Volume 1 - Os Campos da Cidade - São José Revisitada.pdf

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    -:v

    ^SAOj/bs d o s C a m p o sH I S T O R I A C K C I D A D E

    C o o r d e n a o G e r a l d a S r i e

    M a r i a A p a r e c i d a P a p a l i e V a l r i a Z a n e t t i

    Volume I

    Os Campos da Cidade:So Jos RevisitadaO R G A N I Z A D O P O R

    Va l r i a Z a n e t t i

    ID ddWodqdUniversidade do Vale do Paraba

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    P A T R O C N I OMinistrio d e

    Minas e Energia

    tiil PETROBRAS

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    M a r i a A p a r e c i d a P a p a l i e V a l r i a Z a n e t t i

    Volume I

    Os Campos da Cidade:

    So Jos RevisitadaO r g a n i z a d o p o r

    V a l r i a Z a n e t t i

    U D i W a D O D

    Universidade do Vale do Paraiba

    2008

    Lab. de Pesquisa eDocumentao Histrica

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    Copyright 2008 Os autores

    C o o r d e n a o ( e k a i .

    Profa. Maria da Ftima Ramia Manfredini

    P r o j e t o g r f i c o k i : a i a

    Carlos M agno da Silveira

    M agno Studio Design Grfico

    E d i t o r a o h i . i - t r n i c a

    Patrick Vergueiro

    R k v i s o

    Teruka Minamissawa

    ISBN: 978-85-7586-045-8

    C21

    Os C am pos da Cidade: So Jos Revisitada / Organ izado po r Valria

    Zan ett i; C oord ena o da Srie M aria Ap arecida Papali e Valria

    Zanetti. So Paulo: Intergraf, 2008

    200p.: il.; 22,5cm

    Srie So Jos dos C am pos : Hist ria e Cidade , v. 1

    Inclui bibliografia

    1. H istria 2. So Jos do s Cam po s, SP I. T tulo II. T tulo da Srie

    III. Papali, M aria Ap arecida, C oord . IV. Z an etti, Valria, C oord .

    CDU:981.56

    M

    m

    ! J / J y - & / C e 7 7 ^ n a

    S o J o s d o s C a m p o s

    Ficha catalogrfica elaborada pela Biblioteca Central da Univap

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    S u m r i o

    Palavra do Reitor Baptista Gargione Filho 7

    Mensagem da Petrobras 9

    Agradecimentos 11

    Apresentao da Srie 13

    Maria Aparecida Papali e Valria Zanetti

    Sobre as C oorden ado ras da Srie 17

    Sobre os Autores do Volume I 19

    Apresentao do Volume I 23

    Valria Zanetti

    1. Efeitos de Memria nas Identidades

    de So Jos dos Cam pos no Sculo XVIII 31

    Maria Alice Lopes e Marco A ntnio Villarta-Neder

    2. Luz da M odernidade Joseense:

    a Lightem So Jos dos Cam pos (1935 - 1945) 53

    Fbio Zanutto Candioto

    3. As Escolas de Antes da Escola: a Gnese da Escola

    (Re)(pub lica)na em So Jos dos Cam pos (1889 - 1896) 75

    Zuleika Stefnia Sabino Roque e Estefnia Knotz Canguu Fraga

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    4. Em Cena: Teatro So Jos, um

    Patrim n io, M ltiplos Significados (1905 - 1940) 95

    Antonio Carlos Oliveira da Silva e Estefnia Knotz Canguu Fraga

    5. A Construo do Plo Regional do Vale do Paraba:

    Planejamento Regional e O rdena m ento

    Territorial de So Jos dos Cam pos 117

    Simone Narciso Lessa

    6. So Jos dos Cam pos: Uma Cidade a Ser Lida 149

    Joo Rodolfo Nunes Machado

    7. Patrimnio e Memria em

    So Jos dos Cam pos: o Passado Enquanto Aprop riao 171

    Cludio Jos Pinto Ferreira, Antonio Carlos Oliveira da Silva,

    Renato Santana Gomes

    8. Na Cidade, Pela Cidade:

    o Espao Vicentina A ranha em So Jos dos Cam pos 185Valria Zanetti, Maria Aparecida Papali,

    Maria Jos Acedo dei Olmo

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    P a l a v r a d o Re i t o r

    B a p t i s t a G a r g i o n e F i l h o

    A R i A A p a r e c i d a P a p a l i e Valria Zanetti so

    I duas operosas historiadoras que emprestam

    L Univap sua colaborao, no s com o dedicadas

    professoras, na graduao e na ps-graduao, mas ain da na pes

    quisa e na extenso.

    E agora esto empenhadas na coordenao de um empreen

    dimento de grandes propores: da srie So Jos dos Campos

    - H istria e Cidade, em sete volumes, descritos s Pginas 7 a 9.

    Este o I o volum e, do qual pa rticipam doze especialistas, alm

    das coordenadoras.

    O que notvel nesta atividade a presena da Universidade,

    com o entidade executora de ensino, pesquisa e extenso, de modoindissocivel. E im portante acentuar que o exerccio desta indis-

    sociabilidade, que caracteriza a Universidade, no tarefa mo

    desta, sendo p oucas as instituies universitrias que conseguem

    realizar essa faanha, mormente nas disciplinas de estudos no

    to prxim os das cincias naturais, com o a Histria.

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    De todas as formas, vamos apoiar, no que for possvel, a edi

    torao dos sete volumes programados, bendizendo o apoio da

    Petrobras, e oxal as empresas no Brasil se un am cada vez mais s

    universidades, para tarefas com o as ora descritas.

    As coordenadoras Papali e Zanetti j somam ao seu currcu

    lo outra atividade importante, a reconstituio dos arquivos da

    Cmara Municipal de So Jos dos Campos, que ser tratada no

    2o volume da srie: Cmara Municipal de So Jos dos Campos:

    Cidade e Poder.

    Finalizando, cabe tambm aos historiadores a importante ta

    refa de alertar, com o vm fazendo os m em bros do Clube de Roma,

    para os rum os que o crescim ento populacional, a poluio, a ex

    tino de florestas, o esgotamento dos aqferos, dos solos e dos

    mares, o desaparecimento de tantas espcies da flora e da fauna,que esto conduzindo a Terra, pelo acmulo da medidas ditadas

    pelos interesses im edia tos, a um m undo no sustentvel.

    Congratulaes s coorden adoras e a seu gru po de abnegados

    colaboradores: Simone Narciso Lessa, Marco Antonio Villarta-

    Neder, Estefnia Knotz C. Fraga, Zuleika Sabino Roque, Antonio

    Carlos Oliveira da Silva, Joo Rodolfo Nunes Machado, Fabio

    Zanutto Candioto, Cludio Jos Pinto Ferreira, Renato Santana

    Gomes e Maria Alice Lopes e Maria Jos Acedo dei Olmo.

    Baptista Gargione Filho, Prof Dr.Reitor da Univap

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    M e n s a g e m d a P e t r o b r a s

    Ot e m p o e s u a E F E M E R i D A D E so questes debati

    das h m uito p or filsofos. Os relgios tm a funo de

    medir o tempo, no entanto, a memria, a lembrana,

    por vezes ignora o tem po fsico em prol de um tem po lrico, m

    adequado ao fluir das emoes. Segundo o socilogo Norbert

    Elias, o tempo nada mais que (...) a representao simblica

    de uma vasta rede de relaes que rene diversas seqncias decarter individual, social ou puramente fsico.

    Mas a m em ria no se restringe ao passar das horas e dos dias,

    ela feita de atos e percepes, pela passagem da prpria vida

    do sujeito e das transformaes que ocorrem no entorno social

    e ambiental. O tempo que passou no mais voltar fisicamente,en tretan to ele sempre existir na m em ria das pessoas. Nas pala

    vras de Elias, (...) lembrando dele [do passado histrico] que

    descobrimos a ns m esmo s.

    A memria fundamental para a criao da vida em socie

    dade, alicerce e acabamento de uma cultura marcada por suas

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    diversas pessoas e personalidades, todos os atores de uma mesma

    histria.

    Resgatar e reescrever a histria de So Jos dos Campos a partir desta srie de livros dirigidos aos Estudantes e Professores,

    restaura r o nosso alicerce cultural e fortalecer a sociedade a par tir

    do nosso prprio reconhecimento.

    Paul Edman de Alm eida

    Gerente de Comunicao da PETROBRAS

    Revap - Refinaria Henrique Lage

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    A g r a d e c i m e n t o s

    ' o s s o t r a b a l h o sempre se constituiu em um

    J trabalho de equipe. No caso desta srie e em espe-r cfico deste livro, o em preendim en to s foi possvel

    graas ao apoio de muitas pessoas, direta e indiretamente. Em

    prim eiro lugar, gostaramos de agradecer ao Sr. Luiz Eduardo

    Valente, Gerente Geral da Petrobras, Refinaria Henrique Lage

    de So Jos dos Campos e Sr. Paul Edman de Almeida, Gerentede Comunicao da Petrobras, por terem acreditado em nosso

    projeto e nos dar o apoio financeiro necessrio a sua realizao.

    Agradecemos ao Magnfico Reitor da Universidade do Vale do

    Paraba, Prof. Dr. Baptista Gargione Filho, por nos oferecer as

    condies de trabalho necessrias para que possamos avanarsempre e realizar nossos sonhos. Ainda dentro da Universidade

    do Vale do Paraba, como grandes incentivadores oferecendo-

    nos a ajuda necessria com suas orientaes e suporte tcnico,

    agradecemos ao Vice-Reitor Prof. Dr. Antonio de Souza Teixeira

    Jnior e aos nossos diretores, tanto do IP&D - Instituto de

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    Pesquisa e Desenvolvimento, como da Faculdade de Educao e

    Artes. Nosso carinho especial Profa. Maria da Ftima Ramia

    Manfredini, Pr-Reitora de Cultura e Divulgao Acadmica,presena sempre constante nos cam inhos da His tria, verdadeira

    m adrinha do Projeto Pr-M em ria So Jos dos Campos.

