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XLIV CONGRESSO DA SOBER “Questões Agrárias, Educação no Campo e Desenvolvimento” Fortaleza, 23 a 27 de Julho de 2006 Sociedade Brasileira de Economia e Sociologia Rural 1 VULNERABILIDADE ALIMENTAR E POBREZA DOMICILIAR:CASO DE SANTO ANTÔNIO DE PÁDUA - RJ LAVÍNIA DAVIS PESSANHA; PAULO VICENTE MITCHELL; ENCE/IBGE RIO DE JANEIRO - RJ - BRASIL [email protected] APRESENTAÇÃO COM PRESENÇA DE DEBATEDOR REFORMA AGRÁRIA E OUTRAS POLÍTICAS DE REDUÇÃO DA POBREZA Vulnerabilidade Alimentar e Pobreza Domiciliar:caso de Santo Antônio de Pádua - RJ Grupo de Pesquisa: 10 Reforma agrária e outras políticas de redução da pobreza 1. Introdução Existe segurança alimentar quando todas as pessoas têm acesso físico e econômico a suficientes alimentos inócuos e nutritivos para satisfazer suas necessidades alimentícias e suas preferências quanto aos alimentos, a fim de levar uma vida ativa e sã. A segurança alimentar domiciliar refere-se à aplicação deste conceito no nível familiar, no qual a atenção se centra nas pessoas que compõem os domicílios (FAO:2002). Inversamente, existe insegurança alimentar quando as pessoas estão desnutridas, tendo em vista a indisponibilidade material de alimentos, decorrente da falta de acesso sócio- econômico e/ou um consumo insuficiente de alimentos. A insegurança alimentar é um fenômeno complexo, atribuível a uma série de fatores de importância variável entre regiões, países e grupos sociais, e ao longo do tempo. A vulnerabilidade alimentar, por sua vez, se refere a toda uma gama de fatores que tornam as pessoas expostas à insegurança alimentar, sendo o grau de vulnerabilidade de uma pessoa, domicílio ou grupo de pessoas determinado por sua exposição aos fatores de risco e sua capacidade para afrontar ou resistir às situações problemáticas. Do ponto de vista legal, a vulnerabilidade significa o não suprimento ou a violação de direitos e liberdades asseguradas pelas legislações nacionais ou nos acordos internacionais, que têm força legal nos países signatários (CEPAL:2002).

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Sociedade Brasileira de Economia e Sociologia Rural

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VULNERABILIDADE ALIMENTAR E POBREZA DOMICILIAR:CASO DE SANTO ANTÔNIO DE PÁDUA - RJ LAVÍNIA DAVIS PESSANHA; PAULO VICENTE MITCHELL; ENCE/IBGE RIO DE JANEIRO - RJ - BRASIL [email protected] APRESENTAÇÃO COM PRESENÇA DE DEBATEDOR REFORMA AGRÁRIA E OUTRAS POLÍTICAS DE REDUÇÃO DA POBREZA Vulnerabilidade Alimentar e Pobreza Domiciliar:caso de Santo Antônio

de Pádua - RJ

Grupo de Pesquisa: 10 Reforma agrária e outras políticas de redução da pobreza

1. Introdução Existe segurança alimentar quando todas as pessoas têm acesso físico e econômico a suficientes alimentos inócuos e nutritivos para satisfazer suas necessidades alimentícias e suas preferências quanto aos alimentos, a fim de levar uma vida ativa e sã. A segurança alimentar domiciliar refere-se à aplicação deste conceito no nível familiar, no qual a atenção se centra nas pessoas que compõem os domicílios (FAO:2002). Inversamente, existe insegurança alimentar quando as pessoas estão desnutridas, tendo em vista a indisponibilidade material de alimentos, decorrente da falta de acesso sócio-econômico e/ou um consumo insuficiente de alimentos. A insegurança alimentar é um fenômeno complexo, atribuível a uma série de fatores de importância variável entre regiões, países e grupos sociais, e ao longo do tempo. A vulnerabilidade alimentar, por sua vez, se refere a toda uma gama de fatores que tornam as pessoas expostas à insegurança alimentar, sendo o grau de vulnerabilidade de uma pessoa, domicílio ou grupo de pessoas determinado por sua exposição aos fatores de risco e sua capacidade para afrontar ou resistir às situações problemáticas. Do ponto de vista legal, a vulnerabilidade significa o não suprimento ou a violação de direitos e liberdades asseguradas pelas legislações nacionais ou nos acordos internacionais, que têm força legal nos países signatários (CEPAL:2002).

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No Brasil, quantificar as questões relacionadas à segurança alimentar e nutricional se tornou uma necessidade, tendo em plataforma específica do governo federal que, através do Projeto Fome Zero, vem direcionando ações de políticas públicas neste campo. Neste sentido, a Escola Nacional de Ciências Estatísticas – ENCE definiu a insegurança alimentar como tema de trabalho da 13ª edição do Curso de Desenvolvimento de Habilidades em Pesquisa - CDHP1. Na época, ocorria a negociação, entre o IBGE, o Ministério da Saúde e o Ministério de Desenvolvimento Social e Combate à Fome para a implementação de um suplemento especial sobre insegurança alimentar na PNAD, que foi a campo ao final de 2004. Encontrava-se recém concluído o processo de validação da Escala Brasileira de Insegurança Alimentar - EBIA, desenvolvida por uma equipe de pesquisadores da UNICAMP. Posteriormente, a referida metodologia, devidamente adaptada, deu origem ao Suplemento de Segurança Alimentar da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) de 2004, do IBGE. (UNICAMP-Segall-Corrêa et alli., 2003; IBGE-PNAD, 2004). De acordo com a FAO (2002), os gestores de políticas púbicas necessitam de instrumentos e técnicas que sejam simples de usar e fáceis de analisar para mensurar a insegurança alimentar e a fome, e de indicadores sensíveis à insuficiência alimentar e a fome, vinculadas à pobreza. Pesquisas desenvolvidas nos anos 90 levaram à construção módulos e escalas para medir, empiricamente, a insegurança alimentar e a fome, a partir de experiências iniciadas nos Estados Unidos. O processo de validação da escala norte-americana da insegurança alimentar determinou, entre outros aspectos, que a insegurança alimentar é negativamente correlacionada com a renda e as despesas alimentares. Posteriormente, pesquisadores de outros países, como Uganda, Índia, Bangladesh e Burkina Faso, exploraram instrumento e contribuíram para o desenvolvimento de medidas qualitativas de insegurança alimentar. A referida metodologia está cientificamente fundamentada e metodologicamente aprimorada, é de fácil administração e análise, sendo a informação proveniente dos métodos, baseada num conceito de insegurança alimentar facilmente compreendido pelos gestores. A maior vantagem de tal medida qualitativa é incorporar elementos essenciais oriundos da percepção das pessoas diretamente afetadas pela insegurança alimentar. Deste modo, muitos consideram tal método qualitativo como uma medida mais segura de insegurança alimentar do que outras medidas derivadas de proxys. O módulo contribui para um importante esclarecimento acerca de como os moradores dos domicílios efetivamente vivenciam a experiência da fome e da insegurança alimentar, inclusive sobre as mudanças de comportamento daí decorrentes, tais como reduzir o número de refeições ou passar um dia inteiro sem se alimentar. Em termos práticos, uma vez que tal metodologia foi desenvolvida, torna-se, relativamente fácil, sua utilização e aplicação. No caso da presente Pesquisa sobre Segurança Alimentar Domiciliar – PESAD, o objetivo foi avaliar a existência de insegurança alimentar nas famílias, compreendida como falta de alimento, de caráter eventual ou permanente, bem como as estratégias adotadas para enfrentar o problema nos domicílios, no município fluminense de Santo Antônio de Pádua. A segurança alimentar, por sua vez, foi definida como a garantia de acesso físico e econômico regular e permanente a um conjunto básico de alimentos em quantidade e

