~
salto ! . a . No so porem estes os filhos bemqueridos dos Profetas ? O musulmano , o chris-to 5 o judeo , no sero acazo gente escolhidapelo Ceo 5 e sobre a qual jamais se caria dederramar torrentes de graas e milagres? Qiienovos attentados cavario outro abysmo a es-tas raas privilegiadas ^ e as poria fora do al-cance dos mesmos benefcios? Porque se achoprivadas dos favores primitivos estes lugares au-gustos santificados com o sangue dos martyres?Porque foro banidos^ e rezervados para outrasNaes? A estas palavras seguindo minha m.en-te o curso das revolues que tem transmitti-do o sceptro do mundo a povos differentes emcostumes e culto , desde os da Azia antiga a(os da moderna Europa , entrei insensivelmentena meditao das convulses politicas
,
que porvezes tinho feito nadar em sangue o meu pai
z
natal: este doce nome de Ptria suscitou emmim lembranas de saudade ^e voltando para el-la minhas vistas, demorei meus pensamentos so-bre a situao em que a tinha deixado L^^3-
[*] Em 178^5 no fim da guerra da Ameri-ca. poca dezastroza no s para os Ingiezes,mas tambm para Luiz XVI. : os primeirosperdero aquellas ricas Provincias, eo malfa-dado Monarcha
,no soccorro que deu aos Inde-
pendentes, collocou elle prprio um degrau pa-ra subir ao patibulo.
Entre tantos Anlicos que compunho a de-pravada Corte de Versalhes : no meio dessa mul-tido de Verres mpios , e sanguinrios que la-gellavo o povo
^ nenhnm pOde prever as fiines-
_ 14
Debuxro-se-me na idaseus campos ricalnen-te agricultados, suas estradas sumptuozamciite
tas consequncias que traria comsigoesta inter-veno no regimen de paizes que entravo denovo na lista das Naes Soberanas , e que es-tavo em disseno com a Mi-Patria. ?? OsAnglo-Americaoos ficaro livres , desde o diaern que declararo a sua Independncia. ?? Talfoi a fraze memorvel inserta na I)'claraoque Luiz XVI. fez entregar ao Gabinete In^glez pelo seu Embp,ixador , seguindo-se daquia discrdia que dii^idiu o espirito pblico emambas as Potencias . e a fria indifferenca comque a^Inglaterra contemplou o fim mizerandodaquelle que dispozera at ento das vidas e fa-zendas de vinte e cinco milhes de homens : li-gando-me ao pensar dos mais abalizados Pol-ticos
,asseverarei que concorreu para o trgico
fim do desditozo Luiz XVI.Um sem numero de inconvenientes se origi-
naro deste cmulo de clrcumstancias : foro el-les os escolhos onde o descendente de 65 Reisse perdeu ! Porem aos cortezos , c|ue s se afa- 'digo por lograrem o aivo de suas tramas^ pou-co custou 9 sacrifcioda sua victima : deverioarjredar a borrasca que ao longe se armava, emvez de prestarem novas foras e materiaes aoincndio : nada disto pozero em obra: effemi-nados, cobardes , e infames , unicamente se oc-cupavo em devorar o que as classes producto-ras adquirio; e nutrio-se da substancia pbli-ca sem temerem o dia da terrivel vingana.
