24
<secção> Social <etiqueta> habitação <título> Novo paradigma de habitação para seniores <entrada> Em sociedades que valorizam todas as gerações, os desafios habitacionais para os mais velhos podem ser revistos à luz de um novo paradigma. A Santa Casa da Misericórdia de Lisboa dá o seu contributo com uma nova estrutura habitacional que promove a intergeracionalidade. Texto de Maria Eduarda Napoleão [Coordenadora do Programa especial de acompanhamento e avaliação das estruturas residenciais instaladas em edifícios de interesse patrimonial/histórico. Departamento de Acção Social e Saúde | Departamento de Gestão Imobiliária e Património] O envelhecimento apresenta-se como um dos dilemas centrais do século XXI. Nas últimas décadas registou-se um aumento contínuo do número de idosos, com o prolongamento da esperança média de vida por oposição à queda da natalidade, o que contribuiu para transformar as sociedades mais desenvolvidas em sociedades envelhecidas. À medida que a pessoa envelhece, a sua qualidade de vida é determinada, em grande parte, pela sua capacidade de manter a autonomia e a independência. Tal constatação fez surgir o 1

static.apec.org.pt · Web viewefetuaram um estudo sobre os principais indicadores de habitabilidade, através de um método de caraterização de proximidade à habitação da população

  • Upload
    others

  • View
    2

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: static.apec.org.pt · Web viewefetuaram um estudo sobre os principais indicadores de habitabilidade, através de um método de caraterização de proximidade à habitação da população

<secção> Social

<etiqueta> habitação

<título> Novo paradigma de habitação para seniores

<entrada> Em sociedades que valorizam todas as gerações, os desafios

habitacionais para os mais velhos podem ser revistos à luz de um novo

paradigma. A Santa Casa da Misericórdia de Lisboa dá o seu contributo com

uma nova estrutura habitacional que promove a intergeracionalidade.

Texto de Maria Eduarda Napoleão [Coordenadora do Programa especial de

acompanhamento e avaliação das estruturas residenciais instaladas em

edifícios de interesse patrimonial/histórico. Departamento de Acção Social e

Saúde | Departamento de Gestão Imobiliária e Património]

O envelhecimento apresenta-se como um dos dilemas centrais do século XXI.

Nas últimas décadas registou-se um aumento contínuo do número de idosos,

com o prolongamento da esperança média de vida por oposição à queda da

natalidade, o que contribuiu para transformar as sociedades mais

desenvolvidas em sociedades envelhecidas.

À medida que a pessoa envelhece, a sua qualidade de vida é determinada, em

grande parte, pela sua capacidade de manter a autonomia e a independência.

Tal constatação fez surgir o conceito de esperança de vida saudável, que

significa por quanto tempo podem as pessoas esperar viver sem

incapacidades.

O objectivo é melhorar a qualidade de vida, através de estratégias que

promovam a redução dos factores de risco associados a doenças crónicas,

permitindo um envelhecer saudável e produtivo, gerando menor utilização dos

recursos sociais e de saúde. Isso pode ser conseguido através de abordagens

efetivas para a modificação do estilo de vida das pessoas, redução do

1

Page 2: static.apec.org.pt · Web viewefetuaram um estudo sobre os principais indicadores de habitabilidade, através de um método de caraterização de proximidade à habitação da população

sedentarismo, do tabagismo, controlo do peso, alimentação saudável, vida

emocional e social saudável.

O desafio não é “como viver mais” mas sim “como viver melhor”. Alimentar-se

corretamente, gerir o stress, praticar atividade física e controlar o peso corporal

não somente evita ou retarda a mortalidade por doenças crónicas, mas

possibilita também que eventos graves, que reduzem a qualidade de vida,

sejam adiados por vários anos. 

Indicadores do envelhecimento segundo os Censos1

Em Portugal, as projeções em termos demográficos até 2050 indicam que

apenas o grupo dos maiores de 65 anos crescerá, estimando-se que atinga os

32% da população.2

Tendo em consideração esta perspetiva, torna-se imprescindível repensar os

padrões associados ao envelhecimento, à habitação e aos cuidados.