1 A Ence é uma Instituição Federal de Ensino Superior vinculada ao IBGE e realiza periodicamente o Curso de Desenvolvimento de Habilidades em Pesquisa (CDHP), que se propõe a fornecer aos participantes uma visão abrangente do processo de planejamento e execução de uma pesquisa domiciliar por amostragem.

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qualidade suficientes, para atender aos requerimentos nutricionais para os moradores do domicílio2 (MPOG/IBGE/ENCE-PESAD, 2004). O presente artigo está desenvolvido da seguinte forma: a introdução, onde se fez um breve relato do escopo do mesmo; os aspectos metodológicos, onde serão descritos os principais elementos da metodologia e os enfoques utilizados pela PESAD; a análise dos principais resultados, onde são também descritos alguns resultados obtidos a partir das relações montadas entre as variáveis estudadas referentes aos domicílios; o perfil dos moradores atingidos pela vulnerabilidade alimentar; e por fim as considerações finais.

2. Aspectos Metodológicos A PESAD foi realizada no mês de abril de 2004, e teve como período de referência os meses de janeiro, fevereiro e março daquele ano, extraindo uma amostra nos 23 setores censitários3 (de acordo com os dados do Censo Demográfico de 2000), do distrito – sede do município de Santo Antônio de Pádua, que em 2000 contava com 38.692 habitantes, possuindo uma extensão territorial de aproximadamente 613,6 Km2. Esse município foi escolhido devido às suas características socioeconômicas e territoriais à época do Censo Demográfico de 2000, - tais como a localização regional - no Noroeste do estado do Rio de Janeiro - e o Baixo Índice de Desenvolvimento Humano - segundo os dados do Censo Demográfico de 2000. O município de Santo Antônio de Pádua está localizado a 256 km da cidade do Rio de Janeiro, sendo as suas principais atividades econômicas vinculadas ao setor primário: agropecuária, com ênfase no gado leiteiro, e indústrias de pedras decorativas. O turismo é também fonte de recursos e decorre da exploração de suas fontes de águas minerais com propriedades medicinais. Na seleção do município, considerou-se também para a compatibilidade com o cronograma elaborado pelo CDHP: tamanho da sua população e pelo número de setores adequados à quantidade de pesquisadores envolvidos na coleta dos dados do referido curso. O mapa ilustrado, a seguir, representa os 23 setores abrangidos pela PESAD. (MPOG/IBGE/ENCE-PESAD, 2004).

2 A autora defende a perspectiva de que a segurança alimentar implica em diversos conteúdos objetivos de políticas, tendo em vista a amplitude e a abrangência das questões envolvidas na garantia permanente da alimentação e nutrição a todos os cidadãos: 1) a garantia da produção e da oferta agrícola, relacionada ao problema da escassez da produção e da oferta de produtos alimentares; 2) a garantia do direito de acesso aos alimentos, relacionado à distribuição desigual de alimentos nas economias de mercado; 3) a garantia de qualidade sanitária e nutricional dos alimentos, que remete aos problemas de baixa qualidade nutricional e de contaminação dos alimentos consumidos pela população; e 4) a garantia de conservação e controle da base genética do sistema agroalimentar, que se refere à falta de acesso, à destruição e ao monopólio sobre a base genética do sistema agroalimentar (Pessanha:2003) . A restrição do conteúdo da noção de segurança alimentar às questões de acesso e desigualdade distributiva dos recursos alimentares, deveu-se, evidentemente, aos objetivos da pesquisa amostral em questão. 3 Setor censitário é o menor recorte aplicado ao território brasileiro, delimitado e dimensionado pelo IBGE, para fins de levantamento estatístico. Foram registrados 27 setores censitários que compõem o município, contudo, 3 destes setores foram excluídos do plano amostral, visto que 2 deles possuíam características rurais e o outro de setor especial (asilo). Por fim, ainda 2 setores foram aglutinados por motivos de facilidade de coleta.

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Mapa de Representação dos 23 setores abrangidos pela PESAD

Fonte: IBGE/ENCE – CDHP13 – PESAD 2004 Para a viabilização da PESAD foi utilizada a técnica de amostragem probabilística na seleção das unidades populacionais, onde cada uma possui probabilidade positiva e conhecida de ser incluída na amostra, permitindo a realização de inferências para a população e a estimação de medidas de precisão. O plano amostral efetivamente adotado foi estratificado com seleção sistemática das unidades primárias de amostragem (UPAs), na qual os setores censitários são os estratos e os domicílios, as UPAs. Essa forma de seleção sistemática simples dos domicílios teve como pressuposto a garantia de um espalhamento amostral de domicílios uniforme, dentro dos setores, além de ser um facilitador nas operações de coleta e supervisão de campo. (MPOG/IBGE/ENCE-PESAD, 2004, p.17). O tamanho da amostra foi construído a partir de uma seleção de 25 domicílios por setor, com uma fração amostral de 9%, num total de 575 domicílios, sendo 509 tiveram as entrevistas realizadas (88,52%). (MPOG/IBGE/ENCE-PESAD, 2004). No que se refere à precisão relativa das estimativas de total das variáveis de interesse são indicadas cinco classes de coeficiente de variação (CV), para divulgação do indicador dos níveis de precisão de cada estimativa produzida na pesquisa, representadas por letras do alfabeto, pré-codificadas. (MPOG/IBGE/ENCE-PESAD, 2004, p. 21). A classificação dos CVs é apresentada conforme Tabela 1, a seguir:

Tabela 1

Classificação das estimativas quanto à precisão

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Indicador (classes dos níveis de precisão)

