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PRÁTICA TRABALHISTA – AUDIÊNCIA DR. JOSÉ ALBERTO BARBOSA JUNIOR/DR. THIAGO GOMES ADVOGADOS E PROFESSORES A audiência é o ato de se escutar, de atender, ou seja, consiste no ato praticado sob a presidência do juiz a fim de ouvir ou de atender as alegações das partes. [1] Na Justiça do Trabalho nos deparamos com três ritos processuais: Rito Sumário: Esse rito é regulado pela lei 5584/70 abrangendo as causas de pequeno valor que não excedam a dois salários mínimos. Tem como característica principal: as sentenças não permitem recursos, salvo se houve violação a constituição federal, portanto, fica limitado as questões constitucionais. O número de testemunhas por parte é de três. Rito Sumaríssimo: O procedimento sumaríssimo foi estabelecido e incluído na CLT (arts. 852-A/852-I) pela Lei 9.957/00, sendo aplicável exclusivamente aos dissídios individuais com o objetivo de tornar o processo trabalhista mais célere. O procedimento sumaríssimo será aplicável às causas cujo valor não exceda a quarenta vezes o salário mínimo vigente no momento do ajuizamento da demanda, conforme estabelece o art. 852-A da CLT. O parágrafo único do art. 852-A estabelece que estão excluídas do procedimento sumaríssimo as demandas em que seja parte a Administração Pública Direta, autárquica e fundacional. Ao assim dispor, a lei do procedimento sumaríssimo segue o entendimento disposto no art. 3º, I e § 2º da Lei 9.099/95, que também estabelece o valor da causa e exclui expressamente as lides de interesse da Fazenda Pública. O pedido, portanto, deverá ser certo (pedido claro) e determinado (o pedido deve ser um bem jurídico perfeitamente caracterizado na qualidade e na quantidade), indicando o valor correspondente. Não se admite a citação por edital, sendo dever do demandante indicar corretamente o nome e o endereço do demandado, resguardando a segurança do processo e a garantia do direito de defesa do réu. Rito Ordinário: Estão submetidas a esse rito as ações cujo valor da causa exceda a 40 salário mínimos. A reclamação pode

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PRÁTICA TRABALHISTA – AUDIÊNCIADR. JOSÉ ALBERTO BARBOSA JUNIOR/DR. THIAGO GOMES

ADVOGADOS E PROFESSORES

A audiência é o ato de se escutar, de atender, ou seja, consiste no ato praticado sob a presidência do juiz a fim de ouvir ou de atender as alegações das partes. [1]

Na Justiça do Trabalho nos deparamos com três ritos processuais:

Rito Sumário: Esse rito é regulado pela lei 5584/70 abrangendo as causas de pequeno valor que não excedam a dois salários mínimos. Tem como característica principal: as sentenças não permitem recursos, salvo se houve violação a constituição federal, portanto, fica limitado as questões constitucionais. O número de testemunhas por parte é de três.

Rito Sumaríssimo: O procedimento sumaríssimo foi estabelecido e incluído na CLT (arts. 852-A/852-I) pela Lei 9.957/00, sendo aplicável exclusivamente aos dissídios individuais com o objetivo de tornar o processo trabalhista mais célere. O procedimento sumaríssimo será aplicável às causas cujo valor não exceda a quarenta vezes o salário mínimo vigente no momento do ajuizamento da demanda, conforme estabelece o art. 852-A da CLT.

O parágrafo único do art. 852-A estabelece que estão excluídas do procedimento sumaríssimo as demandas em que seja parte a Administração Pública Direta, autárquica e fundacional. Ao assim dispor, a lei do procedimento sumaríssimo segue o entendimento disposto no art. 3º, I e § 2º da Lei 9.099/95, que também estabelece o valor da causa e exclui expressamente as lides de interesse da Fazenda Pública.O pedido, portanto, deverá ser certo (pedido claro) e determinado (o pedido deve ser um bem jurídico perfeitamente caracterizado na qualidade e na quantidade), indicando o valor correspondente. Não se admite a citação por edital, sendo dever do demandante indicar corretamente o nome e o endereço do demandado, resguardando a segurança do processo e a garantia do direito de defesa do réu.

Rito Ordinário: Estão submetidas a esse rito as ações cujo valor da causa exceda a 40 salário mínimos. A reclamação pode ser verbal ou escrita, admite-se a citação por edital e na fase instrutória pode cada parte apresentar até três testemunhas.

