Upload
others
View
0
Download
0
Embed Size (px)
Citation preview
Mídias Sociais, Saberes e Representações Salvador - 13 e 14 de outubro de 2011
WEBLOGS COMO FERRAMENTAS DE SOCIABILIDADE: A EXPERIÊNCIA DO
WEBLOG JUVENTUDE CLICHÊ NA CONSTRUÇÃO COLETIVA DE CONTEÚDO
Fábio Carvalho dos Santos1
Julianna Nascimento Torezani2
Resumo: Aborda características da Internet como uma rede fundamentada na coletividade e o
desenvolvimento de aplicações que facilitam e organizam o processo de criação e publicação
de conteúdo no ambiente on-line. Destacando os weblogs como importantes e democráticos
veículos de comunicação da atualidade, evidencia a experiência do weblog Juventude Clichê
como instrumento de sociabilidade que incentiva, de maneira coletiva, a construção de
conteúdo e o compartilhamento de conhecimentos entre um determinado público na Internet.
Palavras-chave: Internet, sociabilidade, weblogs.
Abstract: Discusses features of the Internet as a network based on community and the
development of applications that facilitate and organize the process of creating and publishing
content in an online environment. Highlighting weblogs as important and democratic means
of communication today, highlights the experience of Youth Cliché weblog as an instrument
of socialization that encourages, collectively, the construction of content and knowledge
sharing among a particular audience on the Internet.
Keywords: Internet, sociability, weblogs.
Introdução
Desde o seu surgimento, a Internet vem provocando inúmeras mudanças no campo da
comunicação. Criada inicialmente para fins bélicos, não se condicionou a limitada função de
estabelecer contatos entre bases militares específicas (CASTELLS, 1999; PINHO 2003),
colaboradores visionários enxergaram na nova tecnologia inúmeras potencialidades,
transformando-a em uma das maiores e mais bem sucedidas infra-estruturas para a
comunicação. Na última década, a Internet vem se firmando como uma tecnologia de
1 Graduado em Comunicação Social - Jornalismo pela União Metropolitana de Educação e Cultura.
Graduando em Ciências Econômicas pela Universidade Estadual de Santa Cruz. E-mail:
[email protected]. 2 Coordenadora e docente do curso de Comunicação social – Jornalismo da União Metropolitana de
Educação e Cultura das disciplinas Fotografia e Fotojornalismo. Mestre em Cultura e Turismo,
Bacharel em Comunicação Social – Rádio e TV. E-mail: [email protected].
informação que abre novas perspectivas à sociedade do futuro, propiciando o surgimento de
conceitos e estruturas comunicacionais que, constantemente, reorganizam a sociedade na
medida em que surgem novos recursos adaptados à rede (DIZARD JR, 2000; LEMOS 2004).
Reflexos do surgimento de novas ferramentas para Internet não se restringem apenas
às melhorias tecnológicas, como a rapidez na troca de informações, proporcionam também
reformulações em campos sociais e profissionais, permitindo a exploração de novos canais de
comunicação adaptados aos recursos hipermidiáticos. Os weblogs, ferramentas que facilitam a
publicação de conteúdo no meio on-line, vêm conquistando cada vez mais adeptos, ampliando
significativamente a participação na construção da informação e compondo veículos de mídia
mais democráticos para inserção de conteúdo dos mais variados na rede (ORDUÑA et al.
2007; AMARAL et al. 2009). O weblog Juventude Clichê, como exemplo de um ambiente
sócio virtual com as dinâmicas características da Internet, permite, através do recurso CMS
(Content Management System – Sistema de Gerenciamento de Conteúdo), a participação e
colaboração dos seus usuários para construção coletiva de conteúdo, incentivando a
sociabilidade para troca de conhecimentos e experiências, constituindo assim um potencial
comunicativo devido à sua capacidade interativa, hipertextual e hipermidiática.
Internet: a descentralizada rede da coletividade
Ao longo da década de 1960 surgem conceitos fundamentais do que hoje conhecemos
como Internet. No auge da Guerra Fria e de uma disputa tecnológica militar entre os Estados
Unidos e a União Soviética, os norte-americanos desenvolvem a ARPAnet, uma rede de
computadores com o objetivo de manter um sistema de comunicação descentralizado entre as
principais bases militares dos Estados Unidos (CASTELLS, 2003). Posteriormente, a
integração de universidades norte-americanas ao projeto ARPAnet acresceu fins acadêmicos
através da difusão e compartilhamento de informações e resultados (PINHO, 2003),
colaborações da comunidade científica e dos estudantes de ciência da computação permitiram
o desenvolvimento de aplicações que foram essenciais para expansão da rede que inicia seu
processo evolutivo tendo como base fundamentos da liberdade de pensamento e inovação.
