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RITMOS DA VIDA: AFINANDO OS JOVENS PARA O MERCADO DE TRABALHO
Marcella Naglis de Oliveira Lima
RESUMOEste artigo visa apresentar e refletir sobre um trabalho realizado com adolescentes em processo de formação e preparação para o mercado de trabalho através do Instituto Mirim de Campo Grande (MS), realizado por meio de encontros e atividades grupais, desenvolvendo propostas educativas nesse espaço institucional. Foram 05 encontros, ocorridos semanalmente, com a participação ativa dos adolescentes que já se encontravam em curso trabalhando com outras temáticas na Oficina de Psicologia, a qual favoreceu a construção de competências que possibilitaram desenvolver suas habilidades e potenciais dentro da perspectiva do trabalho, para um melhor enfrentamento em seu cotidiano e em suas condições de vulnerabilidade social. Os resultados obtidos demonstram que o “Ritmos da Vida” colocado em prática contribui de forma a envolver os jovens como diferentes instrumentos capazes de formar uma orquestra sintonizada e conectada com seus valores e suas histórias, possibilitando a construção de realidades alternativas neste trabalho de processo grupal.
Palavras-chave: Adolescentes. Práticas Narrativas. Ritmos da Vida.
1 INTRODUÇÃO
Este artigo apresenta as atividades desenvolvidas em grupo com os
adolescentes do Instituto Mirim da cidade de Campo Grande/MS. O Instituto
Mirim é uma entidade civil, sem fins lucrativos, promotora do desenvolvimento
de competências técnicas e comportamentais, preocupada com a
empregabilidade dos jovens e a sua educação acadêmica e profissional.
Os valores da instituição se baseiam no respeito à pessoa humana,
inclusão social e profissional, ética e transparência, trabalho em equipe e visão
empreendedora, incluindo e transformando a vida social e econômica dos
jovens da capital através da educação para o mundo do trabalho.
¹Graduando do curso de Psicologia – Universidade Católica Dom Bosco. Email: [email protected]
A instituição é formada por uma equipe que oferece Atendimento
Psicológico, Orientação Nutricional, Assistência Odontológica, Assistência
Ortodôntica, Acompanhamento de Assistentes Sociais ao Adolescente e
Família e Equipe Técnica Especializada em Profissionalização de
Adolescentes.
O Atendimento Psicológico realizado na Instituição tem o objetivo de
contribuir com a vida do adolescente, a fim de proporcionar crescimento e
amadurecimento para que este desenvolva seu papel com excelência no
mercado trabalhista, formando cidadãos capacitados para atuar com
resiliências no âmbito do trabalho, pois a sociedade exige estrutura psíquica
para que sejam capazes de enfrentar situações adversas do cotidiano.
As ações deste trabalho possibilitaram integrar atividades práticas
conciliadas a este processo de formação dos jovens para o mercado
trabalhista, buscando dar voz e espaço para que estes possam sonhar e ter
esperança diante de suas dificuldades vivenciadas e enfrentadas no cotidiano.
Segundo Neto e Osório (2011, p. 22), o adolescente já esta inserido em
um contexto familiar da sociedade, assim já possuem um sistema desde
criança. Em todo sistema há papeis e definições de funções, assim também
como existe dentro de uma organização trabalhista. Como toda organização
passa por transformações e alterações com o passar dos anos, a família e o
sistema educacional proporcionado por ela também é modificado.
É possível identificar a diferença em priorizar e construir um foco com
base no discurso coletivo, de acordo com Denborough (2008, p.23) “(...) as
práticas narrativas coletivas se interessam em perceber padrões de discurso,
interações e intenções coletivos”.
Dentro deste processo, é comum que o indivíduo desenvolva seu
potencial dentro do sistema grupal (ZIMERMAN, 2000, p.137).
De acordo com Denborough (2008), as histórias compartilhadas são
acessadas e apresentadas não apenas em um contexto de sofrimento, mas
reconhecidas como aquilo que o grupo valoriza, ligados àquilo que os mantém
firmes, tornando-se possível honrar aspectos que podem ser construídos por
meio da memória e da esperança.