As partes e advogados sempre aguardam na sala de espera da Justiça do Trabalho, onde o escrevente chamará pelo microfone ou em voz alta o momento de entrar na sala de audiência.Atenção: nos processo eletrônicos (PJe), a defesa deve ser apresentada em até uma hora antes da audiência, sob pena de não ser reconhecida.Apesar da audiência ser una, ela pode ser interrompida nos seguintes casos: prova técnica; intimação da testemunha que, comprovadamente convidada não comparecer para prestar depoimento; carta precatória inquiritoria de testemunha, manifestação de documentos; acolhimento de nulidade processual por não observância do prazo mínimo de cinco dias para apresentação da defesa; retorno da citação postal com as seguintes observações: mudou-se, desconhecido, recusado, endereço insuficiente, não existe número no local indicado, falecido, ausente, ausência justificada, ...entre outros. [3]

O juiz conduz o processo primando pela verdade (Princípio da Primazia da Realidade) e pela justiça buscando a pacificação social. O juiz deve pensar mais em justiça e não ficar tão focado em técnica processual e desenvolver provas ex officio quando necessário.

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A conciliação é uma forma de por termo a uma lide, por conseguinte, ao processo, mediante a autocomposição. Dessa forma, todas as lides devem possuir uma intervenção do juiz, como regra, com o fim de tentar uma conciliação. [4]

O rito sumaríssimo não estipulou quantidade e nem oportunidade de o juiz propor a conciliação, podendo esta ocorrem em qualquer fase do processo, inclusive na executória, sendo assim, a lei nº 9957/2000 reafirma a intenção de que os litígios sejam resolvidos por conciliação entre as partes do processo. Porém, nos demais ritos, o juiz deve tentar a conciliação no início e no fim da audiência, sob pena de nulidade.

Em audiência, o procedimento deve ser respeitado nos seguintes termos:

- Reclamante deve se sentar ao lado esquerdo do juiz e a Reclamada ao lado direito, sendo que o preposto e o Reclamante devem ficar ao lado do advogado e falar somente quando solicitado pelo juiz.

- O escrevente fica ao lado do juiz, digitando tudo o que é solicitado pelo mesmo, bem como conferindo os documentos trazidos pelas partes. Este é o seu único papel em audiência.

- Não havendo conciliação, o juiz perguntará às partes quais provas pretendem produzir. Este é o momento de informá-lo de todas: oitiva da parte contrária, oitiva das testemunhas, prova pericial, etc.

- Primeiramente é ouvido o preposto da Reclamada e depois o Reclamante; Após, as testemunhas do Reclamante e as testemunhas da Reclamada.

- Ausência - O não comparecimento acarreta para o reclamante o arquivamento da ação e para a reclamada a pena de revelia e confissão (Art. 844 da CLT), em geral. Advogado faltar não causa arquivamento e nem Revelia, podendo a defesa ser oral, no prazo de 20 minutos.

- Tolerância de atraso – 15 minutos – art. 815, CLT.

- Contradita – Havendo testemunha que seja amiga, inimiga, que tenha interesse na causa, o advogado da parte deve alegar a contradita antes que a testemunha seja ouvida, sob pena de preclusão.

Contraditar testemunha significa questionar a parcialidade da testemunha da parte contrária. O deferimento ou indeferimento da contradita deve ser fundamentado, art. 93, IX, CF.

Testemunha, ainda que convidada por uma das partes, deve ser imparcial. E a CLT, em seu artigo 829, estabelece hipóteses em que se presume a parcialidade da testemunha.

Art. 829 - A testemunha que for parente até o terceiro grau civil, amigo íntimo ou inimigo de qualquer das partes, não prestará compromisso, e seu depoimento valerá como simples informação.

Atenção: Súmula nº 357 do TST - TESTEMUNHA. AÇÃO CONTRA A MESMA RECLAMADA. SUSPEIÇÃO (mantida) - Res. 121/2003, DJ 19, 20 e 21.11.2003 - Não torna suspeita a testemunha o simples fato de estar litigando ou de ter litigado contra o mesmo empregador.

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- Terminando as oitivas, o juiz tentará outro acordo. Não havendo, ele encerrará a instrução (caso não haja outra produção de prova), perguntando se as partes desejam prazo para Razões Finais ou não. A CLT, no art. 850, diz que: “Terminada a instrução, poderão as partes aduzir razões finais, em prazo não excedente de 10 (dez) minutos para cada uma. 

Caso você deseje apresentar Razões Finais (interessante), peça e o juiz, caso contrário, definirá como “razões finais remissivas.” Havendo complexidade na demanda, o juiz poderá determinar prazo de 5 dias para oferecê-las.

Finalidade das Razões Finais – Amaury Mascaro Nascimento, sustenta que as alegações finais: “consistem na oportunidade conferida às partes no processo para análise conclusiva das suas posições em face da prova produzida, com indicação dos aspectos que considerem relevantes e capazes de influir no convencimento do juiz.”

- Com a apresentação das Razões Finais, o juiz designará data para julgamento do feito.

