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WEB 5 - Unidade 1 A EXPLICAÇÃO SOCIOLÓGICA DA VIDA COLETIVA Se fizermos uma análise panorâmica, vamos perceber que muitas coisas mudaram no mundo desde a Idade Média. O declínio do poder da Igreja que durante muitos séculos foi guardiã da moral ocidental abriu a possibilidade para que novas estruturas políticas começassem a emergir. Na esteira do declínio do poder papal, cresceu a ideia da soberania nacional e, por extensão, a figura do Rei. Houve um desmembramento entre política e religião que passam a categorias autônomas. Do ponto de vista filosófico, começam a surgir correntes de pensamento analisando criticamente o mundo e reinterpretando a realidade. Vemos por todos os lados o mundo medieval ruindo. Mas, existe um aspecto desde mundo que não analisamos profundamente ainda. Estou falando do mundo dos negócios. A construção de um novo mundo Um dos fatos que mais contribuiu para mudar o mundo não tem, necessariamente, a ver com um sistema filosófico. Vamos voltar no tempo, mais especificamente para o século XVIII. Imagine que você é um ferreiro e vive numa cidade inglesa chamada Birmingham. Como estamos em transição do final da Idade Média para a Idade Moderna, ainda não sabemos que haverá uma explosão da produção e consumo. Por ora, você gasta suas horas martelando o ferro que será utilizado para fazer simples alfinetes. Bem, a vida não parece trazer muitas perspectivas no futuro. Alfinetes são feitos há séculos e trabalhar como ferreiro parece ser um bom ofício. É preciso muito esforço apesar do trabalho não render muito. O primeiro passo é acender o fogo e, enquanto o ferro é aquecido, preparar as ferramentas. Um dia de trabalho suado vale a pena: com bastante esforço da para fazer de 15 a 18 alfinetes de qualidade. É difícil ir muito mais rápido, como são muitas as etapas e um único homem cuida de todo o processo que vai da matéria prima até a comercialização (são ao todo 18 operações diferentes), a produção fica limitada. Mas, sinceramente? Para que fazer mais alfinete? Alfinetes são como sapatos: como não são descartáveis, duram para sempre. Contudo, em Birmingham começam a surgir algumas invenções que começam a sacudir o calmo ramo de fabricação de ferraduras. Alguns passam a usar mais e mais equipamentos para fabricar e outros chegam a dizer que o vapor pode ter uma força descomunal, capaz de carregar centenas de pessoas. Muitos destes boatos são duvidosos, mas o poder do vapor tem sido experimentado ha muitos anos pelo escocês James Watt. Além disso, a divisão do trabalho e o processo produzido têm sido elevados à categoria de ciência. Começa-se a falar em aumentar a eficiência ganhando escala, reduzindo, desta forma, o custo efetivo total de cada alfinete. Para alguns a ideia do aumento da produção parece algo insano. "Aumentar a produção vai fazer apenas aumentar os estoques. Para que?" - dizem. Mas você é uma pessoa à frente do seu tempo e enxerga o potencial desta ideia. Mas aumentar o número de máquinas vai causar um caos. É preciso organizar a produção. Depois de investir a herança da família na aquisição de umas 1

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WEB 5 - Unidade 1    

A EXPLICAÇÃO SOCIOLÓGICA DA VIDA COLETIVA      Se fizermos uma análise panorâmica, vamos perceber que muitas coisas mudaram no mundo desde a Idade Média. O declínio do poder da Igreja que durante muitos séculos foi guardiã da moral ocidental abriu a possibilidade para que novas estruturas políticas começassem a emergir. Na esteira do declínio do poder papal, cresceu a ideia da soberania nacional e, por extensão, a figura do Rei. Houve um desmembramento entre política e religião que passam a categorias autônomas.     Do ponto de vista filosófico, começam a surgir correntes de pensamento analisando criticamente o mundo e reinterpretando a realidade. Vemos por todos os lados o mundo medieval ruindo. Mas, existe um aspecto desde mundo que não analisamos profundamente ainda. Estou falando do mundo dos negócios.        A construção de um novo mundo       Um dos fatos que mais contribuiu para mudar o mundo não tem, necessariamente, a ver com um sistema filosófico. Vamos voltar no tempo, mais especificamente para o século XVIII. Imagine que você é um ferreiro e vive numa cidade inglesa chamada Birmingham. Como estamos em transição do final da Idade Média para a Idade Moderna, ainda não sabemos que haverá uma explosão da produção e consumo. Por ora, você gasta suas horas martelando o ferro que será utilizado para fazer simples alfinetes.       Bem, a vida não parece trazer muitas perspectivas no futuro. Alfinetes são feitos há séculos e trabalhar como ferreiro parece ser um bom ofício. É preciso muito esforço apesar do trabalho não render muito. O primeiro passo é acender o fogo e, enquanto o ferro é aquecido, preparar as ferramentas.

Um dia de trabalho suado vale a pena: com bastante esforço da para fazer de 15 a 18 alfinetes de qualidade.     É difícil ir muito mais rápido, como são muitas as etapas e um único homem cuida de todo o processo que vai da matéria prima até a comercialização (são ao todo 18 operações diferentes), a produção fica limitada. Mas, sinceramente? Para que fazer mais alfinete? Alfinetes são como sapatos: como não são descartáveis, duram para sempre.    