    Queremos agradecer especialmente Cmara Municipal de

    So Jos dos C am pos, na pessoa de seu Secretrio Geral Jos Carlos

    de Oliveira e do Presidente da Cmara, vereador Dilermand o Di,por uma parceria que j conta com alguns anos e da qual o pre

    sente volume representa o fruto desse trabalho. No podemos

    deixar de agradecer ao vereador Walter Hayashi, idealizador do

    Projeto Pr-M em ria. O pro jeto Pr-M em ria s foi realizado

    graas ao apoio firme de nossos parceiros, a Cmara Municipal,a Fundao Cultural Cassiano Ricardo e a Univap. Nossos agra

    decimentos ao apoio da Fundao Cultural Cassiano Ricardo,

    Profa. Antonia Caracuel Varotto, especialmente ao engenheiro

    Vitor Chuster, arquiteta Marlene Alves da Silva Kanashiro,

    historiadora e arquivista Nadia Del M onte Kojio e ao historiado rA ntonio Carlos Oliveira da Silva. Agradecem os aos professores co

    laboradores do Projeto Pr-Memria, em especial s professoras

    Maria Jos Acedo dei Olm o e Zuleika Stefnia Sabino Roque, pelo

    em penho e dedicao. Finalmente agradecemos a todos os alunos

    e estagirios que passaram pelo Projeto Pr-Memria e se revelaram preciosos colaboradores, muito de todos vocs se encontra

    aqui representado. Agradecemos especialmente aos nossos atuais

    estagirios, fiis escudeiros nos embates documentais, Anderson

    Romeira, Alessandro Santana da Cunha, Leonardo Silva Santos,

    Solange Vieira e Tatiane N unes Tefilo. Obrigada a todos!

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    A p r e s e n t a o d a S r i e

    S o J o s d o s C a m p o s : H i s t r i a e C i d a d e

    ' ^ 1 p r e s e n t a r a s r i e So Jos dos Campos: H istria

    L J k e Cidade significa m uito para ns, pois resulta-

    -A . do de um projeto acalentado h m uitos anos, a rea

    lizao de um sonho. Somos docentes do curso de Histria daUnivap, coordenamos o Ncleo de Pesquisa Pr-Memria So

    Jos dos Campos e desenvolvemos estudos no Laboratrio de

    Pesquisa e D ocum entao Histrica do IP&D, alm de atuarm os

    no Programa de Mestrado em Planejamento Urbano e Regional

    da Univap. Enfim, jun to com colegas e alunos da graduao e daps-graduao realizamos pesquisas e levantamos docum enta

    o sobre a histria da cidade de So Jos dos Cam pos h m uitos

    anos.

    Sabemos o quanto necessrio e importante para a cidade

    que escolas, bibliotecas pblicas e universidades possam ter acesso a essa vasta pesquisa que vem sendo realizada sobre a histria

    da cidade. Os poucos livros disponveis nas instituies sobre a

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    histria de So Jos nem sempre contam com o rigor de um a pes

    quisa de carter cientfico e embasamento metodolgico criterio

    so. Nossa srie tem com o principal objetivo suprir essa dem anda,com a publicao de sete livros de temas variados sobre a histria

    de So Jos, os quais sero lanados entre 2008 e 2010 e dist ribu

    dos nas escolas, bibliotecas pblicas e universidades. Para a via

    bilizao desse projeto contam os com o patrocnio da Petrobras,

    apoio ao qual seremos sem pre gratas.

    O p r i m e i r o l i v r o da srie, intitulado Os Campos da Cidade:

    So Jos Revisitada, traa um panorama geral sobre a cidade, em

    m ltiplos aspectos. So vrios captulos com temas variados, des

    co rtinan do a cidade de So Jos dos C ampos, trazendo inovaeshistoriogrficas e olhares singulares sobre sua histria.

    O s e g u n d o l i v r o , Cmara M unicipal de So Jos dos Campos:

    Cidade e Poder,tem o objetivo de contar a histria do p od er legis

    lativo de So Jos dos Campos, tema importante para a histriada cidade. Desde a criao do Projeto P r-M em ria, em 2004, as

    Atas da Cmara Municipal de So Jos dos Campos vm sendo

    objeto de investigao de nossas equipes de bolsistas, constituin

    do hoje um rico acervo documental sobre a histria poltica da

    cidade.

    O t e r c e i r o l i v r o , So Jos dos Campos: de Aldeia a Cidade,

    tem um a misso difcil e ao mesmo tem po complexa e desafiado

    ra, pois seu objetivo trazer tona as discusses sobre os p rim r

    dios da nossa en to Aldeia de So Jos da Parayba, os conflitos en tre indgenas e colonos, sua transfo rm ao em Vila, at se to rn ar

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    cidade no final do sculo XIX. Tudo isso contando com a escassa

    docum entao que temos do perodo, mas que, garimp ando do

    cum entos aqui e ali, acabam os por traa r o cenrio da poca.

    N o q u a r t o l i v r o , Fase Sanatorial de So Jos dos Campos:

    Espao e Doena, talvez esteja contida a prpria alma da hist

    ria da cidade. Perodo rico para a compreenso de toda a lgica

    urban stica e industrial de So Jos, o perodo sana torial encerracontradies e mem rias de um tem po que a cidade m uitas vezes

    quis apagar. Neste livro busca-se evidenciar, registrar, discutir e

    refletir sobre uma poca que deixou marcas profundas na cons

    truo iden titria da cidade.

    O q u i n t o l i v r o , Crescimento Urbano eIndustrializao em So

    Jos dos Campos, trata principalmente da vocao industrial de

    So Jos dos C am pos e da crescente urbanizao que se processa

    na cidade, principa lm ente a par tir da dcada de 1960, com a che

    gada de grandes indstrias nacionais e multinacionais. Grandesindstrias nacionais que se instalam em So Jos dos Campos,

    com o a Refinaria H enrique Lage (Petrobras) e a Embraer, so

    neste livro priorizadas para estudo.

    N o s e x t o l i v r o , Escola e Educao em So Jos dos Campos:Espao e Cultura Escolar,buscamos identificar a histria da edu

    cao e do cotidiano escolar em So Jos dos Campos desde o

    sculo XIX at nossos dias, sob os mais variados aspectos. A ed u

    cao no poderia deixar de ser tema de um livro sobre a histria

    da cidade, dada a relevncia em que consiste a educao pa ra todaa nossa sociedade.

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    N o s t i m o l i v r o , So Jos dos Campos: Cotidiano, Gnero e

    Representao, abordaremos temas ligados s novas tendncias

    historiogrficas, como a participao das mulheres em vriosmomentos histricos, trabalhos com memrias e identidades,

    representaes sociais, trabalhos com fontes diversas como ima

    gens, m onum entos, cultura popular, entre outros. um livro que

    busca olhar So Jos dos Campos atravs da diversidade, atravs

    de m uitas linguagens.

    As coordenadoras

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    S o b r e a s C o o r d e n a d o r a s d a S r i e

    a r i a A p a r e c i d a P a p a l i historiadora,doutora

    em Histria Social pela PUC/SP, mestre em Histria

    do Brasil pela PUC/SP, professora da Universidade

    do Vale do Paraba desde 1993, coordenado ra do Labora trio de

    Pesquisa e Docum entao Histrica do IP&D da Univap, vincu

    lada ao Grupo de Docum entao H istrica (Gedoch) da Univap,

    docente do Programa de Mestrado em Planejamento Urbano e

    Regional; m em bro fundado ra do Projeto Pr-M em ria, Autora

    do livro Escravos, Libertos e rfos: a construo da liberdade

    em Taubat (1871-1895). So Paulo: Annablume, 2003.

    V a l r i a Z a n e t t i historiadora, graduada pela UFOP

    (Universidade Federal de Ouro Preto), mestre em H istria Social

    pela PUC/RS, doutora em His tria Social pela PUC/SP, autora

    do livro Calabouo Urbano: escravos e libertos em Porto Alegre

    (1830-1860). Passo Fundo: Universidade de Passo Fundo, 2002;

    professora e coordenadora do curso de Histria da Universidade

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    do Vale do Paraba, membro do Laboratrio de Pesquisa e

    Documentao Histrica do IP&D; vinculada ao Grupo de

    Documentao Histrica (Gedoch) da Univap, docente doPrograma de Mestrado em Planejamento Urbano e Regional da

    Univap.

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    S o b r e o s A u t o r e s d o V o l u m e I

    S

    i M O N E N a r c i s o L e s s a do uto ra e mestre em Histria

    pelo D epartam ento de Hist ria do IFCH - Instituto de

    Filosofia e Cincias Hum anas - Unicamp; professora do

    Departamento de Geocincias da Uniomontes - Universidade

    Estadual de Montes Claros-MG; ps-doutoranda e professoracredenciada da ps-graduao do D epartam ento de Saneamento

    e Ambiente da FEC - Faculdade de Engenharia Civil - Unicamp;

    professora de His tria do Colgio Tcnico da Unicamp - Cotuca;

    professora na Faculdade de Direito de Mogi M irim .

    M a r c o A n t n i o V i l l a r t a - N e d e r possui graduao em

    Letras, Portugus, Ingls pela Universidade de Taubat (1986);

    mestrado em Lingstica Aplicada (ensino-aprendizagem de ln

    gua materna) pela Universidade Estadual de Campinas (1995)

    e doutorado em Letras (Lingstica e Lngua Portuguesa) pela Universidade Estadual Paulista Jlio de Mesquita Filho (2002).

    Atualmente professor da Universidade do Vale do Paraba, na

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    Graduao em Letras (curso do qual tam bm Coordenado r), na

    Ps-Graduao Lato Sensu em Lngua Portuguesa e no M estrado

    em Planejamento Urbano e Regional, na linha Espao, Cultura

    e Sociedade. Tem experincia na rea de Letras, com nfase em

    Lingstica, atuando princ ipalm ente nos seguintes temas: anlise

    do discurso, discurso, lingstica, produ o escrita e formao de

    professores. vinculado ao G rupo de Docum entao Histrica

    (Gedoch) da Univap e ao Grupo de Pesquisa em Anlise do

    Discurso, da Universidade Federal de Uberlndia.

    E s t e f n i a Kn o t z C. F r a g a , bacharel e licenciada em

    Histria pela PUC-SP. Especialista em Histria do Brasil pela

    PUC-SP. Doutora em Histria pela PUC-SP com a tese A

    Fbrica de Ferro de So Joo de Ipanema. Professora titular do

    Depto. de Histria da Faculdade de Cincias Sociais da PUC-

    SP. Responsvel pelo projeto, implantao e coordenao do

    Programa de Ps-Graduao em 1972, onde atua como professo

    ra no M estrado e D outorado. Atua desde 2007 na coordenao do

    curso de Especializao Histria, Sociedade e Cultura, nvel Lato

    Sensu. Pesquisadora integrante do Grupo de Pesquisa Poderes,

    Sensibilidades e Sociabilidades na Contemporaneidade e no

    Ncleo de Estudos Culturais , da PUC-SP.