Intervalo de CV (%) Conceito da estimativa

Z 0 Exata

A Maior que 0 até 5 Ótima

B maior que 5 até 15 Boa

C maior que 15 até 30 Razoável

D maior que 30 até 50 Pouco precisa

E Maior que 50 Imprecisa

Fonte: IBGE/ENCE – CDHP13 – PESAD 2004 Tomou-se duas unidades como referência para a pesquisa: o domicílio particular permanente, definido como a moradia onde o relacionamento entre seus ocupantes é ditado por laços de parentesco, de dependência doméstica ou por normas de convivência, construído para servir exclusivamente à habitação e tem a finalidade de servir de moradia a uma ou mais pessoas; e o morador, conceituado como pessoa que tenha o domicílio como local de residência habitual e nele se encontrava na data de referência ou pessoa ausente na data de referência.4

Após o cálculo dos pesos, no que se refere ao total de domicílios expandidos, a PESAD totalizou 5608 domicílios particulares permanentes, cujas entrevistas foram realizadas e/ou parcialmente realizadas, e nestes foram registrados 18.040 moradores, dos quais 8.586 homens e 9.454 mulheres5.

Para fins da presente análise, adota-se o conceito aqui designado de vulnerabilidade alimentar, relacionado ao não-atendimento por completo das necessidades de acesso aos alimentos, decorrentes da falta de dinheiro, auto-declaradas pelos moradores dos domicílios investigados pela PESAD. Por isso, a vulnerabilidade alimentar será tratada como sendo a resposta afirmativa efetuada em um dos aspectos relacionados à segurança alimentar no questionário da PESAD: a preocupação com a falta de alimento; a redução da variedade; a queda na qualidade, ou na quantidade; a redução do número de refeições, ou número de pessoas que se alimentam; ou a vivência de passar fome por algum dos moradores dos domicílios pesquisados. Não serão aqui utilizados gradientes para equacionar níveis de vulnerabilidade à segurança alimentar, bastando a ocorrência de um dos aspectos para qualificar o domicílio nesta categoria. Ademais, em relação às estratégias adotadas pelos moradores dos domicílios investigados para evitar a vulnerabilidade alimentar, a PESAD levantou: a alimentação habitual de

4 Desde que o período de afastamento não seja superior a doze (12) meses, em decorrência dos seguintes motivos: viagem (a passeio, negócio ou serviço, estudo etc.); internação em estabelecimento de ensino ou hospedagem em outro domicílio, visando a facilitar a freqüência à escola durante o ano letivo; internação temporária em hospital ou estabelecimento similar; detenção sem sentença definitiva declarada; ou embarque a serviço (marítimos). 5 Como facilitador metodológico, tendo em vista os objetivos do trabalho, não foram considerados nos cálculos os empregados domésticos que, após o cálculo dos pesos, correspondem a 11 empregados domésticos (MPOG/IBGE/ENCE-Microdados-PESAD, 2004).

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morador fora do domicílio; o consumo de alimentos oriundos de produção própria regular; a existência de morador beneficiário de programa social; e o recebimento de doação de alimentos por parte de residente nos domicílios. Como variáveis de controle de consistência das respostas, utilizou-se o rendimento o rendimento nominal mensal domiciliar, contabilizado em rendimento domiciliar per capita e estratificado em classes de renda em medidas de salário mínimo. Optou-se por aplicar o questionário por inteiro, sem qualquer tipo de hierarquização ou seletividade entre as perguntas, em todos os domicílios integrantes da amostra, tendo em vista a hipótese de que a preocupação com a falta de alimentos tem um caráter antecipatório frente à efetiva privação alimentar, levando as famílias a lançar mão de estratégias preventivas para evitar ou minimizar os problemas.

3. Análise dos Principais Resultados da PESAD A Tabela 2 mostra os principais resultados da PESAD, destacando-se respostas encontradas para os fatores indicadores de vulnerabilidade à insegurança alimentar como para as estratégias adotadas pelos domicílios para evitar a privação. A pesquisa encontrou um total de 5608 domicílios, dos quais 31,6% auferem rendimento nominal mensal per capita de até ½ salário mínimo, 30,0% entre ½ e 1, e 36,8% acima de 1 salário mínimo. Ressalta-se que 3168 domicílios apresentaram pelo menos uma resposta positiva referida aos fatores indicadores de vulnerabilidade à insegurança alimentar, num percentual em 56,3%. Verifica-se a ordem decrescente dos fatores que tornam os domicílios mais vulneráveis à insegurança alimentar: a preocupação com a falta de alimento é o aspecto que mais é destacado (43,6%) pelos domicílios, sendo seguido pela redução da variedade (43,2%), queda na qualidade (37,0), redução da quantidade (24,8), redução das refeições (15,5%), redução do número de pessoas que comem (3,9%) e, por último, o sentimento da fome propriamente dito (1,0%). Aqui, há um aspecto a ser questionado: numa impressão inicial, o baixo percentual de respostas positivas para o sentimento de passar fome pode gerar uma sensação de alívio; contudo, não é possível ignorar tais registros, ainda que reduzidos, tendo em vista que qualquer ocorrência significa o aviltamento do Direito Humano a Alimentação Adequada. Por outro lado, a ocorrência de fome é considerada o estágio final ao qual podem chegar os moradores dos domicílios frente à vulnerabilidade à insegurança alimentar, tendo em vista o esgotamento das estratégias alternativas/paliativas da privação alimentar. Ademais, a respeito da percepção individual quanto ao “passar fome”, cabe lembrar que o fenômeno pode assumir distintos significados para aqueles que vivem sob constante ameaça de não ter o que comer, bem como o “tabu” acerca de expressar verbalmente a agonia, como nos lembra Maria do Carmo Soares Freitas (2003). Por fim, a baixa precisão dos resultados desta última resposta (c.v. e) pode indicar que esta pergunta não se mostrou adequado para aferir a vivência da fome. Um aspecto que cumpre ser destacado é o fato de que todos os resultados encontrados para os fatores indicadores de vulnerabilidade alimentar domiciliar caem, à medida que as classes de rendimento nominal mensal domiciliar per capita (em salários mínimos) aumentam, para todos os fatores indicadores de vulnerabilidade elencados, o que demonstra, claramente, a vinculação da vulnerabilidade alimentar à baixa aferição de renda per capita domiciliar. Este tema tem sido amplamente discutido pelos gestores de políticas públicas e pesquisadores em geral, e a PESAD traz mais um resultado empírico para fortalecer a referida vinculação renda-acessibilidade alimentar.

