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TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO TC 011.461/2008-1 GRUPO I – CLASSE VII – Plenário TC 011.461/2008-1 Natureza: Denúncia. Entidade: Município de Pacatuba/SE. Interessado: Identidade preservada, conforme art. 55, § 1º, da Lei nº 8.443/1992, c/c o art. 127 da Resolução TCU nº 191/2006. Responsáveis: Luiz Carlos dos Santos, CPF nº 587.282.605-20; Idelson Araújo Dias, CPF nº 070.934.386-87; Vilenário Rocha, CPF nº 116.504.515-04; Gileno dos Santos, CPF nº 267.538.395-34; Júlio Prado Vasconcelos Comércio e Representações Ltda., CNPJ nº 13.005.053/0001-47; MD Distribuidora de Alimentos Ltda., CNPJ nº 04.253.727/0001-31; Serba Comércio de Alimentos Ltda., CNPJ nº 08.463.296/0001-99. Advogados constituídos nos autos: Gustavo de Andrade Santos, OAB/SE nº 2.959; Bruno Santos Silva Pinto, OAB/SE nº 4.439; Bruno Novaes Rosa, OAB/SE nº 3.556; Bruno Loeser Prado de Oliveira, OAB/SE nº 2.497; Ana Roberta Torres Roberti, OAB/SE nº 4.049; André Duarte de Melo, OAB/SP nº 239.955; Paulo Calumby Barretto, OAB/SE nº 2.417; Ciro Bezerra Rebouças Júnior, OAB/SE nº 4.101; Gilberto Sampaio Vila-Nova de Carvalho, OAB/SE nº 2.829. Sumário: DENÚNCIA. PNAE. IRREGULARIDADES EM LICITAÇÃO. CONLUIO. FRAUDE. OUTRAS IRREGULARIDADES. PROCEDÊNCIA PARCIAL. MULTA. INIDONEIDADE DE EMPRESAS PARA LICITAR COM A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA. 1. Aplica-se multa aos gestores que cometeram irregularidades em processos licitatórios, beneficiando as empresas participantes de esquema fraudulento. 2. Declara-se a inidoneidade do licitante fraudador para participar, por até cinco anos, de licitação na Administração Pública 1

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TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO TC 011.461/2008-1

GRUPO I – CLASSE VII – PlenárioTC 011.461/2008-1 Natureza: Denúncia.Entidade: Município de Pacatuba/SE.Interessado: Identidade preservada, conforme art. 55, § 1º, da Lei nº 8.443/1992, c/c o art. 127 da Resolução TCU nº 191/2006.Responsáveis: Luiz Carlos dos Santos, CPF nº 587.282.605-20; Idelson Araújo Dias, CPF nº 070.934.386-87; Vilenário Rocha, CPF nº 116.504.515-04; Gileno dos Santos, CPF nº 267.538.395-34; Júlio Prado Vasconcelos Comércio e Representações Ltda., CNPJ nº 13.005.053/0001-47; MD Distribuidora de Alimentos Ltda., CNPJ nº 04.253.727/0001-31; Serba Comércio de Alimentos Ltda., CNPJ nº 08.463.296/0001-99.Advogados constituídos nos autos: Gustavo de Andrade Santos, OAB/SE nº 2.959; Bruno Santos Silva Pinto, OAB/SE nº 4.439; Bruno Novaes Rosa, OAB/SE nº 3.556; Bruno Loeser Prado de Oliveira, OAB/SE nº 2.497; Ana Roberta Torres Roberti, OAB/SE nº 4.049; André Duarte de Melo, OAB/SP nº 239.955; Paulo Calumby Barretto, OAB/SE nº 2.417; Ciro Bezerra Rebouças Júnior, OAB/SE nº 4.101; Gilberto Sampaio Vila-Nova de Carvalho, OAB/SE nº 2.829.

Sumário: DENÚNCIA. PNAE. IRREGULARIDADES EM LICITAÇÃO. CONLUIO. FRAUDE. OUTRAS IRREGULARIDADES. PROCEDÊNCIA PARCIAL. MULTA. INIDONEIDADE DE EMPRESAS PARA LICITAR COM A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA. 1. Aplica-se multa aos gestores que cometeram irregularidades em processos licitatórios, beneficiando as empresas participantes de esquema fraudulento.2. Declara-se a inidoneidade do licitante fraudador para participar, por até cinco anos, de licitação na Administração Pública Federal, quando verificada a ocorrência de fraude comprovada à licitação.

RELATÓRIO

Tratam os autos de denúncia formulada perante este Tribunal em face da ocorrência de supostas irregularidades na execução do Programa Nacional de Alimentação Escolar – PNAE no âmbito do Município de Pacatuba/SE, nos exercícios de 2007 e 2008.2. Transcrevo, a seguir, no essencial, a análise empreendida pela Secretaria de Controle Externo no estado de Sergipe - Secex/SE sobre os documentos e as informações acostadas aos autos em face de diligências saneadoras promovidas junto ao Sindicato dos Trabalhadores em Educação Básica da Rede Oficial do Estado de Sergipe – Sintese e ao Sindicato dos Trabalhadores Rurais, ao Conselho de Alimentação Escolar – CAE, à Câmara Municipal e à Prefeitura Municipal de Pacatuba/SE (fls. 158/164):

“(...)2. ALEGAÇÕES DO DENUNCIANTE (fl. 2/3)2.1. O denunciante relata a ocorrência de diversas irregularidades na execução do PNAE

no município de Pacatuba, cuja transcrição, de forma sintética, é feita abaixo:

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2.1.1. negativa do Prefeito, Sr. Luiz Carlos dos Santos, em nomear os representantes dos professores, eleitos em assembléia da entidade representativa da categoria, realizada em 04/12/2007, para compor o Conselho de Alimentação Escolar;

2.1.2. a indicação de todos os membros do Conselho de Alimentação Escolar, à exceção dos 02 (dois) representantes dos professores, teria sido feita pela Secretaria Municipal de Educação, em desacordo com o que estabelece a Resolução MEC/FNDE n.º 32/2006, que estabelece que apenas 01 (um) dos membros do Conselho seria indicado pelo Poder Executivo;

2.1.3. negativa por parte da administração municipal em fornecer ao CAE documentos relativos à execução do programa no município, tais como as documentações dos processos de licitação realizados, notas fiscais e de empenho, e ordens de pagamento, em flagrante prejuízo ao princípio da transparência que deve nortear os atos da administração;

2.1.4. elaboração e envio pela administração municipal de parecer referente à prestação de contas do PNAE do exercício de 2007, cuja atribuição compete ao CAE, nos termos do inciso VIII da Resolução MEC/FNDE n.º 32/2006;

2.1.5. o cardápio não respeita os hábitos alimentares da região, são alimentos pré-cozidos, de preparo instantâneo;

2.1.6. irregularidade na oferta da alimentação escolar, e falta de acesso à mesma pelos alunos do turno noturno;

2.1.7. irregularidades relacionadas ao preparo e à freqüência com que são servidos os alimentos;

2.1.8. inadequação das instalações físicas das cozinhas das escolas para o preparo dos alimentos servidos aos estudantes;

2.1.9. a maioria das escolas da zona rural não tem água potável, inclusive algumas estão localizadas próximas de fossas;

2.1.10. instalações sanitárias das unidades escolares deficientes, o que propicia a proliferação de insetos e coloca em risco a saúde dos alunos.

2.2. Alega ainda o denunciante que ‘a Administração municipal de Pacatuba caracteriza-se pelos atos contínuos de desrespeito a legislação vigente e por ignorar os princípios que regem o estado democrático de direito’, o que dá causa ao quadro anteriormente descrito.

3. DO PEDIDO FORMULADO PELO DENUNCIANTE3.1. Ante os argumentos expostos, solicita o denunciante que o TCU adote as medidas

cabíveis para que seja realizada uma auditoria nas contas da Alimentação Escolar, Salário Educação, PNATE e FUNDEB no município.

4. ANÁLISE DO PEDIDO4.1. A denúncia diz respeito à má utilização dos recursos federais repassados pelo PNAE,

a irregularidades na composição do Conselho de Alimentação Escolar e a outras irregularidades relacionadas com a merenda escolar. Na sua conclusão, o denunciante pede que se realize uma auditoria em outros programas, como Salário Educação, PNATE e FUNDEB, entretanto esses programas não são os alvos da denúncia. Assim, esta análise detém-se às irregularidades denunciadas, uma vez que não se vê necessidade de uma auditoria, caso em que, aí sim, se aproveitaria a oportunidade e se auditaria os outros programas.

4.2. DENÚNCIA 1: ‘negativa do Prefeito, Sr. Carlos dos Santos, em nomear os representantes dos professores, eleitos em assembléia da entidade representativa da categoria, realizada em 04/12/2007, para compor o Conselho de Alimentação Escolar’

4.3. ANÁLISE 1: Sobre a negativa, o Sr. Prefeito esclarece, no seu relatório de fl.24, que em nenhum momento fora enviado ao CAE (segundo informação do próprio Conselho) a Ata de Eleição realizada pelo Sindicato dos Trabalhadores em Educação Básica da Rede Oficial do Estado de Sergipe - SINTESE para a escolha dos professores no dia 04/12/2007. Alega que, ainda que o SINTESE houvesse enviado os nomes dos representantes dos professores escolhidos em 04/12/2007 não daria mais para inseri-los, pois o Conselho tinha prazo para sua

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composição. O relatório do CAE informa que em nenhum momento o SINTESE enviou ao Conselho os nomes dos representantes. Ressalta, ainda, que a citada eleição realizada no mês de dezembro estava completamente fora do prazo (fl.36). Observa-se aí o equívoco a despeito das alegações do Prefeito e do CAE, eis que o art.16 da Resolução/FNDE/CD/Nº 32 de 10 de agosto de 2006 diz, verbis:

‘§ 11 Após a nomeação dos membros do CAE, as substituições dar-se-ão somente nos seguintes casos:

(...) II – por deliberação do segmento representado;(...)§ 12 Nas hipóteses previstas no parágrafo anterior, a cópia do correspondente termo

de renúncia ou da ata da sessão plenária do CAE ou ainda da reunião do segmento, em que se deliberou pela substituição do membro, deverá ser encaminhada ao FNDE pelas Entidades Executoras.

§ 13 Nas situações previstas no § 11 o segmento representado indicará novo membro para preenchimento do cargo, cumprido o previsto no § 2º deste artigo e mantida a exigência de nomeação por ato legal emanado do poder competente.’

4.4. Em verdade, não foi observado pelo CAE o § 1º do art. 16 dessa Resolução que diz, verbis: ‘Em caso de não existência de órgãos de classe, conforme estabelecido no inciso III deste artigo, deverão os professores realizar reunião, convocada especificamente para esse fim, sendo devidamente registrada em ata’. Ou seja, houve a reunião que escolheu os representantes dos professores, mas os mesmos deveriam ter sido escolhidos pelo SINTESE, que não se manifestou à época. Segundo a denúncia, os membros do Magistério Público Municipal de Pacatuba elegeram em assembléia da entidade representativa da categoria os senhores Maria José dos Santos e Ana Patrícia dos Santos para titulares e Josevaldo da Silva e Gisélia Santos de Menezes para suplentes. De acordo com a legislação supracitada, a ata de dezembro da reunião do SINTESE, em sendo enviada à Entidade Executora, esta deveria nomear os novos membros representantes dos professores e enviar cópia da ata ao FNDE.

4.5. Considerando que tanto o Prefeito quanto o CAE negam que receberam a ata da eleição realizada pelo SINTESE, propôs-se diligência ao Sindicato para que o mesmo enviasse cópia da ata que elegeu, em 04/12/2007, os senhores Maria José dos Santos e Ana Patrícia dos Santos para titulares e Josevaldo da Silva e Gisélia Santos de Menezes para suplentes do Conselho de Alimentação Escolar de Pacatuba, bem como cópia da documentação que comprovasse que o mesmo encaminhara à Prefeitura de Pacatuba a relação dos membros representantes dos professores no CAE. Diligenciado, o Sindicato não se manifestou, reiterada a diligência permaneceu silente. Ambas as correspondências foram entregues no endereço oficial do Sindicato (fls. 142, 144, 151 e 154).

4.6. Destarte, mesmo não se configurando a denúncia, uma vez que o Prefeito e o CAE negam ter recebido cópia da ata do SINTESE e este não se manifestou a respeito, entende-se oportuno que, por ocasião da proposta de mérito, se determine, tanto à Prefeitura Municipal, quanto ao CAE, para que atentem para a legislação do PNAE/FNDE no que se refere à eleição e substituição de membros do Conselho de Alimentação Escolar, observando, quanto à eleição de membro do Conselho, que só em caso de não existência de órgãos de classe deverão os professores realizar reunião, convocada especificamente para esse fim (§ 1º do art. 16 dessa Resolução/FNDE/CD/Nº 32/2006) e que, após a nomeação dos membros do CAE, as substituições poderão ocorrer, entre outras, por deliberação do segmento representado (§ 11, II do art.16 da Resolução/FNDE/CD/Nº 32/2006), mantida a exigência de nomeação por ato legal emanado do Poder Executivo Municipal.

4.7. DENÚNCIA 2: ‘a indicação de todos os membros do Conselho de Alimentação Escolar, à exceção dos 02 (dois) representantes dos professores, teria sido feita pela Secretaria

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Municipal de Educação, em desacordo com o que estabelece a Resolução MEC/FNDE n.º 32/2006, que estabelece que apenas 01 (um) dos membros do Conselho seria indicado pelo Poder Executivo’.

4.8. ANÁLISE 2: Sobre a denúncia, ressalta-se que a ata da reunião da Assembléia Geral que elegeu os representantes dos professores e dos pais de alunos apresenta a assinatura de 31 (trinta e uma) pessoas supostamente composta de professores, funcionários, pais de alunos e alunos (fls. 29/31).

4.9. O Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Pacatuba foi diligenciado, inclusive reiterada a diligência (fls. 141, 147, 149 e 152) para que informasse se as Sras. Clécia Matias de Jesus e Cleide Matias de Jesus pertencem ao Sindicato e se foram as indicadas por ele para o Conselho de Alimentação Escolar de Pacatuba. Não houve resposta do Sindicato. Entretanto, sobre essa diligência, observa-se às fls. 147 e 152 que a Sra. Cleide Matias de Jesus fora quem recebera as correspondências enviadas ao Sindicato, o que demonstra que, das duas, pelo menos uma é vinculada ao Sindicato.

