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    Webjornalismo: Da pirmideinvertida pirmide deitada

    Joo CanavilhasUniversidade da Beira Interior

    ndice

    1 Introduo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 22 Tcnicas de redaco . . . . . . . . . . . . . . . . . . 43 Amostra e Metodologia . . . . . . . . . . . . . . . . . 8

    4 Resultados . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 95 Concluso . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 106 Bibliografa . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16

    Resumo

    Falar de jornalismo falar da pirmide invertida, uma tcnica deredaco fundamental, mas que tem levantado grandes polmicasnos meios profissional e acadmico. Esta polmica renovou-secom o aparecimento do jornalismo na Internet, pois alguns dospressupostos que levaram os jornalistas a adoptar tcnica de re-daco deixam de fazer sentido devido s caractersticas da web.Desde logo porque o espao disponvel num webjornal deixa deser finito, anulando a necessidade de escrever condicionado pelapossibilidade do editor poder efectuar cortes no texto para o encai-xar num determinado espao. Por outro lado, o hipertexto permiteao utilizador definir os percursos de leitura em funo dos seus in-teresses pessoais pelo que a redaco da notcia deve ter em contaesse factor.

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    Recorrendo tcnica da pirmide invertida, o jornalista orga-niza a notcia colocando a informao mais importante no incioe o menos importante do final, pelo que o leitor apenas pode efec-tuar a leitura seguindo o roteiro definido pelo jornalista.

    E o que faro os leitores se essa notcia for dividida em vriosblocos de texto ligados atravs de links?

    Para observar os percursos de leitura de notcias na web, orga-nizou-se uma experincia onde se convidavam os leitores a efec-tuarem a leitura de uma notcia constituda por vrios blocos deinformao ligados atravs de hipertexto. A anlise dos dadospermite concluir que existem diferentes padres de leitura quedeixam antever a necessidade de adoptar um novo paradigma naorganizao de informao de cariz jornalstico.

    1 Introduo

    O desenvolvimento dos meios de comunicao social est intima-mente relacionado com os avanos que ocorreram nos mtodosde difuso. A imprensa norte-americana, por exemplo, registouum perodo de franco desenvolvimento em paralelo com o cresci-mento dos caminhos-de-ferro norte-americanos, pois desta formaos jornais puderam aumentar de forma substancial a sua rea deinfluncia. Aconteceu o mesmo com a rdio e a televiso: graasaos avanos tcnicos na distribuio do sinal, estes meios conse-guiram a cobertura total dos respectivos pases por via hertzianae, mais recentemente, uma dimenso global graas aos satlites.

    Tal como aconteceu nos meios tradicionais, o desenvolvimento

    do webjornalismo tambm est umbilicalmente ligado aos pro-cessos de aperfeioamento da sua difuso. A identificao deuma linguagem que tire partido das caractersticas oferecidas pelomeio, por exemplo, tem sido condicionada pela instabilidade re-sultante do rpido desenvolvimento das tecnologias de acesso epelo desequilbrio geogrfico que se verifica no campo do acesso Internet.

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    De acordo com a Internet World Stats1, em Novembro de2005 existiam cerca de 972 milhes de utilizadores de Internetno mundo. Porm, a taxa de penetrao2 ainda muito baixa(15,2%) e, sobretudo, bastante desequilibrada. Enquanto Am-rica do Norte (68%) e Ocenia (52,9%) apresentam taxas inte-ressantes, outras regies como a Amrica Latina (13,3%), a sia

    (9,2%) e a frica (2,7%) tm ainda taxas de penetrao bastantereduzidas.No caso de Portugal3, o nmero de ligaes tem aumentado

    a um ritmo muito interessante, porm este crescimento acontecefundamentalmente nas ligaes de baixa velocidade do tipo dial-up. Se em 1998 existiam em Portugal 172.698 utilizadores, no anode 2005 eram j 5.593.770, mas apenas 19% dispunham de umaligao em banda larga. Estes nmeros apontam para uma taxa depenetrao de 10,2%, um valor que coloca Portugal ligeiramenteabaixo da mdia da Unio Europeia, mas frente de pases comoa Alemanha, a Espanha ou a Itlia, por exemplo.

