Walter Graziano - Hitler Ganhou a Guerra

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Hitler ganhou a guerra Walter Graziano

Traduo: Eduardo Fava Rubio

So Paulo - 2005 1a edio

Hitler gan la guerra Walter Graziano (c)WALTER GRAZIANO, 2004 (c)EDITORIAL SUD AMERICANA S.A., 2004 Preparao: Carlos Donato Petrolini Jnior Reviso: Maria Renata de Seixas Brito Capa: Victory Design - [email protected] Ficha Catalogrfica Graziano, Walter G785h Hitler ganhou a guerra. / Walter Graziano; traduo de Eduardo Fava Rubio. -- So Paulo: Editora Palndromo, 2005 Traduo de: Hitler gan la guerra. ISBN: 85-98817-05-8 1. Estados Unidos: Relaes exteriores: Sculo XX 2. Estados Unidos: Poltica externa: Sculo XX 1. Ttulo. II. Rubio, Eduardo Fava. CDD 973.09 ndices para catlogo sistemtico 1. Estados Unidos : Relaes exteriores : Sculo XX 973.09 2. Estados Unidos : Poltica externa : Sculo XX 973.09 3. Estados Unidos : Poltica externa : Cincia poltica 327.973 4. Estados Unidos : Relaes exteriores : Cincia poltica 327.973 5. Estados Unidos : Relaes internacionais : Cincia poltica : 327.973

Aos que acordarem

No importa que nos odeiem, desde que na mesma medida nos temam. CALGULA

Orelha Esquerda do livro Quem acha que muitos dos enormes problemas do mundo comeariam a ser solucionados se se substitusse o presidente dos Estados Unidos se equivoca gravemente. O presi dente atual no nada mais do que a "ponta do iceberg" de uma complicada estrutura de poder, urdida cuidadosamente e durante muito tempo por uma reduzida elite de cls familiares muito ricos, os verdadeiros proprietrios sombra do petrleo, dos banc os, dos laboratrios, das empresas de armas, das universidades e dos meios de comu nicao do mundo, entre outros setores. Trata-se nada menos daqueles que, antes que se iniciasse e durante a Segunda Gue rra Mundial, financiaram Hitler para que este tomasse o poder e se armasse, daqu eles que forneceram as matrias bsicas ao Terceiro Reich, fomentaram o iderio racist a do Fuhrer e levantaram o aparato nazista na Alemanha. Neste livro, o leitor poder compreender como essa poderosa elite, em cujo ncleo se escondem antigas sociedades secretas, faz, h muitssimos anos, verdadeiras marione tes dos presidentes dos Estados Unidos e corrompe, at os alicerces, a prpria base do partido republicano e do partido democrata. Tambm ver como manipula as democrac ias do mundo, utiliza as principais universidades norte-americanas e seus intele ctuais, gerando a iluso de progresso cientfico atravs de pura ideologia falsa, e ma nipula os meios de comunicao para que as massas e as classes mdias no se dem conta do que realmente est acontecendo. Sob esta nova luz, inclusive os atentados de 11 d e setembro de 2001 adquirem uma leitura diferente. Orelha Direita do livro Walter Graziano nasceu em 1960 na Argentina. Graduou-se em Economia na Universid ade de Buenos Aires. At 1988 foi funcionrio do Banco Central do seu pas e recebeu b olsas de estudo do governo italiano e do Fundo Monetrio Internacional para estuda r em Npoles e em Washington DC. Desde 1988 colaborou com meios impressos e audiov isuais argentinos de forma simultnea sua profisso de consultor econmico. Em 1990, p ublicou a Histria de duas hiperinflaes e, em 2001, As sete pragas da Argentina, liv ro que prenunciou a derrocada econmica e poltica do seu pas. Desde 2001, Graziano t em-se dedicado em tempo integral aos assuntos desta obra, aos seus antecedentes histricos e s suas questes colaterais.

PRLOGO

Nem bem comecei a realizar as pesquisas preliminares para escrever este livro, j me dei conta de que a vastido do tema me impunha a necessidade de encontrar colab oradores. Portanto, decidi contratar estudantes e graduados da rea de humanidades . Uma das primeiras pessoas que apareceram para as entrevistas de trabalho era uma bacharela em Histria, recm-graduada, com excelentes qualificaes. Atravs do dilogo in cial, pude entrever a slida formao acadmica e cultural que possua para o trabalho. Tr atava-se, alm disso, de uma pessoa com outras qualidades: inteligncia e sagacidade . Resolvi, ento, fazer com ela a verdadeira prova de fogo: dei-lhe uma informao das m uitas que o leitor vai encontrar neste livro. A recm-graduada comeou a l-la em silnc io. Enquanto isso, eu a observava e via como ia ficando vermelha e como seus olh os iam se revirando, no sei se de fria ou de incredulidade. Quando terminou a leit ura do texto, ela olhou para mim. Com a voz entrecortada, um pouco enjoada, defe ndeu o que at aquele momento considerava um saber pouco menos do que inexpugnvel: "A histria no deve ser escrita seno muito tempo depois de que tenham ocorrido os fa tos", disse com o tom de uma lio aprendida de memria. Optei, ento, por dar-lhe mais informao, mais abundante em dados. Dessa vez, ela fic ou plida. Ensaiou uma resposta menos estruturada, mas ainda se defendia do que be m podia considerar to horroroso como incongruente com respeito ao que lhe haviam ensinado por anos e anos. Diante de tal defesa frgil, decidi apresentar-lhe mais material. Rendeu-se e s disse: "Se isso verdade, j no sei o que pensar". Expliquei-lhe, ento, que o conceito de que era necessrio deixar passar bastante te mpo antes de escrever a Histria era aplicvel poca em que a tecnologia tornava impos svel escrev-la com uma boa dose de rapidez e exatido. Obviamente, Herdoto teve que l evar muito tempo para juntar o material para a sua obra. E no de se esperar que S uetnio tivesse ao alcance da mo as informaes para escrever a vida de doze csares. Mas , j em nossos dias, algo tinha comeado a mudar: Arnold Toynbee e Paul Johnson esta vam escrevendo Histria (possivelmente muito enviesada, mas uma verso da Histria, em todo o caso) de forma quase simultnea aos acontecimentos. compreensvel: os meios de comunicao e o rpido acesso ao tipo de informao que eles fornecem tornam isso possv l. Com o rpido desenvolvimento da rede global, talvez em pouco tempo mais surjam os primeiros historiadores que possam escrever a Histria de forma simultnea prpria suc esso dos fatos considerados como histricos. E at mesmo provvel que apaream os primei os futurlogos realmente srios. Atravs da rede, pode-se acessar com baixo custo e se m demora qualquer tipo de informao - de toda ndole - que qualquer indivduo do mundo tenha desejado conseguir. Seja verdadeira ou falsa, trata-se de informao sem nenhu m tipo de censura direta ou indireta. Esta ltima pior ainda que a primeira, j que passa despercebida e exercida pelas linhas editoriais e estratgicas dos mega-meio s de comunicao. A rede no s possibilitou o livre acesso informao. Tambm permite comprar distncia uer livro editado em qualquer lugar do mundo, novo ou usado, e t-lo em casa em me nos de uma semana, sem desnecessrias demoras em perguntas por edies esgotadas em li vrarias fisicamente distantes entre si. Tambm permite o acesso a variados resumos de textos, de todas as tendncias, e inclusive a comentrios de leitores anteriores , que em boa medida podem ajudar a ganhar tempo. Como gosto sempre de repetir: o

tempo um bem ainda muito mais escasso que o dinheiro. O dinheiro pode ir e vir. O tempo, por outro lado, s vai... Graas rede, j esto aparecendo os primeiros historiadores on-line. Ainda que muito d a informao que surge possa ser falsa ou inexata, com freqncia menos assim que a que se publicou em muitssimos livros, ou que a que aparece diariamente nos mega-meios de comunicao. A vantagem que nos oferece a rede - seja porque nos prov informao dire tamente, seja porque nos permite um rpido acesso para localizar e comprar em pouc os segundos livros que nos poderiam custar anos para conseguir - a possibilidade de escrever sobre o presente e conhec-lo, com incontveis elementos adicionais de informao. possvel que isso provoque efeitos muito benficos dentro de pouco tempo mais. provve l ainda que as populaes de muitos pases se dem conta muito antes, enquanto esto em co ndies de fazer algo a respeito, de farsas de enganao coletiva, de psicopatas nos mai s altos cargos do poder, de ambiciosos planos de domnio global etc. Este livro no poderia ter sido realizado h cinqenta anos. Nem sequer h dez anos. A g arota graduada em Histria mencionada acima teria tido, nesse caso, razo. Mas hoje as coisas mudaram. Temos acesso a infinitos elementos adicionais de informao. Se no os usssemos por preconceitos ou devido a frases feitas do tipo "a histria necessi ta de muito tempo para ser escrita", estaramos fazendo o jogo dos personagens mai s obscuros: os que desejam que a realidade seja escrita da maneira que mais lhes convm. Muitas vezes, trata-se dos personagens com mais recursos para tentar "apa gar" da memria coletiva as informaes que possam chegar a compromet-los. Esse um velh o costume utilizado por tiranos de todas as pocas. Conta-se que os mais sanguinrio s imperadores romanos tinham historiadores oficiais. Estes escreviam loas a atro zes imperadores e sua ao de governo. S muitas dcadas mais tarde, quando todos os pro tagonistas j estavam mortos, Tcito e Suetnio puderam pr as coisas em seu lugar e col ocar personagens como Tibrio, Calgula e Nero na posio que mereciam: no panteo dos mai s sinistros e perversos imperadores de todos os tempos. No entanto, muitos dos c idados romanos contemporneos ao perodo morreram sem saber quanto de seus males, de suas misrias e at mesmo de suas prprias mortes dirias era devido aos prprios imperado res e ao seu sistema de censura e de manipulao da imprensa e da Histria. No prprio I mprio Romano, tardou-se mais de sessenta anos para que se conhecesse cabalmente q uem esses trs imperadores tinham sido. Que o mesmo no acontea conosco. Graas rede, isso agora possvel. Mas, para que nos l vremos do problema, depende de ns, de uma participao ativa. Nas prximas pginas, comea a ficar claro por qu.

1. NASH: A PONTA DO NOVELO

A guerra a paz. A liberdade a escravido. A ignorncia a fora. George Orwell.

Teoria e prtica do coletivismo oligrquico. Captulo 9. Parte 2. 1984.