4.10. A Câmara Municipal de Pacatuba/SE, diligenciada, informou que os Srs. Jerônimo Ramos Izidório e Alexandre da Silva Martins são vereadores e que os mesmos fazem parte do Conselho de Alimentação Escolar de Pacatuba/SE como representantes do Poder Legislativo. Assim, considera-se infundada a denúncia.

4.11. DENÚNCIA 3: ‘negativa por parte da administração municipal em fornecer ao CAE documentos relativos à execução do programa no município, tais como as documentações dos processos de licitação realizados, notas fiscais e de empenho, e ordens de pagamento, em flagrante prejuízo ao princípio da transparência que deve nortear os atos da administração.’.

4.12. ANÁLISE 3: Sobre essa negativa, ressalta-se que a mesma não se confirmou, conforme o relatório do CAE de fls. 36/37 e Ata de fls. 47/48. De todo modo, essa documentação fora requisitada por diligência, uma vez que, verificando o Demonstrativo Sintético Anual da Execução Físico-Financeira apresentado à fl. 45, observou-se que a Prefeitura gastou com aquisição de gêneros alimentícios, exceto contrapartida, R$ 166.454,75 (fl.45). Às fls. 105 e seguintes, consta o Edital de Licitação para a aquisição de gêneros alimentícios na modalidade Convite. Esse fato levou a inferir que houvesse fracionamento de despesa, já que o limite para a modalidade Carta-Convite é de R$ 80.000,00. A diligência foi para que a Prefeitura enviasse os documentos dos processos licitatórios completos para aquisição de gêneros alimentícios para a merenda escolar em 2007, bem como os contratos decorrentes deles e os respectivos pagamentos.

4.13. Em resposta ao requisitado, a Prefeitura mandou os documentos que compõem o anexo 2 dos autos, contendo o processo licitatório da Carta-Convite nº 004/2007 que teve como objeto o fornecimento de gêneros alimentícios para o PNAE e PETI, em que concorreram três empresas e ganhou a Empresa Serba Comércio de Alimentos Ltda. O valor do contrato foi de R$ 77.759,00, sendo R$ 42.199,75 referente ao PNAE (fl.109 anexo 2). As notas fiscais somaram R$ 81.510,07, valor superior ao teto da modalidade convite. Considerando que no Demonstrativo Sintético Anual da Execução Físico-Financeira consta que o montante dos recursos financeiros gastos com a aquisição de gêneros alimentícios, exceto contrapartida, fora de R$ 166.454,75 (fl.45) e que a Prefeitura apresentou somente o processo licitatório do PNAE referente a R$ 42.199,75 (fl.109 anexo 2), tem-se caracterizado: 1) que houve não atendimento de diligência do Tribunal tendo em vista que foram requisitados os documentos dos processos licitatórios completos para aquisição de gêneros alimentícios para a merenda escolar em 2007, bem como os contratos decorrentes deles e os respectivos pagamentos; 2) que houve fracionamento da despesa, uma vez que o valor gasto pela Prefeitura (R$ 166.454,75) requer uma licitação na modalidade Tomada de Preços, o que não consta ter ocorrido; 3) que não houve comprovação dos gastos com alimentação escolar referente ao PNAE/2007, que somou R$ 166.454,75, só

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tendo sido apresentada uma licitação na modalidade Carta-Convite, geradora do Contrato nº 128/2007, sendo computada à conta do PNAE/2007 o montante de R$ 42.199,75.

4.14. Outro fato ocorrido foi as notas fiscais não conterem a indicação do programa a que se destinam os produtos (exceto fl. 25), contrariando a norma acerca dos documentos comprobatórios das despesas. A Resolução CD/FNDE/MEC 32/2006 diz no seu artigo 24, verbis:

‘Art. 24. As despesas realizadas na execução do PNAE serão comprovadas mediante documentos fiscais originais ou equivalentes, na forma da legislação regulamentar, a qual a EE estiver vinculada, devendo os recibos, faturas, notas fiscais e quaisquer outros documentos comprobatórios serem emitidos em nome da EE, devidamente identificados com o nome do FNDE e o nome do Programa e arquivados na EE, juntamente com o demonstrativo e o extrato de que trata o artigo 20 desta Resolução, pelo prazo de 05 (cinco) anos, contados da data da aprovação da prestação de contas anual do FNDE pelo órgão de controle externo, ficando à disposição do TCU, do FNDE, do Sistema de Controle Interno do Poder Executivo Federal e do CAE.’

4.15. Finalmente o pagamento da NF 172 foi feito no dia 16/05/2007 e a saída da mercadoria do fornecedor e o atesto da Prefeitura Municipal foi em 23/05/2007, caracterizando pagamento adiantado, o que contraria o art. 62 c/c art.63, §2º, III da Lei nº 4.320/64.

4.16. Esses fatos são motivos de audiência do responsável.4.17. DENÚNCIA 4: ‘elaboração e envio pela administração municipal de parecer

referente à prestação de contas do PNAE do exercício de 2007, cuja atribuição compete ao CAE, nos termos do inciso VIII da Resolução MEC/FNDE n.º 32/2006.’.

4.18. ANÁLISE 4: O relatório do CAE de fls. 36/37 diz que no mês de fevereiro de 2008 fora encaminhado ao CAE o Demonstrativo Físico-Financeiro e a prestação de contas de 2007, assim como toda a documentação comprobatória da referida prestação, como: Editais de Licitação, Notas Fiscais, Extratos Bancários, dentre outros, e que na reunião de 12 de fevereiro/2008 todos os presentes puderam analisar tais documentos, servindo estes de respaldo para a elaboração do Parecer Conclusivo do CAE, que aprovou a Prestação de Contas. O Parecer de fl. 46 considerou as contas regulares. A ata da reunião do dia 12 de fevereiro de 2008 (fls. 47/48) registra que os conselheiros presentes verificaram a documentação apresentada e deram parecer favorável às contas. Dessa forma, considerando a competência do CAE para esses fins e considerando que, até que se prove em contrário, o mesmo goza de credibilidade, considera-se improcedente a denúncia.

4.19. DENÚNCIA 5: Quanto às denúncias de: ‘cardápio que não respeita os hábitos alimentares da região, sendo alimentos pré-cozidos, de preparo instantâneo; irregularidade na oferta da alimentação escolar, e falta de acesso à mesma pelos alunos do turno noturno; irregularidades relacionadas ao preparo e à freqüência com que são servidos os alimentos; inadequação das instalações físicas das cozinhas das escolas para o preparo dos alimentos servidos aos estudantes; a maioria das escolas da zona rural não têm água potável, inclusive algumas estão localizadas próximas de fossas; e instalações sanitárias das unidades escolares deficientes, o que propicia a proliferação de insetos e coloca em risco a saúde dos alunos.’

4.20. ANÁLISE 5: O Tribunal, ao apreciar casos como o aqui apresentado, tem buscado sempre, em nome do princípio da busca da verdade material, certificar-se de que os recursos federais descentralizados foram empregados no fim aos quais se destinava, valendo-se, quando necessário, de diligências e inspeções para suprir ausências de informações nos processos. Aqui, não se vislumbra propor diligência porque a natureza dos supostos fatos denunciados não são passíveis de saneamento através de diligência nem inspeção porque, mesmo que se constatasse a veracidade dessas denúncias, a ação do Tribunal seria meramente orientadora por meio de determinações à Entidade, ou no máximo punitiva ao responsável sem lograr solução spot para os casos denunciados, já que a natureza das supostas irregularidades é

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passível de correção através de fiscalização continuada, sendo o instrumento adequado a aplicação da Resolução CD/FNDE/MEC nº 32/2006, que rege a espécie. A inspeção, assim, pesaria desfavorável na relação benefício-custo.

4.21. No que tange à aceitabilidade do cardápio, a Resolução CD/FNDE/MEC nº 32/2006 diz que compete às Entidades Executoras estabelecer a metodologia do teste de aceitabilidade, observando parâmetros técnicos, científicos e sensoriais reconhecidos, não podendo, contudo, o índice de aceitabilidade ser inferior a 85%, devendo o teste ser aplicado sempre que ocorrer, no cardápio, a introdução de alimento atípico ao hábito alimentar local ou quaisquer outras alterações inovadoras, no que diz respeito ao preparo, ou para avaliar a aceitação dos cardápios praticados freqüentemente.

4.22. Sobre o controle de qualidade do programa, o art. 15 da Resolução diz que os produtos adquiridos para a clientela do PNAE deverão ser previamente submetidos ao controle de qualidade, na forma do Termo de Compromisso - Anexo II da Resolução.

4.23. Consta no ANEXO II da Resolução CD/FNDE/MEC nº 32/2006 que o Prefeito do Município ao se inscrever para receber recursos do PNAE assume perante o FNDE o compromisso de determinar que a Secretaria ou Departamento de Saúde, ou órgão similar, do município, exerça a inspeção sanitária dos alimentos utilizados no PNAE no município, e autoriza a Secretaria ou Departamento de Saúde, ou órgão similar, do município a estabelecer parceria com a Secretaria de Saúde do estado, ou órgão similar, para auxiliar no cumprimento dessa atribuição.

4.24. Diz, ainda, que os produtos a serem adquiridos para o PNAE deverão atender ao disposto na legislação de alimentos, estabelecida pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária do Ministério da Saúde e do Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento e que compete às Entidades Executoras adotarem medidas que garantam a aquisição de alimentos de qualidade, com adequadas condições higiênicas e sanitárias, bem como o transporte, estocagem e preparo/manuseio até o seu consumo pelos alunos atendidos pelo Programa. Sendo observados esses regramentos, os supostos fatos denunciados serão elididos.

4.25. Dessa forma, quanto à ação executora, é oportuno que, por ocasião da proposta de mérito, se determine à Prefeitura Municipal de Pacatuba/SE que se submeta aos ditames da legislação que rege o PNAE, de forma a não dar azo a que ocorra os fatos aqui denunciados.

4.26. Quanto à ação fiscalizadora, a Resolução/FNDE/CD/Nº 38/2008 diz no seu art. 9º que compete ao CAE acompanhar e monitorar a execução em todos os níveis nas ações pertinentes à oferta da alimentação escolar da clientela do PNAE, em conformidade com o disposto na Resolução CD/FNDE nº 32/2006.

4.27. Na Resolução/FNDE/CD/No 32/2006, o art. 17 diz, entre outras, que são atribuições do CAE: a) acompanhar a aplicação dos recursos federais transferidos à conta do PNAE; b) acompanhar e monitorar a aquisição dos produtos adquiridos para o PNAE, zelando pela qualidade dos produtos, em todos os níveis, até o recebimento da refeição pelos escolares; c) comunicar à Entidade Executora a ocorrência de irregularidades em relação aos gêneros alimentícios, tais como: vencimento do prazo de validade, deterioração, desvios e furtos, dentre outros, para que sejam tomadas as devidas providências; d) comunicar ao FNDE e ao Ministério Público Federal qualquer irregularidade identificada na execução do PNAE, em especial aquelas de que tratam os incisos II a IV do artigo 25 desta Resolução, sob pena de responsabilidade solidária de seus membros.

4.28. Destarte, é oportuno que, por ocasião da proposta de mérito, se determine ao Presidente do CAE, dando-se ciência a todos os membros do Conselho, para que fiscalize o PNAE, atentando para que os fatos denunciados, caso ocorram, que sejam tomadas providências de sua alçada junto à Prefeitura de Pacatuba, comunicando ao FNDE e ao Ministério Público Federal qualquer irregularidade não saneada, identificada na execução do Programa, em especial aquelas de que tratam os incisos II a IV do artigo 25 da

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Resolução/FNDE/CD/No 32/2006, sob pena de responsabilidade solidária de seus membros, conforme diz o art. 17, inciso VII da Resolução supracitada.

5. PROPOSTA DE ENCAMINHAMENTO5.1.1. Diante do exposto, submetem-se os autos à consideração superior, propondo-se,

preliminarmente, a audiência do Sr. Luiz Carlos dos Santos, CPF nº 587.282.605-20, Prefeito Municipal de Pacatuba/SE, com fundamento no art. 202, inciso III do RITCU, para que, no prazo de quinze dias, apresente as razões de justificativa:

5.1.1.1. pelo não atendimento de diligência do Tribunal, tendo em vista que foram requisitados os documentos dos processos licitatórios completos para aquisição de gêneros alimentícios para a merenda escolar em 2007, bem como os contratos decorrentes deles e os respectivos pagamentos e só foram apresentados os gastos relativos ao Contrato nº 128/2007;

5.1.1.2. pelo fracionamento da despesa com alimentação escolar referente ao PNAE/2007, uma vez que o valor gasto pela Prefeitura com alimentação escolar fora de R$ 166.454,75, o que requer uma licitação na modalidade Tomada de Preços, não tendo sido este o caso;

5.1.1.3. pela não comprovação dos gastos com alimentação escolar referente ao PNAE/2007, que somou R$ 166.454,75, conforme DSAEFF, encaminhado ao FNDE (fl. 45), só tendo sido apresentada uma licitação na modalidade Carta-Convite, geradora do Contrato nº 128/2007, sendo computada à conta do PNAE/2007 o montante de R$ 42.199,75;

5.1.1.4. pelo fato de as notas fiscais não conterem a indicação do programa a que se destinam os produtos (exceto fl. 25), contrariando o art. 24 da Resolução CD/FNDE/MEC 32/2006, que trata dos documentos comprobatórios das despesas; e

5.1.1.5. pelo pagamento da NF 172 em 16/05/2007 e a saída da mercadoria do fornecedor e o atesto da Prefeitura Municipal ter-se dado em 23/05/2007, caracterizando pagamento adiantado, o que contraria o art. 62 c/c art.63, §2º, III da Lei nº 4.320/64”.

3. O corpo diretivo da Secex/SE concordou com a proposta apresentada pelo Auditor Federal de Controle Externo responsável pela instrução, com alguns ajustes de redação. Assim, com base em delegação por mim conferida, a unidade técnica promoveu as audiências sugeridas nos autos.4. Após analisar as razões de justificativa apresentadas em resposta ao chamamento deste Tribunal, o encarregado do exame do feito lavrou a instrução de fls. 173/180, a seguir parcialmente transcrita:

“(...)5. ANÁLISE DAS JUSTIFICATIVAS DO SR. LUIZ CARLOS DOS SANTOS (FLS. 01/03

ANEXO 3)5.1. ITEM DE AUDIÊNCIA 1: ‘pelo não atendimento de diligência do Tribunal, tendo

em vista que foram requisitados os documentos dos processos licitatórios completos para aquisição de gêneros alimentícios para a merenda escolar em 2007, bem como os contratos decorrentes deles e os respectivos pagamentos e só foram apresentados os gastos relativos ao Contrato nº 128/2007.’

