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1. Leia o fragmento do ensaio de Antonio Candido “Literatura de dois gumes” para responder à questão. Vale a pena assinalar que, a representação mais realista encontrou no novo gênero do romance, a partir do decênio de 1840, um instrumento apto para efetuar verdadeira sondagem social. Desde o início a ficção brasileira teve inclinação pelo documentário e durante o século XIX foi promovendo uma espécie de grande exploração da vida na cidade e no campo, em todas as áreas, em todas as classes, revelando o País aos seus habitantes, como se a intenção fosse elaborar o seu retrato completo e significativo. CANDIDO, Antonio. “Literatura de dois gumes” In: A educação pela noite e outros ensaios . São Paulo: Ática, 2003, p. 172. O que Antonio Candido afirma, no fragmento, a respeito dos escritores de até o começo do século XX pode ser estendido para o autor de Caminhos Cruzados. Comente essa afirmativa. 2. Leia o trecho de um dos capítulo de Caminhos Cruzados para responder à questão: João Benévolo para na frente da vitrina dum restaurante: empadas, croquetes, perdizes assadas, um peru enorme pelado e temperado, pronto para ir para o forno; presuntos cor-de-rosa, frutas... João Benévolo olha e come mentalmente. O rei Baltasar está no seu festim. Os pajens trazendo enormes travessas onde os faisões assados fumegam. Os molhos vêm em terrinas de prata, perfumados e brilhantes. Mas a gente não pode ficar a vida inteira parado diante duma vitrina... João Benévolo continua a andar. Que estará acontecendo lá em casa? Faz... – ele conta nos dedos, uma, duas, três... – faz oito horas que saiu. Decerto não comeram nada. Ou comeram: d. Veva ficou com pena e mandou um prato. Ninguém morre de fome no Brasil. Já ouviu dizerem isso... (VERÍSSIMO, Érico. Caminhos cruzados. p. 320. Cia das Letras, 2016) Explique porque a frase Ninguém morre de fome no Brasil adquire tom de ironia no contexto do romance. Crianças Ladronas Já por várias vezes o nosso jornal, que é sem dúvida o órgão das mais legítimas aspirações da população baiana, tem trazido notícias sobre a atividade criminosa dos Capitães da Areia, nome pelo qual é conhecido o grupo de meninos assaltantes e ladrões que infestam a nossa urbe. (Jorge Amado, Capitães da Areia. São Paulo: Companhia das Letras, 2013, p. 9.) O Sem-Pernas já tinha mesmo (certo dia em que penetrara num parque de diversões armado no Passeio Público) chegado a comprar entrada para um [carrossel], mas o guarda o expulsou do recinto porque ele estava vestido de farrapos. Depois o bilheteiro não quis lhe devolver o bilhete da entrada, o que fez com que o Sem-Pernas metesse as mãos na gaveta da bilheteria, que estava aberta, abafasse o troco, e tivesse que desaparecer do Passeio Público de uma maneira muito rápida, enquanto em todo o parque se ouviam os gritos de: “Ladrão!, ladrão!” Houve uma tremenda confusão enquanto o Sem-Pernas descia muito calmamente a Gamboa de Cima, levando nos bolsos pelo menos cinco vezes o que tinha pago pela entrada. Mas o Sem-Pernas preferiria, sem dúvida, ter rodado no carrossel (...). (Idem, p. 63.) a) O primeiro excerto é representativo do conjunto de textos jornalísticos que iniciam Capitães da Areia. Que voz social eles expressam?

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1. Leia o fragmento do ensaio de Antonio Candido “Literatura de dois gumes” para responder à questão.

Vale a pena assinalar que, a representação mais realista encontrou no novo gênero do romance, a partir do decênio de 1840, um instrumento apto para efetuar verdadeira sondagem social. Desde o início a ficção brasileira teve inclinação pelo documentário e durante o século XIX foi promovendo uma espécie de grande exploração da vida na cidade e no campo, em todas as áreas, em todas as classes, revelando o País aos seus habitantes, como se a intenção fosse elaborar o seu retrato completo e significativo.

CANDIDO, Antonio. “Literatura de dois gumes” In: A educação pela noite e outros ensaios. São Paulo: Ática, 2003, p. 172.

O que Antonio Candido afirma, no fragmento, a respeito dos escritores de até o começo do século XX pode ser estendido para o autor de Caminhos Cruzados. Comente essa afirmativa.

2. Leia o trecho de um dos capítulo de Caminhos Cruzados para responder à questão:

João Benévolo para na frente da vitrina dum restaurante: empadas, croquetes, perdizes assadas, um peru enorme pelado e temperado, pronto para ir para o forno; presuntos cor-de-rosa, frutas...

João Benévolo olha e come mentalmente. O rei Baltasar está no seu festim. Os pajens trazendo enormes travessas onde os faisões assados fumegam. Os molhos vêm em terrinas de prata, perfumados e brilhantes. Mas a gente não pode ficar a vida inteira parado diante duma vitrina...

João Benévolo continua a andar. Que estará acontecendo lá em casa? Faz... – ele conta nos dedos, uma, duas, três... – faz oito horas que saiu. Decerto não comeram nada. Ou comeram: d. Veva ficou com pena e mandou um prato. Ninguém morre de fome no Brasil. Já ouviu dizerem isso...

(VERÍSSIMO, Érico. Caminhos cruzados. p. 320. Cia das Letras, 2016)

Explique porque a frase Ninguém morre de fome no Brasil adquire tom de ironia no contexto do romance.

Crianças Ladronas

Já por várias vezes o nosso jornal, que é sem dúvida o órgão das mais legítimas aspirações da população baiana, tem trazido notícias sobre a atividade criminosa dos Capitães da Areia, nome pelo qual é conhecido o grupo de meninos assaltantes e ladrões que infestam a nossa urbe. (Jorge Amado, Capitães da Areia. São Paulo: Companhia das Letras, 2013, p. 9.)

O Sem-Pernas já tinha mesmo (certo dia em que penetrara num parque de diversões armado no Passeio Público) chegado a comprar entrada para um [carrossel], mas o guarda o expulsou do recinto porque ele estava vestido de farrapos. Depois o bilheteiro não quis lhe devolver o bilhete da entrada, o que fez com que o Sem-Pernas metesse as mãos na gaveta da bilheteria, que estava aberta, abafasse o troco, e tivesse que desaparecer do Passeio Público de uma maneira muito rápida, enquanto em todo o parque se ouviam os gritos de: “Ladrão!, ladrão!” Houve uma tremenda confusão enquanto o Sem-Pernas descia muito calmamente a Gamboa de Cima, levando nos bolsos pelo menos cinco vezes o que tinha pago pela entrada. Mas o Sem-Pernas preferiria, sem dúvida, ter rodado no carrossel (...). (Idem, p. 63.)

a) O primeiro excerto é representativo do conjunto de textos jornalísticos que iniciam Capitães da Areia. Que voz social eles expressam?

b) O narrador, no segundo trecho, adere a um ponto de vista social que caracteriza a ficção de Jorge Amado. Que ponto de vista é esse?