Quem no acredita, sem quase nenhum questionamento, no velho ditado que afirma que "a Histria escrita pelos vencedores"? Mais ainda, costuma-se repetir essa frase o tempo todo. No entanto, em poucas ocasies se tem uma exata idia de at que nveis de profundidade isso pode chegar a ser verdade. Existe outra frase famosa, que tam bm faz parte do repertrio popular. Vale a pena colocar ambas em jogo dialtico. Trat a-se daquele velho ditado que assegura que "a realidade supera a fico". Se estamos de acordo que ambas as frases geralmente esto corretas, no nos resta alternativa alm de pensar que a Histria - por mais doloroso que isso possa ser - somente o que desejaramos que tivesse acontecido. Ou seja, algo distante do que realmente acon teceu. E, mais ainda, somente o que aqueles que a escreveram, ou a escrevem, des ejariam que tivesse acontecido, mediante a distoro de fatos ocorridos na realidade . Muitas vezes, para os vencedores necessrio interpretar de forma modificada os f atos, silenciar sobre as espinhosas questes ocorridas ou, inclusive, gerar a Histr ia a partir do nada. Precisamente por isso, bem possvel pensar, seguindo at as ltim as conseqncias o jogo dialtico dessas duas verdades populares, que, se algo no est es crito nos meios de comunicao de massa ou em abundante bibliografia e no faz parte d o "saber majoritrio", ento no ocorreu, no aconteceu, no verdade. A verso de um fato vulgada pelos meios de comunicao de massa precisamente o que se conhece como Histri a. Comecei a ter uma idia cabal de tudo isso por causa de um acontecimento trivial, casual, cotidiano, que foi ter ido ao cinema para ver um filme. O filme em questo era nada menos que Uma mente brilhante, a obra protagonizada por Russell Crowe, que ganhou o Oscar de melhor filme de 2001, em maro de 2002. Na realidade, trata -se de um duplo prmio, porque a histria narra a vida do matemtico John Nash, que em 1994 obteve o Prmio Nobel de Economia por suas descobertas a respeito da denomin ada "Teoria dos Jogos". Apesar de o filme ter caractersticas altamente emotivas, devido mescla de realida de e fantasia que o roteiro mostrava sobre a vida de Nash, um detalhe do mesmo no podia passar inadvertido por ns que exercemos a profisso de economistas. Trata-se somente de um detalhe, de um instante, de apenas um momento do filme em que o p rotagonista afirma que descobriu, literalmente, que Adam Smith - o pai da Econom ia - no tinha razo quando, em 1776, na sua obra A riqueza das naes, esboou a sua tese principal - e base de toda a teoria econmica moderna - de que o mximo nvel de bemestar social gerado quando cada indivduo, de forma egosta, persegue o seu bem-esta r individual e nada mais do que isso. Na cena seguinte do filme, o decano da Uni versidade de Princeton, Mr. Herlinger, observa atnito os desenvolvimentos matemtic os mediante os quais Nash expe esse raciocnio acerca de Adam Smith e declara que, com ele, mais de um sculo e meio de teoria econmica se desvanecia. Como economista, devia fazer-me uma pergunta: tratava-se de uma verdade ou de um a idia maluca do roteirista do filme? Comecei a investigar, e o melhor que se tra tava... de uma verdade. Pois bem, o que chama muito poderosamente a ateno que essa s expresses vertidas no filme tenham passado despercebidas para milhares e milhar es de economistas. Para o pblico comum, que no passou anos inteiros estudando Econ omia, pode no chamar a ateno e at mesmo parecer natural escutar que algum descobriu q ue Adam Smith no tinha razo na sua tese quanto panacia que significava o indivduo pa ra qualquer tipo de sociedade. Contudo, para um economista, no pode escapar, se e ste tem uma posio realmente cientfica, a real dimenso do que significaria a demolio d individualismo e da livre concorrncia como base central da teoria econmica. necessrio reforar que Nash descobre que uma sociedade maximiza seu nvel de bem-esta r quando cada um de seus indivduos age em favor do seu prprio bem-estar, mas sem p erder de vista tambm o dos demais integrantes do grupo. Ele demonstra como um com portamento puramente individualista pode produzir em uma sociedade uma espcie de "lei da selva" na qual todos os membros acabam por obter menor bem-estar do que poderiam. Com essas premissas, Nash aprofunda as descobertas da Teoria dos Jogos

, descoberta na dcada de 1930 por Von Neumann e Morgestern, gerando a possibilida de de mercados com mltiplos nveis de equilbrio segundo a atitude que tenham os dife rentes jogadores, segundo haja ou no uma autoridade externa ao jogo, segundo haja ou no cooperao entre os diferentes jogadores. Dessa maneira, Nash ajuda a gerar to do um aparato terico que descreve a realidade de forma mais acertada do que a teo ria econmica clssica e que tem usos mltiplos em economia, poltica, diplomacia e geop oltica, a tal ponto que pode explicar e incluir o mais sangrento de todos os jogo s: a guerra. Tudo isso pode parecer difcil de entender. Mas no . No fundo, se pensarmos bem, as descobertas de Nash implicam uma verdade indiscutvel. Por exemplo, tomemos o caso do futebol. Suponhamos uma equipe em que todos os seus jogadores tentem brilhar com luz prpria, jogar como atacantes e fazer o gol. Mais do que companheiros, se ro rivais entre si. Uma equipe com essas caractersticas ser presa fcil para qualquer outra que aplique uma mnima estratgia lgica: que os onze integrantes se ajudem ent re si para vencer o rival. Qual o leitor acha que vai ser a equipe ganhadora? Me smo que a primeira equipe tenha os melhores jogadores, provvel que naufrague e qu e, inclusive, at os membros da segunda equipe joguem, ou paream jogar, melhor indi vidualmente. isso, nem mais nem menos, o que Nash descobre, em contraposio a Adam Smith, que sugeriria que cada jogador "fizesse s o seu melhor". Apesar de tratar-se de um conceito muito bsico, em geral praticamente nada da Teo ria dos Jogos ensinado aos economistas, quase nada h escrito em outro idioma que no seja o ingls e, obviamente, o pouco que se ensina nos cursos de graduao e ps-gradu ao o feito sem que se formule o esclarecimento prvio de que, ao se trabalhar com a Teoria dos Jogos, se usa um instrumental mais sofisticado e mais prximo da realid ade do que com a teoria econmica clssica. A tal ponto chega essa distoro (cheguei a duvidar j no incio se no se tratava de uma manipulao), que se silencia que a grande t eoria de Smith fica, na realidade, anulada pela falsidade de sua hiptese bsica, co isa demonstrada por Nash. No curso de Economia, na Argentina e em uma vasta quantidade de pases, tanto nas universidades privadas como nas pblicas, continua-se ensinando desde o primeiro d ia at o ltimo que Adam Smith no s o pai da Economia, mas que, alm disso, estava cert quanto sua hiptese acerca do individualismo. Os argumentos que so utilizados para explicar que ele supostamente tinha razo baseiam-se geralmente em desenvolviment os tericos anteriores s descobertas de Nash e em certas evidncias empricas percebida s no sem uma alta dose de arbitrariedade. O resultado disso que se contamina a te oria econmica - que deveria constituir uma cincia - com uma viso ideolgica, o que in stitui nela exatamente o contrrio do que deveria ser uma cincia. Muitos dos profes sores que dia a dia ensinam Economia aos seus alunos nem sequer foram informados de que faz mais de meio sculo algum descobriu que o individualismo, longe de cond uzir ao melhor bem-estar de uma sociedade, pode produzir um grau menor, e muitas vezes sensivelmente menor, de bem-estar geral e individual do que aquele que se poderia conseguir atravs de outros mtodos de ajuda mtua. Como isso pode ser explicado ento? Como que viemos a saber, atravs de um filme, qu e o pressuposto bsico, fundamental, da cincia econmica uma hiptese incorreta? Pior a inda, as descobertas de Nash foram efetuadas no princpio da dcada de 1950, h mais d e meio sculo j, e foram feitas nada menos do que em Princeton, no em algum lugar is olado do planeta, sem conexes acadmicas com o resto dos economistas, dos professor es e dos profissionais da economia e das finanas, fatores que devem aumentar o gr au de surpresa. Qual o papel que poderamos esperar das mentes mais brilhantes de uma cincia, se, d e repente, algum descobre matematicamente que o prprio embasamento fundamental des sa cincia incorreto? Seria possvel supor que, em tal caso, todos teriam que frear os desenvolvimentos das teorias que vm sustentando ou gerando e das idias sobre as quais esto trabalhando, para comear a repensar as bases fundamentais da teoria, a dmitindo que, na realidade, se sabe muito menos do que se acreditava saber at o a parecimento da descoberta. Assim, teria incio um trabalho para dotar de novas bas es e novos fundamentos a cincia cuja premissa fundamental acaba de ruir. Essa ser ia a lgica, sobretudo se levarmos em conta que, no que diz respeito Economia, a r iqueza, o trabalho e a vida diria de milhes e milhes de pessoas so de fato alterados em funo das concluses de uma teoria, dos conselhos que a partir dela os economista

s podem dar e das medidas que finalmente so tomadas por governos e empresas. Os e feitos sobre a humanidade podem ser maiores do que no caso de outras cincias. Qua ndo so feitas recomendaes econmicas, atinge-se direta ou indiretamente o destino de milhes de pessoas, o que deveria impor o cuidado e a prudncia, no s naqueles que ela boram as polticas econmicas, mas tambm naqueles que opinam e aconselham. Portanto, a descoberta de Nash sobre a falsidade da teoria de Adam Smith deveria ter colocado a comunidade dos economistas no planeta inteiro em estado de alert a e emergncia. Isso, claro, no ocorreu, em boa medida devido ao fato de que s um re duzido nmero de profissionais da Economia se inteirou no incio dos anos 50 da verd adeira profundidade das descobertas de Nash. Pode-se pensar, ento, que um saudvel revisionismo seria uma verdadeira atitude cie ntfica diante do acontecido. Entretanto, nada disso ocorreu nem ocorre na Economi a. Os economistas, no s nos cursos de graduao, mas tambm nos de ps-graduao, tanto n entina como no exterior, no recebem informao nenhuma sobre o fato de que a base fun damental da Economia uma hiptese demonstrada como incorreta, nada menos que a par tir da prpria matemtica. Alm de carecer de qualquer informao nesse sentido, so transm tidas enormes doses de teorias e modelos econmicos desenvolvidos desde a dcada de 1950, precisamente quando essa incorreo j era conhecida em pequenos e influentes ncl eos acadmicos, os quais no s entronizam a premissa bsica do individualismo smithsoni ano, como tambm tentam universalizar para todo perodo do tempo e do espao os desenv olvimentos econmicos clssicos e neoclssicos iniciados pelo prprio Smith. Quem acredita que isso no tem conseqncias se engana gravemente. Teramos que pergunta r, por exemplo, se a prpria globalizao teria sido possvel, na sua atual dimenso, se a s descobertas de Nash tivessem tido a repercusso que mereciam, se os meios de com unicao as tivessem difundido e se muitos dos economistas considerados os de maior prestgio em todo o mundo, muitas vezes financiados por universidades norte-americ anas que devem a sua existncia a grandes empresas do setor privado, no as tivessem deixado esquecidas no armrio. Se tivesse ocorrido em seu devido momento um revis ionismo profundo a partir das descobertas de Nash, talvez tivssemos hoje estados nacionais muito mais fortes, reguladores e poderosos do que os que temos, depois de uma dcada de globalizao. Um ponto central que deve ser levado em conta - e que identifiquei pouco depois de comear a pesquisar o tema - o de que, de forma praticamente simultnea s descober tas de Nash, dois economistas, Lipsey e Lancaster, descobriram o denominado "Teo rema do Segundo Melhor". Essa descoberta enuncia que, se uma economia, devido s r estries prprias que ocorrem no mundo real, no pode funcionar no ponto mximo de plena liberdade e concorrncia perfeita para todos os seus atores, ento no se sabe a prior i o nvel de regulao e intervenes estatais de que o pas necessitar para funcionar da hor maneira possvel. Em outras palavras, o que Lipsey e Lancaster descobriram que possvel que um pas funcione melhor com uma maior quantidade de restries e interfern ias estatais do que sem elas. Ou seja, que bem poderia ser necessria uma atividad e estatal muito intensa na economia para que tudo funcione melhor. O que se pens ava at o momento era que, se o mximo era inalcanvel porque o "mundo real" no igual a frio mundo da teoria, ento o ponto imediatamente melhor para um pas era o da meno r quantidade de restries possveis para o funcionamento da plena liberdade econmica. Pois bem, Lipsey e Lancaster derrubaram h mais de meio sculo esse preconceito. Com o conseqncia direta disso, reaparecem no centro da cena temas como tarifas para a importao de bens, subsdios exportao e a determinados setores sociais, impostos difer nciados, restries ao movimento de capitais, regulamentaes financeiras, etc. Como a Teoria dos Jogos, o Teorema do Segundo Melhor quase no explicado aos econo mistas em universidades pblicas e privadas. Mesmo quando suas implicaes so enormes, geralmente o tema j dado como aprendido em somente uma aula - em apenas uma meia hora - e passa-se a outro assunto. Fica parecendo quase uma "esquisitice" extica inserida nos programas de ensino, uma curiosidade para a qual no se costuma dar m uita importncia. Erro crasso. Um caso tpico o da ex-Unio Sovitica. Gorbachov, em seu momento, decidiu desregular, privatizar e abrir a economia, eliminando rapidamente a maior quantidade possvel de barreiras livre concorrncia. No deu certo. Longe de progredir rapidamente, a e conomia russa caiu em uma das piores crises de sua histria. Se tivessem sido apli cados os postulados de Lipsey e Lancaster, teria havido mais cautela e, muito pr