    Embora o nmero de utilizadores em todo o mundo tenha atin-gido uma dimenso interessante, o ritmo de crescimento da bandalarga condiciona o tipo de contedos oferecidos pelo jornalismoque se faz na web. Naturalmente, as publicaes apostaram nasnotcias baseadas em texto verbal escrito, j que o download daspginas relativamente rpido mesmo para acessos de baixa ve-locidade. por isso que o texto continua a ser o elemento maisusado no jornalismo que se faz na web, mas este no o nicomotivo para que tal se verifique.

    No final da dcada de 80, a edio electrnica j se tinha ge-

    neralizado entre a imprensa escrita. Um pouco por todo o mundo,os jornais comearam a investir em informtica e em softwares de

    1http://www.internetworldstats.com/stats.htm2Frmula de clculo: (Nmero total de clientes) / (populao total)3Informao retirada de Servios de Transmisso de Dados/Servio de

    Acesso Internet 2o trimestre de 2003 (http://www.icp.pt/template12_print.jsp?categoryId=6247) e Informao Estatstica dos Servios de Transmisso deDados da Anacom (http://www.anacom.pt/template12.jsp?categoryId=161942

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    edio que lhes permitiam trabalhar de uma forma mais rpida epermitindo um fecho de edio mais tardio. Por isso, no momentoem que ocorre o grande boom da Internet, os jornais j tinham assuas notcias digitalizadas pelo que, quase sem custos adicionais,avanaram para edies online (Edo, 2002, 103), disponibilizandoas mesmas notcias da verso impressa.

    Para alm das questes de cariz tcnico, as dificuldades eco-nmicas tambm tm colocado alguns entraves ao desenvolvi-mento do webjornalismo. As estatsticas apresentadas na pginaanterior permitem concluir que as taxas de penetrao mais altascoincidem com os pases mais desenvolvidos, porm, as questesde ordem econmica no se resumem infra-estrutura de distri-buio, nem ao nmero de equipamentos de acesso, pois emborasejam dados importantes, situam-se ambos no lado da recepo.No sector da emisso, as dificuldades inerentes viabilizao eco-nmica dos meios online levou as empresas a recorrerem aos con-tedos j existentes e o elemento comum aos vrios meios - im-prensa escrita, rdio e televiso - o texto que serve de base snotcias. Desta forma, foi com alguma naturalidade que o jorna-lismo na web se desenvolveu num modelo muito semelhante aodo jornalismo escrito, adoptando as mesmas tcnicas de redacousadas na imprensa escrita.

    2 Tcnicas de redaco

    Desde sempre, as tcnicas de redaco jornalstica ocuparam umlugar de destaque nos cursos superiores de jornalismo. No ter-

    ceiro quartel do sculo XIX, os Estados Unidos iniciavam os cur-sos superiores de jornalismo, enfatizando o treino da escrita e dapaginao4. O desenvolvimento posterior vir a conduzir o jor-nalismo para o campo das Cincias Sociais, tendo sido criado umcampo de investigao prprio: as Cincias da Comunicao.

    Arrumada a discusso acadmica, persiste a polmica em tornodo acesso profisso. O Brasil, por exemplo, discutiu recente-

    4Traquina, Nelson (2002) Jornalismo, Lisboa: Quimera

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    mente esta questo, tendo permanecido a obrigatoriedade da li-cenciatura para aceder ao jornalismo. J no caso portugus pos-svel ter a carteira profissional apenas com o ensino secundriocompleto, seguido de um perodo de estgio. Apesar disso, o n-mero de licenciaturas em jornalismo tem crescido rapidamente emPortugal, com algumas mais viradas para a componente prtica e

    outras a preferirem uma slida formao terica nas reas de cin-cias sociais. A opo por uma ou outra via pode observar-se noscurrculos oferecidos pelas escolas de jornalismo, mas uma an-lise atenta permite encontrar um ponto em comum: a existnciade contedos relacionados com as tcnicas de redaco.