Se, por um lado, as políticas e os programas de envelhecimento ativo devem

favorecer o equilíbrio da responsabilidade pessoal, isto é, o cuidado com a

própria saúde e a dos membros da família, por outro, é fundamental analisar as

questões ligadas à habitação e ao urbanismo, uma vez que todos os outros

grupos etários diminuirão nas próximas quatro décadas.

<intertítulo> Vida independente para a idade maior

1 Indicadores de envelhecimento segundo os Censos Fontes de dados: INE - X, XI, XII, XIII, XIV e XV Recenseamentos Gerais da PopulaçãoFonte: PORDATA. Última atualização: 2015-06-26.2 INE, 2010.

2

Page 3: static.apec.org.pt · Web viewefetuaram um estudo sobre os principais indicadores de habitabilidade, através de um método de caraterização de proximidade à habitação da população

À medida que envelhecemos, iremos ser confrontados com a perspetiva de

rever as nossas condições de vida. No que diz respeito à habitação, as suas

caraterísticas e a sua adequabilidade e acessibilidade têm uma grande

influência na qualidade de vida dos mais velhos. Há transformações e

alterações a serem realizadas de forma a criar um novo paradigma que permita

que sejam os próprios idosos com as suas famílias a definir qual a solução

residencial que melhor se adapta à sua situação, mas para que isto seja

possível é necessário criar essas alternativas.

Num estudo realizado na freguesia de São Nicolau, na Baixa Pombalina, em

Lisboa, para caraterizar as condições habitacionais da população idosa,

designadamente a muito idosa, Rito e Martin (2011)3 efetuaram um estudo

sobre os principais indicadores de habitabilidade, através de um método de

caraterização de proximidade à habitação da população muito idosa, entre os

83 e os 94 anos.

Os indicadores que melhor evidenciaram a precariedade das habitações e das

condições de vida das pessoas muito idosas são, seguidamente, descritos. As

habitações localizam-se principalmente no terceiro andar de prédios ou

andares superiores (53,8%), cujo acesso se faz apenas por escadas (92%), em

apartamentos construídos antes de 1919. As habitações correspondem,

sobretudo, a um regime de propriedade por arrendamento com contrato

assinado, em média, no ano de 1968, com rendas no valor mensal médio de 52

euros. Apresentam quatro ou mais divisões (69,2%), três divisões (23,1%) e

uma divisão (7,7%).

Não obstante, o maior problema resulta da carente capacidade socioeconómica

desta população muito idosa, da implicação da desadequação ambiental às

necessidades particulares e das débeis condições de acessibilidade no seu

quotidiano (implica dificuldades no acesso a cuidados de saúde, na interação

3 http://ler.letras.up.pt/uploads/ficheiros/10586.pdf

3

Page 4: static.apec.org.pt · Web viewefetuaram um estudo sobre os principais indicadores de habitabilidade, através de um método de caraterização de proximidade à habitação da população

social e na aquisição de informação), com graves comprometimentos na sua

qualidade de vida.4

Por variadíssimas razões, umas de ordem económica, outras de ordem

patrimonial, não será viável criar as condições necessárias para que todas

estas pessoas continuem a viver nas suas casas e a alternativa não poderá ser

a institucionalização.

De acordo com a nova lei do arrendamento urbano, Lei n.º 79/2014,  DR n.º

245, Série I, de 19 de dezembro, que revê o regime jurídico do arrendamento

urbano procedendo à segunda alteração à Lei n.º 6/2006, de 27 de fevereiro,

as rendas antigas irão ser atualizadas. Desta forma, os que tiverem contratos

de arrendamento anteriores a 1990 serão os mais afetados por esta legislação.