O documento narrativo, segundo o autor citado acima, tem como
objetivo o reconhecimento das varias habilidades e conhecimentos individuais
2
que possibilitam a conexão com a história, a cultura e a tradição coletiva,
acentuando assim a diversidade, fazendo com que as vivencias do passado se
conectem com os dias de hoje e em como podem ser fortalecidas essas
historias.
Através dos encontros realizados, foi construído um contexto para que
os instrumentos coletivos possam contribuir com a vida das pessoas no grupo,
fortalecendo suas habilidades, para que reajam as dificuldades da vida:
“Uma história contada em voz alta à prole ou a colegas é, claro, mais que um texto. É um evento. Quando conduzida apropriadamente, na forma de uma apresentação, seu efeito no ouvinte é profundo, e este é mais que um mero receptor passivo ou validador. O ouvinte é modificado” (MYERHOFF, 1982 apud DENBOROUGH, 2008, p. 57).
Na externalização das dificuldades enfrentadas há uma compreensão
maior das relações das pessoas com os problemas, as mesmas acabam sendo
moldadas por sua história e cultura, sendo possível explorar todas as relações
de poder que influenciam a construção dos problemas, permitindo visualizar
novas perspectivas e estando mais consciente daquilo que é modelado pelas
histórias culturais carregadas (CAREY; RUSSEL, 2007, p.13).
No envolvimento da construção da música, ao compartilharem seus
instrumentos, os jovens perceberam que cada um pode pensar e sentir sobre si
e sobre o outro de forma diferente, possibilitando uma percepção da sua
presença no grupo enquanto coletividade, como o instrumento dele pode
interagir com os demais e como ele reage ao som do instrumento do outro de
acordo com suas próprias historias.
Denborough (2008, p.59) apresenta seu discurso das práticas narrativas
coletivas demonstrando o interesse em facilitar a percepção do individuo em
“unidade como pessoa”, para que este se conecte com sua historia pessoal e
familiar através de suas habilidades, valores, lembranças e sonhos, gerando
um “sentido de unidade e identidade com o próprio passado e presente”.
3
2 “RITMOS DA VIDA” – Adriana Muller (2013)
2.1 COMO ELE ACONTECE?
A música em nosso país é uma manifestação cultural muito forte e
reconhecida mundialmente. Muller (2013) propõe olhar para a música em sua
diversidade de instrumentos que podem se caracterizar como uma linguagem
global, compreendida como uma melodia produzida pela humanidade.
O objetivo do “Ritmos da Vida”, criado e produzido por Adriana Muller no
ano de 2013, consiste em permitir que as pessoas possam construir um
território de identidade seguro, se reconectando assim com suas habilidades,
seus valores e suas histórias, possibilitando integrar os objetivos em comum do
grupo.
Este trabalho é constituído por 05 etapas: Meu instrumento, Minha
interpretação, A orquestra da vida, Entrando em Sintonia e Nossa Música.
Estas etapas são divididas da seguinte forma:
2.1.1 MEU INSTRUMENTO: O momento em que cada participante acessa sua historia de vida e
todas as suas lembranças preciosas, possibilitando uma reflexão individual e
grupal que permite se conectar com suas vidas.
Os participantes são convidados a desenhar, no meio de uma folha de
papel, um instrumento musical que eles gostem, possuem afinidade, saibam
tocar ou por qualquer motivo que considerem esse instrumento por seu
formato, seu som, etc.
Em seguida, é solicitado que desenhem o palco, representado por um
traço abaixo do instrumento. Este é o local onde a pessoa toca o seu
instrumento, significando sua vida atual, os papeis que desempenha em seu
cotidiano, suas principais atividades regulares e todos os aspectos ligados à
suas vidas.
Então, a próxima etapa consiste em identificar as partes do instrumento
que o fazem funcionar, a produção do som e a forma com a qual ressoa.
