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Habitabilidade urbana a partir do sentimento de pertencimento | Silvana Assunçao

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Monografia do curso de Arquitetura e Urbanismo - 2/2015

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CENTRO UNIVERSITÁRIO DO LESTE DE MINAS GERAIS

CURSO DE ARQUITETURA E URBANISMO

HABITILIDADE URBANA A PARTIR DO SENTIMENTO DE PERTENCIMENTO

SILVANA ASSUNÇÃO

CORONEL FABRICIANO, 2015.

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SILVANA ASSUNÇÃO

HABITILIDADE URBANA A PARTIR DO SENTIMENTO DE PERTENCIMENTO

Trabalho de Conclusão de Curso, apresentado ao Curso de

Arquitetura e como requisito parcial para obtenção de grau de

bacharel em Arquitetura e Urbanismo, orientada pela Professora

Danielly Garcia

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CORONEL FABRICIANO, 2015.

Este trabalho é dedicado a meus pais, irmãos, minha avó

Clarice e a tia Alessandra, que são pessoas que muito me

incentivaram durante a formação acadêmica. Dedico

principalmente a minha mãe, que com muito carinho e amor

buscou sempre me incentivar a enfrentar as dificuldades.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço aos professores, aos amigos de faculdade que me

ajudaram nos momentos de dificuldade e principalmente a

minha orientadora Danielly Garcia.

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"Pertencer a um lugar quer dizer ter uma base de apoio

existencial em um sentido cotidiano concreto.” Norberg-

Schulz

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RESUMO

Este trabalho foi desenvolvido para um melhor entendimento da habitabilidade urbana e a relação o usuário do meio em que

vivencia, sendo este um modificador do espaço. Para tal entendimento foi necessário entender a relação do habitar residencial e

como isso acontece no espaço de uso público, aplicando alguns conceitos estudados ao longo da pesquisa e exemplificando essa

habitabilidade no estudo de caso do bairro Cariru, e a transição entre esses tipos de habitar no Jardim Panorama através de

registros e análise desses casos.

Palavras chaves: Sentimento de pertencimento. Habitar. Identidade. Fenômeno do lugar.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 01: Porta de duas seções........................................................................................................................................................21

Figura 02: Drie Hoven, Lar para idosos..............................................................................................................................................21

Figura 03: Casa no Jardim Panorama................................................................................................................................................23

Figura 04: Casa no Jardim Panorama................................................................................................................................................23

Figura 05: Intervenção Azulejos de Papel..........................................................................................................................................25

Figura 06: Intervenção Azulejos de Papel..........................................................................................................................................25

Figura 07: Bate papo nas calçadas....................................................................................................................................................30

Figura 08: Universidade de Colúmbia, Nova York..............................................................................................................................32

Figura 09: Mapa área de estudo.........................................................................................................................................................33

Figura 10: Pista de caminhada do bairro Cariru.................................................................................................................................34

Figura 11: Gangorras na pista de caminhada do bairro.....................................................................................................................34

Figura 12: Gangorras na pista de caminhada do bairro.....................................................................................................................35

Figura 13: Estrutura da cabana..........................................................................................................................................................35

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Figura 14: Pracinha construída pelos moradores................................................................................................................................36

Figura 15: Pracinha construída pelos moradores................................................................................................................................36

Figura 16: Gil Milbratz..........................................................................................................................................................................37

Figura 17: Lugar que os moradores colocam comida para os animais...............................................................................................39

Figura 18: Lugar que os moradores colocam comida para os animais...............................................................................................39

Figura 19: Cartaz do seminário............................................................................................................................................................41

Figura 20: Seminário............................................................................................................................................................................41

Figura 21: Etapa 1................................................................................................................................................................................45

Figura 21: Etapa 2................................................................................................................................................................................45

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO................................................................................................................................................................................10

2 DESENVOLVIMENTO....................................................................................................................................................................14

2.1 CONCEITOS........................................................................................................................................................................14

2.2 HABITAR: A RELAÇÃO DO INDIVÍDUO COM O ESPAÇO................................................................................................18

3 OBRAS DE REFERÊNCIA.............................................................................................................................................................40

4 PROPOSTA DE TCC 2 .................................................................................................................................................................43

5 CONCLUSÃO.................................................................................................................................................................................46

6 REFERÊNCIAS .............................................................................................................................................................................47

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1 INTRODUÇÃO

Este trabalho consiste em um estudo para avaliação pós-

ocupação comportamental e tem como objetivo investigar os

fatores que influenciam a habitabilidade urbana através do

sentimento de pertença do indivíduo.

Um amigo meu, médico, assegurou-me que

desde o berço a criança sente o ambiente, a

criança quer: nela o ser humano, no berço

mesmo, já começou.

Tenho certeza de que no berço a minha

primeira vontade foi a de pertencer. Por

motivos que aqui não importam, eu de algum

modo devia estar sentindo que não pertencia a

nada e a ninguém. Nasci de graça.

Se no berço experimentei esta fome humana,

ela continua a me acompanhar pela vida afora,

como se fosse um destino. A ponto de meu

coração se contrair de inveja e desejo quando

vejo uma freira: ela pertence a Deus.

Exatamente porque é tão forte em mim a fome

de me dar a algo ou a alguém, é que me tornei

bastante arisca: tenho medo de revelar de

quanto preciso e de como sou pobre. Sou, sim.

Muito pobre. Só tenho um corpo e uma alma. E

preciso de mais do que isso. Com o tempo,

sobretudo os últimos anos, perdi o jeito de ser

gente. Não sei mais como se é. E uma espécie

toda nova de "solidão de não pertencer"

começou a me invadir como heras num muro.

Se meu desejo mais antigo é o de pertencer,

porque então nunca fiz parte de clubes ou de

associações? Porque não é isso que eu chamo

de pertencer. O que eu queria, e não posso é,

por exemplo, que tudo o que me viesse de bom

de dentro de mim eu pudesse dar àquilo que

eu pertenço. Mesmo minhas alegrias, como

são solitárias às vezes. E uma alegria solitária

pode se tornar patética. É como ficar com um

presente todo embrulhado em papel enfeitado

de presente nas mãos - e não ter a quem dizer:

tome, é seu, abra-o! Não querendo me ver em

situações patéticas e, por uma espécie de

contenção, evitando o tom de tragédia,

raramente embrulho com papel de presente os

meus sentimentos.

Pertencer não vem apenas de ser fraca e

precisar unir-se a algo ou a alguém mais forte.

Muitas vezes a vontade intensa de pertencer

vem em mim de minha própria força - eu quero

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pertencer para que minha força não seja inútil

e fortifique uma pessoa ou uma coisa.

Quase consigo me visualizar no berço, quase

consigo reproduzir em mim a vaga e, no

entanto premente sensação de precisar

pertencer. Por motivos que nem minha mãe

nem meu pai podiam controlar, eu nasci e

fiquei apenas: nascida.

No entanto fui preparada para ser dada à luz

de um modo tão bonito. Minha mãe já estava

doente, e, por uma superstição bastante

espalhada, acreditava-se que ter um filho

curava uma mulher de uma doença. Então fui

deliberadamente criada: com amor e

esperança. Só que não curei minha mãe. E

sinto até hoje essa carga de culpa: fizeram-me

para uma missão determinada e eu falhei.

Como se contassem comigo nas trincheiras de

uma guerra e eu tivesse desertado. Sei que

meus pais me perdoaram por eu ter nascido

em vão e tê-los traído na grande esperança.

Mas eu, eu não me perdoo. Quereria que

simplesmente se tivesse feito um milagre: eu

nascer e curar minha mãe. Então, sim: eu teria

pertencido a meu pai e a minha mãe. Eu nem

podia confiar a alguém essa espécie de solidão

de não pertencer porque, como desertor, eu

tinha o segredo da fuga que por vergonha não

podia ser conhecido.

