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3 VULNERABILIDADES SÓCIOECONÔMICAS VULNERABILIDADES DA INFRAESTRUTURA DE DRENAGEM URBANA E OS EFEITOS DAS MUDANÇAS CLIMÁTICAS NA REGIÃO METROPOLITANA DO RIO DE JANEIRO O SANEAMENTO AMBIENTAL FRENTE AOS CENÁRIOS DAS MUDANÇAS CLIMÁTICAS: A APLICAÇÃO DO ESTADO DO CONHECIMENTO SOBRE A REALIDADE DA REGIÃO METROPOLITANA DO RIO DE JANEIRO RESÍDUOS SÓLIDOS URBANOS: CONSIDERAÇÕES SOBRE A SITUAÇÃO DA REGIÃO METROPOLITANA DO RIO DE JANEIRO FACE ÀS MUDANÇAS CLIMÁTICAS VULNERABILIDADES EM MATÉRIA DE SAÚDE PÚBLICA NA REGIÃO METROPOLITANA DO RIO DE JANEIRO NA PERSPECTIVA DAS MUDANÇAS CLIMÁTICAS

VULNERABILIDADES SÓCIO ECONÔMICAS · dos quais os processos climáticos podem afetar a saúde da população, a saber (Fig. 1): ... Efeitos sobre o meio ambiente que alteram fatores

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3 VULNERABILIDADES SÓCIO‐ECONÔMICAS 

 

 

 

VULNERABILIDADES DA INFRAESTRUTURA DE DRENAGEM URBANA E OS EFEITOS DAS 

MUDANÇAS CLIMÁTICAS NA REGIÃO METROPOLITANA DO RIO DE JANEIRO  

 

O SANEAMENTO AMBIENTAL FRENTE AOS CENÁRIOS DAS MUDANÇAS CLIMÁTICAS: A 

APLICAÇÃO DO ESTADO DO CONHECIMENTO SOBRE A REALIDADE DA REGIÃO 

METROPOLITANA DO RIO DE JANEIRO  

 

RESÍDUOS SÓLIDOS URBANOS: CONSIDERAÇÕES SOBRE A SITUAÇÃO DA REGIÃO 

METROPOLITANA DO RIO DE JANEIRO FACE ÀS MUDANÇAS CLIMÁTICAS  

 

VULNERABILIDADES EM MATÉRIA DE SAÚDE PÚBLICA NA REGIÃO METROPOLITANA DO 

RIO DE JANEIRO NA PERSPECTIVA DAS MUDANÇAS CLIMÁTICAS  

 

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 MEGACIDADES, VULNERABILIDADES E MUDANÇAS CLIMÁTICAS: REGIÃO METROPOLITANA DO RIO DE JANEIRO |  201 

 

VULNERABILIDADES  EM MATÉRIA DE  SAÚDE  PÚBLICA NA REGIÃO METROPOLITANA DO 

RIO DE JANEIRO NA PERSPECTIVA DAS MUDANÇAS CLIMÁTICAS 

Ulisses E. C. Confalonieri, Diana P. Marinho e Martha M. L. Barata | Fundação Oswaldo Cruz ‐ FIOCRUZ 

 

Introdução  

O quarto relatório de avaliação  (AR4) do Painel  Intergovernamental de Mudanças Climáticas  (IPCC) 

proporcionou uma síntese do conhecimento científico acumulado até 2007 sobre as tendências do 

sistema  climático  global,  os  impactos  sócio‐ambientais  observados  e  projetados  da mudança  do 

clima, em nível global e  regional, bem como das mitigações das emissões de gases produtores do 

efeito estufa.  

Embora o AR4 seja de escopo global, o relatório apresenta, além dos capítulos temáticos (ex. saúde; 

agricultura;  ecossistemas;  áreas  urbanas,  etc.),  capítulos  regionais  (ex  América  Latina,  etc.),  que 

apresentam as evidências dos efeitos atuais ou projetados para o futuro nos diferentes continentes.  

Neste trabalho são discutidas, inicialmente, e de forma sucinta, as principais implicações do processo 

de mudança climática sobre a saúde da população humana, tanto em nível global como no território 

brasileiro, apontando as atuais vulnerabilidades e possibilidades futuras. A seguir são apresentadas, 

com  mais  detalhes,  as  vulnerabilidades  específicas  do  município  do  Rio  de  Janeiro,  através  de 

estudos de casos. Esta discussão é baseada em conhecimentos históricos sobre as relações entre a 

variabilidade climática e a saúde no Brasil e em resultados de pesquisas recentes sobre a distribuição 

espacial  da  vulnerabilidade  no  espaço  geográfico  brasileiro,  assim  como  na  aplicação  de 

conhecimentos de ordem mais geral produzidos pelo IPCC.  

 

Mudança climática e saúde  

Em  linhas gerais, o  IPCC  (Confalonieri et. al., 2007)  reconheceu  três mecanismos principais através 

dos quais os processos climáticos podem afetar a saúde da população, a saber (Fig. 1):  

Efeitos diretos dos eventos climáticos extremos que afetam a saúde através de influências sobre a 

fisiologia  humana  (ex.  ondas  de  calor)  ou  provocando  traumas  físicos  em  acidentes,  como  em 

tempestades, inundações e deslizamento de terra.  

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Efeitos  sobre o meio  ambiente que  alteram  fatores determinantes da  saúde humana.  Exemplos 

mais relevantes são os efeitos do clima afetando a produção de alimentos, a qualidade da água e do 

ar, assim como a ecologia de vetores (ex. mosquitos) de agentes infecciosos.  

Efeitos dos eventos climáticos sobre os processos sociais, determinando rupturas socioeconômicas, 

culturais  e  demográficas  importantes.  Um  exemplo  é  a  migração  de  grupos  populacionais, 

desencadeada  por  secas  prolongadas  que  afetam  populações  que  dependem  de  agricultura  de 

subsistência.  

 

Figura :. Três mecanismos principais pelos quais os processos climáticos que podem afetar a saúde da população. 