    De uma forma geral, os programas da disciplina de tcnicasde redaco jornalstica referem que se trata de uma introduoterico-prtica s escritas linguagens, estilos e gneros jornalsti-cos, matrias onde a pirmide invertida referenciada como umadas tcnicas fundamentais no jornalismo escrito.

    A tcnica da pirmide invertida pode resumir-se em poucaspalavras: a redaco de uma notcia comea pelos dados maisimportantes a resposta s perguntas O qu, quem, onde, como,quando e por qu seguido de informaes complementares or-ganizadas em blocos decrescentes de interesse.

    Figura 1

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    Esta arquitectura noticiosa nasceu durante a Guerra da Seces-so, nos Estados Unidos da Amrica. O telgrafo, a grande ino-vao tcnica daquela poca, possibilitava aos jornalistas o enviodirio das suas crnicas de guerra. Porm, esta tecnologia aindano tinha uma grande fiabilidade tcnica e, pior do que isso, ospostes que suportavam os fios do telgrafo eram um alvo muito

    apetecido para as tropas, pelo que o sistema estava muitas vezesinoperante. Para assegurar iguais condies de envio, jornalis-tas e operadores de telgrafo estabeleceram uma regra de funci-onamento que no prejudicasse o trabalho dos profissionais dainformao: cada jornalista enviaria o primeiro pargrafo do seutexto e, aps uma primeira ronda, iniciava-se uma outra volta paraque todos enviassem o segundo pargrafo do texto. (Fontcuberta,1999, 58 e ss).

    Esta regra de funcionamento obrigou os jornalistas a alterarema tcnica de redaco mais utilizada at ento. Em lugar do habi-tual relato cronolgico dos acontecimentos, os jornalistas passa-ram a organizar os factos por valor noticioso, colocando os dadosmais importantes no incio do texto e garantindo assim a chegadados dados essenciais aos seus jornais. A tcnica viria a ser bapti-zada como Pirmide Invertida por Edwin L. Shuman no seu livroPractical Journalism, (Salaverria, Ramn, 2005, 109), tornando-se numa das regras mais conhecidas no meio jornalstico.

    Apesar da eficcia na transmisso rpida e sucinta de notcias,a aplicao desta tcnica tende a transformar o trabalho jornals-tico numa rotina, deixando pouco campo criatividade e tornandoa leitura das notcias pouco atractiva, pelo que a importncia desta

    tcnica tem sido objecto de muitas polmicas.Com o aparecimento do jornalismo na Web, esta discusso ga-

    nhou novo flego. Autores como Jacob Nielsen (1996), RosentalAlves5 ou Jos lvarez Marcos6, insistem na importncia da pir-mide invertida nos meios online. Outros, como Ramon Salaverria

    5Ver entrevista efectuada por Carlos Castilho em http://observatorio.ultimosegundo.ig.com.br/artigos.asp?cod=311ENO002

    6Texto no Manual de Redaccin Periodstica (ver bibliografa)

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    (2005, 112 y ss) reconhecem a importncia desta tcnica nas no-tcias de ltima hora7, mas consideram-na uma tcnica limitadoraquando se fala de outros gneros jornalsticos que podem tirarpartido das potencialidades do hipertexto.

    Partilhamos desta ltima opinio, pois consideramos que atcnica em causa est intimamente ligada a um jornalismo muito

    limitado pelas caractersticas do suporte que utiliza o papel.Usar a tcnica da pirmide invertida na web cercear o webjor-nalismo de uma das suas potencialidades mais interessantes: aadopo de uma arquitectura noticiosa aberta e de livre navega-o.

    Nas edies em papel o espao finito e, como tal, toda a or-ganizao informativa segue um modelo que procura rentabilizara mancha disponvel. O jornalista recorre a tcnicas que procu-ram encontrar o equilbrio perfeito entre o que se pretende dizere o espao disponvel para o fazer, pelo que o recurso pirmideinvertida faz todo o sentido. O editor pode sempre cortar um dosltimos pargrafos sem correr o risco de cortar o sentido notcia.