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A Caixa de Ressonância significa tudo àquilo que proporciona estrutura
na vida de alguém, nela estão as lembranças preciosas que fortalecem o
individuo. É solicitado que escrevam ao redor do instrumento o lugar onde
nasceram, momentos especiais de suas infâncias, pessoas significativas,
músicas e momentos especiais que marcaram suas infâncias, lugares já
visitados e todas aquelas lembranças que contribuíram para ser quem são
hoje.
Após esta etapa, na Vibração, é pedido para que cada um escreva
dentro do instrumento seus valores, habilidades, capacidades, tudo aquilo que
faz com que a pessoa seja única e a faça construir seu próprio som.
A etapa seguinte constitui-se das Ondas Sonoras, as quais são
representadas por ondas que saem do instrumento e vão em direção à borda
do papel, como ondas musicais, representando os sonhos e as esperanças. A
pergunta é: “Onde eu quero que a minha música chegue?”. As respostas são
escritas sobre essas ondas sonoras.
Após estas etapas, é solicitado que escreva na parte inferior do papel,
sob a linha do palco, o nome das pessoas das quais gostariam que estivessem
presentes para ouvir sua apresentação, qual seria a sua plateia: “Quem eu
gostaria que estivesse ouvindo a música da minha vida?”.
2.1.2 MINHA INTERPRETAÇÃO:É um momento de transição entre o individual e o coletivo no qual as
pessoas compartilham as histórias da etapa 01.
Após terminar os desenhos individuais, cada pessoa apresenta a sua
produção para o grupo, expondo os aspectos mais importantes da história
representada naquele instrumento. Os participantes são convidados a
responder qual o tipo de música tocam com seu instrumento e qual a reação da
plateia ao ouvir a sua música.
Após essa apresentação, cada um coloca seu instrumento lado a lado,
no chão ou na parede.
2.1.3 ORQUESTRA DA VIDA: Momento em que o foco passa a ser o grupo, relacionando os
instrumentos como metáfora das pessoas que tocam em uma orquestra.
5
2.1.4 ENTRANDO EM SINTONIA: Neste momento o foco ainda continua sendo o grupo, apresentando as
dificuldades que uma orquestra pode e deve enfrentar para entrar em sintonia.
2.1.5 NOSSA MÚSICA:Momento em que o grupo compõe e constrói uma musica
representando suas principais descobertas e reflexões, para posteriormente
apresentá-la e compartilhar com outros grupos que vivenciam ou vivenciaram
situações semelhantes, com o objetivo de apresentar suas habilidades, suas
capacidades, seus valores, sonhos, esperanças, ‘respons-habilidade’, etc.
Então, o grupo passa a ter um documento coletivo musical, possível de
ser compartilhado com outros grupos, transmitindo o que aprendeu com as
historias compartilhadas.
3 METODOLOGIA
O Instituto Mirim é responsável por identificar potencialidades e destinar
o jovem às tarefas que mais se aproximam das suas afinidades profissionais. O
treinamento profissionalizante realizado no local propicia ao adolescente uma
formação preparatória para o mercado de trabalho.
Para fazer parte da Instituição, os jovens precisam ter a faixa etária de
14 anos e 06 meses de idade entre 15 anos e 06 meses de idade, notas
escolares na média e renda familiar de até 03 salários mínimos. A situação de
risco é identificada, pois os mesmos são de famílias de baixa renda e, na
maioria das vezes, dependerão do salário que será recebido futuramente no
trabalho para auxiliarem financeiramente suas famílias.
Este trabalho foi desenvolvido através de 05 encontros em complemento
ao Projeto Político Pedagógico da Instituição e ao planejamento do Setor de
Psicologia, o qual trabalha no período semestral de fevereiro a julho com os
temas: História de vida, Família, Adolescência, Sexualidade e Trabalho.
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Os encontros foram realizados pela estagiária de Psicologia Marcella
Naglis de Oliveira Lima, acadêmica do 10° semestre, através do Estágio
Específico do Eixo de Promoção de Saúde da Universidade Católica Dom
Bosco, Supervisionado pela Prof. Lucy Nunes Ratier.
Os recursos materiais fornecidos para o trabalho consistem em: sala de
Psicologia para atendimento grupal, mesas, cadeiras, folhas e lápis.