A vida me fez de vez em quando pertencer,

como se fosse para me dar a medida do que

eu perco não pertencendo. E então eu soube:

pertencer é viver. Experimentei-o com a sede

de quem está no deserto e bebe sôfrego os

últimos goles de água de um cantil. E depois a

sede volta e é no deserto mesmo que caminho!

(CLARICE LISPECTOR, Pertencer)

Na carta Lispector diz que desde o berço a criança sente o

ambiente e afirma sua necessidade de se sentir pertencente a

alguma coisa, que pertencer significa não nascer e viver em

vão. Essa vontade de pertencer que ela fala na carta é o que

a autora que vos fala sente e acredita que os espaços se

tornam habitáveis a partir desse sentimento de

pertencimento. Não somente de sentir que pertence ao lugar,

mas sentir que aquele lugar lhe pertence, tratando assim o

pertencimento como uma troca de identidade e de um

cuidado entre o usuário e a cidade em que vivencia.

A análise neste trabalho foi feita a partir das teorias da

fenomenologia e da semiótica, buscando entender como a

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memória influencia na relação entre o indivíduo e o meio em

que vive. Entender a relação da pessoa com o espaço como

uma criação de identidade e memória afetiva. Como as

experiências anteriores influenciam e o que dessas

experiências que despertam esse sentimento. Como a

arquitetura provoca esses estímulos de comportamento em

determinado espaço? Quais são as condicionantes que

direcionam o interesse e sentimento pelo espaço?

O indivíduo é capaz de construir a identidade do lugar a partir

do momento em que modifica o espaço. Essa modificação

depende do sentimento de pertença com o lugar. Se o sujeito

sente que o espaço lhe pertence, ele se sente responsável

pelo mesmo. Esse estudo tem como objetivo entender o que

contribui para que aconteça uma relação entre o indivíduo e

determinado espaço.

A arquitetura pertence a poesia, e seu

propósito é ajudar o homem a habitar. (...) Isso

acontece por meio de construções de reúnem

as propriedades do lugar e as aproximam do

homem. Logo, o ato fundamental da arquitetura

é compreender a vocação do lugar.

(NORBERG-SCHULZ, 1976, p.459)

É importante que uma reflexão crítica em torno do sentimento

de pertencimento pelos arquitetos para entender a

necessidade de interação afetiva do indivíduo com o espaço

que vivencia, pois o objetivo da arquitetura não é somente

construir abrigos para as necessidades básicas do ser, mas é

materializar o que o homem tem necessidade de exteriorizar

e de se identificar. É importante entender a habitabilidade

urbana, a vocação do lugar e de que forma esses usos

acontecem. São observações que devem ser reconhecidas e

incorporadas pelos arquitetos ao projetar.

O arquiteto pode contribuir para criar um

ambiente que ofereça muito mais

oportunidades para que as pessoas deixem

sua marca e identificações pessoais, que

possa ser apropriado e anexado por todos

como um lugar que realmente lhes "pertença"

(HETZBERGER, 1996, p.48)

O objetivo é apresentar e experienciar as relações entre o

indivíduo, a memória, o espaço vivenciado e a arquitetura.

Através do estudo de teorias que analisam a formação de

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uma identificação do ser com a casa e a cidade para entender

como a memória e o sentimento de pertencimento influenciam

na identidade do lugar.

A memória pode ser apreendida nos espaços do cotidiano e é

através da ocupação desses lugares que eles ganham

significado, por fazer parte da memória e da identidade de

quem vivencia esse espaço.

As propostas arquitetônicas atuais pretendem

tornar o habitar (uma cidade ou uma casa) um

mero ato de visão: eu vejo a cidade, mas não a

uso [...] a vida não é um teatro – pelo menos,

não sempre, e o ver precisa ser substituído

pelo viver, pelo sentir, e que em arquitetura se

define pelo experimentar, tocar, percorrer,

modificar: numa palavra, ação. E o espaço

estático deve ser dinamizado. O espaço sem

tempo, sempre iguala si mesmo, exige ser

temporalizado, isto é, modificado. (COELHO

NETTO, 2002, p. 78).

Assim, propõe-se para o TCC2 registros e análise de espaços

públicos que sofreram intervenção com iniciativa dos

moradores e identificar diferentes formas de apropriação do

espaço e entender o sentimentos de pertença em diferentes

casos.

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2 DESENVOLVIMENTO

Este capítulo consiste em apresentar os conceitos que serão

utilizados ao decorrer da pesquisa e faz uma análise da

relação do habitar a casa com a habitabilidade dos espaços

de uso coletivo.

2.1 CONCEITOS

Na fenomenologia, segundo Norberg-schulz (1976) o

"espaço" indica a organização tridimensional dos elementos

que formam um lugar, e o "caráter" denota a atmosfera feral

que é a propriedade mais abrangente de um lugar. O caráter

do lugar é uma função de tempo e muda de acordo com as

situações meteorológicas, ele é determinado pela constituição

material e imaterial do lugar.

Pertencer a um lugar quer dizer tem uma base de apoio

existencial em um sentido cotidiano concreto. (NESBITT apud

NORBERG-SCHULZ, 2006, p.459).

O indivíduo tem a necessidade de sentir pertencente a algum

lugar ou a alguma coisa, isso faz parte da sua formação de

identidade, acreditando que essa formação de identidade e

do ser é empírico, esse sentimento de pertencer depende de

experiências passadas e de como essas experiências foram

vividas anteriormente, se foram experiências boas ou ruins. O

sentimento de pertencimento influencia de que forma na

percepção arquitetônica? Assim o estudo da semiótica e da

fenomenologia aplicadas à arquitetura ajudará a entender o

que são esses sentimentos e em que isso influencia para que

o indivíduo se sinta confortával em determinado ambiente.

Sentir-se pertencente acontece a partir do momento em que

há uma identificação com o lugar.

[...] termo Realidade se refere a tudo que

existe, em oposição ao que é mera

possibilidade, ilusão, imaginação e mera

idealização.

Empírico refere-se à experiência. Chama-se

realidade empírica a tudo aquilo que existe e

pode ser conhecido através da experiência.

Por sua vez, experiência é o conhecimento que

nos é transmitido pelos sentidos e pela

consciência. Fala-se de experiência externa

para indicar o que se conhece por meio dos

sentidos corpóreos, externos. Já a experiência

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interna indica o conhecimento de estados e

processos internos obtidos através da

consciência. Denomina-se introspecção à ação

de conhecer, pela experiência interna, o que se

passa dentro de nós. (OKAMOTO apud

RUDIO, 2002, p.18)

Considerando a afirmação de Rudio, no sentimento de

pertencimento, podemos dizer que a realidade é o tangível da

arquitetura e o empírico são as experiências vividas

anteriormente que influenciam na percepção do espaço pelo

usuário, como a memória, cultura, pensamento, crença. A

realidade empírica são os sentidos subjetivos que o indivíduo

adquire com o tempo em que vivencia o espaço, e as

experiências externas são as sensações que ele já vivenciou

em outro espaço e que pode transferir para outro, assim

sensações que vivenciou anteriormente influenciam na

percepção do espaço. A introspecção são as memórias que

carregamos e a identificação são as experiências boas ou

ruins vividas.

Considerando os termos, o significado da arquitetura que tem

características em comum para todos que vivenciam a

realidade na arquitetura como o tangível, a dimensão e a

relação do conhecimento, da memória é, na semiótica,

individual, mesmo que todos vivenciem o mesmo espaço,

cada pessoa terá uma percepção diferente do objeto, assim

como na semiótica aplicada à arquitetura.