Mas elle rompe^ e em quanto a Adminis--
15
traadas, uas Cidades habitadas por uma po-voao mmen>a, suas frotas espalhadas em to-
trao Franceza lutava sem exito feliz contra
a decadncia occazionada por dois Sculos deprev poremquando menos o penso eiles mesmos os desli-gao e emancipo. Luiz XVI. presumio que aguerra da America era para a mocidade Fran-ceza um exercicio de herosmo e coragem; masilludio-se: ella foi aprender na escola da Liber-dade
,bebeu suas mximas , e trouxe impressos
na ideia os princpios e os exemplos, Aquella
le-dos os mares ^ seus portos em contnua afliien-cia com os tributos de uma e outra ndia ; ecomparando a actividade e amplido de seuCnmmercio, o gyro da sua Navegao, a ma-gnificncia de seus monumentos , as Artes , e aIndustria de seus habitadores , com tudo quan-to o Egypto e a Syria possuiro n'outros tem-pos, comprazia-me em recuperar oluzimentodaantiga Azia na moderna Europa. Mas bem de-pressa se enlutou meu corao , e os encantosdeste sonho jucundo, foro murchados por umnovo raciocinio. Reflexionei que igual concur-so se tinha afadigado naquelles lugares que con-^templava* Quem sabe, proferi melanclico*^ sevir dia em que um semelhante abandono tor-ne desconhecido o clima agradvel, onde abri
guerra custou Frana mais de mil e duzentosmilhes de francos; e comtudo foi esta a menorferida que abriu na Monarchia. Desde que oRei reconheceu forni aimente o direito impres-criptivel que tem as Naes de mudar os Go-vernos , immediata mente se propagou o dogmapolitico da Soberania do Povo
,repelindo-se
n'uma infinidade de escritos que circulavocom rapidez. A Corte s podia justificar aosolhos do pblico a cauza que emprehendraapoiar , no se oppondo propagao das m-ximas que um Governo arbitrrio devia con-demnar : rezultou de toda esta combinao decircumstancias, qne debaixo do regimen mornar-chico se fez democrtico o espirito pblico [ DoTraductor* }
.^ 17
jpela primeira vez meus olhos luz do dia? Queisabe se junto das margens deleitozas do Sena,do Tamiza , e do Sviderze ^ onde agora nopodem os olhos e a ideia supportar o confuzotropel dos attractivos da Natureza , onde mul-tido de sensaes nos distrahem ; quem sabe ,se outro viajante
,repetir a scena
,que hoje
se passa neste rido retiro ; quem sabe , se assen-tado
,como eu sobre mudas ruinas , chorar so-
litrio em cima das frias cinzas dos Pvs, ea dissipada sombra de sua grandeza? A estaspalavras no pude reprimir o pranto : meus olhosse ariazro de lagrimas, e cobrindo cabeacom a fmbria do meu vestido , me deixei in-teiramente dominar por sombrias ponderaesacerca da contingncia das cousas humanas^Ah ! desgraado homem ! exclamei no cmuloda dor : uma cega fatalidade [^] mofa de teudestino! Uma necessidade funesta rege ao aca-so a sorte dos mortaes ! Porem no : estes soos Decretos irrevogveis da justia celeste quese cumprem : Um Deos mysteriozo exerce seusincomprehensiveis juizos. Sem duvida que um,secreto e espantozo anthema alcanou estasEegis ; em vingana dos delictos das extin-
[[v^] Preoccupao universal, e assaz arraiga-da entre os Orientaes. - Est escrito - ; eis aresposta , com que satisfazem aos mais srios ebem deduzidos argumentos , de cujo hbito re-5;ulta uma indolncia e apathia
,que so os
maiores tropeos e obstculos,
que podem le-vantar os estpidos inimigos at do menor vis-lumbre de civiUzao,
B
18
tas mas 5 fulminou maldio sobre as prezen*tes : quem ousar sondar os fins da Divindade ?
Permaneci immovel mergulhado em profun-da melancolia,
CAPITULO HLA Sombra.
N,este meio tempo atordiu-me osoUvdos uminusitado zumbido , bem semelhante ao estrpi-to de flucluantes roupas ^ ou ao brando rumorda marcha a passos lentos sobre a seca relva.Inquieto e agitado , ergui a extremidade da mi-nha capa 9 e lanando para todos as lados vis-tas furtivas
^de repente pareceu-me ver minha
esquerda , na misto do claro escuro da Lna
,
a travz das columnas e das ruinas d vezinhotemplo 9 uma sombra esbranquiada envolvi-*da em longas e pompozas rompas
,iguaesaquel-
las com que se pinto os espectros sahindo dostmulos. Estremeci ; e em quanto perplexo he-*citava, no me sabendo rezolver a fugir 5 ou ainvestigar o objecto que tinlia prezente ; emquanto combatia o pavor com a curiozidade
,
os graves accentos de uma voz sepulchral mefizero ouvir este discurso.
