WHITE, James F. Introdução Ao Culto Cristão

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  • 8/18/2019 WHITE, James F. Introdução Ao Culto Cristão

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     NTRO UÇÂO   O

    ULTO

    RISTÃO

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    V-

    James F. Wh ite

    INTRO DUÇ ÃO AO CULTO CRISTÃO

    S E M I N Á P I O O í f ^ Ó R D I A

    São Le peido

    - 6 I  3   U T E   G   A -

     

    S e m i n á r i o o n e ó r d i a

    I P G

      ßSinodal

    1997

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    Traduz ido do or ig ina l

      Introduction to Christian Worship,

      ed ição re v is

    t a . © 1990 Ab in gdon P ress , Nash v i l l e (T N ) , Es tados Unidos da Am ér ica .

    Os d i re i t os para a l ingu a por tuguesa pe r t en cem à

    Ed i t ora S inoda l

    R u a A m a d e o R o s s i , 4 67

    93030-220 São Le opo ldo - RS

    Tel.: (051) 590-2366

    Fax : (051) 590-2664

    Capa : Ed i t ora S inoda l

    T radução : Wa l t e r O . Schlupp

    Rev isão : Gabr ie la K i rs t

    Ne lson K i rs t

    Lu ís M. Sande r

    Coordenação ed i t or ia l : Lu ís M. Sande r

    Sé r ie : Teo log ia P rá t ica - Aux í l ios L i túrg icos 1

    Seminário Concórdia

    Biblioteca

    Sist. n ,

      96

    ^99.

    D a t a  tZ

    -lOr IO

    Publicado sob a coordenação do Fundo de Publicações Teológicas/

    MsSuto Ecumênico de Pós-Graduação (IEPG) da Escola Superior de

    Teologia (EST) da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil

    (IECLB). -_

    Art e - f ina l i zação e impressão : Ed i t ora S inoda l

    C I P - B R A S I L C A T A L O G A Ç Ã O N A P U B L I C A Ç Ã O

    Bibliotecária responsáve l: Rosem arie Bianchess i dos Santos CR B 10 797

    W58 51 Wh i t e , James F .

    Int rodução ao cu l t o c r is t ão

     /

     James F .

    W h i t e ; t r a d u ç ã o d e W a l t e r S c h lu p p

    - Sã o Leop oldo : Sinodal, 1997.

    267 p.

    T radução do or ig ina l : In t roduc t ion t o

    C hr i s t i a n W o r s h ip

    ISBN 85-233-0437-1

    1. Teolo gia prát ica. I . T ítulo.

    CDU 24

    Sumário

    Pre fá c io (Ed ição de 1990) 5

    Pre fác io (Ed iç ão de 1980) 7

    Capítu lo 1: Qu e Queremo s D izer com Cu lto Cr is tão ?  11

    O Fenômen o do Cul t o Cr is tão 12

    De f in iç ões de Cul t o Cr is tão 14

    O Ling uaja r Cris tão sobre o Culto 19

    Dive rs idade na Expr essão do Cul t o Cr is tão 24

    Constân c ia nos T ip os de Ma nua is de Culto 30

    Capítulo   2:  A L ingu agem d o Tem p o  37

    A Conf igu ração do Tem po Cr is tão 38

    Teo lo g ia a par t i r do An o Cr is tão 53

    Func ionamento do Ano Cr is tão 56

    Capítu lo 3: A L ingua gem do Espaço  66

    A s F u nç õ e s d o E s p a ç o L i t ú r g i c o 6 8

    His tór ia da Arqu i t e tu ra L i túrg ica 73

    Mús ica e Espaç o L i túrg icos 83

    Ar t e L i túrg ica 89

    Capítu lo 4: Oração P úb l ica D iár ia   95

    His tó r ic o da Oraçã o Púb l ica D iár ia 96

    Re f le x ões Teo lóg icas 107

    Cons ide rações P rá t icas 109

    Capítulo 5: A L iturg ia da Pala vra

      111

    His tó r ic o da L i turg ia da Pa lav ra 111

    Teo lo g ia da L i turg ia da Pa lav ra 123

    Que stões Pasto rais 126

    Capítu lo 6: O Amor de Deus Torn ado Vis íve l

      131

    O Desenvo lv imento da Re f l e x ão sobre os Sac ramentos 133

    Nova Comp reensão dos Sac ramentos 146

    Capítu lo 7 : Iniciação C ristã  153

    O Desenvo lv imen to da In ic iaçã o Cr is tã 153

    Teo lo g ia da In ic iação Cr is tã 165

    Asp ec to s Pas tora is da In ic iação Cr is tã 172

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    Capítu lo 8: A E ucar istia

    O Desen vo lv imento da P rá t ica Eucar ís t i c a .

    Compreensão de Eucar is t ia

    A ç ã o P a s t o r a l

    Capítulo 9: Jornadas e Passagens

    R e c o nc i l i a ç ã o

    Minis t é r io junto aos Enfe rmos

    M a t r im ô n i o C r i s t ã o

    Ordenação

    Pro f i s são ou Comiss ionamento Re l ig ioso . .

    Sepul tamento Cr is tão

    Notas

    B ib l iogra f ia

    A b r e v i a t u r a s

    índ ic e Remiss ivo

    Prefácio

    ( Ed i ção d e 1 9 9 0 )

    P

    assada mais uma décad a em que lec ion e i culto cr is tão , f ico es tupe

    fa to com quantas mu danças os ú l t imos de z anos t rouxe ram para o

    mundo, para a ig re ja , para a c iênc ia l i túrg ica e para as minhas p rópr ias

    pe rspec t ivas . Uma nova ed ição parece necessár ia para que e s t e l i v ro

    cont inue atendendo adequadamente a seus le itores e suas le itoras .

    O p rópr io mundo aprox imou-se ma is daqui lo que parece s e r uma

    era de paz e um futuro de e spe rança . A igre ja mudou em vár ios

    sent idos , e uma das ma is impor tantes mudanças é a amp la ace i t ação

    de novas p rá t icas no cu l t o , as qua is , em ce r tas ig re jas , acabaram

    sac ramen tadas pe la inc lusão em novos manu a is de cu l t o . A t é m esmo

    os l i v ros ca tó l i c os romanos pós -Vat icano I I e s tão s endo ed i t ados em

    novas v e rsões , c omo o re c ente  Ritual de Exéquias  (1989 ) ; i gua lm ente

    t raduções dos ú l t imos l i v ros re v isados  (Ritual de Bênçãos, Cerimonial

    dos Bispos)  f ina lmen te sa í ram do p re lo (1989 ) . Out ras ig re jas p rodu z i

    ram novos manua is de cu l t o , c omo  The United Methodist Hymnal

    (1989) e

      The Preshyterian Hymnal

      (1990 ) , que fazem co m que l i v ros

    ante r iore s f iquem obso le t os .

    A c iênc ia l i túrg ica t ambém não parou no t empo. Durante a ú l t ima

    década fomos supr idos com m ais e s tudos acadêmicos so bre o cu l to do

    que em qua lqu e r década ante r io r . D iv e rsas ed i t oras e s tão pe la p r im e i ra

    ve z apresentando t í tu los sobre cu l t o em seus ca tá logos . P rovave lm ente

    há ma is l i turg is tas nos Es tados Un idos ho je do que na som a de t odas as

    out ras épocas da nossa h is t ór ia . A minha p rópr ia ó t i ca a re spe i t o de

    mui tas co isas mudou n a med ida em q ue , após 23 anos de docênc ia em

    seminá r io , passe i a ens inar aque les/as que e s tão agora l e c ionando em

    semin ár io ou b revemente passarão a fazê- lo . Apren d i m ui t o com meus

    alunos e minhas alunas e f ico fe l iz em constatar que suas contribuições

    para a ig re ja e para o mundo acadêmico s e amp l iam cada v e z ma is .

    Mui t o do que aprend i durante e s ses ú l t imos de z anos acarre tou as

    mudan ças que s e encontram nes tas pág inas .

    F ico m arav i lha do e ao mesm o tempo pe rp lexo pe lo sucesso des te

    l i v ro , que supe rou em m ui to as minhas expec ta t ivas . Ao que parece , e le

    s e t ornou o compênd io sobre cu l t o ma is amp lamente usado em seminá-

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    r ios amer icanos , t anto ca tó l i c os romanos quanto p ro t e s tantes , e a t é

    mesmo or t odoxos e car ismát icos . I s t o me int imida um pouco ; eu não

    gostaria de alterar qualquer que se ja a fonte do seu atrat ivo. Mas quero,

    s im , torná- lo mai s út i l para todos/as. Por isso tente i adaptá- lo mais a os

    ca tó l i c os romanos e a uma gama mais d iv e rs i f i c ada de p ro t e s tantes .

    I s t o ex ig iu c e r tas mudan ças e s trutura is . Ag or a há ma is mate r ia l s obre

    cu l t o e jus t iça , bem com o cap í tu los à par t e s obre a oração d iá r ia e

    sobre a l i turg ia da pa lav ra . A s e ção sobre a re conc i l iação fo i t rans fe r ida

    do capítulo sobre a inic iação para o capítulo f inal, acrescentando-se al i

    ma is mate r ia l s obre o comiss ionamento ou p ro f i s são re l i g iosa . Essas

    a l t e rações , as s im espe ro , fa rão com que o mate r ia l s e ja ma is fác i l de

    acompanhar .

    No l ivro faço re ferênc ia às edições atuais de cerca de 50 dos manuais

    de cu l to ma is amp lamente usado s na Am ér ic a do Nor t e de fa la ing le sa e

    nas I lhas Br i t ân icas . Essas re fe rênc ias s e encont ram em tabe las ao

    f inal de cada seção em questão. Os cerca de 600 termos em negrito se

    re ve la r am úte is para e s tudantes ao re cap i tu la rem o vocabu lár io bás ico

    necessár io para o e s tudo d o cu l t o . Cada t e rmo é d e f in ido no contex to .

    Pense i em inc luir i lustrações . Hes ite i , entretanto, não só pe lo que is to

    t e r ia s ign i f i c ado para o p re ço , mas t ambém pe lo fa to de cada i lus t ração

    se r t ão e spec í f i c a cu l tura lmente , que e la t ende a l im i ta r a ima g ina ção a

    s i p rópr ia , quando em quase t odos os casos eu gos tar ia de re t ra tar uma

    grande var ieda de de poss ib i l idades . Mui tas v e zes s e pode fazê -lo ma is

    fac i lmente s em fo togra f ias do que com e las .

    Gostaria de agradecer a d iversos/as estudantes por suas contribui

    ções ,

      par t i cu larmente a meus ass is tent e s de pós - graduação , M ichae l

    Mor ia r t y e Grant Spe rry-Whi t e , que fo ram mui to a lém de checar de ta

    lhes , ap resentando suges tões conc re tas para impor tantes me lhor ias .