No que diz respeito à atualização extraordinária das rendas, irá assentar numa

base negocial: o senhorio deverá propor ao inquilino a nova renda, o qual

deverá apresentar uma contraproposta. A média dos valores propostos por

ambas as partes servirá para calcular a nova renda. Porém, caso não haja

acordo, o senhorio terá a pagar o valor da indemnização para ficar com o

imóvel disponível. Esta indemnização será equivalente a 60 rendas  (cinco

anos) calculada pelo valor médio das duas propostas.

Existem todavia situações especiais para as famílias carenciadas e para os

arrendatários com idade igual ou superior a 65 anos, ou com deficiência com

grau de incapacidade superior a 60%, já que não podem ser despejadas, ou

seja, a renda vai aumentar – mediante negociação ou mediante as regras

estipuladas para as famílias carenciadas –, mas nunca haverá lugar a

despejos. Por outro lado, através do Decreto-Lei n.º 156/2015, de 10 de

agosto, estabelece-se o regime do subsídio de renda a atribuir aos

arrendatários com contratos de arrendamento para habitação, celebrados antes

de 18 de novembro de 1990, em processo de atualização de renda, e o regime

de determinação do rendimento anual bruto corrigido (RABC).4 Martin, Ignacio; Santinha, Gonçalo; Rito, Susana; Almeida, Rosa – Habitação para pessoas idosas: problemas e desafios em contexto

português – Sociologia, Revista da Faculdade de Letras da Universidade do Porto. Número temático: Envelhecimento demográfico, 2012, págs.

177-203.

4

Page 5: static.apec.org.pt · Web viewefetuaram um estudo sobre os principais indicadores de habitabilidade, através de um método de caraterização de proximidade à habitação da população

Assim, promove-se uma resposta social para todos os arrendatários cujo

período transitório não ocorrerá antes de 2017. De acordo com o artigo 11.º do

referido decreto-lei, o subsídio para arrendamento em vigor é um apoio

financeiro, concedido ao arrendatário sob a forma de uma subvenção mensal

não reembolsável, relativo ao montante da nova renda e destinada a apoiá-lo a

manter a sua residência permanente no locado.

Este regime contempla um subsídio de renda que pode assumir duas

modalidades, podendo traduzir-se num subsídio para arrendamento em vigor, o

qual permite aos arrendatários manter o contrato de arrendamento e a sua

residência atual, ou em alternativa optar, se assim o desejarem, por um

subsídio para um novo contrato de arrendamento (artigo 18.º).

Prevê-se cinco anos de regime transitório, até à liberalização total do mercado

(2017), com a garantia de que as carências económicas continuarão a ser

apoiadas até que a necessidade se mantenha, através de um subsídio num

valor correspondente a 1/15 do valor patrimonial da casa e que esse subsídio

possa ser transferido para um novo contrato de arrendamento.

Esta legislação permite que os idosos com baixos rendimentos possam

escolher se querem manter-se na sua habitação ou mudar-se para outra,

provavelmente mais pequena, mas com outros apoios, serviços,

relacionamento, atividades e segurança.

Considerando que em 2017 o mercado de arrendamento estará totalmente

liberalizado, que a população em termos globais continua a diminuir e que o

único grupo etário que irá crescer são os maiores de 65 anos, existe uma

oportunidade que justificará uma especial atenção ao segmento do mercado

habitacional dos idosos ao nível da atividade no setor imobiliário.

É necessário prever e concretizar alternativas de habitação para seniores que

lhes permitam manter a sua independência, melhorar as suas relações sociais

e a sua qualidade de vida.

5

Page 6: static.apec.org.pt · Web viewefetuaram um estudo sobre os principais indicadores de habitabilidade, através de um método de caraterização de proximidade à habitação da população

A reabilitação urbana terá de considerar também esta realidade, a de um

aumento crescente das necessidades habitacionais deste setor populacional.

As atividades profissionais ligadas a este setor deveriam equacionar novas

soluções. Igualmente os municípios terão de planear as suas intervenções nos

espaços públicos e equipamentos tendo por fundamento esta realidade.