A história da criação e do desenvolvimento da Internet é a história de uma aventura
humana extraordinária. Ela põe em relevo a capacidade que têm as pessoas de
transcender metas institucionais, superar barreiras burocráticas e subverter valores
estabelecidos no processo de inaugurar um mundo novo. Reforça também a idéia de
que a cooperação e a liberdade de informação podem ser mais propicias à inovação
do que a competição e os direitos de propriedade (CASTELLS, 2003, p. 13).
Caracterizada por uma arquitetura aberta que proporcionou cooperação mútua, a
Internet ganha força a partir de um desenvolvimento autônomo. Hoje, de acordo com Dizard
Jr. (2000, p. 53-54), estamos vivendo a terceira transformação na mídia de massa e, nas
palavras do autor, “essa transformação envolve uma transição para a produção, armazenagem
e distribuição de informação e entretenimento estruturadas em computadores”, representando
uma das mais importantes ferramentas para a informação das últimas décadas. Para Lemos
(2004, p. 12), “a Internet encarna a presença da humanidade a ela própria, já que todas as
culturas, todas as disciplinas, todas as paixões aí se entrelaçam”, estabelecendo uma
conectividade não-hierárquica que proporciona uma variedade de conteúdo que se multiplica
na medida em que computadores podem se beneficiar uns dos outros, transformando-se em
uma gigante infra-estrutura denominada “ciberespaço”.
O modelo informatizado, cujo exemplo é ciberespaço, é aquele onde a forma do
rizoma (redes digitais) se constitui numa estrutura comunicativa de livre circulação
de mensagens, agora não mais editada por um centro, mas disseminada de forma
transversal e vertical, aleatória e associativa. A nova racionalidade dos sistemas
informatizados age sobre um homem que não mais recebe informações homogêneas
de um centro “editor-coletor-distribuidor”, mas de forma caótica, multidirecional,
entrópica, coletiva e, ao mesmo tempo, personalizada (LEMOS, 2004, p. 70).
A Internet é uma organização social mais democrática, fomentada pela elaboração,
processamento e transmissão de informações que circulam de forma livre no extenso mundo
do ciberespaço, como afirma Santaella (2007, p. 15), ao dizer que “através do ciberespaço o
homem tem a possibilidade de se relacionar com todos e incluir a todos, reunindo inúmeras
faces em um objetivo comum”, objetivo esse amparado por uma hipertextualidade que,
segundo Johnson (2001, p. 84), “sugere uma nova gramática de possibilidades, uma nova
maneira de escrever e narrar”, provocando mudanças até mesmo na forma como as pessoas se
comunicam umas com as outras. A comunicação mediada por computador (CMC) é um
fenômeno real que desempenha uma função cada vez mais definitiva na formação da futura
cultura, alcançando toda a esfera de atividades sociais (CASTELLS, 1999), proporcionando
interação em um processo dinâmico característico da Internet.
De acordo com Recuero (2009, p. 80), “os processos dinâmicos das redes são
consequência direta dos processos de interação entre os seus atores” e a possibilidade de
personalização no meio virtual propicia o surgimento de segmentos denominados redes
sociais, que Castells (1999, p. 385) define como “uma rede eletrônica de comunicação
interativa autodefinida, organizada em torno de um interesse ou finalidade compartilhados”.
Compondo um ambientes em que o ponto forte é a troca de informações, as redes sociais
permitem a comunicação de “muitos para muitos” graças aos recursos de interatividade que se
interligam às funcionalidades do computador pessoal e da Internet, tornando possível a
elaboração dos mais variados tipos de ambientes interacionais.
Novos usos da tecnologia, bem como as modificações reais nela introduzidas, são
transmitidos de volta ao mundo inteiro, em tempo real. Assim, o intervalo entre o
processo de aprendizagem pelo uso, e de produção pelo uso, é extraordinariamente
abreviado, e o resultado é que nos envolvemos num processo de aprendizagem
através da produção, num feed-back intenso entre a difusão e o aperfeiçoamento da
tecnologia. Foi por isso que a Internet cresceu, e continua crescendo, numa
velocidade sem precedentes, não só em número de redes, mas no âmbito de
aplicações (CASTELLS, 2003, p. 28).