Contudo, em Birmingham começam a surgir algumas invenções que começam a sacudir o calmo ramo de fabricação de ferraduras. Alguns passam a usar mais e mais equipamentos para fabricar e outros chegam a dizer que o vapor pode ter uma força descomunal, capaz de carregar centenas de pessoas. Muitos destes boatos são duvidosos, mas o poder do vapor tem sido experimentado ha muitos anos pelo escocês James Watt. Além disso, a divisão do trabalho e o processo produzido têm sido elevados à categoria de ciência. Começa-se a falar em aumentar a eficiência ganhando escala, reduzindo, desta forma, o custo efetivo total de cada alfinete.        Para alguns a ideia do aumento da produção parece algo insano. "Aumentar a produção vai fazer apenas aumentar os estoques. Para que?" - dizem. Mas você é uma pessoa à frente do seu tempo e enxerga o potencial desta ideia. Mas aumentar o número de máquinas vai causar um caos. É preciso organizar a produção. Depois de investir a herança da família na aquisição de umas máquinas e de repensar o processo produtivo entra em operação a nova fábrica de alfinetes.        Uma nova máquina aqui, um processo diferente ali... a produção anda a todo vapor. A conta bancária também tem melhorado muito com as novas filiais. As economias da família vão crescendo mais e mais e já podemos considerá-lo um novo burguês. Um dia destes, um economista entra em uma das suas pequenas manufaturas. Ele analisa os processos e faz alguns cálculos. Dizem que ele é famoso. Depois de muito observar vai embora. Passados algum tempo, você pega um livro de economia que falava sobre a divisão do trabalho e acha incrivelmente familiar a história narrada lá.Você lê na próxima página:      A fábrica de alfinetes             Para tomar um exemplo, pois, de uma manufatura pouco significante, mas uma em que a divisão do trabalho tem sido muito notada: o ofício do alfineteiro; um operário não educado para esta ocupação (que a divisão do trabalho transformou numa atividade específica), nem familiarizado com o uso da maquinaria nela empregada (para cuja invenção essa mesma divisão do trabalho provavelmente deu ocasião), dificilmente poderia, talvez com seu máximo empenho, fazer um alfinete por dia, e certamente não conseguiria fazer vinte.      Mas de modo em que este ofício é agora exercido, não só todo trabalho é uma atividade especial, mas está dividido num número de ramos, dos quais a maioria pode ser outras tantas indústrias. Um homem

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estica o arame, outro o endireita, um terceiro corta-o, um quarto o aponta, um quinto esmerilha o topo para receber a cabeça; fazer a cabeça exige duas ou três operações distintas, colocá-la é uma tarefa à parte; branquear os alfinetes, é outra; é mesmo outra indústria, o colocá-los no papel, e o importante negócio de fazer um alfinete é, destarte, dividido em cerca de dezoito operações distintas, que em algumas manufaturas são todas executadas por mãos distintas, se bem que outras o mesmo  homem às  vezes fará duas ou três delas.              Vi uma pequena manufatura desta espécie onde apenas dez homens eram empregados, e onde alguns deles, consequentemente, executavam duas ou três operações  diferentes. Não obstante sendo eles muitos pobres, e portanto, mal acomodados tão somente com a maquinaria estritamente necessária, podiam, quando se esforçavam, produzir, entre eles, cerca de doze libras de alfinetes    por dia. Há numa libra, mais de quatro mil alfinetes de tamanho médio. Estas dez pessoas, portanto, conseguiam fazer um total de mais de quarenta e oito mil alfinetes por dia. Cada pessoa, portanto, fazendo uma décima parte de quarenta e oito mil alfinetes, deve produzir quatro mil e oitocentos alfinetes por dia. Mas trabalhando todos separados, independentes, e deles não conseguiria fazer vinte, nem mesmo um alfinete por dia, que, por certo, não é duzentas e quarenta vezes, nem quatro mil e oitocentas vezes menos do que atualmente são capazes de perfazer em consequência de uma divisão e combinação adequada de suas diferentes operações (SMITH, 1986, p. 17).            Se fôssemos resumir, a operação de fazer alfinetes poderia ser demonstrada da seguinte maneira:   Contudo houve mais mudanças do que apenas o aumento da produtividade. A industrialização foi traumática do ponto de vista humano com consequências em diversas áreas. Observe o texto a seguir, que trata destas mudanças:1      MUDANCAS RESULTANTES DA INDUSTRIALIZACÃO   As grandes transformações sociais não costumam acontecer de maneira súbita, sendo quase imperceptíveis para aqueles que nelas estão imersos. Mesmo os sistemas filosóficos e científicos inovadores entrelaçam-se a tal ponto com os que os antecedem que é difícil pensar em termos de rupturas radicais. Ainda assim, começara a despontar desde a Renascença a consciência de que uma linha distintiva separava os novos tempos do que veio a se chamar Medievo. Mudanças na organização política e jurídica, nos modos de produzir e de comerciar exerciam um mútuo efeito multiplicador e geravam conflitos ideológicos e políticos de monta.      O avanço do capitalismo como modo de produção dominante na Europa ocidental foi desestruturando, com velocidade e profundidade variadas, tanto os fundamentos da vida material como as crenças e os princípios morais, religiosos, jurídicos e filosóficos em que se sustentava o antigo sistema. Profundos câmbios na estrutura de classes e na ossatura do Estado foram ocorrendo em muitas das sociedades européias.       A dinâmica do desenvolvimento capitalista e as novas forças sociais por ele engendradas provocaram o enfraquecimento ou desaparecimento, mais ou menos rápido, dos estamentos tradicionais - aristocracia e campesinato - e das instituições feudais: servidão, propriedade comunal, organizações corporativas artesanais e comerciais.        A partir da segunda metade do século 18, com a primeira revolução industrial e o nascimento do proletariado, cresceram as pressões por uma maior participação política, e a urbanização intensificou-se, recriando uma paisagem social muito distinta da que antes existia. Os céus dos grandes centros industriais começaram a cobrir-se da fumaça despejada pelas chaminés de fábricas que se multiplicavam em ritmo acelerado, aproveitando a considerável oferta de braços proporcionada pela gradual deterioração da propriedade comunal. De fato, esta antiga instituição européia vinha sendo aos poucos usurpada pelos grandes proprietários e arrendatários de terras, com base nas leis e nas armas.       A capitalização e modernização da agricultura provocaram o êxodo de milhares de famílias que, expulsas de seu habitat ancestral, vagavam à procura de trabalho. As cidades, receptoras desses fluxos contínuos, foram crescendo acelerada e desordenadamente. Cenário de feiras periódicas, elas recebiam pequenos produtores locais e mercadores estrangeiros e, sob o manto de sua intensa atividade, albergavam uma população de mendigos, desocupados, ladrões, saltimbancos, piratas de rios e de cais, traficantes e aventureiros em busca de todo tipo de oportunidades.      A cidade acenava a todos com a possibilidade de maior liberdade, proteção, ocupação e melhores ganhos, embora para muitos tais promessas não chegassem a cumprir-se. No carregado ambiente urbano, a pobreza, o alcoolismo, os nascimentos ilegítimos, a violência e a promiscuidade tornavam-se notáveis e atingiam os membros mais frágeis do novo sistema, particularmente os que ficavam fora da cobertura das leis e instituições sociais.      