<intertítulo> Alternativas habitacionais para a idade maior

Nos países anglo-saxónicos e em alguns países nórdicos os alojamentos para

pessoas com poucas ou nenhumas necessidades assistenciais caraterizam-se

por serem estruturas residenciais que comportam altos graus de privacidade,

ainda que se viva em vizinhança com outras pessoas idosas, pois o estilo de

vida destes residentes é, normalmente, autónomo. (Martin, Rito e Brandão,

2011) São exemplos as tipologias de alojamento Homeshare, Lifetimes Home,

Cohousing, Sheltered e Extra Care Home.5

Síntese de alternativas habitacionais para a população idosa 6

5 http://ler.letras.up.pt/uploads/ficheiros/10586.pdf / Martin, Ignacio; Santinha, Gonçalo; Rito, Susana; Almeida, Rosa – Habitação para pessoas idosas: problemas e desafios em contexto português – Sociologia, Revista da Faculdade de Letras da Universidade do Porto. Número temático: Envelhecimento demográfico, 2012, págs. 177-203.

6 Idem.

6

Page 7: static.apec.org.pt · Web viewefetuaram um estudo sobre os principais indicadores de habitabilidade, através de um método de caraterização de proximidade à habitação da população

ANA LOPES: corrigir título 3.ª coluna: Caraterísticas

À excepção da tipologia Homeshare, a única não construída de raiz, todas as

outras deslocam a pessoa idosa para fora do seu contexto natural. No entanto,

a sua adoção permite encontrar respostas no setor privado com capacidade de

equilibrar as premissas independência, privacidade, interação social e

capacidade económica.7

Estes conjuntos habitacionais são construídos especificamente para os

reformados viverem em comunidade. A maioria destas comunidades oferecem

serviços e atividades, com clubhouses para dar aos idosos a oportunidade de

se relacionarem com outros idosos e participarem em atividades comunitárias,

tais como artes e ofícios, encontros de férias, aulas de educação continuada,

ou noites de cinema. Estas residências também podem oferecer comodidades

como piscina, fitness center, campos de ténis, mesmo um campo de golfe ou

outros clubes para satisfazerem outros grupos de interesse.

Estas instalações seniores são destinadas a adultos mais velhos autónomos.

As tipologias Sheltered e Extra Care Home implicam, eventualmente, alguma 7 Idem.

7

Page 8: static.apec.org.pt · Web viewefetuaram um estudo sobre os principais indicadores de habitabilidade, através de um método de caraterização de proximidade à habitação da população

assistência na vida diária. A maioria não oferece cuidados médicos ou pessoal

de enfermagem. Tal como acontece com a habitação regular, o custo destas

habitações depende da localização, da dimensão do apartamento e dos

serviços disponíveis.

<intertítulo> Um conceito alternativo de habitação

O conceito de envelhecimento ativo e saudável traduz a possibilidade de a

pessoa idosa permanecer autónoma e capaz de cuidar de si própria, no seu

meio habitual de vida, ainda que com recurso a apoios. No entanto, a realidade

mostra que existe um número considerável de pessoas idosas que não

encontram resposta no seu meio familiar. Assim, será necessário criar outras

alternativas para que as dimensões física, psíquica, intelectual, espiritual,

emocional, cultural e social da vida de cada indivíduo possam por ele ser

desenvolvidas sem limitações dos seus direitos fundamentais, a identidade e a autonomia.8

Inserida nesta problemática, a Santa Casa da Misericórdia de Lisboa tem em

desenvolvimento um conjunto de projetos para equipamentos com conceitos

alternativos de habitação para os mais velhos, tendo por base os princípios da

intergeracionalidade e da mobilidade.

Estas estruturas residenciais pretendem dar respostas mais adequadas aos

mais velhos mas integrar também os mais novos. Não é a mesma coisa criar

um espaço intergeracional ou um espaço multigeracional. O último termo

refere-se ao design de ambientes físicos capazes de responder às

necessidades de pessoas de todas as idades. No entanto, a partir de uma

perspetiva intergeracional, o objetivo do projeto é não só instalar as diferentes

gerações, mas criar condições físicas para elas interagirem no momento e no

tempo.

