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 O PRODUTIVISMO ACADÊMICO SEQUESTRO DO TEMPO LIVRE E ÓCIO CRIATIVO DO PROFESSOR -PESQUISADOR *  Valdemar Sguissardi **  O trabalhador é fixado no aparelho produtivo, no qual "o tempo da vida está submetido ao tempo da produção". O trabalho sequestrou o tempo. (NOVAES, 2011). A ciência precisa de tempo para pensar. A ciência precisa de tempo para ler e de tempo para falhar. [...] A sociedade deve dar aos cientistas o tempo que eles precisam, mas, o mais importante, os cientistas devem tomar o seu tempo. Precisamos de tempo para pensar. Precisamos de tempo para digerir. [...] A ciência precisa de tempo. (THE SLOW SCIENCE MANIFESTO, 2010) Introdução Afirmar que o produtivismo acadêmico sequestra o tempo livre e ócio criativo do professor-pesquisador é apenas uma forma amena de dizer que ele se apresenta hoje, no Brasil e, talvez, em outros países, como inegável fator de intensificação e precarização do trabalho desse profissional, em especial quando exercido no âmbito da pós-graduação. O produtivismo acadêmico ou científico, representado pelo conhecido dilema Publish or Perish, que remonta aos anos 1940/1950 nos EUA, foi antevisto e denunciado, no Brasil, por intelectuais e pesquisadores de renome, ainda ao final dos anos 1970, após cerca de uma década da implantação do atual “modelo” de pós -graduação stricto sensu  mestrado e doutorado (Parecer n. 977/65 do CFE). Dentre esses, destacam-se Ernest W. Hamburger, especialista em Física Nuclear, Ensino de Física e divulgação científica, e Maurício Tragtenberg, soci ólogo “libertário” e incansável crítico da burocracia na universidade, nos partidos políticos, nos sindicatos operários e nos movimentos sociais. *  Exposição apresentada no painel “La professión acadêmica: formas de organización y nuevas condiciones de producción intelectual” do Eixo I “La professión acadêmica entre la tradición y el cambio”. Congreso em Docencia Universitária, Universidade de Buenos Aires, 17 e 18 de outubro de 2013. **  Prof. Dr. Titular (aposentado) da Universidade Federal de São Carlos    UFSCar ; e-mail: [email protected]

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  • O PRODUTIVISMO ACADMICO SEQUESTRO DO TEMPO LIVRE E CIO CRIATIVO DO PROFESSOR-PESQUISADOR*

    Valdemar Sguissardi**

    O trabalhador fixado no aparelho produtivo, no qual "o tempo da vida est submetido ao tempo da produo". O trabalho sequestrou o tempo. (NOVAES, 2011).

    A cincia precisa de tempo para pensar. A cincia precisa de tempo para ler e de tempo para falhar. [...] A sociedade deve dar aos cientistas o tempo que eles precisam, mas, o mais importante, os cientistas devem tomar o seu tempo. Precisamos de tempo para pensar. Precisamos de tempo para digerir. [...] A cincia precisa de tempo. (THE SLOW SCIENCE MANIFESTO, 2010)

    Introduo

    Afirmar que o produtivismo acadmico sequestra o tempo livre e cio criativo

    do professor-pesquisador apenas uma forma amena de dizer que ele se

    apresenta hoje, no Brasil e, talvez, em outros pases, como inegvel fator de

    intensificao e precarizao do trabalho desse profissional, em especial quando

    exercido no mbito da ps-graduao.

    O produtivismo acadmico ou cientfico, representado pelo conhecido

    dilema Publish or Perish, que remonta aos anos 1940/1950 nos EUA, foi antevisto

    e denunciado, no Brasil, por intelectuais e pesquisadores de renome, ainda ao

    final dos anos 1970, aps cerca de uma dcada da implantao do atual

    modelo de ps-graduao stricto sensu mestrado e doutorado (Parecer n.

    977/65 do CFE). Dentre esses, destacam-se Ernest W. Hamburger, especialista

    em Fsica Nuclear, Ensino de Fsica e divulgao cientfica, e Maurcio

    Tragtenberg, socilogo libertrio e incansvel crtico da burocracia na

    universidade, nos partidos polticos, nos sindicatos operrios e nos movimentos

    sociais.

    * Exposio apresentada no painel La professin acadmica: formas de organizacin y nuevas

    condiciones de produccin intelectual do Eixo I La professin acadmica entre la tradicin y el cambio. Congreso em Docencia Universitria, Universidade de Buenos Aires, 17 e 18 de outubro de 2013. **

    Prof. Dr. Titular (aposentado) da Universidade Federal de So Carlos UFSCar ; e-mail: [email protected]

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  • Hamburger, em memorvel texto, Para qu ps-graduao?, publicado

    no n. 1 da revista Encontros com a Civilizao Brasileira, em 1980, aps mostrar as

    razes da criao nos moldes atuais da ps-graduao no pas, denunciava a

    prtica de, neste campo, como em muitos outros da vida nacional, importarem-

    se modelos externos no caso, o norte-americano. Alm de criticar a excessiva

    rigidez das regras importadas, que imporiam o padro norte-americano na

    formao de mestres e doutores brasileiros e no contribuiriam para a

    autonomia cientfica e tecnolgica do Brasil, questionava o fato de se exigir a

    publicao da produo cientfica em revistas internacionais, ao invs de em

    revistas nacionais e em portugus. A publicao em revistas estrangeiras, em

    ingls, tenderia a fazer os ps-graduandos buscarem bibliografia, temticas e

    mtodos de pesquisa de interesse dos pases em que se editam essas revistas.

    Colocava-se, dizia ele, em segundo plano a formao de uma base cientfica e

    tecnolgica nacional autnoma. Da a frase por ele reportada: No de se

    estranhar que nossos cientistas discutam problemas estrangeiros como profissionais e os

    nacionais como amadores (MAMMANA, Apud HAMBURGER, 1980, p. 86).

    Tragtenberg, em seu famoso texto Delinquncia acadmica,

    apresentado no Seminrio de Educao Brasileira, em 1978, na Universidade

    Estadual de Campinas (Unicamp), ao analisar a crise que ento entrevia na

    universidade, nos anos finais da ditadura civil-militar, afirmava:

    A universidade no algo to essencial como a linguagem; ela simplesmente uma instituio dominante ligada dominao. No uma instituio neutra; uma instituio de classe, onde as contradies de classe aparecem. (TRAGTENBERG, 1990).

    Indo mais alm, denunciava aspectos do produtivismo acadmico que

    faziam parte dessa crise universitria e que no deixaram a cena desde ento:

    [...] a poltica de panelas acadmicas de corredor universitrio e a publicao a qualquer preo de um texto qualquer se constituem no metro para medir o sucesso universitrio. Nesse universo no cabe uma simples pergunta: o conhecimento a quem e para que serve? (TRAGTENBERG, 1990).