    Ag rad eço igua lm ente a Nanc y Keg le r , She rry Re icho ld e Che ry l R eed

    por sua hab i l idade em produz i r um manusc r i t o c la ro a par t i r de meu

    or ig ina l desordenado . Por f im, t enho uma grande d ív ida para com

    minha e sposa , Dr

    8

      Susan J . Wh i t e , por sua hab i l idade acadêmica em

    me lhorar o man usc r i t o e pe la pac iênc ia com o autor t antas v e zes p reo

    cupado . Que e s ta nova ed ição v enha p res tar um bom s e rv iç o às ig re jas .

    Univ e rs idade de Not re Dame

    18 de setem bro de 1989

    James F . Wh i t e

    Prefácio

    ( Ed i çã o d e 1 9 8 0)

    D

    epois de passar 20 anos lec iona ndo, a gente neces sariam ente acaba

    por fo rmar uma op in ião sobre a lgumas ques tões . Daqui a duas

    décad as tenho certeza de que o meu juízo a respe ito de certos a ssuntos

    es tará ma is maduro . Mas , a me io cam inho andad o , e sta parece s e r um a

    boa ocas ião para reunir o que ens ine i e ante ve r aqu i lo que a inda

    prec iso aprende r . A expe r iênc ia de e s c re ve r e s t e l i v ro é um marav i lho

    so exe rc íc io de condensar num único vo lume tudo que f i z ao longo de

    vár ios anos . Quando embarque i nes t e min is t é r io , hav ia poucos que

    le c ionavam cu l t o c r is t ão . A tua lmente , nada me dá p raze r ma ior do que

    ter tantos/as companh eiros/as novos/as neste t rabalho co m os/as qu ais

    posso compar t i lhar os re su l t ados do labor que desenvo lv i a t é ho je e

    v isu aliz ar o futuro pa ra onde e les/as irão . Esp ero que este l ivro lh es

    ajude em seu ens ino, até que encontrem m ane ira melhor de interpretar o

    cu l t o c r is t ão . Com Pedr o Lomba rdo posso d iz e r : "Se a lgu ém consegu ir

    explicar is to melhor, não f icare i com inve ja."

    Tente i e xpor nes tas pág inas de fo rma tão suc inta quanto poss ív e l

    tudo aqu i lo que cons ide ro s e r in formações e s senc ia is para munir a l

    guém dos e lementos necessár ios para o min is t é r io da l ide rança no

    culto. Tente i inc luir tudo que realm ente se prec isa sab er para p lane jar,

    preparar e conduzir um culto cr is tão, de ixando fora os detalhes re feren

    t e s aos cos tumes ou aos manua is de cu l t o pe r t inentes à denominação de

    cada um/a. As in form ações con t idas nes t e l i v ro deve r iam se r re le vantes

    por igua l t anto para pas tore s/as ou sace rdot e s quanto para membros

    le igos de comissõ es de cu l to . Natura lmen te t e rão que comp lementar

    es t e mate r ia l c om sua fami l ia r idade com seus p rópr ios cos tumes ou

    manuais de culto.

    Para fac i l i tar essa tare fa, f iz re ferênc ia neste l ivro aos manuais de

    cu l t o ma is amp lamente usados , ou s e ja , àque le s usados pe la ma ior ia

    dos c r is t ãos de l íngua ing le sa nos Es tados Unidos . A lusã o f reqüente é

    fe i t a aos manua is ca tó l i c os romanos re v isados , par t i cu larmente o r i tu

    al , o sacramental e o pont i f ical . O novo   Lutheran Book oí Worship  foi

    pub l icado jus tamente quando e s tas pág inas fo ram in ic iadas , e é bem

    prováve l que o novo

      Book oí Common Prayer

      amer icano re ceba aprova-

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    ção f ina l pou co antes da pub l icação des t e l i v ro . Ass im sendo , pude faze r

    re fe rênc ia a ambos . Como es tou p ro fundamente envo lv ido na ed ição do

    Supplemental Worship Resources  da Igre j a Met odis ta Unida, foi poss í

    v e l fa ze r re fe rênc ia àque le s vo lumes já pub l icados e àque le s a inda por

    se rem pub l icados , bem como ao  Book of Worship  de 1965. Re me to o/a

    le itor/a também ao

      Worshipbook

      presb iter ian o de 1970 e ao

     Services of

    the Church

      (1969) e ao

      Hymnal

      (1974) da Igre ja Unida de Cris to.

    A ocas ião é adequa da para s e re sum ir o que fo i r ea l i zado na onda de

    rev isões l i túrg icas pós -Vat icano I I , quase comp le tas a tua lmente . No

    túmulo do papa Mar t inho V e s tão gravada s as pa lav ras : "Sua época fo i

    de f e l i c idade . " Es ta parece s e r uma desc r ição apropr iada da s i tuação

    ecumênica do cu l t o na nossa época . Podemos v e r na ú l t ima década e

    me ia de re v isão l i túrg ica um pe r íodo de f e l i c idade em que as ig re jas do

    mun do s e apro x ima ram m ais compar t i lhando suas r iquezas de cu l t o

    umas com as outras . Não há e v idênc ia ma ior das conquis tas e cu mênicas

    do nosso tempo do que a reapr ox im ação ocorr ida no cu l t o c r is t ão nos

    anos 60 e 70 . Ass im sendo , é poss ív e l ago ra e s c re ve r u ma int rodução ao

    cu l t o c r is t ão que , as s im espe ro , a t ende rá t anto a ca tó l i c os romano s

    quanto a p ro t e s tantes .

    O e s tudo do cu l t o c r is t ão pode o fe re ce r a qua lque r pesqu isador/a

    int e re ssado/a um recurso va l ioso para a compreensão do p rópr io c r is

    t ian ism o. Nã o há man e i ra me lhor de s e descobr i r o c e rne do c r is t ian is

    mo do que t ornar - s e ma is c ient e daqui lo q ue os c r is t ãos fazem quando

    se reúnem para o culto. Tanto a pesso a cris tã quanto a não-cris tã

    podem apren de r mui t o sobre a t rad ição re l i g iosa domina nte na cu l tura

    oc idental ao incrementar seu conhec imento sobre o culto cr is tão.

    Es t e l i v ro p re t ende s e r um a int rodução ao cu l t o c r is t ão . Mas é t am

    bém uma int e rp re tação do assunto . Não hes i t e i em arr is car novas

    pe rcep ções e in t e rp re tações a que eu p rópr io chegue i . Out ras pessoas

    podem e hã o de re futar a lgumas de las . Aqu i lo que fo r vá l ido nessas

    int e rp re tações pe rmanece rá ; o que não o fo r s e rá subs t i tu ído por a l

    gu ém m ais pe rc ep t iv o . Expe r imen te i e ap r imore i ao longo dos anos a

    organ ização bás ica do assunto e vár ios de ta lhes ao usá-los com minh as

    alunas e meus alunos. É est imulante antever que outras pessoas desen

    vo lv e rão int e rp re tações ma is sa t is fa t ór ias nos p róx imos anos . Mui ta

    pesquisa a inda p rec isa s e r f e i t a em es tudos l i túrg icos . Mui tas á reas

    a inda são mis t e r iosas , c omo as or igens do cu l t o s inag oga l , as font e s do

    Dia de Re is (Ep i fan ia ) , os de ta lhes do o f í c io das ca t ed ra is , o cânone

    romano ent re H ip ó l i t o e Ambrós io e a gênese do cu l t o dominica l normal

    usado nas t rad ições amer icana re formada , me tod is ta e das igre jas l i

    v re s .

      Se este l ivro puder induzir outras pessoas a f icar na expectat iva

    praze rosa por pesqu isa v indou ra , t e rá s ido uma bem-suced ida int rodu

    ção e in t e rp re tação .

    Embo ra boa par t e d o l i v ro s e ja de na ture za acad êmica , t odo e le e s tá

    d i re c ionado para o aspec to pas tora l no s ent ido de fo r ta le c e r a l id e rança

    de cu l t o nas comunidades c r is t ãs . Boa par t e e s tá fo rmulada de m ane i ra

    desc r i t i v a a f im de desc re ve r o que fo i e por que , porém a ma ior ia dos

    cap í tu los são conc lu ídos com um a seção normat iva sobre o que deve r ia

    ser, e por que o deveria, nas igre jas h oje em dia. As se ções descr it ivas

    fornecem o pano de fundo para as par t e s normat ivas . Qua lq ue r pessoa

    encarregada de l ide rança no cu l t o t em a re sponsab i l idade de t omar

    mui tas dec isões . Ent re tanto , e s sas dec isões só podem e s tar bem in for

    madas quan do s e basearem em todos os fa t ore s rele vantes . Por i s so em

    cada cap í tu lo as in formações h is t ór icas e t e o lóg icas p re cedem as s e

    ções pas tora is . Quando normas pas tora is para ações são enunc iadas ,

    i s t o s empre é f e i t o em t e rmos daqui lo que os c r is t ãos t êm pra t icado e

    como têm re f le t ido a respe ito dessas prát icas . O culto cr is tão, da mes

    ma forma como a é t i ca c r is t ã , é um assunto t anto desc r i t i v o quanto

    norm at ivo . Dec isõ es e spec í f i c as p re c isam se r t omadas loca lmente em

    função das pessoas e dos lugares , porém t ente i e sboçar normas amp las

    dentro das qua is s e possam tom ar dec isões pas tora is .

    Não é fác i l c ondensar t oda uma d is c ip l ina n as pág inas de um l i v ro de

    modes tas d imensões . Quase cada parágra fo rep resenta mate r ia l que

    pode r ia p re enche r u m l i v ro int e i ro ou vár ios l i v ros . T iv e que reduz i r

    l ivros a pará grafo s , capítulos a frases , dand o pouco espaço p ara funda

    mentar a f i rmações . E ssa f rus t ração fo i l i ge i ramente a t enuada pe la re la

    ção da b ib l iogra f ia a f im ao f ina l do l i v ro e nas notas . Mui t os l i v ros

    essenc iais estão c itados nas notas , e essas re ferênc ias não são repet i

    das nas b ib l iogra f ias . T iv e que m e concent rar em pr ior idades de int e re s

    s e ma is amp lo , e l im ina ndo t odas as out ras. Um n úm ero desproporc io

    na lmente reduz ido des tas pág inas d is cute o cu l t o nas igre jas or t odoxas

    or ienta is , uma ve z que a ma ior ia de minhas l e i t o ras e meus le i t o re s

    representa a cr is tandade oc idental e terá interesse maior em sua pró

    p r ia ascendênc ia l inear do que num a l inha co la t e ra l . Pou co s e encont ra

    aqui s obre a l i turg ia do b ispo , que int e re ssa a uma min or ia reduz ida ( e

    não opr imid a ) . Tam bém os int e re sses e spec í f i c os de con greg açõe s mo

    nás t icas re c ebe r am pouca a t enção .

    Concentre i-me nas prát icas e conce itos da igre ja dos primeiros qua

    t ro s é cu los . Se s e sabe qua is fo ram as dec isões t omadas pe la ig re ja

    nes t e pe r íodo e s eu porqu ê , t odo o re s to é s imp le s . Boa p ar t e da c r is t an

    dade hoje em dia se encontra num estágio de resgate das prát icas e

    conce i t os dos p r imó rd ios . O fu turo é que ju lga rá s e rom ant i zamos

    demais ou não o pe r íodo in ic ia l . Se ja como for , o c onhec imento das

    dec isões t omadas no pe r íodo in ic ia l é e s senc ia l para s e compreende r

    todos os desdobramentos subseqüentes .