A dinâmica “Ritmos da Vida” foi introduzida após trabalhar com a
temática Família, no mês de abril, em uma turma de 25 adolescentes com a
faixa etária de 15 anos.
O planejamento da Dinâmica “Ritmos da Vida” foi apresentado ao Setor
de Psicologia, que se interessou pela proposta e abriu espaço para introduzi-la
como complementaridade do cronograma semestral.
Os encontros deste trabalho ocorreram nos dias: 26/03/2014,
28/03/2014, 01/04/2014, 08/04/2014 e 11/04/2014.
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Foi identificado nos encontros iniciais do grupo, trabalhando com a
temática “História de Vida” e “Família”, a capacidade de entrarem em conexão
com sentimentos e lembranças daqueles que estão aqui e até mesmo os que já
foram, que de alguma forma influenciaram nas crenças, valores e tradições
carregadas até os dias atuais.
Esse ato de ‘remembrar’ (re-member), que vem do principio do inglês de
‘relembrar’ (remember) que pode ser dado de maneira a mencionar uma
pessoa importante no passado como uma luz positiva, sendo capaz de
proporcionar contextos que permitem o indivíduo revisar e reorganizar os
sócios do seu clube da vida (CAREY e RUSSEL, 2007, p.50/51), metáfora
desenvolvida por Michael White, em 1997, a qual designa o ‘clube da vida’ para
todos que possuem membros em seus clubes e que tem atuado de forma
especial para um melhor entendimento de si próprio, contribuindo de forma
significativa e atuante na vida de cada um.
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A partir da proposta apresentada, os encontros foram realizados nas
seguintes etapas:
1º Encontro - 26/03/2014Em um primeiro momento, a estagiária Marcella Naglis de Oliveira Lima
explicou como o trabalho seria desenvolvido, suas etapas e seus objetivos,
para que pudessem se conectar com a proposta.
Quando a dinâmica foi introduzida, alguns expressaram suas habilidades
de tocar instrumentos sonoros e a influencia da música em suas vidas nesta
fase da adolescência.
A turma recebeu bem a dinâmica, alguns se envolveram mais com a
construção de seus instrumentos pelo fato de saberem tocar, já terem tocado e
de possuírem a vontade de tocar. O aluno X desenhou um violino, relatando
que sentia muita vontade de aprender a tocar este instrumento e que um dia
iria conseguir.
Após a construção dos instrumentos, foi solicitado aos alunos que
desenhassem o palco, no qual deveriam escrever todas as funções que
exercem atualmente em suas vidas, incluindo todas as suas atividades
regulares.
A maioria apontou o papel de ser mirim, por sentirem muito orgulho de
estarem inseridos na Instituição e tocarem este instrumento como uma
oportunidade que possuem, apresentando este aspecto como importante em
suas vidas.
2º Encontro - 28/03/2014
Neste encontro, foi trabalhada a totalidade do instrumento e as
representações da Caixa de Ressonância, da Vibração, Ondas Sonoras e
Plateia.
Na Caixa de Ressonância, foi solicitado aos adolescentes que
escrevessem, ao redor do instrumento, todas aquelas lembranças preciosas e
fortalecedoras que proporcionam estrutura em suas vidas, dentre elas: o lugar
onde nasceram, momentos e brincadeiras marcantes da infância, escolas já
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estudadas das quais guardam lembranças, pessoas significativas que estão
aqui e as que já se foram, lugares visitados, músicas e personagens que
marcaram sua infância.
Muitos comentaram sobre o lugar onde nasceram e como foi o
nascimento, aspecto importante que os fazem conectar-se com suas origens e
como foram recebidos quando chegaram ao mundo.
De acordo com Pincus e Dare (1981, p.30) o desenvolvimento da
personalidade, através da primeira e segunda infância até o fim da
adolescência é marcado por experiências prévias que podem ser recriadas e
reconstruídas à medida que o adolescente vai encontrando o seu próprio estilo
e estabilidade, tendo a família como principal influencia neste processo.