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  • O autor que, nos anos recentes, talvez mais tenha despertado e

    incentivado a crtica no pas ao que viria a ser denominado de produtivismo

    acadmico Lindsay Waters, Editor de Humanidades da Harvard University

    Press, com seu livro Inimigos da esperana publicar, perecer e o eclipse da

    erudio (So Paulo: Edunesp, 2006). Na apresentao do livro ao leitor

    brasileiro (4 capa) diz-se que Waters verifica que, atualmente, para os rgos

    cientficos de avaliao, o nmero de livros publicados mais importante que

    sua utilidade para a cincia. Para ele, os elos entre pensamento, erudio e

    publicao estariam se perdendo em um crculo vicioso: publica-se de tudo

    para ser produtivo, mesmo que isso signifique trabalhos menos qualificados e

    sem leitores. [...] Vive-se ento a ditadura da contagem da produo (Ibidem).

    Sem se utilizar da expresso produtivismo acadmico ou cientfico,

    Waters faz uma anlise precisa desse fenmeno nos EUA, mas que poderia ter

    feito em relao a como ele ocorre, hoje, no Brasil:

    O problema diz ele a insistncia na produtividade, sem a menor preocupao com a recepo do trabalho. Perdeu-se o equilbrio entre estes dois elementos a produo e a recepo. Precisamos restaurar a simetria entre eles. O problema est em fundamentar o acesso ao posto de professor como dependente da quantidade de publicaes publicaes que poucos leem. (Id., ibid., p. 25-26; grifos nossos)

    Como um dos editores de universidade lder das Universidades de

    Pesquisa desse pas, no se lhe pode negar autoridade para a denncia do que

    significaria o Publicar ou Perecer: no mnimo, o eclipse da erudio, conforme

    destaca no subttulo desse seu pequeno grande livro.

    O implemento, no Brasil, do produtivismo acadmico nos moldes atuais

    e de forma cada dia mais intensa, tem incio na segunda metade dos anos 1990,

    com a adoo, pela Coordenao de Aperfeioamento de Pessoal de Nvel

    Superior (Capes) agncia estatal de regulao, controle, acreditao e

    financiamento do chamado Modelo Capes de Avaliao. Este utilizado para

    notao e classificao dos programas de ps-graduao stricto sensu de todas as

    reas do conhecimento.

    Este modelo visto pela crtica como um processo que considera muito mais o quanto um professor-pesquisador publica do que a qualidade ou o benefcio cientfico, pblico e social do que publicado. Enfatiza-se a produtividade, no a recepo ou o interesse pblico-social do produzido. (BIANCHETTI; SGUISSARDI, 2009).

    Diversos estudos recentes (SGUISSARDI, 2006; BIANCHETTI

    & MACHADO, 2009; SGUISSARDI & SILVA JR, 2009; BIANCHETTI

    & QUARTIERO, 2010; SILVA JR & SILVA, 2010; SANTANA 2011; MACHADO

    & BIANCHETTI, 2011; SILVA JR & FERREIRA & KATO, 2013), desde a

    segunda metade dos anos 2000, buscaram estabelecer, no Brasil, a origem e

    razes desse fenmeno, e sua relao com a intensificao e precarizao do

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  • trabalho dos professores/pesquisadores, em especial dos atuantes na ps-

    graduao.

    Diante do exposto, visar-se-, neste texto, contribuir para o exame e

    resposta de algumas questes, tais como: 1) O que se entende por produtivismo

    acadmico e como e por que surge no Brasil? Quais os fatores e razes de sua

    adoo, to vigorosa e impositiva, que o naturalizam, especialmente entre

    jovens mestres e doutores? Quais alguns traos da produo cientfica na

    universidade brasileira e qual o papel das agncias reguladoras e de

    financiamento, como o CNPq e a Capes, no implemento do produtivismo

    acadmico? Quais algumas consequncias desse fenmeno para a universidade,

    em especial para o trabalho, a carreira acadmica, a vida familiar e a sade do

    professor-pesquisador da ps-graduao, assim como para os ps-graduandos

    e recm-doutores? O Programa de Apoio a Planos de Reestruturao e

    Expanso das Universidades Federais (Reuni) e a expanso mercantilista e

    oligopolizada da educao superior tm contribudo para o incremento do

    produtivismo acadmico?

    Para responder a tais questes sero utilizados diversos estudos

    anteriores, alguns deles de autoria (ou em coautoria) do autor deste texto, entre

    os quais a investigao que deu origem ao livro Trabalho intensificado nas

    Federais: ps-graduao e produtivismo acadmico (S. Paulo: Xam, 2009)

    I O produtivismo acadmico ou cientfico: o que ; como ocorre sua entrada

    na ps-graduao e na produo cientfica do Brasil; algumas

    decorrncias

    Est bastante bem firmada, entre analistas desse fenmeno, a ideia de que o

    produtivismo acadmico deriva, hoje, principalmente, dos processos oficiais ou

    no de regulao e controle, supostamente denominados de avaliao, que se

    relacionam a utilizao de fundos pblicos, financiamento, acreditao,

    interesses corporativos e performance estatstica. Seus principais traos seriam,

    entre outros, a excessiva valorizao da quantidade da produo cientfico-

    acadmica e correlata pouca valorizao de sua qualidade (SGUISSARDI, 2010).

    Referindo-se lgica gerencial-empresarial que invadiu a ps-graduao

    stricto sensu, no Brasil, em que o que vale seria a produtividade mensurada por

    nmeros, Alcadipani (2011) escreve:

    No Brasil, produo acadmica se transformou em sinnimo de fazer

    pontos. Balizada pela tabela de pontuao de produo acadmica da

    CAPES, o trabalho de pesquisa tem sido medido pela quantidade de

    pontos que o professor [pesquisador] consegue fazer por ano. Assim, a

    lgica est cada vez mais em produzir o mximo possvel de artigos

    para fazer o mximo de pontos. Rankings com nomes e pontos de

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  • professores so produzidos e distribudos nas secretarias dos programas

    de ps-graduao em todo o pas.

    Caracteriza-se, ainda, pela multiplicao dos textos oriundos de uma

    nica investigao alcunhada de salami science1 -, assim como pelas falsas

    autorias ou coautorias, visando o aumento da produtividade individual e dos

    programas.2 Do produtivismo decorre, tambm, a realizao de eventos com

    centenas de exposies de trabalhos, nem sempre cientficos, para auditrios

    vazios ou quase, o que no propicia nem seu debate nem sua efetiva

    divulgao. (Ibidem).

    Como j dito, o momento crucial em que recrudesceu e se exacerbou, em

    ritmo crescente, o produtivismo acadmico, no Brasil, foi o da implantao do

    novo modelo de regulao e controle da ps-graduao no pas, amplamente

    conhecido como Modelo Capes de Avaliao, nos anos 1996/1997/1998. Era o final

    do primeiro mandato do Presidente Fernando H. Cardoso (FHC), cujo governo

    acabara de adotar no pas pontos essenciais de receiturios econmico-

    financeiros como o Consenso de Washington. Entre outras medidas: equilbrio

    oramentrio via reduo de gastos pblicos; liberalizao econmica e

    financeira (livre ingresso de capitais); desregulamentao dos mercados

    domsticos; privatizao de empresas e servios pblicos (sade e educao).