 

A magnitude dos efeitos que operam através destes três mecanismos básicos dependerá, em grande 

medida,  de  fatores  moduladores  oriundos  da  natureza  do  meio  ambiente  e  da  efetividade  da 

proteção humana determinada pelos  sistemas  sociais  e  sistemas  específicos de  saúde. O  grau  de 

vulnerabilidade destes sistemas moduladores será importante na mitigação de impactos adversos, na 

resiliência das sociedades e na sua capacidade de recuperação destes impactos.  

O  mais  recente  Relatório  do  IPCC  (2007)  identificou  trabalhos  que  apontaram  impactos  já 

observados, da mudança climática na saúde, mas apenas no continente europeu.  Isto é um reflexo 

da maior preocupação dos países desta  região  com os  impactos do  clima  e de  investimentos  em 

pesquisa nesta área.  

 

 MEGACIDADES, VULNERABILIDADES E MUDANÇAS CLIMÁTICAS: REGIÃO METROPOLITANA DO RIO DE JANEIRO |  202 

 

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 MEGACIDADES, VULNERABILIDADES E MUDANÇAS CLIMÁTICAS: REGIÃO METROPOLITANA DO RIO DE JANEIRO |  203 

 

Os efeitos observados foram:  

Aumento da morbidade e da mortalidade por ondas de  calor,  com destaque para o episódio no 

verão europeu de 2003, que provocou cerca de 50.000 óbitos.  

Expansão da encefalite viral transmitida por carrapatos, para latitudes mais altas na Escandinávia, e 

para altitudes maiores, nas montanhas da República Tcheca.  

Aumento da duração do período anual com concentrações alergênicas de pólen na atmosfera em 

função da antecipação sazonal das condições climáticas típicas da primavera.  

Como situações projetadas para o futuro, a nível global, o relatório apontou para:  

Um aumento na  incidência de doenças diarréicas, em  função da piora no acesso à água de boa 

qualidade, especialmente para uso doméstico.  

Alterações na distribuição espacial e na dinâmica populacional de vetores de doenças infecciosas e 

parasitárias endêmicas tais como as espécies de mosquitos que transmitem o dengue e a malária.  

Aumento  na  incidência  de  doenças  cardiovasculares  e  respiratórias  como  consequência  do 

aumento  da  concentração  de  poluentes  atmosféricos  (especialmente  o  ozônio  troposférico)  em 

grandes aglomerados urbanos já poluídos.  

Aumento da morbimortalidade causada por eventos climáticos extremos tais como: tempestades, 

inundações, ondas de calor, secas e suas consequências, como incêndios florestais.  

Aumento no contingente populacional exposto ao regime de  insegurança alimentar, com piora na 

condição nutricional.  

Embora  se  admita que  a maioria dos efeitos da mudança  climática  global  sobre  a  saúde humana 

venha a ser de caráter adverso, projetam‐se alguns possíveis efeitos benéficos. O mais  importante 

seria uma redução na mortalidade de  inverno nos países temperados, determinada pela ocorrência 

de temperaturas menos frias nesta época do ano.  

 

 Clima e saúde no Brasil  

Em trabalho publicado recentemente pelo Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE, Brasília) 

foi  feita  uma  revisão  geral  da  situação  da  mudança  climática  em  relação  à  saúde  no  Brasil 

(Confalonieri, 2009). Contudo, os registros epidemiológicos existentes no país sobre as relações entre 

clima e saúde pública referem‐se a observações de impactos da variabilidade natural do clima e não 

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à mudança  climática  global. A maior  parte  dos  estudos  refere‐se  a  influências  climáticas  sobre  a 

ocorrência de doenças infecciosas e parasitárias, assim como sua variação no tempo e no espaço. Há 

também  registros  de  morbimortalidade  devida  a  eventos  climáticos  extremos,  especialmente  a 

chuvas  fortes,  seguidas  ou  não  de  inundações. As  referências  a  estudos  de  casos  apresentadas  a 

seguir ilustram, de forma sucinta, estas relações:  

Observa‐se uma  série histórica de  casos de  leptospirose em um município  rural do estado do Rio 

Grande do Norte, correlacionando‐os com a variável precipitação pluviométrica  (Figura 2). Nota‐se 

que  nos  anos  em  que ocorreram desvios positivos de precipitação,  tomados  em  relação  à média 

histórica, estes  foram acompanhados de surtos da doença, cujo agente etiológico é veiculado pela 

água em áreas  inundadas. Existem vários registros de surtos similares no Brasil, sendo usualmente 

associados a áreas urbanas alagáveis e com saneamento deficiente (especialmente a coleta de lixo). 

Uma das cidades de maior ocorrência destas epidemias de leptospirose é o Rio de Janeiro, conforme 

será discutido mais adiante.  

 

 

 MEGACIDADES, VULNERABILIDADES E MUDANÇAS CLIMÁTICAS: REGIÃO METROPOLITANA DO RIO DE JANEIRO |  204 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Figura 2. Precipitação (desvios da média histórica) e casos de Leptospirose na estação chuvosa (Jan/Jun) no Município de São Miguel, Rio 

Grande do Norte, Brasil 1985–1996 

36

190 188

4 0 1 0 1 0 0 0 0

-65,9

20,4 21,414,0

6,51,4

-21,1 -16,8 -17,9 -19,7

57,363,4

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100

120

140

160

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1985 1986 1987 1988 1989 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996-80,0

-60,0

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0,0

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Casos de Lept ospir ose

Pr ecipit ação (% Desvio)

Caso

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A  dinâmica  da  ocorrência  de  cólera  na  área  rural  (ou  ribeirinha)  do Alto  Solimões,  no  estado  do 

Amazonas, é outra referência a considerar. Verificou‐se, nesta região, uma estreita correlação entre 

o regime de chuvas e a ocorrência de casos da doença, coincidindo com a época da introdução deste 

agente bacteriano no Brasil através da fronteira com o Peru, no  início dos anos noventa. Na época 

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chuvosa  dificilmente  ocorriam  casos  por  causa  da  grande  vazão  do  Rio  Solimões,  que  reduzia  a 

concentração de vibriões  coléricos presentes na água devido à  falta de esgotamento  sanitário. Ao 

mesmo  tempo, na mesma época  chuvosa, a população  local  coletava água de  chuva, para bebida 

através  de  sistemas  simples  instalados  nos  telhados  das  casas.  As  condições  distintas  que 

prevaleciam durante os curtos períodos  sem chuva  (redução da vazão do  rio e  impossibilidade de 

coleta da água de chuva) propiciavam o aparecimento de casos da doença adquiridos pelo consumo 

de água contaminada coletada na margem do rio (Figura 3). 