A característica descentralizada e flexível da Internet oferece a usuários e profissionais
da comunicação uma nova forma de interagir com a informação, consolidando-a não apenas
como um processo comunicativo, mas também como uma prática social. Moldando novos
produtos editoriais com baixo custo, grande abrangência, possibilidades de personalização e
interatividade, dentre as ferramentas que acoplam as características e funcionalidades da atual
Internet, estão os weblogs, ambientes virtuais para produção de conteúdo e socialização que
evoluíram na velocidade das inovações trazidas pela Internet.
Weblogs e o CMS: ferramentas para informação, integração e socialização virtual
Weblogs ou blogs são páginas pessoais da web que possibilitaram a todos publicar na
rede (ORDUÑA et al., 2007), facilitando a criação, manutenção e publicação de informações
através de um CMS (Content Managemente System - Sistema de Gerencialmente de
Conteúdo). Consolidando-se como uma eficaz e democrática forma de comunicação, os
weblogs estão entre os mais populares serviços disponibilizados na rede mundial de
computadores e vêm, inclusive, remodelando todo um conservadorismo jornalístico histórico
ao mudar significativamente o discurso em prol de um hipertexto cuja informação esteja
disponível a participaçãos dos leitores. Segundo Amaral et al. (2009, p. 29), “uma das
primeiras apropriações que rapidamente se seguiu à popularização dos weblogs foi o uso
como diários pessoais”, utilizados como espaços de expressão pessoal, publicação de relatos,
experiências e pensamentos, compondo assim mecanismos para o desenvolvimento de
diversos gêneros do discurso.
Um Content Management System (Sistema de Gerencialmente de Conteúdo),
popularmente conhecido pela sigla CMS, é a ferramenta que permite ao usuário
gerar de maneira dinâmica os elementos que fazem parte de um site, desde a criação
de páginas, a redação, o design e os arquivos até as licenças (ORDUÑA et al., 2007,
p. 22).
O blog integrado ao CMS quebrou barreiras e obstáculos impostos por técnicas
avançadas de programação voltadas para web, facilitando e incentivando a criação de
conteúdo on-line. A rotina para elaboração e manutenção de um espaço na Internet passa a ser
automatizada e composta por uma interface com manuseio simplificado para o usuário,
organizando a estrutura das postagens em forma cronologicamente inversa e oferecendo uma
gama de utilidades para edição de conteúdo e incorporação de diversos formatos de mídia,
caracterizando-se como uma ferramenta hipermidiática e versátil que se adaptou às
funcionalidades da Internet e às necessidades dos seus usuários.
Pela rápida capacidade de distribuição e compartilhamento de informações,
principalmente através da troca de links, que os blogs formam uma comunidade chamada
“blogosfera”, que Orduña et al. (2007, p. 8) define como “universo e cultura dos blogs”. A
diversidade de temáticas e sujeitos sociais envolvidos na comunidade da blogosfera faz com
que ela se torne um importante sistema para medir o pulso da opinião dominante na Internet
sobre quase qualquer tema, manifestando-se como uma relevante oportunidade para expor
discursos e críticas que não encontram espaço nos tradicionais meios de comunicação
(ORDUÑAS et al., 2007). As ferramentas digitais de edição e distribuição de conteúdo
democratizam a comunicação ao permitir que um indivíduo com um computador possa
partilhar de um universo com uma audiência ciberespacial quase infinita e, por integrar
usuários pela conexão de ideias e conteúdos temáticos que os weblogs representam um
democrático meio de comunicação para sociabilidade.
Uma das características principais da tecnologia criada e distribuída em forma
digital, potencializada pela configuração informacional em rede, é permitir que os
meios de comunicação possam atingir os usuários e obter um feedback imediato. Por
isso mesmo, há algum tempo, um dos tópicos centrais da comunicação digital tem
sido o da interatividade (SANTAELLA, 2007, p. 151).
A interatividade nos weblogs ocorre entre autores e leitores e entre os próprios leitores.