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A aglomeração, conjugada a outros fatores como as condições sanitárias, tinha outras conseqüências deletérias sobre a população urbana, especialmente sobre os mais miseráveis. A fome, a falta de esgotos e de água corrente nas casas, o lixo acumulado e as precárias regras de higiene contribuíam para a proliferação de doenças e a intensificação de epidemias que elevavam as taxas de mortalidade da população em geral, e dos pobres, das crianças e parturientes em particular. A gente decente banhava-se somente por ordem médica (o banho diário era coisa de nobres e libertinos) e "muitos não tinham idéia se o sabão era ou não comestível".        Foi somente no limiar do século 18, com as revoluções industrial e agrícola na Inglaterra, que uma relativa abundância de alimentos juntamente com outros fatores ligados a melhorias na higiene promoveram uma sensível redução das taxas de mortalidade e um correspondente aumento da população. As quedas abruptas, uma constante na pauta demográfica dos períodos anteriores, tornaram-se menos freqüentes. Entre 1800-1850, o crescimento populacional da Europa foi de 43%. Alguns países ultrapassaram os 50%. Na França, no início do século 19, a expectativa média de vida subiu a 38 anos, e 7% da população já chegavam aos 60 anos, embora 44% não passassem dos 20.      As condições de trabalho que caracterizam o início da revolução industrial eram assustadoras para os padrões atuais e podem ser responsabilizadas pela baixa expectativa de vida dos operários que labutavam em turnos diários de 12 a 16 horas, ampliados para até 18 horas quando a iluminação a gás tornou-se disponível. Foi em 1833, e somente nas fábricas têxteis da Inglaterra, que crianças entre 9 e 13 anos foram proibidas de trabalhar em jornadas de mais de 9 horas, e as que tinham entre 13 e 16 anos por mais de 12 horas, sendo o turno da noite reservado para que freqüentassem a escola.5 O salário dos aprendizes era em geral a metade do que se pagava aos operários, o das mulheres a quarta parte, e o das crianças... já se pode imaginar.      Além das doenças devidas ao ambiente insalubre, da alimentação deficiente, da falta de aquecimento apropriado, da disciplina nas fábricas e das multas que reduziam ainda mais seus ganhos, os trabalhadores estavam expostos a freqüentes acidentes provocados pelo maquinário pesado que mutilava e matava. Muitas revoltas tiveram como alvo as próprias máquinas, destruídas pelos operários enfurecidos, como no chamado movimento ludista. A luta por melhores condições de trabalho, na Europa como na América, foi árdua, e novos direitos foram sendo aos poucos conquistados e acrescentados à legislação social e trabalhista em diversos países. 

Mudanças também ocorreram, em distintos graus, na instituição familiar, tanto no que se refere ao status de seus membros segundo sexo e idade, como à natureza das relações pessoais e jurídicas entre eles. Em questões tais como o controle de propriedades por parte das mulheres, a relativa autonomia dos filhos, a abolição do direito de primogenitura houve avanços significativos, dependendo da dinâmica interna das sociedades.    Menos visíveis, mas igualmente profundos foram os desenvolvimentos no universo das relações afetivas. Nas camadas altas e médias das comunidades medievais, onde nome e fortuna eram o binômio que marcava os destinos de homens e mulheres, a escolha de parceiros dependia de critérios estamentais ou refletia interesses políticos ou econômicos familiares.6 Com o advento da modernidade, certas instituições começaram a se consolidar e a adquirir importância - entre elas o amor romântico, o casamento por escolha mútua, a estrutura nuclear da família, o reconhecimento da infância e mesmo da adolescência enquanto fases peculiares da vida.       A presença de uma nova sensibilidade e de atitudes, comportamentos e valores distintos - como os mimos que passam a ser dedicados às crianças, até então vistas como adultos em miniatura - só se torna conspícua quando se atenta para o longo prazo e, mesmo assim, as práticas anteriores não deixam de ter vigência. De fato, provocaria escândalo nos dias de hoje a indiferença com que freqüentemente os pais tratavam as crianças até que elas ultrapassassem o limite de idade que permitia ter esperança em sua sobrevivência.7 Como na estória de João e Maria, não era incomum que fossem abandonadas por famílias que não tinham meios de criá-las.       O infanticídio era secretamente praticado e moralmente admitido. Um sentimento de família mais próximo do que existe nos dias de hoje deve-se também ao aparecimento, nas casas burguesas da Inglaterra, dos espaços privados, claramente diferenciados do lugar do trabalho, embora o proletariado urbano demorasse ainda a alcançar esse benefício.     Entre outras coisas, a industrialização também modificou profundamente a percepção do tempo entre as populações européias, ajustadas a ritmos naturais em obediência a costumes milenares. Isso se explica porque quanto menos os povos dependem da tecnologia para levar adiante suas atividades produtivas, mais o tempo social é regulado pelos fenômenos da natureza - as estações, as marés, a noite e o dia, o clima.      