ovavelmente, as coisas no teriam sado to mal. Se combinssemos as descobertas de Nash, Lipsey e Lancaster, o que obteramos que no se pode estabelecer a certa distncia, e de antemo, o que melhor para um determinad o pas, mas sim que isso depender de uma grande quantidade de variveis. Portanto, to da universalizao de recomendaes econmicas incorreta. No se pode dar o mesmo conselh conmico (por exemplo, privatizar, desregular ou eliminar o dficit fiscal) para tod o pas e em todo momento. No entanto, isso precisamente o que se vem fazendo cada vez com mais intensidade, sobretudo desde a dcada de 1990, quando, ao ritmo da gl obalizao, foram encontradas receitas que tm sido ensinadas como universais, como ve rdades reveladas, que todo pas deve sempre aplicar. Pode parecer estranho, mas provavelmente no o seja: uma descoberta fundamental e que teria mudado a histria da teoria econmica e at teria dificultado a apario da glob alizao no teve praticamente nenhuma difuso fora de um muito reduzido ncleo de economi stas acadmicos residentes nos Estados Unidos, fato pelo qual se imps a ideologia f alsa com que muitos governos, em muitos casos sem sab-lo, tomam decises econmicas. Enquanto essas teorias no recebiam o grau de ateno adequado por parte dos economist as, dos arquitetos de polticas governamentais e da populao em geral, as teorias des envolvidas na Universidade de Chicago comearam a obter, naquele mesmo momento, a partir das dcadas de 1950 e 1960, uma grande difuso nos meios de comunicao. Nada men os que a mesma instituio que tinha acolhido em sua sede o italiano Enrico Fermi, c om o fim de que desenvolvesse a bomba atmica, financiou em matria econmica Milton F riedman, tambm Prmio Nobel de Economia, que comeou a desenvolver nos mesmos anos 19 50 a denominada "Escola Monetarista". Depois de mais de uma dcada de estudos, Fri edman e seus seguidores chegam concluso de que a atividade do Estado na economia deve ser reduzida a s uma premissa bsica: emitir dinheiro no mesmo ritmo em que a economia est crescendo. Ou seja, se um determinado pas cresce naturalmente a uma t axa de 5% ao ano, para Friedman, seu Banco Central deve emitir moeda nesse mesmo ritmo. Se, ao contrrio, cresce naturalmente 1% ao ano, deve emitir moeda s no rit mo de 1% ao ano. A lgica intrnseca desse raciocnio a de que o dinheiro serve como l ubrificante da economia real. Portanto, se de forma natural uma economia cresce muito rapidamente, ela necessita que o Banco Central do referido pas gere mais me ios de pagamento do que se estivesse estancada. No fundo, a recomendao de Milton F riedman a de que cada pas mantenha uma relao constante entre quantidade de dinheiro e o PIB. Qualquer outra poltica econmica estatal desaconselhada por Friedman. A Escola Monetarista teve um enorme grau de difuso em todo o mundo, mesmo que os bancos centrais dos principais pases desenvolvidos jamais tenham aplicado os cons elhos de Friedman, com a nica exceo de Margaret Thatcher. A primeira-ministra britni ca, depois de um breve perodo de alguns meses empregando as polticas monetaristas na Inglaterra, precisou ganhar uma guerra (a das Malvinas) para recuperar a popu laridade perdida pelos desastrosos resultados de tais polticas, que tinham elevad o o desemprego na Inglaterra a nveis poucas vezes vistos - nada menos que 14% -, sem ao menos acabar com a inflao. Foi o nico e muito breve caso de aplicao das receit as desta escola em pases desenvolvidos. No entanto, as presses para que naes em vias de desenvolvimento, como a Argentina, apliquem estas polticas sempre tm sido muit o fortes. Cabe esclarecer que h geralmente dois tipos de pessoas para as quais as frmulas de Friedman tm sido de uma atrao pouco menos do que irresistvel: trata-se de tericos da economia em primeiro lugar e, em segundo, de grandes empresrios. Mas ambos por m otivos diferentes. Para muitos economistas tericos, a atrao que as teorias de Fried man produziam provinha da simplicidade de sua recomendao: "Emita moeda no ritmo em que voc cresce". Alm disso, o carter universal dessa premissa bsica aproximava, na mente um tanto "distorcida" de muitos profissionais na matria, a economia das cinc ias exatas: a Fsica e a Qumica, objetivo que muitos dos economistas mais renomados do sculo XX tm perseguido, na crena de que uma cincia mais sria se consegue encontr r frmulas de aplicao universal ao estilo do que a lei da gravidade na Fsica. Milton Friedman parecia proporcionar precisamente isso: uma lei de aplicao univers al ao campo econmico. At poderamos discutir se essa miragem perseguida por muitos e conomistas no no fundo nada mais do que um perigoso reducionismo, dado que as cinc ias sociais no se movem segundo os mesmos parmetros que as cincias exatas. Mas nem todos os que foram atrados pelas teorias de Friedman o faziam por esse mo

tivo: uma boa parte do establishment via na gerao e na aplicao desse tipo de teorias a possibilidade de derrubar um grande nmero de travas e regulamentaes estatais em muitos pases, podendo assim alargar a sua base de negcios a zonas do planeta que p ermaneciam alheias sua atividade. Isso explica o alto perfil que alcanaram as teo rias monetaristas - apesar de estarem fundadas nos incorretos pressupostos de Ad am Smith antes mencionados - e a sua presena constante nos meios de comunicao, muit as vezes propriedade desse mesmo establishment. O fato de que o establishment dos pases desenvolvidos louvasse enormemente essas teorias, ao mesmo tempo em que os governos desses mesmos pases desenvolvidos no ap licassem para si as teorias monetaristas, no foi um obstculo para que muitos dos m ais poderosos empresrios pressionassem os governantes de pases perifricos para que aplicassem as teorias de Milton Friedman. Um caso tpico foi o da Argentina da poca de Martnez de Hoz, cujo governo aceitou as presses de boa parte do empresariado f inanceiro internacional para produzir a poltica econmica da era militar de VidelaMartnez de Hoz1. Enquanto as descobertas de Nash, Lipsey e Lancaster permaneciam ocultas para o g rande pblico e quase no disseminadas entre os prprios profissionais da Economia, te orias integralmente baseadas nos pressupostos bsicos de Adam Smith, e que Nash de monstrou incorretas, como a monetarista de Milton Friedman, no s recebiam uma enor me difuso nos meios de comunicao, como tambm contavam com o beneplcito do establishme nt e comeavam a fazer estragos em pases tomados como laboratrios, tudo isso apesar de que, ao se basearem integralmente nos pressupostos de Smith, de antemo os prin cipais acadmicos dos Estados Unidos no podiam desconhecer que se tratava de teoria s econmicas fundadas em pressupostos incorretos, fato pelo qual as suas chances i niciais de sucesso eram quase nulas. Desde os anos 1960 at hoje, a Escola Monetarista e sua filha direta, a Escola de Expectativas Racionais, de Robert Lucas, tm ocupado o centro da cena nas universi dades, nos centros de estudos e nos meios de comunicao. A Escola de Expectativas R acionais reduz ainda mais o papel do Estado do que j tinha feito a Escola Monetar ista. Um pas, segundo Lucas, no deve fazer nada mais alm de fechar o seu oramento se m dficit. Se o desemprego de dois dgitos, no deve fazer nada. Se o povo literalment e morre de fome, no deve fazer nada. Um bom ministro - para essa escola - deve de ixar no "piloto automtico" a economia de um pas e s deve se preocupar com que o gas to pblico esteja integralmente financiado com a arrecadao de impostos. Robert Lucas, engenheiro de profisso, tambm da Universidade de Chicago, depois de uma dcada de abstrusos clculos matemticos, baseados integralmente na hiptese fundame ntal de Adam Smith, chega concluso de que qualquer pas, em qualquer momento, nem s equer deve emitir dinheiro ao ritmo que cresce. Desse modo, at a regra de ouro de Milton Friedman abolida por essa escola cujo auge intelectual se localizou na dc ada de 1980. A hiptese fundamental de Robert Lucas a de que o ser humano possui p erfeita racionalidade e toma suas decises econmicas com base nela. Essa hiptese psi colgica foi duramente criticada, mas Lucas e seus seguidores escudaram-se no raci ocnio de que no era necessrio que cada um dos operadores econmicos fosse perfeitamen te racional, mas apenas que a mdia dos operadores econmicos se comportasse com per feita racionalidade para que as suas teorias fossem vlidas. Isso implica transformar a hiptese psicolgica da perfeita racionalidade em uma hipt ese sociolgica: supe-se que os desvios na racionalidade humana, em uma sociedade, se compensam entre si. Trata-se, como se v, de um pressuposto extico, estranhssimo, mas, ao mesmo tempo, to central na teoria de Lucas que, se for derrubado, nada n ela permanece de p. estranho que isso tenha ocorrido, sobretudo luz das descobert as de outro economista, Gary Becker (Nobel cm 1992), que descobriu matematicamen te que as preferncias individuais no so agregveis (ou seja, no se pode obter uma fun e preferncias sociais a partir da adio das individuais, dado que estas ltimas no pode m ser somadas). Com essa descoberta, Becker lanou um verdadeiro mssil a toda a den ominada "teoria da utilidade", que a base subjacente nas teorias econmicas de Chi cago, e termina de derrubar todo o aparato terico de Chicago e muito mais. Apesar disso, e como com Nash e Lipsey, os "cientistas" que estavam criando as e scolas de Chicago no parecem ter acusado recibo nenhum. Para Lucas, todas as soci edades do mundo, a qualquer momento, tomam as suas decises econmicas com perfeita racionalidade. As decises de consumo, poupana e investimentos so feitas, segundo Lu