    Reforma do Aparelho do Estado, de cunho gerencial, com adoo de conceitos

    como atividades no exclusivas do Estado e competitivas (entre estas, a educao

    superior), propriedade pblica no estatal e organizao social. Nestas, propunha-se,

    deveriam ser transformadas as universidades estatais pblicas federais, a serem

    administradas por fundaes pblicas de direito privado, mediante contratos

    de gesto. A isto, eufemisticamente, denominava-se processo de publicizao

    (SILVA JR; SGUISSARDI, 2001). Verificavam-se, portanto, a reconfigurao do

    Estado, com a expanso de seu polo privado/mercantil e reduo de seu polo

    1 Salami Science a prtica de fatiar uma nica descoberta, como um salame, para public-la

    no maior nmero possvel de artigos cientficos. O cientista aumenta seu currculo e cria a

    impresso de que muito produtivo. O leitor forado a juntar as fatias para entender o todo.

    As revistas ficam abarrotadas. (REINACH, 2013)

    2 Sei de orientadores que obrigam que todos os seus orientados coloquem o nome deles,

    orientadores, como coautores nos artigos que publicam. (DURHAM, Eunice, 2010). Alcadipani

    (2011) acrescenta: A perversidade deste sistema chegou a tanto que a noo de autoria, to

    cara a uma academia que se pretende sria, est beira de ser desvirtuada, principalmente

    quando pessoas assinam artigos que no leram. No incomum vermos alunos serem coagidos

    a colocar o nome de orientadores em artigos e trabalhos que jamais foram lidos pelo orientador.

    Na lgica da academia produtivista, o tempo para reflexo deixado de lado, a formao de

    alunos escamoteada e o desenvolvimento intelectual significa apenas nmeros em uma

    tabela.

    DanielRealce

  • pblico, alm de oferta de incentivos e garantias crescentes ao capital e,

    decrescentes, aos direitos do trabalho.

    Foi o momento em que a avaliao, em sentido lato e ambguo, tornou-se

    instrumento de regulao e controle a servio do poder do Estado; em que se

    consolidava o Estado Avaliador e suas agncias de avaliao vinculadas ao

    ncleo mais duro do poder (DIAS SOBRINHO, 2003, p. 36); e em que se

    disseminava, pelo Banco Mundial, a tese de que a educao superior seria um bem

    antes privado que pblico (WORLD BANK, 1998), que, dizia-se, deveria ser

    apropriada e gerida, como quase-mercadoria no quase-mercado educacional, pela

    iniciativa privada, em moldes empresariais/gerenciais, nvel de educao do

    qual o Estado deveria afastar-se gradativamente.

    A adoo do Modelo Capes de Avaliao coincide, igualmente, com os

    passos preliminares do Processo de Bolonha (1999) Declarao da Sorbonne (1998)

    , acordo que envolve dezenas de pases europeus, entre cujos principais

    objetivos destaca-se o da competitividade do sistema europeu de ensino

    superior e da prpria economia europeia em disputa de mercados com a norte-

    americana. Entre esses mercados, o da educao superior. Enfim, o

    produtivismo acadmico ou cientfico, no Brasil, adquire especial relevncia

    quando o pas comea a assumir seu posto de coliderana dos pases

    emergentes (BRIC)3 e de coadjuvante dos pases centrais em tempos de

    mundializao do capital com predominncia financeira (SGUISSARDI, 2013).

    A adoo desse modelo de regulao e controle d-se, portanto, em

    contexto muito propcio para sua adequao ao modelo econmico dominante e

    consequente reconfigurao funcional do Estado. Em perodo de solues

    ultraliberais, que abandonam todo e qualquer precrio trao do Estado-

    providncia ou desenvolvimentista, no pas, assim como em muitos pases da

    periferia e semiperiferia do capital mundializado, prevalece a ideia de que a

    crise devia-se aos fortes vnculos do Estado com os direitos do trabalho e

    ausncia de competitividade em todos os setores da economia.

    Dessa compreenso das razes da crise e de teses disseminadas por

    organismos multilaterais financeiros (Banco Mundial, principalmente) de que o

    retorno individual e social dos recursos empregados na educao superior era

    muito menor do que o dos utilizados na educao bsica (WORLD BANK, 1986;

    WORLD BANK, 1994), e de que a educao superior seria antes um bem

    privado que pblico (Id. 1998) decorreram muitas aes do Estado ento

    reconfigurado. A primeira delas foi a gradativa reduo dos vnculos do Estado

    3 Acrnimo cunhado pelo economista Jim ONeill, em 2001, para identificar os principais pases

    emergentes: Brasil, Rssia, ndia e China.

  • e do fundo pblico com as polticas pblicas de interesse dos trabalhadores, o

    que redundou, tambm, em drstica reduo do financiamento da educao

    superior estatal pblica. A segunda, mediante o Decreto n. 2.306, de 19/08/1997,

    a legalizao do negcio do ensino superior, nos termos de seu artigo 7:

    As instituies privadas de ensino classificadas como particulares, em sentido estrito, com finalidade lucrativa, ainda que de natureza civil, quando mantidas e administradas por pessoa fsica, ficam submetidas ao regime de legislao mercantil, quanto aos encargos fiscais, parafiscais e trabalhistas, como se comerciais fossem, equiparados seus mantenedores e administradores ao comerciante em nome individual.4

    A terceira, a da substituio do precrio Estado nacional-

    desenvolvimentista e investidor/empresrio pelo Estado avaliador/regulador,

    que, ao afastar-se em grande medida da manuteno e expanso da educao

    superior, exacerba a chamada garantia pblica de qualidade dos ttulos, em que

    a regulao e o controle tornam-se efetivas razes de Estado. A quarta, aps a

    tentativa de transformao das instituies federais de ensino superior (Ifes) em

    organizaes sociais, administradas por fundaes pblicas de direito privado,

    foi a imposio de oramentos globais que transformam as universidades

    estatais pblicas federais em meras unidades executoras, sem autonomia de

    gesto financeira, e os reitores em meros gerentes executivos. A criao de

    dezenas de Fundaes de Apoio Institucional (FAI), organizaes privadas no

    mbito das Ifes, sob o pretexto de flexibilizar o gerenciamento de projetos de

    pesquisa e outras atividades universitrias, contribuiu, tambm, para o

    implemento do produtivismo acadmico. A adoo posterior dos contratos de

    gesto, prevista para as organizaes sociais, agora no mbito do Reuni (2007-

    2012), viria completar esse quadro de aes estatais que estruturam o contexto

    mais imediato do produtivismo acadmico e sua relao com a intensificao e

    precarizao do trabalho do professor-pesquisador.