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Ainda na Tabela 2, registram-se as estratégias adotadas pelos responsáveis pela alimentação domiciliar para lidar com ameaça de privação alimentar, e neste caso os resultados são visivelmente mais baixos. A estratégia mais citada foi a existência de algum morador que tenha habitualmente se alimentado fora do domicílio (16,7%), sendo seguida pelo consumo domiciliar de produção própria de alimentos (14,8%), pela participação de algum morador em programas sociais (10,0%) e, por último, pelo recebimento de doação por algum morador (4,5%). É importante notar que 2126 domicílios praticaram pelo menos uma estratégia para evitar a vulnerabilidade alimentar, equivalendo a 37,8%. Em se tratando das estratégias adotadas para evitar ou enfrentar a vulnerabilidade alimentar, um fato relevante é o de que todos os números decrescem à proporção em que as classes de rendimento nominal mensal domiciliar per capita (em salários mínimos) aumentam, com exceção dos valores referentes à produção domiciliar para o auto-consumo que aumentam à medida que aumentam os valores dos rendimentos. Entretanto, o Gráfico 1 mostra que, entre os 2126 registros domiciliares de respostas positivas para as estratégias, 63,3% possuíam algum tipo de vulnerabilidade alimentar, sendo que os outros 36,7% de domicílios restantes, não se declararam possuidores de algum tipo de vulnerabilidade alimentar.

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Tabela 2 - Total de Fatores Indicadores e Estratégias Adotadas nos Domicílios para Evitar Vulnerabilidade Alimentar

_ - Dado numérico igual a zero não resultante de arredondamento. Fonte: IBGE/ENCE – CDHP13 – PESAD 2004.

Valor C.V. % Valor C.V. % Valor C.V. % Valor C.V. % Valor C.V. %5608 a 100 1771 b 31,58 1685 b 30,05 2066 c 36,84 86 d 1,53

Preocupação com a falta de alimento 2446 b 43,62 1318 b 23,5 762 b 13,59 331 d 5,9 35 d 0,62Redução da Variedade 2425 b 43,24 1227 b 21,88 834 b 14,87 342 e 6,1 22 e 0,39Queda na Qualidade 2076 b 37,02 1168 b 20,83 586 b 10,45 286 c 5,1 36 d 0,64Redução da Quantidade 1388 b 24,75 880 b 15,69 376 c 6,7 110 d 1,96 22 e 0,39Redução das Refeições 868 b 15,48 543 b 9,68 188 c 3,35 115 d 2,05 22 e 0,39Redução de Pessoas que Comem noDomicílio 221 c 3,94 197 c 3,51 18 e 0,32 6 e 0,11 _ _ _Fome 61 d 1,09 43 d 1,09 18 e 0,32 _ _ _ _ _ _Total de Domicílios que Possuem PeloMenos um Aspecto de VulnerabilidadeAlimentar 3168 a 56,29 1518 b 27,07 1042 b 18,58 563 b 10,04 45 d 0,8

Alimentação Fora do Domicílio 934 b 16,65 503 b 8,97 245 c 4,37 176 c 3,14 10 e 0,18Produção de Alimentos para o Autoconsumo827 b 14,69 117 c 2,08 282 c 5,01 419 c 7,44 9 e 0,16Programas Sociais 565 b 10,04 379 c 6,73 150 c 2,67 28 e 0,5 8 e 0,14Recebimento de Doação 252 c 4,49 164 c 2,92 51 d 0,91 27 e 0,48 10 e 0,18Total de Domicílios que Praticam peloMenos uma Estratégia para Evitar aVulnerabilidade Alimentar 2126 b 37,78 865 b 15,37 640 b 11,37 594 b 10,55 27 e 0,48

Fatores Geradores de VulnerabilidadeAlimentar

Características Relevantes

Total de domicílios

Estratégias dos Domicílios para Evitar aVulnerabilidade Alimentar

Mais de 1/2 a 1 Mais de 1

Domicílios Particulares Permanentes

Total Classes de rendimento nominal mensal domiciliar per capita (em salários mínimos)

Sem declaraçãoAté 1/2

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Gráfico 1 Domicílios que Praticam Alguma Estratégia para Evitar a Privação Alimentar

Fonte: IBGE/ENCE – CDHP13 – PESAD 2004 A Tabela 3 adota o critério da presença de pelo menos um fator indicador de vulnerabilidade para constituir o seu universo, de modo a possibilitar a constituição do perfil dos domicílios vulneráveis à insegurança alimentar, excluindo, portanto, da análise os domicílios que não registraram resposta positiva a pelo menos um dos fatores indicadores de vulnerabilidade, (inclusive aqueles 781 domicílios que responderam positivamente ao uso de estratégias, mas cujos entrevistados não se declararam em nenhuma situação de vulnerabilidade). Nesta situação, observa-se, evidentemente, uma mudança de posição na ordem decrescente dos fatores, sejam eles indicadores de vulnerabilidade ou estratégias para o enfrentamento da privação. O Gráfico 2 permite a observação do novo posicionamento dos fatores pesquisados.

Gráfico 2 Fatores Indicadores e Estratégias nos Domicílios com Vulnerabilidade Alimentar

Fonte: IBGE/ENCE – CDHP13 – PESAD 2004

0 20 40 60 80

Val

ores

em

Per

cent

uais

Preocupação com a faltade alimentoRedução da Variedade

Queda na Qualidade

Redução da Quantidade

Redução das Refeições

Alimentação Fora doDomicílioProgramas Sociais

Produção de Alimentos

Redução do Número dePessoasRecebimento de Doação

Fome

63,26%

36,74%

Total de Domicíliosque PossuemVulnerabilidadeAlimentar - 1345

Total de Domicíliosque não PossuemVulnerabilidadeAlimentar - 781

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Tabela 3 - Total de Fatores Indicadores e Estratégias Adotadas nos Domicílios com Vulnerabilidade Alimentar

Fonte: IBGE/ENCE – CDHP13 – PESAD 2004. _-Dado numérico igual a zero.

Valor C.V. % Valor C.V. % Valor C.V. % Valor C.V. % Valor C.V. %

3168 a 100 1518 b 47,92 1042 b 32,89 563 b 17,77 45 d 1,42

Preocupação com a falta de alimento2446 b 77,21 1318 b 41,6 762 b 24,05 331 d 10,45 35 d 1,1Redução da Variedade 2425 b 76,55 1227 b 38,73 834 b 26,33 342 e 10,8 22 e 0,69Queda na Qualidade 2076 b 65,53 1168 b 36,87 586 b 18,5 286 c 9,03 36 d 1,14Redução da Quantidade 1388 b 43,81 880 b 27,78 376 c 11,87 110 d 3,47 22 e 0,69Redução das Refeições 868 b 27,4 543 b 17,14 188 c 5,93 115 d 3,63 22 e 0,69Redução de Pessoas que Comem noDomicílio 221 c 6,98 197 c 6,22 18 e 0,57 6 e 0,19 _ _ _Fome 61 d 1,94 43 d 1,37 18 e 0,57 _ _ _ _ _ _Total de Domicílios que PossuemPelo Menos um Aspecto deVulnerabilidade Alimentar 3168 a 56,29 1518 b 47,92 1042 b 32,89 563 b 17,77 45 d 1,42