    A f im de fac i l i tar o estudo, coloquei nomes e termos centrais e algu

    mas da tas em negr i t o . Boa par t e da int rodução a qua lque r assunto

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    cons is t e na fami l ia r i za ção c om o vocabulár io bá s ico . As pa lav ras e

    expressões e s senc ia is para os e s tudos l i túrg icos são t ornadas ma is

    conspícuas, de modo que os/as estudantes possam fazer a recapitula-

    ção v e r i f i c ando sua fami l ia r idade co m ta is t e rmos .

    Hoje em dia estamos mais consc ientes do que nunca de quão rapida

    mente nossa l ing uag em está mudan do. Is to é part icularmen te ev idente no

    caso de term os que indicam ident idade sexual. A reso lução futura dessas

    mudanças ainda é incerta, e termos que usamos hoje ainda têm caráter

    p rov isór io . A lgu ns dos que adot e i indub i tave lmente parece rão desconhe

    c ido s e duros . Ma s a infe l ic idade é melhor d o que a injust iça, e apena s o

    tempo dirá que termos v irão a prevalecer no que se re fere a Deus. Tenho

    que sol ic itar que meus le itores e minhas le itoras se jam indulgentes com

    te rmos p ro v isór ios enquan to e vo lu i o uso no v e rnácu lo .

    Es t e l i v ro rep resenta a cont r ibu ição de mui tas pessoas que de ram de

    s i para torná- lo uma obra melhor. Sou grato às seguintes pessoas : Dr.

    Hoyt L . H ickman, Dr . R ichard Es l inge r e E l i s e Shoemake r , da Seção

    sobre Cul t o da Junta de D is c ipu lado da I gre ja Me tod is ta Unida ; meus

    co le gas da Pe rk ins Schoo l o f Theo logy , p ro fe s sor H. Grady Hard in ,

    p ro fe s sor V i r g i l P . How ard e decano Joseph D. Qui l l ian , Jr .; p ro fe s sor

    Don E . Sa l i e rs , da Cand le r Schoo l o f Theo logy ; Ar lo Du ba , do P r ince ton

    Theo log ica l Semin ary ; p ro fe s sor Wi l l ia m Crocke t , da Vancou ve r Schoo l

    o f Theo logy ; Lou is e Sh own e I rm ã Nancy Swi f t , do St . John 's Sem inary ,

    por l e rem e comentarem com mui ta p ropr iedade o manusc r i t o . A inda

    es tou aprendendo mui to com meu p ro fe s sor de s eminár io Pau l W. H oon,

    que cont inuou a ens inar-me por meio de seus comentários e suas corre

    çõe s a resp e ito destas pág ina s . O professor D echer d H. Turn er, Jr.,

    d i re t or da Br idwe l l L ib rary , t em dado mui to de s i para a judar mui tas

    out ras pessoas a abraçarem a carre i ra acadêmica . Reco nheç o sua cons

    tante generos idade dedicando este l ivro a e le .

    Bonnie Jordan fe z p rod íg ios ao dec i f ra r meu manusc r i t o a uma d is

    tânc ia de 1.900 milhas e t ransformá- lo em cópia l impa e ordenada.

    Minha e sposa e f i lhos fo ram mui to neg l igenc iados durante e s ses d ias

    em que merec iam mais da companhia que ded ique i e xc lus ivamente à

    máquina de e s c re ve r . Peço o s eu pe rdão e e spe ro f i c ar ma is humano

    agora que e s tas pág inas e s tão conc lu ídas .

    Passumps ic , Ve rmont

    5 de março de 1979

    Capítulo 1

    Que Queremos Dizer

    com Culto Cristão ?

    P

    ara se fa lar de m odo inte l ige nte so bre ' c i il lQ_ cr is t ão" , é prec iso

    dec id i r p r ime i ro o que o t e rmo s ign i f i c a exa tamente . Não é uma

    expressão fác i l de de f in ir . Mas enquanto nã o s e f i z e r uma re f l e xão

    sobr e o que d is t ingue o culto cr is tão autênt ico, é fác i l confun dir e sse

    cu l t o com ac résc imos i r re le vantes de cu l turas a tua is ou passadas em

    que os cr is tãos ce lebraram culto.

    Em pr ime i r o lugar, a p róp r ia pa la v ra " cu l t o " já é e xaspe ra doram ente

    dif íc i l de se de f inir . O que d is t ingue o culto de outras at iv idades huma

    nas ,

      par t i cu larmente daqu e las que s e carac t e r i zam p or sua f reqüente

    repe t ição ? Por que o culto é uma at iv idad e d iferente das tare fas d iária s

    ou de qua lque r a to hab i tua l? Ma is e spec i f i c amente , qua l é a d i f e rença

    ent re o cu l t o e out ras a t i v idades que s e repe t em na p rópr ia comun idade

    cris tã? Por exemplo, o que d is t ingue o culto da educação cris tã ou de

    obras de caridade?

    Em se gun do lugar , depo is de re so lv e r o que que rem os d ize r c o m

    " c u l t o " , c o m o v a m o s d e t e r m ina r o q u e t o r na t a l c u l t o " c r i s t ã o " ?

    Nossa cu l tura e s tá che ia de vár ios out ros t ipos de cu l t o . D iv e rsas

    r e l i g i õ e s o r i e n t a i s f o r a m in t r o d u z i d a s e m m u i t a s c o m u n id a d e s .

    M u i t a s p r a t i c a m c u l t o , p o r é m o b v i a m e n t e e l e nã o é c r i s t ã o . Q u a i s

    carac t e r ís t i c as d is t int ivas t orn am " c r is tã o " e s t e ou aque le cu l t o?

    A l i á s , s e r á s e m p r e " c r i s t ã o " t o d o c u l t o c e l e b r a d o p e l a c o m u n id a d e

    c r is tã?

    Nenhuma dessas questões é fác i l de se resolver, mas e las certamente

    prec isam se r examinadas . E não são pura e s imp le smente assunto

    especu la t iv o de int e re sse apenas t eór ic o . A de f in ição do qu e carac t e r i

    za e spec i f i c amente o cu l t o c r is t ão é uma fe r ramenta p rá t ica v i t a l para

    qua lqu e r pessoa que t enha a re sponsab i l idade de p lane ja r , p reparar ou

    conduz i r o cu l t o c r is t ão . Em anos re c entes , o aparec imento de mui tas

    formas novas de culto fez com que este t ipo de análise bás ica se tornas

    s e a inda ma is c ruc ia l para as pessoas encarregadas do min is t é r io do

    cu l t o . E las p re c isam cons tantemente par t i c ipar de dec isões ao s e rv i -

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    Desde os t empos do Novo Tes tamento t emos t e s t emunho de c r is t ãos

    reunindo- se para c e leb rar o que Paulo cham a de " c e ia do Senhor " (1 Co

    11.20). Para muitos cr is tãos esta é a forma arquet íp ica do culto cr is tão.

    Somente uma pequena minor ia e v i t a c e leb rá - la em formas ex t e r io re s .

    Em mui tas ig re jas e la é uma expe r iênc ia s emana l ou mesmo d iár ia . O

    capítulo 8 se ocup ará das form as e do s ignif ic ado d a ce ia do Sen hor.

    F ina lmente , e x is t e uma var iedade de r i t os pas tora is c omuns , s ob

    um a ou out ra fo rma, a quase t odas as comu nidades c r is t ãs cu l tuantes .

    A lg un s de le s ass ina lam e tapas na jo rnada da v ida que podemos ou não

    repet ir : of íc ios de perdão e reconc i l iação, ou of íc ios de cura e bênção

    para os doentes e mor ibundos . Out ros são r i t os de passagem como

    casamentos , o rdenações , p ro f i s são re l i g iosa ou fune ra is . Mui t os desses

    r i t os pas tora is são o f í c ios ocas iona is c e leb rado s apenas quando a oca

    s ião ass im ex ig e . Mui ta s e tapas e e xpe r iênc ia s da v ida são comuns a

    todas as pessoas , se jam e las cr is tãs ou não. Ofíc ios ocas ionais para

    ass ina lar e s sas jo rnad as ou passagens encont raram lugar pe rm anente

    no cu l t o c r is t ão . Exp lora remo s e sses r i t os pas tora is no cap í tu lo 9 .

    Obviamente , essas sete estruturas e of íc ios bás icos não cobrem todas

    as poss ib i l ida des do culto cr is tão , ma s descrev em e fe t ivamente a vasta

    maioria de casos em que esse culto ocorre . Podem-se acrescentar a e las

    diversos encontros para oração , concertos sacros , reav ivamen tos , novenas

    e uma amp la gama de devoções . Mas na ma ior par t e do c r is t ian ismo

    todos e s t e s e lementos são c la ramente subs id iá r ios em re lação aos s e t e

    menc ionados e são a t é c e r t o ponto d ispensáve is . Conseqüentemente ,

    nossa expos ição neste l ivro se ocupará sobretudo das sete estruturas e

    o f í c ios bás icos , menc ionando ocas iona lmente out ras poss ib i l idades .

    Ass im, nossa p r ime i ra re spos ta para a pe rgunta : "Que é cu l t o c r is

    t ão? " é s imp le smente re lac ionar e desc re ve r as fo rmas bás icas que e le

    assume e d i z e r que e s tas são as que me lhor o de finem. Ma s p rec isam os

    inves t igar t ambém out ras abordagens .

    Definições de Culto Cristão

    Nossa int enção ao exam inar as vár ias man e i ras como d i f e rente s

    pensadores c r is t ãos fa lam sobre o cu l t o c r ist ão não é faze r um es tudo

    compara t iv o , ma s e s t imular a re f l e xão . A me lhor mane i ra de s e ent en

    de r o s ign i f i c ado de qua lque r t e rm o é obse rvá - lo em uso , ao invés de dar

    uma s imp le s de f in ição . Por tanto , daremos uma o lhada por sobre os

    ombros de pensadores p ro t e s tantes , o r t odoxos e ca tó l i c os para v e r

    como usam o t e rmo. Nenhum dos s eus var iados usos do t e rmo exc lu i

    out ros . F reqüentemente e le s s e sobrepõem, mas cada uso ac re scenta

    novas pe rcepções e d imensões , c omp lementando ass im o re s to . Es t e

    es forç o de d izer o que qu erem os dar a entender e de dar a entender o que

    d izemos é um es forço cont ínuo , su je i t o a re v isão à med ida que nossa

    comp reensão do cu l t o c r is t ão ama durece e s e apro funda .