    M a r i a J o s A c e d o d e l O l m o historiadora, graduada pela

    USP; mestre em Histria Social pela PUC/SP; mem bro fun da do

    ra do Projeto Pr-Memria, professora do curso de Histria da

    Univap e autora de vrios livros paradidticos.

    Z u l e i k a S t e f n i a S a b i n o Ro q u e possui licenciatu ra e

    bacharelado em Histria pela Universidade do Vale do Paraba

    20

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    (2001); mestrado em Histria Social pela Pontifcia Universidade

    Catlica de So Paulo (2007); doutoranda em Histria Social

    pela PUC/SP; docente da Rede Pblica c Particular de SJC; m em bro do Ncleo de Estudos Culturais: Histrias, M emrias e

    Perspectivas do Presente (PUC/SP) e pesquisadora colaboradora

    do Projeto Pr-Memria de So Jos dos Campos.

    A n t o n i o C a r l o s O l i v e i r a d a S i l v a historiador, graduado pela Univap; mestrando em Historia Social pela PUC/SP.

    Pesquisador do Departamento de Patrimnio Histrico, rgo

    da Fundao Cultural Cassiano Ricardo, instituio da Prefeitura

    M unicipal de So Jos dos Campos, e coorden ador do Program a

    de Educao Patrimonial da cidade.

    J o o Ro d o l f o N u n e s M a c h a d o licenciado em Histria

    pela Universidade do Vale do Paraba (Univap) em 2006, defen

    deu com o Tese de G raduao o traba lho "A Histria de So Jos

    dos Cam pos p or ela m esma (A Linguagem da Cidade)", orien tado pela Prof.a Dra. Valria Zanetti; formado em Psicopedagogia

    pelo Instituto Nacional de Ps-Graduao (IN PG), em 2008.

    F b i o Z a n u t t o C a n d i o t o licenciado em Histria pela

    Universidade do Vale do Paraba; foi estagirio do Projeto Pr-M emria e au tor da m onografia Luz da M odernidade Joseense:

    A Light em So Jos dos Campos (1935-1945), apresentada no

    curso de Histria da Univap em 2004.

    C l u d i o Jo s P i n t o F e r r e i r a bacharel em CinciasContbeis; licenciado em Histria pela Universidade do Vale

    do Paraba, e um dos autores da monografia de final de curso

    21

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    A Importncia do Patrimnio Histrico Joseense, defendida em

    2004.

    R e n a t o S a n t a n a G o m e s possui licenciatura em Histria

    pela Universidade do Vale do Paraba; professor da Rede Pblica

    de ensino no m unicpio de S o Jos dos Campos; um dos autores

    da monografia A Importncia do Patrimnio Histrico Joseense,

    defendida no curso de Histria da Univap em 2004.

    M a r i a A l i c e L o p e s licenciada em Letras pela Universidade

    do Vale do Paraba e professora de Lngua Portuguesa no Ensino

    Fundamental e Mdio no municpio de So Jos dos Campos.

    22

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    A p r e s e n t a o d o V o l u m e I

    Os C a m p o s d a C i d a d e :

    S o J o s R e v i s i t a d a

    6

    O J o s d o s C a m p o s um a cidade singular, diferen

    ciada. Uma cidade que mostrou, em seu processo hist

    rico, nveis de m obilidades intensas. Por conta disso, So

    Jos aloja/ou m ltiplas histrias. Cada ru a de sua geografia

    experincias de vidas e eventos de um tem po que, j extinto, ain

    da sobrevive. A cidade est carregada de sinais, depositados por

    estratos de resduos de vidas passadas.A imagem da cidade, com posta de um sem -nm ero de traos,

    linhas, cores, sinais grficos, sons, sotaques, letras, roupas, nm e

    ros, cheiros, frases, massas, volumes, movimentos etc. no pra

    de criar e em itir cdigos, possivelmente legveis ao olhar dos mais

    atentos. O investigador que tenta descrever a paisagem urbanaidentifica um inesgotvel poder de evocao em suas camadas.

    Cada camada investigada levanta um universo de informaes

    sobre a cidade, seus habitantes e sobre sua histria.

    23

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    So muitas as produes acadmicas acerca da histria da ci

    dade em So Jos dos Campos, mas so poucas as que chegam

    ao conhecimento da populao. Essa iniciativa rene textos de

    professores que atuam ou atuaram na Univap e de ex-alunos, que

    tm na cidade o objeto em comum. Num esforo coletivo, resol

    vemos abrir as portas desse arsenal de estudos para revelar ves

    tgios de um tempo pretrito, ressignificando histrias; tentando

    ouvir ecos do passado no presente.

    Este volume prope pensar e sentir a cidade de So Jos dos

    Cam pos. H istoriadores, lingistas e profissionais ligados ao p a tri

    m nio h istrico se debruaram sobre So Jos dos Cam pos, utili

    zando diferentes formas de escrita e abordagens. Esses estudiosos

    se preocuparam , dentre o utras coisas, com a organizao da vida

    citadina, com o processo de urbanizao, com suas mudanas e

    perm anncias, com com portam entos e m odos de viver, com as

    cidades visveis e invisveis que o espao joseense com porta.

    Proposta de carter indito, o projeto visa, portanto, tornaracessvel a todos os relevantes estudos acerca da cidade de So Jos

    dos C ampos em preendidos na U niversidade do Vale do Paraba.

    Maria Alice Lopes e Marco Antnio Villarta-Neder baseiam-

    se em d ocum en tos da elevao da Aldeia de So Jos dos Cam pos,

    datados de 1767, transcritos e disponibilizados via internet peloProjeto Pr-M em ria, que o leitor vai ter oportunidade de conh e

    cer neste artigo. Os autores, utilizando-se da anlise do discurso,

    vasculham formas discursivas ligadas aos interesses da coloniza

    o, processo em que portugueses e am erndios estabeleciam m a

    neiras prprias de significar. Uma tenso de foras anuncia funcionrios reais se impondo sobre os povos e formas de viver que

    confirmavam os princp ios da dominao. Os autores se dedicam

    ao tempo em que So Jos dos Campos era uma incipiente vila

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    que, em 1767, prom etia ser um imbricado histrico. O texto reve

    la, baseado nos instrumentais da lingstica, o contexto histrico

    da formao da futura cidade de So Jos dos Campos, reforan

    do a viabilidade e enriquecim ento da proposta interdisciplinar.

    Fbio Zanutto Candioto mostrou a modernidade chegando

    em So Jos dos Campos no incio do sculo XX. Candioto revela

    como o conceito de cidade moderna foi incorporado pela Light,

    empresa norte-americana que fornecia energia eltrica ao mu

    nicpio. Com a modernidade, a esfera do mercado ganhou fora

    passando a exercer tam bm um a forte influncia sobre a indstria

    cultural. Candioto evidenciou as exigncias que a modernidade

    imps sociedade joseense sem que ela tivesse preparada para

    tal. A idia de m odernidade , veiculada nos meios de com unicao

    de massa, em especfico no jornal Correio Joseense,m ostra a fora

    apelativa da p ropaganda. Algumas vezes, o tom hilrio das m en

    sagens nos faz refletir sobre o forte poder de convencimento dos

    meios de comunicao. Concebendo uma informao como umconjunto de palavras de ordem, somos levados a crer que, quan

    do nos informam, nos dizem o que julgam que devemos crer. A

    ordem a que Fbio Cand ioto se refere a modernizao por meio

    da iluminao eltrica. O Correio Joseense, podemos dizer, levou

    os joseenses a viajarem pelas idias iluministas bancadas pelaLight.

    Zuleika Sabino Roque vasculhou o cenrio das primeiras es

    colas de So Jos dos Campos e revelou um quadro desolador

    que, em muitos casos, nos remete s condies similares das es

    colas em tem pos atuais. O precrio espao do ensino foi utilizadocomo cenrio pa ra com posio de foras polticas no m unicpio.

    Zuleika Sabino tra tou do espao da escola sendo criado na cida

    de. Esse espao, en tre o pblico e o privado, tran sm igrou da casa

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    do professor para um espao bancado fsica e ideologicamente

    pela municipalidade. Neste captulo , a autora retratou as diferen

    tes escolas existentes no municpio, assim como a falta de verbaspara suprir as m nim as dem andas da escola. Foco de ateno dos

    agentes sanitrios, a escola, por ser um local coletivo, era cons

    tantemente vigiada e fiscalizada. A obrigatoriedade do ensino

    enquadrava num espao insalubre, alunos considerados to in

    salubres quanto o espao. Reformas pedaggicas, assim como asreformas do espao escolar exigiam a todo o instante ateno do

    pode pblico, quase sempre se m ostrando avesso s necessidades

    escolares. Zuleika Sabino Roque descortinou um passado que, se

    no fosse historiadora, arriscaria a dizer que a histria se repete.

    A ntonio Carlos Oliveira Silva e Estefnia Knotz Canguu Fraga

    ab riram as cortinas do tea tro So Jos. No s as peas encenadas

    foram objeto de anlise. Espao de sociabilidades, o teatro imor

    talizou cenas de atores annimos em uma cidade provinciana,

    que ofegantemente respirava ares da modernidade. As poltronas

    do teatro confidenciaram com po rtam entos considerados avessos

    funcionalidade do espao e conduta moral e crist da socie

    dade joseense. No escurinho do cinema, cenas que eram para ser

    mantidas no anonimato foram constantemente denunciadas em

    peridicos, pegando no flagra inclusive renom ados cidados jo -

    seenses. Os autores tambm trataram da com plexidade das rela

    es estabelecidas no espao pblico joseense, que reunia os sos

    e os forasteiros doentes no mesmo espao.

    Simone Narciso Lessa apresenta os motivos pelos quais a ci

    dade de So Jos dos C am pos se to rnou plo regional industrial.Contrariando a tese que defende o desenvolvimento industrial

    no Brasil a partir da acumulao originria do capital cafeeiro,

    Simone Lessa pro cu ra en tender os motivos ligados ao crescimen

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    to industrial no municpio, que no se baseou nos oligoplios

    do caf. Fruto de um a poltica nacional, o crescimento industrialde So Jos esteve relacionado construo da Dutra e insta

    lao do Inpe e do CTA, zonas de segurana militar e estratgi

    ca, a partir de 1950. So Jos dos Campos s conseguiu projeo

    nacional quando Getlio Vargas, visando colocar em prtica seu

    plano de valorizao e introduo do interior do Brasil na dinmica econmica nacional, encontrou, no municpio de So Jos

    dos Campos as condies favorveis para o projeto de desenvol

    vimento industrial e interiorizao do Brasil.