A relação funcional em um weblog é pautada no pacto de leitura, ou seja, uma convenção
entre duas ou mais pessoas propiciada pela temática abordada e, por serem
caracteristicamente temáticos, que os weblogs se destacam como grandes ambientes virtuais
de interação e troca de informações. Os visitantes de um weblog procuram no veículo o ponto
de vista e a temática de seu autor, a opinião expressa sem uma linha editorial prévia faz do
blogueiro o principal componente para que se possa contextualizar previamente os objetivos
do veículo. De acordo com Lemos (2004, p. 44), “os weblogs constituem-se, atualmente, em
um dos grandes elementos de modificação do jornalismo do ponto de vista tecnológico e da
produção notícia on-line”, apresentando-se como um meio de comunicação mais pessoal que
proporciona uma resposta mais rápida em relação à interação entre emissor e receptor. Diante
da realidade jornalística, os weblogs contribuem oferecendo funcionalidades que aumentam as
fronteiras da realidade midiática, estabelecendo agendas que antes eram regidas
exclusivamente pelos meios tradicionais.
A efetiva aproximação dos weblogs com o jornalismo tem como marco inicial o
ano de 2001. Embora ela já se rascunhasse alguns anos antes, com a criação dos
primeiros blogs em meados da década de 1990, é em 2001, principalmente com os
atentados terroristas às Torres Gêmeas do World Trade Center em 11 de setembro,
que os weblogs passam a ter visibilidade para o grande público e, como
consequência disso, passa a ser vislumbrada a função que eles poderiam ocupar no
jornalismo (AMARAL et al., 2009, p. 199).
Confirmado por Orduña et al. (2007), os atentados de 11 de setembro foram grandes
responsáveis pela popularização dos weblogs, a partir desse acontecimento a ferramenta passa
a ser vista como uma relevante fonte de informação, transformando-se em uma alternativa
complementar diante da mídia tradicional. O jornalismo praticado nos weblogs, seja ele de
qualquer segmento, funciona como uma conversação apurativa que desenvolveu o chamado
“jornalismo participativo ou jornalismo 3.0”, em que, segundo Orduña et al. (2007, p. 57), “a
centralização dos meios de sua agenda, sua concentração, seu mercado e seu monopólio
informativo, se transformam em um universo descentralizado, governado por pessoas que se
tornam guias umas para as outras”, ou seja, é o usuário comum manifestando sua opinião e
construindo uma conversação na qual a participação da audiência on-line torna-se
fundamental para que se possa concluir o discurso e a informação.
No novo cenário da comunicação, as funções da blogosfera são múltiplas: um filtro
social de controle e crítica dos meios de comunicação, um fator de mobilização
social, um novo canal para as fontes convertidas em mídia, um novo formato
aplicável às versões eletrônicas dos meios tradicionais para as coberturas extensas,
catástrofes e acidentes, um enorme arquivo que opera como memória na web, o
alinhamento privilegiado e sua alta densidade de links de entrada e saída e,
finalmente, a grande conversação de múltiplas comunidades cujo objetivo comum é
o conhecimento compartilhado (ORDUÑA et al., 2007, p. 9).
Os weblogs, assim como a sua progenitora, a Internet, possuem características que os
diferenciam dos demais meios de comunicação por integrar, de forma funcional e através de
um único meio, a rapidez, a hipertextualidade, a multimidialidade e a possibilidade de
interatividade, constituindo assim importantes ferramentas de participação social. De acordo
com Amaral et al. (2009, p. 13), “dar voz a todos (liberação da emissão), permitir o
compartilhamento e a troca de informações (conexão) são poderosas ferramentas políticas de
transformação da vida social (reconfiguração)” e, após inúmeras conquistas da nossa
sociedade, percebemos a partir do surgimento da Internet e da ferramenta weblog o nascer de
uma nova era para a comunicação, com a reformulação de todo um histórico de regras e
padrões comunicacionais que precisaram se adaptar ao gigante e inovador mundo
descentralizado do ciberespaço.
O weblog Juventude Clichê: um espaço de interação social para construção coletiva de
informação e conhecimento
Disponível no endereço eletrônico “www.juventudecliche.com”, o weblog Juventude
Clichê demonstra as funcionalidades de utilização do veículo para as diversas funções da
comunicação, destacando-se como uma mídia social3 que possibilita a manutenção e a
preservação de um espaço identitário para interação, difusão de informações e a troca de
conhecimentos. Para Amaral et al. (2009, p. 8), “os blogs são criados para os mais diversos
fins, refletindo um desejo reprimido pela cultura de massa: o de ser ator na emissão, na
produção de conteúdo e na partilha de experiências”, com o advento da web 2.04 o internauta
passa a interagir e colaborar para construção desse ambiente dinâmico, não se limitando
apenas à visualização do material que é disponibilizado. De acordo com Orduña et al., (2007,
p. 6), “o blog é um meio a princípio pessoal, que funciona sem editores e sem prazos, sem
fins lucrativos, e que é escrito, em geral, pelo prazer de compartilhar informações ou como
veículo de expressão”, permitindo a reunião de temáticas de interesse do autor e a troca de
informações e conhecimentos entre seus visitantes.