    O p ro fe s sor Pau l W. Hoo n deu uma grande cont r ibu ição para os

    es tudos l i túrg icos em seu impor tante l i v ro

      The Integrity of Worship,

    pub l icado e m 1971 . Esc reven do a par t i r da t rad ição me tod is ta , H oon

    preocupa-se com "d is c e rn imento t eo ló g ico bem com o sens ib i l idade para

    cu l turas " . Do p r inc íp io ao f im e le en fa t i za o c entro c r is t o lóg ico do cu l t o

    c r is tão , o qua l "por de f in ição é c r is t o lóg ic o , e a aná l i s e do s ig n i f i c ado

    do cu l t o t ambém prec isa s e r fundamenta lmente c r is t o lóg ica "

    1

    . Tal culto

    é p ro fundamente encarnac iona l por s e r gove rna do por t odo o e v ento de

    Jesus Cris to. Q-culto-cris tão está v inculado d ire tamente aos eventos da

    his t ór ia da sa lvação . Cada e vento nesse cu l t o e s tá l i gad o d i re tamente

    ao tempo e à his tória enquanto cr ia pontes para e les e os t raz para

    dent ro do nosso p resente . O "núc leo do cu l t o " , d i z Hoon, " é Deus ag ind o

    para dar sua v ida ao s e r humano e para l e var o s e r huma no a par t i c ipar

    dessa v ida " . Por i s so , tudo que fazemo s como ind iv íduos ou como igre ja

    é a fe tado pe lo cu l t o . A v id a c r is t ã , a f i rma Hoo n, é uma v ida l i túrg ica .

    Ho on sustenta que "o culto cr is tão é a auto-r eve lação de Deus em

    Jesus Cris to e a respo sta do ser hum ano " , ou um a ação dupla: a ação de

    "Deus para com a a lm a human a em Jesus Cr is to e a ação re spons iva do

    se r humano a t ravés de Jesus Cr is t o " . Por me io de sua pa lav ra , Deus

    " re ve la e c omunica s eu p rópr io s e r ao s e r humano" . As pa lav ras - chave

    na compreensã o de Ho on a re spe i t o do cu l t o c r is tão parecem s e r " re v e

    laçã o" e " re spos ta " . N o c ent ro de ambas e s tá Jesus Cr is t o , que re v e la

    Deus a nós e por meio do qual damos a nossa resposta. Trata-se de uma

    re lação re c íp roca : Deus t oma a in ic ia t i va d i r ig indo- se a nós por me io de

    Jesus Cr is t o e nós re spondemos por me io de Jesus Cr is to , usando u ma

    var iedad e de emoções , pa lav ras e ações .

    O pensamento de Peter Brunner, teólogo luterano que lec ionou por

    muitos anos na Univers idade de Heide lberg, é parale lo ao de Hoon em

    muitos aspectos , porém e le se expressa em termos bastante d i ferentes

    em sua impor tante ob ra

      Worship in the Name of Jesus.

     B run ne r des f ruta

    da c la ra vantagem de usar o t e rmo a lemão para des ignar o cu l t o ,

    Gottesdienst,  que tem tanto a conotação de serv iço de Deus aos seres

    humanos quanto a de serv iço dos seres humanos a Deus. Brunner apro

    ve ita essa ambigüidade e fa la da "dualidade" do culto. O cerne do l ivro

    cons is t e em do is cap í tu los int i tu lados "Cul t o como se rv iç o de Deus à

    comun idade " e "Cul t o como se rv iç o da comunidade pe rante Deus " . Nes

    ta dualidade vem os s imilarid ades com os conce itos de reve laçã o e respos

    ta de Hoo n, porém mais um a ve z é necessár io caute la , uma ve z que Deus

    é atuante em ambas. Do iníc io ao f im, é Deus soz inho que torna o culto

    poss ív e l : "A dád iva de Deus e voca a ent rega human a a Deus . "

    2

    A autodoação de Deus ocorre t anto em eventos h is t ór ic os passados

    quanto na a tua l " rea l idade -pa lav ra d o e v ento " no qua l a t é mesmo a obra

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    hum ana da p roc lam ação é , a r igor , ação de Deus . O mesmo se ap l ica ao s

    sac ramentos , nos qua is , por me io das nossas ações , é Deus que a tua .

    Brunner c ita Lutero, que dec lara, a respe ito do culto, "que ne le nenhu

    ma out ra co isa aconteça exce to que nosso amado Senhor e le p rópr io

    fale a nós por meio de sua santa palavra e que nós , por outro lado,

    fa lemos com e le por meio de oração e canto de louvor" . Os seres huma

    nos re spondem aos a tos d iv inos de re v e laçã o fa lando a Deus pe la ora

    ção e pe los h inos " como a to da nova obed iênc ia con fe r ida pe lo Esp í r i t o

    Santo " . A oraçã o , d i z Brunner , " é a pe rmissã o que Deus dá a Seus f i lhos

    de juntar suas vozes à d is cussã o das Suas ques tões " . Ass im sendo , a

    dua l idade do cu l t o , para Brunner , é encobe r ta por um foco ún ico , que é

    a at iv idade de Deus tanto em se nos autodoar quanto em inst igar nossa

    resposta às suas dádivas .

    Como nossos outros pensadores , o professor Jean-Jacques von Allmen

    a f i rma a base c r is t o lóg ica do cu l t o c r is t ão em seu impor tante l i v ro

      O

    Culto Cristão: Teologia e Prática.

      Esc re ven do dent ro da t rad ição re for

    mada, este ex-professor da Univers idade de Neuchâte l na Suíça de fende

    v igorosamente a compreensão do cu l t o c r is t ão como a re cap i tu lação

    daq uilo que Deu s já fez . O culto, d iz e le , " resu me e conf i rma semp re de

    novo a h is t ór ia d a sa lvação cu jo ponto cu lm inante s e encont ra na int e r

    v enção encarn ada do Cr is to . Nesse re sumo e conf i rmação re i t e rados , o

    Cr is t o cont inua sua obra sa lvadora por me io do Esp í r i t o Santo "

    3

    . Tal

    culto está estre itamente l igado à crônica b íb l ica dos eventos salv í f icos .

    E le p roporc iona u ma s ínt e se renovada do que Deus f e z e uma antec ipa

    ção renovada do que ainda v irá a ser.

    A desc r iç ão de von A l lme n ace rca do cu l t o da igre ja apresenta

    out ros aspec tos impor tantes .  cu l t o é a " ep i fan ia da igre ja " , a qua l ,

    v is t o q ue re sum e a h is t ór ia da sa lvação , capac i t a a ig re ja a " t ornar - s e

    e la mesma, t omar co nsc iênc ia de s i mesma e s e confe ssar ent idade

    espec í f i c a " . A ig re ja ganha sua ident idade no cu l t o na med ida em que

    sua v e rdade i ra n a ture za é t ornada man i fe s ta e e la é l e vada a con fe ssar

    sua p róp r ia e s sênc ia . Porém o mund o também é p ro fundamente a fe ta

    do pe lo cu l t o c r is t ão . O cu l t o é ao mesmo t em po am eaça de ju í zo e

    p romessa de e spe rança para o p rópr io mundo, mesmo que a soc iedade

    secu lar p ro fe s se ind i f e rença em re lação àqu i lo que os c r is t ãos fazem

    quand o s e reúnem. O cu l t o c r is t ão contes ta a jus t iça hum ana e aponta

    para o d ia em que t odas as conquis tas e f racassos s e rão ju lgados ,

    o fe re cendo , porém, e spe rança e p romessa pe la a f i rmação de que , em

    úl t ima aná l is e , tudo e s tá nas mãos de Deus . Para von A l lmen, o cu l t o

    c r is tão t em t rê s d imensões - chave : re cap i tu laçã o , ep i fan ia e ju í zo .

    Esc reven do a par t i r da t rad ição ang lo - ca tó l ic a , Eve lyn Un de rh i l l pu

    bl icou seu c láss ico estudo

      Worship

      em 1936. Ela expresso u um a série

    de concepções de que já t ra tamos , ap resentando , porém , a lgum as pe r

    c epções d is t intas . Seu l i v ro p r inc ip ia com as pa lav ras : "O cu l t o , em

    todo s os seus gra us e t ipos , é a respo sta da criatura ao E tern o." O r itua l

    p~eTò~qual se expressa todo culto público emerge , d iz e la, "como uma

    emoção re l i g iosa e s t i l i zada" . O cu l t o s e carac t e r i za pe la " c oncepção do

    cultuante a respe ito de Deus e sua re lação com Deus" . O culto cr is tão se

    d is t ingue por s e r " s emp re cond ic ionado pe la c rença c r is tã ; e par t i cu lar

    mente pe la c rença sobre a na ture za e a ação de Deus , re sum ida nos

    grandes dog mas da t r indade e da encarnação" . Out ra carac t e r ís t i c a do

    cu l t o c r is t ão é s eu " cará t e r p ro fundamente soc ia l e o rgânico " , o que

    s ign i f i c a que e le nunca é um emp reend imento so l i t á r io .

    Longe de s e r cu l t o em ge ra l , " o cu l t o c r is t ão " , dec la ra e la , " é uma

    ação sobrenatura l , uma v ida sobrenatura l " imp l icando "um a re spos ta

    bem de f in ida a uma re ve lação be m de f in ida " . O cu l t o c r is t ão t em um

    cará t e r c onc re to , po is s omente por me io do "m ov imen to do Deus pe rma

    nente em direção a sua criatura é dado o incent ivo para o mais profun

    do culto do ser human o e é fe ito o ape lo pa ra seu amor sacri f ica i ( .. .)

    Oração e ( . . . ) ação são maneiras pe las quais e le responde a essa mani

    f e s tação da Pa lav ra . "

    4

    Idé ias um tanto s eme lhantes são expressas a par t i r da pe rspec t iva

    or t odoxa pe lo fa le c ido p ro fe s sor Georg F lorovsky : "O cu l t o c r is t ão é a

    re spos ta dos s e re s humanos ao chamado d iv ino , aos 'p rod íg ios ' de

    Deus , cuhi i inand ono a to redentor de Cr is t o , "

    5

      F lo rovsk y faz ques tão de

    enfa t i zar a na ture za comu ni tár ia des ta re spos ta ao cham ado de Deus :

    "A ex is t ênc ia c r is t ã é e s senc ia lmente comuni tár ia ; s e r c r is t ão s ign i f i c a

    es tar na comunidade , na igre ja . " É n es ta comunidade que Deus a tua no

    culto, tanto quanto os próprios cultuadores . Como resposta à obra de

    Deus t anto no passado quanto em n osso me io , " o cu l t o c r is t ão é p r imor

    d ia l e e s senc ia lmente um a to de louvor e adoraçã o , que t ambém imp l ica

    gra to re conhec imento pe lo amor abrangente e bondade redentora de

    D e u s "

    6

    .

    Essas idé ias são re força das po r outro teólo go o rtod oxo , _Niko.s_A..

    Niss iot is , que enfat iza a presença e as ações da tr indade no culto.

    Dec la ra e le : "O cu l t o não é p r imord ia lmen te in ic ia t i va do s e r human o,

    mas a to redentor de Deus em Cr is t o por me io do s eu Esp í r i t o . "

    7

      D a

    mesm a forma que Brunner , N is s io t i s en fa t i za a " abso luta p r ior idade de

    Deus e s eu a to " , que os s e re s humanos somente podem reconhece r . Pe lo

    pode r do Esp í r i t o Santo , a i g re ja como corpo de Cr is t o pode o fe re ce r o

    cu l t o que é agradáve l c omo a to t anto p roveniente da t r indade quanto

    d i re c ionad o para e la .