 

Figura 3: Cólera no Alto Solimões – Estação Chuvosa. 

 

Uma terceira referência diz respeito à variação do número de casos de malária importada no estado 

do Maranhão ao  longo do período1977 – 1997. Observou‐se no  início da década de 80 um  rápido 

incremento  do  número  de  casos  importados.  Esses  resultados  se  explicavam  pelo  retorno  de 

migrantes,  após o  fim da  seca de 1982‐1983, que haviam  se deslocado para  a Amazônia Oriental 

(Pará) com o objetivo de trabalhar nos garimpos. Estes migrantes adquiriram a malária na situação 

de trabalho temporário e o trouxeram para a parte amazônica do estado do Maranhão (Figura 4) 

 

 MEGACIDADES, VULNERABILIDADES E MUDANÇAS CLIMÁTICAS: REGIÃO METROPOLITANA DO RIO DE JANEIRO |  205 

 

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Figura 4: Casos de Malária no Estado de Maranhão, Nordeste do Brasil, 1977–1997. 

 

Também  relacionadas  a  processos  migratórios  desencadeados  pela  seca  no  Nordeste  são  as 

epidemias de  leishmaniose visceral  (Calazar) observadas em algumas capitais nordestinas  tanto no 

início dos anos 80 como dos anos 90. Com o avanço da seca as populações rurais dependentes da 

agricultura  de  subsistência  deslocam‐se  das  áreas  endêmicas  para  as  capitais,  em  busca  de 

assistência. Desta  forma,  vieram  a  provocar  surtos  nas  periferias  urbanas  recém  ocupadas,  onde 

havia condições para a perpetuação do ciclo de leishmaniose visceral. Estes são exemplos típicos de 

rupturas  socioeconômicas determinadas por  fenômeno  climático  (seca),  afetando  a epidemiologia 

das doenças infecciosas endêmicas (no caso, a sua redistribuição no espaço) (Figura 5). 

 

Figura 5: Número de Casos de Leishmaniose Visceral no Estado de Maranhão, Brasil 1982–1996. 

 

 

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Vulnerabilidade aos efeitos do clima  

O conceito de vulnerabilidade a  impactos do clima foi desenvolvido por sociólogos que estudam as 

consequências dos desastres naturais. Uma das definições mais usadas afirma: “É a capacidade de 

um grupo social ou indivíduo de lidar, antecipar e recuperar‐se de impactos de desastres” (BLAIKIE et 

al, 1994).  

Dow (1992) o define como “a capacidade diferenciada de grupos e  indivíduos de  lidar com perigos, 

baseada em suas posições no mundo físico e social”.  

Contudo, projetos de pesquisa sobre impactos da vulnerabilidade climática na saúde, desenvolvidos 

pelo  Programa  de Mudanças Ambientais Globais  e  Saúde  (PMAGS),  da  Escola Nacional  de  Saúde 

Pública ENSP  / FIOCRUZ, optaram por um modelo conceitual próprio, adaptado de Watts & Bohle 

(1993).  Trata‐se  de  um  modelo  do  tipo  “exposição‐resposta”,  desenvolvido  por  geógrafos 

preocupados  com  impactos  de  secas  prolongadas  (Confalonieri,  2003). O modelo  conceitual  está 

representado na Figura 6.  

 

Figura 6: Modelo conceitual da vulnerabilidade social. 

 

Este modelo admite a existência de  fatores  tanto estruturais como conjunturais, determinantes da 

vulnerabilidade,  em  dois  níveis  básicos:  determinantes  imediatos  e  determinantes  primários  (ou  

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“ultimate”). Estes últimos, que  incluem  renda,  cultura, educação e poder político,  condicionam os 

determinantes  de  ordem  mais  imediata.  Estes,  que  incluem  desde  fatores  individuais  (ex.: 

capacidade  física;  idade, etc.),  institucionais  (ex.: serviços de saúde; defesa civil, etc.) e geográficos 

(ex.: local de moradia; topografia), são os que condicionam a exposição de indivíduos e comunidades 

a perigos ambientais (“hazards”) e, também, as suas capacidades de resposta.  

Na Figura 7 apresenta‐se um exemplo de aplicação deste modelo a uma situação prática brasileira, 

relativa às secas na Região Nordeste.  

 

Figura 7:  Seca no Nordeste. 

 

Um estudo  recente  (Confalonieri et. al, 2005; 2009)  realizou um mapeamento, a nível de unidade 

federada  brasileira,  da  estrutura  da  vulnerabilidade  corrente  (período  1996‐2001),  aos  possíveis 

impactos do clima na saúde. Foi desenvolvido um  Índice de Vulnerabilidade Geral  (IVG), que é um 

indicador sintético com três componentes: socioeconômico; climático e epidemiológico. Estes foram 

baseados em dados  secundários da  Fundação  Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística  ‐  IBGE 

(indicadores socioeconômicos); do DATASUS (seis doenças infecciosas endêmicas, sensíveis ao clima) 

e do Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos / Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais‐ 

CPTEC/INPE (séries históricas, de 42 anos, de precipitação pluviométrica). Cada um destes conjuntos 

de indicadores tem um peso relativo na obtenção do IVG, em cada caso específico (por cada UF). Em 

alguns casos o IVG foi de valor intermediário (a amplitude numérica possível é de zero a um; quanto 

 

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maior o número, maior a vulnerabilidade) por causa de apenas um componente (ex. alta  incidência 

destas  endemias).  Entretanto,  os  valores mais  altos  do  IVG  (correspondente  às  Regiões Norte  e, 

principalmente, o Nordeste) resultaram de uma combinação de baixos indicadores socioeconômicos; 

alta  prevalência  destas  endemias  e  alta  incidência  de  eventos  climáticos  extremos  (ex.  secas 

periódicas no semi‐árido).  