Alguns adolescentes demonstraram uma atenção especial para as
pessoas significativas, a maioria colocou membros importantes de suas
famílias, inserindo até aqueles que já faleceram e que já não fazem mais parte
do cotidiano, mas nas lembranças que fortalecem suas histórias, tendo
contribuído com ensinamentos, culturas e tradições familiares.
Conforme expressa Gergen e Gergen (2010), o individuo constrói o
mundo com base àquilo que os ensinaram a respeito do mundo e de si mesmo,
ao serem repensados esses conhecimentos, são convidados a novas e
diferentes formas de ação, re-significando àquilo que foi aprendido em suas
relações sociais.
Nas Ondas Sonoras, as representações dos sonhos e esperanças que
almejam para suas vidas pessoais e profissionais foram expressas de acordo
com os objetivos a serem alcançados a partir das realidades sociais que
vivenciam.
Hoffman (1996) apud Diniz (2007) descreve o participador como atuante
deste processo do jovem e suas escolhas, sendo visto como ativo gerador de
transformações, obtendo uma troca reflexiva que busca compartilhar e
acompanhar as visões de mundo apresentadas pelo individuo interligado a sua
família, como possibilidade de construção de novas realidades alternativas.
Ao transcreverem quais são as pessoas que gostariam que ouvissem
suas músicas, expressaram a importância de suas famílias na comemoração
de suas vitorias e objetivos. Alguns estimaram até a presença de seus inimigos
9
e todos aqueles que não acreditaram que conseguiriam tocar seus ritmos
sonoros.
Assim, o encontro foi finalizado com a interpretação do individual para o
coletivo. Os desenhos foram expostos ao chão e foi formada uma roda em
volta destas atividades desenvolvidas.
Neste momento, foram observadas as diversidades de instrumentos,
sons e ritmos desta orquestra. O grupo entrou em contato com suas diferenças
e principais dificuldades que cada um possui, enfatizando assim a possibilidade
de se unirem com sintonia diante delas.
Na ocasião, havia faltado um colega que estava em processo de luto,
pois seu irmão havia falecido. A estagiaria indagou a eles se esta situação os
fazia estar fora do ritmo, já que um instrumento com suas mais variadas
habilidades não estava presente.
O grupo refletiu que até conseguiria tocar sem ele, mas que precisariam
dar suporte ao instrumento que não estava presente, pois a desafinação era
momentânea para o colega, estava passando por dificuldades familiares e
acabara de perder um irmão para o câncer.
A turma se comoveu e naquele momento, refletiram que precisavam
apoiá-lo da forma com a qual eles podiam, mandando mensagens confortantes
e fortalecedoras para que ele superasse essa fase e pudesse retornar para a
orquestra que o estava esperando.
Denborough (2008) coloca que a experiência de contribuir com a vida do
outro se torna significativa para as demais dificuldades que as pessoas
enfrentam. Suas experiências de como reagiram a isso possibilita conexões
capazes de reduzir o sofrimento do individual ao coletivo, fortalecendo a
capacidade de resiliência.
3º Encontro - 01/04/2014Neste encontro foi discutido sobre a “respons-habilidade”, termo
proposto por Muller (2013), como capacidade de agir e responder aos dilemas
da vida.
Foi questionado como eles resolviam e lidavam com seus problemas e
suas dificuldades enfrentadas dentro da orquestra, pois quando se toca junto a
outros, tudo acaba se tornando um pouco mais desafiador. Como interagiam de
10
forma única sem deixar que seus sons sejam recuados, quando muitas vezes o
som do outro é mais forte? Refletiu-se sobre como reagir aos barulhos externos
e lidar com as mudanças que podem surgir ao longo da carreira dessa
orquestra.
Carey e Russel (2007) ressaltam que os variados “momentos
extraordinários” que aparecem ao serem construídas as reflexões
proporcionam mais opções para ações, habilitando mudanças significativas e
possibilitando enxergar que a vida não se constitui apenas de problemas e
dificuldades, compactuam-se também de esperanças, sonhos, paixão,
princípios, realizações, habilidades e capacidades, valorizando-a como um
tesouro preenchido das mais completas e possíveis explorações.