cas, sabendo-se perfeitamente bem o que que o governo est fazendo em matria econmic a. Portanto, para Lucas e os seus seguidores, qualquer iniciativa estatal para m udar o rumo natural com o qual uma economia se move no s intil, mas tambm contraprod ucente. assim que Lucas e os seus seguidores chegaram concluso de que o melhor qu e pode fazer qualquer governo do mundo em qualquer momento, em matria econmica, no realizar nada que no seja manter o equilbrio fiscal. difcil entender como que essas idias, estranhas certamente, monopolizaram a ateno d economistas e dos meios de comunicao da maneira como aconteceu. No caso especfico da Argentina, pertencer corrente da Escola de Expectativas Racionais durante os anos 1980 e 90 transformou-se, diretamente, em uma moda inescapvel para muitos ec onomistas. Qualquer economista que no pertencesse a essa corrente e que a renegas se era visto pouco menos que como um dinossauro. Ningum se perguntava, e muito es tranho que tenha acontecido assim, como a teoria econmica de todo o planeta podia estar nas mos de um engenheiro que se ps a esboar teorias psicolgicas (disciplina m uito distante da engenharia), embora fosse extremamente especializado em matemtic a. Mas aconteceu assim. Ningum sabe muito bem, tampouco, de onde saiu o argumento de que a mdia de qualquer sociedade se comporta de maneira perfeitamente raciona l. Se nos detivssemos para pensar um minuto sobre tudo isso, poderamos chegar faci lmente concluso de que, se essas teorias eram levadas a srio por muitos daqueles q ue eram considerados os mais idneos profissionais em economia, foi exclusivamente porque tinham sido elaboradas em uma universidade considerada de muito prestgio. Sem o selo de Chicago, as teorias de Lucas provavelmente haveriam causado hilar idade e teriam mandado o engenheiro construir pontes ou edifcios, em vez de tenta r explicar como funciona a economia mundial e a psique mdia de toda uma sociedade . Para Lucas, ento, se os governos no se meterem com a economia, esta atingir muito facilmente o pleno emprego: tudo uma questo de os governantes suspenderem todo t ipo de restries concorrncia perfeita e cuidarem para que no haja dficit fiscal. Nada mais do que isso, e, de forma mgica, chega-se ao pleno emprego. E no s ao pleno emprego, mas tambm aos melhores salrios possveis para a massa trabalh adora, de qualquer pas do mundo, em qualquer momento. As implicaes disso so, no fund o, grotescas: Lucas quer-nos fazer acreditar que a taxa de crescimento demogrfico em qualquer pas iguala, em pouco tempo, a taxa de gerao de emprego. O que o mesmo que dizer que as pessoas optam por se reproduzir no mesmo ritmo em que so publica dos anncios de emprego em busca de operrios e empregados nos jornais. Como se v, tr ata-se de uma verdadeira aberrao, de imenso porte, se levarmos em conta que, alm di sso, essa crena transformada em postulado universal. No difcil entender por que, co m base em Robert Lucas, chegamos a uma concluso to disparatada se considerarmos qu e o engenheiro parte de hipteses equivocadas ao fundamentar-se tanto no individua lismo de Adam Smith, como em hipteses psicolgicas sui generis. Entretanto, haveria uma forma de pensar que Lucas podia ter algo de razo. Isso se d se consideramos a existncia humana com um critrio malthusiano: Thomas Robert Mal thus, ensasta ingls da primeira metade do sculo XIX, pensava que, enquanto as popul aes humanas se multiplicavam em uma proporo geomtrica, os meios de subsistncia s o f am em uma proporo aritmtica. Portanto, a superpopulao era, para Malthus, o pior perig o que ameaava o planeta. Dessa maneira, as guerras, a fome ou as epidemias eram mt odos "saudveis" para corrigir o problema da superpopulao. Apesar disso, o tempo no d eu razo a Malthus e a populao mundial tem crescido incrivelmente nos ltimos sculos. M esmo assim, o establishment norte-americano acredita com fervor nas idias malthus ianas. Basta apontar que o presente dado pelo presidente George Bush ao presiden te argentino Kirchner, na visita deste a Washington DC, no foi outro seno a princi pal obra de Malthus, chamada Um ensaio sobre o princpio da populao, do ano de 1798. O corolrio da obra de Lucas , ento, a afirmao de que, de forma universal, a taxa de c rescimento demogrfico iguala a taxa de gerao de emprego. Portanto, dado que a taxa de crescimento demogrfico no outra coisa alm da taxa de natalidade menos a taxa de mortalidade, que esta ltima rapidamente varivel e que as pessoas morrem medida que desaparece o emprego, ou vivem mais se lhes oferecido trabalho, poderamos nos lo calizar quase sempre em uma espcie de "pleno emprego", segundo Lucas. Se temos um a filosofia malthusiana, obviamente muito mais fcil acreditar na Escola das Expec tativas Racionais. Por que o establishment, a elite norte-americana, cr em Malthus, mesmo quando a r

ealidade demonstrou que ele no estava certo? Porque calculam que s uma questo de te mpo at que Malthus se mostre correto. Como a energia do planeta est baseada em rec ursos no renovveis, o que boa parte do establishment anglo-americano pensa que, me dida que o petrleo se esgote, Malthus comear a ter razo. Se no h energia disponvel p transportar os alimentos ou para produzi-los, uma boa parte da populao poderia es tar destinada a desaparecer. Tudo seria questo de determinar que parte. E, para i sso, a elite de negcios norte-americana usa a teoria de outro ingls famoso: Charle s Darwin. Darwin foi o criador da Teoria da Seleo Natural. Essa teoria predica que as espcies mais aptas, que melhor se adaptam ao meio, sobrevivem e se reproduzem , enquanto que as menos aptas perecem e se extinguem. Aplicar uma combinao das pri ncipais teses de Malthus e Darwin s sociedades implica adotar uma posio racista de forma sistemtica. No que diz respeito ao petrleo, elemento central nessa linha de pensamento, muito pouca informao sobre suas quantidades e sua distribuio geogrfica e acerca de outros recursos que possam substitu-lo costuma ser divulgada de forma massiva nos meios de comunicao. Pensar em substituir a tecnologia do petrleo por outra, do ponto de v ista econmico, apresenta mais de um risco que ser necessrio correr. Requer pensar c om muita antecipao sobre o panorama que pode ser ocasionado nos mercados financeir os, dado que um eventual substituto barato do petrleo poderia pr em um risco eleva do a sade financeira dos enormes conglomerados petroleiros e, portanto, dos merca dos financeiros em seu conjunto. Por outro lado, um substituto muito barato e ab undante poderia tirar, de forma imediata, milhes de pessoas da pobreza. Voltando Escola das Expectativas Racionais, apesar de por motivos bvios nenhum pas desenvolvido ter aplicado ou aplicar hoje em dia as teses de Robert Lucas, a Ar gentina, sim, as aplicou. O chamado "piloto automtico", com o qual operavam os mi nistros Cavallo, Fernndez e Machinea, no era nada mais do que a confisso de que o E stado ia lavar as mos sobre a crise de emprego que a Argentina vivia na dcada de 1 990, e a mensagem que os argentinos recebiam de forma massiva atravs dos meios de comunicao era a de que, segundo as autoridades e os economistas supostamente inde pendentes, no se devia fazer nada, porque a situao do emprego poderia solucionar-se por si s. No por acaso que Robert Lucas visitou a Argentina em 1996 - convidado d e forma especial pela principal usina da Escola de Expectativas Racionais da Arg entina: o CEMA (Centro de Estudos Macroeconmicos da Argentina) - e at conheceu o e nto presidente Menem na residncia presidencial de Olivos, o que mostra at que ponto essa verdadeira seita da Economia atingiu profundamente a Argentina. Quem se perguntar por que na Argentina essas idias tiveram muito mais aplicao do qu e em outros pases, pode encontrar uma resposta ao alcance da mo: desde a dcada de 1 960, a Argentina padeceu cronicamente de altas taxas de inflao e at chegou ao exces so de sofrer duas curtas hiperinflaes em 1989. Dado que as teorias desenvolvidas n a Universidade de Chicago, tanto a de Friedman como a de Lucas, vinham etiquetad as como o mais poderoso antdoto contra a inflao, os economistas argentinos adotaram um corte muito mais pronunciado que seus pares de outros pases do mundo a favor das teorias de Chicago, sem exercer o pensamento crtico simplesmente porque essas idias vinham de Chicago. Muitos dos mais conhecidos de nossos economistas inclus ive estudaram ali e depois disseminaram na Argentina essas idias. No por acaso, en to, que j h vrios anos este pas ostenta o estranho recorde mundial de desemprego e su bemprego, os quais, somados, sustentaram durante longos anos algarismos superior es a 30%. O curioso nesse caso que geralmente se ensina nas universidades de tod o o mundo que a Escola Monetarista surgiu como uma resposta s altas taxas de infl ao que os elevados dficits oramentrios causavam em vrias partes do planeta. No entant , se revisarmos a Histria, observaremos que nos anos 1950 e 60 nos Estados Unidos praticamente no havia inflao e, na maior parte dos pases desenvolvidos, as taxas de inflao eram relativamente baixas, de s um dgito anual. Seria necessrio questionar, e nto, a suposta origem antiinflacionria das teorias de Chicago, dado que a inflao no e ra um problema dos pases desenvolvidos no momento em que essas teorias comearam a surgir. Assim, permanece por enquanto nebulosa a verdadeira causa dessas teorias , precursoras, na verdade, da globalizao. Quando foram concebidas, a inflao s era um problema grave em pases em vias de desenvolvimento. Ter sido por acaso um gesto de filantropia do establishment norte-americano para com os pases pobres dedicar ta ntos recursos gerao das "escolas de Chicago"?