    Nas edies online o espao tendencialmente infinito. Po-dem fazer-se cortes por razes estilsticas, mas no por questesespaciais. Em lugar de uma notcia fechada entre as quatro mar-gens de uma pgina, o jornalista pode oferecer novos horizontesimediatos de leitura atravs de ligaes entre pequenos textos eoutros elementos multimdia organizados em camadas de infor-mao.

    Esta proposta no inovadora, nem se aplica exclusivamenteao jornalismo. Autores como Robert Darnton8 (1999) salientam a

    importncia do hipertexto nas publicaes acadmicas, por exem-plo. Este investigador salienta as potencialidades do ambienteweb como alternativa para as publicaes que no encontram es-pao no papel. Porm, Darnton avisa que publicar na web implicauma nova arquitectura e prope uma estrutura piramidal por ca-

    7Ver comentario en http://observatorio.ultimosegundo.ig.com.br/artigos.asp?cod=311ENO003

    8http://www.nybooks.com/articles/546

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    madas. A arquitectura sugerida pelo autor evolui em seis cama-das de informao: uma primeira com o resumo do assunto; umasegunda com verses alargadas de alguns dos elementos domi-nantes, mas organizadas como elementos autnomos; um terceironvel de informao com mais documentao de vrios tipos so-bre o assunto em anlise; um quarto nvel de enquadramento, com

    referncias a outras investigaes no campo de investigao; umquinto nvel pedaggico, com propostas para discusso do temanas aulas; por fim, a sexta e ltima camada com as reaces dosleitores e suas discusses com o autor. Um novo livro deste tipodaria origem a uma nova forma de leitura. Alguns leitores pode-riam ficar satisfeitos com o estudo das narrativas superiores. Ou-tros poderiam preferir uma leitura vertical, seguindo certos temasat s zonas mais profundas da documentao. (Darnton, 1999)

    Embora este modelo tenha sido proposto para documentosacadmicos, a sua adaptao ao jornalismo faz todo o sentido,pelo que se produziu uma notcia com uma arquitectura deste g-nero para esta investigao.

    3 Amostra e Metodologia

    Preparou-se uma notcia com 10 pginas web ligadas atravs delinks em menu e links embutidos9 no texto. A organizao da no-tcia seguiu uma arquitectura por nveis de informao (fig. 2),com um texto inicial10 contendo 5 links embutidos direcciona-dos a um segundo nvel de informao. Trs dos 5 textos de se-gundo nvel incluam um link embutido para um terceiro nvel e

    um menu de navegao com links para todos os textos do mesmonvel ou nvel anterior.

    9Por links embutidos consideram-se os links colocados no prprio corpodo texto

    10O texto aqui referido como inicial era, efectivamente, o segundo. Po-rm, como tinha apenas um link para mais informaes, no foi consideradoneste estudo, servindo apenas para anular analisar se os usurios estavam fami-liarizados com a utilizao de hipertexto. Esta estratgia permitiu anular cincoleitores que no executaram nenhuma aco para alm da leitura deste texto.

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    Os links embutidos conduziam sempre ao nvel de informaoseguinte.

    Figura 2

    Aos elementos da amostra, 39 alunos da Universidade da BeiraInterior, foi dito que deveriam ler a notcia da forma como o fazemhabitualmente, no havendo limite de tempo para a leitura.

    No computador usado para a experincia foi instalado o pro-grama Camtasia Studio com o objectivo de filmar todos os movi-mentos efectuados com o rato e, consequentemente, os percursosde leitura.

    4 ResultadosO tratamento dos dados permitiu retirar as seguintes concluses:

    a) 76,5% dos utilizadores passou ao segundo nvel seguindo oprimeiro link embutido no texto. Deste grupo, 57,7% passou parao terceiro nvel da notcia, seguindo o nico link embutido nestesegundo texto.