5.1.1. JUSTIFICATIVA 1: Em resposta ao item de Audiência, o responsável disse que a não apresentação dos documentos referentes aos processos licitatórios foi mero equívoco dos servidores quando da separação da documentação solicitada, contudo, visando sanar qualquer pendência existente anexou toda a documentação relativa aos processos de licitação referentes à merenda escolar de 2007, bem como seus contratos e respectivos pagamentos.

5.1.2. ANÁLISE 1: De pronto, observa-se que, mesmo com a apresentação de novos documentos, nem todas as peças relativas aos processos de licitação referentes à merenda escolar de 2007 foram anexadas. Nos documentos da Tomada de Preço nº 002/2007, não constam: a) as notas fiscais de pagamentos efetuados à firma Júlio Prado Vasconcelos Comércio e Representações Ltda, uma da vencedoras do certame; b) o parecer jurídico (não foi

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anexado ou não fora elaborado, o que contraria o Parágrafo Único do art. 38 da Lei nº 8.666/93); c) a cópia das propostas das empresas; d) o comprovante das publicações do edital resumido, na forma do art. 21 desta Lei; e) a cópia do ato de designação da comissão de licitação; f) os documentos da habilitação das licitantes. Assim, rejeitam-se as razões de justificativa apresentadas.

5.2. ITEM DE AUDIÊNCIA 2: ‘pelo fracionamento da despesa com alimentação escolar referente ao PNAE/2007, uma vez que o valor gasto pela Prefeitura com alimentação escolar fora de R$ 166.454,75, incompatível portanto com a utilização de Convite, exigindo o emprego de outra modalidade de licitação, a exemplo de Tomada de Preços, Concorrência ou Pregão.’

5.2.1. JUSTIFICATIVA 2: Quanto a este item, disse que não houve qualquer tipo de fracionamento de despesa, haja vista que no início do ano de 2007 realizou-se o Convite nº 04/2007 e que encerrado o contrato decorrente dele a Administração realizou uma Tomada de Preço para a aquisição da merenda escolar, conforme documentos do item ‘a’.

5.2.2. ANÁLISE 2: Entende-se que o fato de a Prefeitura ter feito um Convite e posteriormente uma Tomada de Preços mostra, no mínimo, uma falta de planejamento da Administração. Houve o fracionamento das despesas, pois foram realizados dois certames desnecessariamente. É pacífico o entendimento do Tribunal no sentido de que as compras devem ser programadas pelo total para todo o exercício financeiro, observando o princípio da anualidade do orçamento. O fato de ter sido feito um Convite e depois uma Tomada de Preços, sem indícios de irregularidades outras nos certames, daria azo a se considerar uma falha de natureza formal, em que se proporia uma determinação à Prefeitura, acatando-se as razões de justificativa. Entretanto, na análise do Convite nº 04/2007 restaram constatados indícios de conluio entre os licitantes, conforme consta no item 6.1 abaixo. Desta forma, entende-se que a divisão da aquisição dos produtos em duas licitações foi danosa ao erário pelo fato de não garantir a melhor proposta para a Administração no primeiro certame. Destarte, rejeitam-se as razões de justificativa.

5.3. ITEM DE AUDIÊNCIA 3: ‘pela não comprovação dos gastos com alimentação escolar referente ao PNAE/2007, que somou R$ 166.454,75, conforme Demonstrativo Sintético Anual da Execução Físico-Financeira encaminhado ao FNDE, só tendo sido apresentada uma licitação na modalidade Carta-Convite, geradora do Contrato nº 128/2007, sendo computada à conta do PNAE/2007 o montante de R$ 42.199,75.’

5.3.1. JUSTIFICATIVA 3: Sobre este item, o responsável disse que os documentos anexados comprovam que a Administração utilizou todo o valor constante no Demonstrativo Sintético Anual da Execução Físico-Financeira, sem existir qualquer tipo de irregularidade.

5.3.2. ANÁLISE 3: Com a apresentação dos documentos da Tomada de Preço 002/2007, verificou-se que as notas fiscais anexadas após a assinatura do contrato somam R$ 106.255,00. Esse valor somado aos R$ 42.199,75 da Carta-Convite 04/2007, geradora do Contrato nº 128/2007 (esse valor, R$ 42.199,75, fora o previsto no contrato- fl.109 anexo 2), dá o montante de R$ 148.454,75, valor ainda inferior aos R$ 166.454,75 referidos no Demonstrativo Sintético Anual da Execução Físico-Financeira encaminhado ao FNDE.

5.3.3. Entretanto, somando-se as notas-fiscais apresentadas nessa nova inserção de documentos (anexo 3), verifica-se que os pagamentos efetuados antes da assinatura do contrato decorrente da Tomada de Preço somam R$ 60.224,68 (NFs 87, 172, 18?, 186, 185, 184 e 190 - fls. do anexo 3: 211, 231, 241, 242, 243, 244 e 245 respectivamente), valor superior ao previsto no contrato, mas que somados aos R$ 106.255,00 dá um montante de R$ 166.481,48, valor próximo ao referido no Demonstrativo. Nota-se que houve uma ‘conta de chegada’, porém sem a observância de duas coisas: 1) o quinhão do PNAE no Contrato nº 128/2007 fora de R$ 42.199,75 e 2) o responsável já havia inserido nos autos outras notas-fiscais a crédito da conta PNAE (anexo 2). Nessa situação verifica-se que tem dinheiro do PETI ou de recursos próprios com carimbo do PNAE.

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5.3.4. As notas-fiscais inseridas nos autos (anexo 2) como sendo de pagamento do PNAE e não constantes do anexo 3 somam R$ 27.449,92 (NFs 43, 97, 179, 178 183 e 181 – fls. do anexo 2: 03, 13, 20, 21 ,22 e 23 respectivamente). Destarte, o total gasto com o PNAE, segundo as notas- fiscais insertas nos autos, é de R$ 193.931,40, valor superior ao do Demonstrativo Sintético Anual da Execução Físico-Financeira encaminhado ao FNDE, o que denota uma mistura de recursos do PETI com o do PNAE e até recursos próprios. Assim, rejeitam-se as razões de justificativa apresentadas.

5.4. ITEM DE AUDIÊNCIA 4: ‘aquisição de materiais, amparados em notas fiscais sem a indicação do programa a que se destinam os produtos (a exemplo das NF nºs 41, 42, 43, 87, 97, 178, 179, 181 e 182, emitidas pela Serba Comércio de Alimentos Ltda, CNPJ 08.463.296/0001-99), contrariando o art. 24 da Resolução CD/FNDE/MEC 32/2006, que trata dos documentos comprobatórios das despesas.’

5.4.1. JUSTIFICATIVA 4: Em relação à constatação desse item, disse que a não indicação do programa foi um mero erro formal que foi devidamente sanado, conforme comprovam as notas fiscais ora anexadas.

5.4.2. ANÁLISE 4: Discorda-se do argumento do responsável, de que se trata de mera falha formal. Entende-se que o descumprimento do art. 24 da Resolução CD/FNDE/MEC 32/2006, que diz que as notas fiscais devem ser identificadas com o nome do FNDE e o nome do Programa, gerou implicações na análise desses autos. A tentativa de fazer uma ‘conta de chegada’, referida no terceiro item de audiência (5.3) acima, decorreu do fato de as notas fiscais não terem identificação do Programa a que se referiam. Observe-se que numa prestação de contas do PETI qualquer nota-fiscal aqui apresentada poderia ser outra vez apresentada como sendo do PETI e até apresentada ao Tribunal de Contas do Estado como pagamento efetuado com recursos próprios. Assim, o simples carimbo a posteriori das notas-fiscais apresentadas não ilide a irregularidade constatada, principalmente porque as notas carimbadas não refletem os gastos efetivamente realizados à conta do PNAE, conforme observado na análise do item 5.3 acima. Destarte, rejeitam-se as razões de justificativa apresentadas.

5.5. ITEM DE AUDIÊNCIA 5: ‘pelo pagamento da NF 172, emitida pela Serba Comércio de Alimentos Ltda, CNPJ 08.463.296/0001-99, em 16/05/2007 e a saída da mercadoria do fornecedor e o atesto da Prefeitura Municipal ter-se dado em 23/05/2007, caracterizando pagamento adiantado, o que contraria o art. 62 c/c art.63, § 2º, III da Lei nº 4.320/64.’

5.5.1. JUSTIFICATIVA 5: Quanto a esta constatação, esclarece que a incompatibilidade das datas constantes na NF e na declaração de recebimento foi mero equívoco do responsável pelo recebimento da mercadoria, equívoco este que decorreu do erro do fornecedor ao preencher a nota fiscal. Segundo o responsável, tanto é verdade que a coordenadora pedagógica que assinou o recebimento emitiu ofício ao Secretário de Controle Externo informando o equívoco nas datas.

5.5.2. ANÁLISE 5: Consta à fl. 204 do anexo 3 o Ofício nº 102/2008 em que a Coordenadora Pedagógica, Sra. Núbia Freitas Loz, apresenta justificativa alegando que o carimbo de declaração de recebimento fora equivocadamente datado de 23/05/2007, quando a mercadoria fora entregue no dia 15/05/2007. Atente-se para o fato de que não se trata de simples equívoco na declaração de recebimento, há também a informação da data de saída da mercadoria pela SERBA, como sendo dia 23/05/2007. Ou seja, a SERBO registra a saída da mercadoria no dia 23/05/2007 e a Prefeitura acusa seu recebimento no mesmo dia. É muito mais coerente esse raciocínio do que entender que houve equívoco da Sra. Núbia decorrente do erro do fornecedor ao preencher a nota fiscal. Ou seja, que errara a SERBA e errara a Orientadora. Veja-se que a data da saída está abaixo da data da emissão da nota fiscal, não sendo a data mais explícita do documento. Sem contar que não é razoável inferir que uma Orientadora Pedagógica iria se orientar numa data que está em segundo plano de um documento, mesmo que estivesse em primeiro, em detrimento do raciocínio esperado de uma

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pessoa normal ao preencher a data de um carimbo que consta a expressão: ‘Declaro que o material foi entregue. Data:..../..../....’ que seria o de colocar a data da efetiva entrega.

5.5.3. Essa antecipação de pagamento não foi a única, com a chegada de novos documentos constatou-se mais dois desses casos:

1º) A nota-fiscal nº 235, no valor de R$ 37.338,00 (fl.263 anexo 3), fora emitida em 17/7, com saída em 25/7 e entrega em 25/7. Para essa nota fiscal fora antecipado o valor de R$23.000,00 em 18/7;

2º) A nota-fiscal nº 319, no valor de R$ 16.718,00 (fl.319 do anexo 3), fora emitida em 06/9, com saída em 13/9 e entrega em 13/9. O pagamento dessa nota-fiscal se deu em 11/9.

5.5.4. Diante desses fatos, rejeitam-se as razões de justificativa apresentadas.6. ANÁLISE DO CONVITE Nº 004/2007 E DA TOMADA DE PREÇO Nº 002/20076.1. ANÁLISE DA CARTA-CONVITE Nº 004/20076.1.1. A Carta-Convite nº 004/2007 teve três empresas competindo no certame: Júlio

Prado Vasconcelos Comércio e Representações Ltda., MD Distribuidora de Alimentos Ltda. e Serba Comércio de Alimentos Ltda., que apresentaram propostas de R$ 77.958,00, 78.371,00 e 77.759,00, respectivamente. Uma análise perfunctória dos documentos que compõem a Carta-Convite observou-se a indefinição dos valores gastos com alimentação decorrente dos programas PNAE, PETI e os gastos com recursos da própria Prefeitura. Essa indefinição se deu principalmente pelo descumprimento do art. 24 da Resolução CD/FNDE/MEC 32/2006, que diz que as notas fiscais devem ser identificadas com o nome do FNDE e o nome do Programa, fato que gerou implicações na análise desses autos. Houve também constatação de pagamento antecipado. Esses fatos foram vistos na análise das razões de justificativa apresentadas pelo responsável.

6.1.2. Verificou-se também indícios de fraude na licitação em comento, decorrente de conluio entre os participantes. Observe-se que as tabelas relativas ao Anexo I do Edital (tabela-base) e as propostas das licitantes habilitadas (fls. 39, 70, 81 e 95do anexo 2) contêm diferenças e similaridades que não se pode aceitar como mera coincidência. A forma de grafar alguns itens é idêntica nas três propostas e diferente do grafado na tabela-base (Anexo I), reforçando o indício de uma só planilha fora utilizada pelas três licitantes, mudando-se somente os tipos de letra, ou seja, certamente tiveram uma mesma origem, diferente do arquivo disponibilizado pela administração, o que aponta para um possível conluio entre os licitantes. A tabela a seguir apresenta algumas dessas diferenças:

ITEM DESCRIÇÃOTABELA-BASE (ANEXO I) PROPOSTAS DAS 3 LICITANTES

01 Arroz doce com Canela e Flocos de Coco Arroz Doce c/ Canela e Flocos de Coco03 Arroz, Feijão e Charque (baião de Três) Arroz ,Feijão e Charque (Baião de Três)04 Biscoito Crean Cracker (embalagem com 500

gramas)Biscoito Crean Craker (Fabise)

05 Biscoito Maria (embalagem com 500 gramas) Biscoito Maria (Fabise)06 Cuscuz paulista Sabor Carne Bovina Cuscuz Paulista Sabor Carne Bovina12 Sopa de Feijão Sabor Macarrão com Legumes Sopa de Feijão c/Macarrão e Legumes13 Sopa Sabor Carne Bovina com Macarrão Sopa Sabor Carne Bovina c/ Macarrão e

Legumes

Quilos KGCaixas CXS(não há no Anexo I) “V. UNT.” para Valor Unitário

Observações:-Grifos para destacar as diferenças do original (os 3 com as mesmas diferenças).-Destaque-se o item 03 em que os 3 colocaram “,Feijão”. -No item 04 os 3 retiraram a letra “c” de Cracker e colocaram a marca Fabise diante de múltiplas outras marcas a se optar.-No item 12 os 3 alteraram o item da mesma forma e colocaram a expressão “c/Macarrão” sem espaço depois da barra.

