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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” INSTITUTO A VEZ DO MESTRE VULNERABILIDADE SOCIAL: A PRODUÇÃO DE ADOLESCENTE AUTOR DE ATO INFRACIONAL Por: Priscila Santos de Farias ORIENTADOR Prof. Eduardo Ponte Brandão Rio de Janeiro 2011

VULNERABILIDADE SOCIAL: A PRODUÇÃO DE … · historico dos direitos da infÂncia e juventude Os Direitos Humanos ao longo da história evoluem, mas ainda lutamos para a realização

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

VULNERABILIDADE SOCIAL: A PRODUÇÃO DE ADOLESCENTE AUTOR DE ATO INFRACIONAL

Por: Priscila Santos de Farias

ORIENTADOR

Prof. Eduardo Ponte Brandão

Rio de Janeiro 2011

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

VULNERABILIDADE SOCIAL: A PRODUÇÃO DE ADOLESCENTE AUTOR DE ATO INFRACIONAL

Apresentação de monografia à Universidade Candido Mendes com requisito parcial para obtenção do grau de especialista em Psicologia Jurídica Por. : Priscila Santos de Farias

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AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente a Deus por me ajudar e ter me fornecido forças para chegar ate aqui e aos Dedico este trabalho aos meus pais Fátima e José Bonifácio (in memorian), meu filho Lucas Kauã, aos meus irmãos Walter e Wagner pelo amor, paciência, compreensão, carinho, amizade e pela força que me deram.

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DEDICATÓRIA

Dedico esse trabalho aos meus colegas e amigos do curso de Psicologia Jurídica e aos da Abece, pelo apoio na minha jornada e incentivo para o meu crescimento profissional.

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RESUMO

Este trabalho acadêmico tem como objetivo elucidar como a

vulnerabilidade social pode estar associada com a pobreza em que o individuo

se encontra, tem por objetivo de mostrar a necessidade de uma mudança na

percepção dos formuladores de políticas públicas, sobre a importância da

política social. Além disso, é preciso também estabelecer a clara necessidade

de interação entre o que deve e pode ser desempenhado pelo Estado, pelo

mercado e pela sociedade para a superação da vulnerabilidade social.

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Sumário INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 7

CAPITULO I ................................................................................................................................ 8

HISTORICO DOS DIREITOS DA INFÂNCIA E JUVENTUDE .......................................................... 8

CAPÍTULO II ............................................................................................................................. 17

CRIMINALIZAÇÃO E POBREZA ................................................................................................ 17

CAPITULO III ............................................................................................................................ 25

POLÍTICAS DE PROTEÇÃO INTEGRAL À CRIANÇA E ADOLESCENTE ....................................... 25

CONCLUSÃO ................................................................................................................................ 31

REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS .................................................................................................. 33

FOLHA DE AVALIAÇÃO ................................................................................................................ 35

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INTRODUÇÃO

O interesse por esse assunto sempre me fascinou, e com a grande

repercussão que vem gerando ma mídia, despertou o interesse em

desenvolver esse estudo. O presente estudo sustenta que a violência praticada

por adolescentes possui fortes vínculos com a vulnerabilidade social, ou seja,

com as dificuldades ao acesso e às estruturas de oportunidades disponíveis

nos campos da saúde, educação, lazer, e cultura. O contingente de jovens em

situação de vulnerabilidade social, aliada às turbulentas condições

socioeconômicas, ocasiona uma grande tensão entre os jovens que agrava

diretamente os processos de integração social, e em algumas situações,

fomenta o aumento da violência e criminalidade. Em conseqüência, criam-se

cenários críticos difíceis de serem enfrentados por políticas de efeito parcial.

A adolescência por ser uma fase turbulenta na vida da pessoa, onde o

indivíduo está em processo de formação, requer especial atenção não só do

Estado, em seu papel sócio-educativo, mas também de toda a sociedade.

Deve-se ressaltar que combater a criminalização em especial a juvenil,

atacando a vulnerabilidade, requer a mudança na percepção dos formuladores

de políticas, sobre o papel de políticas sociais para a construção de uma

sociedade mais igual, justa, pacifica e desenvolvida economicamente.

Esse trabalho será relevante no ponto de vista acadêmico como

referência bibliográfica e como conhecimento já acumulado na área de defesa

e garantia dos direitos dos adolescentes. Sendo assim, procuro compreender

como a vulnerabilidade social pode ser um fator para que o adolescente

cometa o ato infracional.

São, portanto, os objetivos dessa pesquisa:

Compreender se a vulnerabilidade social pode ser um fator para o

adolescente cometer um ato infracional. Fazer um breve Histórico dos direitos

da criança e adolescente, elucidar historicamente se Pobreza e Criminalidade

estão associadas e por fim falar sobre a Política de Proteção Integral à criança

e adolescente.

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CAPITULO I HISTORICO DOS DIREITOS DA INFÂNCIA E JUVENTUDE

Os Direitos Humanos ao longo da história evoluem, mas ainda lutamos

para a realização de seus objetivos fundamentais. Os direitos são essenciais e

têm como propósito assegurar ao ser humano a promoção de condições dignas

de vida e de seu desenvolvimento. Assim como, garantir a defesa dos seres

humanos contra abusos de poder econômico cometidos pelos órgãos do

Estado. No que diz respeito à criança e ao adolescente sob a ótica dos direitos

humanos, seu debate é recente.

Até o final do século XIX, a criança era vista como uma mão de obra

barata, principalmente as crianças negras que em sua grande maioria eram

filhos "bastardos" dos senhores brancos que faziam com que suas escravas

gerassem muitos filhos para trabalhar para ele em troca de comida; Desde

muito cedo as crianças assumiam responsabilidades de adultos. Nesta época

as crianças ainda não eram um foco de atenção especial, não eram

percebidas, nem ouvidas.

A lei que vigorava na época era o código filipino, que considerava

maior de idade as meninas a partir de 12 anos e os meninos a partir de 14

anos; Porém para a igreja católica que normalizava a vida de todas as famílias

nesse período, quando a criança alcançava seus 7 anos já era considerada

como pessoa de razão e de conhecimento.

Tínhamos também até esta época "Roda dos expostos" que tratava de

recolher as crianças abandonadas.

"A roda de expostos foi uma das instituições brasileiras de mais longa

vida, sobrevivendo aos três grandes regimes de nossa história. Criada na

colônia perpassou e multiplicou-se no período imperial, conseguiu manter-se

durante a República e só foi extinta definitivamente na recente década de 1950.