3 Ferramentas online que são usadas para divulgar conteúdo ao mesmo tempo em que permitem
alguma relação com outras pessoas. Disponível em: < http://www.midiatismo.com.br/comunicacao-
digital/qual-a-diferenca-entre-redes-sociais-e-midias-sociais>. Acesso em: 7 ago. 2011. 4 O termo Web 2.0 é utilizado para descrever a segunda geração da World Wide Web - tendência que
reforça o conceito de troca de informações e colaboração dos internautas com sites e serviços virtuais.
Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/folha/informatica/ult124u20173.shtml>. Acesso em: 7
ago. 2011.
Figura 1 – Página inicial do weblog Juventude Clichê, disponível no endereço eletrônico
<http://www.juventudecliche.com>. Acesso em 8 ago. 2011.
Caracterizado como um espaço sócio virtual para construção coletiva de informação e
compartilhamento de conhecimentos e experiências, o weblog Juventude Clichê mostra as
facilidades que a ferramenta weblog, integrada a um sistema CMS para gerenciamento de
conteúdo, oferece para integração dos processos de criação e publicação na Internet. Como
diz Lemos (2004, p. 111), “a interação por interfaces gráficas é uma forma de empreender
ações” e, tendo como base esse fundamento, utilizando dos recursos da interatividade
colaborativa, que o veículo promove e incentiva a produção de conteúdo voltado para um
público-alvo que é composto em sua maioria por jovens.
O termo “clichê” tem como um dos sinônimos o termo “lugar-comum” (HOUAISS,
2001), que melhor fundamenta a utilização da palavra para compor o título e os objetivos do
weblog. Interligando à juventude contemporânea, o termo “clichê” é uma crítica a
homogeneidade de práticas e ideologias impulsionadas por modismos temporários, impostos
pela grande mídia e disseminadas de forma massificada na rede mundial de computadores,
compondo assim parte significativa dos mais populares conteúdos voltados para o público
jovem na Internet. O weblog não propõe um julgamento aos adeptos dos modismos
contemporâneos, mas uma reflexão através de um espaço com recursos que promovem
interação e participação, oferecendo oportunidades para a prática da escrita e expressão de
arte nos mais variados formatos, reforçando a ideia do ciberespaço como uma realidade
virtual que integra meios de comunicação múltiplos (SANTAELLA, 2007) através da
convergência de mídias na hipermidiática Internet, demonstrando a versatilidade da
ferramenta weblog como uma mídia social que incentiva a produção intelectual na rede.
O weblog Juventude Clichê utiliza o sistema de gerenciamento de conteúdo CMS
Joomla5, que é desenvolvido em uma plataforma Open Source (Código Aberto), que permite a
colaboração de diversos usuários visando a sua melhoria funcional e técnica, reportando a
ideia do surgimento da Internet, na qual recebeu inúmeras colaborações que possibilitaram a
sua expansão. Apresentando-se ao usuário como um sistema facilitado de publicação, através
de um editor de textos repleto de ícones, é compatível com os mais populares navegadores
web e se integra-se ao weblog oferecendo uma interface intuitiva, prática, ágil e segura,
possibilitando aos visitantes todas as praticidades para interagir com o meio através das suas
publicações.
Figura 2 – Editor do CMS para publicação de conteúdo no weblog.