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-No item 13 os 3 alteraram o item da mesma forma e colocaram a expressão “c/ Macarrão” com espaço depois da barra.6.1.3.Outro grande indício de fraude é o fato de a empresa vencedora ter cotado seus

preços unitários um centavo a menor que a segunda colocada em todos os itens exceto apenas dois itens, cujos quantitativo era pequeno, em que a diferença fora de R$ 1,00, sem contar a similaridade na diferença dos preços apresentados nas três propostas (fl.96 anexo 2).

6.1.4.Restou demonstrado, portanto, fortes indícios de que o processo teve a sua lisura comprometida, conquanto as propostas apresentadas indicam que foram elaboradas por uma única pessoa ou a partir de uma única matriz, haja vista a ocorrência de erros comuns e características de forma idênticas em todas as três propostas.

6.1.5.Os mesmos erros e diferenças são repetidos em todas as três propostas. Não é razoável que pessoas diferentes tenham confeccionado planilhas separadamente, com base num mesmo original (Anexo I), e tivessem cometido as mesmas diferenciações nos mínimos detalhes. Isto vem confirmar que o Convite nº 004/2007 fora montado sob uma capa de legalidade, mas oculta um conluio entre os ditos licitantes e a Prefeitura, o que afasta inequivocamente o caráter competitivo do certame.

6.1.6.Assim, propõe-se, preliminarmente, o chamamento aos autos do então Prefeito, das empresas envolvidas e do presidente da Comissão Permanente de Licitação, considerando que somente ele assinou a documentação da licitação, para que apresentem as razões de justificativa acerca dos indícios de frustração do caráter competitivo da licitação, o que pode configurar fraude à licitação capitulada no art. 90 da Lei 8.666/93, observados na condução da licitação Carta-Convite nº 004/2007, realizada pela Prefeitura Municipal de Pacatuba/SE, tendo como participante as empresas Júlio Prado Vasconcelos Comércio e Representações Ltda., MD Distribuidora de Alimentos Ltda. e Serba Comércio de Alimentos Ltda, esta última vencedora do certame.

6.2. ANÁLISE DA TOMADA DE PREÇO Nº 002/20076.2.1.A análise da Tomada de Preços nº 002/2007 constatou a ausência de diversos

documentos, conforme visto na análise do item de audiência 5.1 acima. Constatou-se, destarte, que nos documentos da Tomada de Preço nº 002/2007, não constam:

a) as notas fiscais de pagamentos efetuados à firma Júlio Prado Vasconcelos Comércio e Representações Ltda, uma da vencedoras do certame;

b) o parecer jurídico (não foi anexado ou não foi elaborado, o que contraria o Parágrafo Único do art. 38 da Lei nº 8.666/93);

c) a cópia das propostas das empresas; d) o comprovante das publicações do edital resumido, na forma do art. 21 desta Lei; e) a cópia do ato de designação da comissão de licitação; f) os documentos da habilitação das licitantes.6.2.2.Observou-se que houve prorrogação indevida dos contratos 248/2007 e 249/2007,

celebrados com as empresas Júlio Prado Vasconcelos Comércio e Representações Ltda e a Serba Comércio de Alimentos Ltda, respectivamente, uma vez que o objeto licitado (gêneros alimentícios) não está contemplado das hipóteses do art. 57 da Lei º 8.666/93. Essa irregularidade, bem como, a falta de publicação do edital resumido, na forma prevista no art. 21 da Lei nº 8.666/93, qual seja, no Diário Oficial da União, Diário Oficial do Estado e em jornal de grande circulação são motivos de audiência do Sr. Prefeito.

6.2.3.Assim, verifica-se que restou prejudicada a análise do certame licitatório em referência, fato que reforça o entendimento pelo não atendimento à diligência do Tribunal, tendo em vista que foram requisitados todos os documentos dos processos licitatórios completos para aquisição de gêneros alimentícios para a merenda escolar em 2007, bem como os contratos decorrentes deles e os respectivos pagamentos. Ou, por outro lado, o entendimento de que fora apresentada toda a documentação, restando configurada a irregularidade pela ausência das peças referenciadas. Por um ou outro entendimento, restou caracterizada a irregularidade.

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7. CONCLUSÃO E PROPOSTA DE ENCAMINHAMENTO7.1.1.Diante do exposto, submetem-se os autos à consideração superior, propondo-se,

preliminarmente:7.1.2.a audiência do Sr. Luiz Carlos dos Santos, CPF nº 587.282.605-20, então Prefeito

Municipal de Pacatuba/SE, Sr. Idelson Araújo Dias, CPF nº 070.934.386-87, Presidente da CPL e as empresas licitantes Júlio Prado Vasconcelos Comércio e Representações Ltda., CNPJ nº 13.005.053/0001-47; MD Distribuidora de Alimentos Ltda., CNPJ nº 04.253.727/0001-31; e Serba Comércio de Alimentos Ltda., CNPJ nº 08.463.296/0001-99 para que apresentem, no prazo de 15 dias, razões de justificativas acerca dos indícios de frustração do caráter competitivo da licitação, o que pode configurar fraude à licitação capitulada no art. 90 da Lei 8.666/93, observados na condução da licitação Convite nº 004/2007, realizada pela Prefeitura Municipal de Pacatuba/SE, alertando aos responsáveis pelas empresas arroladas que a rejeição das razões de justificativa porventura apresentadas poderá dar ensejo a declaração de inidoneidade para participar de licitações para contratações custeadas com recursos federais, na forma prevista no art. 46 da Lei 8.443/92, em face das irregularidades a seguir relacionadas:

7.1.2.1. As tabelas relativas ao Anexo I do Edital (tabela-base) e as das licitantes habilitadas contêm diferenças e similaridades que não se pode aceitar como mera coincidência. A forma de grafar alguns itens é idêntica nas três propostas e diferente do grafado na tabela-base (Anexo I), reforçando o indício de uma só planilha fora utilizada pelas três licitantes, mudando-se somente os tipos de letra;

7.1.2.2. as propostas apresentadas pelas três empresas habilitadas possuem os mesmos erros de grafia, pontuação e de acentuação, bem como idênticas formas de descrever alguns itens licitados, a exemplo dos itens 01, 03, 04, 05, 06, 11 e 13, indicando terem sido produzidos a partir de uma só origem;

7.1.2.3. as três empresas habilitadas cotaram, em suas propostas, as mesmas marcas para os biscoitos ofertados, apesar da diversidade de marcas existentes no mercado, também não transcreveram que se tratava de ‘embalagem com 500 gramas’, que é uma informação importante;

7.1.2.4. a empresa vencedora cotou seus preços unitários um centavo a menor que a segunda colocada em todos os itens exceto apenas em dois itens, cujo quantitativo era pequeno, onde a diferença fora de R$ 1,00, sem contar a similaridade entre as diferenças de preços nas três propostas.

7.1.3.a audiência do Sr. Luiz Carlos dos Santos, CPF nº 587.282.605-20, então Prefeito Municipal de Pacatuba/SE pelos seguintes motivos:

7.1.3.1. pela prorrogação indevida dos contratos 248/2007 e 249/2007, celebrados com as empresas Júlio Prado Vasconcelos Comércio e Representações Ltda e a Serba Comércio de Alimentos Ltda, respectivamente, uma vez que o objeto licitado (gêneros alimentícios) não está contemplado das hipóteses do art. 57 da Lei º 8.666/93;

7.1.3.2. pela falta de publicação do edital resumido, na forma prevista no art. 21 da Lei nº 8.666/93, qual seja, no Diário Oficial da União, Diário Oficial do Estado e em jornal de grande circulação”.

5. Atuando no feito, o Gerente de Divisão concordou com a nova audiência sugerida pelo Auditor Federal. Já no parecer de fl. 185, o Titular da unidade técnica consignou algumas ressalvas à proposta, a seguir transcritas:

“(...)2. Observa-se inicialmente que não procede a afirmação efetuada pelo Analista no item

6.1.6 (fl. 178) no sentido de que somente o presidente da comissão permanente de licitação teria assinado a documentação do Convite nº 004/2007, o que excluiria a responsabilidade dos dois outros integrantes da referida comissão. Conforme se vê às fls. 96 a 99 do Anexo 2, todos os três

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integrantes da comissão assinaram o mapa de apuração das propostas assim como a ata de julgamento da licitação, como também rubricaram as propostas dos licitantes (fls. 70, 81 e 95 do Anexo 2). Por essa razão, não só o Sr. Idelson Araújo Dias (CPF 070.934.386-87), Presidente da CPL, como também o Sr. Vilenário Rocha (CPF 116.504.515-04) e o Sr. Gileno dos Santos (possível CPF 267.538.395-34 por ser o único que traz domicílio em Pacatuba/SE), membros da CPL, deverão ser chamados em audiência pelas irregularidades concernentes ao referido certame licitatório (item 7.1.2 de fls. 179/180).

3. Vê-se acima que não há certeza quanto à identificação do CPF do membro da CPL Sr. Gileno dos Santos, embora haja uma grande probabilidade de o CPF encontrado ser o correto. Assim, paralelamente à expedição do ofício de audiência, em que deverá ficar especificado ao destinatário que desconsidere a exigência de justificativas se não tiver sido ele o integrante da CPL, deverá também ser expedido ofício de diligência à Prefeitura Municipal de Pacatuba/SE para fornecer o CPF do servidor Gileno dos Santos que atuou na CPL por ocasião do Convite nº 004/2007.

4. Quanto à irregularidade descrita no item 7.1.3.2, além da alteração proposta pelo Diretor, no sentido de incluir a referência à Tomada de Preços nº 002/2007, deve ser excluída a referência ao Diário Oficial da União, considerando que o art. 21, inciso I, da Lei nº 8.666/93 somente exige de adminstração pública municipal publicação de aviso de licitação nesse Diário Oficial quando se tratar de obras financiadas total ou parcialmente com recursos federais, não fazendo referência a serviços ou compras”.

6. Promovido novo chamamento aos autos, com base no parecer do Secretário da Secex/SE, o Auditor Federal informante assim se manifestou, consoante instrução de fls. 269/282, a qual contou com a anuência do escalão dirigente da unidade técnica:

“(...)2. ANÁLISE DAS RAZÕES DE JUSTIFICATIVA2.1. MOTIVO DA AUDIÊNCIA: ‘pelos indícios de frustração do caráter competitivo da licitação, o que pode configurar

fraude à licitação capitulada no art. 90 da Lei 8.666/93, observados na condução da licitação Convite nº 004/2007, realizada pela Prefeitura Municipal de Pacatuba/SE, alertando aos responsáveis pelas empresas arroladas que a rejeição das razões de justificativa porventura apresentadas poderá dar ensejo à declaração de inidoneidade para participar de licitações para contratações custeadas com recursos federais, na forma prevista no art. 46 da Lei 8.443/92, em face das irregularidades a seguir relacionadas:

a) as tabelas relativas ao Anexo I do Edital (tabela-base) e as das licitantes habilitadas contêm diferenças e similaridades que não se pode aceitar como mera coincidência. A forma de grafar alguns itens é idêntica nas três propostas e diferente do grafado na tabela-base (Anexo I), reforçando o indício de uma só planilha fora utilizada pelas três licitantes, mudando-se somente os tipos de letra;

b) as propostas apresentadas pelas três empresas habilitadas possuem os mesmos erros de grafia, pontuação e de acentuação, bem como idênticas formas de descrever alguns itens licitados, a exemplo dos itens 01, 03, 04, 05, 06, 11 e 13, indicando terem sido produzidos a partir de uma só origem;

c) as três empresas habilitadas cotaram, em suas propostas, as mesmas marcas para os biscoitos ofertados, apesar da diversidade de marcas existentes no mercado, também não transcreveram que se tratava de ‘embalagem com 500 gramas’, que é uma informação importante;

d) a empresa vencedora cotou seus preços unitários um centavo a menor que a segunda colocada em todos os itens exceto apenas em dois itens, cujo quantitativo era pequeno, onde a diferença fora de R$ 1,00, sem contar a similaridade entre as diferenças de preços nas três

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propostas.’2.1.1.RESPONSÁVEIS: Sr. Luiz Carlos dos Santos, então Prefeito Municipal de

Pacatuba/SE; Sr. Idelson Araújo Dias, Presidente da CPL; Sr. Vilenário Rocha, Membro da CPL; Sr. Gileno dos Santos, Membro da CPL e as empresas licitantes Júlio Prado Vasconcelos Comércio e Representações Ltda., MD Distribuidora de Alimentos Ltda. e Serba Comércio de Alimentos Ltda.

Justificativa de Sr. Luiz Carlos dos Santos: 2.1.2.O responsável não apresentou suas razões de justificativa. A notificação fora

efetuada por meio do Ofício SECEX-SE nº 161/2009 e recebida em 16/03/2009 (fl. 208), no endereço obtido a partir do Sistema CPF (fl. 189).

Análise: 2.1.3.Devidamente notificado, o responsável não apresentou suas razões de justificativa,

caracterizando-se a revelia para todos os efeitos, dando-se prosseguimento ao processo, nos termos do § 3º do art. 12 da Lei nº 8.443/92.

Justificativa de Sr. Idelson Araújo Dias (fls. 257/260): 2.1.4.Sobre as letras ‘a’ e ‘b’ disse, verbis: ‘(...) As coincidências existem, como no caso em tela e, no mais, acaso houvesse

possibilidade de ocorrência de conluio entre licitantes, esse é fato externo, alheio ao procedimento e, portanto, fora da alçada da Comissão de Licitação, haja vista que a mesma só poderia realizar diligência destinada a esclarecer ou a complementar a instrução do processo, frise-se: do processo, e não de fatos externos a esse, ex vi do art. 43 da Lei nº 8.666/93. Portanto, é possível utilizar aqui do brocardo jurídico que diz que ‘ o que está fora dos autos, está fora do mundo’.

Ademais, acaso houvesse o conluio ora especulado, o que, efetivamente, não houve, seria em sede de Judiciário, através da cognição, da dilação probatória, do contraditório e da ampla defesa, o foro competente para o esclarecimento de tais fatos, e não no presente momento.’

2.1.5. Sobre a letra ‘c’ disse, verbis: ‘(...) Quanto ao fato das três empresas terem apresentado as mesmas marcas para os

biscoitos ofertados, nenhum mal há nisso, principalmente por conta da marca apresentada, haja vista que a mesma – FABISE – Fábrica de Biscoito de Sergipe – é produzida em nosso Estado e, portanto, com os preços mais vantajosos e acessíveis que as demais marcas; no mais, nenhuma coincidência existe nesse sentido, justamente por causa do motivo apresentado.