Em resumo, desde pelo menos a dcada de 1950, a teoria econmica vem sendo conduzida de uma maneira no s muito pouco profissional, como, alm disso, anticientfica, quase como se se tratasse da astrologia ou de alguma outra disciplina cujas bases fun damentais no podem ser explicadas racionalmente. Descobertas cientficas de grande envergadura, cuja difuso poderia ter mudado a histria da globalizao e detido suas pi ores conseqncias, foram cuidadosamente ocultadas at dos prprios economistas, enquant o que teorias baseadas de antemo em hipteses provadas matematicamente como falsas foram disseminadas no somente entre os profissionais em Economia, mas tambm nos me ios de comunicao, e at foram aplicadas nos lugares do mundo em que isso tenha sido possvel, como na Amrica Latina. Ensinaram-nos que o sistema de universidades norte-americano era o mais desenvol vido do mundo, que a sua atitude diante do conhecimento cientfico era fria e impa rcial, que a cincia progredia nessas universidades independentemente de presses po lticas e de convenincias econmicas e empresariais. Como isso pode ter ocorrido, ento ? Um detalhe no to pequeno que se deve levar em conta o fato de que as duas escola s mencionadas se originaram, se desenvolveram e se expandiram a partir da Univer sidade de Chicago, recebendo fortes doses de financiamento dessa instituio. O fina nciamento no se restringiu somente a pagar os elevados salrios dos pesquisadores q ue desenvolviam as teorias monetaristas e a fomentar expectativas racionais ness e recinto acadmico, mas tambm bancou a custosa campanha de difuso dessas idias nos m eios de comunicao. necessrio levar em conta que, ainda que algum possa chegar a uma descoberta do tipo "a plvora econmica", sem o dinheiro suficiente para disseminar essa idia nos meios de comunicao, no h nenhuma maneira de que o saber em questo se to ne de conhecimento pblico. evidente, ento, que houve poderosos interesses por trs das teorias da denominada E scola de Chicago, teorias que, por sua vez, constituram o embasamento para o que hoje a globalizao, mesmo que se tratasse, nada mais, nada menos, de um saber falso . Que interesses esto por trs da Universidade de Chicago? Pois bem, ela foi fundad a pelo magnata do petrleo John D. Rockefeller, criador, alm disso, do maior monopli o petrolfero do mundo: a Standard Oil. Essa instituio de estudos superiores tem sid o desde sempre um baluarte da indstria petroleira. Mas o controle de uma alta cas a de estudos como a Universidade de Chicago por si s no teria bastado, no meio de um contexto intelectual muito independente, para impor as idias de Milton Friedma n e Robert Lucas da maneira como foi feito. Se tivesse havido um contexto intele ctual realmente independente, teriam aparecido fortes crticas aos pressupostos ps icolgicos e sociolgicos que o engenheiro Lucas introduzia em suas teorias. Por que , ento, o nvel de crticas que recebeu a Escola de Expectativas Racionais no chegou a ser muito importante? Pois bem, a indstria petroleira no s fundou a Universidade d e Chicago, como tambm controla, de forma direta ou indireta, pelo menos as univer sidades de Harvard, Nova York, Columbia e Stanford e est presente em muitas outra s universidades. comum que muitos dos diretores desses centros de estudos superi ores alternem tarefas em empresas petrolferas ou em instituies financeiras muito re lacionadas com tal setor. Precisamente por isso, no nos deve chamar tanto a ateno que as teorias clssicas da E conomia e as suas derivadas (Friedman, Lucas, etc.) dem praticamente um tratament o uniforme a todos os mercados, de todos os bens, em todos os pases e em todos os momentos, sem fazer distino entre eles. Por qu? H bens que podem ser produzidos e o utros cuja capacidade de produo limitada: h recursos renovveis e outros no renovvei O petrleo , especificamente, um recurso no renovvel, fato pelo qual seu mercado tem caractersticas especiais. Apesar disso, uma questo que escapa ao tratamento que lh e dado usualmente na teoria econmica. A quantidade de petrleo que h na Terra finita e limitada. Mais ainda quando se leva em conta que, em se tratando da principal fonte de energia utilizada hoje no planeta, uma eventual escassez brusca no pode ria ser contornada mediante o uso de outras fontes de energia, pelo menos de for ma rpida. Portanto, os efeitos do que ocorre no mercado petroleiro podem transfer ir-se com fenomenal rapidez aos outros mercados. Mas os defeitos da Escola de Ch icago no se resumem a desconhecer esse fato e a negar as descobertas de Nash, Lip sey e Lancaster. Chama a ateno o fato de que o prprio produto, de caractersticas par ticulares e cuja explorao permitiu a fundao da prpria universidade e o controle de ou tras tantas, um bem que no foi tratado na teoria de uma maneira especial - j que u

m recurso no renovvel - por Friedman e Lucas, que tampouco levam em conta que prec isamente o petrleo o bem cujo mercado ostenta o maior nvel de cartelizao do mundo. P aradoxalmente, ento, aqueles que tentaram exercer um verdadeiro oligoplio no estra tgico mercado da energia fomentaram a criao e a difuso de teorias econmicas baseadas na livre concorrncia, na ausncia de regulamentaes estatais, no paraso do consumidor e na concorrncia constante entre si de uma enorme gama de produtores que s tm em teo ria um lucro exguo a ganhar. Agora comeava a ficar mais claro para mim por que, e devido a quem, a principal d escoberta de Nash tinha permanecido oculta e, ao mesmo tempo, aparecia como um e nigma a verdadeira situao do mercado petroleiro, sobretudo luz das guerras ocorrid as no sculo XXI.

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2. O PROBLEMA DO PETRLEO

O mundo se divide em trs categorias de pessoas: um pequenssimo nmero que faz as coi sas acontecerem; um grupo um pouco mais importante que vigia sua execuo e assiste ao seu cumprimento; e, por fim, uma vasta maioria que jamais saber o que acontece u na realidade. Nicholas Murray Butler,

Membro do Council on Foreign Relations

O petrleo no um tema cuja anlise desperte a paixo das multides. Excessivamente tcni e cheio de aspectos econmicos, em geral considerado um assunto para especialistas . Por esse motivo, a relativamente pouca quantidade de material bibliogrfico exis tente acerca do mercado energtico mundial costuma ser descartada at mesmo pelo pbli co mais vido por informao, em funo da aridez do tema. Contudo, ao concluir este captu o, talvez a viso do leitor sobre a matria comece a ser muito diferente. Uma coisa sobre a qual no tomamos a devida conscincia que a vida inteira poderia s er analisada a partir do ponto de vista da transformao da energia. Quando comemos, ou nos vestimos, ou desenvolvemos qualquer atividade diria, no estamos fazendo ou tra coisa seno processar energia. Quando, por exemplo, saboreamos um prato de mac arro, o que estamos comendo - e, portanto, o que reflete seu valor monetrio - no na da mais do que a semente do trigo, mais o trabalho utilizado em todas as etapas de produo, mais o combustvel que se utilizou para cultivar os campos, mais o petrleo que foi empregado para transportar a semente ao moinho da indstria, mais o combu stvel usado para transformar tudo isso em farinha, mais a quantidade de energia, majoritariamente concentrada em hidrocarbonetos, destinada aos processos de emba lagem, marketing, distribuio no atacado e no varejo. Ou seja, o componente energtic o, na forma de hidrocarbonetos, um fator muito relevante dentro do custo total d e um produto. Se, por sua vez, levamos em conta que os salrios pagos pelo trabalh o so gastos tambm em consumo de energia, devemos concluir - e no s um paradoxo - que a energia move o mundo. Poderamos chegar a um raciocnio similar se analisssemos, p or exemplo, o molho desse prato de macarres - no importa quais sejam seus ingredie ntes - e o vinho, o refrigerante ou a gua mineral que estivermos consumindo. A vi da impossvel sem energia; a vida urbana ficaria rapidamente catica se houvesse um corte brusco sem o pronto restabelecimento dos fluxos energticos. Basta recordar o caos que s vezes produz um mero apago temporrio, para se ter uma idia da real dime nso desse assunto no caso de uma terica escassez na fonte do mercado energtico impe dir, entre outras coisas, que os alimentos entrassem nas cidades. H outra maneira de ver esse mesmo tema: a partir do sistema de preos e salrios de t oda sociedade, o qual implica, em sntese, o nvel de bem-estar que cada um de ns pod e alcanar, girando em torno do quo barata ou cara, escassa ou abundante a energia que intervm nos processos produtivos. Se voltarmos ao exemplo do prato de macarro, este ser to mais caro quanto mais doses de unidades de energia requerer a sua ela borao e quanto mais escassa e cara for essa energia. Agora pode ficar claro que, ao falarmos em energia, no nos referimos a s mais um m ercado ou a um bem comum e corrente, facilmente substituvel por outro, mas sim a uma questo de sobrevivncia. Se muitas vezes no paramos para pensar nessas questes po rque, salvo em contadas ocasies, no sofremos graves problemas para conseguir a ene rgia de que necessitamos para viver e para consumir os bens que desejamos. Fica claro, ento, que no d na mesma se as fontes energticas esto baseadas em recursos reno vveis ou em recursos no renovveis. Os recursos no renovveis esto fadados a se esgotar m e, se no derem lugar no decorrer do tempo a outro tipo de recurso que os suplan te, pode comear um processo que nunca vimos em nossas vidas: uma luta muito mais dura pela sobrevivncia. Jeremy Rifkin menciona muito bem, em sua obra A economia do hidrognio, que as civilizaes que no tratam de modo cuidadoso das fontes e quantid ades de energia disponvel se extinguem. Se falamos em termos de cultura, extingui r-se implica uma mais rpida ou mais lenta morte massiva. A inteligncia do homem tem sido capaz de gerar assombros cientficos incomparveis: c hegou-se formula e possvel manipulao do genoma humano, h mais de trs dcadas se ch Lua, podemos nos comunicar de forma instantnea com algum que se encontra em outra parte do planeta praticamente sem custo e pode-se dar a volta ao mundo em horas quando h at alguns sculos isso demandava meses. Apesar de todo esse enorme progress o, a energia com a qual nos movemos, e movemos todos os bens, basicamente a mesm a que se usava h um sculo e meio: um recurso no renovvel, escasso, poluidor e que oc asionou terrveis guerras, vrias delas recentes. O homem no foi capaz de criar um substituto? Duas grandes empresas automobilsticas

esto fazendo ensaios preliminares para que o combustvel de seus automveis seja o h idrognio. De qualquer modo, trata-se ainda de algo muito incerto no tempo e com e scassa ou nula programao estatal na matria. Ou seja, no h planos governamentais impor tantes para estimular que o petrleo seja substitudo por um recurso energtico renovve l. Em meados de 2003, depois da guerra contra o Iraque, George W. Bush continuav a postergando a deciso sobre a licitao entre as universidades norte-americanas para estudar de forma hipottica como desenvolver a tecnologia do hidrognio. Portanto, se foram criados substitutos para os hidrocarbonetos fsseis com bons resultados, esses permanecem no anonimato. No nada improvvel que os enormes interesses que h po r trs do oligoplio mundial do petrleo tenham provocado seu silncio. Quando falamos d e monoplio ou oligoplio mundial do petrleo, devemos nos referir obrigatoriamente s e mpresas derivadas da antiga Standard Oil, companhia criada depois da guerra civi l norte-americana pelo j mencionado John D. Rockefeller I. FAZENDO UM POUCO DE HISTRIA