    Finalmente, na medida da importncia atribuda competitividade no

    mundo empresarial, implementa-se, via agncias financiadoras de ps-

    graduao e pesquisa mormente Capes e CNPq a competio

    interuniversidades, interprogramas de ps-graduao, entre docentes

    pesquisadores, ps-graduandos e recm-doutores. Competio por recursos

    financeiros para pesquisa, por bolsas de pesquisador e de ps-graduandos,

    4 Esse Decreto foi revogado pelo de n. 3.860/2001 e este pelo Decreto n. 5.773/2006, que,

    entretanto, mantm, em seu artigo 15, letras g e h, a distino e o reconhecimento das IES

    sem e com fins lucrativos. Alguns dias antes da edio do Decreto n. 2.306, a Medida Provisria

    n. 1.477-39, de 8 de agosto de 1997, que dispunha sobre o valor total anual das mensalidades

    escolares, menciona de forma detalhada, em seus artigos 10 e 11, a distino entre IES sem fins

    lucrativos e IES com fins lucrativos. (SGUISSARDI, 2013)

    DanielRealce

  • assim como auxlios financeiros para todo tipo de atividade atinente ps-

    graduao e investigao, tais como intercmbios nacionais e internacionais,

    participao em eventos cientficos no pas e no exterior, etc.

    O que foi escrito h alguns anos, continua muito atual:

    Deserdada pelo Estado mantenedor, operando cada vez mais segundo a lgica mercantil, tendo que complementar recursos cada vez mais essenciais, pela venda de servios, consultorias, projetos, via Fundaes de Apoio Institucional, e doravante via mecanismos do mbito da Lei de Inovao Tecnolgica [e da Lei das Parcerias Pblico-Privadas], a universidade pblica, tanto quanto a universidade privada, tender a substituir o estatuto da autonomia, jamais realizado em nosso pas, pelo da heteronomia. A agenda universitria submeter-se- cada vez mais agenda do Estado (em grande medida, privatizado) e dos Fundos ou interesses empresariais privados. (SGUISSARDI, 2006, p. 65)5

    Outro aspecto da poltica oficial em relao universidade e ps-

    graduao o representado pelo esforo governamental de buscar a

    massificao do ensino superior, via privatizao/mercantilizao, e de alta

    qualificao via ps-graduao.

    Enquanto, desde a aprovao da Lei de Diretrizes e Bases da Educao

    (Lei n. 9.394/96) e do Decreto n. 2.306/97, anteriormente citado, a expanso da

    educao superior instituies e matrculas de graduao deu-se, por vrios

    anos, com ndices anuais superiores a 10%, e os ndices de mercantilizao

    foram ainda maiores. Dois anos aps esse decreto de 1997, que legaliza a

    explorao da educao superior como mercadoria, em 1999, as instituies de

    educao superior (IES) que adotaram o estatuto de organizaes lucrativas j

    somavam 48% do total de 1.097 IES. As IES pblicas (federais, estaduais e

    municipais) eram 21,4% e as IES privadas confessionais e comunitrias 34,5%. O

    percentual de matrculas nas IES privado/mercantis somava ento 27,5% do

    total6; as das IES pblicas, 35,1%; e as das IES confessionais e comunitrias,

    37,4%.

    Grfico 1 - Evoluo e percentual do nmero de matrculas de educao superior por categoria administrativa (pblica: federal, estadual, municipal; privada: confessional e comunitria, e particular) 1999-2010

    5 Vrios estudos tm demonstrado a reduo dos gastos pblicos com educao superior e o

    implemento de formas mais rgidas de regulao e controle. Cf.. CABRITO, Belmiro Gil. (2004);

    CORBUCCI, Paulo R. (2004); MEEK, V. Lynn (2004); WILLIAMS, Gareth (1997); SGUISSARDI,

    Valdemar (2005); e AMARAL, Nelson C. (2003; 2013).

    6 O percentual menor de matrculas em relao ao do nmero de instituies deve-se ao fato de

    essas IES serem majoritariamente instituies isoladas ou faculdades e no universidades.

  • Fonte dos dados: BRASIL. MEC/Inep. Sinopse Estatstica da Educao Superior, 2011

    Passados 11 anos, em 20107, as IES com fins lucrativos j atingiam 77,8%

    do total, com um crescimento de 252%; as IES pblicas reduziam-se a 11,7% do

    total, com aumento de 44,8%; e as IES confessionais e comunitrias, a 10,5% do

    total, com reduo de -34%. O crescimento do total das IES do pas nesse

    perodo foi de 11,7%.

    Quanto s matrculas, em 2010, as das IES privado/mercantis j somavam

    62,1%, com aumento de 420%, contra 26,8% das IES pblicas, com aumento de

    75,7%, e somente 11,5% das IES confessionais e comunitrias, com reduo de -

    32,3%. O crescimento do total das matrculas das IES do pas nesse perodo foi

    de 130%.

    No campo da ps-graduao, que se concentra nas universidades

    pblicas, os ndices de evoluo so igualmente significativos, como se v, na

    tabela I, em relao ao crescimento tanto do nmero de programas (em geral,

    com cursos de mestrado e doutorado), quanto do montante de matrculas e de

    titulados, no perodo 1998-2012. So particularmente relevantes para a relao

    produtivismo acadmico e intensificao/precarizao do trabalho do

    professor-pesquisador os ndices de evoluo do nmero de titulados, tanto no

    mestrado quanto no doutorado.

    Tabela I Evoluo do nmero de Programas de Ps-Graduao stricto sensu, de matrculas e de titulados nos mestrados acadmico e profissional, e no doutorado - 1998-2013

    7 Estimativa a partir da taxa de evoluo anual no trinio 2006-2009 constante das Sinopses

    estatsticas da Educao Superior desses anos divulgadas pelo MEC/Inep.

    0

    1.000.000

    2.000.000

    3.000.000

    4.000.000

    5.000.000

    6.000.000

    1999 2002 2006 2009 2010

    TOTAL GERAL Total Pblicas Tot. Conf/Comun. Tot. Particular

    DanielRealce

  • Ano

    Progr.

    de

    Ps-

    Grad.

    Mestrado

    Acadmico

    Mestrado

    Profissional

    Doutorado Total

    Matric. Tit.. Matric. Tit.. Matric. Tit. Matric. Tit.

    1998 1.259 49.387 12.351 - - 26.697 3.915 76.084 16.266

    2012 3.342 109.515 42.878 14.724 4.260 79.478 13.912 203.717 61.050

    % 165,45 121,75 247,16 - - 197,70 255,35 167,75 275,32

    Fonte: BRASIL. MEC/Capes/GeoCapes, 2013

    Em 14 anos, os programas de ps-graduao tiveram um ndice de

    crescimento de 165,45%, totalizando, em 2012, 3.342 programas. As matrculas

    do mestrado acadmico aumentaram 121,75%, mas o nmero de titulados teve

    crescimento de 247,16%. As matrculas do doutorado aumentaram 197,70% e os

    titulados, 255,35%. Em 1998, a relao no mestrado acadmico entre titulados e

    matriculados era de 1 para 4; em 2012, essa relao baixou para 1 para 2,55

    matriculados. No doutorado, em 1998, essa relao era de 1 para 6; em 2012, de

    1 para 5,7. No total, em 1998, essa relao era de 1 para 4,7; em 2012, incluindo-

    se os dados do mestrado profissional, essa relao reduziu-se a 1 para 3,3.