Quanto da omissão da embalagem de 500 gr mais uma vez não se vislumbra qualquer ilegalidade, bem como qualquer prejuízo à Administração, posto que o que interessa ao procedimento é que as propostas estavam perfeitamente inteligíveis, sendo essa omissão puramente formal, não chegando a macular as mesmas, já que essas se vinculam ao Edital e naquele está descrito o item.

Outrossim, no próprio Contrato de fornecimento, tal informação está consignada em seu item 3, que integra o Contrato os termos do Convite, não havendo, assim, qualquer prejuízo à Administração, no que tange ao fornecimento.’

2.1.6. Sobre a letra ‘d’ disse, verbis:‘(...) No que diz respeito à questão da diferença de preços, tal fato compete, única e

exclusivamente, às empresas, pois as mesmas é que são responsáveis pela formulação de seus preços, devendo a Comissão , apenas, julgá-los, de acordo com o estabelecido no instrumento convocatório.

Cumpre evidenciar que a Comissão de Licitação tem o dever de obediência aos Princípios do Julgamento Objetivo, previsto nos arts. 44 e 45 da Lei nº 8.666/93, e da Vinculação ao Instrumento Convocatório, contemplando no art. 41 da mesma Lei, devendo julgar os itens propostos de acordo com esse parâmetro.

Entretanto, ainda assim, houve diferença de preços; estranho seria se não o houvesse!

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Portanto, inócuo o questionamento.Assim, o que se leva em conta aqui é que a presente licitação atingiu seu escopo, qual seja

o da obtenção da proposta mais vantajosa para a Administração, mediante a isonomia e competitividade, independentemente de quem ganhou o quê, ante o Princípio da Impessoalidade da Administração Pública!’

Análise:2.1.7. Inicialmente os argumentos apresentados pelo Presidente da CPL, quanto às

letras ‘a’ e ‘b’, de que se trata de ‘fato externo, alheio ao procedimento e, portanto, fora da alçada da Comissão de Licitação, haja vista que a mesma só poderia realizar diligência destinada a esclarecer ou a complementar a instrução do processo’ não merecem prosperar, eis que, conforme se depreende dos documentos de fls. 56, 71 e 82 do anexo 2, as empresas em conluio foram convidadas pelo requerido, o que já representa um fato externo inicial que redundou em comprometimento, entre outros, do Princípio da Melhor Proposta para a Administração. Assim, discordando da justificativa, não é possível utilizar aqui o brocardo jurídico que diz que ‘o que está fora dos autos, está fora do mundo’.

2.1.8. Sobre a letra ‘c’ entende-se que o fato de as três empresas convidadas terem optado, sem necessidade, pela marca FABISE é realmente uma grande coincidência, que fora somada às outras, pois a tabela-base não pedia que fosse estipulada nenhuma marca, somente biscoito Cream Cracker de 500 gramas (fl. 39 anexo 2), destarte a inteligência da questão parte da liberdade de escolha por parte da empresa fornecedora. Coincidentemente também as três empresas não colocaram o peso das embalagens. Assim, são coincidências sucessivas que foram formando um juízo de valor.

2.1.9. Sobre a letra ‘d’ verifica-se improvável que, em treze itens, onze deles tenham preços exatamente R$ 0,01 menor que o segundo colocado e que todos os preços formassem uma sequência crescente de proposta a proposta nos treze itens. Essa foi mais uma coincidência que reforçou a tese de conluio.

2.1.10. Entende-se que a Comissão de Licitação tem o dever de obediência aos Princípios do Julgamento Objetivo e da Vinculação ao Instrumento Convocatório, devendo julgar os itens propostos de acordo com esses parâmetros. Exatamente com base na Vinculação ao Instrumento Convocatório é que as discrepâncias entre o Anexo I do Edital e as propostas apresentadas, todas com as mesmas divergências é que deveria despertar a atenção da Comissão de Licitação, notadamente do seu Presidente.

2.1.11. Sobre as discrepâncias entre as planilhas apresentadas pelas três licitantes (iguais entre si) e o modelo do anexo I, foi que se verificaram os indícios de fraude na licitação em comento, decorrente de conluio entre os participantes. Observe-se que as tabelas relativas ao Anexo I do Edital (tabela-base) e as propostas das licitantes habilitadas (fls. 39, 70, 81 e 95 do anexo 2) contêm diferenças e similaridades que não se pode aceitar como meras coincidências. A forma de grafar alguns itens é idêntica nas três propostas e diferente do grafado na tabela-base (Anexo I), reforçando o indício de uma só planilha fora utilizada pelas três licitantes, mudando-se somente os tipos de letra, ou seja, certamente tiveram uma mesma origem, diferente do arquivo disponibilizado pela administração, o que aponta para a existência de conluio entre os licitantes. Observe-se algumas dessas diferenças na tabela a seguir:

ITEM DESCRIÇÃOTABELA-BASE (ANEXO I) PROPOSTAS DAS 3 LICITANTES

01 Arroz doce com Canela e Flocos de Coco Arroz Doce c/ Canela e Flocos de Coco03 Arroz, Feijão e Charque (baião de Três) Arroz ,Feijão e Charque (Baião de Três)04 Biscoito Crean Cracker (embalagem com 500

gramas)Biscoito Crean Craker (Fabise)

05 Biscoito Maria (embalagem com 500 gramas) Biscoito Maria (Fabise)06 Cuscuz paulista Sabor Carne Bovina Cuscuz Paulista Sabor Carne Bovina12 Sopa de Feijão Sabor Macarrão com Legumes Sopa de Feijão c/Macarrão e Legumes13 Sopa Sabor Carne Bovina com Macarrão Sopa Sabor Carne Bovina c/ Macarrão e

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Legumes

Quilos KGCaixas CXS(não há no Anexo I) ‘V. UNT.’ para Valor Unitário

Observações:-Grifos para destacar as diferenças do original (os 3 com as mesmas diferenças).-Destaque-se o item 03 em que os 3 colocaram ‘,Feijão’. -No item 04 os 3 retiraram a letra ‘c’ de Cracker e colocaram a marca Fabise diante de múltiplas outras marcas a se optar e não prevista no Anexo I.-Nos itens 4 e 5 ninguém colocou a embalagem com 500 gramas.-No item 12 os 3 alteraram o item da mesma forma e colocaram a expressão ‘c/Macarrão’ sem espaço depois da barra.-No item 13 os 3 alteraram o item da mesma forma e colocaram a expressão ‘c/ Macarrão’ com espaço depois da barra.

2.1.12. Outro grande indício da fraude fora a similaridade na diferença dos preços apresentados nas três propostas (fl. 96 anexo 2). Restou demonstrado, portanto, que o processo teve a sua lisura comprometida, conquanto as propostas apresentadas indicam que foram elaboradas por uma única pessoa ou a partir de uma única matriz, haja vista a ocorrência de erros comuns e características de forma idênticas em todas as três propostas. Os mesmos erros e diferenças são repetidos em todas as três propostas. Não é razoável que pessoas diferentes tenham confeccionado planilhas separadamente, com base num mesmo original (Anexo I), e tivessem cometido as mesmas diferenciações nos mínimos detalhes. Isto vem confirmar que o Convite nº 004/2007 fora montado sob uma capa de legalidade, mas oculta um conluio entre os ditos licitantes e a Prefeitura, o que afasta inequivocamente o caráter competitivo do certame. Assim, rejeitam-se as razões de justificativa.

2.1.13. Justificativas de Sr. Vilenário Rocha (fls. 246/248): 2.1.14. O Sr. Vilenário Rocha disse (a) que as planilhas utilizadas pelas licitantes não

são únicas nem foram utilizadas de forma composta, uma vez que as propostas são abertas no momento do julgamento da licitação, não tendo conhecimento anterior. Desta forma diz que declinar que houve uso de idênticas planilhas e somente mudanças dos tipos das letras sem qualquer comprovação pericial e participação do acusado é antecipar a condenação do inocente.

2.1.15. Disse (b) que os envelopes são abertos no momento do julgamento sendo impossível verificar os erros de grafia, pontuação e de acentuação, bem como se houve qualquer idêntica forma de itens licitados ou se foram criados por uma só origem. Que (c) as licitantes fizeram cotar marcas de biscoito somente ofertados em nosso mercado, não sendo necessário colocar todas as diversidades de marcas existentes no mercado brasileiro, sendo todas as embalagens de 500 gramas, não existindo outra de menor peso. Que, (d) como poderia saber os valores ofertados anteriormente se as propostas estavam lacradas até o dia do julgamento? Que fica impossível delimitar com segurança se houve fraude entre licitantes, uma vez que jamais participou de qualquer complô objetivando desvirtuar das leis que regem a licitação. Que embora os preços existentes nas propostas fossem quase idênticos, torna-se difícil comprovar se houve qualquer associação criminosa entre as licitantes que ensejasse a instauração de um processo administrativo para apuração das irregularidades.

Análise:2.1.16. O Sr. Vilenário Rocha é membro da CPL. Não há indícios de que teve

participação no convite das empresas. Quanto aos argumentos defendidos pelo requerido não são capazes de elidir as irregularidades observadas nesse processo licitatório e relatados nos itens 2.1.8. a 2.1.12., desta instrução. Alega o requerido que, ‘embora os preços existentes nas propostas fossem quase idênticos, torna-se difícil comprovar se houve qualquer associação criminosa entre as licitantes que ensejasse a instauração de um processo administrativo para apuração das irregularidades’. Decerto, o requerido tem como atenuante o fato de as empresas

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terem apresentado as propostas em papéis com timbre diferentes e com letras diferentes, o que poderia dificultar a identificação da fraude. Entende-se que este fato não é motivo suficiente para se acatar suas justificativas. Não obstante isto, entende-se que não se deva propor multa ao requerido, por não se considerar sua participação suficientemente robusta no feito. Rejeitam-se as razões de justificativa sem propor multa ao responsável.

2.1.17. Justificativas de Sr. Gileno dos Santos (fl. 209):2.1.18. O Sr. Gileno dos Santos disse, em 20/03/2009, verbis: ‘declaro que em alguns

itens nas tabelas relativa ao anexo I do Edital (tabela-base) e das licitantes habilitadas não foi assinado por mim.’. Em 26/03/2009, mandou um e-mail, solicitando mais 30 dias de prorrogação de prazo (fl. 220). Não protocolou o documento original nem voltou aos autos.

Análise:2.1.19. O Sr. Gileno dos Santos é Membro da CPL. Não há indícios de que teve

participação no convite das empresas. O requerido tem como atenuante o fato de as empresas terem apresentado as propostas em papéis com timbre diferentes e com letras diferentes, o que poderia ter dificultado a identificação da fraude. Entende-se que este fato não é motivo suficiente para se acatar suas justificativas. Não obstante isto, entende-se que não se deva propor multa ao requerido, por não se considerar sua participação suficientemente robusta no feito. Rejeitam-se as razões de justificativa sem propor multa ao responsável.

2.1.20. Justificativas da empresa Júlio Prado Vasconcelos Comércio e Representações Ltda (fls. 225/232):

2.1.21. Em sua justificativa, a empresa disse que toda a representação da SECEX/SE teve como base suposições não indicando qualquer espécie de vício formal que possa justificar a presente audiência. Que não há no relatório qualquer documento ou narrativa que indique fraude ou conluio no Convite. Que não houve a existência de superfaturamento ou vantagem pecuniária para qualquer das partes.

2.1.22. Sobre a letra ‘a’, disse, verbis:‘A tabela em questão foi confeccionada na sede da empresa com o intuito de atender aos

requisitos contidos no edital.As coincidências se justificam em razão das exigências contidas no edital que padroniza a

forma de apresentação das tabelas servindo ainda de modelo para todos os participantes.Ademais, o setor que cota os produtos, na presente empresa, não é o mesmo que insere na

proposta sendo que tal inserção é feita por um digitador que segue os padrões do texto fornecido pelo fornecedor do produto.

É comum em Sergipe, em razão do seu tamanho geográfico, a existência de um único fornecedor para cada produto escolhido o que justifica a possibilidade de similaridade entre as propostas, sem que haja qualquer espécie de conluio para fraudar certames licitatórios.’

2.1.23. Sobre a letra ‘b’, disse, verbis:‘A justificativa apresentada para o item A também explica tais ocorrências uma vez que

como dito, a presente tabela não passa de uma transcrição da proposta do fornecedor só havendo alteração nos valores.

Ademais não foi constatado qualquer erro de grafia na proposta da presente empresa sendo as abreviaturas e pontuações utilizadas de forma normal e corriqueira no preenchimento das diversas tabelas.

A ausência de técnica formal na escrita constante na tabela não significa a existência de conluio para frustrar o caráter competitivo essencial do certame.

2.1.24. Sobre a letra ‘c’, disse, verbis:‘No presente caso a explicação é simples e clara.A marca cotada é Sergipana e possui grande tradição no mercado, tendo duas fábricas no

Estado sendo uma no Distrito Industrial de Aracaju e outra na saída do mesmo Município, possuindo naturalmente um preço diferenciado com as outras marcas em razão do frete.

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A gramatura da embalagem, além de especificada no edital, é item inconteste e padronizado pela indústria produtora não havendo necessidade de discriminá-lo na proposta.’

2.1.25. Sobre a letra ‘d’, disse, verbis:‘A presente empresa se encontra impossibilitada de responder ao item ‘D’ uma vez que

não tem como explicar a cotação efetuada por outra empresa uma vez que cada uma é responsável por definir seu preço, de acordo com diversos fatores econômicos.

Não há como justificar a composição do preço da concorrente, nem como saber a origem do mesmo.’

Análise:2.1.26. A justificativa alega que a representação da SECEX/SE teve como base

suposições não indicando qualquer espécie de vício formal que possa justificar a presente audiência. Em verdade, o que se constatou foram indícios fortes de fraude decorrente de conluio, conforme se depreende do que se segue.

2.1.27. Sobre a letra ‘a’, observa-se que, diferentemente do que diz a justificativa, as coincidências não se justificam exatamente por terem sido criadas de forma diferente do modelo apresentado no anexo I do edital. A forma de transcrever as tabelas era única para as três empresas e visivelmente diferente do modelo apresentado. Assim, fica sem sentido o argumento de que a inserção da proposta é feita por um digitador que segue os padrões do texto fornecido pelo fornecedor do produto, pois, se seguisse, a proposta seria idêntica à do modelo do anexo I. Veja-se a tabela do item 2.1.11.