Sendo o Brasil o último país a abolir a chaga da escravidão, foi ele igualmente

o último país a acabar com o triste sistema da roda dos enjeitados".

(MARCÍLIO, 2003: 53).

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A partir de 1860, surgiram inúmeras instituições de proteção à infância

desamparada. No Rio de Janeiro foi fundado o Instituto dos Menores Artesões

(1861), em Niterói (1882) foi fundado o Asilo para Infância Desvalida, entre

outras em diversas cidades como São Luiz do Maranhão, Bahia, Fortaleza e

Recife.

"Em 1887, a cidade do Rio de Janeiro possuía uma lista considerável

de estabelecimentos de abrigo e educação para menores desvalidos de caráter

público e particular". (MARCÌLIO, 2003: 78).

De 1906 a 1927, ano em que foi promulgado o Código de Menores,

diversos projetos de lei foram debatidos, com o objetivo de se regulamentar a

proteção e a assistência à infância. Medidas de prevenção, proteção à

assistência eram gestadas, visando à criança abandonada (física e

moralmente) e a delinqüente. Surge nesta época o primeiro Código de Menores

visando à sistematização da ação de tutela e coerção dos menores pobres que

passam a ser definidos como delinqüentes e abandonados.

"O Código não apresenta as crianças e adolescentes como sujeitos de

direito, mas como extensão da patriarca (...) (...). O Código, basicamente,

busca regular o menor "vadio" e o menor "trabalhador"". (Pereira Junior,

1992:18).

O Código de menores foi criado pelo primeiro Juiz de Menores do

Brasil, José Cândido Albuquerque Melo Matos. Pouco depois, em 17 de

fevereiro de 1940, sob o Decreto – lei 2.024 foi criado o Departamento Nacional

da Criança (DNC), no Ministério da Educação e Saúde, que visava fixar as

bases de organização da proteção à maternidade, a infância e a adolescência

em todo o país.

Em 5 de novembro de 1941, sob o Decreto – lei 3.799 nasce o Serviço

de Assistência a Menores (SAM), que visava a ressocialização do "menor

delinqüente", funcionando totalmente desvinculado do Departamento Nacional

da Criança e subordinado ao Ministério da Justiça e ao Juizado de Menores do

Distrito Federal.

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Em novembro de 1943 foi feita uma revisão do Código de Menores a

luz do Novo Código Penal, por meio do Decreto Lei 6.026, conhecido como Lei

de Emergência; Neste momento o "menor delinqüente" passa a ser

considerado como "menor infrator", muda-se a nomenclatura e o modo de

enxergar a criança e o adolescente passando a responsabilidade de conter os

"menores marginalizados" para a polícia.

"A política específica de atendimento a infância e adolescência se

constroem nesse período como todas as características de autoritarismo,

assistencialismo, paternalismos e clientelismo que marcaram o Estado Novo.

Tais iniciativas não se contrapõem ou atualizam o conteúdo do Código de

Menores, apenas realizam uma adaptação deste a nova ordem penal”. (Pereira

Junior,1992:19).

Entre as décadas de 40 e 60 o país passou por transformações políticas que

interviram significativamente na questão da criança e do adolescente. Com a

queda do Estado Novo foi aprovada uma nova Constituição Nacional que

originou na promulgação da Declaração Universal dos Direitos da Criança e do

Adolescente pela ONU; Tal promulgação fez com que o Serviço de Assistência

a Menores (SAM), sofresse varias denúncias de negligência com relação à

situação dos menores que deveriam estar protegidos pelo mesmo.

Só a partir dos anos 60,houve mudança de modelo e de orientação à

assistência à infância abandonada. Iniciava-se então, a fase do Estado de

Bem-Estar, com a criação da FUNABEM (1964),seguida da instalação das

FEBEMs em vários Estados.

Com o golpe militar de 64,entra em vigor a ideologia da segurança

nacional e surge uma nova proposta de atendimento a "menoridade" que é a

Política de Bem-Estar do Menor (PNBEM), promulgada pela lei 4.513, de 05 de

dezembro de 1964. Por meio desta lei foi criada a Fundação Nacional do Bem-

Estar do Menor (FUNABEM) para orientar e controlar este sistema de proteção

que passa a ser centralizado e vertical no tratamento do "menor".

"A visão do "menor" como ameaça social sede lugar à da criança

carente abandonada. As práticas assistencialistas (...).(...) reforça a visão de

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que o estado de abandono e delinqüência seria decorrente da pobreza e

desestruturação das famílias dos "menores", devendo ser estas o principal alvo

da ação". ( PEREIRA JUNIOR, 1992: 20).

Em 10 de Outubro de 1979, foi promulgado o Novo Código de

Menoressob a lei 6.697, que delimitou sua ação na assistência, proteção e

vigilância a "menores" de até 18 anos que se encontrassem em situação

irregular. Nesta nova lei o Estado se desresponsabiliza dos problemas sociais

das crianças e dos adolescente, ou "menor" definindo que os mesmos só

estarão em situação irregular quando os mesmos estiverem privados de

condições essenciais a sua subsistência, saúde e instrução obrigatória, ainda

que eventualmente; Neste sentido os pais ou responsáveis são apontados

como os possíveis causadores de tais irregularidades sociais no

desenvolvimento das crianças e adolescentes.

"... O Código de Menores de 1979, já surgiu defasada para a sua

época, pois constituía o prolongamento da filosofia minorista do Código de

Melo Matos, do inicio do século XX. Em 1979, quando de sua promulgação,

comemorava-se o Ano Internacional da Criança, fruto de uma mobilização

mundial que exigia atenção especial aos direitos das crianças e dos

adolescentes. No entanto, esses direitos não estavam contemplados na

legislação que acabara de nascer". (OLIVEIRA E SILVA, 2005: 32).

A base filosófica do direito minorista do Código de Menores se manteve

quase que inalterado pelos 63 anos que vigorou.

"O "Novo" Código, lançado em um momento de constentação política e

respaldado na Política Nacional de Bem Estar do Menor (PNBM), representava

os ideais dos militares que estavam em crise. Não correspondia aos interesses

das forças políticas e da sociedade civil e nem representava os interesses das

crianças e dos adolescentes, aos quais permaneciam confinados nas

instituições totais e submetidos ao poder discricionário do juiz de Menores.

Dessa forma, o Código de Menores e a PNBM, com o seu paradigma da

"situação irregular", entraram em colapso, "desaparecendo" do cenário

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nacional em 1990, com a aprovação do ECA". (OLIVEIRA E SILVA, 2005:

32).