At quando com injustos queixumes impor-tunar o homem os Cos? At quando por vosclamores accuzar a sorte de seus males? Serpossvel que conserve semprC/ os olhos fechados luz 5 e o espirito s insinuaes da verdade eda razo ? E^ Yerdeide lumaoz^ de contnua
,
19
lhe pparece, simples e fulgente , e elle a naov 1 O brado da razo rettimbaen seus ouvidos^e elle o no escuta! Homem inconsequente 1Se podes por um instante suspender o prestigioque fascina teus sentidos ; se teu corao ca-paz de comprehender a linguagem do racioc-nio, interroga estas ruinas^ es^tuda as lies quemudamente te aprezento ; embebe teu espiritoem suas mximas ! . . . E vs , companheiros in-separveis de vinte Sculos diversos; testemu-nhos enrgicos de mil faanhas espantozas; tem-plos santos , tmulos venerveis
^nuros n'ou-
trs idades gioriozos; apparecei,
vinde comvosso silencio advogar .a cauza da mesma Na-*tureza. Deponde perante o tribunal do so en-tendimento contra maaccuzao injusta! Con-*fundi as declamaes da falsa sabedoria , dahypocrita piedade , e vingai a terra e os Ceosdo mortal que o3 calumna.
Ligue o sbio que blazona de raro talentouma ideia adequada a essa, que elle denomina,- cega fatalidade
,
que sem regra , e sem Leis^mofa da sorte dos mortaes. - Qual essa n^cessidade injusta que confunde o xito e termodas aces de prudncia ou de loucura? Emque consistem esses anthemas celestes vibra-dos sobre estes paizes? Onde est essa maldi-do que perpetua o desprezo destes campos? Pal-iai
,monumentos das passadas pocas ! Muda-
ro acazo os Astros suas Leis 5 ou a terra seumovimento? Apagou o Sol seus luzeiros por to-do esse Orbe immenso ? Mo se elevo dosma^res Condensados vapores? Permanecem coagu-ladas ios aerios espaos aschvivasj e osroscios
^ go
Eetem as montanhas suas nascentes? Estanca-ro-se os mananciaes dos rios? Esgota ao suasaguas? Ou esto privadas as plantas de semen-tes e fructos? Respondei, raa de mentira e ini-quidade : alterou Deos essa ordem primitiva econstante, que elle prprio indicou Nature-za ? Se nada mudou na eieao ; se os mesmosmeios que existio ainda subsistem
;qu^^ emba^
rao 9 que estorvo ha para que as raas prezen-tes sejo o que foro as passadas? Ah! Comoincrepais falsamente a sorte e a Divindade ! E'sem motivo que attribuis a Deos a cauzade nossas desditas. Dizei, raa perversa e hy-pocrita : se estes stios esto devastados ; se vo^luptuozas e deleitveis cidades ficaro reduzidasa medonhas brenhas, Deos que motivou asua ruina? Foi seu brao que derribou estasmuralhas, sapou estes templos, mutilou estascolumnas , ou a mo do homem? Foi o braode Decs que levou o ferro a cidade , as cham-mas campina, que degolou, incendiou as mes-ses ^ arrancou as arvores , talou os campos , fezpilhagem na cultura , ou o brao do homem ?E logo que depois da devastao das colheitas 5se seguiu a fome, foi a vingana de Deos quea originou, ou o insensato furor do homem? Sedesesperado pelos horrores da penria o povo senutria de poUutos alimentos , e sobreveio ino-pinadamente e de sobre sal to a peste , foi a c-lera Deos que a enviou, ou a imprudncia do ho-mem que a attrahiu ? Quando a guerra , a fo-me