    Em c í rcu los ca tó l i c os romanos t em s ido comum desc reve r o cu l t o

    como "a g lor i f i c ação de Deus e a sant i f i c ação da humanidade " . Es ta

    expressão p rovém de um   motu próprio  c láss ico de 1903 sobre mú sica

    na igre ja, de autoria do papa Pio X, no qual e le fa lou do culto como

    sendo para " a g lór ia de Deus e a sant i f i c ação e ed i f i c ação d os f i é i s "

    8

    . O

    papa Pio X II repet iu esta exp ressã o em sua enc íc l ica de 1947 sobre o

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    culto, int itulada  Mediator Dei. A  mesma de f in ição aparece com f re

    qüênc ia na

      Constituição sobre a Sagrada L iturgia

      do Vat ica no I I , de

    1963,

      que " em ma is de 20 passagens co rr ige a de f in ição ante r io r de

    l i turg ia e fa la p r ime i ro da sant i f i c ação do s e r humano e então da

    g lor i f i c ação de Deu s "

    9

    . Esta inversão de ordem lança a ins is tente per

    gunta : o que tem precedên cia, a glor i f icaç ão de Deus ou torna r santas as

    pessoas? M ui t os dos debate s sobre o cu l t o em anos re c entes t êm g i ra do

    em torno dessa ques tão , que é par t i cu larmente pe r t inente para o s mús i

    cos de igre ja.

    Deveria o culto ser a oferta dos nossos melhores talentos e artes a

    Deus , mesm o que em formas inus i t adas ou mesm o incomp reens ív e is

    para as pessoa s? Ou deveria, antes , art icular-se em l ing ua gem e est i lo s

    fami l ia r e s de modo que o s ign i f i c ado s e ja cap tado por t odos , embora o

    re su l t ado s e ja a r t i s t i c amente menos impress ionante? F e l i zmente e s sas

    a l t e rnat ivas são fa lsas . G lor i f i c ação e sant i f i c ação fo rmam uma unida

    de . Ireneu nos d iz que a gló r ia de Deus é um ser human o plen amen te

    v ivo . Nada g lor i f i c a a Deus ma is do qu e um se r humano t ornado santo ;

    nada t em maior p robab i l idade de t ornar santa uma pessoa do que o

    dese jo de glor i f ica r a Deus. Tan to a glor i f icaçã o de Deus quanto a

    sant i f i c ação das pessoas carac t e r i za m o cu l t o c r is tão . Tensões aparen

    tes entre e las são superf ic ia is . O uso que Hoon faz dos conce itos de

    re ve lação e re spos ta lança luz sobre i s t o : é p re c iso abordar as pessoa s

    em t e rmos que e las possam compreende r , e e las p re c isam expressar

    seu cu l t o em formas que t enham int egr idade . Tanto a abordab i l idade

    quanto a autent ic idade fazem par t e do cu l t o . A l ém d is so , pessoas ar t i s

    t i c amente ingênuas mui tas v e zes c r ia ram ar t e e le vada pe la s ince r idade

    de sua expressão .

    Outra maneira de se fa lar sobre o culto cr is tão tornou-se comum em

    anos recentes . Trata-se da tendência a descrever o culto cr is tão como "o

    mis t é r io pasca l " . Boa par t e da popular idade des t e t e rmo s e deve aos

    esc r i t os de Odo Case i , O .S .B . , monge bened i t ino a lemão fa le c ido em

    1948. As raíz es desse termo sã o tão ant ig as quanto a igre ja. O m istério

    pasca l é o Cr is t o re s surre to p re sente e a t i v o em nosso cu l to . "M is t é r io "

    neste sent ido é a auto-reve lação d iv ina daquilo que ultrapassa o enten

    d imento human o, a re v e lação do a t é então ocu l t o . O e lemento "pas ca l " é

    o ato redentor central de Cris to em sua v ida, minis tér io, sofr imento,

    mor t e , re s surre ição e ascensão . Podem os fa la r do mis t é r io pasca l c omo

    a comunidade c r is t ã compar t i lhando os a tos redentores de Cr is t o ao

    ce lebrar culto.

    Case i d is corre sobre a mane i ra em que os c r is t ãos v iv em, por me io do

    cu l t o , "nossa p rópr ia h is t ór ia sagrada" . Quando a ig re ja comemora os

    eventos da his tória da salvação, "o próprio Cris to está presente e age

    por meio da igre ja, sua

      ecclesia,

      enquanto e la age com e le "

    1 0

    . Ass im,

    esses mesmos atos de Cris to voltam a tornar-se presentes com todo o

    seu poder para salvar. O que Cris to real izou no passado volta a ser

    conced ido à pessoa que p res ta cu l to , para que o expe r imente e ap ro pr ie

    no t empo a tua l . É um a forma de v iv e r c o m o Senhor . A ig re ja apresenta

    o que Cr is t o rea l i zou por me io da nova rep resentação desses e v entos

    pe la comun idade cu l tuante . A pessoa p ar t i c ipante do cu l t o pode ass im

    vo l t a r a expe r ienc iá - los para sua p róp r ia sa lvação .

    Cada uma dessas d iversas de f inições é apenas uma estação no traje to

    do/a próprio/a le itor/a rumo a uma comp reensão pessoal do cu lto cr is tão.

    É prec iso f icar aberto para descobrir outras de f inições e chegar a uma

    com preens ão m ais profunda das mesmas, à medida qu e se cont inua a

    fazer experiênc ias e re f le t ir sobre o que de f ine o culto cr is tão.

    O Linguajar Cristão sobre o Culto

    Outramane i ra út i l de e s c la re ce r o que que remos d ize r c om " cu l t o

    c r is tã o " 6 v e r i f ic a r " " a lgumas pa lâv ras - chave que a comun idade c r is t ã

    esco lheu para fa la r s obre s eu cu l t o . Mui ta s v e zes e s sas pa lav ras e ram

    de or igem secu lar , mas fo ram esco lh idas como o me io m enos inadequa

    do de expressar o que a comunida de reunida expe r im entava no cu l t o .

    Há um a r ica gama dessas pa lav ras em u so no passado e na a tua l ida

    de .

     Cada pa lav ra e cada id ioma ac rescentam nu anças de s ign i f i c ado que

    comp lementam os out ros . Um ráp ido apanhad o dos t e rmos ma is amp la

    mente usados com re lação ao cu l t o em d iv e rsas l ínguas oc identa is pode

    mos t rar as rea l idades que e s tão s endo ex pressas .

    Já nos deparamos com uma pa lav ra impor tante , o t e rmo a lemão

    GoÉüesdiens íwTrata-se de uma palavra da qual a l íngua inglesa poderia

    ter inve ja. Para reproduzi- la, é necessário um punhado de palavras do

    ve rnácu lo : " o s e r v iç o de Deus e nosso s e rv i ç o para Deu s " . O equ iva len

    t e a "Deus "  (Gott)  pode - se d is c e rn i r, porém menos fami l ia r é  dienst.

    Pessoas v ia jadas a re conhece rão como a pa lav ra que ident i f i c a pos tos

    de gaso l ina em t e r ras ge rmâ nicas . Serv iço é o equ iva lent e ma is aprox i

    mado , e é in t e re ssante que t ambém em ing lê s e s ta pa lav ra é usada

    tanto para re fer ir-se a serv iço no sent ido de culto quanto a postos de

    gaso l ina . "Se rv iç o " s ign i f i c a a lgo f e i t o para out ros , não impor ta s e

    es tamos fa lando de s e rv iç o domés t ic o , s e rv iç o munic ipa l de água e

    esgoto ou s e rv iç o soc ia l . E le re f l e t e o t raba lho p res tado ao púb l ic o ,

    mesmo qu e ge ra lmente a t roco de ganh o par t i cu lar . Em ú l t ima aná l is e

    e le v em do t e rmo la t ino

      servus,

      um esc ravo que e ra obr ig ado a s e rv i r

    out ras pessoas . O t e rmo  oficio^  do la t im

      officium,

      s e rv iç o ou ta re fa ,

    t ambém é usado para des ignar um se rv iç o de cu l t o .

      GaUQsdienstrsSler.

    t e um Deus que " eavaz iourse a s i mesme-e assum iu a - eond ição de s e r vn" .

    (Fp 2.7 ), bem como nosso serv iço para tal Deus.

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    Am bas as pa lav ras desempenham um pape l s ign i f i c a t iv o , embora cont ro

    verso, no desenvolv imento da teologia eucarís t ica cr is tã.

    Te rm o bem menos p roeminente na l i t e ra tura neot e s tamentár ia é

    threskeía,

      que s ign i f i c a " cu l t o " ou " o f í c io re l i g ioso " ( como em At 26 .5 ;

    Cl 2.18 e Tg  1.26).

     Sébein

      s ign if ica "pre star cult o" (em Mt 15.9; Mc 7.7;

    At 18.3; 19.27). Em A tos , outro uso deste verb o des ig na o s tementes a

    Deus , gent ios que freq üenta m o culto da s in ag og a (13.50; 16.14; 17.4,17;

    e 18 .7) . Out ro t e rmo do No vo Tes tamento apresenta usos impor tan tes

    na desc r ição do cu l t o .

     Homologein

      t em uma var iedad e de s ign i f i c ados ,

    com o confessar pecad os (1 Jo 1.9 ), "se confessa rmo s nossos pec ado s" ,

    dec lar ar ou professa r publicam ente (R m 10.9), "se confessare s com tua

    boc a que Jesus é Senhor" , ou louvar a Deus (Hb 13.15), "o t r ibuto dos

    láb ios que re conhecem o s eu nome " .

    E s s e s t e r m o s d e o u t r a s l í n g u a s p o d e m e x p a n d i r a i m a g e m

    unid imens iona l do t e rmo " cu l t o " . Todos merecem se r ponde rados para

    perceber o que outros experimentaram em diversos tempos e lugares .

    Alg un s termos do vernáculo l igado s ao culto prec isam de certa e luc idação.

    P rec isamos faze r uma d is t inção c la ra ent re do is t ipos de cu l t o : o

    cu l t o em comum e devoções pesso a is . O aspec to ma is c la ro do culto em

    comuin

    _é _g j j e _ s^Jra ía_d^_cu l t o o fe r t ado pe la comunidade reunida , a

    assemb lé ia c r is t ã . D i fi c i lmente s e pode exa ge rar a impor tânc ia do reu

    n i r -s e . Por v e zes o t e rmo juda ico " s ina gog a" ( r eunir - s e ) também fo i

    usado para re fer ir-se à assemb lé ia cr is tã (Tg 2.2 ) , por ém o termo princ i

    pal para des ignar a assemblé ia cr is tã é a igre ja, a   ekklesía,  aque le s

    chamados para fo ra do mundo. Es t e t e rmo, c om a acepção de " assem

    b lé ia " , " c on greg ar " , " reu nir " , " encont rar - s e " ou " a juntar -s e " , é usado

    repe t idamente ao longo do Novo Tes tamento para des ignar a ig re ja

    loca l ou univ e rsa l . Um dos aspec tos ma is fac i lmente e squec idos do

    cu l t o em comu m é que e le c omeça com a reunião de c r is t ãos e spa lhados

    em um lug ar para fo rmar a ig re ja em cu l t o . Ge ra lmente encaram os o a to

    de reunir-se como mera necess idade mecânica, mas e le é em s i mesmo

    par t e impor tan te do cu l t o em com um. Reunimo-nos para encont rar-nos

    com Deus bem

      como

      c om nossos p róx im os .