Na ata de audiência devem ser registrados, resumidamente, os atos essenciais, afirmações fundamentais das partes e informações úteis das testemunhas, permitindo ao juiz decidir o que deve ser registrado ou não. Somente há necessidade de resumo das informações que sejam úteis à solução do conflito, devendo o juiz constar em ata apenas aquilo que julga ser conveniente, porém qualquer inconformismo, seja das partes ou dos advogados, em relação aos atos cometidos pelo juiz, deve ser registrado na ata de audiência pública.

A lei veda qualquer tipo de suspensão do processo, pois tem como objetivo a celeridade processual, assim sendo, incidentes e suspensões são decididos de plano ou na sentença.

Incidentes processuais são aqueles que devem ser decididos antes de outras questões processuais, pois mantém uma vinculação de subordinação lógica. Tem-se, como exemplo, carência de ação, prescrição e incidente de falsidade. Já, as exceções são divididas em exceção de incompetência, impedimento e suspensão. [5]

O processo trabalhista permite que as provas sejam produzidas em audiência, independentemente de requerimento antecipado, desde que sejam moralmente legitimas para que se prove a veracidade dos fatos alegados pelas partes.

No procedimento sumaríssimo, a parte deverá se manifestar imediatamente sobre os documentos, na própria audiência, exceto quando houver absoluta impossibilidade. Essa impossibilidade será averiguada pelo juiz, podendo ceder ou não, prazo para a manifestação.

Apesar de dispor a lei que os documentos novos apresentados em audiência deverão ser vistos pela parte contraria na própria audiência, haverá situações, pela complexidade ou volume dos documentos, que tal não pode ser possível. Nesses casos a lei permite análise dos documentos em outra oportunidade, requerendo prazo para manifestação. [6]

As partes devem comparecer a audiência com suas testemunhas e, assim como no procedimento ordinário, no sumaríssimo também não há rol de testemunhas.

Elas serão convidadas a prestar o seu depoimento independente de intimação, porém, pode haver situações em que a testemunha deixa de comparecer. Neste caso, sendo o rito sumaríssimo, o juiz determina a intimação da testemunha faltosa, devendo, a parte, comprovar que formulou o convite à testemunha, podendo este ser efetuado por qualquer meio de prova – seja documental ou testemunhal, porém, sendo o rito ordinário, a parte não precisa comprovar a convocação. [7]. Se, mesmo com intimação judicial a testemunha

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faltar, será determinada a sua condução coercitiva, via oficial de justiça, prezando o principio da celeridade processual do procedimento sumaríssimo.

A prova pericial é permitida e é chamada de prova técnica, podendo esta ser determinada de ofício ou por requerimento (insalubridade, periculosidade, doença adquirida no trabalho, etc).

Apresentado o laudo pelo perito, as partes devem se manifestar no prazo de cinco dias e buscando sempre a celeridade processual, as partes têm prazo em comum e não sucessivas, ficando vedada a retirada dos autos da secretaria.

Dessa forma, a audiência torna-se menos técnica e reza pelos princípios que o próprio procedimento sumaríssimo impõe na sua lei – destacando a efetividade e a celeridade processual.

Em todo e qualquer caso, vá para audiência preparado, em sintonia com seu cliente e com os direitos que ele tem, com todas as perguntas formuladas adequadamente e nunca instrua a testemunha a mentir, pois poderá responder por falso testemunho.

O direito do seu cliente sempre estará em suas mãos e os seus honorários são reflexos do seu belo trabalho.

Referências

[1] MARTINS, Sério Pinto. Comissão de conciliação prévia e procedimento sumaríssimo. 2ªed. São Paulo: Atlas, 2001. p. 85

[2] BEEBER, Júlio César. Procedimento sumaríssimo no processo do trabalho. São Paulo: Ltr, 2000. p. 40

[3] RAMOS, Alexandre. Procedimento sumaríssimo e comissão de conciliação prévia. Florianópolis: OAB/SC, 2000. p. 96

[4] RAMOS, Alexandre. Procedimento sumaríssimo e comissão de conciliação prévia. Florianópolis: OAB/SC, 2000. p. 80

[5] NORRIS, Roberto; NETO, José Afonso Dellegrave. Inovações no processo do trabalho: procedimento sumaríssimo (lei 9957/2000) e comissão de conciliação prévia (lei 9958/2000). Rio de Janeiro: Forense, 2000. p. 18

[6] BORGES, Leonardo Dias; MENEZES, Claudia Armando Couce de. O moderno processo do trabalho 3: procedimento sumaríssimo trabalhista, comissão de conciliação prévia e execução de título executivo extrajudicial na justiça do trabalho. São Paulo: Ltr, 2000. p. 20.

[7] BEEBER, Júlio César. Procedimento sumaríssimo no processo do trabalho. São Paulo: Ltr, 2000. p. 40