    Joo Rodolfo Machado prope explorar a cidade como um

    flneur.De acordo com W alter Benjamin, a palavra significa aquele que caminha sobre a cidade, aquele que passeia ociosamente,

    vagueando, perambulando, com um andar despretensioso, que

    perm ite m aior tem po de observao. Oflneur um observador,

    um captador que percebe as transformaes pelas quais passa a

    cidade e a perpetuao do que j existe. A rua torna-se, pa ra JooRodolfo Machado, sua grande morada e fonte de anlise. Como

    um exmio viajante v, na cidade de hoje, imagens de cidades an

    teriores. Os tempos e lugares da cidade se misturam com o tempo

    e o lugar vivido pelo autor. Monitorando os espaos com forte

    equilbrio perceptivo, Joo Rodolfo Machado aponta permanncias e alteraes de lugares sofridas ao longo de um tem po vivido.

    Como u m indivduo habitante das ruas, que enxerga a m ultido e

    percebe a cidade percorrendo-a, e estabelecendo com ela um a re

    lao de maneira especial, Joo Rodolfo percebe apelos e signos,

    nu m a diversidade da vida cotidiana onde emerge sua representao do urbano. A cidade de M achado no a mesm a cidade dos

    outros moradores, assim como a cidade dos outros moradores

    no a m esm a cidade do Joo Rodolfo M achado. Existem vrias

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    cidades no olhar de cada um que passa pela ou vive na cidade.

    Olhares especficos de uma relao de lembranas ou mesmo de

    ausncias delas que tem, no espao da cidade, as experincias especficas de um viver nico manifestadas num a pluralidade de

    vozes.

    Cludio Jos Pinto Ferreira, Antonio Carlos de Oliveira da

    Silva e Renato Santana Gomes levantam uma amostragem inves-

    tigativa sobre o conhecimento que os habitantes de So Jos dosCampos tm da cidade. O resultado surpreende. Poucos so os

    m oradores da cidade que a conhecem. Muitos conhecem a cidade

    tendo como referncia o trajeto para o trabalho. O mundo mo

    derno incorporou no espao o ritmo do movimento das merca

    dorias. O espao da cidade, reformulado para fazer o operrio eas mercadorias circularem sem atropelos e obstculos, incorpo

    rou no passo de seus moradores o acelerado ritmo da produo.

    O espao conhecido ficou delimitado no roteiro que leva o cami

    nh an te ao trabalho. Os dados levantados m ostraram um a cidade

    de forasteiros, ritm ados pelos inm eros servios e ocupaes queSo Jos dos C am pos oferece, o que provavelmente explica o p o u

    co conh ecim ento da populao sobre a histria da cidade.

    O ltimo captulo do volume, desenvolvido em parceria com

    as professoras Maria Aparecida Papali e Maria Jos Acedo dei

    Olmo, reflete sobre a importncia da preservao do espao do

    antigo sanatrio Vicentina Aranha p ara a m em ria dos joseenses.

    O sanatrio, referncia do tratamento da tuberculose no Brasil

    no incio da dcada de 1930, evoca uma imagem comunicvel

    aos habitantes de So Jos dos Cam pos. A sua im po rtnc ia varia

    para cada um a das pessoas que, em diferentes m om entos, con

    viveram com ele. A preservao do prdio que alojou um dos

    maiores centros de tratam en to da tuberculose da Amrica Latina

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    oferece muitos atributos de identidade. O espao, agora aberto

    ao pblico, virou patrimnio histrico, estimula intensamenteos sentidos. Vicentina Aranha convida o olhar e o ouvido a uma

    ateno e participao maiores no sentimento de pertencimen-

    to. Aguando o domnio sensorial, o espao assegura cidade

    o direito de se tornar um lugar, na acepo tcnica da palavra.

    Tornar So Jos dos Campos um lugar torn-la um espao deidentificao e de memria de vivncias passadas. O Vicentina

    Aranha representa a experincia intensificada de indicadores, de

    smbolos e de pessoas que j foram deixadas para trs e que, ape

    sar disso, permanecem na memria dos que ainda vivem. A his

    tria s existe porque lembramos e lembramos para no deixarde existir.

    Enfim, este volume nos permitiu percorrer sobre os campos

    da cidade de So Jos. Instrumentalizados pela Histria, pela

    Lingstica, pelo Patrimnio, pela Cultura e pelas vivncias de

    cada um , im primim os nosso olhar num campo ainda po r ser trilhado. Este apenas um passo.

    Valria Zane tti

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    1

    E f e i t o s d e M e m r i a n a s I d e n t i d a d e s d e

    S o J o s d o s C a m p o s n o S c u l o X V I I I

    Maria Alice Lopes

    Marco Antnio Villarta-Neder

    ' ^ Aspectos Introdutrios

    ^ M t r a b a l h o a n t e r i o r (Lopes & Villarta-Neder, 2006),

    atravs da anlise de corpus de documentos decorrentes

    de transcries de cartas que fazem parte do Acervo da

    Biblioteca Nacional - RJ, incorporados ao Projeto Pr-Memria,

    propusem o-nos a estudar a relao entre a linguagem e a cons

    truo de identidades no povoamento de So Jos dos Campos,

    em meados d o sculo XVIII, poca do Brasil-Colnia, verificando

    as manifestaes dos discursos dos componentes da populao

    (brancos, negros, ndios, mestios), e as reivindicaes de espao

    feitas em cada um desses segmentos.

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    Esses documentos analisados retratam eventos ocorridos na

    Aldeia de So Jos, atravs de cartas dirigidas ao Governador da

    Capitania de So Paulo que registram as queixas dos maus-tratos

    sofridos pelos ndios e pelos religiosos que viviam na Aldeia. O

    causador desses maus-tratos, segundo as cartas, era o Capito-

    Mor Jos de Arajo Coimbra. Procuramos retratar, naquele tra

    balho, as distncias sociais e econmicas que existiam na po

    ca, identificando o interdiscurso como revelador de indcios da

    construo de identidades do povoado.

    Este artigo, a pa rtir do corpusm encionado e acrescido de do

    cumentos do acervo de Atas da Cmara Municipal de So Jos

    dos Campos, - onde so relatados os proced im entos para a eleio

    dos juizes e vereadores da C mara, dentre os quais, a escolha dos

    eleitores que fossem capazes de escolher pessoas para os cargos de

    confiana - em 27 de julh o de 1767, (poca da elevao de Aldeia

    para Villa de So Jos da Parahyba), tem como objetivo discutir

    os efeitos de memria na construo de identidades atravs da

    luta pelo espao geogrfico e cultura l e das relaes de poder exis

    tentes entre os habitantes da Vila naquela poca, retratadas pelos

    eventos mencionados nas Atas.

    lugar de onde partimos

    O e s t u d o d o c o n c e i t o de identidade justifica-se no atual

    momento das cincias humanas e da linguagem face ao questio

    nam ento de at que ponto as ferramentas conceituais disponveis

    para se discutir conceitos com o identidade e cultura, ao trazerem

    vises etnocntricas, no inviabilizam a percepo e a anlise de

    certas particularidades no processo de constituio etnogrfico e

    lingstico.

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    A concepo de identidade assumida aqui se ope idia de

    que ela seja uma caracterstica pronta, pr-definida do sujeito;

    entende-a, ao contrrio, como o resultado de sua interao com

    o meio social em que vive. Por identidade podemos classificar o

    conjunto de particularidades de um grupo social: crena, raa,

    experincias, ritos. Essas particularidades so colocadas em evi

    dncia por meio do uso da linguagem, quando os sentidos so

    produzidos a partir do sujeito.

    Na linguagem do senso com um , a identificao construda

    a pa rtir do reconhecim ento de alguma origem com um , ou de ca

    ractersticas que so partilhadas com outros grupos ou pessoas,

    ou ainda a par tir de um ideal (Hall, 2000:106). A vida e a reali

    dade so histria, gerando passado e futuro. Desse modo, a forma

    de os hom ens conceberem o m und o depende mu ito do m odo de

    vida da sociedade (Rodrigues, 1969:27).

    Iden tidade e identificao so assum idos aqui com o processos

    discursivos. No sendo imanentes, tais processos se constituem

    como efeitos de sentido, em que cada atribuio identitria (seja

    pela reivindicao do enunciador e/ou do enunciatrio) no tem

    sentido em si mesma, mas no jogo de relaes estabelecido entre

    as posies sociais, histricas, ideolgicas e discursivas.

    Por isso, adotam os o referencial terico da Anlise do Discurso

    de linha francesa (AD), que privilegia tal enfoque. Assim, os

    enunciados presentes nos docum entos so vistos com o discurso,

    ou seja, como efeitos de sentido entre interlocutores. Tomando

    um ponto de contato tenso entre a ideologia e o inconsciente, a

    perspectiva da AD entende que

    (...) o sentido de uma seqncia s materialmente

    concebvel na medida em que se concebe esta seqn

    cia como pertencente necessariamente a esta ou que-

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    la formao discursiva (o que explica, de passagem,

    que ela possa ter vrios sentidos) (Pcheux & Fuchs,

    1990:169).

    Essa condio determinante da formao discursiva (FD) em

    estabelecer o que pode e deve ser dito, apresenta deslocamentos,

    movimentos e contrapontos, na medida em que h uma relao

    entre FDs antagnicas. Esse processo intervalar de remisso do

    discurso sua exterioridade leva a AD assum ir com o constitutivo

    o conceito de interdiscurso, que

    (...) consiste em um processo de reconfigurao inces

    sante no qual uma formao discursiva conduzida

    (...) a incorporar elementos preconstrudos produzidos

    no exterior dela prpria; a produzir sua redefinio e

    seu retorno, a suscitar igualmente a lembrana de seus

    prprios elementos, a organizar sua repetio, mas

    tambm a provocar eventualmente seu apagamento,

    o esquecimento ou mesmo a denegao (Courtine &

    Marandin, 1981, apud Brando, 2004).

    No inte rdiscurso as FDs j no assumidas com o estticas, mas

    den tro de um m ovim ento que se constri na e pela m em ria, no

    com o um resgate de fatos passados, mas com o discursos que (re)

    constroem constantemente uma historicidade das tenses entre

    as posies-sujeito e os lugares discursivos. Dessa maneira, po

    demos assumir igualmente que a histria, do ponto de vista da

    Anlise do Discurso de linha francesa

    est ligada a prticas e no ao tempo em si. Ela se or

    ganiza tendo como parmetro as relaes de poder e

    de sentidos, e no a de cronologia: no o tempo cro

    nolgico que organiza a histria, mas a relao com

    o poder (a poltica). Assim, a relao da Anlise do

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    Discurso com o texto no de extrair o sentido, mas de

    apreender a sua historicidade, o que significa se colo

    car no interior de um a relao de confronto de sentidos(Orlandi, 1990:35).