Alimentação Fora do Domicílio 703 b 22,19 462 b 14,58 154 c 4,86 77 d 2,43 10 e 0,32Programas Sociais 511 b 16,13 379 c 11,96 106 d 3,35 18 e 0,57 8 e 0,25Produção de Alimentos 338 c 10,67 91 d 2,87 170 c 5,37 68 d 2,15 9 e 0,28Recebimento de Doação 181 c 5,71 123 c 3,88 30 e 0,95 18 e 0,5710 e 0,32Total de Domicílios que Praticampelo Menos uma Estratégia, masque Estão com VulnerabilidadeAlimentar 1345 b 42,46 757 b 23,9 410 c 12,94 151 c 4,77 27 e 0,85

Mais de 1 Sem declaração

Total de domicílios com AlgumAspecto de Vulnerabilidade Alimentar

Fatores Geradoresde VulnerabilidadeAlimentar

Estratégias dos Domicílios para Evitara Vulnerabilidade Alimentar

Características Relevantes

Domicílios Particulares Permanentes

Total Classes de rendimento nominal mensal domiciliar per capita (em salários mínimos)

Até 1/2 Mais de 1/2 a 1

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Na mesma Tabela 3, observa-se uma elevação dos resultados apresentados para os fatores indicadores de vulnerabilidade, bem como a redução dos resultados informados para as estratégias de enfrentamento da privação alimentar. Assim, a preocupação com a falta de alimento afeta 77,2% dos 3168 domicílios com algum tipo de vulnerabilidade alimentar, seguindo-se a redução da variedade de alimentos (76,6%), a redução na qualidade da alimentação (65,5%), a redução da quantidade de alimentos (43,8%), e a redução no número de refeições (27,7%). Em patamares bem mais reduzidos, encontram-se as respostas de redução do número de pessoas que comem ou mesmo da vivência do passar fome nos domicílios (7,0% e 1,9%, respectivamente). Estes resultados aferidos em relação à vulnerabilidade alimentar permitem uma especulação acerca de uma preferência coletiva por práticas mais solidárias na distribuição de alimentos escassos, vis-à-vis a privação individual, já que a redução da quantidade de alimentos nas refeições foi a preferencialmente empregada, frente à redução do número de refeições e à redução do número de pessoas que comem. Confirma-se a relação inversa entre a vulnerabilidade alimentar e a renda domiciliar, já que todos os valores de respostas dos fatores indicadores de vulnerabilidade alimentar domiciliar caem à proporção em que as classes de rendimento nominal mensal domiciliar per capita (em salários mínimos) aumentam. Cabe destacar que somente 42,5% dos 3168 de domicílios vulneráveis à insegurança alimentar utilizam alguma estratégia para reduzi-la. Registram-se 22,2% dos domicílios com algum morador praticando a alimentação habitual fora do domicílio, 16, 1% com acesso a algum tipo de programa social, 10,7% com produção regular de alimentos para auto-consumo e 5,7 recebedores de doações. Um dado importante é que os valores de todas as estratégias adotadas caem à proporção em que as classes de rendimento nominal mensal domiciliar per capita (em salários mínimos) aumentam, sendo a exceção os valores referentes à produção domiciliar para o autoconsumo que se mostra maior na classe de rendimentos entre ½ e 1 salário mínimo em relação às demais. A Tabela 4 mostra os domicílios particulares permanentes, distribuídos pelas classes de rendimento nominal mensal domiciliar per capita, de acordo com a ocorrência conjunta ou isolada de 4 fatores indicadores de vulnerabilidade alimentar que mais ocorreram . Destaca-se, que 31,4% dos 3168 domicílios com algum tipo de vulnerabilidade devem ser considerados em situação de grande vulnerabilidade alimentar, já que possuem, em conjunto, os 4 fatores elencados: a preocupação com a falta de alimento, a redução na quantidade de alimentos, a queda na qualidade da alimentação e a redução na quantidade de alimento nas refeições no domicílio. Cabe destacar, esta característica de possuir esses 4 aspectos de forma concomitante equivale a 17,8% do total de domicílios do município, o que pode ser considerado um resultado bastante elevado. A Tabela 4 mostra, também, estas situações de vulnerabilidade distribuídas por classes de rendimento e evidencia mais uma vez, que os percentuais de resposta se concentram nas classes de menor rendimento em relação às maiores. Cabe destacar que os domicílios com os 4 tipos de vulnerabilidade alimentar, situados na classe de rendimento de até ½ salário mínimo per capita, correspondem a 69% dos 995 domicílios que se encontram nesta categoria.

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Tabela 4 - Ocorrência Conjunta Ou Isolada dos 4 Maiores Fatores Indicadores de Vulnerabilidade Alimentar nos Domicílios Particulares Permanentes, por Classes de Rendimento Nominal Mensal Domiciliar per Capita

Fonte: IBGE/ENCE – CDHP13 - PESAD - 2004.

Valor C.V. % Valor C.V. % Valor C.V. % Valor C.V. % Valor C.V. %

Total 3168 a 100 1518 b 47,92 1042 b 32,89 563 b 17,77 45 d 1,42

Possui os 4 aspectos juntos 995 b 31,41 687 b 21,69 220 c 6,94 76 d 2,4 12 e 0,38Não possui os 4 aspectos juntos 2173 b 68,59 831 b 26,23 822 b 25,95 487 b 15,37 33 d 1,04

Ocorrência em Conjunto daPreocupação com a Falta, Reduçãode Variedade, Queda na Qualidadee Redução na Quantidade deAlimentos

Domicílios Particulares Permanentes com Vulnerabilidade à Segurança Alimentar

TotalClasses de Rendimento Nominal Mensal Domiciliar Per Capita(EmSalários Mínimos)