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    No outro texto de segundo nvel com enlace embutido, 67,6%dos utilizadores seguiu esse link para o terceiro nvel.

    b) 23 % dos leitores tem uma rotina de leitura por nvel: se-guem o link no local onde est inserido, regressando de seguidaao texto inicial.

    c) 77% segue o seu prprio percurso de leitura: no primeiromomento em que os leitores foram confrontados com vrios links(5) identificaram-se 5 percursos diferentes; no segundo passo avariedade de percursos subiu para 11 e no terceiro j existiam 22percursos de leitura diferentes, em 55 possveis;

    d) 11,1% dos leitores seguiram um percurso de leitura idn-tico, fazendo 11 passos iguais.

    5 ConclusoO trabalho de redaco implica jogar com duas variveis: di-menso (quantidade de dados) e estrutura (arquitectura da no-tcia). A correcta manipulao das variveis obriga os jornalistasa optarem pelas tcnicas de redaco que mais se adequam scaractersticas do meio, dando mais importncia a uma ou outravarivel. Compreende-se, pois, que as prioridades do jornalistada imprensa em papel sejam diferentes das prioridades do web-jornalista: enquanto o primeiro d primazia dimenso do texto,recorrendo a rotinas estilsticas que permitem encaix-lo no es-

    pao definido, o segundo deve centrar a sua ateno na estruturada notcia, uma vez que o espao tendencialmente ilimitado.

    a) Estrutura da webnotciaEstruturar uma notcia na web implica a produo de um guioque permita visualizar a sua arquitectura, nomeadamente a orga-

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    nizao hierrquica dos elementos multimdia e suas ligaes in-ternas.

    A flexibilidade do meios online permite organizar as infor-maes de acordo com as diversas estruturas hipertextuais. Cadainformao, de acordo com as suas peculiaridades e os elementosmultimdia disponveis, exige uma estrutura prpria. (Salaver-

    ria, 2005, 108).Estas estruturas podem ser lineares, reticulares ou mistas (DiasNoci y Salaverria, 2003, 125-132). No caso da estrutura linear, amais simples, os blocos de texto esto ligados atravs de um oumais eixos. O grau de liberdade de navegao condicionado,uma vez que o leitor no pode saltar de um eixo para outro. Seexistir apenas um eixo, teremos uma estrutura unilinear. Se exis-tirem vrios eixos, a estrutura passa a ser multilinear, com vriashistrias contadas em diferentes eixos sem ligao entre si.

    Como o prprio nome indica, uma estrutura reticular no temeixos de desenvolvimento predefinidos: trata-se de uma rede detextos de navegao livre que deixa em aberto todas as possibili-dades de leitura.

    Por fim, as estruturas mistas apresentam nveis do tipo lineare outras de tipo reticular. A leitura perde algum grau de liberdadequando comparada com o modelo anterior, mas tem a vantagemde oferecer pistas de leitura bem definidas.

    Independentemente do tipo de estrutura hipertextual, o recursoa estas arquitecturas informativas implica um afastamento em re-lao pirmide invertida. E aqui que os investigadores di-vergem, pois embora quase todos defendam uma nova linguagem

    para o webjornalismo, muitos insistem ainda na aplicao da pi-rmide invertida no webjornalismo, reforando a lgica organiza-tiva em que os factos mais importantes aparecem no incio e osmenos importantes no final da notcia.

    Os dados recolhidos nesta investigao apontam noutro sen-tido. Apesar da notcia ter sido construda numa lgica de cama-das de informao, os leitores optaram por seguir determinados

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    assuntos at ao limite da informao disponvel, seguindo os linksembutidos e saltando de nvel de informao. (figura 3)

    Figura 3

    Este comportamento aponta no sentido das tcnicas de redac-o na web implicarem uma mudana de paradigma em relaoao que se verifica na imprensa escrita. Se no papel, a organizaodos dados evolui de forma decrescente em relao importnciaque o jornalista atribui aos dados, na web o leitor quem define o

    seu prprio percurso de leitura. A tcnica da pirmide invertida,preciosa na curta informao de ltima hora, perde a sua efic-cia em webnotcias mais desenvolvidas, por condicionar o leitor arotinas de leitura semelhantes s da imprensa escrita.

    b) Um novo paradigmaA identificao de 22 percursos de leitura diferentes logo no ter-ceiro momento de interaco levanta uma questo importante: a

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    aplicao de uma tcnica baseada na organizao dos factos pelaimportncia que o jornalista lhe atribui a mais aconselhada parao jornalismo que se faz num meio interactivo?