2.1.28. Sobre a letra ‘b’, as similaridades entre as propostas, a que se refere a Instrução, são as discrepâncias existentes nas propostas, que fogem ao senso comum, como por exemplo: o item 13 da planilha, que especifica ‘Sopa Sabor Carne Bovina com Macarrão’ e as três empresas escreveram ‘Sopa Sabor Carne Bovina c/ Macarrão e Legumes’. Ou seja, a palavra ‘Legumes’ surgiu nas três propostas, o que é humanamente improvável acontecer. Esse é só um dos indícios, mas o que fez o completo convencimento de que houvera conluio foi o conjunto deles, conforme mostrado nos itens 2.1.11. e 2.1.12. desta Instrução.

2.1.29. Sobre a letra ‘c’ entende-se que o fato de as três empresas convidadas terem optado, sem necessidade, pela marca FABISE é realmente uma grande coincidência que fora somada às outras, pois a tabela-base não pedia que fosse estipulada nenhuma marca, somente biscoito Cream Cracker de 500 gramas (fl. 39 anexo 2), destarte a inteligência da questão parte da liberdade de escolha, deixada de lado, por parte da empresa fornecedora. Coincidentemente também as três empresas não colocaram o peso das embalagens (embalagem com 500 gramas). Assim, foram coincidências sucessivas que, juntas, formaram um juízo de valor.

2.1.30. Sobre a letra ‘d’, embora a empresa tenha dito que se encontrava impossibilitada de responder, uma vez que não tinha como explicar a cotação efetuada por outra empresa, verifica-se improvável que em treze itens onze deles tenham preços exatamente R$ 0,01 menor que o segundo colocado e que todos os preços formassem uma sequência crescente de proposta a proposta nos treze itens. Essa foi mais uma coincidência que reforçou a tese de conluio. Diante desses fatos, propugna-se pela rejeição das razões de justificativa apresentadas.

2.1.31. Justificativas da empresa MD Distribuidora de Alimentos Ltda (fls. 222/224): 2.1.32. A empresa MD Distribuidora de Alimentos Ltda argumentou que o fato de ela

ter apresentado uma proposta igual ou parecida com a de outras empresas não significa que ela burlou o caráter competitivo da licitação ou tentou tirar vantagem em cima disso. Ao contrário, a empresa é idônea e cumpre com suas responsabilidades. Disse ser descabida a alegação de que as propostas apresentadas pelas três empresas foram produzidas a partir de uma só origem, eis que se trata de uma mera coincidência. Que é possível que em algumas licitações pretéritas o representante das demais empresas deve ter realizado algumas cópias, a título de modelo o que pode ter dado ensejo ao problema em questão.

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2.1.33. Disse, ainda, que analisando os autos percebe-se que não existe erro de grafia nas propostas apresentadas, mormente, quando da utilização de fontes diferentes, podendo ter havido uma mera coincidência. Não se pode sancionar a requerente por atitudes que levam a concluir que se trata de coincidência, não sendo propostas idênticas. Que não houve conhecimento da similaridade por parte da autora nem comunicação alguma entre as três empresas a respeito disso. Sobre a mesma marca de biscoito cotadas pelas três empresas disse descaber argumentações eis que a marca apresentada se trata da maior fornecedora do Estado de Sergipe, que o poder de sustentar os preços e o de aparecer nas propostas ora apresentadas são enormes.

Análise: 2.1.34. A empresa não apresentou argumentos que pudessem contrariar o que se disse

até aqui. 2.1.35. Sobre as discrepâncias entre as planilhas apresentadas pelas três licitantes

(iguais entre si) o modelo do anexo I, foi que se verificaram os indícios de fraude na licitação em comento, decorrente de conluio entre os participantes. Observe-se que as tabelas relativas ao Anexo I do Edital (tabela-base) e as propostas das licitantes habilitadas (fls. 39, 70, 81 e 95 do anexo 2) contêm diferenças e similaridades que não se pode aceitar como meras coincidências. A forma de grafar alguns itens é idêntica nas três propostas e diferente do grafado na tabela-base (Anexo I), reforçando o indício de uma só planilha fora utilizada pelas três licitantes, mudando-se somente os tipos de letra, ou seja, certamente tiveram uma mesma origem, diferente do arquivo disponibilizado pela administração, o que aponta para a existência de conluio entre os licitantes. Observe-se algumas dessas diferenças na tabela a seguir:

[vide tabela no original]2.1.36. Outro grande indício da fraude fora a similaridade na diferença dos preços

apresentados nas três propostas (fl. 96 anexo 2). Restou demonstrado, portanto, que o processo teve a sua lisura comprometida, conquanto as propostas apresentadas indicam que foram elaboradas por uma única pessoa ou a partir de uma única matriz, haja vista a ocorrência de erros comuns e características de forma idênticas em todas as três propostas. Os mesmos erros e diferenças são repetidos em todas as três propostas. Não é razoável que pessoas diferentes tenham confeccionado planilhas separadamente, com base num mesmo original (Anexo I), e tivessem cometido as mesmas diferenciações nos mínimos detalhes. Isto vem confirmar que o Convite nº 004/2007 fora montado sob uma capa de legalidade, mas oculta um conluio entre os ditos licitantes e a Prefeitura, o que afasta inequivocamente o caráter competitivo do certame. Assim, rejeitam-se as razões de justificativa apresentadas.

2.1.37. Justificativas da empresa Serba Comércio de Alimentos Ltda (fls. 235/242):2.1.38. Sobre a letra ‘a’, disse, na essência, que a requerida é uma empresa idônea,

alheia a artifícios ardis e ou ilícitos para fins de se alcançar êxito em certames licitatórios. Que a mesma tem total conhecimento das normas regulamentadoras dos certames licitatórios e costuma atender de forma incontestável os princípios constitucionais e infraconstitucionais que regulamentam a matéria. Que as insinuações formuladas são descabidas e desmotivadas, porque a tabela fornecida pela requerida referente ao Anexo I do Edital houve por bem atender detalhadamente o rol dos produtos objetos do presente certame. Que é de cediço conhecimento que a norma cogente que rege um certame público é o edital e que as disposições do art. 48, I da Lei nº 8.666/93 são assentes nesse sentido quando preconiza ‘que são desclassificadas as propostas que não atendem às exigências do ato convocatório da licitação’, logo, em atenção ao princípio da legalidade do caput do art. 37 da CF, outra alternativa não restaria à empresa demandada senão a de seguir as disposições constantes do edital. O fato de coincidir as tabelas utilizadas pelos licitantes , mais que um acaso, poderia encontrar justificativa no programa de computador, no caso o Word, utilizado para a confecção das tabelas. Além do mais, indícios são provas rarefeitas e incapazes de desconstituir um ato jurídico perfeito, razão pela qual as

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imputações que são dirigidas à requerida não merecem guarida desta Corte de Contas.2.1.39. Sobre a letra ‘b’, disse, na essência, que, dos documentos colacionados não

foram constatados erro de grafia de pontuação nem acentuação. Que as propostas lançadas são totalmente distintas umas das outras, seja quanto à formatação, seja quanto ao seu modo de apresentação, não havendo coincidência entre as mesmas. O que se pode constatar nas tabelas são abreviações comuns e usuais no dia-a-dia, que foram usadas para caracterizar uma oração conjunção de produtos, não havendo coincidências em relação a outros aspectos de cunho individual.

2.1.40. Sobre a letra ‘c’, disse, na essência, que a marca de biscoito objeto da proposta refere-se a um grupo empresarial local, uma empresa de Sergipe cujos preços são mais atrativos, posto que o preço do frete cai bastante. Que, além do atrativo comercial o produto é bem aceito no mercado, principalmente em se tratando de merenda escolar. Que o fato de não se colocar o peso da embalagem não traria consequências danosas à empresa requerida no certame porque a proposta enviada sem a informação de que o produto possui embalagem de 500 gramas encontrava-se em sintonia com as informações constantes no edital. Que, não bastasse esta informação, cabe dizer que o biscoito Cream Cracker, mormente aqui no Estado de Sergipe, fabricado pela FABISE, é usualmente comercializado em embalagens de 500 gramas, não havendo, portanto, qualquer equívoco nas propostas apresentadas ao Município.

2.1.41. Sobre a letra ‘d’, disse, na essência, que os preços praticados pela empresa requerida foram projetados de acordo com a margem de lucro pela mesma suportada. Que o fato de a mesma sagrar-se vencedora do certame em questão por ter utilizado um valor a menor, mesmo que na insignificante importância de R$ 0,01 justifica-se no fato de a mesma possuir uma maior flexibilidade em sua margem de lucro. Pondere-se que a livre concorrência, bem como a busca pela melhor proposta foi tamanha que a empresa requerida venceu com a diferença de um centavo apenas. Que ao invés de se cogitar a hipótese de fraude no certame licitatório deveria se cogitar a hipótese de um certame concorrido eivado de lisura, afinal sopesa em nosso ordenamento jurídico o princípio da inocência, não se vendo com bons olhos as acusações nos moldes em que fora formulada.

Análise:2.1.42. Sobre a letra ‘a’, a justificativa, basicamente, não entrou no mérito. 2.1.43. Sobre a letra ‘b’, constatou-se pela tabela apresentada no item 2.1.11. que as

propostas apresentadas pelas três empresas habilitadas possuem os mesmos erros de grafia, pontuação e de acentuação, bem como idênticas formas de descrever alguns itens licitados, a exemplo dos itens 01, 03, 04, 05, 06, 11 e 13, indicando terem sido produzidos a partir de uma só origem. Destarte, a simples negativa desse fato não elide as constatações.

2.1.44. Sobre a letra ‘c’, os argumentos são os mesmos apresentados pelos demais requeridos, complementando que o biscoito Cream Cracker, fabricado pela FABISE, é usualmente comercializado em embalagens de 500 gramas, não havendo qualquer equívoco nas propostas apresentadas.

2.1.45. Sobre a letra ‘d’, não apresentou argumentos convincentes. 2.1.46. Assim, a análise das razões de justificativa dessa empresa é a mesma dada à

empresa Júlio Prado Vasconcelos Comércio e Representações Ltda., nos itens 2.1.26. a 2.1.30. Destarte, rejeitam-se as razões de justificativa apresentadas.

2.2. MOTIVO DA AUDIÊNCIA:‘1- pela prorrogação indevida dos contratos 248/2007 e 249/2007, celebrados com as

empresas Júlio Prado Vasconcelos Comércio e Representações Ltda e a Serba Comércio de Alimentos Ltda, respectivamente, uma vez que o objeto licitado (gêneros alimentícios) não está contemplado das hipóteses do art. 57 da Lei º 8.666/93;

2- pela falta de publicação do edital resumido, na forma prevista no art. 21 da Lei nº 8.666/93, qual seja, no Diário Oficial da União, Diário Oficial do Estado e em jornal de grande

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circulação.’2.2.1. RESPONSÁVEL: Sr. Luiz Carlos dos Santos, então Prefeito Municipal de

Pacatuba/SEJustificativa de Sr. Luiz Carlos dos Santos:2.2.2. O responsável não apresentou suas razões de justificativa. A notificação fora

efetuada por meio do Ofício SECEX-SE nº 161/2009 e recebida em 16/03/2009 (fl. 208), no endereço obtido a partir do Sistema CPF (fl. 189).

Análise: 2.2.3. Devidamente notificado, o responsável não apresentou suas razões de

justificativa, caracterizando-se a revelia para todos os efeitos, dando-se prosseguimento ao processo, nos termos do § 3º do art. 12 da Lei nº 8.443/92.

3. CONCLUSÃO E PROPOSTA DE ENCAMINHAMENTO3.1. Diante do exposto, submetem-se os autos à consideração superior, propondo-se:3.1.1. conhecer da presente denúncia, nos termos do art. 53 da Lei nº 8.443/1992, para, no

mérito, considerá-la parcialmente procedente;3.1.2. rejeitar as razões de justificativa apresentadas pelo Sr. Luiz Carlos dos Santos, CPF

nº 587.282.605-20, então Prefeito Municipal de Pacatuba/SE, relativas aos seguintes itens de audiência analisada na instrução de fls. 173/180:

a) pelo não atendimento de diligência do Tribunal, tendo em vista que foram requisitados os documentos dos processos licitatórios completos para aquisição de gêneros alimentícios para a merenda escolar em 2007, bem como os contratos decorrentes deles e os respectivos pagamentos e só foram apresentados os gastos relativos ao Contrato nº 128/2007;

b) pelo fracionamento da despesa com alimentação escolar referente ao PNAE/2007, uma vez que o valor gasto pela Prefeitura com alimentação escolar fora de R$ 166.454,75, incompatível portanto com a utilização de Convite, exigindo o emprego de outra modalidade de licitação, a exemplo de Tomada de Preços, Concorrência ou Pregão;

c) pela não comprovação dos gastos com alimentação escolar referente ao PNAE/2007, que somou R$ 166.454,75, conforme Demonstrativo Sintético Anual da Execução Físico-Financeira encaminhado ao FNDE, só tendo sido apresentada uma licitação na modalidade Carta-Convite, geradora do Contrato nº 128/2007, sendo computada à conta do PNAE/2007 o montante de R$ 42.199,75;

d) pela aquisição de materiais, amparados em notas fiscais sem a indicação do programa a que se destinam os produtos (a exemplo das NF nºs 41, 42, 43, 87, 97, 178, 179, 181 e 182, emitidas pela Serba Comércio de Alimentos Ltda, CNPJ 08.463.296/0001-99), contrariando o art. 24 da Resolução CD/FNDE/MEC 32/2006, que trata dos documentos comprobatórios das despesas;

e) pelo pagamento da NF 172, emitida pela Serba Comércio de Alimentos Ltda, CNPJ 08.463.296/0001-99, em 16/05/2007 e a saída da mercadoria do fornecedor e o atesto da Prefeitura Municipal ter-se dado em 23/05/2007, caracterizando pagamento adiantado, o que contraria o art. 62 c/c art.63, § 2º, III da Lei nº 4.320/64.