A partir dessas reflexões, o grupo entrou em sintonia com a música que
seria construída. Foram divididos em 04 grupos, cada subgrupo juntou suas
letras e construiu os trechos de acordo com seus desenhos e suas historias de
vida. Neste momento, foi explicado que era importante cada um compartilhar
os aspectos que haviam achado mais relevante da construção de seu
instrumento que encaixasse na estruturação da letra.
O grupo solicitou que levasse como tarefa de casa ao final do encontro
para que pudessem construir melhor.
4º Encontro - 08/04/2014Neste momento, os grupos trouxeram os trechos musicais e todo o
material do documento narrativo coletivo foi levantado. Houve participação
mais ativa de alguns, enquanto outros contribuíram assistindo e dando algumas
opiniões que achavam pertinentes à construção da música.
“Levantar material para os documentos requer utilizar tanto as habilidades de falar quanto de silenciar.” (Denborough, 2008, p.30)
Como considera o autor, é importante abrir o espaço conversacional e
permitir que se construam os documentos com base no que é trazido no
contexto grupal. Mesmo quando o adolescente não se dispõe a se abrir,
também está participando na posição de escuta, possibilitando também uma
capacidade de conexão e identificação com as historias trazidas.
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Assim que foram juntadas as músicas, tiveram uma visão mais ampla da
proposta da dinâmica e ficaram muito entusiasmados. Os que sabiam tocar
instrumentos levaram os seus e assim começou a construção do documento.
5º Encontro 11/04/2014Neste encontro o documento já estava praticamente finalizado e a turma
se encontrava entusiasmada com a estrutura da música que haviam construído
(Anexo B).
Quando entraram em sala, algumas alunas trouxeram a noticia de que
haviam apresentado a música para a Coordenadora Pedagógica e a mesma
abriu espaço para que a sala toda pudesse apresentar a música em um Projeto
Cultural que ocorre todo ano na Instituição, o projeto “Livro: abrace essa ideia”,
o qual tem o objetivo de arrecadar livros novos e usados para estimular a
prática da leitura e para compor o acervo do Instituto Mirim, favorecendo o
adolescente no sentido de ampliar o seu conhecimento linguístico e cultural.
A partir de então, o grupo solicitou para que levassem seus instrumentos
e utilizassem alguns minutos finais dos encontros das Oficinas de Psicologia
para ensaiarem até o dia da apresentação.
Neste espaço para ensaios, foi observado que a sala possuía uma união
muito forte, que cada um atuava de forma única em seus papeis nos ensaios.
Identificou-se também que muitos obtiveram posturas de lideres, organizando e
participando ativamente dos encontros.
Durante esse período, a autora da Dinâmica “Ritmos da Vida”, Adriana
Muller, esteve presente na cidade de Campo Grande/MS e deixou uma
mensagem através de um vídeo que os parabenizavam pela composição da
música. Posteriormente, o vídeo foi compartilhado com os alunos, que se
sentiram muito especiais em ouvir que podem ser instrumentos de transmitir
paz, amor e perseverança para as pessoas.
Então, o grupo passa a ter um documento coletivo musical, possível de
ser compartilhado com outros grupos para que reflitam que cada um tem o
direito de decidir qual a versão que mais lhe agrada de acordo com a narrativa
de sua vida, possibilitando assim, construir histórias preferidas e alternativas do
individual ao coletivo.
12
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Atualmente, há um grande desafio em abrir espaços para uma
construção de saberes e de conhecimento que permitam que o jovem
reconheça seus próprios valores e habilidades.
A didática do Instituto Mirim é fundamentada e desenvolvida para que os
adolescentes realizem o curso de preparação profissionalizante e tenham um
bom desempenho na sociedade e no futuro trabalhador. E, para isso, é
necessário que consigam se conectar com seus sonhos e expectativas ligadas
a este futuro.
A Dinâmica “Ritmos da Vida” estimulou os jovens a terem uma vivencia
em equipe, unindo suas diversidades em uma só unidade, sendo capaz de
mostrar que cada um com sua diferença podem colaborar e construir juntos
suas perspectivas não só pessoais como profissionais.