    A s  devoções pessoais ,  por sua v e z , ge ra lmente , mas nem sempre ,

    ocorr em em sepa rado da p resença f í s i ca do re s tante do corp o de

    Cr is t o . De fo rma a lgum a is t o que r d i z e r que não e s t e jam l iga das ao

    cu l t o de out ros c r is t ãos . E fe t i vamente , t anto as devoções pessoa is

    quanto o cu l t o em comum são p lenamente comuni tár ios , uma ve z que

    ambo s compar t i lha m do cu l t o da comu nidade univ e rsa l do corpo de

    Cr is t o . Porém o ind iv íduo que p ra t ica devoçõe s pessoa is pode de t e r

    min ar s eu p róp r io conteúdo e r i tmo, mesm o ao s egu i r uma es t rutura

    amp lam ente usada . Em cont rapo s ição a i s so , para que o cu l t o em

    comum se ja poss ív e l , é p re c iso have r consenso sobre e s t rutura , pa la

    v ras e ações , caso cont rár io o caos s e r ia a conseqüênc ia . Ta is re gras

    fundamenta is não são necessár ias em devoções onde o ind iv íduo e s ta

    be le c e a d is c ip l ina . ( "Devoção" v em de um t e rmo la t ino que des igna

    "vo to " . )

    A re lação ent re cu l t o em comum e devoções pessoa is é impor tante .

    Embo ra o t ema do p resente l i v ro se ja o cu l t o em com um e pouco s e d iga

    a re spe i t o de devoções pessoa is , deve r ia f i c a r c la ro que o cu l t o em

    comum e as devoções pessoa is dependem um do out ro . Como nos d iz

    Eve lyn Unde rh i l l :

    O culto [em comum] e o culto pessoal, embora na prática um geralmente

    tenda a ter precedência sobre o outro, deveriam se completar, reforçar e

    checar

     mutuamente.

     Apenas onde isto ocorr e é que efetivamente encontra

    remos a vida normal e equilibrada de devoção cristã plena em sua perfei

    ção (...) Nenhuma alma - nem mesmo o maior dos santos - pode compre

    ender plenamente tudo o que isto tem a nos revelar e exigir, ou alcançar

    com perfeição essa riqueza equilibrada de resposta. Esta resposta preci

    sa ser obra da igreja inteira, dentro da qual as almas em sua infinita

    variedade desempenham cada qual um papel e contribuem com esta

    parte para a vida total do Corpo .

    11

    O cu l t o em comum prec isa s e r c omp lementado pe la ind iv idua l idade das

    devoções pessoa is ; e s tas p re c isam se r equ i l ib radas pe lo cu l t o em co

    mum,.

    Um t e rmo amp lamente usado em anos re c entes é   ce lebração .  Ele é

    f reqüentemente usado em contextos s e cu lare s e parece t e r desenvo lv ido

    certa vagu eza que o torna um tanto sem sen t ido, a não ser que se ja

    ut i l i zado com u m ob je t i v o e spec í f i c o , de modo qu e s e sa iba o que e s tá

    sendo c e leb rado . Ao s e fa la r da c e leb ração da eucar is t ia ou c e leb ração

    do Natal, o conteúdo pode estar c laro. Desde os anos 20 o termo tem

    s ido assoc iado a noções inde f in idas do t ipo c e leb ração da v ida , da

    a le gr ia , de um novo d ia ou out ros ob je t os igua lmente vagos . Parece

    melhor usá- lo para descrever o culto cr is tão somente quando o obje to

    está c laro, de modo que haja conteúdo e forma de f inidos . O culto cr is tão

    está suje ito a normas pastorais , teológicas e his tóricas ; muitos t ipos de

    ce leb ração fac i lmente e s cap am a todas e las .

    Ritua l é um t e rmo bás ico para desc re ve r o cu l t o c r is t ão . T ra ta - s e de

    um t e rmo t ra içoe i ro , uma ve z qu e s ign i f i c a co isas d i f e rente s para pes

    soas d i f e rente s . Para mui tos , e le c om f reqüênc ia suge re vaz io (da í a

    expressão " r i tua l vaz io " ) , uma ro t ina de repe t iç ões s em sent ido . Ant ro

    pó logos usam o t e rmo de modo so f i s t i c ado para desc re ve r a tos repe t i

    dos que são soc ia lmente aprovados , c omo por exemp lo uma ce r imônia

    de natura l i zação , um  potlatch  , ou cos tumes de s epul tamento . L i turgos

    usam o t e rmo par a des ignar um l i v ro de r i t os . Para os ca tó l i c os roma

    nos o termo "r itual" se re fere ao manual de of íc ios pastorais de bat is

    mos , casamentos , fune ra is , e tc . Na t rad ição me tod is ta , " r i tua l " t em s ido

    usa do desde 1848 para re fer ir-se a todas as cerimô nia s of ic ia is da

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    igre ja, inc luindo a eucaris t ia e os of íc ios de ordenação, a lém dos pasto

    ra is . R i tos

      são as palavras e fe t ivamente pronunciadas ou cantadas num

    cul t o , embora às v e zes e s t e t e rmo s e ja usado para des ignar t odos os

    aspec tos de um o f í c io . Tam bém po de re fer i r - s e a gru pos re l i g iosos

    como os catól icos de r ito oriental, cujo culto segue um padrão d is t into.

    Os r i t os d i f e rem do cer imonia l ,  que são as ações executadas num culto.

    O c e r imonia l ge ra lmente e s tá exp l i c i t ado nos manua is de cu l t o por

    me io das  rubr icas ,  i s t o é , ins t ruções para ex ecução do cu l t o . Embo ra

    atua lmente t ambém se empreguem out ras core s , as rubr icas mui tas

    ve zes são impressas em ve rme lho , c omo o ind ica o nome de r ivado do

    t e rmo la t ino que des igna a cor v e rme lha . Out ro aspec to e s senc ia l é a

    estrutura de cada of íc io, chamado   o rdo  ou   o rdem  (de culto) . Ordem,

    rito e rubricas , is to é , a estrutura, as palavras e as instruções são os

    componentes bás icos da ma ior ia dos m anua is de cu l t o .

    Diversidade na Expressão

    do Culto Cristão

    — Até a qu i abordamos os fa t ore s comuns que nos pe rmi t em fa la r do

    culto cr is tão em termos genéricos . Certamente exis te unidade bás ica

    sufic iente para podermos fazer muitas af irmações gerais e esperar que

    e las se apl iquem à maioria senão a todo culto de pessoas cris tãs . Entre

    t anto, p re c isamos equ i l ib rar e s sas a f i rmações ge ra is de  constância  con

    s iderando a  diversidade  cultural e his tórica que também é parte impor

    tante do culto cr is tão. A constânc ia, como já v imo s, é enorme; a d ivers ida

    de é igualm ente impress ionan te . O culto cr is tão é uma mistu ra fasc inan

    te de constânc ia e d ivers idade. Bas icamente usamos as mesmas estrutu

    ras e of íc ios por dois mil an os; entretanto, pessoas d o outro lado da

    c idade também a s prat icam, mas à sua própria ma neira caracterís t ica.

    Em anos recentes nos tornamos m uito mais sens íve is para a importân

    c ia dos fatores culturais e é tnicos na compreensão do culto cr is tão.

    Eme rg iu da í uma for t e p reocupação com a l i gação ent re

      culto cristão e

    justiça.

      Em certo sent ido, is to não é nada novo pa ra algun s cris tãos . Já

    desde o mov imen to quac re no séc . 17 tem hav ido u ma forte consc iênc ia

    entre os membros da Soc iedade dos Amigos de que o culto não deve

    marg in a l i za r pessoa a lgum a por causa de s exo , c or ou mesmo se rv idão .

    Com e fe ito, a ins is tênc ia quacre na igualdade humana deriva-se d ire ta

    mente da sua compreensão do que acontece na comunidade cultuante .

    Is to s ignif ica naturalmente que mulheres e escravos dev iam falar no

    culto,

     o que até então fora prerrog at iva exc lus ivam ente m asculina.

    O teólog o angl ican o do séc . 19 Frederick D enison Ma urice fez avança r

    nosso pensamento sobre culto e just iça da mesma forma como o f izeram

    em nosso s écu lo Pe rcy Dearmer , W i l l ia m Temp le , Wa l t e r R auschenbusch

    e V i rg i l M iche l . Porém apenas em anos re c entes é que grande número de

    cris tãos passou a observar o escândalo da injust iça das formas de culto

    que marg ina l i zam amp los s egmentos de f reqüentadores do cu l t o por

    causa do gêner o ou outras d is t in ções hum anas. Is to resultou em es forços

    para mudar a l inguagem de t ex tos l i túrg icos e h inos que t end iam a

    tornar inv is íve is as mulheres , re fazer prédios que exc luíam as pessoas

    portadoras de de f ic iênc ia e dar acesso a novas funções àquelas pessoas

    que anteriormente não eram bem-v indas para ne las serv ir .

    Estre itamente l igado a is to está o es forço para levar a sério a d ivers i

    dade cu l tura l e é tn ica ex is t ent e na igre ja em n ív e l mund ia l . I s t o im p l ica

    re spe i t o pe los dons e pe la var iedade de d i f e rente s povos como expres

    sões l e g í t imas do cu l t o c r is t ão . O t e rmo t é cn ico para desc re ve r e s t e

    p rocesso é  incu ltu ração ;  sua rea l idade é a ace i t ação da d iv e rs idade

    como uma das dád ivas de Deus para a humanidade e a d ispos ição de

    incorporar e s sa var iedad e às fo rmas de cu l t o . A mús ica m ui tas v e zes é

    um dos me lhores ind icadores da d iv e rs idade de expressão cu l tura l .

    Quão l im i tados fomos nós ao enfa t i zar e xpressões europé ias de louvor

    c r is tão , quando o mundo int e i ro canta a g lór ia de Deus? Novos h inár ios

    t endem a re f l e t i r c ada v e z ma is a d iv e rs idade cu l tura l , porém a ma ior

    par t e de le s a inda t em um longo ca min ho a andar a t é s e r um espe lho da

    var iedad e de pessoas , mesm o numa única nação .

    A p reocupa ção com o cu l t o e a jus t iça t em assumido m ui tas fo rma s ,

    todas com u m fator comu m: enfat izar o valor indiv idual de cada cultuante .