Até a década de 1980, inúmeras foram às críticas e as denúncias feitas

a este sistema legal que regulava a intervenção direcionada a criança e o

adolescente. Mais somente na segunda metade desta década que ganhou

mais força os movimentos que constatavam tal política, reivindicando o fim das

instituições repressoras e totalitárias exigiam o reconhecimento de crianças e

adolescentes como portadores de direitos que precisavam ser definidos e

garantidos.

Segundo a ONU (Organização das Nações Unidas), a criança deve ser

protegida contra a discriminação e todas as formas de desprezo e exploração:

que os governos devem garantir a prevenção de ofensas a crianças e provisão

de assistências para suas necessidades básicas; que a criança não poderá ser

separada do seu ambiente familiar, exceto quando estiver sofrendo maus tratos

ou quando a família não zele pelo seu bem estar.

Diz também que, toda criança tem direito à educação, à saúde e que

será protegida contra qualquer trabalho que seja nociva a sua saúde,

estabelecendo para isto idades mínimas para admissão em empregos, como

também o horário e condições de trabalho.

A movimentação nacional em prol de uma nova lógica para as políticas

de atenção a infância e a juventude foi bastante influenciada pela Convenção

Internacional dos Direitos da Criança e dos Adolescentes, discutida a partir de

1978. a partir desta convenção foi possível compreender o processo de

emancipação política refletido por meio da Constituição Federal de 1988 pela

aprovação do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) em 1990. Até 1988

no Brasil.

"Todas as questões relacionadas à infância e adolescência pertenciam

à esfera do Ministério da Justiça". Com o Estatuto da Criança e do Adolescente

(ECA), a atribuição dos cuidados tanto das crianças e dos adolescentes em

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situação de risco social quanto daqueles "em conflito com a lei" passaram aos

diferentes órgãos estatais". (SALES, 2004: 35)."

Com a constituição de 1988, inseriu-se na sociedade os Direitos

Internacionais da Criança, proclamados pela ONU nos anos de 1950.

"A atual concepção de infância é resultado de um caminhar histórico,

em que socialmente convencionamos e substantivamos determinadas faixas

etárias como "infância" e "adolescência", estabelecendo diferenciações de

comportamento e inserção social." (PEREIRA JUNIOR, 1992: 14)

Ainda no Brasil, a questão do Estatuto da Criança e do Adolescente

(ECA), discutida no final dos anos 80, se dava dentro do âmbito mais geral do

processo de democratização do pais, da discussão da alteração do panorama

legal e da criação da nova constituição. O Estatuto da Criança e do

Adolescente (ECA) nasceu fundamentado na Constituição Cidadã de 1988 que,

em seus artigos 227 e 2284, implementam a revogação do Código de Menores,

e afirmam a criança como sujeito de direito antes mesmo de completar os 18

anos de idade.

Um dos elementos fundamentais do Estatuto da Criança e do

Adolescente (ECA) é a participação popular direta na fiscalização e cobrança

política: A lei diz explicitamente que quem tem que atuar politicamente sobre a

infância não é só o Estado, mas este em conjunto com a sociedade

organizada.

No Brasil, a preocupação em tratar especificamente a questão da

infância e adolescência ganha evidência no final do século XIX. Neste período,

a concepção que se tinha de infância era:

"Criança branca de classe média assistida por uma família nuclear

estruturada (...)". (...) longe de refletir o rosto mestiço e desnutrido da maioria

de nossa população de 0 a 17 anos...". (PEREIRA JUNIOR, 1992: 15)" E

entendia-se como Menor:

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"... Não a totalidade da população infanto-juvenil, mas especificamente a sua

parcela pauperizada e em potencial situação de abandono e

delinqüência”.(PEREIRA JUNIOR,1992:15)

As duas primeiras décadas do século XX foram caracterizadas pelo

debate em torno da Assistência e da Proteção relativa de menores, sobretudo

nas arenas políticas dos legisladores do Distrito Federal. Idéias e ações

provenientes dos setores de caridade e de filantropia, sobretudo médica e

jurídica, interligam-se e é estabelecida uma forte aliança entre Justiça e

Assistência. É um momento também marcado pela crítica a não diferenciação

no tratamento da criança e do adulto, sobretudo os "delinqüentes". Inicia-se a

defesa da criação de uma legislação especial para menores, sob a "tutela

oficial" do Estado, a exemplo do que ocorria em outros países da Europa, como

Estados Unidos. Tais ações inicialmente permitiriam que o Estado contivesse e

regrasse a infância pobre, e não que interviesse nas causas da desigualdade

social existente.

“A legislação referente à infância e adolescência brasileiras” deixa claro

em seu conteúdo que somente determinada parcela desta população figura

como objeto a ser disciplinado, assistido e controlado “ . ( PEREIRA JUNIOR,

1992:15 )."

Com isso temos a criação dos Conselhos de direito que são os

instrumentos utilizados para a efetiva participação da sociedade nas decisões

do Estado. Hoje, em geral, temos "quase 30 mil conselhos de direitos em

todas as áreas em muitas das cidades brasileiras e 4 mil conselhos de crianças

e adolescentes " . É um verdadeiro exército, que tem como impacto a

democracia participativa: a sociedade civil contribuindo e controlando as

políticas públicas. É um avanço revolucionário numa sociedade como a nossa

historicamente acostumada com a centralização e o autoritarismo .

Existem também os Conselhos Tutelares, que conseguiram revogar

também o que era garantido no antigo Código de moradores, onde quem

decidia, investiga, julgava, era o juiz, que tinha quase um poder absoluto. Não

tinha controle, nem participação da sociedade. Hoje, o juiz e a promotoria da

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infância são obrigados a compartilhar esse poder com os Conselhos Tutelares,

compostos por pessoas escolhidas pela sociedade, que participa e zelam pelo

direito da criança.

Compreender a situação da infância e adolescência como expressão

da questão social, nos leva também a relacionarmos os demais desafios

sociais do país e o papel do conjunto de atores sociais do país e o papel do

conjunto de atores sociais que lutam também pela garantia dos seus direitos.

Para compreendermos melhor tal situação faz-se necessário que levamos em

consideração a questão da democracia e da cidadania .

A situação das crianças e dos adolescentes no Brasil expressam, a

falta de projetos de vida e de reconhecimento dos mesmo como atores sociais

que necessitam de cuidados e de serem ouvidos, para expressar suas

dificuldades.