    O significativo aumento proporcional dos titulados em relao aos

    matriculados, no geral, e especialmente no mestrado acadmico, deveu-se

    principalmente sistemtica presso da agncia reguladora Capes para que

    os prazos de titulao no mestrado fossem reduzidos. Esta presso deu-se, entre

    outras medidas, pela reduo gradativa da durao das bolsas de estudo, que se

    fixou em no mximo 24 meses. No doutorado, a reduo do tempo de titulao

    foi menor porque o prazo de titulao e de vigncia das bolsas fixou-se em at

    48 meses. A desobedincia a essas balizas resulta em pontuao negativa na

    avaliao dos programas, com consequente reduo do nmero de bolsas e

    de todo o tipo de auxlio financeiro.

    A reduo dos tempos de titulao tem significado para os docentes da

    ps-graduao importante aumento do tempo de dedicao s atividades de

    orientao.8 Isto somado s exigncias de determinado nmero, sempre

    crescente, de participaes em eventos cientficos e, principalmente, de artigos,

    captulos de livro e livros publicados, tem afetado sobremaneira as condies

    8Lucdio Bianchetti entrevistou 74 docentes no Brasil e Europa, inclusive alguns que tinham a

    incumbncia de fazer o [Processo de] Bolonha funcionar. A categoria tempo aparece em todos

    os depoimentos: nova temporalidade, tempo mais longo ou mais curto, no h tempo para

    criao, estamos submetidos a uma poltica durssima, guerra da produtividade. (2013)

    DanielRealce

    DanielRealce

  • de trabalho do professor-pesquisador. Os nmeros mnimos da produo

    cientfica anual publicada de cada professor-pesquisador de ps-graduao

    comearam com 1 ou 2, mas tm aumentado gradativamente e de forma

    acelerada. A sua valorizao, especialmente dos artigos cientficos, depende do

    chamado fator de impacto (FI) do veculo em que sejam publicados. A

    valorizao maior da quantidade de produtos, mais do que a qualidade

    intrnseca de cada produto ou do processo que presidiu sua produo, tem

    induzido os programas de ps-graduao e seus professores/pesquisadores a

    abandonar outras atividades acadmicas que no contam ou contam menos

    pontos. Necessitam focar seu tempo e ateno na produo do maior nmero

    possvel de artigos e, apenas secundariamente, na produo de livros, captulos

    de livros e na participao em eventos e intercmbios cientficos.

    Algumas decorrncias preocupantes do produtivismo acadmico e da

    cientometria9 que o acompanha, manuseada e manipulada pelas agncias

    reguladoras,

    [...] que ele [o produtivismo acadmico] serve de parmetro

    bsico para os concursos de acesso (e progresso na) carreira

    acadmica, para a obteno de bolsas de estudo e de auxlios

    pesquisa, e at, em muitos casos, para o prprio acesso a cargos

    administrativos. (SGUISSARDI, 2010).

    Outra decorrncia da consolidao dos parmetros que constituem o

    produtivismo acadmico, diferentemente do que tende a ocorrer entre os

    professores-pesquisadores de formao no to recente, a tendncia

    naturalizao desse fenmeno, nos programas de ps-graduao, em especial

    entre os ps-graduandos das novas geraes e entre os novos mestres e

    doutores.

    II Alguns traos da produo cientfica na universidade brasileira e o papel

    do CNPq e Capes no implemento do produtivismo acadmico.

    Uma das principais caractersticas da produo cientfica na universidade

    brasileira sua vinculao quase exclusiva aos programas de ps-graduao.

    Isto tem impedido a realizao prtica do preceito constitucional (CF 1988) da

    associao ensino-pesquisa-extenso, pela razo acima e porque os professores

    9 Bufrem e Prates assim se referem cientometria: Quando os mtodos quantitativos so

    utilizados para estudar as atividades cientficas ou tcnicas, do ponto de vista de sua produo

    ou comunicao, costuma-se denomin-los cientometria, a cincia da cincia (2005). Ainda

    sobre a cientometria vale registrar a manifestao de um de seus crticos: Pouca coisa no

    mundo mais imprecisa do que a cientometria, a cincia que usa nmeros para medir a

    qualidade da cincia. (GARCIA, 2013).

    DanielRealce

    DanielRealce

  • mais qualificados e atuantes nos programas de ps-graduao cada vez menos

    atuam como docentes nos cursos de graduao. H casos de completa

    separao entre os docentes de ps-graduao e os de graduao, aqueles

    trabalhando apenas na pesquisa, na orientao e no ensino da ps-graduao. A

    extenso tornou-se uma atividade espordica que, em geral, somente levada a

    cabo se render produtos cientficos publicveis, alm de complementao

    salarial. Aos professores-pesquisadores mais qualificados, detentores, por

    exemplo, de Bolsa de Produtividade10, do CNPq, comum conceder-se o

    privilgio de no darem aulas, de no participarem de reunies colegiadas

    institucionais, para poderem se dedicar quase exclusivamente produo de

    textos cientficos publicveis em revistas de grande impacto. Tanto a

    manuteno dessa bolsa, quanto as publicaes de renome, especialmente

    internacionais, so trunfos de que no abrem mos os programas de ps-

    graduao na competio muito exigente por uma boa classificao no ranking

    dos programas. Isto ocorre em razo dos benefcios que advm dessa

    performance para os programas e para a manuteno de seus professores em

    evidncia e com potencial de sempre renovados financiamentos, bolsas e

    complementaes salariais.

    Tanto a ps-graduao quanto a pesquisa, pela fora de interveno da

    agncia reguladora, de acreditao e de financiamento, Capes, e do CNPq, seu

    parceiro nesses encargos, comportam-se de certa maneira como setores

    autnomos no interior da universidade. No lhe do muita satisfao. Antes,

    norteiam-se pelas diretrizes e imposies, nada dissimuladas, dessas agncias e

    de outros rgos de regulao e financiamento, aos quais prestam contas

    regularmente. Na verdade, essa autonomia apenas aparente; o que de fato

    rege suas aes e existncia uma indisfarvel heteronomia, em que a

    obedincia s normas e diretrizes da Capes pelos programas de ps-graduao

    e o contato direto do CNPq e outras agncias financiadoras com os professores-

    pesquisadores e seus grupos de pesquisa, revelia e/ou desconhecimento das

    universidades, so apenas exemplos.

    Cabe, resumidamente, registrar aqui mais alguns fatores que colaboram,

    direta ou indiretamente, com o produtivismo acadmico, na intensificao e

    precarizao do trabalho dos professores/pesquisadores.

    10 Bolsa concedida a pesquisadores seniores, que recebem auxlios complementares chamados

    de taxas de bancada, em relao s quais os controles do CNPq so menos rgidos que em

    relao a outras bolsas e auxlios financeiros para pesquisa. O nmero de bolsistas de

    Produtividade gira em torno de 10% dos docentes-pesquisadores de cada rea de ps-graduao.

    DanielRealce

    DanielRealce

  • Em estudo sobre a intensificao e precarizao do trabalho dos

    professores da Ifes do Sudeste (Esprito Santo, Minas Gerais, Rio de Janeiro e

    So Paulo) do Brasil (SGUISSARDI; SILVA JR, 2009), no perodo 1995-2005, que

    visava verificar como as mudanas na produo e a reforma do Estado

    traduziam-se no dia-a-dia das Ifes, encontra-se grande volume de dados

    empricos que comprova a bastante estreita relao entre o produtivismo

    acadmico e a deteriorao das condies de trabalho em especial dos

    professores-pesquisadores vinculados ps-graduao. Nessa verdadeira

    reforma das Ifes, para alm da legislao, os alvos preferenciais foram a ps-

    graduao e seu corpo de professores-pesquisadores, assim como de seu corpo

    discente.