    Consideramos que no. Os dados deste estudo aconselhamo webjornalismo a adoptar um paradigma diferente daquele queest subjacente utilizao da tcnica da pirmide invertida.

    lgica organizativa assente na importncia dos factos deve su-ceder uma outra assente na quantidade de informao oferecidaaos leitores. Se o eixo vertical que vai do vrtice superior baseda pirmide invertida significa que o topo mais importante quea base, ento a pirmide deve mudar de posio, procurando-sedesta forma fugir hierarquizao da notcia em funo da im-portncia dos factos relatados. Como se viu, os dados recolhidosindiciam que a organizao escolhida pelo jornalista no coincidecom o interesse do leitor, pelo que a tcnica da pirmide invertidapode significar a perda de leitores, uma das razes que justificama sua utilizam no papel.

    No webjornalismo, a quantidade (e variedade) de informa-o disponibilizada a varivel de referncia, com a notcia adesenvolver-se de um nvel com menos informao para sucessi-vos nveis de informao mais aprofundados e variados sobre otema em anlise. (figura 4)

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    Figura 4

    Embora estejam claramente definidos os nveis de informa-o, no h uma organizao dos textos em funo da sua im-portncia informativa, mas uma tentativa de assinalar pistas deleitura.

    Por aproximao representao grfica da tcnica da pir-mide invertida, verificamos que esta arquitectura sugere uma pi-rmide deitada. Tal como acontece na pirmide invertida, o leitorpode abandonar a leitura a qualquer momento sem perder o fioda histria. Porm, neste modelo -lhe oferecida a possibilidadede seguir apenas um dos eixos de leitura ou navegar livrementedentro da notcia.

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    Figura 5

    Prope-se uma pirmide deitada com quatro nveis de leitura:A Unidade Base o lead responder ao essencial: O qu,

    Quando, Quem e Onde. Este texto inicial pode ser uma notcia deltima hora que, dependendo dos desenvolvimentos, pode evoluirou no para um formato mais elaborado.

    O Nvel de Explicao responde ao Por Qu e ao Como, com-

    pletando a informao essencial sobre o acontecimento.No Nvel de Contextualizao oferecida mais informao

    em formato textual, vdeo, som ou infografia animada sobrecada um dos Ws.

    O Nvel de Explorao, o ltimo, liga a notcia ao arquivoda publicao ou a arquivos externos. Da mesma forma que aquebra dos limites fsicos na web possibilita a utilizao de umespao praticamente ilimitado para disponibilizao de material

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    noticioso, sob os mais variados formatos (multi)mediticos, abre-se a possibilidade de disponibilizao online de todas a informa-o anteriormente produzida e armazenada, atravs de arquivosdigitais, com sistemas sofisticados de indexao e recuperao deinformao (Palcios, 2003, 25)

    Esta arquitectura exige um novo tipo de jornalista um pro-

    fissional que tem neste tipo de trabalho uma alta percentagem dedocumentalista, que seja capaz de expor com eficcia o relato dosacontecimentos e os comentrios produzidos nos distintos supor-tes possibilitados pelo ecr do computador. (Edo, 2002, 70).

    Em suma, a pirmide deitada uma tcnica libertadora parautilizadores, mas tambm para os jornalistas. Se o utilizador tema possibilidade de navegar dentro da notcia, fazendo uma leiturapessoal, o jornalista tem ao seu dispor um conjunto de recursosestilsticos que, em conjunto com novos contedos multimdia,permitem reinventar o webjornalismo em cada nova notcia.

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