"Encontram-se, então, em estado de risco social as novas gerações, pessoas

em desenvolvimento, que não possuem autonomia e capacidade de auto-

sustento; muito embora estejam previstas, na Constituição ( Artigo 227 ),

proteção integral e prioridade absoluta, como responsabilidade do Estado, da

família e da sociedade. " (SALES, 2004:211)

O modo de produção capitalista produz um conjunto de refrações ao

qual entendermos como questão social, onde para que a produção e a

reprodução aconteçam, uma parcela majoritária da população é destituída

para ter acesso à riqueza social, o que na formação social brasileira, tem

alcançando o limite da iniqüidade mundial.

Podemos verificar com isso uma grande desigualdade no acesso a

cidadania da criança. As ações públicas voltadas para esse segmento jamais

se orientaram por princípios de justiça, sendo revestidas por contradições e

peculiaridades históricas, na qual a diferenciação entre o "menor" e a " criança"

pode-se constituir um exemplo da forma como a criança e o adolescente são

tratados, principalmente no Brasil. Segundo a traição, o conceito jurídico de

criança, pelo qual eram definidos aqueles que viviam em famílias

burguesas.

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No Brasil, os Conselhos dos Direitos da Criança e do Adolescente

(CDCA) fazem parte da nova estrutura da política social para a criança e o

adolescente, instância paritária, de controle e definição de políticas; deve ser

criado por lei federal, estadual ou municipal, conforme determina o artigo 88

do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). O CDCA tem diversas

características que o diferenciam de outros mecanismos de participação

popular, bem como a natureza paritária, ou seja, é formado pelo mesmo

número de representantes da sociedade civil e da esfera

governamental.

O Conselho dos Direitos da Criança e do Adolescente (CDCA) conta

com um recurso destinado para o desenvolvimento e implementação de

políticas que visam atender as necessidades das crianças e adolescente. O

Fundo para a Infância e Adolescência (FIA) é constituída por recursos

especiais destinados a efetivação de políticas de atendimento para crianças e

adolescentes em situações de risco pessoal e social. As políticas sociais

básicas são de responsabilidade do governo municipal, que deve contar com

outros recursos destinados no seu orçamento anual, fim de não comprometer

os recursos do Fundo para Infância e Adolescência (FIA) com tais

políticas.

A questão social da infância e da juventude rompe com caráter

historicamente periférico que sempre lhe foi destinado no seio das políticas

públicas. Ruptura que vem dando-se com base num consistente investimento

coletivo ao longo dos anos em que o Estatuto da Criança e do Adolescente

(ECA) contribuiu para o fortalecimento das instâncias democráticas e

participativas dos Conselhos de direito; na compreensão de que "as políticas

sociais constituem direitos das e adolescente e dever do Estado, considerado

de forma ampliada" (GRAMSCI, 1984), isto é, com ações e iniciativas

compartilhadas com a sociedade civil, tal como prevê o Estado da Criança e do

Adolescente (ECA); e na dimensão pública dessa política social, a despeito

da presença maciça de organizações de extração religiosa e outras tantas de

perfil filantrópico empresarial na esfera do atendimento e defesa de

direitos.

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Reconhecer a criança e o adolescente, enquanto cidadão de direito,

tem sido um processo árduo e progressivo que a cada dia ganha mais força

com a implementação de ações sociais que levem em consideração a

participação da sociedade civil, e principalmente que dêem voz á infância e

adolescência para que as políticas sociais de caráter público possam suprir as

necessidades desta esfera da sociedade.

Partindo dessa realidade historicamente construída apresentaremos a

seguir a Política de Atenção Integral á Criança e ao Adolescente, que tem

como objetivo principal concretizar o disposto na Constituição Federal de

1988 que prioriza o atendimento absoluto da criança e do adolescente,

enquanto cidadãos de direitos.

CAPÍTULO II CRIMINALIZAÇÃO E POBREZA

Nesse capitulo, visarei colocar em análise as diferentes características

que têm sido freqüentemente atribuídos à juventude, para tanto, irei apontar

algumas produções ocorridas durante os séculos que tem caracterizado o

jovem pobre como perigoso.

A infância, a partir dos séculos XVI e XVII, passa a ser compreendida

como um ser incapaz no meio da sociedade: "No momento em que a infância é

descoberta, ela começa a ser percebida por aquilo que não se pode, por aquilo

que não se tem, por aquilo que não se sabe, por aquilo que não se é capaz, a

incapacidade é uma característica classificada como negativa que demanda e

exige um controle maior”. (GARCIA, 1994, p. 16)

É na parte da infância que as pessoas mais possuem o apoio da

família e freqüentemente também tem acesso ao ensino escolar, que leva a

considerar que família é o conceito de socialização que mantém suas bases e

consiste na existência da infância adequada aos padrões de socialização

considerados tradicionais configuradas uma situação tida com irregular. Estou

falando aqui da chamada “família estruturada”, ou seja, aquela unidade familiar

que possui condições de oferecer apoio integral às suas crianças, nos aspectos

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físico, intelectual e moral. Desta forma, a Doutrina da Situação Irregular

também refere-se à categoria família em “estruturadas” e “desestruturadas”.

A categoria família era vista através de dois pólos totalmente distintos.

São eles: "estruturadas" e "desestruturadas".

A "família desestruturada", por uma série de motivos, tende a ser falha

em seu papel socializador ou controlador, e as crianças vindas dessas famílias

não eram reconhecidas como crianças, mas eram apontadas e, também,

designadas pela seguinte denominação: "menor".

Essa categoria chamada “menor”, vindo da Doutrina Jurista, permite

concluir, que também regia esse termo na “Doutrina da Situação Irregular”.

E ao se estabelecer conceitos de normalidade para o processo de

socialização, classifica – se a infância em duas categorias básicas:

criança/adolescente, por um lado, e menor, por outro.

A chamada “Doutrina da Situação Irregular” teve seu início e suas

bases de sustentação na classificação da infância assim definida como

condição de incapacidade.

Desta forma, a incapacidade é uma característica classificada como

negativa que demanda e exige um controle maior, quando este controle não

funciona ou não acontece, tem-se aí configurada uma situação tida como

irregular.

Desta forma, é possível perceber que a síntese deste discurso aponta

a família como responsável pela infância em situação irregular. Esta ideologia

que culpabiliza a família e isenta a sociedade e o Estado é a mesma ideologia

que relaciona pobreza com criminalidade.

A categoria menor é um conceito que inclui estes dois elementos —

pobreza e periculosidade – como componentes centrais: Na passagem do

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século, menor deixou de ser uma palavra associada à idade, para designar

principalmente as crianças pobres abandonadas ou que incorriam em delitos.

Já no contexto Brasil, o termo "menor", na transição do século XIX ao

século XX, passou a incorporar o vocabulário dos juristas, que utilizavam-no

para se referir às crianças e adolescentes mais pobres, que não viviam sob a

tutela dos pais e habitavam as ruas das grandes cidades.