Até 1/2 Mais de 1/2 a 1 Mais de 1 Sem Declaração

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4. Perfil Dos Moradores Atingidos Pela Vulnerabilidade Alimentar A Pesad registrou, através da leitura de seus microdados, um total de 18.040 moradores em Santo Antônio de Pádua na data da entrevista, concentrados majoritariamente nas faixas de rendimento nominal mensal per capita inferiores a 1 s.m., - 38,3 percebe até ½ s.m. e 26,9% aufere até 1/s.m. - como mostra a Tabela 5, que apresenta a distribuição da população por sexo, grupos de idade e nível de instrução. A população feminina supera a masculina em 4,8%. A Tabela registra um significativo percentual da população com reduzidos níveis de instrução: 14,0%sem instrução, 17,1% alfabetizados, e 26,6% com até 4ª. série concluída. Observa-se ainda, que o nível de renda da população aumenta em função da elevação dos respectivos níveis de instrução, já que os números relativos das populações com instrução média ou superior concentram-se na classe de rendimentos superior a 1 s.m. A Tabela 6, por sua vez, identifica os Moradores com Vulnerabilidade Alimentar. ou seja, aqueles que responderam afirmativamente a pelo menos uma das perguntas referidas a preocupação com a falta de alimento, redução na variedade, redução na qualidade, redução da quantidade de refeições, do numero de pessoas que comem e o “passar fome”; e sua distribuição pelos mesmos atributos classificadores de sexo, faixa etária, nível de instrução e renda. A pesquisa identificou 10622 moradores atingidos por quaisquer fatores indicadores de vulnerabilidade alimentar, o que corresponde a 59,1% do total de moradores do município. Cabe destacar que a ligeira predominância do sexo feminino (52,3%) entre os atingidos corresponde à distribuição da população por sexo no município. Mais uma vez, os resultados corroboram a relação inversa entre vulnerabilidade alimentar e renda domiciliar, já que 57,9% da população vulnerável encontra-se na classe de renda mensal nominal per capita de até ½ salário mínimo, reduzindo-se estes percentuais para 26,8% na classe de renda intermédiaria e para 13, 8% na classe acima de 1 salário mínimo. Há que se registrar, ainda de acordo com a referida tabela, que naqueles domicílios com maiores índices de vulnerabilidade e menor renda, os moradores declararam-se, em sua maioria, portadores de reduzidos níveis de educação formal: sem instrução - 10,5%, alfabetizados - 13,0%, e 4ª. série - ensino fundamental - 20,5%. A Tabela 7, por sua vez, registra a quantidade de moradores atingidos pelos 4 maiores fatores indicadores de vulnerabilidade alimentar: a preocupação com a falta de alimentos, a redução da variedade, a queda da qualidade e a redução da quantidade de alimentos. Foram encontrados 3387 moradores nesta categoria, representando 31,8% do total dos que sofrem algum tipo de vulnerabilidade e 18,8% do total de moradores do município. Novamente, a tabela confirma: a grande maioria dos atingidos pelos 4 maiores fatores de vulnerabilidade encontra-se na faixa de mais baixo rendimento nominal mensal domiciliar per capita, reduzindo-se sensivelmente nas faixas de rendimento menores. Contata-se também há um percentual ligeiramente maior de mulheres atingidas; e foram declarados majoritariamente com ensino fundamental da até a 4ª série.A observação das três tabelas em conjunto permite acompanhar com clareza que o recrudescimento dos registros de vulnerabilidade alimentar é acompanhado de queda nos níveis de renda e de instrução dos moradores, de tal modo que é possível afirmar a insegurança alimentar é negativamente correlacionada com a renda e o nível educacional dos moradores. É possível observar, evidentemente, que a vulnerabilidade alimentar afeta a moradores das diferentes faixas etárias, atingindo a percentuais expressivos das populações nas pontas da distribuição, incidindo sobre crianças e adolescentes, e bem como em pessoas com mais de 60 anos de idade.

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Tabela 5 - Total de Moradores por Sexo, Grupos de Idade e Níveis de Instrução, por Classes de Renda

_ - Dado numérico igual a zero não resultante de arredondamento. Fonte: IBGE/ENCE – CDHP13 - PESAD – 2004.

Valor C.V. % Valor C.V. % Valor C.V. % Valor C.V. % Valor C.V. %

18040 a 100 6915 a 38,33 4844 a 26,85 5925 a 32,84 356 c 1,97

Homens 8586 a 47,59 3329 b 18,45 2327 b 12,9 2739 b 15,18 191 c 1,06Mulheres 9454 a 52,41 3586 b 19,88 2517 b 13,95 3186 b 17,66 165c 0,91

0 a 4 anos 1328 b 7,36 671 b 3,72 314 c 1,74 327 c 1,81 16 e 0,095 a 11 anos 1447 b 8,02 883 b 4,89 310 c 1,72 244 d 1,35 10 e 0,0612 a 17 anos 1888 b 10,47 896 b 4,97 398 c 2,21 565 c 3,13 29 e 0,1618 a 59 anos 10535 a 58,4 3732 a 20,69 2835 a 15,72 3721 a 20,63 247 c 1,37De 60 anos ou mais 2842 b 15,75 733 b 4,06 987 b 5,47 1068 b 5,92 54 d 0,3

Sem Instrução 2523 b 13,99 1299 b 7,2 716 b 3,97 492 c 2,73 16 e 0,09Alfabetizado 3082 b 17,08 1552 b 8,6 1008 b 5,59 453 c 2,51 69 d 0,38Ensino Fundamental - 1a. a 4a. série4795 a 26,58 2342 b 12,98 1310 b 7,26 1057 b 5,86 86 d 0,48Ensino Fundamental - 5a. a 8a. série 2869 b 15,9 979 b 5,43 863 b 4,78 968 b 5,37 59 d 0,33Ensino Médio 3646 a 20,21 653 b 3,62 799 b 4,43 2087 b 11,57 107 d 0,59Educação Superior, Mestrado ouDoutorado

1018 b 5,64 17 e 0,09 114 d 0,63 868 b 4,81 19 e 0,11

Sem Declaração 107 d 0,59 73 d 0,4 34 e 0,19 _ _ _ _ _ _

TOTAL

Moradores de Domicílios Particulares Permanentes

TotalClasses de Rendimento Nominal Mensal Domiciliar Per Capita (Em Salários Mínimos)

Até 1/2 Mais de 1/2 a 1 Mais de 1Sem Declaraçãoe/ou Náo Informada

Total de Moradores em DomicíliosParticulares Permanentes

Sexo

Idade

Nível de Instrução

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Tabela 6 - Total de Moradores com Vulnerabilidade Alimentar, por Sexo, Grupos de Idade e Níveis de Instrução, por Classes de Renda

_ - Dado numérico igual a zero. Fonte: IBGE/ENCE – CDHP13 - PESAD – 2004.