    A linguagem - entendida enquanto uso - elemento im po r

    tante para o desenvolvimento do processo de construo de iden

    tidades, pois atravs dela que so exteriorizadas concepes e

    vises de mundo. O ser humano s se d conta de sua existnciae se questiona a respeito dela, desde que pertena a um grupo,

    a uma sociedade e se (re)conhea nesse espao de tenso entre

    sua posio-sujeito e a posio-sujeito do outro. Os smbolos e as

    regras criadas por esta sociedade so absorvidos pelo sujeito, pas

    sando a ser ento, na sua concepo, o retra to de sua identidade.O povoam ento de So Jos dos Cam pos constitui-se como um

    processo de conflitos sociais e econmicos, apresentando reivin

    dicaes de cada um dos segmentos componentes do povoado.

    Para este estudo, torna-se relevante discutir como a linguagem

    utilizada pelos moradores (atravs de seus discursos) se constituiu em instrumento revelador da construo de identidades,

    delimitando espaos geogrficos e culturais. Esse processo de

    construo de identidades, de constituio de sujeitos e discursos

    ocorre num a relao intervalar. Assim, cabe como questo episte-

    molgica a form ulao de Bhabha:(...) De que modo se formam sujeitos nos entre-luga-

    res, nos excedentes da soma das partes da diferena

    (geralmente expressa como raa/classe/gnero etc.)?

    De que modo chegam a ser formuladas estratgias de

    representao ou aquisio de poder [empowerment]no interior das pretenses concorrentes de comunida

    de em que, apesar de histrias comuns de privao e

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    discriminao, o intercmbio de valores, significados e

    prioridades pode nem sempre ser colaborativo e dial-

    gico, podendo ser pro fundam ente antagnico, conflitu

    oso e at incomensurvel? (Bhabha, 2003:20).

    No m bito deste artigo analisaremos com o essas diferenas

    fragmentrias, repartidas so reivindicadas, aceitas e recusadas.

    As categorias habitualmente estabelecidas em relao aos habi

    tantes da Villa (brancos, negros, ndios, mestios) se en trecruzam ,

    enqu an to lugares sociais e posies discursivas. Esse intervalo e n

    tre reivindicaes (esquecidas, apagadas, denegadas) de identida

    de constitui-se atravs do processo de m em ria discursiva:

    A memria discursiva seria aquilo que, face a um texto

    que surge como acontecimento a ser lido, vem restabe

    lecer os implcitos' (quer dizer, mais tecnicamente, os

    pr-construdos, elementos citados e relatados, discur-

    sos-transversos, etc.) de que sua leitura necessita: a co n

    dio do legvel em relao ao p rprio legvel (Pcheux,

    1999:52).

    Desse ponto de vista entendemos que o trabalho do analis

    ta aqui se revista dessa caracterstica: a de uma posio, a partir

    da qual se olha para os acontecimentos ligados a So Jos dos

    Campos do final do sculo XVIII. E, ainda, ser atravs dessa

    perspectiva que analisaremos os deslocamentos dos efeitos de

    m em ria entre os sujeitos (brancos, negros, ndios, mestios) que

    se constituem no corpus.

    O efeito de memria decorre da relao entre o interdiscur-

    sivo e o intradiscursivo, entre exterioridade e interioridade. Ointerdiscurso assim determinaria a FD, fazendo com que esta se

    inscreva em duas ordens diferentes: memria plena e memria

    lacunar.

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    No prim eiro caso, trata-se da m em ria plena enquanto

    (...)possibilidade de preenchimento de uma superfcie

    discursiva com elementos retomados do passado e re-

    atualizados, criando um efeito de consistncia no in

    terior de uma rede de formulaes; a estratgia usada

    aqui seria a repetio (Brando, 2004:101).

    J no segundo (memria lacunar), temos uma produo (...)

    de deslocamentos, vazios, esquecimentos que podem provocar

    um efeito de inconsistncia na cadeia do formulvel. (...) A es

    tratgia seria a do apagamento (Brando, 2004:102 - grifo da

    autora).

    O discurso aqui m encionado refere-se prod uo de sentidos

    que se interpem entre o colonizado e o colonizador e no sobre

    o uso da linguagem com o troca de informaes.

    O prim eiro g rupo de docum entos a serem analisados, que re

    trata eventos ocorridos na Aldeia de So Jos, refere-se a textos

    dirigidos ao Governador da Capitania de So Paulo e registram

    as queixas dos m aus-tra tos sofridos pelos ndios e pelos religiosos

    que viviam na Aldeia. O causador desses maus-tratos, segundo as

    cartas, era o Capito-M or Jos de Arajo C oimbra.

    A AD estuda o discurso com o troca, prod uo de sentidos en

    tre interlocutores e seus efeitos produzidos pela sua manifestao.Esse discurso pode ser verbal ou escrito, sendo que o estudo da

    AD d enfoque s condies exteriores de produo do discurso,

    sem as quais ele no poderia ser constitudo. Essas condies so

    os fatores histricos, sociais e ideolgicos que atuam sobre o su

    jeito, determ inando o seu dizer e os efeitos de sentido que serogerados atravs desse dizer. O discurso no pode existir fora da

    sociedade. um prod uto scio-histrico:

    Com o elem ento de mediao necessria entre o hom em

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    e sua realidade e como forma de engaj-lo na prpria

    realidade, a linguagem lugar de conflito, de confron

    to ideolgico, no po dendo ser estudada fora da socie

    dade, uma vez que os processos que a constituem so

    histrico-sociais (Brando, 2004:11).

    O sujeito, quando produz sentido, o faz atravs de uma de

    term inada posio, sob determ inadas condies de produo. As

    condies de produ o que vo guiar o dizer: os fatores h istri

    cos, sociais e ideolgicos que influem no sujeito, estaro presentes

    na construo dos sentidos produzidos por ele. esse contexto

    que d eterm ina com o ser organizado o discurso. A relao entre

    a linguagem e a interpelao sofrida pelo sujeito devido sua po sio no contexto social, histrico e ideolgico, com pe o sentido

    do texto.

    Todo sujeito est inserido num momento histrico. Partindo

    deste ponto, podemos dizer que a histria faz parte de seu dis

    curso e que esse discurso p rod uz efeitos de sentidos d istintos, dependendo da posio ideolgica em que se situa quem o recebe,

    o interpreta.

    A ideologia um conjunto de valores e regras que j trazemos

    conosco e que obedecem os inconscientemente. Faz-nos acreditar

    que o que somos e o que fazemos dentro da sociedade, e as relaes que m antem os com sujeitos de um grupo social, surgem de

    maneira natural. Numa dada conjuntura ou situao de enun

    ciao, essas regras e valores manifestam-se no discurso, deter

    minando o que pode e deve ser dito ou no pode e no deve ser

    dito, caracterizando a FD a que pertence aquele discurso. A FD responsvel por um sujeito produzir esse ou aquele sentido, sob

    influncia da ideologia numa determinada situao de enuncia

    o.

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    -^ U m olhar para o corpus

    O e s t u d o d o s t e x t o s que fazem parte do corpusnos indicia

    o retrato das relaes de poder existentes entre os indivduos da

    populao da Aldeia naquela poca - o colonialismo portugus

    no Brasil. As reivindicaes da populao (principalmente a in

    dgena) mostram o desejo de justia e a luta pelo espao social e

    cultural.

    Foi grande o poder do trabalho dos jesutas portugueses na

    colonizao do Brasil, devido influncia que exerceram naquele

    processo. O jesuta era um m ediador entre a Coroa - o m undo

    civilizado e os nativos - um povo a quem deveria ser ensinada a

    doutrina crist.

    Soares (2004) afirma que, dessa forma, traduz ind o suas pala

    vras para os ndios, que os padres pode riam pregar/convert-los,

    fazendo com que eles assumissem a viso de mundo ocidental-

    crist.

    No prim eiro grupo de textos do corpus,como foi mencionado

    no incio deste artigo, os indgenas, constituindo-se como sujei

    tos na posio dessa viso ocidental-crist, assimilada por eles,

    expressam sua queixa, conforme relatado abaixo, vindo afirmar

    sua posio de cidado injustiado pelos maus-feitos do dirigente

    da Aldeia - o Capito-M or Jos de Arajo Coimbra. Essa posio

    caracteriza a FD na qual esto inseridos: a do cidado submisso

    ao representante do Rei, no caso, o Governador, que possui um

    cargo mais elevado que o Capito-M or: Aos pes de V.Ex.a se vem

    queichar os ndios da alde de S. Joze das inolencias do director

    delia p.a cujo fim vam 3 ind ios ...

    De maneira inconsciente, o sujeito assume uma posio ao

    produzir seu discurso. Sem se dar conta, seu discurso consti-

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    tudo de dizeres do outro. Seu dizer marcado, atravessado por

    discursos que ouviu de outros sujeitos, que assum iram ou tras po

    sies, sob outras condies de produo, apesar de o enunciado r

    acreditar que aquele discurso seu, nico, que nunca havia sido

    form ulado antes. Essa relao entre discursos definida com o in-

    terdiscurso. O sentido que acaba sendo produzido pelo sujeito

    no neutro, portanto.

    Segundo Orlandi (2005:32), o dizer no propriedade parti

    cular. As palavras no so s nossas. Elas significam pela histria

    e pela lngua. O que dito em outro lugar tambm significa nas

    nossas palavras. o que podemos perceber no seguinte trecho,

    fragmento extrado de uma das cartas analisadas, que menciona

    a relao do C apito-M or com a Igreja:

    ...que som os ndios som os filhos de D.s christaons bau-

    tizados i sintimos os desprezos que nos fazem [...] he

    tam inimigo da Igreja, e de todo o bem espiritual que

    empidio o emsinarsse a do u trina cristan costume a n ti

    go e ouvir missa de m adrugada o que V.Ex.a ordenou...

    Na FD do indgena, assum indo a posio de um a pessoa crist

    - obediente ao colonizador e Coroa, sua fala atravessada pelo

    interdiscurso: h a presena no discurso do ndio, do discurso

    do colonizador, que transmite a idia de que ser cristo implica

    ser respeitado. Respeito este reivindicado pelo colonizado em re

    lao ao Capito-Mor. Ao mesmo tempo o texto tem carter de

    denncia, pelo fato de o Capito-Mor infringir as regras crists,

    determ inadas pela Igreja e pela Coroa.