8 www4.seg-social.pt/

8

Page 9: static.apec.org.pt · Web viewefetuaram um estudo sobre os principais indicadores de habitabilidade, através de um método de caraterização de proximidade à habitação da população

Um dos projetos já em curso é a Estrutura habitacional intergeracional, a

desenvolver na Quinta Alegre, imóvel classificado como IIP – Imóvel de

Interesse Público, Decreto n.º 44 452, DG n.º 152, de 5 de julho de 1962, que

prevê a reabilitação, conservação e restauro do palácio e jardins e a ampliação

das estruturas de apoio agrícola e a construção de raiz de um edifício.

Procura-se, com este equipamento, uma relação intergeracional entre os mais

velhos e os mais novos, bem como com a população em geral, de forma a

garantir uma interação constante e um desenvolvimento intelectual e social,

evitando o isolamento e exclusão recorrente na terceira idade.

Reabilitação da Quinta Alegre – Estrutura habitacional intergeracional

Palácio do Marquês do Alegrete – Quinta Alegre

A Quinta Alegre localiza-se na Charneca do Lumiar, a oriente da cidade de

Lisboa. Foi construída nos inícios do século XVIII como solar de veraneio do 1.º

marquês de Alegrete.

O jardim é, delimitado por muro com bancos conversadeiras forrados a

azulejos, formando miradouro sobre a propriedade, e lago artificial.

Foi definido um programa funcional para este imóvel que, para além da

reabilitação, conservação e restauro do edificado existente e jardins, prevê a

instalação de uma Estrutura habitacional intergeracional que inclui uma

Unidade Residencial Assistida para os reformados da SCML e um conjunto de

residências e apartamentos com tipologias diferentes para os vários grupos

etários.

9

Page 10: static.apec.org.pt · Web viewefetuaram um estudo sobre os principais indicadores de habitabilidade, através de um método de caraterização de proximidade à habitação da população

Esta Estrutura habitacional intergeracional pressupõe a execução de três

unidades funcionais complementares: a Unidade Social, a Unidade Assistida e

a Unidade Residencial, sendo que a Unidade Social corresponde ao palácio e

jardins. Esta Unidade Social dará apoio ao nível de atividades e serviços às

unidades residenciais e irá estar aberta ao público. O projecto de arquitectura

que concretiza este programa funcional é da autoria dos arquitectos Vitor

Mestre e Sofia Aleixo

<intertítulo> UNIDADE SOCIAL

Esta unidade complementa, em termos de espaços para usos sociais, o

programa necessário para o funcionamento das outras unidades, pretende-se

que estes usos e atividades promovam naturalmente o encontro

intergeracional. Esta unidade irá também estar aberta à comunidade, tanto a

nível dos espaços como das atividades a desenvolver.

Desenho do palácio e jardim

Esta opção contribuiu também para que a intervenção no palácio seja

essencialmente de conservação e restauro, com introdução das infraestruturas

necessárias ao seu funcionamento e assegurando o acesso a pessoas com

10

Page 11: static.apec.org.pt · Web viewefetuaram um estudo sobre os principais indicadores de habitabilidade, através de um método de caraterização de proximidade à habitação da população

mobilidade condicionada a todos os pisos com funções destinadas ao público

através de um elevador.

Os usos já previstos para as salas do palácio são: uma casa de chá a instalar

na antiga sala de jantar, com o apoio de uma copa a alojar na antiga cozinha;

uma sala de leitura; uma sala com computadores e internet; uma sala de jogos

(cartas e de tabuleiro). As outras salas serão de estar e de atividades.

Relativamente ao jardim, será também reabilitado, funcionará como centro

lúdico e de atividades (tais como tai chi, jardinagem, horticultura, circuitos de

manutenção, entre outros), promovendo a vivência exterior e atividades físicas.