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A revolução industrial obriga a um registro mais preciso do tempo na vida social. O empresário passa a comprar horas de trabalho e a exigir seu cumprimento. Os trabalhadores perdem o controle do ritmo produtivo que impõe uma disciplina até então desconhecida.9 Uma nova moralidade a sustenta desde os púlpitos até que os operários, organizados em associações, começam a rebelar-se contra as exigências excessivas. O esforço para entender as causas e os prováveis desenvolvimentos das novas relações sociais motivou a reflexão que veio a cristalizar-se na Sociologia.     Com a rápida ruína do modelo feudal, houve grandes transformações em um curto período de tempo. É importante destacar que o modelo rural do sistema feudal, mesmo com grandes propriedades, era basicamente um modelo que garantia pouco mais do que a subsistência. Pode parecer absurdo (para a mente capitalista atual) que propriedades do tamanho de países na Europa conseguissem produzir pouco mais do que o necessário para manter a população da época. Mas é importante levarmos em consideração que os equipamentos e as técnicas utilizadas não permitiam ir muito além.       A falta de subsistência econômica gerou o colapso do sistema feudal em pouco tempo. Mas o feudalismo não era apenas um modelo econômico - ele tinha diversas ramificações na política e religião. É justamente este fundamento político e religioso que, como vimos (Web 4), foram sendo corroídas. Não existe mais sustentação política, pois o fator agregador - a religião - está sendo pouco a pouco fragilizado.        Mas, por que o feudalismo não tinha mais sustentação econômica? Por que um sistema que durou séculos entrou em colapso tão rapidamente? A resposta não é simples ou, em outras palavras, geralmente é uma união de pequenos problemas que exigem diversas respostas, mas tem um ponto que podemos destacar: o aumento da população. Com o crescimento da demanda por produtos e alimentos puxados pelo crescimento populacional, a sociedade caminhava para um colapso de abastecimento. Como a demanda não pôde ser suprida pelo sistema feudal que alcançava pouco mais do que a subsistência, não foi mais possível manter o homem no campo. A única alternativa eram as grandes cidades e a promessa de emprego e renda.    

As condições de vida nas conturbadas zonas urbanas não eram das melhores e é importante ver o problema de maneira clara: as cidades não eram, necessariamente, a esperança de dias melhores, mas em muitos casos, a única saída possível.      A vida na cidade não era fácil e sepultou de vez o ritmo de vida do campo. O modo de produção muda do sistema feudal e torna-se predominantemente capitalista. 

√   Mas o que é o capitalismo?     O capitalismo é um sistema econômico, isto é, ele lida com dinheiro e bens, e seu objetivo principal é o retorno do capital investido, o lucro. Em um país capitalista, os cidadãos e não os governos são donos de empresas ou responsáveis por sua administração. As empresas competem entre si para fazer negócios. Os proprietários decidem que produtos e que serviços vão oferecer e também quanto vão cobrar e onde vão vendê-los. As empresas fazem tudo isso para que seus proprietários ganhem dinheiro. As pessoas que usam seu dinheiro para começar um negócio ou administrar uma empresa, esperando o lucro financeiro, são chamadas de capitalistas.1   

É importante destacar que a busca pelo lucro existe há muito tempo - A Bíblia, no Antigo Testamento, já condenava os juros abusivos e o lucro inescrupuloso. A novidade não é o capitalismo em si, mas o sistema econômico associado a um modo de produção: o modo de produção em massa ou, fordismo-taylorismo como ficou conhecido. 

Os ganhos de produtividade foram enormes com o modo de produção em massa. Mas quais são os fundamentos do modo de produção em massa?      Fordismo-Taylorismo       "Mais de um século depois [de Adam Smith], essas ideias alcançaram sua maior expressão nos escritos de Frederick Winslow Taylor, um consultor gerencial norte-americano. A abordagem de Taylor ao que ele denominou gerenciamento científicoenvolvia o estudo detalhado dos processos industriais a fim de dividi-los em operações simples que pudessem ser cronometradas e organizadas com precisão. De acordo com Taylor, cada tarefa pode ser examinada rigorosa e objetivamente a fim de determinar "a melhor maneira" de executá-la. [...]     

 Taylor preocupava-se em melhorar a eficiência industrial, mas deu pouca importância às consequências de tal eficiência. A produção em massa exige mercados em massa: foi o industrialista Henry Ford quem primeiro percebeu essa ligação. O fordismo - uma extensão dos princípios do gerenciamento científico

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de Taylor - é o termo utilizado para designar o sistema de produção  em massa atrelado ao desenvolvimento dos mercados em massa". (GIDDENS, 2005, p. 312)    

 Durante muito tempo achou-se que o fordismo era imbatível e o futuro de toda a indústria.Seguindo Giddens (2005, p. 313):        Esse sistema pode ser aplicado apenas em indústrias, como a da manufatura de veículos, que fabricam produtos padronizados para grandes mercados. O estabelecimento de linhas de produção mecanizadas é extremamente caro, e uma vez que se estabelece um sistema fordista, tem-se um sistema bastante rígido: para alterar um produto, por exemplo, é necessário um reinvestimento considerável. Havendo a disponibilidade de verba suficiente para instalar a fábrica, é fácil copiar a produção fordista; porém, as empresas situadas em países onde a mão-de-obra é cara encontram dificuldades para competir com aquelas localizadas em países onde os ordenados são baixos.  

A análise das consequências do que ocorreu em torno da industrialização e do fortalecimento do capitalismo se constituem em um assunto de primeira grandeza. Não é a toa que grandes pesquisadores se dedicaram a analisar os fatos que ocorreram na Inglaterra e se espalharam pelo mundo. É o caso de Marx, Durkheim e Weber.   