    Enquanto efeitos de memria h o mecanismo de memria

    plena, atravs da repetio de conceitos e valores que o branco-

    colonizador diz do lugar caracterstico do colonizador-cristo. A

    reivindicao de identidade se d pela condio de cristo ba-

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    tizado. Lembrar-se desses enunciados e fazer lembrar o outro

    (desses enunciados), autoridade constituda no lugar de poder

    do prprio colonizador , dessa perspectiva, da ordem da memria plena. No entanto, se considerarmos que essa posio de

    cristo-batizado apaga a do ndio colonizado, ressignificado em

    suas crenas e seu papel social, nos deparamos com a ordem da

    memria lacunar: sobre esse apagamento que surge a posio

    do ndio-cristo-batizado.A partir da imagem, da representao que o indgena faz de

    seu interlocutor - o Governador, pessoa a quem dirige suas quei

    xas, podem os identificar o mecan ismo da Formao Imaginria.

    A Formao Imaginria se manifesta no processo discursivo atra

    vs da antecipao e das relaes de fora e de sentido.Pela antecipao, o sujeito se coloca na posio de seu inter

    locutor, ouvindo suas palavras. Seu argumento regulado de tal

    forma, que far uso desse ou daquele discurso, de acordo com o

    efeito de sentido que pensa produ zir no ouvinte. Podem os perce

    ber que, da perspectiva de quem enuncia , form ula o dizer abaixo,o discurso do ndio chama a autoridade do Governador, procu

    rando induzi-lo a tomar providncias: ...e V. Ex.a no h de pri-

    mitir semelhantes couzas e destruioens deonrras [sic] pois isto

    no he servio de D.s nem de Sua Mag.e...

    Nas relaes de fora, as palavras significam a partir da posi

    o na qual o sujeito se estabelece. Nos trechos estudados, a pa la

    vra do indgena significa a par tir do lugar em que ele se posiciona:

    componente de uma sociedade que constituda pelas relaes

    de poder, onde sua posio de cidado, obediente s ordens,

    m erecedor de respeito e considerao.

    As relaes de sentido nos rem etem ao conceito de que no h

    um discurso que no m antenha relao com outros.

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    Em um determinado trecho da carta, o ndio manifesta sua

    revolta em relao ao tratamento que recebe do diretor:

    ... tra tan os como negros contra as ordens de Sua Mag.cdescompondo os oficiais com palavras desonestas sem-

    po [sic] com o diabo na boca ...

    Um primeiro aspecto a ser analisado aqui o uso da palavra

    negros. Polissmica, ela pode aludir gente da terra ou ao escravo

    africano. Em ambos os casos, temos um efeito de memria digno de ateno. Se da posio de ndio, se autodenomina negro

    (como ndio mesmo), o faz do lugar de nomeao do branco-

    colonizador. Lembrar-se dessa nomeao e assumi-la da ordem

    da m em ria lacunar, esquecendo-se de seu p rp rio lugar.

    Ao mesm o tempo, esse esquecimento autoriza a reivindicao

    dos ndios, pois remete a um a an terioridad e na h istoricidade dos

    sentidos. Com o negro (da terra), ele ainda no cristo-batizado.

    Tendo passado a estar nessa ltima condio, a denominao

    ofensiva. Essa aluso ao esquecimento (da ordem da memria

    lacunar) faz lembrar autoridade a repetio de algo que est

    implcito no discurso do ndio, mas freqente no discurso do

    colonizador para torn ar o ndio um cristo-batizado.

    Ser cristo-batizado no somente uma condio religiosa.

    Ser cidado de um reino cristo, da perspectiva da poca, s cabe

    a quem aceite os preceitos cristos. Portanto, reivindicar da po

    sio inicial de ndio interditado. Mas esse apagamento reco

    berto pelo apagam ento que a nova condio do ndio o reveste: a

    da cristianidade. Nu m m ovim ento que perfaz um deslocamento,

    que instaura um entrelugar entre a memria plena e a memria

    lacunar, o ndio faz lem bra r a legitimidade de sua reivindicao.

    Eventualmente se pudssemos considerar negro como escra

    vo africano, ainda assim, a distino se reveste de um critrio

    42

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    da mesma natureza. O ndio j- cristo batizado. Na ordem da

    m em ria lacunar, o outro no o seria. Ao repetir a denom inao

    ofensiva, o ndio denunciaria, neste caso, uma posio que lhe atribuda inadequadamente.

    A relao de sentido se d pelo fato de o discurso indgena

    apon tar para um dizer que do colonizador. O discurso do ndio

    sustentado por outro, o do portugus. Essa sustentao base

    ada na existncia de uma lei, uma ordem, de no se chamaremaos ndios de negros, postulada no 10 pargrafo do Diretrio

    dos ndios. Igualmente, essa relao de sentido resulta do co

    nhecimento que o ndio tinha da lei que havia sido firmada no

    Diretrio e de sua referncia ao no cumprimento de tal man

    damento.Segundo Almeida (1997), o Diretrio dos ndios foi uma lei

    colonial, que vigorou entre 1757 e 1798, a fim de instruir o com

    portam ento do colonizador em relao s populaes indgenas,

    envolvidas nos em preendim entos de definio da fronteira norte

    do Brasil e seu povoamento. Aplicado primeiro ao governo daspovoaes indgenas do norte e depois, recom endado como ex

    presso nica do com portam ento do colonizador em relao aos

    ndios do Brasil, o Diretrio foi lei geral at sua extino pela

    Carta Rgia de 12 de maio de 1798.

    No processo da colonizao, o indgena passa a valorizar asregras que lhe foram passadas pelos portugueses, porqu e se situa

    com o cidado que faz parte daquela sociedade, repetindo, na o r

    dem da m em ria p lena tais regras. A identidade se cons titui no

    s pela representao que o indgena tem de si mesmo, mas tam

    bm pelo deslocamento de sua posio, devido representao

    que ele tem do portugus e s aes que tom a a partir deste novo

    posicionam ento.

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    A posio-sujeito do ndio se desloca de acordo com o con

    texto em que ele se insere, significando socialmente atravs da

    manifestao de seu discurso, para atender s expectativas queaquele contexto reivindica. H o intuito de se compreender os

    efeitos de sentido produzidos pelo branco colonizador atravs da

    manifestao de seus discursos no momento em que suas con

    cepes se encontram com as dos habitantes da Villa de So Jos

    da Parahyba (ndios, negros, mestios, estrangeiros).A segunda parte do corpus, referente aos procedimentos e re

    comendaes de votao para os ndios tam bm apon tam efeitos

    interessantes. Discursos que ocasionaram a delimitao dos espa

    os tanto geogrficos quanto culturais: Fazendo votar aos ditos

    ndios em pessoas que achassem mais idneas para eleytores...Constitui-se atravs desta solicitao, o lugar do com ando - a

    Coroa, os dirigentes da Villa - e o lugar daquele que o reconhece

    como poderoso politicam ente - o ndio. A linguagem enqu an

    to discurso interao, e um modo de produo social; ela no

    neutra, inocente e nem natural, por isso o lugar privilegiadode manifestao da ideologia (Brando, 2004:11). No fragmento

    mencionado, quem seriam essas pessoas idneas? Seriam tidas

    como idneas atravs do olhar do branco colonizador ou do in

    dgena? As pessoas que foram escolhidas para elegerem os juizes e

    vereadores possuam nom es portugueses, provavelmente perten cendo ao grupo mais influente da sociedade.

    Surge, neste acontecimen to, o indgena que o colon izador ten

    ta submeter, refletindo as relaes de poder entre eles no espao

    do colonialismo. No movimento intervalar entre as duas ordens

    de memria, o colonizador esquece-se de que o ndio o negropassvel de ofensas, j que ir participar, em alguma m edida, do

    processo decisrio, escolhendo os representantes (m em ria lacu-

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    nar), mas lembra-se, repete, com outros enunciados, em outra

    formulao, a incapacidade do ndio..

    Posteriormente, os eleitores escolhidos decidiram, por voto,

    quais as pessoas que ocupariam os denominados cargos para a

    Cm ara. Este fato est cond icionado ideologia, imagem que o

    hom em branco possua em relao sua posio social e ao dever

    de obedincia Coroa Portuguesa, agindo em nome dela e em

    nom e de Deus.

    No espao onde o branco se situa, decorrente da imagem que

    tem de si mesm o, tom ado r de decises em nom e da C oroa, cons

    titui-se a Form ao Discursiva do colonizador.

    So as formaes discursivas que, em uma formao ideol

    gica especfica, dete rm inam o que pode e deve ser dito a pa rtir de

    uma posio dada em uma conjuntura dada (Pcheux & Fuchs,

    1990).

    Na seleo desses cargos, encontram os a manifestao do dis

    curso de autoridade, onde se direciona a escolha de pessoas zelosas pa ra exercerem tais funes n a C mara:

    (...) aos quaes eleytores por se acharem ally prezen-

    tes deferio o Dor- Corregedor o juram en to dos Santos

    Evangelhos, de que eu escrivam dou f, encarregando

    lhes, que sem dollo nem malicia propuzessem as pessoas de mayor intelligencia, e capacidade, e zelozos de

    bem com um para servirem na Respublica desta nova

    villa os cargos de Juizes Ordinrios, Vereadores, e

    Procuradores estes trs annos...

    Escolher sem dollo nem malicia escolher pessoas de mayorintelligencia e capacidade. Pelas pessoas escolhidas - brancos -

    pode-se perceber os efeitos de sentido de que esses atributos se

    revestem neste caso. Se as pessoas capazes e mais inteligentes no

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    so ndios, estes no apresentam tais atributos. Assim, o negro

    enquan to termo ofensivo ao cristo-batizado remem orado, as

    severado enquanto sentido pr-construdo que se repete, na or

    dem da mem ria plena.

    O colonizador projeta em seu pedido para que se escolham

    pessoas idneas para eleitores e posteriorm ente de m aior inteli

    gncia e capacidade para juizes e vereadores, o discurso do Rei, da

    Coroa de Portugal: Sua fala um recorte das representaes de

    um tem po histrico e de um espao social (...) Situa seu discurso

    em relao aos discursos do outro. Outro que envolve no s o

    seu destinatrio para quem planeja, ajusta sua fala, mas que ta m

    bm envolve outros discursos historicam ente j constitudos que

    emergem na sua fala (Brando, 2004:59).