Estes  indicadores  foram  aplicados  para  os  Estados  brasileiros, mas,  com  as  devidas  adaptações, 

também podem ser utilizados para unidades geográficas menores, como os municípios.  

 

Diagnóstico: clima e saúde no Município do Rio de Janeiro  

A análise da vulnerabilidade do município do Rio de Janeiro será realizada enfocando cinco aspectos 

principais:  

Inundações e surtos de leptospirose 

Precipitação pluviométrica e acidentes 

Sazonalidade da febre do dengue 

Indicadores de vulnerabilidade e adaptação 

Aumento do nível do mar 

 

Epidemias de Leptospirose  

A  leptospirose é uma doença  transmissível, de caráter grave, cujo agente causador  (bactéria) vive, 

sem  causar  danos,  no  organismo  de  vários  animais  vertebrados.  Dentre  estes,  estão  roedores 

sinantrópicos  (Rattus sp), que são os principais reservatórios para as  infecções humanas  (ratazanas 

de  esgoto).  O  homem  entra  em  contato  com  este  agente  infeccioso  geralmente  pela  água  de 

inundações, quando  invade domicílios, e  são contaminados pela urina de  roedores. As populações 

destes animais são mais abundantes em áreas com saneamento deficiente, principalmente a coleta 

do  lixo.  No  município  do  Rio  de  Janeiro  tem  ocorrido,  frequentemente,  casos  de  leptospirose, 

especialmente na época mais chuvosa do ano. A Tabela 1 mostra os casos anuais desta doença, e os 

óbitos correspondentes, no período 1996‐2009, segundo a Secretaria Municipal de Saúde do Rio de 

Janeiro.  

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 MEGACIDADES, VULNERABILIDADES E MUDANÇAS CLIMÁTICAS: REGIÃO METROPOLITANA DO RIO DE JANEIRO |  210 

 

Tabela 1 – Casos e Óbitos de Leptospirose no Município do Rio de Janeiro – 1996 a 2009 

Anos  Casos  Óbitos 

1996  1790  49 

1997  124  24 

1998  272  28 

1999  100  10 

2000  86  17 

2001  88  20 

2002  98  14 

2003  117  24 

2004  92  25 

2005  106  19 

2006  103  18 

2007  87  12 

2008  70  11 

2009  86  14 

Fonte: Secretaria Municipal de Saúde e Defesa Civil do Rio de Janeiro 

 

Outra estatística mostra que, no período de 1975 a 2009, ocorreram no Rio de Janeiro, 4886 casos da 

doença.  Foram  registrados,  neste  período,  duas  grandes  epidemias  de  verão:  em  1988,  com  536 

casos  e  em  1996,  com  1790  casos  e  49  óbitos.  Este  último  evento,  cujos  casos  se  concentraram 

principalmente  na  Baixada  de  Jacarepaguá,  pode  ser  considerado  uma  das maiores  epidemias  já 

registradas no mundo, com quase 2 mil casos ocorridos em um período de menos de três meses.  

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 MEGACIDADES, VULNERABILIDADES E MUDANÇAS CLIMÁTICAS: REGIÃO METROPOLITANA DO RIO DE JANEIRO |  211 

 

A existência desta situação, no município do Rio de Janeiro, assim como na Região Metropolitana do 

Rio de Janeiro ‐ RMRJ (Tabela2), confere aos municípios que compõem esta região incluindo o Rio de 

Janeiro uma  vulnerabilidade  importante, no que diz  respeito aos efeitos de eventos  climáticos na 

saúde. Um modelo  regionalizado de mudança  climática para o Brasil, desenvolvido  recentemente 

(Marengo  et  al,  2007),  aponta  para  uma  provável  ocorrência  aumentada  de  eventos  climáticos 

extremos nas Regiões Sul e Sudeste do país. Este é mais um elemento a ser considerado na análise 

de riscos para a saúde, advindos do processo de mudança global do clima, com efeitos no município 

do Rio de Janeiro e demais da RMRJ. 

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 MEGACIDADES, VULNERABILIDADES E MUDANÇAS CLIMÁTICAS: REGIÃO METROPOLITANA DO RIO DE JANEIRO |  212 

 

Tabela 2 ‐ Casos de Leptospirose  por municípios da Região Metropolitana do Rio de Janeiro  

Período 1997 a junho de 2009 

Municipio_Res  1995  1996  1997  1998  1999  2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007  2008  2009*  Total

Belford Roxo  1  2  16  2  11  3 7 7 16 21 10 10 11  2  4  123

Duque de 

Caxias  7  23  25  17  23  24 15 19 26 17 8 12 16  6  11  249

Guapimirim     2     1  1        1   1            6

Itaboraí     3  1  4       2 2 4 4 6 5 4  5  4  44

Itaguaí     7     1     1     1 1     2  1  1  15

Japeri  5     3  1  1  2 3   3 1   1    1     21

Magé        4  6  2  1   2 2 4 2 3 1  2  1  30

Maricá     1  1  1  5  6 6 1   1   1 4  8  1  36

Mesquita                  2     4     3     1  10

Nilópolis 2     3  1  2      1 2          1  1  13

Niterói  6     4  11  5  5 4 4 9 15 30 22 19  21  14  169

Nova Iguaçu  9  3  10  6  5  21 46 17 12 19 8 13 8  11  7  195

Paracambi        1                1              2

Queimados    2  2        3 2 1   2 1 6 1        20

São Gonçalo  14  5  15  47  19  21 28 15 20 34 72 55 21  25  9  400

S.João de 

Meriti  1  2  8  2  10  3 4 14 8 9 6 4 3  3  5  82

Tanguá           4               1      2     7

*Dados até junho de 2009 

Fonte: SESDC/RJ – Vigilância Epidemiológica 

 

Precipitação Pluviométrica e Acidentes  

As chuvas intensas de verão, frequentemente seguidas de inundações têm provocado, no município 

do Rio de Janeiro, acidentes com fatalidades, através de vários mecanismos:  

•  Deslizamentos  de  encostas,  soterrando  casas,  geralmente  em  áreas  de  ocupação  irregular 

(mecanismo mais frequente).  

• Queda de árvores e de outras estruturas, pela ação de vento e chuva.  

• Afogamentos, especialmente em estruturas de drenagem pluvial (canais, bueiros, etc.).  