Um das muitas questões que podem ser levantadas envolvendo o capitalismo tem a ver com a banalização do ser humano e a inversão de valores.     

A ABORDAGEM MATERIALISTA (KARL MARX)       

Todos os meios para desenvolver a produção transformam-se em meios para dominar e explorar o produtor: fazem dele um homem truncado, fragmentário, ou o apêndice de uma máquina. Opõem-se a ele, como outras tantas potências hostis, as forças científicas da produção. Substituem o trabalho atrativo por trabalho forçado. Fazem com que as condições em que se desenvolve o trabalho sejam cada vez mais anormais, e submetem o trabalhador, durante seu serviço, a um despotismo tão ilimitado como o mesquinho. Convertem toda sua vida em tempo de trabalho (MARX, K. EI capital. Crítica de la economía política.Tradução de Floreal Mazía. Buenos Aires: Cartago, 1973. Vol1. p.619).          Pense nesta frase: "Por que poucos têm tanto e tantos têm tão pouco?". Você já se perguntou algo parecido? Não é realmente curioso o fato de que muitas pessoas sacrificam sua saúde, tempo, família e tantas outras coisas mais por algo que "não traz felicidade"? (Afinal de contas "dinheiro não traz felicidade", não é mesmo?...)          Uma das pessoas que mais analisou a influência do dinheiro (ou, o capital) foi Karl Marx. Ele procurou analisar a influência que o dinheiro passou a ter e o fortalecimento do capitalismo dentro do ambiente conturbado que se seguiu à Revolução Industrial.          Karl Marx (1818-1883) nasceu em Trier no reino da Prússia em uma família liberal de origem judaica recentemente convertida ao protestantismo. Sua vida acadêmica começa no Direito, mas foi com a Filosofia que veio a maior parte das influência que orientaram sua vida, em especial os pensamento de Hegel (Web 2). O jovem Marx sempre procurou um forte engajamento político passando por diversos países da Europa difundindo ideias revolucionárias. Sua crítica ao capitalismo pode ser visto em muitos dos seus escritos, mas foi em O capital que suas ideias ganharam um corpo sistematizado. Não é exagero dizer que Marx se tornou um dos filósofos mais lidos do mundo e sem dúvida uma grande influência no Brasil.   

Você pode até perguntar: ok, mas em que lugar está esta influência de Marx no Brasil? Simples, nas comunidades eclesiais de base, no movimento estudantil, nas Pastorais da Terra, em partidos políticos etc.          Teoria, prática e práxis         Para Marx existe uma proximidade entre teoria e práxis. Mas, afinal de contas, o que é práxis?    PRÁXIS    Com esta palavra (que é a transcrição da palavra grega que significa ação), a terminologia marxista designa o conjunto de relações de produção e trabalho, que constituem a estrutura social, e a ação  transformadora que a revolução deve exercer sobre tais relações. Marx dizia que é preciso explicar a formação das ideias a partir da "práxis material", e que, por conseguinte, formas e produtos da consciência só podem ser eliminados por meio da "inversão prática das relações sociais existentes", e não por meio da "crítica intelectual" (ABBAGNANO, 2012, p.922).    

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    Todos nós modificamos o mundo e somos modificados por ele. Em outras palavras, podemos dizer que a teoria é a explicação da realidade e a práxis a atuação concreta pela qual a pessoa atua no mundo. A filosofia de Marx não se limita a um debate com os pensadores do passado. Sua filosofia é fundamentada teoricamente e orientada para a ação. Observe o próprio Marx comentando a este respeito:          

√ Os filósofos limitaram-se a interpretar omundo de diversas maneiras;o que importa é modificá-lo.

  Unidade 2       O trabalho como característica humana.         Da para perceber que Marx dá muita importância à maneira como o homem atua no mundo. Mas qual a principal maneira pela qual o homem transforma o mundo? Através da literatura? Das artes? Marx parte sua análise do trabalho como característica humana.

Observe seu comentário:       É certo também o animal produz. Constrói para si um ninho, casas, como as abelhas, os castores, as formigas etc. Mas produz unicamente o que necessita imediatamente para si ou sua prole (...) produz unicamente por força de uma necessidade física imediata, enquanto o homem produz inclusive livre da necessidade física e só produz realmente liberado dela; o animal produz somente a si mesmo, enquanto o homem reproduz a natureza inteira; o animal pertence imediatamente a seu corpo físico, enquanto o homem enfrenta-se livremente com seu produto. O animal produz unicamente segundo a necessidade e a medida da espécie a que pertence, enquanto o homem sabe produzir segundo a medida de qualquer espécie e sabe sempre impor ao objeto a medida que lhe é inerente; por isso o homem cria também segundo as leis da beleza

(MARX, K. Manuscritos: economía y filosofía. Tradução de Francisco Rubio Llorente. Madrid: Alianza Editorial, 1974.  P.112.)      

    Entender as forças produtivas é o primeiro passo para compreender o pensamento de Marx. É através das forças produtivas que o homem se estabelece diante da natureza e expressa sua posição no mundo. Para construir o mundo em que vive os homens estabelecem relações de produção uns com os outros visando à produção de bens e serviços. E é aí que está todo o problema da questão. Ao estabelecer relações de produção -produção, troca e distribuição - são estabelecidas situações desiguais entre os proprietários dos meios de produção e os produtores.        Você se lembra da fábrica de alfinetes citada por Adam Smith? Lembra da capacidade produtiva de um trabalhador isolado contra o grupo? Para refrescar sua memória aqui está a representação do que Adam Smith descreveu:        Dá para perceber claramente um enfraquecimento da relação produtiva depois da modernidade com a inserção de máquinas e da reengenharia do processo produtivo. 