A decomposição da família e a conseqüente ausência do pátrio poder

eram apontados como problemas geradores dessa situação, até então

concebida, desde aquele período, como período de abandono. Daí o termo

"menor abandonado", muito utilizado no Brasil para se referir à infância e à

juventude.

Tal característica é um estigma, especialmente quando o seu efeito de

descrédito é muito grande – algumas vezes ele também é considerado um

defeito, uma fraqueza, uma desvantagem – e constitui uma discrepância

específica entre a identidade social virtual e a identidade social real"

(GOFFMAN, 1998, p. 12).

A identidade social virtual se define como o conjunto de exigências que

fazemos às expectativas e demandas construídas sobre o "outro". A identidade

social real, por sua vez, é o conjunto de características e atributos que o

indivíduo possui de fato. A relação entre a identidade social virtual e a real

determina o grau de aceitação ou de discriminação dirigida a uma determinada

pessoa.

Ou seja, se a identidade social real (o que o indivíduo é) estiver em

desacordo com a identidade social virtual (aquilo que a sociedade espera),

fugindo aos padrões, à norma, então estaremos diante de um indivíduo

inabilitado para a plena aceitação social (GOFFMAN, 1988).

É isto que se passa com a criança apontada como "menor". A sua

identidade social real não está de acordo com a identidade social virtual; ela

não atende às expectativas de normalidade estabelecidas pela sociedade e,

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por isto, recebe um tratamento diferente, digno da marca diferente que

apresenta.

Este tratamento é algo objetivo, que pode ser constatado no

deslocamento da criança para espaços limitados, que são certos tipos de

instituições. A criança é separada da família e abrigada.

A prática de internação de crianças pobres foi estimulada e

naturalizada como forma eficaz de controle social.

O processo ou a prática de internar crianças e adolescentes passou a

ser intensamente debatido e criticado no Brasil a partir dos anos 1970. Esta

prática foi, ao longo da história, respaldada pela já referida Doutrina da

Situação Irregular, que concebe a infância como uma fase da existência

humana marcada pela incapacidade e estabelece um padrão normativo,

separando aquelas crianças que destoam do padrão.

Dos anos 30 até os anos 60, vê – se o "menor" como "perigoso".

Assim, à criança ou ao adolescente era imputado o estigma da delinqüência.

Para "corrigir", "controlar" e "recuperar" os delinqüentes juvenis, o Estado criou

em 1941 o Serviço de Assistência ao Menor (SAM).

O paradigma assistencialista, que balizou o enfrentamento do

problema relativo à infância em situação irregular dos anos 60 aos anos 80,

concebe essa categoria de pessoas como "menores carentes".

Porém, analisando a atuação da Fundação Nacional do Bem-Estar do

Menor (FUNABEM), instituição que veio a substituir o SAM e vigorou ao longo

daquele período histórico, pode-se perceber que permaneceu vivo o enfoque

das práticas repressivas que marcaram o período 1930-1960. Desta forma, o

paradigma assistencialista pode ser considerado menos controlador e punitivo,

se comparado ao paradigma correcional- repressivo, mas não representa uma

mudança profunda na forma de conceber o problema. Logo, não ocorreram

alterações radicais na estrutura de atendimento, permanecendo forte a

tendência à institucionalização e ao isolamento de crianças e adolescentes em

situação irregular.

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"...sintetiza essa idéia afirmando que "Ao intervir combatendo os males

dos 'desassistidos' e dos menores causadores de 'desordem social', o Estado

assume seu papel paternalista e, ao mesmo tempo, coercitivo, promovendo a

segregação do menor para tratá-lo nas instituições especiais e devolvê-lo 'são'

à sociedade" (VERGARA 1991, p. 104).

Nos anos 90 surge uma nova lei que vê as crianças como sujeitos de

direitos, como cidadãos; tem suas diretrizes gerais consolidadas na Lei n°

8.069, de 13 de julho de 1990, o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA).

O Estatuto tem por objetivo a proteção da criança e do adolescente de

tal forma que cada brasileiro que nasça, possa ter assegurado seu pleno

desenvolvimento, desde as exigências físicas até o aprimoramento moral e

religioso. A aplicação do ECA significa o compromisso em não mais conceber

no Brasil vidas ceifadas no seio materno, criança sem afeto, abandonadas,

desnutridas, perdidas pelas ruas, gravemente lesada em sua saúde e

educação.

O Estatuto da Criança e do adolescente (ECA), Lei que surgiu como

proposta de um novo olhar no tratamento das questões referentes às crianças

e adolescentes; ele fala de toda a questão da infância e adolescência, tratando

de pontos primordiais como saúde, educação, família, assistência social. surgiu

como um marco na atuação do Estado e da sociedade para com a infância,

pois coloca o interesse da criança e do adolescente e sua proteção integral

como prioridade absoluta uma tentativa de mudança da visão que se tinha da

criança e do adolescente que passam a ser considerados sujeitos de direitos.

De acordo com o ECA:

"A criança e o adolescente gozam de todos os direitos fundamentais

inerentes à pessoa humana, sem prejuízo da proteção integral de que trata

esta Lei, assegurando-lhes, por lei ou por outros meios, todas as oportunidades

e facilidades, a fim de lhes facultar o desenvolvimento físico, mental, moral,

espiritual e social, em condições de liberdade e de dignidade" (ECA, art. 3º).

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Além disso, do ponto de vista conceitual, o Estatuto da Criança e do

adolescente (ECA) abandona o paradigma da "infância em situação irregular" e

adota o princípio de "proteção integral à infância". A Lei ainda prescreve os

deveres e responsabilidades do Estado quando o "menor" comete infração

penal, ou não tem família ou meios de subsistência, precisando de amparo ou

tutela, Para se entender o Estatuto é preciso compreender o contexto em que

ele surgiu. O ECA veio para revogar o Código de Menores. Este era baseado

na Doutrina da Situação Irregular, O referido Código de Menores visava

somente sanar o problema sem resolvê-lo de fato. Toda a responsabilidade do

Poder Público passava para o Juiz de Menores e não havia nenhum tipo de

apoio ao “menor”, um sujeito de tutela, objeto de controle e repressão do

Estado, que devia ser afastado da sociedade. Cria-se assim o Direito do

Menor, que era a criança e o adolescente pobres e marginalizados.

Com o advento da Constituição Federal de 1988 a criança e o

adolescente passam a ser sujeitos de direitos. Estes dever do Estado, da

família e da sociedade.