Rockefeller, em muito pouco tempo, transformou-se em um tcito monopolista da indst ria petroleira norte-americana. Chegou a concentrar em suas mos 95% da explorao, di stribuio e venda no varejo da gasolina nos Estados Unidos. Sempre pensou que o negc io petroleiro deveria estar integrado de forma vertical, ou seja, com uma mesma empresa controlando todas as etapas da produo. Considerava ainda que a chave do ne gcio em si era ter sob sua rbita o processo de distribuio, fato pelo qual chegou a o bter um acordo com importantes descontos com a rede ferroviria controlada pelo JP Morgan, acordo que posteriormente se mostrou ruinoso para todos os seus concorr entes, que um a um foi eliminando do mercado, muitas vezes mediante mtodos semico mpulsrios ou compulsrios. Esse modo de ao empresarial, carente de preceitos morais o u de cdigos, era comum entre a dezena de empresrios que comeou a controlara economi a norte-americana depois da morte de Abraham Lincoln. Tratava-se de empresrios pr ofundamente odiados pela populao em seu conjunto, fato pelo qual j naquela poca eles foram batizados como The Robber Barons (Os Bares Ladres), expresso que permaneceu atravs dos tempos e com a qual ainda hoje muitos os lembram, apesar da ao de uma bo a quantidade de bigrafos contratados que, com o transcurso das dcadas, a falta de slidos conhecimentos de Histria por parte do povo norte-americano e o passar das g eraes, agora tentam mostrar um passado muito mais cor-de-rosa. Por exemplo, Ron Ch ernow, o historiador oficial com que hoje conta a elite norte-americana, intitul a sua volumosa biografia de John D. Rockefeller I com o nome de Tit e representa o empresrio como um personagem ambivalente. Quanto s biografias, necessrio menciona r que aquelas que citavam com mais detalhes alguns dos atos de crueldade e barbri e atribudos ao cl desapareceram quase por completo do mercado bibliogrfico, a ponto de terem cado no esquecimento episdios tais como o massacre de Ludlow, quando, em 1913, o prprio pessoal de Rockefeller matou mulheres e crianas por se juntarem a uma greve da Colorado Oil and Fuel, empresa de propriedade dessa famlia. Inclusiv e, as recentes biografias para a televiso que foram realizadas tanto pelo History Channel como pela PBS mostram Rockefeller, o primeiro bilionrio do mundo, quase como um altrusta, um poeta, quando o saber popular recorda que seus assessores lh e recomendavam dar algumas moedas s crianas pobres quando havia fotgrafos por perto , o que no ocorria espontaneamente ao prprio empresrio, cuja mxima ambio na vida, al e acumular dinheiro e poder, foi a de chegar aos 100 anos, marca da qual esteve muito perto, ao morrer em 1937 aos 98 anos de idade. O dio popular aos Robber Barons era enorme naquela poca. Tratava-se cada vez mais de uma casta monopolista em suas diferentes atividades, de uma verdadeira equipe na qual, solidaria-mente, seus membros ajudavam uns aos outros e cujos herdeiro s se casavam entre si, para que no se disseminassem as fortunas familiares. Apesa r de, um sculo antes, Adam Smith ter comeado a idealizar a tese do individualismo como base da concorrncia perfeita, quem detinha o poder econmico nos Estados Unido s em fins do sculo XIX, constitua, na realidade, uma verdadeira corporao. To corporat ivo e concentrado era o poder econmico que, em 1890, o governo norte-americano se viu obrigado a editar a chamada "Lei Sherman", legislao antitruste que demorou 21 anos para ser aplicada no caso do petrleo. Somente em 1911 se determina a diviso

da Standard Oil, que passa, assim, a fragmentar-se em uma srie de empresas menore s estaduais, mas que seguiram durante muitssimo tempo constituindo um monoplio nas sombras devido a uma conjuno de fatores. Em primeiro lugar, o cl Rockefeller receb eu uma porcentagem de aes de cada uma; em segundo lugar, as particulares condies da bolsa norte-americana, na qual o capital acionrio est singularmente fragmentado, f azem com que, com uma pequena frao do total das aes, se possa controlar toda a empre sa, suas polticas comerciais e financeiras e at a nomeao dos diretores. Os prprios ba ncos relacionados, desde o fim do sculo XIX, com o cl Rockefeller facilitaram para que a desmonopolizao tivesse sido apenas uma tentativa em vo: uma lei supostamente cumprida, depois da qual surge um monoplio nas sombras. Esse processo intensific a-se quando comea a proliferar uma imensa gama de fundos de penso e investimentos, nos quais a populao norte-americana coloca as suas economias e os fundos para a s ua aposentadoria. Essas entidades, muito relacionadas com os bancos, tm investido enormes quantidades de fundos para comprar ainda mais aes dessas empresas. Como e sses fundos de investimento e penso em muitos casos so de propriedade dos bancos d a elite norte-americana, ou esto relacionados com eles, essa elite encontrou uma espcie de "poo mgica" no s para continuar controlando o que antes eram monoplios dir dos de maneira unipessoal, mas tambm para exercer o seu domnio sobre muitos outros setores aos quais no teria tido acesso se no se houvesse formado essa singular fo rma de estrutura que ainda hoje existe em Wall Street. Possuindo 5% ou 10% de um a empresa e administrando outra parte, mesmo quando no seja de fundos prprios, mas com as economias das pessoas investidas em bancos e fundos de penso e investimen to, pode-se controlar totalmente um mercado to estratgico como o energtico. O caso do cl Rockefeller talvez o mais emblemtico, mas no o nico. Durante boa parte do sculo XX, o monoplio petroleiro anglo-americano foi rebatizado como "The Seven Sisters" (As Sete Irms), mas o processo de grande concentrao do capital vivido na dc ada de 1990 fez com que se deixasse de manter as aparncias e as empresas petrolei ras voltaram a fundir-se. Seguindo-se nesse ritmo, faltaria muito pouco para que retornasse a primitiva Standard Oil. Na verdade, a famlia Rockefeller controla o s conglomerados petrolferos Exxon-Mobil, Chevron-Gulf-Texaco e Amoco-British Petr oleum. Tambm lhe corresponde, entre muitos outros interesses petrolferos no resto do mundo, uma proporo muito grande no petrleo que a Repsol espanhola possui na Arge ntina, j que o ex-primeiro ministro Aznar vendeu, em 1997, aes da Repsol na Bolsa d e Madrid, aes essas que foram compradas por nada menos que o Chase Manhattan Bank1 . Esse banco, tambm controlado pela famlia Rockefeller, adquiriu recentemente o JP Morgan, o Chemical Bank e o Manufacturers Hannover. J faz algum tempo, a mesma f amlia controla o Citibank e influi decisivamente no Bank of America. Na realidade , h uma gama de negcios que continua oligopolista nas sombras nos Estados Unidos, apesar da legislao sobre a matria. necessrio voltar a reforar que o capitalismo em s a verso norte-americana produziu uma enorme subida das cotaes na Bolsa de todo tipo de empresas. Com uma parte muito pequena do capital acionrio dessas mesmas compa nhias e com uma parcela igualmente reduzida dos fundos de investimento ou penso, uma seleta elite influi decisivamente nas polticas das megaempresas desses setore s. Isso ocorre mais visivelmente nos negcios dos bancos e do mercado financeiro, do petrleo e do setor energtico, dos laboratrios2 e da rea de sade, da rea de educa as universidades. Todos esses ramos da produo esto relacionados entre si atravs dos cls elitistas que controlam os setores do bloco. No se trata de um esquema fechado em si mesmo, mas sim com derivados em outros setores da atividade como, por exe mplo, a indstria de armamentos. Deve-se levar em conta que, no oligoplio mundial e nergtico, tambm tem uma vital influncia a empresa Royal Dutch Shell, em parte propr iedade das coroas britnica e holandesa e financiada em boa medida pela famlia Roth schild, antiga financiadora europia de vrias coroas reais, sobretudo no que diz re speito aos gastos com guerras. Ela se caracterizava por, ao mesmo tempo, auxilia r financeiramente os dois lados. Segundo abundante informao, essa mesma famlia a cr edora original dos Rockefeller e de todo o desenvolvimento petrolfero, ferrovirio e bancrio nos Estados Unidos, atravs das famlias Morgan (ferrovias e altas finanas) e Rockefeller (petrleo e bancos). As ferrovias no eram apenas mais um negcio de tra nsportes no sculo XIX, j que, na poca, no havia transporte areo, no existia o transpo te de cargas por estradas e no havia malha rodoviria. Somente uma das poucas empre sas ferrovirias dos Estados Unidos rivalizava com o prprio governo federal em quan

tidade de operrios empregados. Isso significa que controlar quase como um monoplio ferrovias, petrleo e bancos implicava deter o real poder nos Estados Unidos. Par ece digno de nota, ento, que a famlia Rothschild, na recente biografia oficial em dois tomos escrita por Nial Ferguson, em Oxford, tente mostrar a si mesma como e stando em decadncia desde meados do sculo XIX, precisamente por no ter podido insta lar-se como banco nos Estados Unidos e por ter perdido o controle da situao quando Nova York comeou a rivalizar com Londres como centro financeiro mundial. Isso se d sem levar em conta o controle que esse grupo econmico exercia por meio do finan ciamento de trs dos principais negcios dos Estados Unidos. No entanto, essa vontad e prpria de estar cada vez mais no anonimato vai de mos dadas com o fato de que o cl Rothschild s empresta na atualidade seu sobrenome a bancos de investimento sing ularmente pequenos. ENERGIA E PODER