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• Eletrocussão, pela queda de cabos de energia, em áreas alagadas.  

• Acidentes de trânsito, facilitados pelas pistas molhadas e a má visibilidade.  

Um levantamento feito na Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca (ENSP /FIOCRUZ), há cerca 

de uma década, como parte de um projeto de pesquisa, apontou, para o período de 1966 – 1996, a 

ocorrência de pelo menos 514 óbitos no município, como decorrência de tempestades e inundações. 

Este  estudo  utilizou  como  fontes  de  dados,  relatórios  técnicos  de  governos  estadual  e municipal 

(especialmente da Defesa Civil) e algumas publicações científicas, complementadas com notícias dos 

principais veículos da imprensa escrita.  

Estes eventos de morbidade e mortalidade continuam ocorrendo não só no Rio de Janeiro, como em 

vários  outros  municípios  de  diversas  regiões  do  país  (conforme  se  pode  observar  no  início  do 

corrente ano) dada à persistência de uma  situação de vulnerabilidade, que pode  ser  resumida no 

diagrama a seguir Figura 8.  

 

Figura 8: Vulnerabilidade social as tempestades e inundações no município do Rio de Janeiro. 

 

Há cerca de quinze anos a Fundação Geo‐Rio estabeleceu um sistema de medição de precipitação em 

tempo  real,  em  encostas  de morros  habitados,  com  o  fim  de  emitir  boletins  de  alerta  precoce, 

visando  proteger  a  integridade  das  populações  que  habitam  estas  áreas  vulneráveis  (Figura  9). 

Entretanto,  resta  ser  feita  uma  avaliação  da  eficácia  deste  sistema  de  alerta  em  seu  objetivo  de 

 

 MEGACIDADES, VULNERABILIDADES E MUDANÇAS CLIMÁTICAS: REGIÃO METROPOLITANA DO RIO DE JANEIRO |  213 

 

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remover, temporariamente, estas populações vulneráveis aos deslizamentos, em  função de  fatores 

prevalentes nestas comunidades, principalmente a violência. 

 

Figura 9: Sistema de alerta precoce para tempestades no Município do Rio de Janeiro. Sazonalidade do Dengue  

 

A febre do dengue foi introduzida no Rio de Janeiro em 1986 e, desde então, se constitui a principal 

endemia  infecciosa  prevalente  na  cidade.  É  transmitida  pelo  mosquito  Stegomyia  aegypti,  que 

prolifera em pequenas coleções de água,  inclusive aquelas produzidas pela chuva. A ocorrência de 

casos no município  tem sofrido variações grandes, principalmente a cada evento de  introdução de 

um novo sorotipo de vírus. Os anos de 1991, 2002 e 2008 ficaram registrados como os de ocorrências 

das  maiores  epidemias  na  cidade,  em  tempos  recentes.  Há  um  incremento  sazonal  natural  no 

número de  casos nos períodos de  verão,  em  função das  temperaturas  altas  e maior  precipitação 

favorecendo o ciclo evolutivo da espécie de mosquito que transmite o vírus do dengue (vetores). No 

verão há,  também, uma maior exposição da população aos ataques do vetor, em  função das altas 

temperaturas estimularem o trânsito fora dos domicílios e a utilização de menos roupa protetora.  

Recentemente  foi  desenvolvido  um  estudo  comparativo  sobre  as  relações  entre  precipitação 

pluviométrica e a incidência da febre do dengue em seis cidades brasileiras, inclusive o Rio de Janeiro 

(Rodriguez, 2005).  

Os casos de dengue no Município do Rio de Janeiro, para o período 1986‐ 2004 estão na Tabela 3. 

 

 MEGACIDADES, VULNERABILIDADES E MUDANÇAS CLIMÁTICAS: REGIÃO METROPOLITANA DO RIO DE JANEIRO |  214 

 

Page 16: VULNERABILIDADES SÓCIO ECONÔMICAS · dos quais os processos climáticos podem afetar a saúde da população, a saber (Fig. 1): ... Efeitos sobre o meio ambiente que alteram fatores

 

 MEGACIDADES, VULNERABILIDADES E MUDANÇAS CLIMÁTICAS: REGIÃO METROPOLITANA DO RIO DE JANEIRO |  215 

 

Tabela 3 – Número de casos de Dengue no Município do Rio de Janeiro 

Anos   Jan   Fev   Mar   Abr  Mai  Jun  Jul  Ago  Set  Out  Nov   Dez   Total 

1986  0  0  0  535 4.927 3.781 1.378 406 163 41 78  1.171  12.480

1987  4.848  9.860  11.513  6.596 2.934 1.049 286 36 15 14 31  33  37.215

1988  43  24  18  15 31 13 25 27 42 1 2  6  247

1989  19  3  55  134 101 52 37 9 9 9 4  4  436

1990  26  27  48  577 1.305 1.543 1.017 383 208 167 1.623  4.144  11.068

1991  20.328  12.099  9.414  6.525 2.156 918 220 88 85 114 117  167  52.231

1992  268  201  138  63 51 24 35 27 24 40 72  42  985

1993  36  19  86  23 12 4 1 8 11 7 9  11  227

1994  7  2  4  7 5 9 28 14 15 11 13  38  153

1995  469  5.344  8.945  3.962 1.186 321 182 74 46 61 105  115  20.810

1996  165  173  748  1.508 667 213 61 81 191 44 49  220  4.120

1997  144  220  233  156 76 52 33 24 23 18 26  22  1.027

1998  118  134  2.493  7.181 2.626 576 134 75 46 31 56  74  13.544

1999  74  142  705  1.571 876 264 141 82 52 46 41  47  4.041

2000  129  130  274  517 697 274 95 37 29 27 28  40  2.277

2001  521  1.218  2.327  6.937 7.467 3.689 1.172 508 307 467 529  2.523  27.665

2002  29.347  43.215  54.197  10.287 1.440 202 96 82 55 183 684  620  140.408

2003  350  351  241  101 50 31 27 13 28 57 210  148  1.607

2004  95  70  59  29 14 10 5 18 16 27 77  52  472

2005  62  61  32  41 29 31 35 59 45 67 109  412  983

2006  1.968  3.001  3.731  2.593 1.376 393 153 160 85 130 143  339  14.072

2007  1.378  2.096  4.041  5.443 3.290 1.615 1.126 577 419 774 1.485  1.993  24.237

2008  12.013  15.952  48.278  40.473 7.606 1.257 476 231 217 298 538  749  128.088

2009  998  1.099  662  323 166 89 83 20 25 35 117  199  3.816

Fonte: Secretaria Municipal de Saúde do Rio de Janeiro. 