,e a peste" com suas afiadas foices segaro
as vidas dos habitantes , se a terra ficou dezer-ta^ foi Deos que a despovoou? E' a sua .cubi-
SI
a ardente que rouba o agricultor, expollia ocampos productores , e saqua as plancies , oua avareza dos que governo? E' o seu orgulhoque accende guerras homicidas, ou a altivez.^capricho V ^becilidade dos Reis e seus Mi-nistros? [i^] E' a venalidade de suas deeizes^
[*] Os Dspotas no delirio de suas imagi-naes 5 no lhes custa
,
para satisfazer extra-vagantes dezignios
,sacrificar toda uma Na-
o,
e encher de luto , mizera , e pranto unisem nmero de pessoas. Quantas vezes temosns visto o facho horrvel da guerra ateado pormotivos bem Jeves, e as mais das vezes rrizo-rios ? Uma expresso
,a precedncia de lu-^
gar entre Embaixadores,uma fraze inconsi-
derada, rivalidades individuaes, e outras seme-lhantes cauzas, tem por muitas vezes, innun-dado o Universo de sangue e crimes, A um le-ve aceno do tyranno arrancado o filho dosbraos de seu velho pai , da carinhoza, me cur-vada com o pezo dos annos , rouba-se Agri-cultura um cultivador assiduo, ao Estado umCidado 5 vai sepultar-se o e -pozo debaixo dasruinas diurna praa , acaba no campo s mosdos inimigos , desfakce a Indstrixi
,
poe-se emdesprezo o Commercio
,perde-se o gosto Na-
vegao,em uma palavra, embrutecidos os cre-
bros, e obstando ao accesso das luzes, faz esqueceraos homens seus direitos. E que au' horidade temoDepozitario do Poder Supremo de declarar guer-ra, e fazer marchar, quaes vis autmatos, enteslivres, s guiado pordamnados conselhos de va-lidos, e induzi io por sua loucura e capricho?
2
que anniqula a fortuna das faniilias , ou o so-
Se os Povos tivessem conhecimento do que po-dio , e reflexionassem que todo o poder dellesprovem
,que a Soberania nelles rezide
,que os
JReis naJa mais so que seus Procuradores, eque semelhana dos particulares
,podem pri-
va-los das Procuraes, quando seexcedap, nodeveiio declaradamente rocuzar condescendercom os extravagantes intuitos dos malvados? Emquanto todas as Naes se no possurem des-tas eternas verdades, sempre os JDespotas tiun-faro; porem; h ! prazer! os Povos vo acor-dando do seu lehargo, e o brilhante fulgor es-pargido peio refulgente farol da Liberdade , dif-funde seus revrberos por quazitoda a terra. Es-ses mesmos agrilhoadores da humanidade , e^sesque se jacto de debater pontos a fim de a fa-zer gemer; esses, finalmente, que se dizem Che--fes das G randes Naes
,ou MembrOs da Santa
AUiaua , tenebrozo Concilibulo de Conspira-dores contra a Independncia dasNaoes livres,j tremem , unicamente com a mera lembran-a do exilo que tero suas tramas contra mui-tos milhes de^homens, que despedaaro brio-zos os ferros da escravido. Feliz y. e na verda-de feliz me considero, por pertencer grandeFamlia Portugueza
,que do centro do mais
hediondo despotismo., passou mais bem en-tendida Liberdade, e que no meio de quazito-da a Europa escrava [ pois excepto Hespanhae Inglaterra , todos os outros paizes so despo-ticamente regidos] soube dar um exemplo ad-mirvel d'heroimo, [DoTraduj:tor.
.]