    Nesse estudo, defendia-se a tese de que o movimento reformista na

    esfera educacional parte das mudanas da racionalidade capitalista

    propiciadas pela mundializao do capital (Id., ibid., p 255). Como explicita

    um resenhista (BARSOTTI, 2011, p. 597-8),

    [...] o movimento reformista em geral no estudado de modo isolado, como se no fizesse parte de um todo social que tem um sentido e um significado concretos. Sem desconsiderar as especificidades de cada pas, a reforma analisada como um movimento mundial, que mantm traos de identidade em todos eles, a partir da racionalidade da transio para essa mundializao do capital.

    Outra hiptese testada e confirmada nesse estudo a da centralidade da

    ps-graduao como polo gerador da efetiva reforma universitria das Ifes, que

    resulta no produtivismo acadmico, instrumental e ideolgico.

    Entre esses dados empricos destaquem-se, nesse perodo:

    Quadro 1 Alguns dados que mostram a intensificao/precarizao do trabalho docente em sete Federais do Sudeste do Brasil 1995-2005

    Categorias %

    1) Financiamento do fundo pblico federal ao total das IES Federais do pas, incluindo a ps-graduao (reduo)

    -30

    2) Recursos de pessoal e encargos sociais, sem inativos e pensionistas (reduo)

    -34

    3) Salrio do corpo docente doutores (reduo) -20*

    4) Corpo docente graduao e ps-graduao (aumento) 11

    5) Corpo discente de graduao (aumento) 29

    6) Corpo discente de ps-graduao (aumento) 112

    7) Corpo tcnico-administrativo (reduo) -41

    8) Relao professor-aluno - graduao e ps-graduao (aumento)

    36**

    DanielRealce

  • 9) Distribuio mdia per capita da produo intelectual publicada dos professores da ps-graduao (aumento)

    60***

    10) Corpo docente da ps-graduao (aumento) 44***

    11) Produo intelectual em 32 cursos de ps-graduao de 27 reas de conhecimento (aumento)

    124***

    *No total das IFES do pas; ** Essa relao era de 1/12 em 1995 e subiu para 1/16 em 2010, havendo caso (UFMG) de 1/19; *** Perodo: 1998-2005. Fonte: SGUISSARDI; SILVA JR, 2009.

    A relao produtivismo acadmico e intensificao/precarizao do

    trabalho docente na ps-graduao est direta ou indiretamente vinculada a

    vrios desses indicadores, em especial aos de nmero 7 a 11.

    Quanto relao professor/aluno, ela variou de uma mdia da amostra

    de 1/12 em 1995 para 1/16 em 2005. Das sete Ifes da amostra, a menor relao

    docente de tempo integral equivalente e aluno de graduao equivalente (o

    aluno de ps-graduao foi tomado como equivalente a quatro alunos de

    graduao) foi de 1/15; a maior, 1/19.

    Ifes o Programa Reuni, cuja meta de aumento de vagas, at 2012, era de

    100% e da relao professor/alunos, de 1/18. Os dados obtidos junto ao Instituto

    Nacional de Pesquisa em Educao (Inep) do ano de 2011 mostram que o

    aumento das vagas nas Ifes (para graduao presencial) de 2007 a 2011 foi de

    91,2%, passando de 141.121 para 270.121, enquanto o aumento das funes

    docentes foi de 49,2%, passando de 57.203 para 84.808. O nmero de servidores

    tcnico-administrativos teve um aumento nesse perodo de 72,4%, ndice

    importante dada a reduo ocorrida de 1997 a 2007, que foi de -29,6%.

    Se tomado o perodo de 1997 (ano da adoo do Modelo Capes de

    Avaliao) a 2011, os ndices so ainda mais significativos por mostrarem a

    intensificao de trabalho dos professores das Ifes: para um aumento das vagas

    oferecidas de 163,6% houve aumento de pouco mais de um tero das funes

    docentes, isto , 63,5%, e do nmero de servidores, de apenas 21,3%.

    Outro dado que contribui para a intensificao e precarizao do

    trabalho de professores/pesquisadores o do custo/aluno. Tomando o total de

    recursos de pessoal e outros custeios, dividindo-o por matrculas totais das Ifes,

    ter-se- o seguinte quadro, extrado de estudo de Nelson Amaral: em 2011, os

    valores financeiros aplicados por vaga foram 39,6% menores que os valores

    aplicados em 1997 e 10,1% menores do que os praticados em 200711 (AMARAL,

    2013).

    11 Em 1997 os recursos por matrcula eram de R$ 50.637,00; em 2007, R$34.041,00; e em 2011,

    R$30.599,00.

    DanielRealce

    DanielRealce

    DanielRealce

  • Sobre a produo cientfica brasileira, alguns poucos nmeros so

    suficientes para mostrar como essa produo tem se avolumado

    quantitativamente nas ltimas dcadas, mas sem melhora na qualidade trao

    tpico do produtivismo acadmico ou cientfico.

    O crescimento quantitativo mdio da produo cientfica brasileira,

    medido pelas bases de dados dessa produo, nos ltimos 28 anos foi de 10,8%

    por ano. Segundo dados do jornal Folha de S. Paulo (22/04/2013), a partir da base

    de dados Scimago12, com nmeros da produo cientfica de 208 pases, no

    perodo 2001-2011, o Brasil, em volume de artigos publicados, teria subido do

    17 lugar (13.846 artigos) em 2001, para o 13 lugar (49.664 artigos) em 2011.

    Crescimento de 258,7%. Por outro lado, no mesmo perodo, a posio do pas na

    escala da qualidade de sua produo cientfica sofreu um importante revs: da

    31 posio mundial, em 2001, teria descido para a 40 posio (RIGHETTI,

    2013). Por que isso ocorre? O bilogo da Universidade de Braslia (UnB)

    Marcelo Hermes-Lima responde laconicamente: A poltica atual de ensino

    superior no Brasil pressiona para que os pesquisadores publiquem mais e para

    que publiquem de qualquer jeito" (Apud RIGUETTI, 2013).

    III Produtivismo acadmico e intensificao e precarizao do trabalho do

    professor-pesquisador

    Enfim, o produtivismo acadmico est na raiz da intensificao e precarizao do trabalho dos docentes/pesquisadores e pe-se como um dos grandes desafios que envolvem a universidade como instituio e a produo do conhecimento necessrio ao desenvolvimento e soberania do pas. (SGUISSARDI, 2010)

    O produtivismo acadmico, como instrumento gerador, entre outros, da

    intensificao e precarizao do trabalho do professor-pesquisador, tambm

    contribui para a negao da autonomia universitria, para a desqualificao e

    mercantilizao da cincia.