 

Observa‐se  empiricamente,  pela  inspeção  dos  dados,  uma  ocorrência  concentrada  nos  meses 

chuvosos (dezembro a abril). Estudos analíticos confirmaram que a taxa de incidência de dengue no 

município  do  Rio  de  Janeiro  (1986‐2004)  estava  relacionada  com  seis  variáveis  climáticas 

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 MEGACIDADES, VULNERABILIDADES E MUDANÇAS CLIMÁTICAS: REGIÃO METROPOLITANA DO RIO DE JANEIRO |  216 

 

selecionadas  (temperaturas  máxima  e  mínima;  precipitação  total;  número  de  dias  com  chuvas; 

umidade relativa e pressão atmosférica), para análise mensal (Rodriguez, loc. cit.).  

A  literatura  epidemiológica  contém  vários  estudos,  realizados  em  diferentes  partes  do  mundo, 

demonstrando a influência da variabilidade climática na dinâmica de ocorrência de dengue.  

Muito embora haja condicionantes múltiplos para a ocorrência da febre do dengue, na população do 

município do Rio de Janeiro (que incluem problemas da habitação, urbanização e saneamento) deve‐

se destacar o papel da chuva como propiciadora de acúmulos de água, necessária para a proliferação 

dos  vetores.  As  temperaturas mais  altas  também  são  importantes  na  aceleração  dos  ciclos  dos 

mosquitos transmissores.  

Quando cenários climáticos forem aperfeiçoados para menores escalas espaciais, e para períodos de 

tempos não  tão distantes – próximos 20 – 30 anos – pode‐se afirmar,  com maior  segurança, que 

possíveis  influências terão as manifestações da mudança climática global, sobre o município do Rio 

de  Janeiro, na dinâmica do dengue  (os modelos atuais projetam, em escalas maiores,  cenários de 

clima apenas para o ano 2090).  

O mesmo se aplica para a Região Metropolitana do Rio de Janeiro – RMRJ conforme se observa da 

Tabela  4.  Na  RMRJ  observam‐se  os municípios  de  Niterói  Duque  de  Caxias,  Nova  Iguaçu  e  São 

Gonçalo com valores expressivos de número de casos o que mostra a relevância de se monitorar de 

forma sistemática o dengue em toda a Região Metropolitana.  

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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 MEGACIDADES, VULNERABILIDADES E MUDANÇAS CLIMÁTICAS: REGIÃO METROPOLITANA DO RIO DE JANEIRO |  217 

 

Tabela 4 ‐ Casos de Dengue ‐ Por municípios da Região Metropolitana do Rio de Janeiro 

Período 1997 a junho de 2009 

Município_Res  1997  1998  1999  2000  2001  2002  2003  2004 2005 2006  2007  2008  2009*  Total 

Belford Roxo  130  508  81  43  1.033  3.713  61  36  27  308  938  7.625  185  14.688

Duque de Caxias  156  836  215  210  2.729  16.461  287  64  29  326  877  15.600  320  38.110

Guapimirim  2  9     1  27  254  13  3  5  20  144  270  11  759 

Itaboraí  2  119  7  56  1.500  6.388  297  18  67  576  1.327  3.477  708  14.542

Itaguaí  14  80  2  14  1.213  1.787  26  2  9  138  521  2.361  62  6.229 

Japeri  9  98  8  1  683  1.138  31  3  1  37  34  960  16  3.019 

Magé  2  28  2  19  696  8.331  195  54  19  348  1.352  3.560  361  14.967

Maricá  2  56  30  19  473  3.056  43  9  21  59  1.018  1.777  147  6.710 

Mesquita           0  548  2.055  92  27  21  118  267  1.892  195  5.215 

Nilópolis  13  26  4  11  97  368  12  7  7  44  90  1.719  30  2.428 

Niterói  411  3.733  259  236  13.235  21.082  576  314  281  951  7.699  7.703  827  57.307

Nova Iguaçu  11  100  18  733  5.428  9.738  304  175  81  668  1.824  18.466  458  38.004

Paracambi  3  8  14  15  619  871  24  21  3  205  338  958  28  3.107 

Queimados  31  12  8  12  715  533  20  7  4  45  91  837  14  2.329 

São Gonçalo  75  2.018  82  72  5.271  12.660  212  157  122  507  3.178  2.885  219  27.458

São João de Meriti  41  87  356  51  1.165  3.694  154  82  67  332  505  7.305  351  14.190

Tanguá     35     5  142  1.362  63  13  22  26  181  411  116  2.376 

*Dados até junho de 2009 

Fonte: SESDC/RJ – Vigilância Epidemiológica 

 

Aumento do nível do mar (ANM) 

Um dos processos associados à mudança climática global é o projetado aumento do nível do mar, de 

magnitude variável de acordo com os diferentes cenários de emissões de gases estufa. Os possíveis 

efeitos na saúde, por conta da elevação do nível do mar, são todos indiretos, em virtude de ser este 

um processo progressivo e de desenvolvimento lento (ao longo das décadas).  

 

 

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Prognósticos  

A ocorrência, historicamente, de agravos à saúde da população humana na cidade do Rio de Janeiro, 

determinados pela exposição aos eventos climáticos, aponta para a existência de uma situação de 

vulnerabilidade que precisa ser modificada.  

Por ora, o que pode ser dito é que se o aquecimento global estender as condições de temperatura e 

umidade típicos de verão, para o período de outono, há a possibilidade de aumento do número de 

dias e meses, por ano, mais favoráveis à ocorrência desta virose de dengue  

Em  relação a  impactos  futuros da mudança  climática na  saúde, em  todo o mundo, espera‐se que 

estes fenômenos venham a significar um estresse adicional sobre situações‐problema  já existentes, 

podendo  aumentar  a  sua  intensidade  (ex.  frequência da ocorrência; número de pessoas  afetadas 

etc),  gravidade, duração ou  ampliar  a  sua distribuição no espaço  geográfico. Assim  sendo, para o 

município do Rio de Janeiro pode‐se esperar impactos adicionais em relação aos seguintes agravos:  

Epidemias de leptospirose e dengue.  