Antiga casa de jantar, futura sala de chá

<intertítulo> UNIDADE ASSISTIDA

Estruturas agrícolas em ruína

Ampliação e reabilitação das estruturas de apoio agrícola para edificação de

uma Unidade Residencial Assistida destinada aos reformados da Santa Casa

da Misericórdia de Lisboa.

11

Page 12: static.apec.org.pt · Web viewefetuaram um estudo sobre os principais indicadores de habitabilidade, através de um método de caraterização de proximidade à habitação da população

Esta Unidade Assistida está projetada para instalar 62 utentes, distribuídos por

27 quartos duplos e oito quartos individuais e os respetivos serviços de apoio,

previstos na legislação em vigor para este tipo de equipamento social,

localizados no piso 0. De forma a garantir a intergeracionalidade desde o início

do projeto, esta unidade inclui dez apartamentos, sete apartamentos T0 e três

T1 localizados no piso 0.

Unidade Residencial Assistida Intergeracional

12

Page 13: static.apec.org.pt · Web viewefetuaram um estudo sobre os principais indicadores de habitabilidade, através de um método de caraterização de proximidade à habitação da população

Piso 1 – Estrutura Residencial Assistida que ocupa o piso 1 dos dois edifícios

No edifício principal desta Unidade, para além dos serviços previstos já

referidos, acrescentou-se uma lavandaria self-service, um ginásio, um gabinete

de estética e um restaurante/sala de refeições para uso de todos os residentes,

este último também aberto ao público. Desta forma permite-se que nestes

espaços exista uma interação entre as várias gerações. O facto de a sala de

refeições desta Unidade Assistida funcionar como um restaurante aberto ao

público conduz a que as famílias destes utentes possam ir lá almoçar ou jantar

e dará um sentido de maior liberdade a estes utentes, uma vez que se cruzarão

diariamente com pessoas diferentes.

13

Page 14: static.apec.org.pt · Web viewefetuaram um estudo sobre os principais indicadores de habitabilidade, através de um método de caraterização de proximidade à habitação da população

(Imagem 1) Planta de um dos quartos

(imagem 2) Apartamento T1

(imagem 3) Apartamento T0

<intertítulo> UNIDADE RESIDENCIAL

Com esta Unidade Residencial, a construir de raiz, pretendeu-se criar um

alojamento autónomo para pessoas de todas as idades. É constituída por 14

apartamentos, tendo por base a conceção das residências para estudantes.

Cada espaço está dividido em áreas com usos distintos: quarto, instalação

sanitária com acessibilidade para todos, espaço de estar com kitchenette

equipada com equipamentos elétricos.

Desta forma, os moradores poderão confecionar as suas refeições ou utilizar o

restaurante. Todos os serviços instalados nas várias unidades que compõem

esta estrutura habitacional intergeracional, bem como as atividades a

desenvolver, serão para uso de todos os que lá residirem.

14

Page 15: static.apec.org.pt · Web viewefetuaram um estudo sobre os principais indicadores de habitabilidade, através de um método de caraterização de proximidade à habitação da população

Unidade Residencial Intergeracional – Novo edifício com dois pisos

Catorze apartamentos T0

15

Page 16: static.apec.org.pt · Web viewefetuaram um estudo sobre os principais indicadores de habitabilidade, através de um método de caraterização de proximidade à habitação da população

Planta do apartamento T0

A gestão desta estrutura habitacional intergeracional deverá, tanto quanto

possível, ser aberta à comunidade. O objetivo deste projeto é não só permitir a

possibilidade de instalar as diferentes gerações, mas também criar condições

físicas efetivas para elas interagirem. Com base num regulamento ainda a

efetivar, prevê-se uma maior flexibilização em termos de gestão funcional e

financeira. Por exemplo, os jovens podem ter uma diminuição do valor a pagar

pelo alojamento se fizerem companhia aos mais velhos.