Utiliza-se neste trabalho o conceito de semiótica, que é a

ótica dos sinais, a ciência geral dos signos e estuda todos os

fenômenos culturais como se fossem sistemas de

significação. O significado é uma identidade proposta pelo

conceito de quem criou o objeto. O significante é a absorção

desse elemento físico por cada pessoa e sua compreensão

de determinado objeto que faz alusão a outro.

O signo está entre a obra e a interpretação por alguém, é o

significado criado pelo observador que vai interpretá-la ao se

deparar com o signo que não é o objeto em si, mas sua

representação, por exemplo, um determinado espaço é um

signo e seu significante será a experiência da pessoa que

vivencia o cotidiano desse espaço, assim o significante tem

referências do subconsciente do interpretante, podendo criar

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assim um sentimento de pertencimento a partir da vivência do

cotidiano.

O sentimento de pertencimento é o significante da obra, é a

memória que o indivíduo transfere de outras experiências

passadas para o presente. Ao vivenciar uma arquitetura ele

tende a trazer interpretações e memórias do passado. Sendo

assim o que ele absorve daquele lugar depende das próprias

experiências.

Considerando a identidade do lugar como um resultado das

relações que envolvem o espaço físico produzido com os que

ali habitam, o sentimento de pertencimento completa a

arquitetura e dá significado ao espaço, tornando assim esse

espaço de memória e significado, fazendo com que o

indivíduo também pertença e se identifique com o lugar,

assim como a arquitetura adquire significado a partir do

momento que alguém transmite significado para esta, a

fenomenologia também aborda essas sensações e

sentimentos de pertença do indivíduo com o meio.

Podemos definir a fenomenologia aplicada à arquitetura como

empírica, pois cada sensação e reação dependem de cada

indivíduo que vivencia o espaço. Cada indivíduo tem reações

diferentes de acordo com a memória, experiências,

sentimentos e desejos. A memória de infância é uma das

primeiras experiências, pois a criança tem autenticidade de

experiências.

Quando se sonha com a casa natal, na extrema profundeza

do devaneio, participa-se desse calor inicial, dessa matéria

bem temperada do paraíso material. É nesse ambiente que

vivem os seres protetores. [...] a casa mantém a infância

imóvel [...]. (BACHELARD, 1993, p.27)

Para esse estudo o olhar para a arquitetura não é apenas

para seu objeto físico e suas formas, mas uma busca da

subjetividade e dos sentimentos que ela provoca em quem o

vivencia, tornando a assim um local habitado. Considerando

habitar quando acontece uma relação entre o espaço e o

indivíduo. Olhar, vivenciar no cotidiano faz com que as

memórias vividas naquele lugar façam parte dele, e isso é o

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que na fenomenologia se chama de genius loci. A vivência

recria uma dimensão de sentimento no espaço. Ele passa a

não somente existir para proteção de intempéries do tempo,

ele passa a abrigar sentimentos.

De acordo com Norberg-Schulz, Genius loci é o conjunto de

características sócio-culturais, arquitetônicas, de linguagem e

de hábitos que caracterizam um lugar, um ambiente, uma

cidade. Indicando assim o "caráter" do lugar.

A medida que você vai conhecendo a Europa,

saboreando lentamente seus vinhos, queijos e

qualidades peculiares dos diferentes países,

começa a perceber que o determinante mais

importante de qualquer cultura é, no fim de

tudo, o espírito do lugar. (NORBERG-SCHULZ

apud Durrel, 1976, p. 455)

Para Norberg-Schulz, o habitar significa muito mais do que o

abrigo, habitar é o que ele chama de suporte existencial e

seria esse o objetivo da arquitetura. O habitar acontece

através da relação entre o homem e o meio, da percepção e

entendimento do lugar. Habitar é como estar em paz num

lugar protegido.

De acordo com Heiddeger o homem e o espaço dizem

respeito ao modo de habitar, o espaço é seu modo de habitar

o mundo. Assim, espaço só se torna lugar no momento em

que o homem é inserido nele. O habitar é a relação de

identificação entre o homem e o espaço e essa identificação

com o lugar é ter uma relação amistosa com determinado

ambiente.

Habitabilidade, segundo Brandão (2005) se define como o

bem-estar que surge do encontro vivido entre o habitante e a

habitação, um encontro que envolve o uso e o atendimento

de necessidades e desejos do indivíduo e a construção da

familiaridade do espaço com aquele que o habita. Assim,

habitabilidade é também a troca de informações e estímulos

do usuário com o ambiente e como as experiências anteriores

e as memórias do ambiente físico influenciam na sua

percepção e identificação com o ambiente.

Quando o homem habita, ele está inserido no espaço e

exposto ao caráter ambiental. O caráter do lugar é a

“atmosfera”, que muda de acordo com as estações, com o

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passar do dia, mudança de luz, com condições

meteorológicas. E está presente nos elementos do lugar,

podendo transferir o caráter de um lugar para outro.

2.2 HABITAR: A RELAÇÃO DO INDIVÍDUO COM O

ESPAÇO

Habitar significa muito mais do que o abrigo, habitar é um

suporte existencial do ser. O homem habita quando há uma

relação de entre ele e o espaço meio a partir da percepção e

do simbolismo (semiótica) ele habita.

De acordo com Bachelard (1993, p. 25): "todo espaço

realmente habitado traz a essência da noção de casa".

A partir do ponto de vista do pertencimento, pode-se dizer

então que habitar corresponde ao modo como o indivíduo se

relaciona com o espaço que vivencia. Pertencer diz respeito a

uma relação direta do lugar ocupado, vivenciado, recebendo

significado pelos sujeitos inseridos neste contexto

determinado.

Norberg-Schulz (1976) diz que “o lugar é mais do que uma

localização geográfica [...] O lugar é a concreta manifestação

do habitar humano” ele diz que o lugar é constituído por

elementos que transmitem significados.

Um "ninho seguro" – um espaço conhecido à

nossa volta, onde sabemos que nossas coisas

estão seguras e onde podemos nos concentrar

sem sermos perturbados pelos outros – é algo

que cada indivíduo precisa tanto quando o

grupo.

Sem isso, não pode haver colaboração com os

outros. Se você não tem um lugar que possa

chamar de seu, você não sabe onde está! Não

pode haver aventura sem uma base para onde

retornar: todo mundo precisa de alguma

espécie de ninho para pousar.

(HERTZBERGER. 1996, p.28).

A casa é um espaço de subjetividade, de intimidade e

principalmente de memória. Ela produz um universo de

sensações particulares e simbólicas. Na casa a vivência e o

conjunto de signos presentes no espaço possibilita que seus

habitantes se identifiquem e se reconheçam ali, permite aos

moradores o sentimento de pertença.

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Considerando o sentimento de pertencimento e o espírito do

lugar, a casa não é somente o objeto físico, mas como as

pessoas que vivenciam esse espaço fazem com que ele

tenha uma identidade, fazem com que seja um lugar próprio,

de características e significados.

A casa abriga o devaneio, a casa protege o

sonhador, a casa permite sonhar em paz [...]

então, os lugares onde se viveu o devaneio

reconstituem-se por si mesmos num novo

devaneio. É exatamente porque as lembranças

das antigas moradas são revividas como

devaneios que as moradas do passado são

imperecíveis dentro de nós. (BACHELARD,

1993, p. 26):

Habitar é a subjetividade da casa, é o sentimento e as

memórias de cada um que estão presentes na nossa

individualidade. O sentimento pela casa caracteriza-se por ser

um espaço imaginário e simbólico, as práticas e hábitos do

cotidiano tornam o espaço singular. Os elementos concretos

do espaço que compõem um espaço revelam a identidade e a

realidade própria do mesmo.