Acidentes por eventos climáticos extremos (tempestades e inundações).  

Estresse pós‐traumático devido a eventos extremos.  

Excessiva  demanda  sobre  serviços  de  saúde,  determinadas  por  migrantes  (“refugiados 

ambientais”).  

Possível aumento de distúrbios respiratórios pela maior concentração de poluentes atmosféricos, 

principalmente o ozônio, cuja formação é catalisada pela temperatura do ar.  

As  possíveis  consequências  para  a  saúde  pública  em  decorrência  ANM  se  dariam  através  dos 

seguintes mecanismos principais:  

Salinização de depósitos naturais de água no solo, com perda da qualidade para consumo trazendo 

problemas para o abastecimento.  

Redução na produção de alimentos em zonas agricultáveis costeiras, com aumento na insegurança 

alimentar.  

Danos à infra‐estrutura de saneamento, como tubulações de esgotamento sanitário, resultando em 

contaminação ambiental.  

Estresse pós‐traumático, por perda de patrimônio (ex.: casos afetados por erosão costeira).  

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De um modo geral, espera‐se um maior impacto, na saúde, do aumento do nível do mar (ANM), nas 

seguintes situações:  

Aumento do nível do mar atingindo áreas costeiras baixas e mais populosas.  

Aumentos de maior magnitude e/ou ocorrendo em espaço de tempo menor do que o previsto.  

Para  o  Rio  de  Janeiro  pode‐se  dizer  que  em  função  dos  antecedentes  históricos  de  riscos  já 

observados  (e  comentados  anteriormente),  o  ANM  constitui‐se  um  fator  de  perigo  de  ordem 

secundária, em relação aos demais, já que medidas adaptativas protetoras podem ser tomadas com 

a devida antecedência.  

Outro aspecto a ser considerado, na discussão da vulnerabilidade da cidade do Rio de  Janeiro aos 

efeitos das mudanças climáticas diz respeito à possibilidade da cidade servir como pólo de atração de 

refugiados ambientais de outras  regiões do país. Os modelos  regionais de clima apontam para um 

cenário de aumento de temperatura e redução da precipitação nas regiões Norte e Nordeste do país. 

No caso desta última, deverá ocorrer uma piora da situação de aridez, com extrema dificuldade no 

acesso  à  água  e  redução  na  produção  de  alimentos,  afetando milhões  de  pessoas  no  interior  da 

região. Este processo poderá desencadear migrações e  intra e  inter‐regionais, com  repercussões à 

distância,  ou  seja,  em  pólos  urbanos  de  outras  regiões,  principalmente  aqueles  que  têm, 

historicamente,  recebidos  migrantes  do  nordeste.  Uma  movimentação  maciça  de  população 

refugiada  trará  consequências  de  várias  ordens,  principalmente  à  introdução  de  novos  casos  de 

doenças infecciosas endêmicas crônicas (esquistossomose; leishmaniose visceral; doença de chagas); 

uma sobrecarga de demanda sobre serviços (inclusive de saúde), assim como questões de segurança.  

Há  necessidade  de  se modificar  condicionantes  estruturais  da  vulnerabilidade  da  população  aos 

impactos do clima na saúde, a saber:  

Habitações em áreas de risco (encostas de morros e baixadas).  

Deficiências na infra‐estrutura básica de saneamento.  

Exposição a altos níveis de violência social.  

Circulação,  de  forma  endêmico‐epidêmica,  de  patógenos  cuja  transmissão  é  influenciada  pelo 

clima.  

Desenvolvimento,  aperfeiçoamento e  avaliação da eficácia de  sistemas de  alerta precoce  contra 

eventos climáticos extremos.  

 

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Recomendações  

Ainda como recomendações gerais importantes, no âmbito dos impactos de mudanças climáticas na 

saúde,  e  visando  facilitar  o  processo  de  adaptação  a  estas  mudanças,  têm‐se  os  seguintes 

(Confalonieri et al, 2005):  

Aplicar  e  adaptar  a  atual metodologia  usada  para  a  caracterização  da  vulnerabilidade  social  aos 

impactos do clima,  levando‐se em conta a situação específica do estado e do município do Rio de 

Janeiro.  

Desenvolver  um  sistema  integrado  de  informações  de  morbidade  e  mortalidade  resultante  de 

eventos  climáticos  extremos,  a  níveis  municipal  e  estadual,  no  Rio  de  Janeiro,  incluindo  as 

respectivas  secretarias  de  saúde  e  defesa  civil  e  a  secretaria  de  segurança  pública.  Tal  sistema 

permitiria uma fácil caracterização das vítimas de deslizamentos de encostas e de  inundações, seus 

agravos específicos, suas causas imediatas e consequências.  

Aperfeiçoamento  dos  programas  de  controle  de  endemias  e  seus  vetores  (mosquitos;  roedores), 

principalmente daquelas sensíveis às variações do clima  (no Rio de  Janeiro,  leptospirose e dengue, 

principalmente).  

Esclarecimento da opinião pública em geral, sobre o processo de mudança climática e suas possíveis 

consequências e riscos para a saúde da população do Rio de Janeiro, baseada em estudos e modelos 

confiáveis, para evitar a frequente desinformação que ocorre nesta área.  

Instalação  de  esquemas  direcionados  de  vigilância  ambiental,  epidemiológica  e  entomológica  em 

localidades  e  para  situações  selecionadas,  visando‐se  a  detecção  precoce  de  sinais  de  efeitos 

biológicos da mudança do clima (ex. em populações de vetores etc.).  

Estímulo à realização de estudos científicos e avaliações técnicas, em nível  local,  integrando o setor 

saúde com outros (habitação; urbanização; demografia; climatologia; qualidade do ar etc), visando à 

construção de cenários urbanos para as próximas décadas.  