Apesar de a legislação referente a esta problemática estar ainda demasiado

condicionada à criação de estruturas residenciais para os idosos muito mais

tradicionais como os lares, a Santa Casa da Misericórdia de Lisboa tem

investido em alternativas habitacionais para os mais velhos, com outros

conceitos, como já anteriormente referido.

<intertítulo> Arquitetura, urbanismo e qualidade de vida

A arquitetura e o urbanismo têm uma influência determinante na qualidade de

vida das populações com particular destaque para as mais vulneráveis ou mais

dependentes. Considerando os dados demográficos, é essencial que a

habitação a construir ou reabilitar tenha por base, sempre que for possível, esta

realidade, assegurando que os seus utilizadores possam manter a sua

autonomia e autodeterminação ao longo do tempo.

16

Page 17: static.apec.org.pt · Web viewefetuaram um estudo sobre os principais indicadores de habitabilidade, através de um método de caraterização de proximidade à habitação da população

Assim, o conceito de habitação assistida não deve fazer parte de um programa,

mas sim de uma conceção generalizada de um conjunto habitacional onde é

potenciado o bem-estar dos mais velhos, permitindo-lhes viver a sua velhice

como desejarem. O que o distingue das demais opções são os serviços que

integra, não só na ajuda que podem fornecer aos idosos relativamente às

atividades diárias, mas também no apoio à saúde. Porém, este modelo de

habitação para idosos atinge um patamar elevado de qualidade ao integrar,

conjuntamente, uma habitação intergeracional.9

A habitação assistida deve ser vista como um conjunto habitacional

normalizado ao qual se adicionam serviços específicos de apoio, apenas para

quem os solicita. Assim, a sua imagem deve associar-se à generalidade dos

edifícios multifamiliares, de modo a que também as suas vivências se fundam

no ambiente quotidiano.10

<destaques>

No que diz respeito à habitação, as suas caraterísticas e a sua adequabilidade

e acessibilidade têm uma grande influência na qualidade de vida dos mais

velhos.

Há transformações e alterações a serem realizadas de forma a criar um novo

paradigma que permita que sejam os próprios idosos com as suas famílias a

definir qual a solução residencial que melhor se adapta à sua situação.

A Santa Casa da Misericórdia de Lisboa tem em desenvolvimento um conjunto

de projetos para equipamentos com conceitos alternativos de habitação para

os mais velhos, tendo por base os princípios da intergeracionalidade e da

mobilidade.

9 Maria João Borges Centenário Pereira da Fonseca, Habitar e envelhecer no século XXI – Habitação assistida.Dissertação apresentada à Universidade Católica Portuguesa para a obtenção do grau de mestre em Arquitetura, Universidade Católica Portuguesa, Centro Regional das Beiras.10 Idem.

17

Page 18: static.apec.org.pt · Web viewefetuaram um estudo sobre os principais indicadores de habitabilidade, através de um método de caraterização de proximidade à habitação da população

Esta Estrutura habitacional intergeracional pressupõe a execução de três

unidades funcionais complementares: a Unidade Social, a Unidade Assistida e

a Unidade Residencial.

A arquitetura e o urbanismo têm uma influência determinante na qualidade de

vida das populações, com particular destaque para as mais vulneráveis ou

mais dependentes.

O conjunto dos dez apartamentos inseridos na Unidade Assistida e dos 14

apartamentos T0 da Unidade Residencial tem um conceito de base inclusivo de

arquitetura para todos. Estes apartamentos tanto podem ser utilizados por

jovens estudantes quanto por casais de todas as idades e por seniores que

pretendam viver na sua habitação. Estas duas Unidades Residenciais com a

Unidade Social, que integra um espaço verde com um circuito de manutenção

e que estará aberto à população, irão permitir um relacionamento dos mais

velhos com famílias e gerações mais novas. Pretende-se com este projeto

inovador o bem-estar tanto a nível mental como físico de todos os residentes,

proporcionando o relacionamento intergeracional não de forma momentânea

mas de uma forma que seja parte integrante dele.

18