Como afirma Recuero (2009, p. 84), “weblogs coletivos dependem da cooperação
entre todos os envolvidos para que continuem a existir, já que é preciso atualizar, ler
5 O Joomla é um CMS grátis e muito popular, desenvolvido e enriquecido por milhares de pessoas
pelo mundo fora. O próprio termo Joomla origina da palavra "jumla" que em Arábico significa "todos
juntos", o que corresponde perfeitamente com a natureza do projeto. Disponível em:
<http://www.navegabem.pt/>. Acesso em: 10 ago. 2011.
comentários e, sobretudo, dividir as informações”. A possibilidade de participação e
socialização através do weblog Juventude Clichê permite a construção da informação e a
interação entre seus usuários, proporcionando o compartilhamento de ideias que se moldam
aos objetivos do veículo e do seu público-alvo. As categorias para publicação de conteúdo
funcionam como mecanismos de personalização, integrando temáticas que abordam
segmentos como crônicas, cultura e arte, dicas de filmes e livros, juventude, opinião, poesias,
política, sociedade e uma parte destinada a indicação de vídeos hospedados na rede.
Fomentando a colaboração através dos diferentes tipos de abordagens que podem ser dadas
aos mais variados tipos de assuntos, o weblog mantém, ao mesmo tempo, a característica
pessoal (em que o autor encontra um espaço para encaixar as suas ideias) e social (por
interagir e compartilhar essas ideias com outros autores e visitantes).
De acordo com Santaella (2007, p. 162), “as interfaces homem-máquina,
especialmente nas configurações informacionais via rede, trouxeram profundas mudanças nas
visões tradicionais de interatividade”, através da convergência de recursos com múltiplas
possibilidades, a interatividade torna o espaço mais participativo e faz com que os usuários se
sintam parte do ambiente através da sua participação. No weblog Juventude Clichê a
interatividade está presente na possibilidade de colaborar para construção do conteúdo, no
recurso de comentários (que permite a participação de visitantes através de questionamentos e
contribuições ao que é publicado) e também através do sistema de avaliação (em que os
usuários determinam notas que variam de 0 a 5, representadas por estrelas), indicando
previamente aos visitantes a qualidade e aceitação do material que é publicado. A
interatividade também se faz presente na integração do produto com redes sociais como
Orkut, Twitter e Facebook, ambientes que servem como extensões para assuntos abordados
no weblog e como meios de divulgação.
Redes sociais como Orkut e Twitter foram fundamentais para captura e conquista do
público-alvo do weblog. Segundo Recuero (2009), o Orkut é um site de rede social que
alcançou grande popularidade entre os internautas brasileiros por permitir a criação de perfis
focados no interesse, com criação e participação em comunidades temáticas, agregando
grupos que funcionam como fóruns de discussão, já o Twitter, de acordo Amaral el al. (2009,
p. 15) “permite um contato mais direto com pessoas de interesses similares”, funcionando
como uma página de recados instantâneos. No Orkut, a divulgação feita em comunidades com
temáticas relacionadas à juventude atrai visitantes que se tornam membros do weblog e
passam a participar por se identificar com a ideia do veículo, compondo assim uma mídia
social na qual as redes sociais tem fundamental importância para composição do ambiente,
criando conexões entre usuários que se moldam aos objetivos do weblog por possuírem
interesses em comum.
Figura 3 – Página inicial da comunidade Juventude Clichê no Orkut, disponível no endereço
eletrônico <http:// http://www.orkut.com.br/Main#Community?cmm=9920472>. Acesso em
15 ago. 2011.
A funcionalidade do weblog Juventude Clichê como mídia social e meio de
comunicação capaz de unir pessoas com objetivos e ideias semelhantes é constatada pela sua
versatilidade de integrar, permitir a participação e socializar o que é compartilhado por seus
participantes. Interligando o termo “Sociedade da Informação”, do autor Manuel Castells
(1999), ao conceito de “Inteligência Coletiva”, cunhado pelo autor Pierre Lévy (1998), o
weblog alcança uma representatividade na rede mundial de computadores por conquistar
usuários e constituir um meio de comunicação mais democrático, possuindo uma determinada
audiência independente das tradicionais hierarquias comunicacionais. No tempo da Internet, o
tempo real, o weblog Juventude Clichê transmite a sua mensagem, mobilizando seu público-
alvo através de uma cooperação voluntária e incentivando a produção intelectual como forma
de expressão e compartilhamento de saberes, informando e construindo um conteúdo que se
converte em memória na rede disponível para um público que pode ser o mundo inteiro.
Considerações finais
Em um período de intensas disputas militares, políticas, econômicas e ideológicas,
nasce o mais democrático meio de comunicação da história: a Internet. A cooperação
científica, os investimentos em pesquisa e o compartilhamento de informações e resultados
foram pontos fundamentais para o desenvolvimento de uma tecnologia que reconfigurou
modos de ação e interação, dando novos sentidos aos conceitos de “tempo” e “espaço”.