    Como j dito em outros termos, a presso por sempre maior quantidade

    de produtos publicados induz ao abandono do ensino de graduao e do

    prprio ensino de ps-graduao. Todo tempo disponvel na instituio e

    mesmo nos dias feriados precisa ser dedicado produo de papers, de

    preferncia redigidos em ingls e sobre temas e problemas que interessam, no

    12 A base de dados Scimago, segundo a Folha de S. Paulo, seria alimentada pela plataforma Scopus,

    da editora Elsevier.

    DanielRealce

    DanielRealce

    DanielRealce

    DanielRealce

    DanielRiscado

    DanielNotaConciso, breve, resumido

    DanielRealce

    DanielNotaE a Filosofia distncia, que comecei a estudar este ano de 2015, acredito eu. deva contribuir para o crescimento da autonomia universitria.

  • raramente, aos editores de revistas internacionais, onde seriam publicados, e

    aos seus respectivos pases (geralmente pases centrais).

    Uma das consequncias do produtivismo acadmico sua incorporao

    ideolgica pelo professor-pesquisador, em especial pelos jovens ps-

    graduandos ou jovens mestres e doutores, para os quais, diante das novas

    condies de trabalho, teria se tornado natural no haver tempo para o lazer,

    para o descanso em famlia. Parece-lhes natural porque todos o fazem levar

    para casa tarefas acadmicas, como: elaborao de textos para congressos, de

    artigos para revistas, de captulos de livro, de livros; leitura de dissertaes e

    teses; emisso de pareceres sobre projetos de pesquisa, sobre originais de

    artigos e livros. O trabalho acadmico converteu-se em espcie de droga de que

    no se pode privar mesmo em detrimento do lazer, do cio criativo, da vida

    familiar.

    Outra consequncia do produtivismo acadmico, como fator de

    intensificao e precarizao do trabalho do professor-pesquisador a

    degradao de suas relaes institucionais; diminuio de sua participao na

    poltica institucional, nas atividades poltico/associativas, em movimentos

    sociais e, inclusive, nas atividades de extenso universitria.

    Nas cinquenta entrevistas realizadas com docentes, com pelo menos dez

    anos de envolvimento com a Ps-Graduao, de cerca de trinta reas do

    conhecimento, no mbito da pesquisa j referida, em sete Ifes da regio Sudeste

    do Brasil, o tema do produtivismo acadmico e sua relao com a intensificao

    e precarizao do trabalho foi um dos mais, seno o mais frequente. Foi geral a

    identificao do constante aumento das exigncias de produo intelectual

    publicada como o maior problema enfrentado pelos Programas e pelos

    professores-pesquisadores nos anos recentes.

    Uma das figuras mais fortes que tem sido utilizada por vrios

    entrevistados foi a de que a Capes, respaldada pelo CNPq, estaria praticando

    verdadeiro canibalismo, ao promover, via escala de notas tendo por base a curva

    de Gauss, uma renhida competio entre programas para obteno de notas

    iguais ou superiores a quatro em escala de um a sete. Dadas a extrema

    diversidade regional, em termos de PIB per capita, de dimenso e qualidade das

    universidades e dos programas de ps-graduao, anualmente e em especial a

    cada trs anos renova-se o clima de tenso e ansiedade que toma conta de todos

    os coordenadores, professores, funcionrios e alunos dos menos afortunados.

    Se os dados at aqui expostos no tiverem sido suficientes para

    demonstrar a hiptese bastante plausvel de uma estreita relao de

    DanielRealce

  • dependncia do trabalho intensificado e das condies de trabalho

    precarizadas em relao ao produtivismo acadmico, a leitura de alguns

    extratos de depoimentos dos entrevistados ajudaria a suprir essas eventuais

    insuficincias.

    Antes de tudo a resistncia ao novo modelo que se apresenta de

    diferentes formas:

    [...] meu orientador teve os seus defeitos, mas teve enormes qualidades, ele me ensinou que cincia no se faz com pressa! Cincia no se faz encomendada! Cincia no se faz com horrio marcado! E esse o modelo de hoje. Hoje um aluno tem que entrar... com dois anos pra fazer mestrado, ele tem que fazer o curso, cumprir os crditos, fazer o projeto, realizar e executar o projeto, escrever a sua tese [dissertao] e escrever um trabalho pra publicar em revista de nvel internacional e no sei o qu. Em dois anos! (EF7, 2007, p. 3, grifos nossos; apud SGUISSARDI; SILVA JR, p. 219)

    Em seguida, relembrando os conselhos de um pai cientista quanto s

    exigncias do trabalho cientfico, desabafa:

    uma atitude totalmente diferente da de hoje em que eu sou obrigada, eu sou obrigada! A Fapesp me obriga, o CNPq me obriga, a Finep me obriga, todas as financiadoras obrigam que voc tem que publicar um trabalho dentro de dois anos e pouco, dentro de um ano, dois trabalhos por ano, trs trabalhos por ano.(Id., ibid.)

    Parecendo retomar os questionamentos de Ernest W. Hamburger, de

    1980, vistos anteriormente, a entrevistada apreende a questo da dependncia

    subalterna ao exterior:

    E esse um outro questionamento que eu fao, porque se exige

    publicao internacional. O interesse dos problemas internacionais no so os

    nossos interesses, absolutamente no so! Ento, quando me obrigam a publicar

    num Qualis no sei das quantas nos EUA ou na Europa, eu estou publicando,

    mas estou resolvendo problemas deles! E no da realidade nossa. Ento isso

    uma distoro gravssima no meu modo de ver, porque obriga voc a fazer

    cincia pra eles, eu me questiono aqui o tempo todo: O que adianta voc

    publicar 20 trabalhos l na Amrica, l na revista l em cima? O que isso

    trouxe de benfeitoria pro Brasil? Pro povo brasileiro?. isso que eu quero

    saber! .(Id., ibid.)

    A naturalizao do produtivismo acadmico e sua invaso dos espaos

    institucionais, onde atuam professores-pesquisadores, est a cada dia mais

    patente. O entrevistado diz: A presso para produo aumentou muito, e ns

    aumentamos muito a nossa presso sobre ns mesmos (id.,ibid., p. 224).

    DanielNotaqueria saber tambm!

  • Aps delimitar bem alguns sintomas ou traos do produtivismo

    acadmico, aqui se diz muito acerca de seu peso sobre as condies de trabalho

    e de lazer. Vejamos:

    Bom, a gente tenta se equilibrar, at porque meu colesterol subiu (risos).

    [...] Ento eu acho que as exigncias esto muito grandes e a gente acaba

    fazendo uma cincia no bem delimitada, no sentido de que muitas vezes voc

    obrigado a fragmentar um trabalho, publicar o trabalho... Ento eu acho que

    cai um pouco a qualidade desse trabalho. Essa presso negativa nesse

    sentido. E como precisamos publicar, alm de outras coisas, ento eu

    no vejo como diminuir o ritmo. Ento tento fazer o controle nos finais de

    semana, feriados, mas... [...] Eu tiro frias em funo de crianas, mas a

    gente simplesmente transfere o escritrio pra casa, a menos que voc se

    proponha a sair realmente de So Paulo. (Id., ibid., p. 228).