Valor C.V. % Valor C.V. % Valor C.V. % Valor C.V. % Valor C.V. %

18040 a 100 6915 a 38,33 4844 a 26,85 5925 a 32,84 356 c 1,97

10622 a 58,88 6153 a 34,11 2846 b 15,78 1469 b 8,14 154 d 0,85

Homens 5085 a 28,19 2977 b 16,5 1431 b 7,93 596 b 3,3 81 d 0,45 Mulheres 5537 a 30,69 3176 b 17,61 1415 b 7,84 873 b 4,84 73 d 0,4

0 a 4 anos 746 b 4,14 514 b 2,85 161 c 0,89 71 d 0,39 _ _ _5 a 11 anos 1057 b 5,86 847 b 4,7 150 c 0,83 60 d 0,33 _ _ _12 a 17 anos 1299 b 7,2 876 b 4,86 247 c 1,37 157 d 0,87 19 e 0,1118 a 59 anos 5966 a 33,07 3319 b 18,4 1733 b 9,61 801 b 4,44 113d 0,63De 60 anos ou mais 1554 b 8,61 597 b 3,31 555 b 3,08 380 c 2,1122 e 0,12

Sem Instrução 1736 b 9,62 1111 b 6,16 476 c 2,64 149 d 0,83 _ _ _Alfabetizado 2109 b 11,69 1377 b 7,63 602 b 3,34 90 d 0,5 40 d 0,22Ensino Fundamental - 1a. a 4a. série3221 b 17,85 2161 b 11,98 778 b 4,31 227 d 1,26 55 d 0,3Ensino Fundamental - 5a. a 8a. série 1670 b 9,26 911 b 5,05 458 c 2,54 293 c 1,62 8 e 0,04Ensino Médio 1622 b 8,99 532 c 2,95 478 c 2,65 561 b 3,11 51 d 0,28Educação Superior, Mestrado ouDoutorado

204 d 1,13 17 e 0,09 38 d 0,21 149 d 0,83 _ _ _

Sem Declaração 60 d 0,33 44 d 0,24 16 e 0,09 _ _ _ _ _ _

Total de Moradores em DomicíliosParticulares Permanentes

TOTAL

Moradores de Domicílios Particulares Permanentes

TotalClasses de Rendimento Nominal Mensal Domiciliar Per Capita (Em Salários Mínimos)

Até 1/2 Mais de 1/2 a 1 Mais de 1Sem Declaraçãoe/ou Náo Informada

Total de Moradores com VulnerabilidadeAlimentar

Sexo

Idade

Nível de Instrução

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Tabela 7-Total de Moradores com os 4 Maiores Fatores Indicadores de Vulnerabilidade Alimentar, por Sexo, Grupos de Idade e Nível de Instrução, por Classes de Renda

_ - Dado numérico igual a zero. Fonte: IBGE/ENCE – CDHP13 - PESAD – 2004

Valor C.V. % Valor C.V. % Valor C.V. % Valor C.V. % Valor C.V. %

18040 a 100 6915 a 38,33 4844 a 26,85 5925 a 32,84 356 c 1,97

10622 a 58,88 6153 a 34,11 2846 b 15,78 1469 b 8,14 154 d 0,85

3387 a 18,77 2670 b 14,8 547 c 3,03 146 d 0,81 24 e 0,13

Homens 1631 b 9,04 1312 b 7,27 265 c 1,47 42 e 0,23 12 e 0,07 Mulheres 1756 b 9,73 1358 b 7,53 282 c 1,56 104 d 0,58 12 e 0,07

0 a 4 anos 251 c 1,39 220 d 1,22 31 e 0,17 _ _ _ _ _ _5 a 11 anos 384 c 2,13 348 c 1,93 22 e 1,12 14 e 0,08 _ _ _12 a 17 anos 403 c 2,23 360 c 2 29 e 0,16 14 e 0,08 _ _ _18 a 59 anos 1897 b 10,52 1395 c 7,73 378 c 2,1 100 d 0,55 24 e 0,13De 60 anos ou mais 452 c 2,51 347 c 1,93 87 d 0,48 18 e 0,1 _ _ _

Sem Instrução 554 c 3,07 461 c 2,56 75 d 0,42 18 e 0,1 _ _ _Alfabetizado 762 c 4,22 631 c 3,5 95 d 0,53 12 e 0,07 24 e 0,13Ensino Fundamental - 1a. a 4a. série1164 b 6,45 939 c 5,21 197 d 1,09 28 e 0,16 _ _ _

Ensino Fundamental - 5a. a 8a. série 545 c 3,02 422 c 2,34 101 d 0,56 22 e 1,12 _ _ _Ensino Médio 322 c 1,78 201 c 1,11 79 d 0,44 42 e 0,23 _ _ _Educação Superior, Mestrado ouDoutorado

24 e 0,13 _ _ _ _ _ _ 24 e 0,13 _ _ _

Sem Declaração 16 e 0,09 16 e 0,09 _ _ _ _ _ _ _ _ _

Total de Moradores com VulnerabilidadeAlimentar

Total de Moradores em DomicíliosParticulares Permanentes

TOTAL

Moradores de Domicílios Particulares Permanentes

TotalClasses de Rendimento Nominal Mensal Domiciliar Per Capita (Em Salários Mínimos)

Até 1/2 Mais de 1/2 a 1 Mais de 1Sem Declaraçãoe/ou Náo Informada

Total de Moradores com os 4 MaioresIndicadores de VulnerabilidadeAlimentar

Sexo

Idade

Nível de Instrução

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TotalCom falta de alimentoSem falta de alimento

614 b155 c459 c

Falta de alimento em quantidade suficienteDomicílios particulares permanentes com pelo menos um morador com até dois anos de idade

Outro resultado importante a ser registrado, referido ao perfil das famílias que sofrem a vulnerabilidade alimentar, é a ocorrência falta de alimento em quantidade suficiente em 25,2% dos 614 domicílios com pelo menos um morador de até dois anos de idade, como mostra a Tabela 8.

Tabela 8

Domicílios Particulares Permanentes com Pelo Menos um Morador de Até Dois Anos de Idade, com Ocorrência de Falta de Alimento em Quantidade Suficiente

Fonte: IBGE/ENCE – CDHP13 -PESAD – 2004

A Tabela 9 apresenta o perfil dos responsáveis pelos domicílios que registram algum tipo de vulnerabilidade alimentar. Encontram-se 3168 responsáveis, preponderantemente do sexo masculino (64,3%) com baixo nível de instrução formal, já que 70, 8% têm até a 4ª. série concluída. A tabela 10, por sua vez, informa o perfil dos responsáveis pelos quatro maiores tipos de vulnerabilidade alimentar, e neste caso, registra-se novamente o quadro de baixo nível de escolaridade (70,7% com até a 4ª. série) preponderância do sexo masculino.

Como ressaltou-se anteriormente, em ambos os casos, os responsáveis dos domicílios pesquisados têm renda per capita domiciliar reduzida: 47,9% dos domicílios com algum tipo de vulnerabilidade têm rendimento mensal de até ½ s. m. e 32,9 têm rendimento entre ½ e 1 s.m. Já entre os domicílios com os quatro tipos de vulnerabilidade alimentar estes percentuais sobem para 69,1% e 22,1%, respectivamente.