O arquiteto norte-americano de origem alemã,

Gerhard Kallman, certa vez contou uma

história que ilustra bem essa situação. Ao

visitar sua cidade natal, Berlim, no final da

Segunda Guerra Mundial, depois de muitos

anos de ausência, ele quis rever a casa em

que crescera. Como era de se esperar,

tratando-se de Berlim, a casa tinha

desaparecido, e Kallman se sentiu um pouco

perdido. De repente ele reconheceu o desenho

típico das calçadas: o chão em que brincava

quando criança! E teve a forte sensação de,

enfim, voltar para casa. (NORBERG-SCHULZ

apud KALLMAN, 2006, p.457).

O arquiteto Kallman, ao voltar para sua cidade natal,

conseguiu identificar a calçada típica da cidade na época em

que ainda morava ali e essa memória trouxe a sensação de

voltar para casa por identificar-se com o local, um pouco da

sua memória de infância e da vida que vivera ali, pois são

resquícios de um antigo habitar. Alguns elementos

arquitetônicos são responsáveis por isso e no caso citado

acima o arquiteto criou uma identificação. Símbolo: o piso, o

espírito do lugar: a sensação que o objeto trouxe o habitar: se

o objeto transferiu de um lugar para o outro a sensação de

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estar em casa ali houve uma forte relação entre ele e o

objeto. Essa troca pode ter sido inconsciente até então, mas

ao voltar e lembrar-se da infância vendo o piso essa relação

aconteceu.

De acordo com a fenomenologia o homem tende a traduzir

um significado de um lugar para outro que já foi

experimentado antes e alguns objetos de identificação podem

vir da infância.

O caráter de uma "família" de construções que

constitui um lugar geralmente está

"condensado" em motivos característicos,

como certos tipos de janelas, portas e

telhados. Esses motivos se tornam as vezes

"elementos convencionais"que servem para

transpor o caráter de um lugar para outro.

Desse modo, na fronteira, caráter e espaço se

combinam (...) (NESBITT apud NORBERG-

SCHULZ 2006, p. 451).

De acordo com a teoria da fenomenologia, para que o homem

se sinta pertencente ao lugar ele tem que ser capaz de

orientar-se, saber onde está, se identificar com o meio e

saber como ele está inserido num certo lugar. Sendo assim a

identificação é a base do sentimento de pertencer.

Outro exemplo em que o sentimento e a memória do lugar

foram transferidos de um lugar para o outro é na casa da

autora que vos fala. A porta de duas seções (Fig. 01) foi

instalada na sala em uma reforma em 2011, a arquiteta

Alessandra, minha tia, colocou no projeto essa porta. Depois

dos meus devaneios sobre esse elemento ela afirma que

colocou essa porta, pois vem da memória de seus passeios

de infância em sítios e casas de nossos antepassados. Esse

elemento era muito utilizado nas cozinhas, de modo que a

parte de cima ficava aberta e a parte de baixo impedia que as

galinhas entrassem na casa.

Ao perguntar sobre esse elemento Alessandra buscou na

memória e contou sobre outros detalhes das casas em que

visitava na infância, como por exemplo, as latas de biscoito

que ficavam em uma das casas.

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Figura 01: porta de duas seções.

Fonte: autora

Figura 02: Drie Hoven, Lar para idosos.

Fonte: Lições de arquitetura, Hertzberger.

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De acordo com Hertzberger (1999, p. 35), a porta de duas

seções (Fig. 02) deixa um contato entre o interior e o exterior,

um exemplo que o autor cita para a utilização deste elemento

é em lar para idosos, onde por causa da mobilidade reduzida

os moradores passam boa parte do tempo sozinhos dentro do

quarto, enquanto os outros que ficam do lado de fora também

querem algum contato. A porta em duas seções permite que

a parte de cima fique aberta de maneira que fica um gesto de

convite, a porta está aberta e fechada ao mesmo tempo.

Assim, a porta fica aberta o bastante para facilitar uma

interação com quem está passando por ali (Fig. 02).

Assim, acontece uma interação entre interior e o exterior de

forma não explícita. Essa situação também acontece nas

varandas das casas, onde os moradores estão dentro de

casa e próximos a rua, o que facilita um contato com quem

está passando por ali. É um intervalo entre a casa e a rua.

A concretização da soleira como intervalo,

significa, em primeiro lugar e acima de tudo,

criar um espaço para as boas-vindas e as

despedidas, e, portanto, é a tradução em

termos arquitetônicos da hospitalidade. Além

disso, a soleira é tão importante para o contato

social quanto as paredes grossas para a

privacidade. Condições para a privacidade e

condições para manter os contatos sociais com

os outros são igualmente. Entradas, alpendres

e muitas outras formas de espaços de intervalo

fornecem uma oportunidade para a

‘acomodação’ entre mundos contíguos.

(HERTZBERG, 1996, p. 35).

Esse exemplo da soleira pode ser aplicado na utilização dos

moradores com as varandas das casas, os moradores dessa

casa no bairro Jardim Panorama em Ipatinga usam a varanda

de forma que se aproximam da rua, ficam "disponíveis" para

um contato com os vizinhos, mas estão ainda dentro de casa.

É esse intervalo entre a casa e a rua que faz com que eles se

sintam dentro e fora ao mesmo tempo. Podemos aplicar esse

caso à fenomenologia, pois antes essa casa não era utilizada

dessa forma, há dois anos ela foi reformada, e numa

necessidade dos moradores a casa recebeu a varanda. (Fig.

03 e 04)

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Figura 03: casa no Jardim Panorama

Fonte: autora

Figura 04: casa no Jardim Panorama

Fonte: autora

Page 25: Habitabilidade urbana a partir do sentimento de pertencimento | Silvana Assunçao

24

De acordo com os moradores as casas dessa rua

antigamente tinham uma maior comunicação com o exterior,

pois as residências casas não eram fechadas com muros tão

altos, o que facilitava a comunicação entre os moradores e

quem passava pela rua. Assim os moradores eram mais

próximos. Sendo essa varanda construída em uma reforma

recente, então a construção dessa varanda é a retomada do

espírito do lugar, resgatando esse intervalo como

comunicação entre a casa e a rua.

As calçadas pertencem às casas, o que não

significa que sejam parte das mesmas

enquanto propriedade. O seu caráter público

contrasta, por vezes, com as formas pelas

quais são circunstancialmente utilizadas. As

diversas maneiras de ocupação destas áreas

vivas do espaço urbano criam uma ambiência

que os moradores associam ao modo de vida

tradicional. Referem-se muito a um tempo em

que as cadeiras na calçada eram ‘a marca

registrada’ da vida do bairro. O hábito,

característico dos momentos especiais,

marcado pela suspensão do cotidiano (fins de

tarde, tardes de sábado, domingos ou

feriados). No passado, dizem, todos tinham

esse costume que hoje parece estar em

extinção. (FERRARA, 1999).

A varanda como comunicação entre a casa e a rua aproxima

o habitar residencial para esse espaço de transição entre os

dois. Um outro caso de transferência de significados e

sentimentos entre interior e exterior é a intervenção Azulejos

de Papel (desde 2008) do grupo Poro podemos fazer uma

análise entre o habitar residencial e urbano, pois a mesma

consiste em espalhar pela cidade uma série de imagens de

azulejos impressos em papel jornal, no formato 15x15cm, que

é normalmente o tamanho dos azulejos reais. Sendo os

azulejos mais comuns de serem utilizados no interior da casa,

essa intervenção leva o imaginário do habitar residencial para

o urbano. Transfere e faz-se uma analogia entre o significado

do habitar residencial para o urbano (Fig. 05 e 06).