Com o Estatuto da Criança e do Adolescente os diretos individuais,

políticos e sociais, até então privilégios do adulto passam a ser atribuídos à

criança e ao adolescente e devendo ser assegurados pela família, pela

sociedade e pelo Estado.

Outra questão a ressaltar, refere-se a um dos princípios gerais que

viabilizam a redação da lei: A criança e o adolescente precisam ser entendidos

como pessoas em condição peculiar de desenvolvimento.

"É dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do poder

público assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação dos direitos referentes

à vida, a saúde, a alimentação, a educação, ao esporte, ao lazer, a

profissionalização, a cultura, a dignidade, ao respeito,a liberdade e a

convivência familiar e comunitária". ( ECA art. 4º)

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As crianças e adolescentes são obrigados a elegerem mecanismos de

defesa, até mesmo no campo afetivo, que lhes possibilitem viver. Muitos não

têm referências básicas de família, muito menos de pai ou de mãe. E nesse

contexto, ainda existe corrente apregoando a redução da maioridade para fins

punitivos o que somente agrava o problema, transformando a vítima em

culpado.

Em tempos atuais, onde a palavra de ordem é punir, parece salutar um

debate cerca das questões que envolvem adolescentes com a criminalidade. É,

pois, nesse intuito que se busca o cerne da questão, a fim de tentar elucidar

alguns pontos desse assunto.

O Estado referente a esta questão dado sua resposta que, para

muitos, ainda não satisfaz os interesses da sociedade. Esta, por sua vez, tem

demonstrado seu desvalor acerca do assunto, exigindo respostas, por parte do

Estado, cada vez mais severas. Cabe ainda destacar o papel da imprensa na

construção do pensamento da sociedade.

"A ação governamental e social deve ser direcionada para garantia e

manutenção das condições necessárias para uma vida digna"

(HERINGER,1992:19)

No Brasil, onde o desemprego assola o país, sobretudo nas classes

baixais em que as pessoas não possuem qualquer qualificação para o trabalho,

onde um curso superior parece ser uma realidade distante, o crime se

apresenta como uma forma de emprego muito atraente a estes jovens. O

menor de 18 anos não poderia trabalhar pelas regras legais, seria considerado

menor aprendiz com salário inferior ao salário mínimo. Para obter uma renda

maior teria que procurar o mercado informal. Contudo, a saída através do crime

faz com que o adolescente sinta – se economicamente independente, visto que

muitos destes adolescentes ganham até mais que seus pais.

Com armas nas mãos, adquirem a falsa impressão de conquistaram

prestígio, que agora são alguém importante, coisas que não conseguiriam pela

via normal. Assim como qualquer adolescente, querem usar o tênis da moda, a

bermuda de marca, conquistar as meninas, e pelo imediatismo inerente à

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adolescência não podem esperar pela expectativa de um futuro promissor para

adquirirem tais coisas. Destaco neste ponto, o papel dos meios de

comunicação na formação da sociedade consumista.

Não se trata aqui de definir o que é certo ou errado, mas sim de

verificar a percepção que o adolescente tem da sociedade, vendo – a por

vezes, como um verdadeiro inimigo, responsável por sua situação de excluído.

Não se pode esperar que aqueles que não tiveram as mesmas

oportunidades, que foram esquecidos pela sociedade, que tiveram outras

experiências tenham as mesmas reações daqueles que estão em uma

realidade completamente diferente.

Afinal as pessoas agem segundo suas experiências, de forma

diferente a situações diversas. Os padrões sociais desejados não são fundados

na ótica destes observadores. Isto nos leva a refletir acerca de que homem

médio está se falando, o que mora no bairro nobre ou o do subúrbio?

O que na verdade se espera é que haja um conformismo e que os

excluídos permaneçam em seu anonimato para que venham perturbar o

sossego dos demais. Contudo, o contexto atual tem revelado que a situação

atual não perdurará por muito tempo se não houver melhorias sócio-

econômicas e até mesmo políticas.

Entendemos - assim como apontou Marx - que a formação da riqueza,

a acumulação do capital, produz, também, o seu contrário: a miséria. Pela ótica

e "ética" do capitalismo, a miséria passa a ser naturalmente percebida como

advinda da ociosidade, da indolência e dos vícios inerentes aos pobres, ... a

desigualdade e a competitividade são as regras do bom-viver, e uma existência

livre, igualitária e fraterna não tem lugar. (Coimbra : 2003)

Deve-se ressaltar que a promoção de políticas publica, nesse enfoque

não constitui uma tarefa simples. Combater a exclusão e a desigualdade social,

atacando a vulnerabilidade, requer a mudança na percepção dos formuladores

de políticas, sobre o papel de políticas sociais para a construção de uma

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sociedade mais igual, justa, pacifica e desenvolvida economicamente.

CAPITULO III POLÍTICAS DE PROTEÇÃO INTEGRAL À CRIANÇA E ADOLESCENTE

O debate pela democracia, além de ter propiciado um novo discurso em

termos de políticas públicas, favoreceu ações que concretizam direitos sociais

conquistados pela sociedade e assegurados em lei. Portanto, é na década de

90 que os dispositivos assegurados na Constituição Federal de 1988 são

regulamentados como Doutrina de Proteção Integral as Crianças e

Adolescentes.

Ao romper definitivamente com a doutrina da situação irregular, até

então admitia o Código de Menores (Lei 6.697, de 10.10.79), e estabelecer

como diretriz básica e única no atendimento de crianças e adolescentes a

doutrina de Proteção Integral, o legislador pátrio agiu de forma coerente com o

texto constitucional de 1988, pela primeira vez na história brasileira, aborda a

questão da criança como prioridade absoluta, e sua proteção como dever da

família, da sociedade e do Estado.

Os avanços na área da infância e da adolescência repercutiram

positivamente no Brasil, ratificando pela normativa expressa na Convenção

Internacional dos direitos da Criança e do adolescente e aprovada pela Lei

Federal 8069/90 – Estatuto da Criança e adolescente (ECA) – que representam

marcos de ruptura definitiva com o paradigma da "situação irregular" e

conseqüentemente consolidando da Doutrina da Proteção Integral,

fundamentada no princípio da Prioridade Absoluta, consagrado no artigo 227,

da constituição Federal Brasileira.