Apesar de existirem algumas outras grandes empresas no mercado petrolfero mundial , geralmente se trata de companhias estatais de pases sem petrleo, como no caso da ENI (Itlia) ou a TotalFina Elf (Frana). No caso de vrios pases rabes, o petrleo fico nas mos de um monoplio rabe-americano (Aramco), cujo controle o cl Rockefeller no mn imo compartilha. A Arbia Saudita possui mais de um quinto das reservas mundiais d e petrleo que restam no planeta. Atualmente, no mercado petrolfero mundial, as com panhias estatais tendem a concentrar uma proporo cada vez mais importante nas fase s mais primrias da produo, ou seja, na explorao, extrao e, s vezes, no refino do pe Por sua vez, as mega empresas privadas anglo-americanas ficam com uma proporo cad a vez mais importante nas etapas finais da produo (distribuio e venda no varejo). Se essa tendncia - que se aprofunda no mesmo ritmo em que se d a prpria extino do petrl o norte-americano e em guas inglesas - continuasse, as empresas privadas anglo-am ericanas perderiam uma boa cota do poder real que detm por ter se constitudo h mais de um sculo como um verdadeiro monoplio nas sombras, j que quase no contariam mais com petrleo prprio, mas sim dependeriam da boa vontade de empresas petroleiras est atais, as reais donas das reservas. Se pararmos para pensar um pouco neste ponto , observaremos que a deciso de ir ao Iraque e invadi-lo, contra tudo e contra tod os, uma deciso estratgica com vistas a estar onde est o petrleo, a manej-lo e a extr lo como se fosse prprio e a no depender da boa vontade de empresas estatais e de ld eres nacionais. Em suma, trata-se da necessidade de conservar o poder proporcion ado pelo fato de se ter como prprias as escassas fontes de energia no renovveis que hoje resultam fundamentais para a vida humana e, sobretudo, para a vida urbana. Controlar a energia ter o poder. Se os mais importantes recursos energticos so esc assos e no renovveis, como o petrleo e o gs, os que controlarem esses bens tero o pod er. Se as principais fontes de energia se baseassem em recursos renovveis - e pre ciso levar em conta que toda matria fonte potencial de energia -, nenhum minsculo grupo poderia deter o poder, porque as decises humanas de consumo poderiam muito bem ficar muito mais independentes da necessidade de trabalhar. Ou seja, a neces sidade de trabalhar para viver no mundo contemporneo deve-se, em boa medida, ao p etrleo e ao fato de ele ser um bem escasso e, portanto, oneroso, o que torna muit o mais caros os bens consumidos usualmente. Qual , ento, luz da guerra no Iraque e da ocupao do Afeganisto, a verdadeira situa mercado petroleiro? O petrleo abundante ou escasso? Sua substituio urgente ou temos tempo? Na internet se pode acessar com facilidade o site oficial da Internation al Energy Administration. Esse site proporciona informao abundante. Apesar de no ha ver dados por empresa, h sim dados de produo, consumo, reservas, preos, etc., tanto de petrleo como de gs natural. As concluses mais importantes que se podem extrair so as seguintes: Por volta de 2002, restavam reservas de petrleo compatveis com o consumo atual mun dial para 35 anos. Embora o petrleo pudesse ser extrado durante mais de 80 anos na Arbia Saudita e durante mais de 110 anos no Iraque se se mantivessem os nveis atu ais de produo, ambos os pases devero multiplicar em um prazo muito curto sua produo, ara compensar a extino de poos de petrleo nos Estados Unidos, na Inglaterra, na Rssia e no Mxico. Da que haja petrleo no mundo para somente 35 anos nos nveis atuais de c

onsumo. necessrio mencionar que, a esta altura, j praticamente todo o planeta foi explorad o, restando algumas dvidas ainda sobre o potencial que poderiam ter um setor da c osta da Groenlndia, o Congo e a bacia do Niger (pas que o presidente George W. Bus h e a CIA acusaram de vender urnio a Saddam Hussein, acusao que se comprovou falsa) . Aproximadamente 70% de todas as reservas mundiais de petrleo se encontram concent radas no Golfo Prsico: Arbia Saudita, Iraque, Kuwait, Emirados rabes Unidos e Ir. No prazo de uma dcada, mais de 80% do petrleo mundial estaria nessa regio. Outros 10% do petrleo mundial tambm se encontram em pases muulmanos como a Lbia, a Nigria e a I donsia. Hoje, 80% do petrleo do mundo est em mos muulmanas e essa porcentagem tende a subir com o passar do tempo. Dado que o petrleo comeou a ser usado como fonte ene rgtica nos Estados Unidos depois da guerra civil e que naquela poca s era conhecido de forma abundante dentro dos Estados Unidos e da Rssia, estrategicamente result ava no s cmodo como sumamente vivel comear a basear a energia em hidrocarbonetos fsse s. O combustvel saudita s veio luz em 1938 e foi com o passar das dcadas que o mund o teve a surpresa de que estava concentrado principalmente em torno ao Golfo Prsi co. Ento, pode comear a ficar um pouco mais claro o porqu da freqente propaganda con tra pases de origem muulmana, dado que a tentativa de basear a energia do planeta em um recurso escasso, que se encontrasse sobretudo no subsolo norte-americano, naufragou medida que iam secando os poos petrolferos do Texas, coisa que comeou a o correr por volta da dcada de 1960, e iam sendo descobertas cada vez mais reservas gigantescas em pases rabes (o que parou de ocorrer nos anos 80). MUITO PERTO DO TETO Os Estados Unidos atingiram o teto de sua produo anual de petrleo no ano de 1970, c om um pouco menos de 10 trilhes de barris anuais de petrleo cru. Hoje quase no se c onsegue produzir cinco trilhes de barris por ano, ainda que tenha sido incorporad a ao mercado a um tanto decepcionante - no que diz respeito sua magnitude - baci a petrolfera do Alasca. Tudo isso ao custo de gerar um preocupante problema ambie ntal e a despeito do desenvolvimento e da aplicao de novas tecnologias extrativas, as quais, por exemplo, introduzem gs por presso na rocha das jazidas, para virtua lmente "sec-las" do seu petrleo e aumentar a possibilidade extrativa de poos vizinh os, incrementando de forma importante a recuperao do investimento nos poos. Apesar de essas cifras indicarem uma realidade energtica preocupante ao menos dentro dos Estados Unidos, o governo de George W. Bush mostra uma grande lentido nas tarefa s preliminares previstas para licitar, entre as universidades norte-americanas, alguns fundos para o estudo de tecnologias massivas que substituam o petrleo. Ess a preguia contrape-se enorme rapidez com a qual o mesmo governo decidiu efetuar a licitao das obras petrolferas a serem desenvolvidas no Iraque, que ganhou, antes da prpria queda de Bagd e Basra, uma filial da empresa Halliburton (Kellogg), que fo i h at pouco tempo dirigida pelo prprio vice-presidente norte-americano Dick Cheney . Desde 1970, quando os Estados Unidos alcanaram o denominado "teto de produo anual", esta no parou de declinar, como indicam as cifras antes comentadas. A queda foi particularmente maior na dcada de 1990 e no incio deste sculo, j que, ao longo de ap roximadamente dez anos, a produo baixou em quase 20%. Por volta de 1950, os Estado s Unidos produziam praticamente 100% do petrleo que consumiam e eram o primeiro p rodutor mundial. Importavam um pouco de petrleo, mas tambm exportavam. Hoje, os Es tados Unidos no chegam a produzir 45% do petrleo que consomem, mas continuam sendo o primeiro consumidor mundial, com quase um quarto do consumo de todo o planeta . Calcula-se que, no ritmo atual de produo, o petrleo norte-americano terminar no an o de 2010. Pior ainda a situao na Inglaterra: os poos descobertos no Mar do Norte, cuja propriedade compartilhada pela Inglaterra e pela Noruega, a princpio parecia m ser muito maiores e acabaram sendo menos abundantes do que o previsto. Calcula -se, assim, que a Inglaterra ficar sem petrleo no ano 2006. Exceto pelos pases muulm anos, o petrleo ainda abundante s na Venezuela (deve-se recordar a tentativa de go lpe contra Hugo Chvez efetuada por setores empresariais muito relacionados com o

establishment petroleiro dos Estados Unidos e a CIA) e em algumas das repblicas d a ex-URSS. Em medida muito menor, h ainda petrleo na China, na Lbia e no Mxico. E... em nenhum outro lugar. A partir de meados da prxima dcada, o petrleo estar, dessa forma, to concentrado em t poucas mos - e ser to escasso nos Estados Unidos -, que isso pode ajudar a explica r a verdadeira natureza das guerras que temos visto no sculo XXI. A deciso at o mom ento tem sido a de no s ir atrs do petrleo, mas tambm a de continuar ferreamente com a tecnologia desse combustvel. Mencionamos que as cifras oficiais indicam que h re servas mundiais para 35 anos. Isso pode gerar uma falsa idia: a de que h pelo meno s trs dcadas antes que se produza uma grave crise energtica e de que tudo uma questo de encontrar os mtodos pacficos para a soluo dos conflitos, de maneira tal que o co mrcio de petrleo do Golfo Prsico para o Ocidente e para o Japo se realize de forma f luida, evitando-se os atritos que houve com os talibs (o Afeganisto, por sua parti cular localizao, importante para a passagem de gasodutos) e com o Iraque. Dessa ma neira, se nos guiarmos pelas cifras oficiais da International Energy Administrat ion, ainda h certo tempo - no muito, mas trs dcadas so um prazo bem razovel - e as te ses blicas do incio deste sculo poderiam muito bem ceder, caso as pessoas indicadas para governar os pases conseguissem chegar via do dilogo, ou seja, se os conflitos entre os Estados Unidos e o mundo muulmano fossem resolvidos por outra classe di rigente, diferente da que hoje est sentada na Casa Branca e em vrios desses Estado s islmicos. Se seguimos por esta linha de pensamento, devemos limitar-nos a apena s calcular qual seria a real magnitude do dficit estrutural adicional nas balanas de pagamentos dos Estados Unidos e da Inglaterra, ocasionado pelo fato de terem que importar todo o petrleo que hoje ainda produzem em seu prprio territrio. Isso r equereria que as populaes de ambos os pases "apertassem um pouco mais o cinto", mas no seria nada do outro mundo, nada que j no se tenha visto no passado como ajuste recessivo. Alm do mais, 55% do petrleo que os Estados Unidos consomem - que import ado - representam entre 1% e 1,5% do seu PIB, segundo a cotao do barril. Isso quer dizer que o impacto de deixar de produzir petrleo, importando os restantes 45% q ue hoje ainda so produzidos internamente, equivaleria a cerca de outros 1% a 1,5% do seu PIB, se o conflito fosse solucionado atravs do comrcio internacional. Apes ar de, em pleno ano 2003, os Estados Unidos apresentarem um dficit muito grande n a sua balana de pagamentos - da ordem de 5,2% do seu PIB -, um dficit adicional de 1% a 1,5% colocaria esse pas s portas de uma recesso mais pronunciada do que a que se vem evidenciando desde o ano 2000 e talvez houvesse a necessidade de uma que da mais acentuada do dlar. Mas no se trataria de nada impossvel de levar a cabo. Po demos chegar, ento, a todas essas concluses, se juntarmos suficientes peas a partir das cifras oficiais da International Energy Administration. Mas lamentavelmente estaramos diante de uma iluso, muito maior ainda do que as que costumam ser vistas nos desertos, debaixo dos quais se encontra o petrleo. Acontece que o petrleo no como a gua ou o ar nem como o dinheiro. Ele no pode ser ex trado no ritmo que se deseja, no encontrado de maneira uniforme nem sempre da mesm a qualidade. Para comear, nas reservas costuma haver tipos de petrleo especialment e pesados, que em geral so de valor energtico muito mais baixo e apresentam maiore s custos para serem processados, um petrleo que ainda hoje no se sabe processar be m pelo seu baixo valor energtico e econmico. H, inclusive, tipos de petrleo que aind a hoje no possuem valor econmico e outros, localizados em zonas de muito difcil ace sso, cuja explorao seria to cara que s teria sentido com um preo mundial do petrleo c u compatvel com cerca de oitenta dlares por barril em valores de hoje, atualizados pela taxa de inflao dos Estados Unidos, preo a que se chegou durante a segunda cri se petroleira mundial, devida ao conflito entre os Estados Unidos e o Ir em 1979. Isso quer dizer que uma porcentagem indeterminada mas relevante das cifras ofic iais corresponde ao petrleo que est nas estatsticas mas no na realidade. Em segundo lugar, e de forma ainda mais importante, deve-se levar em conta que o petrleo no vai comear a faltar a partir do ano em que teoricamente se extinguir (p or volta de 2035-2040), mas sim a partir do momento em que se alcanar o que se de nomina "teto mundial de produo". O "teto mundial de produo" a mxima quantidade poss de petrleo que se pode produzir em um ano e depende das caractersticas geolgicas d os poos, do tipo de petrleo cru, da tecnologia de extrao que se use, etc., etc. No i nundo, ainda nos encontramos na fase ascendente de produo mundial do petrleo cru. M