De acordo com o Grupo Poro, a intenção nas intervenções é

a de criar relações com o mundo a partir de signos, gestos

e/ou objetos, fazendo trocas simbólicas no espaço. O grupo

encara o espaço público como lugar de convívio e campo

para a articulação de proposições artísticas.

Page 26: Habitabilidade urbana a partir do sentimento de pertencimento | Silvana Assunçao

25

Figura 05: intervenção Azulejos de Papel

Fonte: ebook: Intervalo, Respiro, Pequenos deslocamentos.

Figura 06: intervenção Azulejos de Papel

Fonte: ebook: Intervalo, Respiro, Pequenos deslocamentos.

Page 27: Habitabilidade urbana a partir do sentimento de pertencimento | Silvana Assunçao

26

Enquanto refúgio, imobilidade, tranquilidade, o

canto (i.e., a casa) é a reprodução do primeiro

abrigo humano, o útero materno, e por

conseguinte a arquitetura, expressão perfeita

da imobilidade, se decidiria por uma das

pontas do eixo: o Interior. [...] um espaço

interior concebido como oposição ao exterior e

com o qual se procurava uma proteção.

(COELHO NETTO, 2001, p.32).

Ao tratar do espaço doméstico e da transição entre esse

espaço e a rua o objetivo é entender a transferência de

significados entre a habitabilidade residencial, que é onde se

configuram as atividades privadas do habitante, bem como

onde se abrigam suas memórias. Para a habitabilidade

urbana considera-se aqui que o indivíduo pode transferir os

signos de um lugar para outro. Pretende-se chegar aqui a

uma noção do habitar urbano de acordo com a relação do ser

com o espaço em que vivencia.

Vamos tratar aqui da arquitetura como tangível e não

tangível. A arquitetura não tangível são os signos e os

fenômenos do lugar, ambos são indispensáveis para a

compreensão do espaço. Considerar somente cada um

desses conjuntos separados é apenas um artifício analítico, é

separar uma parte de uma totalidade complexa. O sentimento

de pertencer, que faz parte do significado subjetivo da

arquitetura de dar significado para o que é tangível, sendo

assim o signo e o significado estão sempre juntos na

formação da identidade o lugar.

Na rua a vergonha da desordem não é mais

nossa, mas do Estado. Limpamos ritualmente a

casa e sujamos a rua sem cerimônia ou

pejo...Não somos efetivamente capazes de

projetar a casa na rua de modo sistemático e

coerente, a não ser quando recriamos no

espaço público o mesmo ambiente caseiro e

familiar. (DAMATTA, 1997).

Se a rua é do desconhecido, a análise da relação entre

habitar residencial e urbano é um lugar de identidade é o

signo que os indivíduos atribuem ao lugar. Os espaços que

demarcam a transição entre o espaço público e o privado

podem determinar a posse do espaço, que nada mais é uma

demarcação de território.

O significado do espaço público apenas se

sedimenta quando o público se transforma em

Page 28: Habitabilidade urbana a partir do sentimento de pertencimento | Silvana Assunçao

27

coletivo, o lugar das práticas associativas. [...]

outra vez a percepção ambiental pesquisada

passa por uma ficção, um imaginário cultural

que faz com que os moradores pareçam

desenraizados no seu ambiente e com ele não

se sentem comprometidos. (FERRARA, 1999,

p. 212)

Assim, uma das formas do indivíduo se apropriar do espaço é

fazer com que ele se sinta responsável pelo mesmo.

Colocando-o como criador da identidade do lugar.

Considerando a percepção do espaço pelo indivíduo como a

capacidade de apreender e processar as informações que o

este comunica através de seus signos, pode-se concluir que a

percepção do espaço é empírica e depende de como o

indivíduo se localiza e se orienta no meio.

O antropólogo Roberto DaMatta fala sobre como o

sentimento de pertencimento influencia na relação do

indivíduo com o exterior da casa, considerando a casa como

o lugar de pertença:

No Cairo, uma vez, fiquei perdido, pois as ruas

não seguiam o mesmo padrão a que estamos

habituados no Ocidente. Foi curioso e

intrigante descobrir em Tóquio que as casas

têm um sistema de endereço curioso e

intrigante pessoalizado e não impessoal como

o nosso. Tudo muito parecido com as cidades

brasileiras do interior, onde, não obstante casa

tem um número e casa rua um nome, as

pessoas informam ao estrangeiro a posição

das moradias de modo pessoalizado e até

mesmo íntimo: “A casa do seu Chico fica ali em

cima..do lado da mangueira...é uma casa com

cadeiras de lona na varanda..tem janelas

verdes e telhado bem velho...fica logo depois

do armazém do Seu Ribeiro...” Aqui, como

vemos, o espaço se confunde com a própria

ordem social de modo que, sem entender a

sociedade com suas redes de relações sociais

de valores, não se pode interpretar como o

espaço é concebido. (DAMATTA, 1997, p. 27 e

26).

Nesses casos a forma a identidade da casa é parte da

orientação no meio, assim quem vivencia o espaço identifica

a casa de acordo com a modificação que o morador fez no

meio em que habita. Isso não é um sistema que se aplica a

Page 29: Habitabilidade urbana a partir do sentimento de pertencimento | Silvana Assunçao

28

todos os lugares, é o jeito que funciona para esse em

específico, e isso é o espírito do lugar é parte identidade

deste. Assim, cada casa possui sua identidade, e ela é quase

que sua identificação como localização. As casas de Tóquio e

do Brasil, em algumas cidades do interior, são identificadas a

partir da modificação que o homem faz no meio.

Analisando o tipo de organização desses lugares, podemos

dizer que a percepção do espaço e a força dos seus

elementos do espaço tornam-se a identificação e orientação

dentro da cidade. Nesse caso o indivíduo ocupa

subjetivamente o espaço em que vive de modo que a

identidade da casa, e consequentemente quem ali habita, são

a orientação e a localização dentro do espaço.

De acordo com Hertzberger (1996, p. 22) "O caráter de cara

área dependerá em grande parte de quem determina o

guarnecimento e o ordenamento do espaço, de quem está

encarregado, de quem zela e de quem é ou se sente

responsável por ele".

O espaço é constantemente modificado pela ação do

indivíduo, essa mutabilidade caracteriza o lugar e da uma

identidade de acordo com o tipo de uso e apropriação. Pois

da maneira que em que o usuário se apropria e sente

pertencente ao lugar ele tende a preservá-lo, deixando de ser

esse um espaço somente de passagem.

Em alguns casos em que os moradores de uma cidade

perdem toda a referência de identificação e relação com o

meio em que vivem, os moradores perdem a identidade do

lugar. Para exemplificar será analisado o caso do município

de Nova Ponte (MG), a qual recebeu a instalação de uma

Usina Hidrelétrica e os moradores foram realocados para uma

nova cidade.

Segundo a pesquisa de Silva e Borges (2011), a cidade de

Nova Ponte acabou perdendo a autenticidade, pois perdeu a

grande harmonia que existia na cidade, o contato com os

vizinhos e a tranquilidade do lugar.

Na entrevista feita por Silva e Borges (2011), os moradores

relatam que a cidade perdeu o ambiente familiar e acolhedor

Page 30: Habitabilidade urbana a partir do sentimento de pertencimento | Silvana Assunçao

29

das praças; do rio, das festas juninas nas escolas; da beleza

da ponte; da escadaria do colégio; da união das pessoas; das

pescarias e folias de Reis; quintal cheio de frutas; do lanche

da praça; principalmente nas festas religiosas; da festa da

cavalhada e o fato de terem deixado o local onde moravam, a

mudança de hábitos culturais que aconteciam no município, a

perda do patrimônio histórico, das belezas naturais e dos

pontos turísticos, e o aumento da marginalidade na nova

cidade, o fato de perderem as festas religiosas, como o

congado e o fim dos carnavais de rua, se queixam da perda

dos laços com antigos vizinhos.