A inspiração de reconhecer proteção especial para a criança e o

adolescente não é nova. “Já na declaração de Genebra de 1924 determinava

“a necessidade de proporcionar à criança uma proteção especial” da mesma

forma que a Declaração Universal dos Direitos Humanos das Nações Unidas

(Paris, 1948) apelava ao” direito a cuidados e assistência especiais" na mesma

orientação, a Convenção Americana sobre os Direitos Humanos (Pacto de São

José, 1969) alinhava, em seu art. 19: "Toda criança tem direito às medidas de

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proteção que na sua condição de menor requer, por parte da família, da

sociedade e do Estado".

O ECA caracteriza-se como uma lei, que já atenuou o problema da

criança e adolescente no país, mais muito trabalho se tem para fazer, tendo o

embasamento teórico totalmente a disposição. Cabe uma maior movimentação

da sociedade e das organizações governamentais e não-governamentais. Esta

é a lei de garantia dos direitos universais de infância e juventude. Porém, não

se descola da sua condição de política social, estando sujeita na sua

concretização a uma variável de características e acontecimento. Com isso,

pode estar sendo interpretado e aplicado, por muitos na perspectiva de auxilio

a população pobre e miserável, em sentido contrário ao propósito de sua

criação.

Indo além das propostas de garantia de direitos humanos, direitos

universais, para todos os seres humanos e todas as nações, o ECA é um

elenco dos diretos específicos, diferenciados, porque em constante

desenvolvimento e totalmente dependentes das ações dos outros seres

humanos, os adultos.

Diante da realidade apresentada, torna-se imprescindível a ação efetiva

dos setores democráticos da sociedade brasileira, tendo em vista a alteração

das relações subalternizadoras vigentes e, conseqüentemente, a construção do

novo cidadão.

Com o ECA de 1990 e a LOAS 1993, o Estado assume, enfim, sua

responsabilidade sobre a assistência a infância e a adolescência desvalidas, e

estas se tornam sujeitos de Direitos, pela primeira vez na Historia. O ECA, lei

8.069 de 13 de julho de 1990, em vigor a partir de 14 de outubro de 1990,

surge em substituição ao segundo Código de Menores, rompendo com a lógica

nele apresentada.

"O Estatuto pode ser traduzido como um aparato legal estratégico, que

acena não para uma realidade consolidada, mas para uma processo de criação

de condições necessárias para a garantia e respeito dos direitos das crianças e

adolescentes" (BEZERRA, 1992:15)

A partir do ECA, rompe-se com a lógica do "menor" como alvo

privilegiado de ação. Compreende-se que não é a criança que precisa ser

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controlada e reintegrada, mas que o que precisa ser mudado são as condições

precárias de total desrespeito a seus direitos básicos de existência.

"A ação governamental e social deve ser direcionada para garantia e

manutenção das condições necessárias para uma vida digna"

(HERINGER,1992:19)

A Constituição Federal no artigo no artigo 227 e o ECA em seu artigo

em seu artigo 4º explicitam que:

“... o dever em assegurar a efetivação dos direitos básicos cabe não

somente a família, mas também a comunidade, a sociedade em geral e ao

Poder Publico". (HERINGER, 1992:21)

Dispõe também sobre os procedimentos a serem tomados acerca do ato

infracional, abandonando a ótica criminalizadora contida no Código dos

Menores.

“... ao legislar acerca do ato infracional, sem pautar-se na pré-concepção

do "menor" como potencial "infrator" a ser ressocializado, deixa para trás não

só o estigma, como também a lógica carcerária anteriormente adotada”.

(BEZERRA, 1992:17)

O ECA foi à lei brasileira que instituiu mudanças jurídicas e significativas

em relação ao Código de Menores, eliminando a perversidade do sistema as

bases da Política Nacional do Bem-Estar do Menor (PNBEM),que estavam

fundamentadas na ideologia da segurança nacional.

"São desconstruções que se diferenciam fundamentalmente da

legislação anterior, por induzir o paradigma da "proteção integral" em oposição

à “situação irregular". Assim, é inaugurado um sistema de garantias de direitos,

infanto-juvenis que inclui o devido processo legal, o contraditório e a

responsabilização penal juvenil, até então inexistente na justiça menorista. É

descontinuo também porque inovou quanto a gestão, ao método e conteúdo

do tratamento dispensado a infância e aos adolescentes brasileiros, de modo a

promover a democratização da coisa pública, a parceria Estado e Sociedade e

a municipalização dos serviços públicos".(OLIVEIRA E SILVA, 2005:42)

Em compreensão ao projeto político do ECA, no qual os conceitos de

integração, intersetorialidade, complementaridade e de redes de atenção

ganham corpo e consistência. É nesse sentido que perspectivas são criadas

para superação do paternalismo, do assistencialismo, do corporativismo e do

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conservadorismo que, historicamente, marcaram as ações e políticas do

Estado brasileiro.

"São linha de ação de políticas de atendimento: I – políticas sociais

básicas; II – políticas e programas de assistência social, em caráter supletivo,

para aqueles que deles necessitem; III –serviços especiais de prevenção e

atendimento medico e psicossocial as vitimas de negligencias, maus-tratos,

exploração, abuso, crueldade e opressão; IV – serviço de identificação e

localização de pais, responsável, crianças e adolescentes desaparecidos; V –

proteção jurídico-social por entidades de defesa dos direitos da criança e

adolescente".(ECA, Art. 87º)

O Estatuto institui, juridicamente, o que ele denomina de "linhas de ação

da política de atendimento". Tais linhas de ação são âmbitos operativos

juridicamente reconhecidos como espaços do agir humano necessário à

consecução dos fins sociais a que o Estatuto se destina. Aqui se estabelece a

primeira grande diferença com o Direito anterior (o do Código de Menores), no

qual a legimitidade do agir para alcançar fins sociais era definida por um

"Direito do Menor" de natureza estatal e intervencionalista sobre a sociedade

civil. A nova "regra" instituída pelo ECA foge do subjetivismo, e o que é exigido

para criança e adolescente é a legitimidade de agir em busca dos seus fins

sociais abrindo-se num leque do tamanho da sociedade, ou seja, o exercício

dos direitos e dos deveres da criança e adolescente é garantido por um

conjunto de ações da sociedade e do Estado.

Na linha de frente estão as políticas básicas. Elas são exigíveis com

fundamento no art. 227 da Constituição Federal (CF), no parágrafo único do

Art. 4º e nos Arts. 5º e 6º do ECA; e são garantidas através dos mecanismos

previstos no Arts. 88 e 208 do ECA, ou seja, o não oferecimento ou a oferta

irregular dos serviços públicos (âmbito de ação das políticas publicas, que são

dever do Estado e direitos de todos) ofendem o "atendimento dos direitos"

previstos nessa lei.

No âmbito administrativo, verificada a situação irregular, é assegurado a

todos cidadão, independentemente do pagamento de taxas, nos termos do art.