23
borno dos orgaos das Leis ! [*] So em fimsuas paixes que debaixo de mil formas ator-mento os individuos e os povos , ou os desme-surados appetites dos homens? E se na agoniade seus infortnios no depro com os rem-dios , a ignorncia de Deos que se deve cul-par , ou a sua incria? Cessai , pois, o mortaes
,
de acGuzar a fatalidade da sorte, ou osjuizosdaDivindade! Se Deos bom, ser o Author do
[*] A enorme prevaricao dos Magistra-dos uma das cauzas assaz poderozas , dondetem emanado as revolues. EUes, em vez deadministrar , vendem a justia , e tantos atten-tados tem deixado impunes, tantos innocentestem punido, como infames que postergo a seusabor a inviolabilidade das Leis, e as torcem
^
segundo lhes apraz , chamando sobre si a mal-dio geral. Taes delictos ero em demazia pa-tentes a todas as classes no mesmo antigo e ar-bitrrio regimen
,que opprimia Portugal ; po-
rem os prfidos levavo seu descaramento ao pon-to de prohibirem as queixas, por cmulo de vi-leza se estava condemnado a beijar a mesmadextra do assassino e ladro ! Desditozo o im-prudente que ouzasse proferir uma nica sylla-ba contra os Senhores Desembargadores ! . . . .Oh ! Blasfemo ! contra Suas Senhorias !. . . Ter-rivel punio o esperava ! O que ainda magoaos liberaes , ver
,que a pezar de toda a Na-
o Portugueza ter recobrado seus foros e izen-es, ainda permaneo nos cargos , Minis-tros que por seus feitos escandalozos merecem iexacrao publica. [ Do Tr^ductor. ]
vosso supplicio? Se justo, ser o cmplice devossos atteritados ? No , no : a extravagnciade que o homem se lamenta , no o caprichodo destino ; a obscuridade onde se perde sua ra-srQ
,no a obscuridade de Deos ; a origem
de suas calamidades no deriva dos Cos; jun--to delle a tem sobre a terra: no a julgue oc-culta no seio da Divindade : ella rezide no mes-mo homem ; ostenta imprio sobre seu mesmocorao.
Murmuras e dizes: Povos infiis gozaro dosbenefcios dos Cos e da terra; raas escolhidasvivem no centro de toda a classe de privaes:mais affortunadas ero pois geraes mpias ! . . .Homem fascinado ! Onde existe a contradicoque t'escandaliza ? Onde est o enigma que sup-pes na celeste justia. Eu te, confio a balanadas graas, e das penas; das cauzas edoseffei-tos. Dize : quando esses infiis observavo xisca as leis prescriptas no Cdigo Divino; quan-do ero humanos
,beneficientes
,hospitaleiros
,
justos;quando regulavo intelligentes louvveis
fadigas sobre o ordem das estaes , e o cursados Astros, deveria o Ente dos Entes interrom-per o equilbrio do mundo para illudir sua pru-dncia? Quando suas mos cultivavo os cam-pos com cuidado e suores, deveria compensarsses laboriozos esforos suspendendo as chuvas,os refrigerantes orvalhos , e fazer brotar espi-nhos ! Quando
,para fertilizar esse terreno ri-
do , construio , com sua indstria , ptimosaqueductos
,escavavo a terra
,
profundavocanaes^ conduzio a travz de seus dezertos
,
aguas longnquas ; deveria estancar os manan-
25
caes d'gua das montanhas , arrancar - o trigonascido com soccorro da arte, devastar os cam-pos povoados na paz
,demolir cidades
,que o
trfico engrandecera, perturbar finalmente a or-dem instituda pela sabedoria do homem? Cri-minas com tanto affinco essa infidelidade, e nomeditas que fundou Imprios pela pru4encia
,
defendeu-os pela justia,
e firmou-os pela co-ragem ? No toques de passagem um ponto toimportante, e pensa que erigiu Cidades poten-tes 5 alou at s nuvens sua excellencia e su-blimidade 5 abriu e tornou navegveis portosentulhados, esgotou paues infectos e pestiferos,aproveitou, por meio de valias e sarge ias, ter-ras baixas, alagadias, e contagiozas , cobriuo mar de navios, o mundo de habitantt\s, e semelhante ao espirito creador, espalhou o movi-mento e a vida pelo Universo. Se taes so oscaracteres da impiedade