De acordo com a pesquisa entrevistados dizem uma parte de

seu passado foi retirada. Os laços afetivos e os sentimentos

com o lugar são muito valiosos.

A realocação da cidade mexe diretamente com a vida dos

moradores, com velhos hábitos, além de alterar

completamente a organização e orientação dentro do

município.

A população natural de Nova Ponte foi reduzida, a maioria da

população se mudou de Nova Ponte enquanto a empresa

ainda estaria em fase se negociação com os moradores.

agora além dos traços físicos a cidade tem uma nova relação

de afetividade entre seus moradores. Alguns deles tentam

resgatar e preservar alguns hábitos, sem deixar que a

memória da antiga cidade fique totalmente submersa e que a

mudança apague as lembranças, principalmente os mais

velhos, que se lembrarem da vida calma na cidade e dos

bate-papos nas calçadas nos finais de tarde (Fig. 07).

Page 31: Habitabilidade urbana a partir do sentimento de pertencimento | Silvana Assunçao

30

Figura 07: bate papo nas calçadas

Fonte: Experiências e percepção dos antigos moradores do município de

Nova Ponte-MG.

Esse espírito de bate-papos nas calçadas, de celebração em

parques e praças da cidade pode ser um modo de atrair de

volta os velhos costumes da cidade, tradições e costumes

comuns a ela. Dessa forma, retoma-se o sentimento de

pertencimento, e identidade que são importantes para a vida

comunitária.

Ao questionarem os moradores de qual cidade eles optariam

por morar agora, na velha ou na nova, embora os moradores

sejam saudosistas quanto à antiga cidade, a preferência da

maioria é pela nova.

Os moradores relatam ainda, como positivo, a melhoria na

qualidade de vida e na infraestrutura de modo geral, como o

serviço de limpeza das ruas, as casas melhores e a

unificação dos bairros, que antes se dividiam nas margens do

rio Araguari.

Apesar de boa parte dos moradores terem algum motivo para

se queixarem da nova cidade, os autores constataram que

após 14 anos da transferência da cidade, embora as

lembranças e o saudosismo dos moradores, a maioria se

sente recompensado e se sentem mais felizes na nova cidade

do que na antiga. Novas relações se estabeleceram no novo

espaço urbano e as lembranças de Nova Ponte vêm na

memória, pois, passaram a ser um mecanismo de se recontar

lembranças do que não se vive mais.

Page 32: Habitabilidade urbana a partir do sentimento de pertencimento | Silvana Assunçao

31

Quando, na nova casa, retornamos as

lembranças das antigas moradas,

transportamo-nos ao país da Infância Imóvel,

imóvel como o Imemorial, Vivemos fixações,

fixações de felicidade. Reconfortamo-nos ao

reviver lembranças de proteção. Algo fechado

deve guardar as lembranças, conservando-lhes

seus valores de imagens. As lembranças do

mundo exterior nunca hão de ter a mesma

tonalidade das lembranças da casa. Evocando

as lembranças da casa, adicionamos valores

de sonhos. Nunca somos verdadeiros

historiadores; somos sempre um pouco poetas,

e nossa emoção talvez não expresse mais que

a poesia perdida. Assim, abordamos a imagem

da casa com o cuidado de não romper a

solidariedade entre a memória e a imaginação,

podemos transmitir toda a elasticidade

psicológica de uma imagem que nos comove

em graus de profundidade insuspeitados.

(BACHELARD, 1993, p 26).

Fazendo uma avaliação pós-ocupação comportamental,

pode-se dizer que os moradores reestabeleceram novos

hábitos na cidade, como por exemplo, o time de futebol. A

memória do passado é forte nos moradores, e essa

identificação e saudosismo com a antiga cidade é importe.

Porém, o espírito do lugar e a organização da cidade é outra.

Pode-se associar a relação com a nova cidade com realidade

empírica, pois através da experiência e do convívio coma a

nova cidade os moradores transmitem através dos

sentimentos pela antiga um novo genius loci, sendo esse o

que o lugar tende a ser.

A PPS (Project for Public Spaces) propõe em sua pesquisa

"Ruas como lugares: Usando as ruas para reconstruir

comunidades" que as calçadas também devem cumprir uma

importante função social de propiciar encontro entre pessoas.

E ressalta que é importante que as calçadas tenham

atrativos, expressem o espírito do lugar e favoreça a

interação entre as é pessoas (Fig. 08).

A PPS ainda cita que os locais de descanso devem estar

próximos visualmente dos espaços atratores. E a mesma

pesquisa afirma que se a comunidade for envolvida no

cuidado desse espaço, cria-se um sentimento de

pertencimento que leva as pessoas a cuidarem desses

Page 33: Habitabilidade urbana a partir do sentimento de pertencimento | Silvana Assunçao

32

espaços, dando assim, autonomia para que o sujeito controle

o destino do espaço.

De acordo com Hertzberger (1996, p.177): Dependendo da

localização de um espaço, se estiver localizado de forma

favorável para isso, pode se tornar um lugar onde as pessoas

se encontram e descansam. Um exemplo que o autor cita de

apropriação do espaço é das calçadas que, quando são altas

favorecem para que o indivíduo possa sentar.

Hertzberger cita que em alguns casos a calçada é tão alta

que facilita que o indivíduo passa sentar ou se apoiar nela. E

em uma rua com declive, por exemplo, o lugar se estivesse

situado favoravelmente (como uma esquina), pode tornar-se

um lugar onde as pessoas se encontram e descansam.

Buscando na fenomenologia, nesse caso o lugar tende a ser

ocupado pela população, pois ele facilita para que aconteça

uma relação entre as pessoas.

Figura 08: Universidade de Colúmbia, Nova York.

Fonte: Lições de arquitetura, Hertzberger.

Page 34: Habitabilidade urbana a partir do sentimento de pertencimento | Silvana Assunçao

33

A percepção como controle da experiência

urbana surge com aquela dimensão da

linguagem responsável pelo desenvolvimento

da capacidade de apreender o cotidiano da

cidade e extrair, daí, os elementos capazes de

estimular ação, o comportamento e a

intervenção sobre ela. Aprendizado e

mudanças de comportamento são os fatores

que caracterizam apreensão e produção de

informação, percepção enfim.

Porém, a percepção urbana não é um dado,

não se manifesta como uma certeza, mas é um

processo de possibilidade. Altera-se conforme

as características socioculturais e informativas

(repertório) do morador da cidade e submete-

se às características físicas, econômicas e de

infraestrutura do próprio espaço urbano.

(FERRARA, 1999, p.107).

Um exemplo de apropriação e formação do caráter do lugar é

no bairro Cariru em Ipatinga, onde os moradores interviram

em de alguns espaços do bairro ao longo da orla do Rio

Piracicaba. Para o estudo foi escolhido um recorte onde

observou-se uma maior concentração de intervenções.

Figura 09: mapa área de estudo

Fonte: autora

De acordo com Ferrara (1999) o ato de falar cria a língua, os

afazeres quotidianos efetuam o espaço. A cada vez que

alguém decide o que fazer, e em que lugar, está contribuindo

para a vitalidade do sistema de espaços e valores. Sendo

assim quem pratica o espaço é também, de maneira sutil,

aquele que o produz.

Page 35: Habitabilidade urbana a partir do sentimento de pertencimento | Silvana Assunçao

34

Essas intervenções são produzidas por quem vivencia o

espaço, e assim, o caráter do mesmo é o modo específico em

que o morador se apropriação do espaço. As apropriações

criam um contexto nesse espaço. O espaço é um suporte

para as intervenções e essas intervenções contribuem para a

vitalidade desse espaço.