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Tabela 9 - Total de Responsáveis Pelos Domicílios com vulnerabilidade Alimentar

_ - Dado numérico igual a zero. Fonte: IBGE/ENCE – CDHP13 - PESAD

Valor C.V. % Valor C.V. % Valor C.V. % Valor C.V. % Valor C.V. %

3168 b 100 1518 b 47,92 1042 b 32,89 563 b 17,77 45 d 1,42

Homens 2037 b 64,3 890 b 28,09 744 b 23,48 368 c 11,62 35 e 1,1Mulheres 1131 b 35,7 628 b 19,82 298 c 9,41 195 c 6,16 10 e 0,32

Sem Instrução 430 c 13,7 216 c 6,86 170 c 5,4 44 d 1,4 _ _ _Alfabetizado 819 b 26 394 c 12,51 342 c 10,86 55 d 1,75 28 0,89EnsinoFundamental-1a. a 4a. série 983 b 31,2 544 c 17,27 327 c 10,38 104 d 3,3 8 e 0,25EnsinoFundamental-5a. a 8a. série

418 c 13,3 216 c 6,86 109 d 3,46 93 d 2,95 _ _

Ensino Médio 374 c 11,9 121 c 3,84 74 d 2,35 170 c 5,4 9 e 0,29Educação Superior,Mestrado ouDoutorado

126 c 3,98 17 e 0,54 12 e 0,38 97 d 3,08 _ _ _

Sem Declaração 18 e 0,57 10 e 0,32 8 e 0,25 _ _ _ _ _ _

Responsáveis Pelos Domicílios Particulares Permanentes com Vulnerabilidade à Segurança Alimentar Total de ResponsáveisDomiciliares comVulnerabilidade Alimentar

Total de ResponsáveisDomiciliares comVulnerabilidade Alimentar

Sexo

Nível de Instrução

TotalClasses de Rendimento Nominal Mensal Domiciliar Per Capita (Em Salários Mínimos)

Até 1/2 Mais de 1/2 a 1 Mais de 1 Sem Declaração

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Tabela 10 - Total de Responsáveis Pelos Domicilios com 4 Maiores Aspectos da

Vulnerabilidade Alimentar

_ - Dado numérico igual a zero. Fonte: IBGE/ENCE – CDHP13 -– PESAD

Valor C.V. % Valor C.V. % Valor C.V. % Valor C.V. % Valor C.V. %

995 b 100 687 b 69,05 220 c 22,11 76 d 7,64 12 e 1,21

Homens 604 b 60,7 416 c 41,81 154 c 15,48 22 e 2,21 12 e 1,21Mulheres 391 c 39,3 271 c 27,24 66 d 6,63 54 d 5,43 _ _ _

Sem Instrução 119 c 11,96 75 d 7,54 26 e 2,61 18 e 1,81 _ _ _Alfabetizado 278 c 27,94 180 c 18,09 74 d 7,44 12 e 1,21 12 e 1,21Ensino Fundamental - 1a. a 4a. série 373 c 37,49 259 c 26,03 100 d 10,05 14 e 1,41 _ _ _Ensino Fundamental - 5a. a 8a. série 123 c 12,36 106 d 10,65 9 e 0,9 8 e 0,8 _ _ _Ensino Médio 88 d 8,84 67 d 6,73 11 e 1,11 10 e 1,01 _ _ _Educação Superior, Mestrado ouDoutorado

14 e 1,41 _ _ _ _ _ _ 14 e 1,41 _ _ _

Sem Declaração _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _

Responsáveis Pelos Domicílios Particulares Permanentes com Vulnerabilidade à Segurança Alimentar

TotalClasses de Rendimento Nominal Mensal Domiciliar Per Capita (Em Salários Mínimos)

Até 1/2 Mais de 1/2 a 1 Mais de 1 Sem Declaração

Total de Responsáveis Domiciliares comos 4 Maiores Aspectos deVulnerabilidade Alimentar

Sexo

Nível de Instrução

Ocorrência em Conjunto da Preocupaçãocom a Falta, Redução de Variedade,Queda na Qualidade e Redução naQuantidade de Alimentos

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6. Considerações Finais

O trabalho apresentou os resultados da Pesquisa sobre Segurança Alimentar Domiciliar – PESAD, realizada no município fluminense de Santo Antônio de Pádua, em 2004. Sinteticamente, verificou-se que a vulnerabilidade alimentar afeta mais da metade dos domicílios pesquisados. Confirmou-se que a vulnerabilidade alimentar afeta preponderantemente as famílias com rendimento per capita de até ½ salário mínimo frente às demais faixas, pois em todos os quesitos e variáveis pesquisadas apurou-se maior número de respostas afirmativas nos domicílios situados na classe de rendimento nominal per capita inferior. As estratégias para evitar ou reduzir a vulnerabilidade alimentar, entretanto, estão disponíveis para pouco mais de 1/3 das famílias, nem todas em situação de vulnerabilidade. Os resultados aferidos parecem indicar uma preferência coletiva por práticas mais solidárias na distribuição de alimentos escassos vis a vis a privação individual, já que a redução da quantidade de alimentos nas refeições foi preferencialmente empregada nos domicílios com vulnerabilidade, seguindo-se a redução do número de refeições e a redução do número de pessoas que comem. Cabe comentar também os reduzidos registros de membros da família passando fome. Como vimos, os resultados indicaram a ocorrência em apenas 1,0% dos domicílios, e se concentraram na faixa de rendimento nominal mensal domiciliar per capita de até ½ salário mínimo, sendo que os resultados podem indicar tanto a inadequação do referido método para a aferição do problema como esconder o “tabu da fome”. Contudo, não é possível ignorar que tais registros indicam o aviltamento do Direito Humano a Alimentação Adequada. Ademais, da perspectiva do Direito Humano à Alimentação Adequada - DHAA, os registros de vulnerabilidade alimentar, quais quer que sejam - incluindo a preocupação com a falta de alimentos, a redução do número de refeições, a redução do número de pessoas que comem, a redução da quantidade, qualidade e variedade de alimento nas refeições, todas relacionadas à falta de renda para o suprimento das necessidades alimentares - também implicam em aviltamento de Direitos, e em questões a serem enfrentadas pelas políticas públicas voltadas para a garantia da alimentação e nutrição. Pretende-se, desta maneira, contribuir para fortalecer o conhecimento da realidade nacional, a fim de que as ações governamentais no campo das políticas públicas possam ser traduzidas de forma mais aderente às necessidades de desenvolvimento social, numa tentativa de redução/erradicação da pobreza e da vulnerabildade alimentar, em território nacional. Acredita-se que o momento é oportuno para discutir o tema da falta de alimentos em decorrência da falta de redá nos domicílios brasileiro, haja vista a tramitação do projeto de Lei Orgânica de Segurança Alimentar no Congresso Nacional e a implementação do programas Fome Zero e Bolsa Família no âmbito do Executivo Federal.

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