    Naque le s lugares em que a lguns são neg l igenc iados ou re le gados a um

    status  in fe r io r por causa da idade , gêne ro , de f ic i ênc ia , raça ou or ig em

    lingüíst ica, estas injust iças estão sendo reconhec idas e atenuadas. Mas

    é lento o processo de consc ient izar-se de prát icas d iscriminatórias para

    então tentar encontrar as maneiras mais equitat ivas de re formulá- las . O

    resultado é que o culto cr is tão se torna mais complexo e d ivers i f icado

    na med ida em que t enta re f l e t i r uma comunidade mund ia l . Por i s so ,

    mesmo pe rm anecendo vá l id o o que d is s emos a re spe i t o da cons tânc ia ,

    as expressões cu l tura is dessa cons tânc ia e s tão s e t ornando cada v e z

    mais d iv e rs i f i c adas em nosso t empo.

    Na rea l idade , a d iv e rs idade não é nada no vo no cu l t o c r is t ão , embora

    ta lv e z s e ja uma impor tante inovação encará - la de modo pos i t i v o . Mes

    mo nos p r ime i ros t e x tos l i túrg icos enxe rgamos mane i ras d i f e rente s de

    a f i rmar as mesmas rea l idades , que r nos p r inc íp ios t e o lóg ic os , que r nas

    necess idades humanas . As d i f e renças são re f l e xos da var iedade de

    povos e lugares . Os d i f e rente s l i v ros l i túrg icos p roporc ionam ro tas

    para le las para cobr i r a mesma jornada . Ent re tanto , e le s var iam em

    es t i lo e de ta lhes da mesma forma como pessoas d i f e rente s em lugares

    var iad os d i f e rem n aque le s pontos que as t orna m d is t intas , sua l íngua e

    h is t ór ia , por exemp lo .

  • 8/18/2019 WHITE, James F. Introdução Ao Culto Cristão

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    Comparemos duas passagens com funções idênt icas de duas das

    l iturgias ma is amplamente usadas no mundo. A prim eira pertence á missa

    catól ica roma na pré-Vaticano I I , do pre fác io co mum da oração eucaríst ica:

    Na verda de, é justo e necessário , é nosso dever e salvação dar-vos graças ,

    sempre e em todo lugar, Senhor, Pai Santo, Deus eterno e todo-poderoso,

    por Cristo, Senhor nosso.

    A out ra é a mesma passage m conform e cons ta na l i turg ia de São João

    Cr isós tomo:

    E justo e dign o celebrar-vos, bendizer-vos, dar-vos graças e adorar-vos em

    todos os lugares do vosso domínio. Porque vós sois um Deus inefável,

    incompreensível, invisível, inacessível, subsistindo eternamente, vós e o

    vosso unigénito Filho e o vosso Espírito Santo.

    Am bas d iz em a mesm a co isa , porém o e s t i lo e o e sp í r i t o são bas tante

    d i f e rente s. A l ingu agem da p r ime i ra fo i c ompara da à re t ór ica l e ga l do s

    t r ibuna is roman os , a da s egunda , ao e sp lendor da cor t e dos impe rado

    re s b i zant inos . C laramente e s tamo s l idando com do is e s t i los d i f e rente s

    de expressão .

    Os l i turgis tas c lass i f icaram as várias l i turg ias eucarís t icas ant igas e m

    famíl ia s l i túrgicas d is t intas . A semelh ança das famíl ias hu man as, e las

    apresentam carac t e r ís ti c as comuns . A lgu ma s ta lv e z pe r t ençam à famí l ia

    a lexandr ina , denominada s egundo Marcos , uma ve z que co locam as

    intercessões no meio do segmento de abertura da oração eucarís t ica.

    Outras , como o r ito romano, usam palavras caracterís t icas para introdu

    z ir as palavras da inst ituição: "o qual, no d ia antes de sofrer" , ao passo

    que outras famíl ias , como aquela denominada segundo João Crisóstomo,

    p re fe rem a expressão "na no i t e em que fo i ent regue " . Ass im como se

    podem reco nhece r os f i lhos e f i lhas ou irm ãos e irmãs de determ inad a

    pesso a pe las semelhanças fac iais , pode-se aprender também a ident i f icar

    a famí l ia l i túrg ica da qua l p rovém d e t e rminado t ex to .

    Diferentes povos e lugares em torno do mundo mediterrâneo e na

    Europa setentrional deram suas próprias caracterís t icas l ingüíst icas ao

    cu l t o c r ist ão . A lgum as carac t e r ís t i c as desaparece ram, mui tas v e zes por

    causa da estereot ipação que o processo de impressão tornou poss íve l no

    séc . 16. Ma s uma grand e varied ade ainda pers is te , part icularmente n a

    ortodoxia oriental, e até mesmo dentro do catol ic ismo romano, embora

    isoladamente em lugares como Milão, na I tá l ia, ou Toledo, na Espanha,

    ou nas igre jas catól icas de r ito oriental. Nesses r itos d íspares temos um

    reconh ec imen to franco da verda de ira catol ic idade, is to é , universal idade

    da igre ja . Aque las que pod e r iam parece r s obrev iv ente s cur iosas e s ingu

    lares são na verd ade voze s de d i ferentes pov os e lugares acrescentan do

    sua própria contribuição caracterís t ica ao louvor a Deus.

  • 8/18/2019 WHITE, James F. Introdução Ao Culto Cristão

    16/136

    É comum ident i f i c a r

      sete famílias l itúrgicas clássicas

      o r iundas de

    d iv e rsas á reas do mundo ant igo . Cada uma dessas famí l ias usa os

    mesmos of íc ios de culto e os mesmos t ipos de manuais de culto, mas

    cada qua l mos t ra pecu l ia r idad es ind iv idua is de e st i lo e e xpressão . E las

    exem pli f ica m a d ivers id ade dentro da constânc ia.

    É ma is fác i l dar a volta ao redor do mund o mediterrân eo em sent ido

    ant i-horário (d iag ram a 1), aqui apenas para uma breve en umera ção des

    sas famíl ias , uma vez que voltarem os a e las em ma ior detalhe no capítulo

    8. A pri mei ra famíl ia encon tramos central izada em  A l exand r i a , no Eg i t o ,

    sendo que o exemplo mais notáve l é conhec ido como a de São Marcos .

    Ho je em dia e la tem sobrev iven tes coptas e e t íopes no Eg ito e na Et iópia .

    A Síria Ocidental incluía os centros eclesiásticos de Jeru salém e An tioqu ia.

    Uma l i turgia que provave lmente funde aquelas usadas nessas c idades

    prese rva o nome t rad ic iona l de São T iago , p r ime i ro b ispo de Je rusa lém.

    Os padrões l i túrgicos da

     A r m ê n i a

      preservam muitas caracterís t icas dos

    primeiros tempos e provave lmente derivam-se em últ ima análise desta

    fam íl ia da S ír ia Oc idental e a e la pertencem. A Síria Oriental ao redor de

    Edessa foi o ant igo centro de uma famíl ia muito caracterís t ica cujo

    pr inc ipa l e xemp lo é o r i t o denominado s egundo os Santos Add a i e Ma r i .

    Cesaré ia, na Ás ia Menor, era o domic í l io de   São Basi l io,  e a l i turgia

    denominada segundo e le (com uma versão alexandrina anterior ) deriva-

    se do padrão s ír io-oc idental. Igualmente de origem s ír io-oc idental é a

    ass im chamada l i turg ia  b izant ina  ou l i turgia de   São João Crisóstomo,

    patriarc a de Constant inopla no séc . 4 . A part ir de Constant inopla e la se

    espalhou por boa parte do Império Bizant ino e da Rúss ia. Somente o  rito

    romano,  outrora conhec ido como rito de São Pedro, se encontra em uso

    mais amp lo . E le é o r i t o dominante do ca to l i c i smo romano. Uma grande e

    mis t e r iosa famí l ia ,  agá l ica , com preende o sét im o c lã, o c lã oc idental não-

    romano com q uatro ramo s da árvo re famil ia l : o mila nês ou ambro s iano, o

    moçárabe, o cé lt ico e o gal icano.

    A pe rs is t ênc ia dessa d iv e rs idade nos mundos or t odoxo e ca tó l i c o

    romano até os d ias de hoje , apesar de ocas ionais es forços de supressão

    e padron ização , é um t r iunfo para as d i f e renças é tn icas e nac iona is . E la

    representa a capac idade das pessoas de p re se rva r expressõ es e fo rma s

    de pensamento que lhes são caras e naturais .

    A d ivers idade caracterizou o culto protestante desde o iníc io. O culto

    p ro t e s tante pode s e r d iv id ido em   nove tradições l itúrgicas protestan

    tes.  Não é tão fác i l d is t ingui- las com base nos textos de l i turgias

    eucar ís t i c as como é o caso das famí l ias l i túrg icas ca tó l i c a romana e

    or t odoxa , embora c e r tas t rad ições p ro t e s tantes possam se r fac i lmente

    de f in idas em t e rmos de manua is de cu l t o . A lg uns g rupo s , c omo os

    quac res , não t êm l i turg ias . Mas podemos fa la r de   tradições l itúrgicas

    dist intas , is to é , de hábitos e supos ições sobre o culto herdadas e

    passadas de ge ração em ge ração . Em cada caso c e r tas cara t e r ís t i c as

    domin antes apresentam co e rênc ia su f ic ient e , o que nos pe rm i t e d is t in

    gu i r uma t rad ição e spec í f i c a

    12

    .

    Não é fác i l d i f e renc ia r e s sas t rad ições geogra f i camen te , uma ve z que

    e las s e sobrepõem em grau cons ide ráve l . Os pur i t anos , ang l i canos e

    quac res v iv e ram lado a lado , embora não mui to a le gremente , na Ing la

    t e r ra do s é c . 17 . Podemo s map ear as nove t rad ições do cu l t o p ro t e s tan

    t e no d iagram a 2 :

    A s T R A D I Ç Õ E S P R O T E S T A N T E S D E C U L T O

    Ala esquerda Centro Direita

    Séc. 16 Anabatista Reformada Anglican a Luterana

    Séc. 17 Quacre Puritana

    Séc. 18 Metod ista

    Séc. 19 Fronteira

    Séc. 20 Pentecosta l

    Diagrama 2

    As rup turas m a is rad ica is c om o cu l t o med ie va l t a rd io e s tão ind icadas

    por grupos na co luna da a la e sque rda ; os grupos ma is conse rvadores

    da Re form a, em t e rmos de p re se rvaçã o da cont inu idade , aparecem na

    a la d i re i t a ; os grup os c ent ra is são ma is mode ra dos .

    O culto  luterano,  o r ig inado em Wit t enbe rg , f l o re s ceu nos pa ís e s

    germ âni cos e escandin avos no séc . 16, expandin do-se desde então por

    todo o mundo. O culto  re formado  teve sua gênese na Suíça (Zurique e

    Genebra) e França (Estrasburgo), mas espalhou-se rapidamente pe los

    Pa ís e s Ba ixos , pe la F rança , Escóc ia , Hungr ia e Ing la t e r ra . Os

     anabatistas

    com eçara m na S uíça por volta de 1520. O culto ang l icano ,  como indica o

    nome , e ra o cu l t o da igre ja nac iona l da Ing la t e r ra e rep resentava mui tos

    dos acordos pol ít icos necessários para uma igre ja nac ional. A tradição

    pur i tana  (e separat is ta) fo i um protesto contra acordos que parec iam

    contrários à vontade de Deus reve lada na Escritura.