,
que appellidas verda-deira crena A santidade consiste em destruir ?O Deos que povoa o ar de aves , a terra d''ani-macs, e as ondas de reptis ; o Deos que animaa Natureza inteira ; acazo Deos de ruinas etmulos ? Exige a devastao por homenagem,e o incndio por sacriicio 1 Quer , em vez dehymnos
,gemidos , homicidas por adoradores
,
[*] e por templo o Mundo dezerto e devastai
[ * ] Rios de sangue tem corrido debaixo doindigno pretexto de se exercerem estas abomi-naes por servio de Deos; erro propagado porfanticos, por malvolos, finalmente por Theo-logos
; que sem ponderarem que ao Deos de paznunca poderio ser bem aceitos os horrores da
se-do? Eis-aqui, pois, raas santas e fieis , s vos-sas obras; os fructos da. vossa piedade. Povosinteiros foro victimas da sanha que vos trans-portava : queimasteis cidades
,saqueasteis os
que as habitavo , arrazasteis culturas , reduzis-teis
,em quanto emprego os olhos
^a um di-
latado sepulchro ! . . . E pedis a paga e recom-pensa de vossas aces meritrias? Antevejo queser necessrio obrar milagres para vos conven-cer : pertinazes , no confessareis vossa mal de-fendida tenacidade , sem resuscitar os lavrado-
guerra , armaro Naes inteiras umas contraoutras, espalhando o frivolo principio de queisto era do agrado do Senhor ! . . . Ah! Mons-tros ! Que coitradicoes ! E imbuis o povo in-cauto, a multido indouta em mximas quegero a sua ruina? E no tendes no Divino Le-gislador , Apstolos da Ignorncia e do Despo-tismo, um claro exemplo do contrario que an-Runciaes ? E' acazo pela violncia que elle con-verteu tantos entes ? No foi com as armas dapersuaso e doura que superou formidveis ob-stculos? E', pois, falso que deste original imi-tsseis os horrores que commettesteis. Corai depejo, se de vergonha sois capazes, intolerantesimpostores ! Corai de pejo pelas intrigas , cri-mes, e excessos perpetrados face da terra, deque vs , com pequena excepo , sois origem !Cinzas illustres de tantos vares benemritos,reanimai-vos , e vinde accuzar perante as pre-zentes geraes estes filhos das trevas ! Profun-do Descartes ! Immortal Gallileo 1 Sbio JosAnastcio I Sahi de vossos tmulos e vinde lan-
res que estrangulasteis , erguer os muros queabatesteis, reproduzir as messes que nutilizas-teis , ajuntar as aguas que dispersasteis , con-trariar em fim todas as Leis que regem os Ceose a terra ; Leis promulgadas pelo mesmo Deos,em demonstrao de sua magnificncia e gran-deza: Leis eternas anteriores a todos os Cdi-gos e Profetas : Leis immutaveis
,
que as pai-xes ou ignorncia dos homens no podem al-terar : porem as paixes que as menoscabo , aignorncia que no observa ascauzas, nem pre-v os effeitos, dissero na estpida prezumpo
ar em rosto aos inimigos das Sciencias, 05 in-fortnios que vos martyrizro !
Impossivel me ser traar n'um golpe devista a linha infinita de vossas maldades! Asvergonhozas expedies dos Cruzados; as crue-lissimas carnificinas dos ndios , tantos destesmizeraveis e innocentes devorados pelas cham-mas e entregues ao ferro , as fogueiras e tor-mentos inquizitoriaes, as intrigas politicas, azizania e discrdia enlre os povos , a persegui-o dos Huguenotesj a matana no horrvel diade S. Bartholomeu , a expulso dos Judeus! ...oh ! eu nunca acabaria se projectasse enumerarvossas maldades, vistas sanguinrias, e cubi-ozas emprezas ! . . . Ainda tacitamente bramis,e vosso estragado corao se enraivece por serimpossivel, pois o progresso da civilizao o ve-da 5 I eproduzirem-se scenas para vs jucundas !Mas 5 ah ! antes os raios celestes vos partissem,e sobre vos chovessem. , e a terra vos tragasse
!