    Como se diz no livro resultante dessa investigao (Id., ibid., p. 230), a

    anlise dos depoimentos transcritos permite a afirmao que, na sua maioria, os

    professores pesquisadores levam trabalho para casa. Mesmo adoentados,

    professores levam teses, dissertaes para casa, para leitura nos finais de

    semana, nos feriados e at nas frias obrigatrias.

    O captulo desse livro, intitulado O tempo pessoal e de trabalho, sade

    e resistncia, se inicia com um subcaptulo com ttulo bastante significativo,

    pois retrata e ilustra o subttulo desta exposio: A vida pessoal e familiar

    refm da prtica universitria, que assim se introduz:

    A intensificao e precarizao do trabalho dos professores das IFES do Sudeste, que tm no fenmeno do produtivismo acadmico uma de suas manifestaes e causas mais tpicas, manifestam-se igualmente pela crescente indissociao entre tempos e espaos da vida profissional e os tempos e espaos da vida pessoal e familiar. (Id., ibid., p. 233, grifos meus).

    Uma srie de depoimentos em seguida apresentada para demonstrar

    saciedade a hiptese embutida nessa afirmao. E conclui-se este tema com uma

    tentativa de explicao para esse fenmeno a cada dia mais frequente, nos

    seguintes termos:

    A cincia, a tecnologia e o trabalho imaterial adquirem lugar cada dia mais proeminente no processo de produo do valor e de explorao e superexplorao da fora de trabalho. Como tambm j se viu anteriormente, no so casuais as polticas e medidas criando agncias reguladoras e de fomento que impem, produo da cincia e formao de mestres e doutores nas universidades, inclusive a pretexto de avaliao e prestao de contas (accountability), parmetros de eficincia e qualidade/quantidade, a baixo custo, com intensificao e precarizao do trabalho dos professores pesquisadores. (Id., ibid., p. 233-4).

    DanielRealce

    DanielRealce

  • Houvesse mais espao para esta exposio, poder-se-ia explorar excertos

    dos ricos e graves depoimentos que foram, nesse livro, reunidos e analisados

    sob o subttulo de A indissociao do tempo e espao pessoais e de trabalho

    o trabalho que extrapola o campus e invade a vida pessoal e familiar. Obra,

    entre outros fatores, do aqui denominado produtivismo acadmico.

    Do mesmo modo poder-se-ia fazer consideraes sobre um aspecto

    importante das novas condies e relaes de trabalho do professor-

    pesquisador e que apenas recentemente est comeando a ser estudado como

    merece: o das doenas produzidas pela prtica universitria ou pelo estresse

    provocado pelas novas exigncias, mediadas ou diretamente impostas pelas

    agncias reguladoras, de controle e de financiamento dos programas de ps-

    graduao e da pesquisa na universidade brasileira hoje. Como diz Alcadipani

    (2011), Muitos esto adoecendo com este sistema. Mede-se, apenas, a

    quantidade da produo acadmica. A qualidade ficou de lado13.

    guisa de concluso

    Assim como o trabalho, nas relaes de produo tpicas do capital

    mundializado, com predominncia financeira, sequestra o tempo do

    trabalhador, submetendo-o ao ritmo dessa produo, o produtivismo

    acadmico sequestra o tempo de produo cientfica, o tempo de lazer e o

    tempo da famlia e do cio criativo do professor-pesquisador.

    So essas condies de trabalho, enfrentadas pelos professores-

    pesquisadores, em especial os vinculados ps-graduao, por onde se efetiva

    a reforma universitria, comandada pelas agncias reguladoras estatais de

    um Estado privatizado, que fazem desses professores muito mais

    pesquisadores institucionais, que se ocupam de problemas cientficos, do que

    pesquisadores e intelectuais que defendem causas (BIANCHETTI, PEREIRA e

    VALLE, 2013). Como afirmam Bianchetti, Pereira e Valle, se o pesquisador tem

    problemas, o intelectual tem causas (2013). O pesquisador institucional tende a

    abandonar sua participao na poltica institucional e sua militncia associativa.

    Para ser um intelectual que defende causas, uma condio imprescindvel a

    capacidade de ser e permanecer dono de seu tempo [...] um dos traos essenciais

    do intelectual entre tantos que lhe conformam a identidade ao longo da histria

    humana (SGUISSARDI, 2013b).

    13 Vide em especial o estudo de Otaclio Antunes Santana (2011), sob o ttulo: Docentes de ps-

    graduao: grupo de risco de doenas cardiovasculares.

    DanielRealce

    DanielRealce

  • Nesse sentido, de grande sabedoria e oportunidade o que afirmam os

    proponentes do Manifesto da cincia lenta: A cincia precisa de tempo para

    pensar. A cincia precisa de tempo para ler e de tempo para falhar. Mais: A

    sociedade deve dar aos cientistas o tempo que eles precisam, mas, o mais

    importante, os cientistas precisam tomar o seu tempo (2010).

    esse tempo, que se confunde tambm com o tempo do lazer e em

    especial com o do cio criativo, que o professor-pesquisador da universidade de

    nossos dias v lhe ser sequestrado pelo produtivismo acadmico, com tudo o

    que este fenmeno, cultura ou instrumento ideolgico possa significar.

    Resta perguntar, ao final, quais so as perspectivas de resistncia a esta

    avalanche neopragmtica, que se acentua a cada dia na esteira da

    mundializao do capital, da mercantilizao do Estado e das polticas pblicas

    e da cincia, e de sua submisso aos interesses empresariais e do mercado.

    Dada a forma como se implantou e fortaleceu nos ltimos quinze anos a

    estratgia produtivista, cientomtrica e impositiva das agncias reguladoras e

    de financiamento, atrelada aos imperativos do modelo de desenvolvimento

    promotor de desigualdades sociais, que faz do pas uma plataforma operacional

    muito eficiente do capital mundializado, a luta de resistncia parece ter poucas

    perspectivas de xito.

    Em artigo intitulado Resistir ao produtivismo: uma ode perturbao

    acadmica, Alcadipani (2011) conclama: Na verdade, precisamos comear a

    pensar em maneiras de enfrentar o produtivismo. Maneiras de danificar este

    sistema, este mecanismo de controle. J passou da hora de resistirmos. Para em

    seguida acrescentar:

    Aps ler Foucault (ALCADIPANI, 2005), aprendemos que sistemas de controle existem e permanecem pelo fato de no serem absolutos e no serem meramente opressores. Se o produtivismo est to em voga porque ele atende a interesses; ele serve para algum; ele tem ambiguidades que lhe permitem existir; ele oferece esperanas s pessoas. Nenhuma forma de dominao que seja apenas opressiva perdura. O produtivismo til ao fazer uma suposta "objetificao" da mensurao da "qualidade" de um pesquisador. Ele coloca um critrio aparentemente claro: quem mais produz, melhor .

    Entretanto, na vida real, so muito poucas e espordicas as manifestaes

    e aes, sejam individuais, sejam de entidades de representao cientfica,

    denunciadoras dessa situao que desafia tanto a universidade como instituio

    social de carter pblico, quanto a produo de uma cincia que contribua

    efetivamente para a diminuio das desigualdades sociais e para a soberania

    nacional.

    DanielRealce

    DanielRealce

    DanielRealce

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