A ideia de unidade na diversidade iniciou a partir do contexto no qual as
habilidades foram sendo descobertas e formadas através de um ritmo
compartilhado. Os adolescentes demonstraram uma conexão muito forte com a
música e seus mais variados ritmos sonoros, bem como a afinidade e o
domínio em tocar instrumentos musicais.
Estes encontros possibilitaram a re-significação de algumas histórias dos
envolvidos, pois assim que se perceberam como parte de um sistema de
crenças, tradições e contextos culturais e sociais, valorizaram a presença do
outro em sua vida, desde a base solida que é a família ao convívio social
externo apresentado como as amizades.
O modo como seus instrumentos tocam estão atrelados entre as mais
variadas oportunidades no mercado de trabalho e no orgulho de serem mirins,
objetivando profissões com boas colocações na possibilidade de construírem
realidades alternativas para si e para suas famílias.
Foi possível descobrir que podem tocar juntos, interagindo cada um com
seu ritmo e assim formando uma orquestra, fazendo com que este som possa
chegar ao mercado de trabalho e apresentá-lo de modo único e especial com
suas habilidades, competências, conhecimentos, sonhos e respons-
13
habilidades, preparados para vivenciarem os desafios e produzirem novas
músicas preferidas.
Assim que os sonhos são realizados e os objetivos almejados, é
fundamental que se tenha alguém para compartilhar essa conquista. A música
passa então a ser gerada de forma compartilhada com aqueles que fazem
parte de suas vidas e estão na plateia assistindo o show da vida.
REFERENCIAS
DENBOUROUGH, D. Práticas narrativas coletivas: trabalhando grupos e comunidades que vivenciaram traumas. Austrália: Dulwich Centre Publications, 2008.
DINIZ, N. F. C., As narrativas do jovem e sua família: tecendo redes entre a terapia familiar sistêmica e a orientação profissional, Belo Horizonte, 2007. Disponível em: <<http://www.pucminas.br/documentos/dissertacoes_carolina_diniz.pdf>> Acesso em: 07/09/2014
GERGEN, K. J., GERGEN, M. Construcionismo social: um convite ao diálogo. Tradução de Gabriel Fairman. Rio de Janeiro: Instituto Noos, 2010.
MÜLLER, A. Ritmos da Vida: ajudando crianças na superação da separação. Nova Perspectiva Sistêmica, 45, p. 34-46, 2013. Acesso em: 27/08/2014
NETO, F. B.; OSÓRIO, L. C. Adolescentes: o desafio de entender e conviver. São Paulo: Ed. Insular, 2011.
PINCUS, L.; DARE, C. Psicodinâmica da Família. Porto Alegre, Ed. Artes Médicas, 1981.
RUSSEL, S.; CAREY, M. Terapia Narrativa: respondendo as suas perguntas. Ed Dulwich Centre Publications Adelaide South Australia, Porto Alegre, 2007.
ZIMERMAN, E. D. Fundamentos Básicos das Grupoterapias, 2 ed., Porto Alegre, Editora Artmed, 2000.
14
ANEXO A - Os instrumentos
15
ANEXO B – Documento Narrativo Coletivo Musical
“E é por isso somos mirins"
Nana nana na, nana nana na
Na nana nana nana 2x
Eu sempre quis ser o orgulho da família
Mas na ousadia sempre desobedecia
E com isso o tempo passou
E lembro que um dia para mim dizia
Que só queria ver minha alegria
Mãe, minha obra prima
Naquela época eu nem te ouvia
Mas meus olhos
O teu choro percebiam
E hoje em dia tudo mudou
A galera toda quer crescer
Para independentes todos ser
E é por isso que somos mirins
E nunca vamos desistir
E quando aqueles que não acreditaram
Ao ouvirem vão saber
As lembranças que marcaram a minha vida
As amizades que jamais vou esquecer
Que nossos sonhos coloridos
Não há melhores nem piores
Só amor, amor, amor
E mil opções de sermos melhores.
------E saiba vocês aí que somos mensageiros da paz
Transmitindo a alegria.
16