    A t rad ição m a is rad ica l f o i o mov imento   quacre  do séc . 17. A silencio

    sa e spe ra dos quac res por Deus s em aux í l io de s e rmões , cânt ic os ou

    esc r i turas rea l i zou uma rup tura d rás t ica com o passado . O  metodismo,

    no séc . 18, combin ou muitas verten tes , tanto ant ig as quan to da Refor

    ma, t omando emprés t imo par t i cu larmente das t rad ições ang l i can a e

    pur i t ana . A f ronte i ra amer icana f e z surg i r out ra t rad ição , e spec ia lmen

    t e desenvo lv endo fo rmas de cu l t o para os que hav iam pe rd ido o conta to

    com a igre ja. Essa tradição da   fronteira  é a que p redomina ho je no

    protestant ismo americano e é part icularmente conspícua no evange l ismo

  • 8/18/2019 WHITE, James F. Introdução Ao Culto Cristão

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    t e le v is iv o . Os Es tados Unidos t ambém foram o be rço da t rad ição

    pentecostal   no s é c . 20 . Neg ros e mulhe res e s tavam ent re os p r im e i ros

    l íderes a fomentar esta tradição.

    A coex is t ênc ia de d iv e rsas t rad ições pe rmi t iu às pessoas buscarem

    as formas de expressão para o cu l t o que achassem mais na tura is . Na

    Ing la t e r ra do s é c . 18, aque le s que s e s ent iam demas iadamen te re s t r i t os

    pe lo

      Livro de Oração Comum

      a f lu íam aos a tos re l i g ios os c e leb rados

    improv isadamente na t rad ição pur i t ana . E aque le s que achavam esse

    cu l t o demas iadamente c le r ica l pod iam encont rar um t ipo d i f e rente de

    l ibe rdade ent re os quac res . Out ros e ram a t ra ídos pe los h inos f e rvoro

    sos e pe la v ida sac ramenta l ca lorosa dos p r ime i ro s me tod is tas . Pessoas

    diferentes podiam encontrar um canal para suas d ivers idades de ex

    p ressão e s co lhend o a t rad ição que lhes parecesse ma is conveniente . A o

    mesmo t empo, porém, um a l t o grau de cons tânc ia ex is t ia ao longo de

    ge ra ções dent ro de cada t rad ição .

    Constância nos Tipos de Manua is

    de Culto

    Boa par t e do e s tudo do cu l t o c r is t ão g i ra em torno do e s tudo dos

    d iv e rsos man ua is de cu l t o usados por c e r tas ig re jas . Como as necess i

    dades são mui to s eme lhantes , c e r t os t ipos de manua is de cu l t o s e

    repe t em em mui tas famí l ias e t rad ições l i túrg icas d i f e rente s . É t enta

    dor , porém pe r ig oso , ident i f ic a r o cu l t o com l i v ros . L iv ros e fe t i vamente

    são usados para muitos cultos , ta lvez para a maioria de les , e por certo

    são a ev idênc ia de culto mais fác i l de ser estudada e analisada. Porém

    boa parte do culto está baseada na   espontaneidade,  que é o e lemento

    ma is d i f íc i l de ser estudado. Vár ios t ipos de culto contêm diferentes

    proporç ões t anto de fó rmulas f ixas para pa lav ra e ação encont radas em

    l iv ros quanto da e spontane idade que aumenta e d iminu i c onforme a tua

    o Esp í r i t o e que não e s tá su je i t a ao me io impresso . Embora pouco

    venham os a d i z e r s obre a e spontane idade , e la é um ingred ient e impor

    tante no culto de hoje em muitas igre jas oc identais .

    Onde o movimento carismát ico at in giu as pessoas , entre os pentecostais

    c láss icos , e em muitas igre jas n egras , exc lama ções espontâneas são

    parte v ita l do culto. O culto quacre é a própria espontane idade, embora

    exempli f ique a necess idade de uma l iberdade autodisc ip l inada para que

    a espontane idade po ssa trazer seu melhor fruto. A espontane idade nã o é

    s implesmente soltar as pessoas para a introspecção indiv idual ou para

    falar. Trata-se de usar os d iversos dons de d i ferentes pessoas para o

    benef íc io de toda a comunidade reunida. As palavras de Paulo sobre o

    culto espontâneo seguem-se imediatamente a seu capítulo sobre o amor

    (1 Co 13) e v isam u m ún ico obje t ivo : ed if icar a igre ja (1 Co 14.26). Os dons

    recebidos pe los cr is tãos são concedidos para ser compart i lhados na

    comunidade, não para ser mant idos no isolamento.

    O cu l t o c r is t ão dos p r ime i ros t empos parece t e r imp l icado c e r ta

    espontane idade . A ma ior par t e dessa e spontane idade hav ia aparente

    mente desaparec ido por vo l t a do f im do s é c . 4, t endo re ssurg id o apenas

    em a lgumas t rad ições da Re forma. O cu l t o pentecos ta l no s é c . 20

    enfa t i zou as inespe radas po ss ib i l idades do cu l t o e spontâneo . A ausên

    c ia de manua is de cu l t o ou de fo lhe tos impresso s em a lg uma s igre jas de

    forma a lguma garante e spontane idade . Em mui tas congregações , a

    repe t içã o e s tabe le c eu f irmemente uma es t rutura de cu l t o que é s egu ida

    com a l t o grau de p rev is ib i l idade . Po r out ro lado , t rad içõ es que usam

    manu a is de cu l to dão e spaço cada v e z m a ior ho je em d ia a e lementos de

    espontane idade , par ti cu larmente em int e rc essões .

    Se fa lamos pou co, no presente l ivro, sobre a esponta ne idad e no culto,

    não é porque e la s e ja de pouca impor tânc ia , mas s imp le smente porque ,

    s endo t ão e fêmero s eu t e s t emun ho, torna- se exaspe radoramente d i f í c i l

    re latá- la. Mas deveria estar c laro que culto e manuais de culto de forma

    a lguma são s inônimos . Os manua is de cu l t o somente podem o fe re ce r

    fórmulas -padrão . É p rec iso have r um equ i l íb r io sad io ent re t a is fó rmu

    las e os e lementos não-escritos e não-plane jados que somente a esponta

    ne idad e pod e oferecer.

    Com es t e a le r t a , v e jamos o que os  man uais de cu l to podem d ize r -nos

    sobre a constânc ia no culto cr is tão. Prat icamente todo culto ut i l iza a

    Bíbl ia, a qual inc lui e la próp ria mu itas partes escritas par a f ins cultuais .

    Os quac res são uma exceção nes t e t ocante , porém o con hec imento

    bíb l ico entre e les compensa a sua fa lta de e fe t iva le itura da Bíb l ia no

    cu l t o púb l ic o . A m a ior ia dos p ro t e s tantes e ca tó l ic os romano s t am bém

    ut i l i zam u m hinár io . A lé m d is so , os ca tó l i c os romanos e d iv e rsas t rad i

    ções de cu l t o p ro t e s tantes empregam, f reqüentemente ou s empre , um

    man ua l de cu l to . Em suma, um ou ma is l i v ros são cons ide rados requ is i

    t os para o cu l t o na ma ior par t e da c r is t andade .

    Os l i v ros que exam inarem os são manua is de cu l t o . E le s dão u ma

    v isão v ív ida da cons tânc ia no cu l t o c r is t ão . Mui t o embora e le s var iem

    ent re s i , os conteúdos apresentam seme lhanças n otáve is . Ape sar de

    have r d i f e renças em fa mí l ias e t rad ições , necess idades comun s e re cur

    sos s eme lhantes para a t ende r a e s sas necess idades são pe rcep t ív e is .

    Na igre ja ant iga , uma var iedade de l i v ros e ram usados por d iv e rsas

    pessoas que exe rc iam m inis t é r io s de l ide rança num mesm o cu l t o . Tan

    to os l e igos quanto os c lé r igos t inham minis t é r ios re conhec idos para

    exe rce r , as s im como l i v ros adequad os para capac i t á - los a desempenh ar

    seus papé is e spec í f i c os no cu l t o . A idé ia de co locar tudo em um l i v ro e

    e s t e apenas nas mãos do c le ro é um produto med ie va l que pouco t em a

    seu favor . A tua lmen te há um a inve rsão da menta l idade d o l i v ro único e

  • 8/18/2019 WHITE, James F. Introdução Ao Culto Cristão

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    uma vo l t a ao uso de vár ios l i v ros para l e i t o re s , c omen tadores , l íd e re s de

    canto, l íderes de oração e sacerdotes ou pastores . Exis te , af inal de

    contas , uma d iv e rs idade de papé is min is t e r ia is na condução do cu l t o ,

    papé is que podem se r compar t i lhad os ent re vár ias pessoas qu ando

    l iv ros adequados e s tão à d ispos ição .

    A invenção da impressão criou uma s ituação antes desconhec ida, a

    poss ib i l idade de padroniza ção l i túrgica. Nos iníc io s do séc . 16 hav ia cer ca

    de 200 variedades de missais em uso nas paróqu ias e ordens re l igiosa s

    europé ias . Tanto o s catóücos roman os quanto m uitos protestantes se con

    vencera m de que a uniform idade htúrg ica representava um avanço. Ass im

    sendo, o primeiro l ivro de orações angl icano de 1549 decretava que

    "doravante toda a regiã o deverá ter apenas um uso " . Efe t ivamente a mes

    ma coisa foi fe ita ao se padronizar os l ivros catól icos rom anos até a últ ima

    vírgula , com exceções perm it idas apenas para algum as poucas d ioceses e

    ordens re l i g iosas

    13

    . Essa tendência de padron ização em Rom a reprim iu os

    manua is de culto em ch inês no séc . 17 e outras adaptações à cultura nat iva

    que poderiam ter fortalec ido enormemente a missão na China e alterado de

    modo drást ico a his tór ia posterior.

    Ho je em d ia t anto os p ro t e s tantes quanto os ca tó l i c os romanos cons i

    de ram a padronização um ob je t i v o fa ls o . O que pode t e r s ido l ibe r tador

    no séc . 16 pare ce restr i t ivo no séc . 20. Es fo rços fe ito s em nosso temp o

    es tão tentando des faze r a c le r ica l i zação med ie va l , que compr im iu t odos

    os l i v ros l i túrg icos em documentos c le r ica is , e a padronização do s é c .

    16,

     que tornou todo s os l ivros idênt ico s , se ja para o c lero, se ja para os

    le igos . Uma var iedade de min is t é r ios em vár ias cu l turas ex ige uma

    aborda gem m ui to ma is p lura l i s ta dos l i v ros l i túrg icos . Ho je já podem os

    cons ta tar um genuíno p lura l i smo l i túrg ico co m d iv e rsas ro tas a l t e rnati

    vas de autor idade equ iva lent e d isponív e is na mesm a denomin a