 

Monitoramento e estudos 

Ao  longo  deste  capítulo  pode‐se  perceber  que  ineficiências  na  infraestrutura  habitacional  e  de 

transporte, nos serviços de saneamento, educação e médico‐hospitalar são determinantes históricos 

de danos a saúde humana na cidade do Rio de  Janeiro. Adicionalmente, o sistema de governança, 

inadequado às necessidades e  realidade da  sociedade  local, contribuiu para agravar a violência na 

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cidade,  resultando  em  graves  consequências  para  a  qualidade  de  vida  de  sua  população.  O 

Planejamento Estratégico (2009‐12) estabelecido para a cidade pretende reverter esta situação. Caso 

medidas de prevenção não sejam adotadas, o advento das mudanças climáticas deverá exacerbar os 

efeitos sobre a saúde humana e os serviços médicos em grandes cidades. O custo de estabilizar o 

clima  é  significativo, mas  controlável.  A  demora  pode  ser  danosa  e mais  cara  (Stern,  2006)  nos 

aspectos de saúde, econômico, social e ambiental.  

A adoção de estratégias conjuntas de mitigação e adaptação a mudança do clima, que  reduzem a 

poluição atmosférica, do aquífero e do solo da cidade podem contribuir para a redução nos impactos 

da saúde de seus cidadãos (BARATA & LIGETI et al, 2011). Exigências de construções de habitações 

que possibilitem maior ventilação e  iluminação natural, de sistema de transporte menos poluentes, 

mais  eficientes  em  tempo  de  deslocamento    e  que  atendam  simultaneamente  a maior  número 

pessoas, são alguns dos exemplos de medidas que possibilitarão as redução das emissões de GEE de 

a melhoria da qualidade de vida da cidade do RJ. Entretanto, estratégias de mitigação, adaptação e 

saúde nem sempre coincidem claramente e estes objetivos necessitam ser examinhado na ocasião 

da proposição da política publica. Há necessidade de integrar as ações. Exemplificando, se as pessoas 

forem  tranquilizadas pela  introdução de sistema de alerta precoce para se precaverem de eventos 

climáticos  extremos,    e  não  receberem  a  devida  informação  sobre  a  melhor  forma  para  se 

prevenirem de doenças provocadas por precipitações e pequenas enchentes, poderão permanecer 

com sensação de segurança em suas residencias, sem procurar conhecer e evitar  todos os riscos a 

que estará submetida   Falta de  informação adequada é uma das relevantes barreiras para a efetiva 

resposta a mudança do clima.  

Para que as ações de adaptação possam ser efetivamente  implementadas, face aos novos cenários 

climáticos,  é  imperativo  que  o  conhecimento  científico  a  respeito  dos  impactos  das  mudanças 

climáticas sobre a saúde da população da cidade seja ampliado de imediato.  

Nesse sentido, as principais medidas recomendáveis para o monitoramento e avaliação dos efeitos 

das mudanças climáticas sobre a saúde na RMRJ dizem respeito a: 

Aumento  do  conhecimento  científico  que  possibilite  avaliar  os  efeitos  na  saúde  humana  de 

variabilidade  climática atual e de efeitos esperados, em  face de,  cenários  futuros de mudança do 

clima. Para tanto é necessário: 

Implementar  estudo  que  associe  efeito  da  variabilidade  climática,  na  poluição  atmosférica  e  na 

frequência  de  atendimentos  hospitalares  e  ambulatórias  por  asma  e  doença  pulmonar  obstrutiva 

crônica; 

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Implementar  estudo  que  associe  efeito  da  variabilidade  climática  na  frequência  a  atendimento 

hospitalar e ambulatorial provocadas por veiculação hídrica; 

Implementar estudo que  associe efeito da  variabilidade  climática na  a atendimento hospitalar e 

ambulatorial de doenças provocadas por vetores; 

Implementar  estudos  que  avaliem  os  demais  determinantes  que  também  contribuem  para  a 

variação na frequência dos atendimentos ambulatoriais e hospitalares.  

Estabelecer registro que identifique o perfil socioeconômico e de saúde das pessoas que adquirem 

as doenças listadas nos itens a, b e c de modo a possibilitar avaliar o seu custo social. 

Consolidação  de  infraestrutura  compartilhada  de  dados  para  o  desenvolvimento  de  análises  de 

modelagem preditiva e monitoramento do efeito na saúde em articulação com  iniciativas similares 

em nível nacional e mundial. 

Aumento  do  conhecimento  científico  que  possibilite  avaliar  os  efeitos  das  diferentes  Políticas 

Setoriais na saúde humana considerando o risco climático futuro. Para tanto é necessário: 

Implantar pesquisa para  avaliação  econômica do  custo  e benefício  social,  considerando  a  saúde 

humana, das políticas e medidas a elas associadas para mitigação e adaptação a risco climático. 

Estudo da  influência de diferentes materiais,  tecnologias e ações definidas para as dez áreas de 

resultado: ambiente, educação, transporte, infraestrutura, etc. exercem sobre a saúde da população 

da cidade. 

Avaliação de como os resultados definidos em b podem impactar / ser impactados frente a cenários 

climáticos.  

Articular o conhecimento adquirido sobre a  influência das mudanças climáticas na saúde humana 

da  população  da  cidade  às  iniciativas  governamentais  relacionadas  à  redefinição  das  áreas 

prioritárias para o aumento da qualidade de vida do cidadão carioca. 

Implantar  sistema  de  indicadores  que  associem  a  influência  geográfica,  social,  econômica, 

ambiental e política na saúde da população considerando os riscos climáticos. 

Conhecimento e propostas para redução de risco aos Eventos Climáticos Extremos 

Avaliar  a  efetividade,  considerando  redução  de mortalidade  e morbidade,  do  sistema  de  alerta 

precoce para eventos hidrometeorológicos extremos, instalado pelo governo do município do Rio de 

Janeiro. 

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Fortalecimento da Governança regional 

Avaliar, periodicamente, o desempenho da governança dos municípios da Região Metropolitana do 

Rio de Janeiro. 

Avaliar,  periodicamente,  a  efetividade  da  comunicação  entre  pesquisa,  governos,  empresa  e 

população em geral. 

 

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