3.1.3. rejeitar as razões de justificativa apresentadas pelos Srs. Idelson Araújo Dias (CPF nº 070.934.386-87), Presidente da CPL; Vilenário Rocha (CPF nº116.504.515-04) Membro da CPL; Gileno dos Santos (CPF nº267.538.395-34), Membro da CPL e pelas empresas Júlio Prado Vasconcelos Comércio e Representações Ltda. (CNPJ nº 13.005.053/0001-47); MD Distribuidora de Alimentos Ltda. (CNPJ nº 04.253.727/0001-31); e Serba Comércio de Alimentos Ltda. (CNPJ nº 08.463.296/0001-99) pela frustração do caráter competitivo da licitação, o que configura fraude à licitação capitulada no art. 90 da Lei 8.666/93, observados na condução da licitação Convite nº 004/2007, realizada pela Prefeitura Municipal de Pacatuba/SE, caracterizada pelos seguintes fatos:

a) as propostas apresentadas pelas três empresas habilitadas possuem os mesmos erros de

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grafia, pontuação e de acentuação, bem como idênticas formas de descrever alguns itens licitados, a exemplo dos itens 01, 03, 04, 05, 06, 11 e 13, indicando terem sido produzidos a partir de uma só origem;

b) as três empresas habilitadas cotaram, em suas propostas, as mesmas marcas para os biscoitos ofertados, apesar da diversidade de marcas existentes no mercado, também não transcreveram que se tratava de ‘embalagem com 500 gramas’, que é uma informação importante;

c) a empresa vencedora cotou seus preços unitários um centavo a menor que a segunda colocada em todos os itens exceto apenas em dois itens, cujo quantitativo era pequeno, onde a diferença fora de R$ 1,00, sem contar a similaridade entre as diferenças de preços nas três propostas.

3.1.4. considerar revel o Sr. Luiz Carlos dos Santos (CPF nº 587.282.605-20), então Prefeito Municipal de Pacatuba/SE, nos termos do § 3º do art. 12 da Lei nº 8.443/92, relativamente aos itens de audiência analisados nesta instrução, quais sejam:

a) pela frustração do caráter competitivo da licitação, o que configura fraude à licitação capitulada no art. 90 da Lei 8.666/93, observados na condução da licitação Convite nº 004/2007, realizada pela Prefeitura Municipal de Pacatuba/SE, caracterizada pelos seguintes fatos:

as propostas apresentadas pelas três empresas habilitadas possuem os mesmos erros de grafia, pontuação e de acentuação, bem como idênticas formas de descrever alguns itens licitados, a exemplo dos itens 01, 03, 04, 05, 06, 11 e 13, indicando terem sido produzidos a partir de uma só origem;

as três empresas habilitadas cotaram, em suas propostas, as mesmas marcas para os biscoitos ofertados, apesar da diversidade de marcas existentes no mercado, também não transcreveram que se tratava de ‘embalagem com 500 gramas’, que é uma informação importante;

a empresa vencedora cotou seus preços unitários um centavo a menor que a segunda colocada em todos os itens exceto apenas em dois itens, cujo quantitativo era pequeno, onde a diferença fora de R$ 1,00, sem contar a similaridade entre as diferenças de preços nas três propostas.

b) pela prorrogação indevida dos contratos 248/2007 e 249/2007, celebrados com as empresas Júlio Prado Vasconcelos Comércio e Representações Ltda e a Serba Comércio de Alimentos Ltda, respectivamente, uma vez que o objeto licitado (gêneros alimentícios) não está contemplado das hipóteses do art. 57 da Lei º 8.666/93;

c) pela falta de publicação do edital resumido, na forma prevista no art. 21 da Lei nº 8.666/93, qual seja, no Diário Oficial da União, Diário Oficial do Estado e em jornal de grande circulação;

3.1.5.declarar a inidoneidade das empresas Júlio Prado Vasconcelos Comércio e Representações Ltda., CNPJ nº 13.005.053/0001-47; MD Distribuidora de Alimentos Ltda., CNPJ nº 04.253.727/0001-31; e Serba Comércio de Alimentos Ltda., CNPJ nº 08.463.296/0001-99, para participarem de licitação na Administração Pública Federal e de licitação nas Administrações Estaduais e Municipais que envolvam a aplicação de recursos públicos federais com fundamento no art. 46 da Lei n° 8.443/92;

3.1.6.aplicar a multa prevista no art. 58, II da Lei nº 8.443/92 aos Srs. Luiz Carlos dos Santos, CPF nº 587.282.605-20, então Prefeito Municipal de Pacatuba/SE, Idelson Araújo Dias, CPF nº 070.934.386-87, Presidente da CPL e às empresas Júlio Prado Vasconcelos Comércio e Representações Ltda., CNPJ nº 13.005.053/0001-47; MD Distribuidora de Alimentos Ltda., CNPJ nº 04.253.727/0001-31; e Serba Comércio de Alimentos Ltda., CNPJ nº 08.463.296/0001-99, fixando o prazo de 15 (quinze) dias, a contar da data do recebimento desta notificação, para comprovar, perante o Tribunal, o recolhimento da dívida aos cofres do Tesouro Nacional;

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3.1.7.autorizar o pagamento da dívida em até 24 (vinte e quatro) parcelas mensais e consecutivas, caso solicitado, nos termos do art. 26 da Lei nº 8.443/92, c/c art. 217 do Regimento Interno, fixando-se o vencimento da primeira parcela em quinze dias, a contar do recebimento da notificação, e o das demais a cada trinta dias, devendo incidir sobre cada parcela, atualizada monetariamente, os encargos legais devidos, na forma prevista na legislação em vigor, alertando o responsável de que a falta de comprovação do recolhimento de qualquer parcela importará o vencimento antecipado do saldo devedor, nos termos do § 2º do art. 217 do Regimento Interno deste Tribunal;

3.1.8.autorizar, desde logo, a cobrança judicial da dívida, nos termos do art. 28, inciso II, da Lei n° 8.443/92, caso não sejam atendidas as notificações;

3.1.9. comunicar ao denunciante a Decisão que vier a ser adotada;3.1.10. determinar à Prefeitura Municipal de Pacatuba/SE e ao Conselho de

Alimentação Escolar de Pacatuba/SE, dando-se ciência a todos os membros do Conselho, que:a) atentem para a legislação do PNAE/FNDE no que se refere à eleição e substituição de

membros do Conselho de Alimentação Escolar, observando, quanto à eleição de membro do Conselho, que só em caso de não existência de órgãos de classe, conforme estabelecido no inciso II do artigo 26, deverão os docentes, discentes ou trabalhadores na área de educação realizar reunião, convocada especificamente para esse fim e devidamente registrada em ata. (§ 4º do art. 26 da Resolução/ FNDE/CD/Nº 38/2009) e que, após a nomeação dos membros do CAE, as substituições poderão ocorrer, entre outras, por deliberação do segmento representado (§ 11, II do art. 26 da Resolução/FNDE/CD/Nº 38/2009), mantida a exigência de nomeação por ato legal emanado do Poder Executivo Municipal;

a) observem, no que tange à aceitabilidade do cardápio, a Resolução CD/FNDE/MEC nº 38/2009, §§ 4º e 5º do art. 25, que diz que compete às Entidades Executoras a aplicação do teste de aceitabilidade aos alunos, com exceção daqueles matriculados na educação infantil na faixa etária de 0 a 3 anos (creche), sempre que ocorrer, no cardápio, a introdução de alimento novo ou quaisquer outras alterações inovadoras, no que diz respeito ao preparo, ou para avaliar a aceitação dos cardápios praticados frequentemente, e que para aplicação do teste de aceitabilidade (Anexo VII) deverão ser utilizadas as metodologias Resto Ingestão ou Escala Hedônica, observando parâmetros técnicos, científicos e sensoriais reconhecidos);

b) observem, sobre o controle de qualidade do programa, que: o art. 25 da Resolução CD/FNDE/MEC nº 38/2009 diz que os produtos adquiridos para

a clientela do PNAE deverão ser previamente submetidos ao controle de qualidade, na forma do Termo de Compromisso - Anexo VI da Resolução;

consta no ANEXO VI da Resolução CD/FNDE/MEC nº 38/2009 que o Prefeito do Município ao se inscrever para receber recursos do PNAE assume perante o FNDE o compromisso de determinar que a Secretaria ou Departamento de Saúde, ou órgão similar, do município, exerça a inspeção sanitária dos alimentos utilizados no PNAE no município, e autoriza a Secretaria ou Departamento de Saúde, ou órgão similar, do município a estabelecer parceria com a Secretaria de Saúde do estado, ou órgão similar, para auxiliar no cumprimento dessa atribuição;

os produtos a serem adquiridos para o PNAE deverão atender ao disposto na legislação de alimentos, estabelecida pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária do Ministério da Saúde e do Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento; e

compete às Entidades Executoras e às escolas de educação básica adotar medidas que garantam a aquisição de alimentos de qualidade, bem como transporte, estocagem e preparo/manuseio com adequadas condições higiênicas e sanitárias até o seu consumo pelos alunos atendidos pelo Programa.

3.1.11. determinar ao Presidente do Conselho de Alimentação Escolar de Pacatuba/SE, dando-se ciência a todos os membros do Conselho, que:

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a) atente para a Resolução/FNDE/CD/Nº 38/2009, no seu art. 27 que diz, entre outras, que são atribuições do CAE: I - acompanhar e fiscalizar o cumprimento do disposto nos arts. 2º e 3º desta Resolução; II - acompanhar e fiscalizar a aplicação dos recursos destinados à alimentação escolar; III - zelar pela qualidade dos alimentos, em especial quanto às condições higiênicas, bem como à aceitabilidade dos cardápios oferecidos; e IV - receber o Relatório Anual de Gestão do PNAE (anexo IX), conforme art. 34 e emitir parecer conclusivo acerca da aprovação ou não da execução do Programa;

b) fiscalize o PNAE, atentando para que, caso ocorram irregularidades na execução do Programa, sejam tomadas providências de sua alçada junto à Prefeitura de Pacatuba/SE, comunicando ao FNDE, aos Tribunais de Contas, à Controladoria-Geral da União, ao Ministério Público e aos demais órgãos de controle qualquer irregularidade identificada na execução do PNAE, inclusive em relação ao apoio para funcionamento do CAE, sob pena de responsabilidade solidária de seus membros, conforme diz o art. 27, § 2º, I da Resolução/FNDE/CD/Nº 38/2009”.

É o Relatório.

VOTO

De início, entendo que a presente denúncia deve ser conhecida, por preencher os requisitos de admissibilidade previstos no art. 53 da Lei nº 8.443/1992 c/c os arts. 234 e 235 do Regimento Interno do TCU.2. No mérito, verifico que as questões denunciadas referem-se, basicamente, à composição e à atuação do Conselho de Alimentação Escolar – CAE do Município de Pacatuba/SE, bem como a execução do Programa Nacional de Alimentação Escolar – PNAE na municipalidade nos exercícios de 2007 e 2008.3. A partir das informações e documentos acostados aos autos em resposta a diligências saneadoras endereçadas a vários órgãos e entidades municipais de Pacatuba/SE, a Secex/SE promoveu a audiência do Sr. Luiz Carlos dos Santos, ex-prefeito da aludida municipalidade à época dos fatos, em vista das seguintes irregularidades:

Proposta da instrução de fls. 158/164, com os ajustes de redação sugeridos pelo corpo diretivo da unidade técnica, transcrita no item 2 do relatório precedente

“a) pelo não atendimento de diligência do Tribunal, tendo em vista que foram requisitados os documentos dos processos licitatórios completos para aquisição de gêneros alimentícios para a merenda escolar em 2007, bem como os contratos decorrentes deles e os respectivos pagamentos e só foram apresentados os gastos relativos ao Contrato nº 128/2007;

b) pelo fracionamento da despesa com alimentação escolar referente ao PNAE/2007, uma vez que o valor gasto pela Prefeitura com alimentação escolar fora de R$ 166.454,75, incompatível portanto com a utilização de Convite, exigindo o emprego de outra modalidade de licitação, a exemplo de Tomada de Preços, Concorrência ou Pregão;

c) pela não comprovação dos gastos com alimentação escolar referente ao PNAE/2007, que somou R$ 166.454,75, conforme Demonstrativo Sintético Anual da Execução Físico-Financeira encaminhado ao FNDE, só tendo sido apresentada uma licitação na modalidade Carta-Convite, geradora do Contrato nº 128/2007, sendo computada à conta do PNAE/2007 o montante de R$ 42.199,75;

d) aquisição de materiais, amparados em notas fiscais sem a indicação do programa a que se destinam os produtos (a exemplo das NF nºs 41, 42, 43, 87, 97, 178, 179, 181 e 182, emitidas pela Serba Comércio de Alimentos Ltda, CNPJ 08.463.296/0001-99), contrariando o art. 24 da

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Resolução CD/FNDE/MEC 32/2006, que trata dos documentos comprobatórios das despesas; ee) pelo pagamento da NF 172, emitida pela Serba Comércio de Alimentos Ltda, CNPJ

08.463.296/0001-99, em 16/05/2007 e a saída da mercadoria do fornecedor e o atesto da Prefeitura Municipal ter-se dado em 23/05/2007, caracterizando pagamento adiantado, o que contraria o art. 62 c/c art.63, §2º, III da Lei nº 4.320/64.”;

Proposta da instrução de fls. 173/180, com as ressalvas constantes do parecer de fl. 185, transcritos nos itens 4 e 5 do relatório precedente

“1) indícios de frustração do caráter competitivo da licitação, o que pode configurar fraude à licitação capitulada no art. 90 da Lei 8.666/93, observados na condução da licitação Convite nº 004/2007, realizada pela Prefeitura Municipal de Pacatuba/SE (...) em face das irregularidades a seguir relacionadas:

a) As tabelas relativas ao Anexo I do Edital (tabela-base) e as das licitantes habilitadas contêm diferenças e similaridades que não se pode aceitar como mera coincidência. A forma de grafar alguns itens é idêntica nas três propostas e diferente do grafado na tabela-base (Anexo I), reforçando o indício de uma só planilha fora utilizada pelas três licitantes, mudando-se somente os tipos de letra;

b) As propostas apresentadas pelas três empresas habilitadas possuem os mesmos erros de grafia, pontuação e de acentuação, bem como idênticas formas de descrever alguns itens licitados, a exemplo dos itens 01, 03, 04, 05, 06, 11 e 13, indicando terem sido produzidos a partir de uma só origem;

c) As três empresas habilitadas cotaram, em suas propostas, as mesmas marcas para os biscoitos ofertados, apesar da diversidade de marcas existentes no mercado, também não transcreveram que se tratava de "embalagem com 500 gramas", que é uma informação importante;

d) A empresa vencedora cotou seus preços unitários um centavo a menor que a segunda colocada em todos os itens exceto apenas em dois itens, cujo quantitativo era pequeno, onde a diferença fora de R$ 1,00, sem contar a similaridade entre as diferenças de preços nas três propostas;

2) pela prorrogação indevida dos contratos 248/2007 e 249/2007, celebrados com as empresas Júlio Prado Vasconcelos Comércio e Representações Ltda e a Serba Comércio de Alimentos Ltda, respectivamente, uma vez que o objeto licitado (gêneros alimentícios) não está contemplado das hipóteses do art. 57 da Lei nº 8.666/93;

3) pela falta de publicação do edital resumido, relativo à Tomada de Preços nº 002/2007, na forma prevista no art. 21 da Lei nº 8.666/93, qual seja, no Diário Oficial do Estado e em jornal de grande circulação”.