edir a sua disponibilidade pelo nmero de anos com reservas existentes implicaria um clculo linear de possibilidades de extrao. Ou seja, significaria pensar que em t odos os anos se pode extrair a mesma quantidade e um pouco mais. A realidade dif erente. Existe, primeiramente, um perodo ascendente, de produo superior ano aps ano, causado pelo fato de que vo entrando no circuito produtivo mais jazidas do que a s que vo "secando". Depois se alcana o "teto mundial de produo" e a produo estanca pe to dessa cifra por um breve perodo de alguns anos. Finalmente, comea um perodo de p roduo declinante ano aps ano, originado pelo fato de que j no se podem acrescentar p oduo novas jazidas no mesmo ritmo em que outras vo saindo de circulao e esgotando-se muitas delas, j secas. Hoje o planeta ingressou na ltima parte da curva ascendente do ciclo de produo do petrleo. No se chegou ainda ao "teto mundial de produo". Quant falta para alcan-lo, um dado-chave para a economia do mundo inteiro. O "teto de p roduo" sim foi alcanado em pases como os Estados Unidos. Mencionamos que o "teto de produo norte-americano" foi atingido em 1970 e devemos lembrar especialmente que e m 1973 se produziu uma das crises energticas mundiais mais graves de que se tem n otcia, quando a histria oficial indica que a Arbia Saudita produziu um embargo petr oleiro aos pases ocidentais que ajudaram Israel a ganhar a guerra daquele ano. Na queles anos 1970 eram comuns as filas nos postos de gasolina, o racionamento de combustvel e a inflao descontrolada em muitos pases como conseqncia das subidas de pr s dos hidrocarbonetos, evidenciadas em todo o mundo devido desacelerao inevitvel qu e se produziu na produo do petrleo cru norte-americano, fator que na realidade dese mpenhou um papel preponderante na triplicao dos preos do petrleo cru no incio da dcad de 1970. A partir do momento em que se atingir o "teto mundial de produo", vai-se tornar ev idente uma srie de bruscas carncias de petrleo. O mundo ter alcanado o seu mximo ritm de produo mundial e, a partir desse momento, ano aps ano, haver cada vez menos petrl eo disponvel para alimentar a cada vez mais habitantes da Terra e para sustentar economias que lutam para continuar crescendo a um ritmo superior a 2% ao ano - l imite mnimo considerado aceitvel -, e que seria inalcanvel para todas as naes de form conjunta em um mundo em que a cada dia haveria menos petrleo. Dessa maneira, o p laneta encontra-se frente a uma encruzilhada que deve ser solucionada por alguma destas trs vias, ou por uma combinao das mesmas, daqui a algum tempo: a) uma impor tante reduo na taxa de crescimento demogrfico em escala global e presumivelmente um a diminuio da quantidade de habitantes na Terra; b) uma recesso muito profunda em e scala global que produza uma reduo considervel no nvel de vida da populao mundial; c) o abandono gradual mas acelerado da tecnologia do petrleo. Em termos econmicos, es sa srie de crises internacionais acarretaria subidas bruscas e imprevistas na cot ao do petrleo e/ou a apario de novas guerras, cujo cenrio somente algum muito ingnu e acreditar que se situe por acaso na regio onde existem grandes jazidas de hidro carbonetos ou em zonas por onde este passe. Para dar uma idia da magnitude do pro blema diante do qual estamos, necessrio mencionar que hoje em dia mais de 85% de toda a energia mundial provm de hidrocarbonetos fsseis. S 7% tem a sua origem na en ergia hidreltrica e, em porcentagens ainda menores, nas demais fontes. Isso quer dizer que no vai ser possvel substituir os hidrocarbonetos fsseis por fontes energti cas hoje existentes, mas sim que dever ser gerada uma tecnologia alternativa. Outra iluso que costuma aparecer comumente a relativa possibilidade de se utiliza r carvo como recurso energtico substituto ao petrleo e ao gs natural. O carvo bem ma s abundante que ambos. Os Estados Unidos possuem carvo para trezentos anos nos nve is atuais de consumo. No mundo, cifras comparveis podem ser obtidas em muitos pase s. No entanto, se o consumo do carvo se acelerasse para substituir o de gs e o de petrleo, a quantidade de reservas seria reduzida drasticamente. Rifkin calcula qu e, com um crescimento anual de to somente 4% no consumo anual do carvo, as reserva s norte-americanas s durariam mais 65 anos. Alm disso, o carvo possui muitos inconv enientes: no fcil extrair dele combustveis lquidos e muito custoso. Portanto, no ubstituto apto do petrleo e do gs natural. Adicionalmente, deve-se levar em conta que o carvo um hidrocarboneto "sujo", muito poluente, difcil de carregar e de tran sportar. Pois bem, ento, o importante, o ponto central, determinar qual ser o ano em que se produzir o "teto mundial de produo". A partir desse momento, despertaremos do long o sono que temos vivido e nos daremos conta de que a energia um bem muito mais e

scasso do que, imersos na nossa iluso de abundncia, podemos pensar, fato que faz c om que comecem a adquirir outro significado as guerras do sculo XXI. Uma boa quan tidade dos porqus para os brutais episdios hoje incompreensveis para muitos adquiri r sua verdadeira perspectiva se no comear a acelerar-se a mudana tecnolgica, coisa qu e vai precisamente na direo oposta aos interesses do oligoplio petroleiro mundial. Se um recurso energtico renovvel e barato for encontrado para substituir o petrleo, os enormes gigantes petroleiros enfrentariam uma extino muito acelerada. O "teto mundial de produo" , ento, o dado crucial que necessrio considerar na anlis porque marca o limite entre uma produo em alta e uma que comea a declinar. A quanti dade de anos de reservas, que dissemos ser de 35, parte do pressuposto de que se pode produzir petrleo de forma constante, mas j explicamos que no assim. A determi nao desse ano um clculo que s os gelogos podem efetuar baseando-se em seus estudos s bre os poos em todo o planeta. Os gelogos esto divididos entre os "otimistas" e os "pessimistas". No caso do evidenciado j nos Estados Unidos em 1970, a batalha foi ganha pelos "pessimistas". Pior ainda, triunfou a viso mais pessimista de todas, dado que o consenso falava de uma impossibilidade de que a produo tocasse seu tet o em 1970, coisa que aconteceu e que gerou uma grande crise s trs anos mais tarde. No caso do mundo, os "otimistas" esperam que o "teto mundial de produo" seja alca nado entre 2014 e 2018. Em nenhum caso se espera que seja alcanado depois do ano 2 020. Os "pessimistas" crem que o "teto mundial de produo" ser alcanado por volta do a no 2010 e alguns deles esperam que isso ocorra em 2004. Uma boa parte da aparente acelerao que tem tido a Histria no comeo deste milnio, com o surgimento de acontecimentos inditos anteriormente, deve-se precisamente aos da dos anteriores. Acontece que nos anos 1990, comeou a ficar evidente que parte das reservas oficiais de petrleo que restavam nos estados da ex-URSS e nos pases rabes em geral estavam superdimensionadas nas estatsticas, provavelmente com conhecime nto de causa, j que os poos petrolferos serviam como garantia para emprstimos bancrio s, o que, em alguns casos, motivou uma inteno de "inflar" artificialmente o contedo das jazidas. como se, com esforo, tivssemos subido a ladeira de uma montanha ngrem e, s para constatar, uma vez l em cima, que deveremos descer, daqui em diante, por uma ladeira muito mais inclinada - e, portanto, perigosa - do que pensvamos. OLHANDO PARA O OUTRO LADO

A partir desses clculos surgem vrias questes. A primeira delas por que o governo no rte-americano no aconselha a sua populao a economizar o mximo possvel de petrleo. Qua do, no ano de 1973, se produziu a crise petroleira, em boa medida gerada pelas e mpresas multinacionais norte-americanas e britnicas e pela qual logo foram acusad os apenas os pases rabes, o governo de Nixon aconselhava, atravs dos meios de comun icao, a economia de combustveis. Tratava-se s de uma crise temporria, at que tecnicam nte flusse uma maior quantidade de petrleo do Golfo Prsico para substituir o que co meava a escassear nos Estados Unidos, e, embora a soluo fosse somente uma questo de tempo, o governo cumpria o dever de guiar a populao no que parecia ser uma necessi dade peremptria: economizar energia. Hoje, por outro lado, depois da invaso do segundo pas com mais reservas de petrleo do mundo - o Iraque - e com o planeta j muito perto do seu limite de capacidade p rodutiva de petrleo, nenhuma voz do governo norte-americano se levanta para acons elhar a economia de energia. Isso parece muito mais chamativo se levarmos em con siderao que o atual governo dos Estados Unidos foi praticamente arrebatado pela in dstria petroleira. O presidente George W. Bush dirigiu ou formou vrias empresas: A rbusto Energy, Bush Energy, Spectrum 7, Harken. O seu pai foi co-fundador da polm ica Zapata Oil, depois dividida em Zapata Oil e Zapata Offshore3. A mxima assesso ra em matria de segurana do governo Bush, Condoleezza Rice, chefa do Conselho Naci onal de Segurana (National Security Council - NSC), tambm provm da indstria petrolei ra, mais especificamente da Chevron. O caso do atual vice-presidente e ex-ministro da Defesa do pai de Bush, Dick Che ney, ainda mais chamativo. Durante a dcada de 1990, ele dirigiu a empresa Hallibu rton, principal fornecedora mundial de insumos para o setor petroleiro. Realizou importantes negcios vendendo abundante material por bilhes de dlares a Saddam Huss

ein, para que este se preparasse no seu af de triplicar a oferta de petrleo cru ir aquiano. O problema que depois surgiu que Saddam Hussein decidiu excluir as empr esas norte-americanas e britnicas do processo de concesso dos poos iraquianos, base ando a sua estratgia em contratar sobretudo as petroleiras estatais da Europa con tinental. Se Saddam tivesse alcanado esse objetivo, dado que o petrleo est se esgot ando nos Estados Unidos e na Inglaterra de forma simultnea, o declnio no volume de negcios das petroleiras anglo-saxnicas t-las-ia condenado a um brutal encolhimento . Haveria um maior domnio do mercado por parte das empresas estatais de petrleo. De qualquer forma, no se pode pensar que o establishment petroleiro norte-america no tenha sido tomado de surpresa pela estratgia de Saddam Hussein, dado que a inv aso do Iraque comeou a ser planejada no mais tardar em 1997, por meio de um reduzi do grupo de intelectuais e de homens de ao do Pentgono, entre os quais se encontram Paul Wolfowitz, Richard Perle e outros, junto com Francis Fukuyama. O think tan k chama-se "Project for the New American Century". Esse ncleo de pessoas, que evi dentemente no se reuniu