    Atravs do discurso em que se situa, o branco colon izador de

    monstra a imagem que tinha dos ndios da Vila, confirmando a

    viso de que eles no atingiam o m odelo de pessoas com q ua lida

    des para exercerem os cargos de confiana (inteligentes, capaci

    tadas, zelosas pelo bem comum). H neste caso, o silenciamento

    da imagem que o ndio fazia de si mesmo, que sobreposta pela

    imagem que o b ranco colonizador fazia do indgena:

    ...por cauza da pouca vigilncia e cuidado dos deno m i

    nados padres jezuitas que administraro os indios (...)

    tendo os reduz ido a hu m a lamentvel mizeria sem lhes

    darem, nem ensignarem a civilidade devida, mas antes

    izentando oz [sic] da comunicao da gente, para os

    conservarem em huma pura brutalidade, afim de s a

    elles obedecerem ...(...).

    A formao discursiva do ndio, atravs do silenciamento na

    escolha de eleitores, vo tando em supostos cidados portugueses,

    absorvida pela formao discursiva do b ranco colon izador que

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    apresen ta o ndio com o incapaz. Esse silenciamento inicialm en

    te da ordem da m em ria lacunar, mas h um deslocamento para

    a m em ria plena, novam ente pela repetio dos efeitos de sentidodo ndio com o incapaz, abrutalhado.

    Outro fator da ordem da memria lacunar estabelecido: a

    posio da Coroa Portuguesa redimida em funo de um a acu

    sao ao trabalho dos jesutas. Ela no m enc ionada dire tam en

    te. Assim, pela repetio dos sentidos de incapacidade do ndio,a memria plena se instaura. E se o ndio se considera diferente

    dessa condio d ifamatria, o argum ento que essa viso decorre

    da prpria bru talidade a que teria sido relegado pelo traba lho dos

    jesutas.

    O espao discursivo e social de tenso entre a Coroa e os je

    sutas participa aqui desse entrelugar na relao entre ordens de

    memria. Atravs dessas manifestaes, surge a construo da

    identidade: no intervalo demarcado entre o limite de liberdade

    de ao e participao do ndio naquele momento histrico e a

    imagem que o colonizador mantinha a seu respeito: (...) Ambas

    as formas de discurso produzem, mais do que refletem, seus ob

    je tos de referncia (B habha, 2003:46).

    ^'Arrematando...

    T i v e m o s c o m o o b j e t i v o discutir os efeitos de memria na

    construo de iden tidades atravs da luta pelo espao geogrfico

    e cultural e das relaes de poder existentes en tre os habitantes da

    Vila no final do sculo XVIII, retratadas pelos eventos menciona

    dos nas Atas da C m ara M unicipal de So Jos dos Cam pos, que

    constituram o corpusdeste artigo.

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    Tratava-se de dois grupos de docum entos: o primeiro, referen

    te a textos dirigidos ao Governador da C apitania de So Paulo que

    registram as queixas dos m aus-trato s sofridos pelos ndios e pelosreligiosos que viviam na Aldeia. O causador desses maus-tratos,

    segundo as cartas, era o Capito-Mor Jos de Arajo Coimbra. O

    segundo grupo com preende os relatos dos procedim entos para a

    eleio dos juizes e vereadores da Cmara, dentre os quais, a es

    colha dos eleitores que fossem capazes de escolher pessoas para oscargos de confiana - em 27 de julh o de 1767, (poca da elevao

    de Aldeia para Villa de So Jos da Parahyba).

    Nos fragm entos estudados, o discurso do colonizador parte

    constitutiva do discurso indgena. Portanto, a que o interdis-

    curso se materializa, no en trelaam ento das vozes do co lonizadore do colonizado, contribuindo para a instaurao dos efeitos de

    memria constitutivos de identidade do ndio daquela poca. O

    indgena sofre uma transformao, que nos mostrada pelo uso

    da linguagem, deixando presente a correspondncia com as in

    fluncias culturais que havia recebido at ento pelos religiosos eportugueses. As leis im postas pelos portugueses passam agora a

    ser as leis obedecidas pelos ndios.

    Assim, de um lado, a reivindicao identitria feita pelos ndios

    ocorre na ordem de um a m em ria plena, atravs da repetio dos

    enunciados do branco colonizador. Num reino assumidamentecristo, no-laico, os espaos identitrios de cidadania passam

    pela condio de cristianidade, certificada pela Igreja, atravs do

    batismo. No entanto, ser um ndio que se to rnou cristo-batizado

    um a o utra posio, que instaura ou tras condies de produo

    do discurso. Portanto, os mesmos enunciados proferidos de umlugar identitrio d iferente provoca efeitos de sentido diferentes. A

    queixa dos ndios subentende isso: a no aceitao, por pa rte do

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    branco, representante da Coroa, da nova condio de identifica

    o dos indgenas.

    Por outro lado, nas recomendaes sobre a eleio de juizes

    e vereadores, na ordem da memria lacunar que a recusa rei-

    vindicatria de identificao dos ndios explicitada, trazendo

    tona, superfcie do discurso enunciados em alguns momentos

    silenciados: os da condio natural de brutalidade, de no-hu-

    manidade dos ndios. interessante recordar que, du ran te alguns

    perodos, houve um a discusso teolgica a respeito da possibili

    dade ou no de os ndios terem alma. Esse discurso recusado (j

    que prevalece pos teriorm ente a viso de que os ndios tm alma)

    emerge no antagonism o de interesses que supe o preenchim en

    to das funes de juizes e vereadores por cidados portugueses.

    Matizado pela atribuio de culpa aos jesutas, seja como for,

    o discurso sobre o ndio o v como incapaz e sem inteligncia,

    inapto pa ra o exerccio dessas funes.

    A identidade do cidado joseense comeou a se formar ali,

    atravs das transformaes ocorridas naquele povo, assumindo

    um a de term inada posio e reivindicando seu espao e os direi

    tos que tal posicionamento permitia requerer. O interdiscurso

    revelador desta transform ao, pois a fala do indgena traz outras

    vozes de diferentes contextos, que atravessam sua posio-sujeito,

    determ inando o sentido de seu discurso.

    Fica presente a determinao do espao a ser ocupado pelo

    indgena enquanto votante: designado apenas para confirmar

    atravs de seu voto, o que j estava praticamente implcito ao ser

    solicitado para tambm exercer um poder de deciso. Apesar de

    estar atuando num dado momento importante da histria, sua

    identidade de governado confirmada ao escolher pessoas que es

    to supostam ente indicadas no discurso dos que dirigiam a Vila.

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    Seja como cidados que reivindicam ou como votantes a que

    se aconselha escolherem os brancos de maior inteligncia e capa

    cidade, os ndios e mestios tm sua identidade constituda nessarede de efeitos de m em ria que, da posio do colonizador, ap a

    gam o lugar legitimado que eles ten tam reivindicar. Se esse lugar

    possvel, som ente o para serem votantes sem dollo nem mali-

    cia, conf irm ando os brancos em posies de liderana. Quando,

    no d iscurso do colonizador, so estabelecidos esses pressupostos,

    h igualmente um pressuposto a ser repetido: a posio apagada

    desses ndios. Dessa m aneira, as duas ordens de m em ria conver

    gem para efeitos de controle e negao de cidadania.

    Olhar para esses acontecimentos dessa maneira permite-nos

    dar conta desses espaos de tenso na constituio de identida

    des, atravs dos efeitos de mem ria, principalm ente no que tange

    relao entre categorias que extrapolam uma dicotomia entre

    colonizado e colonizador. H diferenas - que se m arcam nos

    efeitos de mem ria - entre branco colonizado e ndio coloniza

    do, por exemplo.

    No caso do branco, h um a m em ria plena de sua origem (do

    colonizador), expressa pelas categorias de inteligncia e capa

    cidade. Aos ndios, cabe o lugar - atribu do pelo colonizador -

    de brutalidade (natural ou mantida pelos jesutas, vistos comoinescrupu losos pelos representantes da Coroa). Aos mestios, no

    corpuscabem os efeitos da m em ria lacunar: o silncio. Entre essa

    atribuio de efeitos de sentido e aquela reivindicada pelos ndios

    - a de cristos batizados - h superposies e deslocamentos.

    H ndios que se posicionam como brancos (cristianidade um lugar do branco) e os brancos representantes da Coroa, em

    outros momentos, ignoram esse reposicionamento dos ndios.

    Em parte porque, do lugar em que reivindicam, interessa excluir

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    o sentido do ndio com o eventual representante nos cargos e fun

    es da municipalidade. De ou tro lado, porque naquele m om en

    to, brancos representantes da Coroa e brancos-jesutas esto em

    posio antagnica.

    No espao in tervalar do in terdiscurso, os efeitos de m em

    ria operam repeties, apagam entos, esquecimentos, denegaes.

    Processos que se movim entam , que se mostram s vezes con tra

    ditrios, um a vez que as posies tam bm se modificam.

    '"^Referncias

    ACERVO BIBLIOTECA NACIONAL (RJ). CatalogaoBiblioteca Nacional: 23, 1, 5 nl 10 A.

    Transcrio Projeto Pr-M em ria. Disponvel em:

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    2

    Luz d a M o d e r n i d a d e J o s e e n s e :

    aLight em S o J o s d o s C a m p o s ( 1 9 3 5 - 1 9 4 5 )Fbio Zanutto Candioto

    f f ' V R O P O M O S i n v e s t i g a r a poltica m odernizadora na

    " cidade de So Jos dos Campos, no perod o de 1935-

    -X. 1945 atravs de propagandas que estimulavam o con

    sum o de energia eltrica, veiculadas no peridico Correio Joseense.So Jos dos Campos, no referido perodo, havia acabado de se

    trans form are m Estncia Climatrica (12/3/1935) e H idrom ineral

    (16/12/1935), administrada por interventores federais at 1947.

    Nesse m om ento, a cidade estava tom ada pela ideologia do p ro

    gresso, associada a vrios planos de obras pblicas para reform ular visualmente a cidade. Esse pensamento comeou a seduzir a

    sociedade brasileira, principalmente os segmentos hegemnicos,

    a partir do incio do sculo XX, influenciada tam bm pelas idias

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    e aes do Baro Georges Eugne Haussman, o prefeito de Paris

    que havia reform ulado totalm ente o centro da cidade entre 1853

    e 1869, de rrubando construes antigas e insalubres para d ar lugar s imensas avenidas e novos prdios suntuosos.

    A ideologia modernizadora brasileira:

    suas origens e influncias

    E n t r e 1902 e 1 9 0 6 , a reforma iniciada na cidade do Rio de

    Janeiro pelo prefeito Pereira Passos, passou a ser referncia na

    cional. Essa linha de pensamento adotava aes radicais como a

    alterao da composio das residncias nos centros das cidades,

    derrubando as casas antigas e em mau estado, empurrando seus

    m oradores para a periferia, sob o pretexto de higienizar a cidade

    e evitar doenas, alm do convincente discurso de embelez-la.