4. Outrossim, promoveu a audiência dos Srs. Idelson Araújo Dias, Vilenário Rocha e Gileno dos Santos, respectivamente presidente e demais membros da Comissão Permanente de Licitação encarregada da condução do Convite nº 4/2007, e das empresas licitantes Júlio Prado Vasconcelos Comércio e Representações Ltda., MD Distribuidora de Alimentos Ltda. e Serba Comércio de Alimentos Ltda., para que se manifestassem acerca dos indícios de frustração do caráter competitivo do referido certame, acima descritos.5. Por entender que as defesas apresentadas em resposta ao chamamento deste Tribunal não lograram refutar as irregularidades apuradas nos autos, a unidade técnica propôs a procedência parcial da denúncia e a aplicação aos responsáveis, à exceção dos Srs. Vilenário Rocha e Gileno dos Santos, da multa prevista no art. 58, inciso II, da Lei nº 8.443/1992.6. Sugeriu, ainda, diante da comprovada fraude ao Convite nº 4/2007, a declaração da inidoneidade das empresas que participaram desse certame.7. Quanto aos argumentos de defesa, acolho a análise da unidade técnica, cujos fundamentos

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incorporo, desde já, às minhas razões de decidir, no sentido de se rejeitar as alegações apresentadas pelos responsáveis.8. De fato, conquanto não se tenha comprovado a malversação dos recursos públicos federais repassados ao Município de Pacatuba/SE pelo Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação – FNDE, no âmbito do Programa Nacional de Alimentação Escolar – PNAE, ficou claramente demonstrada a ocorrência de fraude no procedimento licitatório que teve como participantes as empresas Júlio Prado Vasconcelos Comércio e Representações Ltda., MD Distribuidora de Alimentos Ltda. e Serba Comércio de Alimentos Ltda.9. Não vislumbro justificativa plausível para as inúmeras discrepâncias existentes entre as planilhas apresentadas pelas três empresas licitantes (iguais entre si) e o modelo constante do Anexo I do edital licitatório (tabela-base). Tais discrepâncias, identificadas na instrução da unidade técnica, evidenciam que as propostas das empresas licitantes foram formuladas a partir da mesma origem, com idêntica grafia de itens e uso de expressões, diferentemente do modelo-padrão disponibilizado pela prefeitura municipal, além de perfeita coincidência entre os erros de digitação.10. A Secex/SE verificou, ainda, que onze dos treze itens cotados pela empresa vencedora do certame apresentam valores exatamente R$ 0,01 menor que os da segunda colocada, além do que todos os preços cotados pelas três empresas formam uma sequência crescente de valores, de mesma proporção para os treze itens, entre as três propostas.11. Não se pode aceitar como meras coincidências as semelhanças constatadas nas propostas apresentadas pelas licitantes, em vista da sutileza dos detalhes apontados pela unidade técnica.12. Diante, então, dos robustos indícios que levam à comprovação de fraude em processo licitatório, acolho, em consonância com a jurisprudência deste Tribunal (a exemplo dos Acórdãos nºs 50/2006, 480/2007 e 2.900/2009, todos do Plenário), a proposta apresentada pela unidade técnica de se declarar a inidoneidade das licitantes fraudadoras para participar de licitação realizada no âmbito da Administração Pública Federal, cujo prazo, dada a materialidade do caso, julgo que deva ser de três anos.13. Quanto à aplicação da multa prevista no art. 58, inciso II, da Lei nº 8.443/1992 às referidas empresas, considero tal medida descabida, haja vista não se referir a ato de gestão.14. No tocante aos membros da Comissão Permanente Licitação, verifico que a responsabilidade na ocorrência da fraude é evidente não apenas para o Sr. Idelson Araújo Dias mas também para os Srs. Vilenário Rocha e Gileno dos Santos, haja vista que participaram ativamente do procedimento licitatório, consoante se depreende das propostas dos licitantes, do mapa de apuração dessas propostas e da ata de julgamento da licitação, todos rubricados/assinados por eles.15. Nesse sentido, considerando que todas as robustas semelhanças identificadas nas propostas das empresas licitantes seriam facilmente percebidas, concluo que tais responsáveis não exerceram sua obrigação legal de zelar, com eficiência, pelo estrito cumprimento dos princípios que regem a licitação pública, com vistas à preservação do caráter competitivo do certame e ao alcance do interesse público.16. Em vista disso, pedindo vênias para discordar da unidade técnica, entendo que, por terem agido com imprudência e negligência, todos os membros da Comissão Permanente de Licitação responsável pela condução do Convite nº 4/2007 devem ser apenados com a multa prevista no art. 58, inciso II, da Lei nº 8.443/1992.17. No que tange ao ex-prefeito, Sr. Luiz Carlos dos Santos, a responsabilidade que recai sobre ele é mais grave, tendo em vista que, além de ter praticado atos de gestão no contexto do aludido convite, cometeu infrações à legislação que rege a execução das ações do PNAE com recursos públicos oriundos dos cofres federais.18. Ressalto que as razões de justificativa apresentadas pelo referido gestor em resposta à primeira audiência não foram suficientes para descaracterizar as irregularidades que lhe foram imputadas. Quanto à segunda audiência que lhe foi endereçada, em virtude de questões adicionais, registro que, devidamente cientificado, de forma regular e válida, em plena conformidade com os

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normativos acerca da matéria, o responsável permaneceu silente, o que caracteriza a sua revelia, nos termos do art. 12, § 3º, da Lei nº 8.443/1992, cabendo, portanto, dar prosseguimento ao processo.19. Nesse sentido, cabe aplicar-lhe a multa prevista no art. 58, inciso II, da Lei nº 8.443/1992.20. Deixo de acolher, apenas, a proposta de apenação do ex-gestor em face do não-atendimento à diligência deste Tribunal, haja vista que a não-apresentação das informações e documentos que lhe foram solicitados não inviabilizou o exame do mérito da presente denúncia.21. Outrossim, ante os fortes indícios do cometimento de ato ilícito de natureza penal no âmbito do Convite nº 4/2007, consistente na frustação, mediante fraude, do caráter competitivo da licitação, julgo cabível a remessa de cópia do relatório, voto e acórdão à Procuradoria da República no Estado de Sergipe, para conhecimento e adoção das ações cabíveis.22. Quanto à não-comprovação de todos os gastos efetivados com alimentação escolar no âmbito do PNAE/2007, faz-se necessário dar ciência da decisão ora adotada também ao FNDE, para que verifique a correta aplicação dos recursos destinados à municipalidade, no valor de R$ 166.454,75, dos quais, segundo apurado pela unidade técnica, só teria sido aplicado à conta do aludido programa o montante de R$ 42.199,75.23. Ressalto, por fim, que não está sendo endereçada qualquer determinação às entidades envolvidas, por se tratar de mero cumprimento de normativos, consoante as orientações expedidas pela Portaria Segecex nº 9/2010. Não obstante, cabe, no caso, o encaminhamento de cópia da deliberação ora adotada ao Município de Pacatuba/SE e a todos os membros do Conselho de Alimentação Escolar de Pacatuba/SE, para orientação, no que tange à observância das disposições contidas na Resolução FNDE/CD nº 38/2009.

Ante o exposto, acolhendo, em parte, a manifestação da unidade instrutiva exarada nos autos, VOTO por que o Tribunal adote o Acórdão que ora submeto à consideração deste Plenário.

TCU, Sala das Sessões Ministro Luciano Brandão Alves de Souza, em 22 de setembro de 2010.

AUGUSTO NARDES

Relator

ACÓRDÃO Nº 2539/2010 – TCU – Plenário

1. Processo nº TC 011.461/2008-1 (c/ 1 volume e 4 anexos). 2. Grupo: I; Classe de Assunto: VII – Denúncia.3. Interessado: Identidade preservada, conforme art. 55, § 1º, da Lei nº 8.443/1992, c/c o art. 127 da Resolução TCU nº 191/2006.3.1. Responsáveis: Luiz Carlos dos Santos, CPF nº 587.282.605-20; Idelson Araújo Dias, CPF nº 070.934.386-87; Vilenário Rocha, CPF nº 116.504.515-04; Gileno dos Santos, CPF nº 267.538.395-

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34; Júlio Prado Vasconcelos Comércio e Representações Ltda., CNPJ nº 13.005.053/0001-47; MD Distribuidora de Alimentos Ltda., CNPJ nº 04.253.727/0001-31; Serba Comércio de Alimentos Ltda., CNPJ nº 08.463.296/0001-99.4. Unidade: Município de Pacatuba/SE.5. Relator: Ministro Augusto Nardes.6. Representante do Ministério Público: não atuou.7. Unidade técnica: Secretaria de Controle Externo no Estado de Sergipe - Secex/SE.8. Advogados constituídos nos autos: Gustavo de Andrade Santos, OAB/SE nº 2.959; Bruno Santos Silva Pinto, OAB/SE nº 4.439; Bruno Novaes Rosa, OAB/SE nº 3.556; Bruno Loeser Prado de Oliveira, OAB/SE nº 2.497; Ana Roberta Torres Roberti, OAB/SE nº 4.049; André Duarte de Melo, OAB/SP nº 239.955; Paulo Calumby Barretto, OAB/SE nº 2.417; Ciro Bezerra Rebouças Júnior, OAB/SE nº 4.101; Gilberto Sampaio Vila-Nova de Carvalho, OAB/SE nº 2.829.

9. Acórdão:VISTOS, relatados e discutidos estes autos de denúncia envolvendo a ocorrência de supostas

irregularidades na execução do Programa Nacional de Alimentação Escolar no âmbito do Município de Pacatuba/SE, nos exercícios de 2007 e 2008,

ACORDAM os Ministros do Tribunal de Contas da União, reunidos em Sessão Plenária, ante as razões expostas pelo Relator, em:

9.1. considerar a presente denúncia parcialmente procedente;9.2. com fundamento no art. 46 da Lei nº 8.443/1992, declarar a inidoneidade, pelo prazo de três

anos, das empresas Júlio Prado Vasconcelos Comércio e Representações Ltda., MD Distribuidora de Alimentos Ltda. e Serba Comércio de Alimentos Ltda. para participar de certames licitatórios com vistas à realização de despesas à conta de recursos federais;

9.3. com fundamento no art. 58, inciso II, da Lei nº 8.443/1992, aplicar ao Sr. Luiz Carlos dos Santos a multa no valor de R$ 12.000,00 (doze mil reais), fixando-lhe o prazo de 15 (quinze) dias, a contar da notificação, para que comprove, perante o Tribunal, nos termos do art. 214, inciso III, alínea “a”, do Regimento Interno/TCU, o recolhimento da dívida ao Tesouro Nacional, atualizada monetariamente desde a data do presente acórdão até a do efetivo recolhimento, se for paga após o vencimento, na forma da legislação em vigor;

9.4. com fundamento no art. 58, inciso II, da Lei nº 8.443/1992, aplicar aos Srs. Idelson Araújo Dias, Vilenário Rocha e Gileno dos Santos, individualmente, a multa no valor de R$ 3.000,00 (três mil reais), fixando-lhes o prazo de 15 (quinze) dias, a contar da notificação, para que comprovem, perante o Tribunal, nos termos do art. 214, inciso III, alínea “a”, do Regimento Interno/TCU, o recolhimento da dívida ao Tesouro Nacional, atualizada monetariamente desde a data do presente acórdão até a do efetivo recolhimento, se for paga após o vencimento, na forma da legislação em vigor;

9.5. caso solicitado, autorizar o pagamento das dívidas em até 24 (vinte e quatro) parcelas mensais e consecutivas, nos termos do art. 26 da Lei nº 8.443/1992, c/c art. 217 do Regimento Interno deste Tribunal, fixando-se o vencimento da primeira parcela em quinze dias, a contar do recebimento da notificação, e o das demais a cada trinta dias, devendo incidir sobre cada parcela, atualizada monetariamente, os juros de mora devidos, na forma prevista na legislação em vigor;

9.5.1. alertar aos responsáveis de que a falta de comprovação do recolhimento de qualquer parcela importará o vencimento antecipado do saldo devedor, nos termos do § 2º do art. 217 do Regimento Interno deste Tribunal;

9.6. autorizar, desde logo, nos termos do art. 28, inciso II, da Lei nº 8.443/1992, a cobrança judicial das dívidas, caso não atendida a notificação;

9.7. encaminhar cópia deste acórdão, acompanhada do relatório e voto que o fundamentam, ao Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão – MPOG e à Controladoria-Geral da União – CGU, para conhecimento e adoção das providências necessárias ao cumprimento do subitem 9.3 acima, em

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especial no que diz respeito à inscrição no Cadastro Nacional de Empresas Inidôneas e Suspensas – CEIS, criado por meio da Portaria CGU nº 516/2010;

9.8. remeter cópia desta deliberação, acompanhada do relatório e voto que a fundamentam, ao Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação – FNDE e à Procuradoria da República no Estado de Sergipe, para conhecimento e adoção das ações cabíveis;

9.9. dar ciência desta deliberação ao Município de Pacatuba/SE e a todos os membros do Conselho de Alimentação Escolar de Pacatuba/SE, para orientação, no que tange à observância das disposições contidas na Resolução FNDE/CD nº 38/2009, e ao denunciante;

9.10. retirar a chancela de “sigiloso” aposta aos autos;9.11. arquivar o presente processo.

10. Ata n° 35/2010 – Plenário.11. Data da Sessão: 22/9/2010 – Extraordinária de Caráter Reservado.12. Código eletrônico para localização na página do TCU na Internet: AC-2539-35/10-P.13. Especificação do quorum:13.1. Ministros presentes: Benjamin Zymler (na Presidência), Valmir Campelo, Augusto Nardes (Relator), Aroldo Cedraz, Raimundo Carreiro, José Jorge e José Múcio Monteiro.13.2. Auditor convocado: Marcos Bemquerer Costa.13.3. Auditores presentes: Augusto Sherman Cavalcanti, André Luís de Carvalho e Weder de Oliveira.

(Assinado Eletronicamente)BENJAMIN ZYMLER

(Assinado Eletronicamente)AUGUSTO NARDES

Vice-Presidente, no exercício da Presidência Relator

Fui presente:

(Assinado Eletronicamente)LUCAS ROCHA FURTADO

Procurador-Geral

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