Falando de modo claro: o trabalhador dificilmente conseguiria competir, isoladamente, contra as forças produtivas.         Foi isso que passou a acontecer no final da Idade Média. Com o apodrecimento da economia rural medieval e o inchaço das zonas urbanas, mais e mais trabalhadores passaram a engrossas as fileiras das linhas de produção. Esta força produtiva aumentou significativamente a escala produtiva, mas causou também o colapso da manufatura artesanal e o enfraquecimento da relação capital-trabalho. Existem muitas implicações desse processo histórico: um dos mais destacados por Marx foi o processo de alienação.   

A experiência da alienação    Você já se imaginou andando em uma Ferrari? Ferraris sempre chamam muita atenção por onde passam. Geralmente, as pessoas tiram fotos e comentam (e se não tiram fotos e comentam pelo menos prestam atenção). E isso não é por acaso, afinal estes carros geralmente são muito superiores em termos mecânicos e de design do que o que temos em nossas garagens. 

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Agora imagine se você fosse dono da sua Ferrari. Escolha a cor, modelo, acabamento interno... Bem, voltando ao mundo real, o que impede você de ter a sua Ferrari?   

Existem muitos motivos pelo qual eu não consigo ter uma Ferrari, um deles é que, como eu não sei fazer uma Ferrari, só me resta comprar uma de quem sabe. Mas, será que seu soubesse fazer uma Ferrari eu conseguiria ter uma?

Em outras palavras: os funcionários que fabricam a Ferrari andam de Ferrari? 

Você percebe como os próprios produtores podem ser separados dos produtos por eles feitos por causa do processo produtivo? Isso está no coração do que Marx chamou de alienação.   Alienação  O fundamento da alienação, para Marx, encontra-se na atividade humana prática: o trabalho. Marx faz referência principalmente às manifestações da alienação na sociedade capitalista. Segundo ele, o fato econômico é 'o estranhamento entre o trabalhador e sua produção' e seu resultado é 'o trabalho alienado, cindido', que se torna independente do produtor, hostil a ele, estranho, poderoso e que, ademais, pertence a outro homem que o subjuga -o que caracteriza uma relação social. 

Marx sublinha três aspectos da alienação:    1. o trabalhador relaciona-se com o produto do seu trabalho como com algo alheio a ele, que o domina e lhe é adverso, e relaciona-se da mesma forma com os objetos naturais do mundo externo; o trabalhador é alienado em relação às coisas;        2. a atividade do trabalhador tampouco está sob seu domínio, ele a percebe como estranha e a si próprio, assim como sua vida pessoal e sua energia física e espiritual, sentidas como atividades que não lhe pertencem; o trabalhador é alienado em relação a si mesmo;        3. a vida genérica ou produtiva do ser humano torna-se apenas meio de vida para o trabalhador, ou seja, seu trabalho -que é sua atividade vital consciente e que o distingue dos animais -deixa de ser livre e passa a ser unicamente meio para que sobreviva. Portanto, 'do mesmo modo como o operário se vê rebaixado no espiritual e no corporal à condição de máquina, fica reduzido de homem a uma atividade abstrata e a um estômago' (QUINTANEIRO, BARBOSA; OLIVEIRA, 2007, p. 51-52).     

    O sistema capitalista, o trabalhador é separado da riqueza por ele gerado. Uma vez que seu pagamento é negociado por certo valor, o produtor acaba separado dos produtos que ele produziu: os que produzem a Ferrari não são mais os donos do produto por eles produzido. Só resta aos trabalhadores se contentar com seu salário que, em muitos casos, não é o suficiente para comprar uma Ferrari (às vezes nem em uma vida inteira). 

Este é um dos motivos pela qual as classes sociais vivem em constante guerra, em alguns momentos esta guerra é aberta, em outras, velada. Estas conclusões compõem o método de abordagem de Marx: o materialismo histórico.        A explicação materialista da vida social.      O materialismo histórico é uma abordagem que entende que as relações materiais (modos de produção) que os homens estabelecem estão na base da de todas as relações humanas    Ilha das flores mostra claramente o ponto de vista de Marx: a história é marcada pelas relações trabalhistas que constituem a base material da sociedade. É a partir destas distinções que se estabelecem as lutas entre as classes sociais. Mas, se é possível dizer que as relações de produção e as forças produtivas estão no fundamento da sociedade, então, onde estão as teorias, as artes ou a religião dentro do pensamento de Marx? Para responder a esta pergunta precisamos falar do fundamento e da construção que está edificada em cima deste fundamento. 

Em outras palavras: a infra-estrutura e a superestrutura.       O modo de produção: infra-estrutura e superestrutura.       

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Se você está lendo este texto dentro de uma casa ou prédio, dê uma olhada para as paredes. Toda edificação tem uma parte visível: as paredes, o teto, as portas... e uma parte que não está visível: o fundamento. Você há de convir comigo que, mesmo que eu não esteja vendo o fundamento neste momento, ele é muito importante para minha vida ? já pensou em morar no décimo andar de um prédio que não tivesse um fundamento suficiente para sustentar seu peso? Não sou engenheiro, mas posso deduzir que a estrutura (que eu não vejo) diz muito a respeito do prédio (que eu vejo).       O raciocínio de Marx segue a mesma direção. A sociedade possui um fundamento, que vamos chamar de infraestrutura ou, simplesmente estrutura. Imagine uma base então que vamos chamar de "modos de produção".       Mesmo que eu não preste muita atenção aos modos de produção, para Marx esta é uma questão central! Pois os modos de produção são, justamente, a estrutura onde está edificada nossa sociedade. 

  Mas onde estão as teorias, as artes ou a religião dentro do pensamento de Marx afinal de contas? 