Interligando indivíduos em um ambiente próprio (o ciberespaço), através de uma cultura
característica (a cibercultura) e de uma forma inovadora (hipertextual, hipermidiática), a
Internet compõe uma gigante infra-estrutura fundamentada na construção coletiva do seu
conteúdo e na busca por informações e conhecimentos de forma simples e rápida.
Constituindo um novo modelo de comunicação, a Internet oferece uma gama de
serviços e oportunidades graças a sua capacidade de produção, armazenamento e transmissão
de informações. A sua multimidialidade permite a criação e integração de diversos recursos
que ampliam a participação dos seus usuários e, é nesse contexto, que entram os weblogs,
frutos das evoluções da Internet que atribuem funções ainda mais democráticas para
construção e compartilhamento de conteúdo na rede mundial de computadores, pois permite
que qualquer um possa disponibilizar e distribuir suas produções sem a necessidade de
conhecimentos técnicos de aplicações web e vínculos com hierárquicos veículos de
comunicação.
Oferecendo uma nova forma de se comunicar e informar, os weblogs não se encaixam
mais no simples conceito de “diários virtuais”, hoje, são poderosas ferramentas para transmitir
informação. Atrelados a um Sistema de Gerenciamento de Conteúdo (CMS), vem
reconfigurando a comunicação on-line por oferecer inúmeras funcionalidades através de um
espaço para construção e distribuição de informação que vem conquistando uma ampla
audiência, audiência composta por usuários que não se restringem à mera função de
espectadores: eles interagem, questionam informações incoerentes e ajudam na construção do
processo informacional no amplo e multifacetado mundo da web.
O weblog Juventude Clichê, além de demonstrar a questão estrutural da ferramenta
weblog e a versatilidade da utilização do CMS para gerenciamento do seu conteúdo,
possibilita a expressão através de uma socialização moldada numa estrutura virtual
fundamentada na comunicação e na interatividade para o compartilhamento de saberes,
ajudando na compreensão das rotinas que permitem deixar um weblog ativo na rede e em
destaque em meio à blogosfera. A ferramenta weblog resume funcionalmente a precursora
Internet e evolui junto com ela, elaborando novos valores sociais com a aplicação de novas
rotinas e construção de novos fluxos de informação, por isso, entendê-la é essencial para
compreender o processo de apropriação da Internet como mecanismo de informação e
organização social na contemporaneidade.
Referências
AMARAL, Adriana; RECUERO, Raquel; MONTARDO, Sandra. (orgs). Blogs.com: estudos
sobre blogs e comunicação. São Paulo: Momento, 2009.
CASTELLS, Manuel. A Galáxia da Internet: reflexões sobre a internet, os negócios e a
sociedade. Tradução de Maria Luiza X. de A. Borges. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2003.
CASTELLS, Manuel. A sociedade em rede. 4. ed. Tradução de Roneide V. Majer. São
Paulo: Paz e Terra, 1999. Título orginal: The rise of the network society. (A era da
informação: economia, sociedade e cultura; v. 1).
DIZARD Jr., Wilson. A nova mídia: a comunicação de massa na era da informação.
Tradução de Antônio Queiroga e Edmond Jorge. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2000.
HOUAISS, Antônio. Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro: Objetiva,
2009.
JOHNSON, Steven. Cultura da interface: como o computador transforma nossa maneira de
criar e comunicar. Tradução de Maria Luiza X. de A. Borges. Rio de Janeiro: Jorge Zahar,
2001.
LEMOS, André. Cibercultura, tecnologia e vida social na cultura contemporânea. 2. ed.
Porto Alegre: Sulina, 2004.
LÉVY, Pierre. A inteligência coletiva: por uma antropologia do ciberespaço. Tradução de
Luiz P. Rouanet. São Paulo: Loyola, 1998.
PINHO, J. B. Jornalismo na internet: planejamento e produção da informação on-line. 3. ed.
São Paulo: Summus, 2003.
ORDUÑA, Octavio I. Rojas et al. Blogs: revolucionando os meios de comunicação. São
Paulo: Thomson, 2007.
RECUERO, Raquel. Redes Sociais na Internet. Porto Alegre. Sulina, 2009.
SANTAELLA, Lucia. Navegar no ciberespaço: o perfil do leitor imersivo. 2. ed. São Paulo:
Paulus, 2007.