O arquiteto pode contribuir para criar um

ambiente que ofereça muito mais

oportunidades para que as pessoas deixem

suas marcas e identificações pessoais, que

possa ser apropriado e anexado por todos

como um lugar que realmente lhes pertença.

[...] Cada componente espacial será usado

mais intensamente (o que valoriza o espaço),

ao mesmo tempo em que se espera que os

usuários demonstrem suas intenções.

(HERTZBERGER, 1996, p.47).

No bairro Cariru a participação efetiva dos moradores como

sujeitos modificadores do espaço desencadearam o efeito de

utilização do espaço ao longo da pista de caminhada na orla

do Rio Piracicaba (Fig. 10). De acordo com Dona Maristela,

moradora da Av. Itália, seu marido Peter instalou algumas

gangorras (Fig. 11 e 12) e logo depois vieram outras

intervenções no espaço por ele e também por outros

moradores.

Figura 10: pista de caminhada do bairro Cariru.

Fonte: autora

Page 36: Habitabilidade urbana a partir do sentimento de pertencimento | Silvana Assunçao

35

Figuras 11 e 12: gangorras na pista de caminhada do bairro.

Fonte: autora

A estrutura no chão é onde os moradores constroem uma

cabana de folha para as crianças brincarem, com um tempo

as folhas secam e o espaço sofre alteração pelas intempéries

do tempo e a cabana se desmancha, mas de acordo com os

moradores eles a reconstroem de acordo com a necessidade,

é o fenômeno do lugar (Fig. 13)

Figura 13: estrutura da cabana

Fonte: autora

Page 37: Habitabilidade urbana a partir do sentimento de pertencimento | Silvana Assunçao

36

Observa-se então que a ocupação desse espaço de uso

público não é um objeto finalizado, o espaço se encontra em

constante modificação pelos usuários, portanto, é de acordo

com a interação do indivíduo com o meio que esse espaço e

essas atividades se acontecem.

Os moradores construíram também alguns brinquedos,

bancos e mesas, onde alguns chamam de "pé de manga". A

identificação/orientação do lugar é pela árvore frutífera que

fica na rotatória onde se formou a pracinha. (Fig. 16 e 17)

Os moradores são os próprios agentes de modificação e

construção do espaço, pode-se dizer que a praça faz parte da

realidade do desse espaço, pois foi construída de acordo com

uma demanda dos próprios moradores.

Figuras 14 e 15: pracinha construída pelos moradores

Fonte: autora

Page 38: Habitabilidade urbana a partir do sentimento de pertencimento | Silvana Assunçao

37

Para compreender a relação dos moradores com esses

espaços e como as modificações se iniciaram buscou-se

entrevistar os responsáveis por algumas das intervenções.

Assim como Peter, Gil Milbratz (Fig. 14) morador da Rua

Indonésia disse que ele e seu pai fizeram algumas

modificações na "pracinha" em frente a sua casa para ter um

local mais próximo de casa para sua filha brincar. O morador

conta que depois de sua intervenção outros moradores

também fizeram outras e procuraram meios de zelar por esse

espaço.

Figura 16: Gil Milbratz

Fonte: autora

As entrevistas tiveram como objetivo observar e entender

como essas modificações ao longo da orla do bairro e a

iniciativa dos moradores de cuidar do espaço de uso coletivo.

Essas pequenas transformações ao longo da orla feitas pelos

moradores caracterizam o uso e o zelo do espaço pelos

mesmos. Como a modificação do espaço por alguns

moradores induz a modificação e utilização desse espaço por

outros.

O segredo é dar aos espaços públicos uma

forma tal que a comunidade se sinta

pessoalmente responsável por eles, fazendo

com que cada membro da comunidade

contribua à sua maneira para um ambiente

com o qual possa se relacionar e se identificar.

[...] Os serviços prestados pelos

departamentos de Obras Públicas Municipais

são vistos, por aqueles em cujo benefício

esses departamentos foram criados, como uma

abstração opressiva; é como se as obras

públicas fossem uma imposição vinda de cima;

o homem comum sente que “não tem nada a

ver com ele”, e, deste modo, o sistema produz

um sentimento generalizado de alienação.

(HERTZBERGER, 1996, p. 45).

Page 39: Habitabilidade urbana a partir do sentimento de pertencimento | Silvana Assunçao

38

As apropriações dos espaços são diferentes em função dos

indivíduos que vivenciam e modificam o espaço. Assim, o

espaço é aquilo que ele constitui para si. O lugar passa a ser

da experiência, os elementos que os moradores construíram

entram no campo da subjetividade da experiência que eles

vivenciam no espaço, ligando assim sujeito (como

modificador do espaço) e elemento arquitetônico.

Para que o contato possa se estabelecer

espontaneamente é indispensável certa

informalidade, certo descompromisso. É a

certeza de que podemos interromper o contato

ou nos retirarmos quando quisermos que nos

encoraja a prosseguir.

O estabelecimento de contato é, de certo

modo, como o processo de sedução, em que

ambos os lados fazem reivindicações iguais

sabendo que a retirada é sempre possível a

qualquer momento. (HERTZBERGER, 1996,

p.178)

A intervenção dos moradores aconteceu espontaneamente e

essa ação formou o caráter desse espaço. Essa modificação

no meio potencializa o habitar. Ainda mais sendo feito pelos

próprios moradores, que vivenciam e formam a identidade do

local, essa praça é a ação e a percepção do sujeito no meio

em que vive.

Cada morador que fez a intervenção nesse lugar a fez à sua

maneira, uma das intervenções é um local para dar comida

aos pássaros e macacos (Fig.17 e 18). Percebe-se assim que

os moradores apropriam e zelam pelo espaço ainda que se

trate de um espaço de uso coletivo.

Todo espaço coletivo em que os usuários apropriam cria uma

relação entre indivíduo e espaço. Assim, a identidade desse

espaço coletivo surge de acordo com as modificações que o

usuário faz no meio em que vivencia.

Page 40: Habitabilidade urbana a partir do sentimento de pertencimento | Silvana Assunçao

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Figuras 17: lugar que os moradores colocam comida para os

animais

Fonte: autora

Figuras 18: lugar que os moradores colocam comida para os

animais

Fonte: autora

Page 41: Habitabilidade urbana a partir do sentimento de pertencimento | Silvana Assunçao

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3 OBRAS DE REFERÊNCIA

No trabalho Casa: Identidade e memória, Betânia Batista

analisa a relação do usuário com a casa em que vive,

fazendo uma análise a partir de um conjunto habitacional em

que a residência não foi pensada de acordo com as

individualidades de cada morador. A pesquisa considera a

casa como desenvolvimento de si mesmo, onde abriga

lembranças e sentimentos. Entende-se a casa como extensão

corporal e mental, reforçando assim a ideia de singularidade

entre os indivíduos e a necessidade de uma arquitetura que

pensada de acordo com as especificidades de cada um.

No Seminário Semana da Escola Politécnica (Fig. 19), que

aconteceu no dia trinta de setembro, onde o documentário

Casa: Identidade e memória foi exibido (Fig. 20) e comentado

logo após. O documentário trata da busca pelo entendimento

das inquietações e modificações que o homem faz no meio

em que vivencia.

O documentário relata as inquietações dos moradores em

relação à tipologia da casa em que receberam no conjunto

habitacional. Os moradores falam sobre as modificações que

fizeram na casa de acordo com a necessidade imediata,

sendo algumas dessas mudanças de formação da família.