 Segundo Marx:       São os homens que produzem as suas representações, as suas ideias etc., mas os homens reais, atuantes, e tais como foram condicionados por um determinado desenvolvimento das suas forças produtivas e do modo de relações que lhe corresponde, incluindo até as formas mais amplas que estas possam tomar. A consciência nunca pode ser mais que o Ser consciente, e o Ser dos homens é o seu processo da vida real...Assim, a moral, a religião, a metafísica e qualquer outra ideologia, tal como as formas de consciência que lhes correspondem, perdem imediatamente toda aparência de autonomia. Não têm história, não têm desenvolvimento; serão, antes, os homens que, desenvolvendo a sua produção material e as suas relações materiais, transformam, com esta realidade que lhes é própria, o seu pensamento e os produtos deste pensamento. Não é a consciência que determina a vida, mas sim a vida que determina a consciência (MARX, K; ENGELS, F. A ideologia alemã. Tradução de Conceição Jardim e Eduardo Nogueira. Lisboa: Presença/Martins Fontes, 1976. 2 V. p. 25.)         Para Marx a sociedade é estruturada de "baixo para cima", ou, em outras palavras: não é a política, o direito ou as ideologias, por exemplo, que regulam os modos de produção, mas os modos de produção que regulam a política, o direito e as ideologias. Mas como assim? Para Marx o sistema político que temos hoje assim como o direito ou as ideologias foram construídas pelo modo predominante de produção, ou, em outras palavras, pelo capitalismo. No mundo ideal, os políticos criam leis que ajudam os mais pobres. Mas não vivemos no mundo ideal. No mundo real os políticos criam leis que favorecem os mais ricos.        Pois não precisamos de uma lei mais justa apenas, precisamos de um novo fundamento para a sociedade. Na visão de Marx foi o capitalismo quem reestruturou a sociedade que vivemos hoje e aí é que está o problema, pois o capitalismo se desenvolve a partir da exploração da mão de obra. Vamos aprofundar um pouco mais isso.Origem e desenvolvimento da sociedade capitalista: a acumulação primitiva e extração da mais-valia      O capitalismo emergiu como sistema dominante a partir das ruínas da Idade Média e é a forma de organização social mais avançada e diversa que já existiu. Na sociedade capitalista, a mercadoria assume um papel importantíssimo como medida de riqueza. Não é coincidência, então, que as pessoas buscam acumular cada vez mais. Mas qual o mecanismo de acumulação na sociedade capitalista? Para Marx a resposta não é difícil: na mais-valia.     Acompanhando Quintaneiro, podemos dizer que:      Em função das relações sociais de produção capitalistas, o valor que é produzido durante o tempo de trabalho excedente ou não-pago é apropriado pela burguesia. Parte desse valor extraído gratuitamente durante o processo de produção passa a integrar o próprio capital, possibilitando a acumulação crescente. O valor que ultrapassa o dos fatores consumidos no processo produtivo (meios de produção e força de trabalho), e que se acrescenta ao capital empregado inicialmente na produção, é a mais-valia. Ela se transforma, assim, em uma riqueza que se opõe à classe dos trabalhadores. A taxa de mais-valia, a razão entre trabalho excedente e trabalho necessário, expressa o grau de exploração da força de trabalho pelo capital. O que impede o trabalhador de perceber como se dá efetivamente todo esse processo é sua situação alienada. Em síntese, o trabalho apropriado pelo capital "é trabalho forçado, ainda que possa parecer o resultado de uma convenção contratual livremente aceita"(QUINTANEIRO; BARBOSA; OLIVEIRA, 2007, p. 47).      

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Quando o trabalhador era dono da sua força de trabalho, todo produto por ele produzido pertencia a ele integralmente. Mas, como o trabalhador não detém mais os meios de produção, ele deve vender sua força de trabalho e se contentar com apenas uma fração da riqueza por ele gerado na forma de salário como dá para ver na representação a seguir:        Podemos dizer, então, que a mais-valia é a parte produzida pelo trabalhador assalariado que o capitalista se apodera. E qual o resultado direto da exploração do trabalho? Vamos analisar um pouco mais sobre as classes sociais.  

A constituição histórica das classes sociais.        A história, para Marx é a história da luta de classes. Observe a maneira como ele trata do assunto:      A história de todas as sociedades que existiram até nossos dias tem sido a história das lutas de classes. Homem livre e escravo, patrício e plebeu, barão e servo, mestre de corporação e companheiro, numa palavra, opressores e oprimidos, em constante oposição, têm vivido numa guerra ininterrupta, ora franca, ora disfarçada; uma guerra que terminou sempre, ou por uma transformação revolucionária, da sociedade inteira, ou pela destruição das duas classes em luta. Nas primeiras épocas históricas, verificamos, quase por toda parte, uma completa divisão da sociedade em classes distintas, uma escala graduada de condições sociais. Na Roma antiga encontramos patrícios, cavaleiros, plebeus, escravos; na Idade Média, senhores, vassalos, mestres, companheiros, servos; e, em quase que em cada uma destas classes, novas divisões hierárquicas. A sociedade burguesa moderna, que brotou das ruínas da sociedade feudal, não suplantou os velhos antagonismos de classe.         Ela colocou no lugar novas classes, novas condições de opressão, novas formas de luta. Entretanto, a nossa época — a época da burguesia — caracteriza-se por ter simplificado os antagonismos de classe. A sociedade divide-se cada vez mais em dois vastos campos opostos, em duas grandes classes diametralmente opostas: a burguesia e o proletariado.     

    (MARX, K. ENGELS, F. Manifesto do partido comunista.1848 Disponível em: <http://www.marxists.org/portugues/marx/1848/ManifestoDoPartidoComunista/index.htm>.Acesso em: ago. 2012. P.2).             Burgueses e proletários se caracterizam como as duas grandes classes que dominam a sociedade e eles se opõem por possuírem interesses opostos. Enquanto os proletários lutam por melhores salários, jornadas de trabalho menores, participação nos lucros e melhores condições de trabalho, os burgueses, por outro lado buscam aumentar seu ganho com a exploração da mão de obra pela mais-valia.         A característica mais marcante da sociedade é o conflito.