    Na prim eira m etade do sculo XX, era uma caracterstica

    m arcante do processo brasileiro de modernizao prom over m u

    danas, desde que no fossem muito profundas para no alterar

    o status quo. O objetivo era reformular visualmente as cidades

    para que pudessem oferecer conforto e com odidade nos padres

    europeus. O resultado dessas mudanas provocou um processo

    de modernizao tmido e excludente que atendeu somente s

    necessidades da parte mais abastada da populao, sobretudo

    porque foi um progresso construdo pelas foras conservadoras,

    vidas pela tendncia ocidental, tentando dar brilho dura rea

    lidade local.

    Mrcia Padilha nos d uma noo definida da modernidadeaspirada pela elite brasileira da poca. Segundo Padilha, a mo

    dernidade definida como um consumo requintado que surgia

    como legitimao do status cosmopolita reivindicado por nos

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    sas elites afortunadas (Padilha, 2001: 115). Pode-se dizer que

    modernidade o conjunto de novos conceitos, valores, ideais e

    desejos relacionados s novas perspectivas propostas pelo desen

    volvimento tecnolgico e ansiados como ideal de civilizao pela

    burguesia ascendente, principal em preendedora das obras de

    modernizao.

    Como os segmentos hegemnicos da sociedade brasileiraeram os responsveis por trazer as novidades do exterior para o

    Brasil e eram eles que dominavam as estruturas do poder, sua

    preocupao residia em adaptar a sociedade s novidades in ti

    mamente ligadas m od ernidad e m aterial. De acordo com Ortiz,

    a forma de modernizao brasileira mantinha as tradies, pormais contradit rio que isso seja. Segundo o autor, a noo de m o

    dernidade est fora do lugar na medida em que o Modernismo

    ocorre no Brasil sem modernizao (Ortiz, 1988: 45).

    Na Europa, as ltimas dcadas do sculo XIX anunciavam

    o esprito da Belle poque, expresso de grande entusiasmo advindo do triunfo da sociedade capitalista que ganhava fora nas

    prim eiras dcadas do sculo XX. Estes ideais influenciaram a

    transformao de Paris atravs das reformas im plem entadas pelo

    Baro de Haussman entre 1853 e 1869, que visavam, entre ou

    tras coisas, a higienizao, o embelezamento e a racionalizaodo espao urbano. Atravs desses ideais, Paris eliminou, a partir

    da segunda m etade do sculo XIX, um grande n m ero de habi

    taes insalubres, que deram lugar a suntuosos prdios, justifi

    cando a ao do pod er pb lico que in tervinha no espao visando

    aos m elhoram entos urbanos. Os espaos centrais passavam a ter

    uma nova m alha u rban a de amplas vias, alm de rede de esgotos,

    abastecimento de gua e de iluminao eltrica. As mudanas na

    paisagem de Paris acabaram se tornando referncia para outros

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    grandes centros urban os, assim com o p ara os brasileiros.

    Alm de Paris, podem os citar tam bm o exemplo russo de So

    Petersburgo, que, apesar de no ter influenciado o Brasil comono caso francs, tambm nos d caractersticas importantes so

    bre como o processo de m odernizao atuou no m undo a partir

    da segunda metade do Sculo XIX. Segundo Marshal Berman, o

    processo de construo e m odernizao de So Petersburgo foi

    um modelo de m odernism o do subdesenvolvimento que se caracterizaria em uma poltica de atrasos imposta em meio a for

    mas e smbolos de modernizao imposta (Berman, 1992: 186).

    Tal definio poderia tam bm ser aplicada ao Brasil, guardadas as

    devidas propores.

    Para exemplificar melhor o processo russo, podemos citar o

    Projeto Nevski, do czar Alexandre que reformou a grande ave

    nida Nevski, um a das mais impo rtantes de So Petersburgo, que,

    segundo Berman, serviu para unir todas as classes em torno de

    suas vitrines, pois ela lhes abriu, no meio de um pas subde

    senvolvido, uma vista de todas as promessas deslumbrantes do

    mundo moderno. Em torno de suas vitrines, as Rssias rica e

    pobre assistiam juntas e espantadas o espetculo da m odernidade

    (Idem: 187).

    No Brasil, os urbanistas decidiram aderir a esse p rojeto moder-

    nizador lim itando-se a se em penhar no projeto de embelezamen

    to dos espaos urbanos da cidade do Rio de Janeiro. Pretendia-se

    elim inar os cortios, apon tados com o responsveis pelas doenas

    que dominavam a cidade, alm de acabar tambm com suas ca

    ractersticas coloniais que eram consideradas resqucios do pas

    sado atrasado brasileiro. A populao menos favorecida, antiga

    moradora do centro, foi removida de seu local de origem. Suas

    casas foram desapropriadas e destrudas sem nenhuma forma

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    de indenizao ou apoio. O espao, agora limpo, dava lugar a

    largas avenidas e prdios luxuosos e passava a alojar os novos

    servios pblicos (redes de gua, esgoto, telefone e iluminao),inacessveis s camadas mais baixas da populao, evidenciando

    o processo excludente da modernizao brasileira.

    O novo com portam ento adotado na cidade do Rio de Janeiro,

    a partir da remodelao urbana, ressaltou a valorizao do chique

    europeu (Art Nouveau), proporcionado, em parte, pelo adventoda eletricidade nas casas e nas ruas. As transformaes vividas

    pela burguesia carioca, sob o signo do novo equipam ento ur

    bano, ocasionaram o abandono das varandas e dos sales colo

    niais. A nova condio de sociabilidade se espalhava agora pelas

    novas avenidas, praas, palcios e jardins (Ortiz, 1988:31-32).

    Contrastando com esse retrato de otimismo e valorizao da es

    ttica, a presena das favelas, o medo do impaludismo, o peso de

    uma pobre herana colonial invadia o cenrio, minando a ima

    gem urbana to cuidadosamente construda.

    < ^ 0 liberalismo brasileiro, cultura de massa e os mass media:

    algumas caractersticas

    P o d e m o s , e m p a r t e , explicar esse processo de m odernizao

    excludente analisando a formao do capitalismo brasileiro que,

    segundo Florestan Fernandes, apresenta-se como um capitalismo

    frgil, de mercado de bens simblicos que no conseguia se ex

    pressar plenamente, m arcado por um a fraca diviso do trabalho.

    A conduta no-capitalista da econom ia brasileira, segundo Ortiz, caracterizada pela restrio do consumo e por uma economia

    de subsistncia (Apud Ortiz, 1988:25-26).

    Conforme esclarece Ortiz, som ente a partir da dcada de 1940

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    no Brasil, que podem os falar de um a sociedade de massa, pois

    a partir desse momento que percebermos a transformao da

    sociedade brasileira em uma sociedade urbano-industrial. Nessemomento, o Brasil vivenciou vrias mudanas como o cresci

    mento da industrializao e da urbanizao, a transformao da

    estratificao social com a expanso da classe operria e das ca

    madas mdias, o advento da burocracia e das novas formas de

    controle gerencial, o aumento populacional e o desenvolvimentodo setor tercirio em de trim en to do setor agrrio. nessa dcada

    tambm que o Brasil vive a fase de industrializao restringida,

    que quer dizer movimento de expanso do capitalismo que se

    realiza som ente em de term inad os setores, no se estendendo para

    a totalidade da sociedade (Idem: 45).A cultura de massa aquela produzida segundo as normas

    macias da fabricao industrial; propagada pelas tcnicas de

    difuso macia (chamada de mass media)-, destinando-se a uma

    massa social, isto , um aglomerado gigantesco de indivduos

    com preendidos aqum e alm das estru turas internas da socieda

    de (classes, famlia, etc.) e que tem como objetivo a homogenei

    zao do consu m o e dos costumes.

    Segundo Coelho, no Brasil possvel falar em cultura de

    massa e comunicao de massa, apesar de no vivermos em

    uma sociedade de consumo de massa, ou seja, vivemos sob os

    ditames da cultura produzida em larga escala e dos mass media.

    Para Coelho, no podemos falar que somos uma sociedade de

    consumo de massa, por sermos uma sociedade desenvolvida de

    um a form a m uito diferente, apresentand o as tais ilhas de riqueza

    (com p equena capacidade de consum o de acordo com os padres

    do primeiro mundo) cercada de bolses de pobreza, com uma

    capacidade restrita de consumo (Coelho, 2003). O capitalismo

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    brasileiro se desenvolveu disformem ente, fazendo com que as n o

    vidades (intelectuais e materiais) vindas de fora, como a moder

    nidade propagada pelos mass media,atravs da cultura de massa,

    se restringissem som ente a uma pequena parcela da populao.

    . ^ Histria por meio de imagens

    E n t e n d e r o p r o c e s s o de modernizao das cidades brasi

    leiras atravs de propagandas em peridicos ainda uma forma

    nova e pouco trab alhada pela historiografia. Os anncios publici

    trios so fontes que fornecem amplas inform aes acerca da so

    ciedade. Por meio deles podemos ter uma idia das projees da

    cidade e dos anseios dos seus segmentos hegemnicos, apesar de

    os anncios e informaes que trazem no estarem isentos de va

    lores e sentidos. As propagandas reforam os valores do sentido,

    do sonhado, do projetado, ou seja, evidenciam um a das inm eras

    representaes do universo da cultura.Utilizar as imagens como documento no processo de cons

    truo da histria vlido por se construir em documento que

    registra de forma no escrita caractersticas da poca em que ela

    foi feita. A imagem , no en tanto, no simulacro da realidade, no

    realidade histrica em si, mas smbolo, representao, d imensooculta, perspectiva, cdigo. Cabe a ns, identificarmos e tecerm os

    a nossa prpria leitura sobre a sua funo no passado - tendo

    sempre claro que o passado se foi e dele o que temos so apenas

    vestgios e, a partir desses vestgios, possvel escrever histrias.

    Complem entando, a fotografia, o emblema, o filme, a gravuraalegrica no devem ser entendidos meramente como ilustra

    o de determinado processo, j que permitem interpretar as

    montagens ideolgicas das representaes envolvidas. Os depoi

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    mentos vivos de personagens e o material iconogrfico no subs

    tituem em absoluto as funes documentais da palavra escrita,

    mas com plem entam significados fragm entrios dos textos, auxi

    liando na composio de um qu adro histri