[ Do Traductor. ]
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de seu disparatado crebro: Tudo vem doacazo : uma cega fatajidade derrrama o bem eo mal sobre a terra, sem que a prudncia ou osaber posso prezervar-se. Ou affeclandouma linguagem bypocrita bradaro : Tudoemana de Deos; el!e se compraz em enganar asabedoria , e confundir a razo. E a igno-rncia se applaudiu em sua malignidade : ?? As-sim (exclamou ) igualarei a Sciencia que mefaz sombra ; tornarei de nenhum effeito a pru-dncia que me fatiga e importuna. ?? E a cu-bica accresceatou : ?? Por este meio opprimireio fraco
, devorarei os fi uctos de seu trabalho,
e direi; j^jFo Deos quem o decretou: a sor-te que o permittiu ! ??V Mas eu juro pelas Leis do Ceo e d terra
;
pelas Leis que regulo o corao humano; queo Ijypocrita descer baixeza de sua condio,o dspota ao vilipendio de sua origem , especio-zamente seduzido pelas mesmas fraudes e d5-los, de que se valer, e o injusto e prepotentes achar recurso na rapacidade. Verei antesmudar o gyro dos planetas, do que prevalecer afatuidade e calunia sobre a verdade e saber, de que a cegueira e inconsiderao leve a pal-ma prudncia , na Arte delicada de procurarao homem seus verdadeiros prazeres, e de fun-dar sobre bazes solidas sua felicidade.
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CAPITULO IV.A E ju p o z I o.
A,ssiM se exprimiu a Sombra. Atloiiito e es*Uipeficto pelo seu discurso
,e comprimido q
corao por diversas ideias,
perzeverti longotempo n^i silencio. Em fim
,animei-me a to-
mar a palavra, e disse: O' Gnio dos tmulos,e das Tuinas! Se tua prez=ena e severidade pu-zro em disseno meus sentidos, tuas vozesjudiciozas re^titairo a confiana minh^tlma.Perdoa minha ignorncia: se o homem cego,far o seu tormento o que constitue o seu cri-me? Pude dar costas ao impulso da razo; po-rem no o repelli : sua chama abrazou todoo meu ser. Ah! tu que ls em meu corao,sabes quo dezejozo elle busca attingir a verda-de ; sabes que no desacorooo por maiores quesejo os obstculos accumulados para difficultarsua indagao ? No em sua busca que me vsnestes sitios remotos ? Ah ! corri toda a terra
,
vizit^ii os campos ^ e as cidades , e vendo portoda a parte indigncia
,prevaricaes , e cala-
midades 5 o sentimento dos males cjue atormen-to meus semelhantes me atribulou profunda-mente. E' pois o homem creado para a dor eangstia ? Exclamei arrancando do peito do-lorozos suspiros , e applicando meu espirito meditao de nossos infortnios, para descubrirantdotos contra taes dezastres
,
prosgui : Se-parar-rne-hei das sociedades corrompidas, fugi-
~ 30 . .
rei dos palcios ^ onde a alma se perverte pelasaciedade , e das cabanas onde se envilece pelajTiizeria : irei na solido viver entre as ruinas
:
interrogarei os antigos monumentos sobre a sa-bedoria dos tempos j decorridos ; avocarei daseio dos tmulos o espirito que outr'ora iiaAzia constituiu o explendor dos estados, eaglria dos povos Perguntarei s cinzas inani-madas dos Legisladores, porque movei se exal-'^to e precipito os Imprios? De que cauzas nas-cem a prosperidade e os revezes das Naes?Sobre que princpios, em fim, devem estabele-cer-se a paz das sociedades, a concrdia das fa-mlias, e a ventura dos homens?