Como destaca Gil:      O estudo dos conflitos entre as classes, que decorre das relações de produção, segundo Marx, é fundamental para compreender como funciona e como se organiza a sociedade. Os proletários - do mesmo modo que os burgueses - passam por diversos estágios no desenvolvimento de suas relações conflitantes. A princípio opõem-se apenas aos instrumentos de produção. Mais tarde, com o desenvolvimento da indústria, passam a formar sindicatos e a lutar com os capitalistas por lucros econômicos. E com uma consciência de classe social crescente, sua luta passa a ser dirigida não apenas para interesses econômicos, mas também políticos (GIL, 2011, p.30-31).         É possível perceber que a teoria de Marx não se reduz ao campo econômico, mas se abre em direção da política. E já que este é um tema importante dentro do seu pensamento, precisamos analisá-lo um pouco melhor.       A crítica marxista ao Estado    Na concepção de Marx, o Estado como o temos hoje é o resultando de um processo governado pela burguesia. É necessária uma reconstrução geral das estruturas de poder. Mas como reconstruir o Estado? Através de leis mais justas? Uma orientação diferente para o governo? Um líder voltado para o povo? Se seguirmos o raciocínio de Marx todas estas são soluções paliativas. A "casa" não precisa de uma nova pintura. Precisa ser reconstruída completamente. Você se lembra de quando falamos de estrutura e superestrutura? É preciso refazer a sociedade desde a sua fundação. Trocar o fundamento implica em implodir todo o sistema político, ideológico, econômico etc., que temos hoje.        

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Qual a palavra que melhor descreve o processo de reconstrução da sociedade? Revolução. Mas existe um ultimo inimigo a ser vencido, e se engana quem pensa que são pessoas. De que estamos falando?    

     A dominação ideológica partir de K.Marx        Existe uma grande dominação ideológica a ser vencida. Cabe aos proletários o papel de reescrever a história e abrir caminho para a revolução.

Segundo Marx e Engels (MARX; ENGELS. Manifesto do Partido Comunista, p. 32.):       De todas as classes que ora enfrentam a burguesia, só o proletariado é uma classe verdadeiramente revolucionária. As outras classes degeneram e perecem com o desenvolvimento da grande indústria; o proletariado pelo contrário, é seu produto mais autêntico. As classes médias — pequenos comerciantes, pequenos fabricantes, artesãos, camponeses — combatem a burguês — porque esta compromete sua existência como classes médias. Não são, pois, revolucionárias, mas conservadoras; mais ainda, reacionárias, pois pretendem fazer girar para trás a roda da História. Quando são revolucionárias é em consequência de sua iminente passagem para o proletariado; não defendem então seus interesses atuais, mas seus interesses futuros; abandonam seu próprio ponto de vista para se colocar no do proletariado.       Resumindo:     

O declínio do poder da Igreja que durante muitos séculos foi guardiã da moral ocidental abriu a possibilidade para que novas estruturas políticas começassem a emergir. Na esteira do declínio do poder papal cresceu a ideia da soberania nacional e, por extensão, a figura do Rei. Houve um desmembramento entre política e religião que passam a ser categorias autônomas. Do ponto de vista filosófico, começam a surgir correntes de pensamento analisando criticamente o mundo e reinterpretando a realidade. Vemos por todos os lados o mundo medieval ruindo. 

As condições de vida nas conturbadas zonas urbanas não eram das melhores e é importante ver o problema de maneira clara: as cidades não eram, necessariamente, a esperança de dias melhores, mas em muitos casos, a única saída possível. A vida na cidade não era fácil e sepultou de vez o ritmo de vida do campo. O modo de produção muda do sistema feudal e torna-se predominantemente capitalista. 

Capitalismo: O capitalismo é um sistema econômico, isto é, ele lida com dinheiro e bens, e seu objetivo principal é o retorno do capital investido, o lucro. Em um país capitalista, os cidadãos e não os governos são donos de empresas ou responsáveis por sua administração. As empresas competem entre si para fazer negócios. Os proprietários decidem que produtos e que serviços vão oferecer e também quanto vão cobrar e onde vão vendê-los. As empresas fazem tudo isso para que seus proprietários ganhem dinheiro. As pessoas que usam seu dinheiro para começar um negócio ou administrar uma empresa, esperando o lucro financeiro, são chamadas de capitalistas. 

Fordismo Taylorismo: A abordagem de Taylor ao que ele denominougerenciamento científico envolvia o estudo detalhado dos processos industriais a fim de dividi-los em operações simples que pudessem ser cronometradas e organizadas com precisão. De acordo com Taylor, cada tarefa pode ser examinada rigorosa e objetivamente a fim de determinar "a melhor maneira" de executá-la. 

Uma das pessoas que mais analisou a influência do dinheiro (ou, o capital) foi Karl Marx. Ele procurou analisar a influência que o dinheiro passou a ter e o fortalecimento do capitalismo dentro do ambiente conturbado que se seguiu à Revolução Industrial. 

Entender as forças produtivas é o primeiro passo para compreender o pensamento de Marx. É através das forças produtivas que o homem se estabelece diante da natureza e expressa sua posição no mundo. Para construir o mundo em que vive os homens estabelecem relações de produção uns com os outros visando à produção de bens e serviços. E é aí que está todo o problema da questão. Ao estabelecer relações de produção - produção, troca e distribuição - são estabelecidas situações desiguais entre os proprietários dos meios de produção e os produtores. 

"Em resumo, para Marx, todos os conflitos na história têm sua origem nacontradição entre as formas produtivas e as relações de produção. Dessa forma, a família, a religião, as formas de governo, as leis, as ideias políticas e os valores sociais constituem apenas aspectos da sociedade cuja explicação depende do desenvolvimento e do colapso dos modos de " (GIL, 2011, p. 31). 

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