O documentário mostra as variadas formas a mudanças na

tipologia, no acabamento que os moradores fazem na casa,

muitos deles relatam também que ainda existe uma vontade

de reformar algumas coisas da casa, outros estão satisfeitos

com a atual situação da moradia.

O trabalho de Batista (2015) foi de grande de importância na

pesquisa para observar a relação do homem na casa em que

habita e as intervenções que o mesmo faz no meio de acordo

com a necessidade. Desta forma, o homem transforma e faz

parte da identidade da sua casa. O trabalho registra que com

o passar dos anos os moradores modificaram as casas de

acordo com suas necessidades, mudanças de formação da

família e também de acordo com suas inquietações com a

aparência da casa. Os moradores afirmam no vídeo que há

essa inquietação de modificar o espaço.

Page 42: Habitabilidade urbana a partir do sentimento de pertencimento | Silvana Assunçao

41

Figura 19: cartaz do seminário.

Fonte: autora

Figura 20: seminário

Fonte: autora

Page 43: Habitabilidade urbana a partir do sentimento de pertencimento | Silvana Assunçao

42

Outra obra de referência para este trabalho é o livro Rua dos

Inventos, de Gabriela Gusmão que retrata objetos inventados

por moradores de rua e vendedores ambulantes. O livro

detecta um universo que passa quase despercebido no

cotidiano das cidades, expondo-os de forma a identificar

aspectos e comportamentos da cultura urbana.

O livro registra intervenções peculiares do indivíduo no meio

que vive e assim mostra como o sujeito da essa identidade ao

meio em que vive, exemplificando modificações que o

indivíduo faz no espaço de acordo com duas necessidades. A

obra apresenta ainda formas de apropriação do indivíduo

como habitar a rua em relação a moradia. Alguns registros de

como esses moradores transformam o espaços urbanos em

casa.

Esta obra serve de referência para observar outro tipo de

habitabilidade e intervenção no meio urbano, onde os

interventores são em sua maioria pessoas em condições

materiais de miséria, de acordo com a própria autora do livro.

Os registros de Gusmão foram feitos a partir de uma olhar

sutil em relação a esses objetos criados e mostra a

potencialidade dos mesmos.

Page 44: Habitabilidade urbana a partir do sentimento de pertencimento | Silvana Assunçao

43

4 PROPOSTA DE TCC2

A partir dos estudos realizados, foi possível compreender

melhor a relação do habitar entre usuário e o espaço em que

vivencia. Considerando que o habitar residencial pode ser

transferido para o urbano a partir de analogia entre os signos

dos elementos arquitetônicos. A avaliação pós-ocupação

comportamental do caso do bairro Cariru, permitiu entender

essa relação do habitar urbano como uma apropriação de

espaço, a partir dessa interpretação chega-se a proposta da

segunda etapa deste trabalho.

Assim, a proposta de TCC2 é o desenvolvimento de uma

análise pós-ocupação comportamental de recortes na cidade

que sofreram intervenções onde o sujeito seja o modificador

do espaço como forma de apropriações pelos moradores. O

objetivo da segunda etapa deste trabalho é entender a

relação do indivíduo com o meio, e como ele habita o espaço

urbano, considerando o habitar como uma relação entre o

sujeito e o espaço, entender como o indivíduo e o espaço

estão relacionados um ao outro e a troca de identidade entre

eles, compreendendo o sentimento de pertença em diferentes

casos.

As análises pós-ocupação comportamental serão realizadas

em locais públicos onde serão investigados comportamento

de apropriação do espaço pelos moradores da cidade de

Ipatinga.

O objetivo dessa documentação é a investigação e o registro

de como o sujeito e sua modificação no espaço formam o

espírito do lugar (genius loci), buscando entender como essas

intervenções potencializam o uso do espaço urbano pelos

usuários. Investigando o que motivou as intervenções e o

comportamento do usuário pós-ocupação dessas

intervenções. A análise será feita aplicando os conceitos

estudados nesta primeira etapa de pesquisa (TCC1).

O objetivo do TCC2 é uma análise pós-ocupação

comportamental sobre o sentimento de pertencimento do

indivíduo em relação ao meio em que vive. Buscando analisar

apropriações de espaços feitas peço próprio indivíduo que

vivencia o espaço e a habitabilidade da cidade em espaços

Page 45: Habitabilidade urbana a partir do sentimento de pertencimento | Silvana Assunçao

44

de uso coletivo. Busca-se atrair assim a percepção do

indivíduo em relação ao espaço em que vivencia, revelando a

as potencialidade e a identidade dos espaços.

O projeto de TCC2 deve mostrar a relação do sentimento de

pertencimento do sujeito como modificador o espaço a partir

de registros fotográficos e coleta de informações com os

moradores que serão apresentados em forma documental em

arquivo digital.

O trabalho será desenvolvido a partir de uma ótica

arquitetônica, buscando contribuir para um melhor

entendimento das transformações do sujeito no do espaço em

que habita e a potencialidade que essa modificação tem para

a cidade.

A documentação deve conter registros fotográficos dessas

intervenções e a parte escrita com a coleta de dados de

relatos de quem habita esse espaço a partir de uma visita de

campo e uma conversa com os moradores, buscando

entender de que forma essa interação entre o habitante e o

espaço acontece.

O resultado final do TCC 2 será a reunião dos registros feitos

na primeira etapa (Fig. 21) em uma documentação pós-

ocupação comportamental em forma de e-book, neste estarão

reunidos os registros, mapeamentos e catalogação das

intervenções feitas pelos habitantes. Na segunda etapa (Fig.

22) essa documentação se apresentará no e-book de forma

escrita com uma análise e aplicação dos conceitos nos casos

e em forma de registro fotográfico das intervenções e

apropriações estudadas.

Page 46: Habitabilidade urbana a partir do sentimento de pertencimento | Silvana Assunçao

45

Figura 21: etapa 1

Fonte: autora

Figura 22: etapa 2

Fonte: autora

Page 47: Habitabilidade urbana a partir do sentimento de pertencimento | Silvana Assunçao

46

5 CONCLUSÃO

As análises e estudos das teorias feitos ao longo dessa

pesquisa possibilitam o entendimento de como acontece e se

desenvolve habitabilidade no espaço de uso público.

Os conceito de fenomenologia, do habitar e da semiótica

foram introduzidos para entender a relação do homem como

modificador do meio em que vive e como formador da

identidade do lugar.

Entende-se nessa pesquisa que os hábitos e comportamento

do homem transformam o lugar de acordo com sua

necessidade, e que ele se apropria do espaço da maneira que

sente que aquele espaço lhe pertence e quando esse espaço

passa a ser de sua responsabilidade, criando uma analogia

entre a casa e o meio urbano, considerando aqui a casa

sendo o espaço em que o sujeito zela. Assim, quando se

permite que o homem pertença ao lugar ele pode se sentir

pertencente a ele e que esse sentimento se pertencimento e o

genius loci podem ser transmitidos de um lugar para outro (do

residencial para o urbano).

A análise no bairro Cariru permitiu entender, a relação do

usuário com o espaço em que ele interviu, a partir da

observação dessas intervenções, assim adquiriu-se um novo

olhar sobre as intervenções feita pelo habitante do meio.,

Conclui-se que as intervenções no espaço cumprem com a

necessidade imediata e inquietações do morador com o

espaço, os espaços de uso comum são transformados em

espaços de identificação no bairro, espaços cheios de

significados e sentimentos de pertencimento.

Assim, o projeto do TCC2 aprofunda na investigação de

intervenções e apropriações dos habitantes no espaço público

e a relação entre o sujeito e esse espaço que ele identifica

como pertença, com o objetivo de desenvolver uma ótica mais

sensível em relação as tranformações do homem no meio e a

habitabilidade urbana.

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