Emmudeci; e com os olhos pregados na ter-ra, esperei impaciente a resposta do Gnio. Apaz, disse elle
,e a felicidade desdobro seu
manto salutar e benfico sobre o que pratica comjustia, e volto costas ao monstro egoista , fla-gello da humanidade. O' mancebo ! Pois queteu corao pesquiza com avidez e candura otrilho da verdade
; j que teus olhos podem aindaTeconhece-la a travez da densa nuvem das preo-cupaes, no ser v tua sppiica, nem versbaldadas tuas rogativas: firmarei teus mal segu-ros passos nesta espinhoza vereda , dar-te-heio fio d'Ariadne, neste Labyrintho mil vezesmais intrincado que o de Creta. Essa VerdadeAuguta
,
que inv(Scas , se manifestar sem ata-vas que a envileo; dotarei tua razo de ma-din:eza, e teus a n nos inexperientes de circuns-peco e sizo : em fim, revelar-te-hei a soien-cia dos tmulos e o saber dos Sculos. Aproxi-mou-se, pz-me a mo sobre a cabea, e disse
em tom magestozol: Eleva-te mortal, desliga
,
liberta teus sentidos do p em que rastejas. Su-bifamente penetrado d'um fogo celeste 5 figii-rou-se-me quebrarem-se os laos que nos pren-dem a esta rrioraxm precria, e comparvel aum ligeiro vapor , me vi conduzido a superio-res regies
,arrebatado pelo voo do Gnio. Ahi,
suspenso nos ares,abaixei os olhos ; e aperce-
bi ao longe uma Scena encantadora e extraor-dinria. Debaixo de meus pez flucluava no es-pao um globo semelhante ao da Lua; poremmenor e menos luminozo
,e me deixava
ver uma de suas fazes 5 que tinha o aspe-cto de m disco semeado de grandes man-chas, umas esbranquiadas e nublozas
,outras
escuras, verdes, e cinzentas ; e em quanto meesforava por aclarar o que serio estas
,
pro-rompeo o Gnio nas seguintes palavras : 0'En-te que esquadrinhas a verdade ; para li novoeste espectculo ? O' Gnio ! respondi: se de ou-tro lado no visse o globo da Lua , tomaria es-te pelo seu; pois tem apparencias deste Plane-ta 5 visto com o Telescpio na sombra d'umEclipse: diria que estas diversas manchas soos mares e continentes. Sim , replicou : note enganas : so os mares e continentes do he-mispherio que habitas. Como ! exclamei
:
aquella a tema onde vivem os mortaes ? Sim , me tornou : a este espao
,
que occupa ir-regularmente uma poro do disco , e o bordade quazi todos os lados, que vs denominais
-
vasto Occeano - que do Polo do Sul , exten-dendo-se para o Equador , forma o grande gol-fo do Indo da Africa
5prolojrga-se para oOri-
ente , banha muitas Ilhas Malaias at os cri-fins da Tartaria, e rodeia no Occidente os con-tinentes d' Africa e da Europa at ao norte daAzia.
Esta pennsula de fjrm quadrada,
q[ue nosesta perpendicularmente inferior a rida p-tria dos rabes : esquerda , esse dilatado con-tinntc
-,
quazi tao ingrato no interior , somen-te verde nas extremidades , o terreno abraza-dor habitado pelos ^ homens negros [*] ao norte, aiemdeum mar irregular e longamen-te estreito [^-^^J, vemo=? as alcantiladas pene-dias, e frteis plancies da luropa, rica erh pra-dos e campos: direita, limithrophes com oCaspio, acha o viageiro as nevozas e despidas carri-pinas da Tartaria : voltando para este lado rodea-se o sombrio, e espaoza dezerto do Cobi
,
qu