5º da CF: a) o direito de petição aos Poderes Públicos em defesa do direito

violado ou ilegalidade ou o abuso do poder caracterizador da referida situação

irregular da entidade, órgão ou autoridade publica, b) a obtenção de certidões

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em repartições publicas, para defesa desses direitos e esclarecimento de

situações de interesse da criança ou adolescente prejudicado.

Diferentemente de direito do Código de Menores (CM), em que o juiz se

atinha ao caso individual do destinatário final da norma, do Direito da criança e

adolescente o magistrado vai às raízes da ameaça ou violação dos direitos

desse destinatário: ele julga a não oferta ou a oferta irregular dos serviços

públicos garantidos dos direitos a que se refere o ECA.

Dentre as políticas publicas (educação, saúde, esporte, cultura, lazer,

profissionalização, saneamento, urbanização) sobressai-se a de assistência

social. Esta ultima constitucionalmente devida a quem dela necessitar (CF,

art.203), independentemente de contribuição à seguridade social, e tem por

objetivos: a proteção à família, a maternidade, a infância, a adolescência e a

velhice, o amparo às crianças e aos adolescentes carentes, a promoção da

integração ao mercado de trabalho, a habilitação e a reabilitação das pessoas

portadoras de deficiência e a promoção de sua integração à vida comunitária, a

garantia de um salário mínimo de beneficio mensal à pessoa portadora de

deficiência e ao idoso que comprovem não possuir meios de prover à própria

manutenção ou de tê-la provida por sua família, conforme a lei.

A assistência social adquire, com esse mandamento constitucional, o

status de política pública universal. Trata-se do entendimento jurídico e,

portanto, exigível seja ao judicional de que todo cidadão que, por qualquer

motivo, fortuito ou não, vier a necessitar da proteção do Estado tem o direito de

ter à sua disposição mecanismo para fazer valer esse direito.

É importante notar que não se trata, aí, de assistência exclusiva para

despossuídos, miseráveis, carentes, não, a norma constitucional, ao elencar os

cinco objetivos da assistência social, estabelece o principio (constitucional) de

que o âmbito da ação pública nessa política tem ampla abrangência ao

estabelecer que, o amparo as crianças carentes também integra esse âmbito,

deixando clara a exigibilidade do atendimento ao direito à assistência social no

sentido mais amplo.

É com essa dimensão jurídica que se deve interpretar o art. 87,

trazendo-se sempre à colocação do contido no art. 6ª ECA, que diz, que:

"Na interpretação desta lei levar-se-ão em conta os fins sociais e a que

se dirige, as exigências do bem comum, os direitos e deveres individuais e

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coletivos, e a condição peculiar da criança e do adolescente como pessoas em

desenvolvimento" (ECA, Art. 6º)

A expressão "em caráter supletivo", nesse contexto, há que ser

interpretada no sentido de que os mecanismos a serem criados no Município

para assistência social devem ser publicamente ofertados.

O Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente, o

CONANDA, é um espaço público e institucional de composição paritária entre o

governo e a sociedade civil, com o poder deliberativo e controlador das ações

em todos os níveis, no que diz respeito à Política Nacional de Promoção,

Atendimento e Defesa de Direito de Crianças e adolescentes.

Considerada uma das primeiras conquistas após a aprovação do ECA

em julho de 1990, o CONANDA foi criado em 12 de outubro de 1991, Lei

Federal 8.242. O CONANDA funciona vinculado ao Ministério da Justiça e ao

Departamento da Criança e do Adolescente (DCA).

O CONANDA Tem como competência básica formular as diretrizes

gerais as Políticas de Atendimento de Direitos da Criança e do Adolescente e

avaliar as políticas Estaduais e Municipais, sua execução e atuação dos

Conselhos Nacionais e Municipais DCA.

" O CONANDA é responsável pelo monitoramento Nacional das

expressões da questão social da infância e adolescência, é pela

regulamentação de medidas, por meio de resoluções, afeta a esse seguimento

bem como aos conselhos de diretos tutelares de todo país". (SALES,2004:225)

A confirmação e a expansão da idéia de que as políticas sócias básicas

são imprescindíveis para assegurar a proteção integral de Crianças e

Adolescentes levaram os Conselhos de Direitos a assumirem a tarefa de

operar uma linha nova de ação no sentido de articular um Sistema de Garantia

de Diretos, envolvendo todas as instâncias legais instituídas exibilidades de

direitos para enfrentar as sistemáticas violações sofridas por crianças e

adolescentes, sobretudo aquela em situações particularmente difíceis e

vulneráveis.

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CONCLUSÃO

O presente estudo tem como objetivo promover a reflexão sobre a

situação de vulnerabilidade social aliada às turbulentas condições

socioeconômicas que ocasiona uma grande tensão entre os jovens que agrava

diretamente os processos de integração social e, em algumas situações,

fomenta o aumento da violência e da criminalidade. Ressalta-se que a

violência, embora, em muitos casos, associada à pobreza, não é sua

conseqüência direta, mas sim da forma como as desigualdades sociais, a

negação do direito ao acesso a bens e equipamentos de lazer, esporte e

cultura operam nas especificidades da cada grupo social desencadeando

comportamentos violentos.

Os recursos à disposição do Estado e do mercado são insuficientes

para, sozinhos, promoverem a superação da vulnerabilidade e de suas

conseqüências, em particular a violência que os adolescentes cometem.

A adolescência por ser uma fase turbulenta na vida da pessoa, onde o

indivíduo está em processo de formação, requer especial atenção não só do

Estado, em seu papel sócio-educacional, mas também de toda a sociedade.

O problema da criminalidade juvenil tem se mostrado bem complexo

não havendo por ora soluções convincentes, razão pela qual, deve – se

repensar não só as políticas públicas, como as políticas sociais, e até mesmo,

a percepção atual acerca da questão.

Tais considerações revelam a importância de demonstrar aos

formuladores que a política social de proteção à criança e ao adolescente é um

tipo de política pública cuja expressão se desenvolve por intermédio de um

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conjunto de princípios, diretrizes, objetivos e normas, de caráter permanente e

abrangente, contidos na Constituição Brasileira e no Estatuto da Criança e do

Adolescente.

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FOLHA DE AVALIAÇÃO

UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

VULNERABILIDADE SOCIAL: A PRODUÇÃO DE ADOLESCENTE AUTOR DE ATO INFRACIONAL

Autora: Priscila Santos de Farias

Data da entrega:____/____/2011

Avaliado por: Eduardo Pontes Brandão

Conceito: