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8/18/2019 WHITE, James F. Introdução Ao Culto Cristão
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NTRO UÇÂO O
ULTO
RISTÃO
8/18/2019 WHITE, James F. Introdução Ao Culto Cristão
2/136
V-
James F. Wh ite
INTRO DUÇ ÃO AO CULTO CRISTÃO
S E M I N Á P I O O í f ^ Ó R D I A
São Le peido
- 6 I 3 U T E G A -
S e m i n á r i o o n e ó r d i a
I P G
ßSinodal
1997
8/18/2019 WHITE, James F. Introdução Ao Culto Cristão
3/136
Traduz ido do or ig ina l
Introduction to Christian Worship,
ed ição re v is
t a . © 1990 Ab in gdon P ress , Nash v i l l e (T N ) , Es tados Unidos da Am ér ica .
Os d i re i t os para a l ingu a por tuguesa pe r t en cem à
Ed i t ora S inoda l
R u a A m a d e o R o s s i , 4 67
93030-220 São Le opo ldo - RS
Tel.: (051) 590-2366
Fax : (051) 590-2664
Capa : Ed i t ora S inoda l
T radução : Wa l t e r O . Schlupp
Rev isão : Gabr ie la K i rs t
Ne lson K i rs t
Lu ís M. Sande r
Coordenação ed i t or ia l : Lu ís M. Sande r
Sé r ie : Teo log ia P rá t ica - Aux í l ios L i túrg icos 1
Seminário Concórdia
Biblioteca
Sist. n ,
96
^99.
D a t a tZ
-lOr IO
Publicado sob a coordenação do Fundo de Publicações Teológicas/
MsSuto Ecumênico de Pós-Graduação (IEPG) da Escola Superior de
Teologia (EST) da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil
(IECLB). -_
Art e - f ina l i zação e impressão : Ed i t ora S inoda l
C I P - B R A S I L C A T A L O G A Ç Ã O N A P U B L I C A Ç Ã O
Bibliotecária responsáve l: Rosem arie Bianchess i dos Santos CR B 10 797
W58 51 Wh i t e , James F .
Int rodução ao cu l t o c r is t ão
/
James F .
W h i t e ; t r a d u ç ã o d e W a l t e r S c h lu p p
- Sã o Leop oldo : Sinodal, 1997.
267 p.
T radução do or ig ina l : In t roduc t ion t o
C hr i s t i a n W o r s h ip
ISBN 85-233-0437-1
1. Teolo gia prát ica. I . T ítulo.
CDU 24
Sumário
•
Pre fá c io (Ed ição de 1990) 5
Pre fác io (Ed iç ão de 1980) 7
Capítu lo 1: Qu e Queremo s D izer com Cu lto Cr is tão ? 11
O Fenômen o do Cul t o Cr is tão 12
De f in iç ões de Cul t o Cr is tão 14
O Ling uaja r Cris tão sobre o Culto 19
Dive rs idade na Expr essão do Cul t o Cr is tão 24
Constân c ia nos T ip os de Ma nua is de Culto 30
Capítulo 2: A L ingu agem d o Tem p o 37
A Conf igu ração do Tem po Cr is tão 38
Teo lo g ia a par t i r do An o Cr is tão 53
Func ionamento do Ano Cr is tão 56
Capítu lo 3: A L ingua gem do Espaço 66
A s F u nç õ e s d o E s p a ç o L i t ú r g i c o 6 8
His tór ia da Arqu i t e tu ra L i túrg ica 73
Mús ica e Espaç o L i túrg icos 83
Ar t e L i túrg ica 89
Capítu lo 4: Oração P úb l ica D iár ia 95
His tó r ic o da Oraçã o Púb l ica D iár ia 96
Re f le x ões Teo lóg icas 107
Cons ide rações P rá t icas 109
Capítulo 5: A L iturg ia da Pala vra
111
His tó r ic o da L i turg ia da Pa lav ra 111
Teo lo g ia da L i turg ia da Pa lav ra 123
Que stões Pasto rais 126
Capítu lo 6: O Amor de Deus Torn ado Vis íve l
131
O Desenvo lv imento da Re f l e x ão sobre os Sac ramentos 133
Nova Comp reensão dos Sac ramentos 146
Capítu lo 7 : Iniciação C ristã 153
O Desenvo lv imen to da In ic iaçã o Cr is tã 153
Teo lo g ia da In ic iação Cr is tã 165
Asp ec to s Pas tora is da In ic iação Cr is tã 172
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Capítu lo 8: A E ucar istia
O Desen vo lv imento da P rá t ica Eucar ís t i c a .
Compreensão de Eucar is t ia
A ç ã o P a s t o r a l
Capítulo 9: Jornadas e Passagens
R e c o nc i l i a ç ã o
Minis t é r io junto aos Enfe rmos
M a t r im ô n i o C r i s t ã o
Ordenação
Pro f i s são ou Comiss ionamento Re l ig ioso . .
Sepul tamento Cr is tão
Notas
B ib l iogra f ia
A b r e v i a t u r a s
índ ic e Remiss ivo
Prefácio
( Ed i ção d e 1 9 9 0 )
P
assada mais uma décad a em que lec ion e i culto cr is tão , f ico es tupe
fa to com quantas mu danças os ú l t imos de z anos t rouxe ram para o
mundo, para a ig re ja , para a c iênc ia l i túrg ica e para as minhas p rópr ias
pe rspec t ivas . Uma nova ed ição parece necessár ia para que e s t e l i v ro
cont inue atendendo adequadamente a seus le itores e suas le itoras .
O p rópr io mundo aprox imou-se ma is daqui lo que parece s e r uma
era de paz e um futuro de e spe rança . A igre ja mudou em vár ios
sent idos , e uma das ma is impor tantes mudanças é a amp la ace i t ação
de novas p rá t icas no cu l t o , as qua is , em ce r tas ig re jas , acabaram
sac ramen tadas pe la inc lusão em novos manu a is de cu l t o . A t é m esmo
os l i v ros ca tó l i c os romanos pós -Vat icano I I e s tão s endo ed i t ados em
novas v e rsões , c omo o re c ente Ritual de Exéquias (1989 ) ; i gua lm ente
t raduções dos ú l t imos l i v ros re v isados (Ritual de Bênçãos, Cerimonial
dos Bispos) f ina lmen te sa í ram do p re lo (1989 ) . Out ras ig re jas p rodu z i
ram novos manua is de cu l t o , c omo The United Methodist Hymnal
(1989) e
The Preshyterian Hymnal
(1990 ) , que fazem co m que l i v ros
ante r iore s f iquem obso le t os .
A c iênc ia l i túrg ica t ambém não parou no t empo. Durante a ú l t ima
década fomos supr idos com m ais e s tudos acadêmicos so bre o cu l to do
que em qua lqu e r década ante r io r . D iv e rsas ed i t oras e s tão pe la p r im e i ra
ve z apresentando t í tu los sobre cu l t o em seus ca tá logos . P rovave lm ente
há ma is l i turg is tas nos Es tados Un idos ho je do que na som a de t odas as
out ras épocas da nossa h is t ór ia . A minha p rópr ia ó t i ca a re spe i t o de
mui tas co isas mudou n a med ida em q ue , após 23 anos de docênc ia em
seminá r io , passe i a ens inar aque les/as que e s tão agora l e c ionando em
semin ár io ou b revemente passarão a fazê- lo . Apren d i m ui t o com meus
alunos e minhas alunas e f ico fe l iz em constatar que suas contribuições
para a ig re ja e para o mundo acadêmico s e amp l iam cada v e z ma is .
Mui t o do que aprend i durante e s ses ú l t imos de z anos acarre tou as
mudan ças que s e encontram nes tas pág inas .
F ico m arav i lha do e ao mesm o tempo pe rp lexo pe lo sucesso des te
l i v ro , que supe rou em m ui to as minhas expec ta t ivas . Ao que parece , e le
s e t ornou o compênd io sobre cu l t o ma is amp lamente usado em seminá-
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r ios amer icanos , t anto ca tó l i c os romanos quanto p ro t e s tantes , e a t é
mesmo or t odoxos e car ismát icos . I s t o me int imida um pouco ; eu não
gostaria de alterar qualquer que se ja a fonte do seu atrat ivo. Mas quero,
s im , torná- lo mai s út i l para todos/as. Por isso tente i adaptá- lo mais a os
ca tó l i c os romanos e a uma gama mais d iv e rs i f i c ada de p ro t e s tantes .
I s t o ex ig iu c e r tas mudan ças e s trutura is . Ag or a há ma is mate r ia l s obre
cu l t o e jus t iça , bem com o cap í tu los à par t e s obre a oração d iá r ia e
sobre a l i turg ia da pa lav ra . A s e ção sobre a re conc i l iação fo i t rans fe r ida
do capítulo sobre a inic iação para o capítulo f inal, acrescentando-se al i
ma is mate r ia l s obre o comiss ionamento ou p ro f i s são re l i g iosa . Essas
a l t e rações , as s im espe ro , fa rão com que o mate r ia l s e ja ma is fác i l de
acompanhar .
No l ivro faço re ferênc ia às edições atuais de cerca de 50 dos manuais
de cu l to ma is amp lamente usado s na Am ér ic a do Nor t e de fa la ing le sa e
nas I lhas Br i t ân icas . Essas re fe rênc ias s e encont ram em tabe las ao
f inal de cada seção em questão. Os cerca de 600 termos em negrito se
re ve la r am úte is para e s tudantes ao re cap i tu la rem o vocabu lár io bás ico
necessár io para o e s tudo d o cu l t o . Cada t e rmo é d e f in ido no contex to .
Pense i em inc luir i lustrações . Hes ite i , entretanto, não só pe lo que is to
t e r ia s ign i f i c ado para o p re ço , mas t ambém pe lo fa to de cada i lus t ração
se r t ão e spec í f i c a cu l tura lmente , que e la t ende a l im i ta r a ima g ina ção a
s i p rópr ia , quando em quase t odos os casos eu gos tar ia de re t ra tar uma
grande var ieda de de poss ib i l idades . Mui tas v e zes s e pode fazê -lo ma is
fac i lmente s em fo togra f ias do que com e las .
Gostaria de agradecer a d iversos/as estudantes por suas contribui
ções ,
par t i cu larmente a meus ass is tent e s de pós - graduação , M ichae l
Mor ia r t y e Grant Spe rry-Whi t e , que fo ram mui to a lém de checar de ta
lhes , ap resentando suges tões conc re tas para impor tantes me lhor ias .
Ag rad eço igua lm ente a Nanc y Keg le r , She rry Re icho ld e Che ry l R eed
por sua hab i l idade em produz i r um manusc r i t o c la ro a par t i r de meu
or ig ina l desordenado . Por f im, t enho uma grande d ív ida para com
minha e sposa , Dr
8
Susan J . Wh i t e , por sua hab i l idade acadêmica em
me lhorar o man usc r i t o e pe la pac iênc ia com o autor t antas v e zes p reo
cupado . Que e s ta nova ed ição v enha p res tar um bom s e rv iç o às ig re jas .
Univ e rs idade de Not re Dame
18 de setem bro de 1989
James F . Wh i t e
Prefácio
( Ed i çã o d e 1 9 8 0)
D
epois de passar 20 anos lec iona ndo, a gente neces sariam ente acaba
por fo rmar uma op in ião sobre a lgumas ques tões . Daqui a duas
décad as tenho certeza de que o meu juízo a respe ito de certos a ssuntos
es tará ma is maduro . Mas , a me io cam inho andad o , e sta parece s e r um a
boa ocas ião para reunir o que ens ine i e ante ve r aqu i lo que a inda
prec iso aprende r . A expe r iênc ia de e s c re ve r e s t e l i v ro é um marav i lho
so exe rc íc io de condensar num único vo lume tudo que f i z ao longo de
vár ios anos . Quando embarque i nes t e min is t é r io , hav ia poucos que
le c ionavam cu l t o c r is t ão . A tua lmente , nada me dá p raze r ma ior do que
ter tantos/as companh eiros/as novos/as neste t rabalho co m os/as qu ais
posso compar t i lhar os re su l t ados do labor que desenvo lv i a t é ho je e
v isu aliz ar o futuro pa ra onde e les/as irão . Esp ero que este l ivro lh es
ajude em seu ens ino, até que encontrem m ane ira melhor de interpretar o
cu l t o c r is t ão . Com Pedr o Lomba rdo posso d iz e r : "Se a lgu ém consegu ir
explicar is to melhor, não f icare i com inve ja."
Tente i e xpor nes tas pág inas de fo rma tão suc inta quanto poss ív e l
tudo aqu i lo que cons ide ro s e r in formações e s senc ia is para munir a l
guém dos e lementos necessár ios para o min is t é r io da l ide rança no
culto. Tente i inc luir tudo que realm ente se prec isa sab er para p lane jar,
preparar e conduzir um culto cr is tão, de ixando fora os detalhes re feren
t e s aos cos tumes ou aos manua is de cu l t o pe r t inentes à denominação de
cada um/a. As in form ações con t idas nes t e l i v ro deve r iam se r re le vantes
por igua l t anto para pas tore s/as ou sace rdot e s quanto para membros
le igos de comissõ es de cu l to . Natura lmen te t e rão que comp lementar
es t e mate r ia l c om sua fami l ia r idade com seus p rópr ios cos tumes ou
manuais de culto.
Para fac i l i tar essa tare fa, f iz re ferênc ia neste l ivro aos manuais de
cu l t o ma is amp lamente usados , ou s e ja , àque le s usados pe la ma ior ia
dos c r is t ãos de l íngua ing le sa nos Es tados Unidos . A lusã o f reqüente é
fe i t a aos manua is ca tó l i c os romanos re v isados , par t i cu larmente o r i tu
al , o sacramental e o pont i f ical . O novo Lutheran Book oí Worship foi
pub l icado jus tamente quando e s tas pág inas fo ram in ic iadas , e é bem
prováve l que o novo
Book oí Common Prayer
amer icano re ceba aprova-
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ção f ina l pou co antes da pub l icação des t e l i v ro . Ass im sendo , pude faze r
re fe rênc ia a ambos . Como es tou p ro fundamente envo lv ido na ed ição do
Supplemental Worship Resources da Igre j a Met odis ta Unida, foi poss í
v e l fa ze r re fe rênc ia àque le s vo lumes já pub l icados e àque le s a inda por
se rem pub l icados , bem como ao Book of Worship de 1965. Re me to o/a
le itor/a também ao
Worshipbook
presb iter ian o de 1970 e ao
Services of
the Church
(1969) e ao
Hymnal
(1974) da Igre ja Unida de Cris to.
A ocas ião é adequa da para s e re sum ir o que fo i r ea l i zado na onda de
rev isões l i túrg icas pós -Vat icano I I , quase comp le tas a tua lmente . No
túmulo do papa Mar t inho V e s tão gravada s as pa lav ras : "Sua época fo i
de f e l i c idade . " Es ta parece s e r uma desc r ição apropr iada da s i tuação
ecumênica do cu l t o na nossa época . Podemos v e r na ú l t ima década e
me ia de re v isão l i túrg ica um pe r íodo de f e l i c idade em que as ig re jas do
mun do s e apro x ima ram m ais compar t i lhando suas r iquezas de cu l t o
umas com as outras . Não há e v idênc ia ma ior das conquis tas e cu mênicas
do nosso tempo do que a reapr ox im ação ocorr ida no cu l t o c r is t ão nos
anos 60 e 70 . Ass im sendo , é poss ív e l ago ra e s c re ve r u ma int rodução ao
cu l t o c r is t ão que , as s im espe ro , a t ende rá t anto a ca tó l i c os romano s
quanto a p ro t e s tantes .
O e s tudo do cu l t o c r is t ão pode o fe re ce r a qua lque r pesqu isador/a
int e re ssado/a um recurso va l ioso para a compreensão do p rópr io c r is
t ian ism o. Nã o há man e i ra me lhor de s e descobr i r o c e rne do c r is t ian is
mo do que t ornar - s e ma is c ient e daqui lo q ue os c r is t ãos fazem quando
se reúnem para o culto. Tanto a pesso a cris tã quanto a não-cris tã
podem apren de r mui t o sobre a t rad ição re l i g iosa domina nte na cu l tura
oc idental ao incrementar seu conhec imento sobre o culto cr is tão.
Es t e l i v ro p re t ende s e r um a int rodução ao cu l t o c r is t ão . Mas é t am
bém uma int e rp re tação do assunto . Não hes i t e i em arr is car novas
pe rcep ções e in t e rp re tações a que eu p rópr io chegue i . Out ras pessoas
podem e hã o de re futar a lgumas de las . Aqu i lo que fo r vá l ido nessas
int e rp re tações pe rmanece rá ; o que não o fo r s e rá subs t i tu ído por a l
gu ém m ais pe rc ep t iv o . Expe r imen te i e ap r imore i ao longo dos anos a
organ ização bás ica do assunto e vár ios de ta lhes ao usá-los com minh as
alunas e meus alunos. É est imulante antever que outras pessoas desen
vo lv e rão int e rp re tações ma is sa t is fa t ór ias nos p róx imos anos . Mui ta
pesquisa a inda p rec isa s e r f e i t a em es tudos l i túrg icos . Mui tas á reas
a inda são mis t e r iosas , c omo as or igens do cu l t o s inag oga l , as font e s do
Dia de Re is (Ep i fan ia ) , os de ta lhes do o f í c io das ca t ed ra is , o cânone
romano ent re H ip ó l i t o e Ambrós io e a gênese do cu l t o dominica l normal
usado nas t rad ições amer icana re formada , me tod is ta e das igre jas l i
v re s .
Se este l ivro puder induzir outras pessoas a f icar na expectat iva
praze rosa por pesqu isa v indou ra , t e rá s ido uma bem-suced ida int rodu
ção e in t e rp re tação .
Embo ra boa par t e d o l i v ro s e ja de na ture za acad êmica , t odo e le e s tá
d i re c ionado para o aspec to pas tora l no s ent ido de fo r ta le c e r a l id e rança
de cu l t o nas comunidades c r is t ãs . Boa par t e e s tá fo rmulada de m ane i ra
desc r i t i v a a f im de desc re ve r o que fo i e por que , porém a ma ior ia dos
cap í tu los são conc lu ídos com um a seção normat iva sobre o que deve r ia
ser, e por que o deveria, nas igre jas h oje em dia. As se ções descr it ivas
fornecem o pano de fundo para as par t e s normat ivas . Qua lq ue r pessoa
encarregada de l ide rança no cu l t o t em a re sponsab i l idade de t omar
mui tas dec isões . Ent re tanto , e s sas dec isões só podem e s tar bem in for
madas quan do s e basearem em todos os fa t ore s rele vantes . Por i s so em
cada cap í tu lo as in formações h is t ór icas e t e o lóg icas p re cedem as s e
ções pas tora is . Quando normas pas tora is para ações são enunc iadas ,
i s t o s empre é f e i t o em t e rmos daqui lo que os c r is t ãos t êm pra t icado e
como têm re f le t ido a respe ito dessas prát icas . O culto cr is tão, da mes
ma forma como a é t i ca c r is t ã , é um assunto t anto desc r i t i v o quanto
norm at ivo . Dec isõ es e spec í f i c as p re c isam se r t omadas loca lmente em
função das pessoas e dos lugares , porém t ente i e sboçar normas amp las
dentro das qua is s e possam tom ar dec isões pas tora is .
Não é fác i l c ondensar t oda uma d is c ip l ina n as pág inas de um l i v ro de
modes tas d imensões . Quase cada parágra fo rep resenta mate r ia l que
pode r ia p re enche r u m l i v ro int e i ro ou vár ios l i v ros . T iv e que reduz i r
l ivros a pará grafo s , capítulos a frases , dand o pouco espaço p ara funda
mentar a f i rmações . E ssa f rus t ração fo i l i ge i ramente a t enuada pe la re la
ção da b ib l iogra f ia a f im ao f ina l do l i v ro e nas notas . Mui t os l i v ros
essenc iais estão c itados nas notas , e essas re ferênc ias não são repet i
das nas b ib l iogra f ias . T iv e que m e concent rar em pr ior idades de int e re s
s e ma is amp lo , e l im ina ndo t odas as out ras. Um n úm ero desproporc io
na lmente reduz ido des tas pág inas d is cute o cu l t o nas igre jas or t odoxas
or ienta is , uma ve z que a ma ior ia de minhas l e i t o ras e meus le i t o re s
representa a cr is tandade oc idental e terá interesse maior em sua pró
p r ia ascendênc ia l inear do que num a l inha co la t e ra l . Pou co s e encont ra
aqui s obre a l i turg ia do b ispo , que int e re ssa a uma min or ia reduz ida ( e
não opr imid a ) . Tam bém os int e re sses e spec í f i c os de con greg açõe s mo
nás t icas re c ebe r am pouca a t enção .
Concentre i-me nas prát icas e conce itos da igre ja dos primeiros qua
t ro s é cu los . Se s e sabe qua is fo ram as dec isões t omadas pe la ig re ja
nes t e pe r íodo e s eu porqu ê , t odo o re s to é s imp le s . Boa p ar t e da c r is t an
dade hoje em dia se encontra num estágio de resgate das prát icas e
conce i t os dos p r imó rd ios . O fu turo é que ju lga rá s e rom ant i zamos
demais ou não o pe r íodo in ic ia l . Se ja como for , o c onhec imento das
dec isões t omadas no pe r íodo in ic ia l é e s senc ia l para s e compreende r
todos os desdobramentos subseqüentes .
A f im de fac i l i tar o estudo, coloquei nomes e termos centrais e algu
mas da tas em negr i t o . Boa par t e da int rodução a qua lque r assunto
8/18/2019 WHITE, James F. Introdução Ao Culto Cristão
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cons is t e na fami l ia r i za ção c om o vocabulár io bá s ico . As pa lav ras e
expressões e s senc ia is para os e s tudos l i túrg icos são t ornadas ma is
conspícuas, de modo que os/as estudantes possam fazer a recapitula-
ção v e r i f i c ando sua fami l ia r idade co m ta is t e rmos .
Hoje em dia estamos mais consc ientes do que nunca de quão rapida
mente nossa l ing uag em está mudan do. Is to é part icularmen te ev idente no
caso de term os que indicam ident idade sexual. A reso lução futura dessas
mudanças ainda é incerta, e termos que usamos hoje ainda têm caráter
p rov isór io . A lgu ns dos que adot e i indub i tave lmente parece rão desconhe
c ido s e duros . Ma s a infe l ic idade é melhor d o que a injust iça, e apena s o
tempo dirá que termos v irão a prevalecer no que se re fere a Deus. Tenho
que sol ic itar que meus le itores e minhas le itoras se jam indulgentes com
te rmos p ro v isór ios enquan to e vo lu i o uso no v e rnácu lo .
Es t e l i v ro rep resenta a cont r ibu ição de mui tas pessoas que de ram de
s i para torná- lo uma obra melhor. Sou grato às seguintes pessoas : Dr.
Hoyt L . H ickman, Dr . R ichard Es l inge r e E l i s e Shoemake r , da Seção
sobre Cul t o da Junta de D is c ipu lado da I gre ja Me tod is ta Unida ; meus
co le gas da Pe rk ins Schoo l o f Theo logy , p ro fe s sor H. Grady Hard in ,
p ro fe s sor V i r g i l P . How ard e decano Joseph D. Qui l l ian , Jr .; p ro fe s sor
Don E . Sa l i e rs , da Cand le r Schoo l o f Theo logy ; Ar lo Du ba , do P r ince ton
Theo log ica l Semin ary ; p ro fe s sor Wi l l ia m Crocke t , da Vancou ve r Schoo l
o f Theo logy ; Lou is e Sh own e I rm ã Nancy Swi f t , do St . John 's Sem inary ,
por l e rem e comentarem com mui ta p ropr iedade o manusc r i t o . A inda
es tou aprendendo mui to com meu p ro fe s sor de s eminár io Pau l W. H oon,
que cont inuou a ens inar-me por meio de seus comentários e suas corre
çõe s a resp e ito destas pág ina s . O professor D echer d H. Turn er, Jr.,
d i re t or da Br idwe l l L ib rary , t em dado mui to de s i para a judar mui tas
out ras pessoas a abraçarem a carre i ra acadêmica . Reco nheç o sua cons
tante generos idade dedicando este l ivro a e le .
Bonnie Jordan fe z p rod íg ios ao dec i f ra r meu manusc r i t o a uma d is
tânc ia de 1.900 milhas e t ransformá- lo em cópia l impa e ordenada.
Minha e sposa e f i lhos fo ram mui to neg l igenc iados durante e s ses d ias
em que merec iam mais da companhia que ded ique i e xc lus ivamente à
máquina de e s c re ve r . Peço o s eu pe rdão e e spe ro f i c ar ma is humano
agora que e s tas pág inas e s tão conc lu ídas .
Passumps ic , Ve rmont
5 de março de 1979
Capítulo 1
Que Queremos Dizer
com Culto Cristão ?
P
ara se fa lar de m odo inte l ige nte so bre ' c i il lQ_ cr is t ão" , é prec iso
dec id i r p r ime i ro o que o t e rmo s ign i f i c a exa tamente . Não é uma
expressão fác i l de de f in ir . Mas enquanto nã o s e f i z e r uma re f l e xão
sobr e o que d is t ingue o culto cr is tão autênt ico, é fác i l confun dir e sse
cu l t o com ac résc imos i r re le vantes de cu l turas a tua is ou passadas em
que os cr is tãos ce lebraram culto.
Em pr ime i r o lugar, a p róp r ia pa la v ra " cu l t o " já é e xaspe ra doram ente
dif íc i l de se de f inir . O que d is t ingue o culto de outras at iv idades huma
nas ,
par t i cu larmente daqu e las que s e carac t e r i zam p or sua f reqüente
repe t ição ? Por que o culto é uma at iv idad e d iferente das tare fas d iária s
ou de qua lque r a to hab i tua l? Ma is e spec i f i c amente , qua l é a d i f e rença
ent re o cu l t o e out ras a t i v idades que s e repe t em na p rópr ia comun idade
cris tã? Por exemplo, o que d is t ingue o culto da educação cris tã ou de
obras de caridade?
Em se gun do lugar , depo is de re so lv e r o que que rem os d ize r c o m
" c u l t o " , c o m o v a m o s d e t e r m ina r o q u e t o r na t a l c u l t o " c r i s t ã o " ?
Nossa cu l tura e s tá che ia de vár ios out ros t ipos de cu l t o . D iv e rsas
r e l i g i õ e s o r i e n t a i s f o r a m in t r o d u z i d a s e m m u i t a s c o m u n id a d e s .
M u i t a s p r a t i c a m c u l t o , p o r é m o b v i a m e n t e e l e nã o é c r i s t ã o . Q u a i s
carac t e r ís t i c as d is t int ivas t orn am " c r is tã o " e s t e ou aque le cu l t o?
A l i á s , s e r á s e m p r e " c r i s t ã o " t o d o c u l t o c e l e b r a d o p e l a c o m u n id a d e
c r is tã?
Nenhuma dessas questões é fác i l de se resolver, mas e las certamente
prec isam se r examinadas . E não são pura e s imp le smente assunto
especu la t iv o de int e re sse apenas t eór ic o . A de f in ição do qu e carac t e r i
za e spec i f i c amente o cu l t o c r is t ão é uma fe r ramenta p rá t ica v i t a l para
qua lqu e r pessoa que t enha a re sponsab i l idade de p lane ja r , p reparar ou
conduz i r o cu l t o c r is t ão . Em anos re c entes , o aparec imento de mui tas
formas novas de culto fez com que este t ipo de análise bás ica se tornas
s e a inda ma is c ruc ia l para as pessoas encarregadas do min is t é r io do
cu l t o . E las p re c isam cons tantemente par t i c ipar de dec isões ao s e rv i -
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Desde os t empos do Novo Tes tamento t emos t e s t emunho de c r is t ãos
reunindo- se para c e leb rar o que Paulo cham a de " c e ia do Senhor " (1 Co
11.20). Para muitos cr is tãos esta é a forma arquet íp ica do culto cr is tão.
Somente uma pequena minor ia e v i t a c e leb rá - la em formas ex t e r io re s .
Em mui tas ig re jas e la é uma expe r iênc ia s emana l ou mesmo d iár ia . O
capítulo 8 se ocup ará das form as e do s ignif ic ado d a ce ia do Sen hor.
F ina lmente , e x is t e uma var iedade de r i t os pas tora is c omuns , s ob
um a ou out ra fo rma, a quase t odas as comu nidades c r is t ãs cu l tuantes .
A lg un s de le s ass ina lam e tapas na jo rnada da v ida que podemos ou não
repet ir : of íc ios de perdão e reconc i l iação, ou of íc ios de cura e bênção
para os doentes e mor ibundos . Out ros são r i t os de passagem como
casamentos , o rdenações , p ro f i s são re l i g iosa ou fune ra is . Mui t os desses
r i t os pas tora is são o f í c ios ocas iona is c e leb rado s apenas quando a oca
s ião ass im ex ig e . Mui ta s e tapas e e xpe r iênc ia s da v ida são comuns a
todas as pessoas , se jam e las cr is tãs ou não. Ofíc ios ocas ionais para
ass ina lar e s sas jo rnad as ou passagens encont raram lugar pe rm anente
no cu l t o c r is t ão . Exp lora remo s e sses r i t os pas tora is no cap í tu lo 9 .
Obviamente , essas sete estruturas e of íc ios bás icos não cobrem todas
as poss ib i l ida des do culto cr is tão , ma s descrev em e fe t ivamente a vasta
maioria de casos em que esse culto ocorre . Podem-se acrescentar a e las
diversos encontros para oração , concertos sacros , reav ivamen tos , novenas
e uma amp la gama de devoções . Mas na ma ior par t e do c r is t ian ismo
todos e s t e s e lementos são c la ramente subs id iá r ios em re lação aos s e t e
menc ionados e são a t é c e r t o ponto d ispensáve is . Conseqüentemente ,
nossa expos ição neste l ivro se ocupará sobretudo das sete estruturas e
o f í c ios bás icos , menc ionando ocas iona lmente out ras poss ib i l idades .
Ass im, nossa p r ime i ra re spos ta para a pe rgunta : "Que é cu l t o c r is
t ão? " é s imp le smente re lac ionar e desc re ve r as fo rmas bás icas que e le
assume e d i z e r que e s tas são as que me lhor o de finem. Ma s p rec isam os
inves t igar t ambém out ras abordagens .
Definições de Culto Cristão
Nossa int enção ao exam inar as vár ias man e i ras como d i f e rente s
pensadores c r is t ãos fa lam sobre o cu l t o c r ist ão não é faze r um es tudo
compara t iv o , ma s e s t imular a re f l e xão . A me lhor mane i ra de s e ent en
de r o s ign i f i c ado de qua lque r t e rm o é obse rvá - lo em uso , ao invés de dar
uma s imp le s de f in ição . Por tanto , daremos uma o lhada por sobre os
ombros de pensadores p ro t e s tantes , o r t odoxos e ca tó l i c os para v e r
como usam o t e rmo. Nenhum dos s eus var iados usos do t e rmo exc lu i
out ros . F reqüentemente e le s s e sobrepõem, mas cada uso ac re scenta
novas pe rcepções e d imensões , c omp lementando ass im o re s to . Es t e
es forç o de d izer o que qu erem os dar a entender e de dar a entender o que
d izemos é um es forço cont ínuo , su je i t o a re v isão à med ida que nossa
comp reensão do cu l t o c r is t ão ama durece e s e apro funda .
O p ro fe s sor Pau l W. Hoo n deu uma grande cont r ibu ição para os
es tudos l i túrg icos em seu impor tante l i v ro
The Integrity of Worship,
pub l icado e m 1971 . Esc reven do a par t i r da t rad ição me tod is ta , H oon
preocupa-se com "d is c e rn imento t eo ló g ico bem com o sens ib i l idade para
cu l turas " . Do p r inc íp io ao f im e le en fa t i za o c entro c r is t o lóg ico do cu l t o
c r is tão , o qua l "por de f in ição é c r is t o lóg ic o , e a aná l i s e do s ig n i f i c ado
do cu l t o t ambém prec isa s e r fundamenta lmente c r is t o lóg ica "
1
. Tal culto
é p ro fundamente encarnac iona l por s e r gove rna do por t odo o e v ento de
Jesus Cris to. Q-culto-cris tão está v inculado d ire tamente aos eventos da
his t ór ia da sa lvação . Cada e vento nesse cu l t o e s tá l i gad o d i re tamente
ao tempo e à his tória enquanto cr ia pontes para e les e os t raz para
dent ro do nosso p resente . O "núc leo do cu l t o " , d i z Hoon, " é Deus ag ind o
para dar sua v ida ao s e r humano e para l e var o s e r huma no a par t i c ipar
dessa v ida " . Por i s so , tudo que fazemo s como ind iv íduos ou como igre ja
é a fe tado pe lo cu l t o . A v id a c r is t ã , a f i rma Hoo n, é uma v ida l i túrg ica .
Ho on sustenta que "o culto cr is tão é a auto-r eve lação de Deus em
Jesus Cris to e a respo sta do ser hum ano " , ou um a ação dupla: a ação de
"Deus para com a a lm a human a em Jesus Cr is to e a ação re spons iva do
se r humano a t ravés de Jesus Cr is t o " . Por me io de sua pa lav ra , Deus
" re ve la e c omunica s eu p rópr io s e r ao s e r humano" . As pa lav ras - chave
na compreensã o de Ho on a re spe i t o do cu l t o c r is tão parecem s e r " re v e
laçã o" e " re spos ta " . N o c ent ro de ambas e s tá Jesus Cr is t o , que re v e la
Deus a nós e por meio do qual damos a nossa resposta. Trata-se de uma
re lação re c íp roca : Deus t oma a in ic ia t i va d i r ig indo- se a nós por me io de
Jesus Cr is t o e nós re spondemos por me io de Jesus Cr is to , usando u ma
var iedad e de emoções , pa lav ras e ações .
O pensamento de Peter Brunner, teólogo luterano que lec ionou por
muitos anos na Univers idade de Heide lberg, é parale lo ao de Hoon em
muitos aspectos , porém e le se expressa em termos bastante d i ferentes
em sua impor tante ob ra
Worship in the Name of Jesus.
B run ne r des f ruta
da c la ra vantagem de usar o t e rmo a lemão para des ignar o cu l t o ,
Gottesdienst, que tem tanto a conotação de serv iço de Deus aos seres
humanos quanto a de serv iço dos seres humanos a Deus. Brunner apro
ve ita essa ambigüidade e fa la da "dualidade" do culto. O cerne do l ivro
cons is t e em do is cap í tu los int i tu lados "Cul t o como se rv iç o de Deus à
comun idade " e "Cul t o como se rv iç o da comunidade pe rante Deus " . Nes
ta dualidade vem os s imilarid ades com os conce itos de reve laçã o e respos
ta de Hoo n, porém mais um a ve z é necessár io caute la , uma ve z que Deus
é atuante em ambas. Do iníc io ao f im, é Deus soz inho que torna o culto
poss ív e l : "A dád iva de Deus e voca a ent rega human a a Deus . "
2
A autodoação de Deus ocorre t anto em eventos h is t ór ic os passados
quanto na a tua l " rea l idade -pa lav ra d o e v ento " no qua l a t é mesmo a obra
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hum ana da p roc lam ação é , a r igor , ação de Deus . O mesmo se ap l ica ao s
sac ramentos , nos qua is , por me io das nossas ações , é Deus que a tua .
Brunner c ita Lutero, que dec lara, a respe ito do culto, "que ne le nenhu
ma out ra co isa aconteça exce to que nosso amado Senhor e le p rópr io
fale a nós por meio de sua santa palavra e que nós , por outro lado,
fa lemos com e le por meio de oração e canto de louvor" . Os seres huma
nos re spondem aos a tos d iv inos de re v e laçã o fa lando a Deus pe la ora
ção e pe los h inos " como a to da nova obed iênc ia con fe r ida pe lo Esp í r i t o
Santo " . A oraçã o , d i z Brunner , " é a pe rmissã o que Deus dá a Seus f i lhos
de juntar suas vozes à d is cussã o das Suas ques tões " . Ass im sendo , a
dua l idade do cu l t o , para Brunner , é encobe r ta por um foco ún ico , que é
a at iv idade de Deus tanto em se nos autodoar quanto em inst igar nossa
resposta às suas dádivas .
Como nossos outros pensadores , o professor Jean-Jacques von Allmen
a f i rma a base c r is t o lóg ica do cu l t o c r is t ão em seu impor tante l i v ro
O
Culto Cristão: Teologia e Prática.
Esc re ven do dent ro da t rad ição re for
mada, este ex-professor da Univers idade de Neuchâte l na Suíça de fende
v igorosamente a compreensão do cu l t o c r is t ão como a re cap i tu lação
daq uilo que Deu s já fez . O culto, d iz e le , " resu me e conf i rma semp re de
novo a h is t ór ia d a sa lvação cu jo ponto cu lm inante s e encont ra na int e r
v enção encarn ada do Cr is to . Nesse re sumo e conf i rmação re i t e rados , o
Cr is t o cont inua sua obra sa lvadora por me io do Esp í r i t o Santo "
3
. Tal
culto está estre itamente l igado à crônica b íb l ica dos eventos salv í f icos .
E le p roporc iona u ma s ínt e se renovada do que Deus f e z e uma antec ipa
ção renovada do que ainda v irá a ser.
A desc r iç ão de von A l lme n ace rca do cu l t o da igre ja apresenta
out ros aspec tos impor tantes . cu l t o é a " ep i fan ia da igre ja " , a qua l ,
v is t o q ue re sum e a h is t ór ia da sa lvação , capac i t a a ig re ja a " t ornar - s e
e la mesma, t omar co nsc iênc ia de s i mesma e s e confe ssar ent idade
espec í f i c a " . A ig re ja ganha sua ident idade no cu l t o na med ida em que
sua v e rdade i ra n a ture za é t ornada man i fe s ta e e la é l e vada a con fe ssar
sua p róp r ia e s sênc ia . Porém o mund o também é p ro fundamente a fe ta
do pe lo cu l t o c r is t ão . O cu l t o é ao mesmo t em po am eaça de ju í zo e
p romessa de e spe rança para o p rópr io mundo, mesmo que a soc iedade
secu lar p ro fe s se ind i f e rença em re lação àqu i lo que os c r is t ãos fazem
quand o s e reúnem. O cu l t o c r is t ão contes ta a jus t iça hum ana e aponta
para o d ia em que t odas as conquis tas e f racassos s e rão ju lgados ,
o fe re cendo , porém, e spe rança e p romessa pe la a f i rmação de que , em
úl t ima aná l is e , tudo e s tá nas mãos de Deus . Para von A l lmen, o cu l t o
c r is tão t em t rê s d imensões - chave : re cap i tu laçã o , ep i fan ia e ju í zo .
Esc reven do a par t i r da t rad ição ang lo - ca tó l ic a , Eve lyn Un de rh i l l pu
bl icou seu c láss ico estudo
Worship
em 1936. Ela expresso u um a série
de concepções de que já t ra tamos , ap resentando , porém , a lgum as pe r
c epções d is t intas . Seu l i v ro p r inc ip ia com as pa lav ras : "O cu l t o , em
todo s os seus gra us e t ipos , é a respo sta da criatura ao E tern o." O r itua l
p~eTò~qual se expressa todo culto público emerge , d iz e la, "como uma
emoção re l i g iosa e s t i l i zada" . O cu l t o s e carac t e r i za pe la " c oncepção do
cultuante a respe ito de Deus e sua re lação com Deus" . O culto cr is tão se
d is t ingue por s e r " s emp re cond ic ionado pe la c rença c r is tã ; e par t i cu lar
mente pe la c rença sobre a na ture za e a ação de Deus , re sum ida nos
grandes dog mas da t r indade e da encarnação" . Out ra carac t e r ís t i c a do
cu l t o c r is t ão é s eu " cará t e r p ro fundamente soc ia l e o rgânico " , o que
s ign i f i c a que e le nunca é um emp reend imento so l i t á r io .
Longe de s e r cu l t o em ge ra l , " o cu l t o c r is t ão " , dec la ra e la , " é uma
ação sobrenatura l , uma v ida sobrenatura l " imp l icando "um a re spos ta
bem de f in ida a uma re ve lação be m de f in ida " . O cu l t o c r is t ão t em um
cará t e r c onc re to , po is s omente por me io do "m ov imen to do Deus pe rma
nente em direção a sua criatura é dado o incent ivo para o mais profun
do culto do ser human o e é fe ito o ape lo pa ra seu amor sacri f ica i ( .. .)
Oração e ( . . . ) ação são maneiras pe las quais e le responde a essa mani
f e s tação da Pa lav ra . "
4
Idé ias um tanto s eme lhantes são expressas a par t i r da pe rspec t iva
or t odoxa pe lo fa le c ido p ro fe s sor Georg F lorovsky : "O cu l t o c r is t ão é a
re spos ta dos s e re s humanos ao chamado d iv ino , aos 'p rod íg ios ' de
Deus , cuhi i inand ono a to redentor de Cr is t o , "
5
F lo rovsk y faz ques tão de
enfa t i zar a na ture za comu ni tár ia des ta re spos ta ao cham ado de Deus :
"A ex is t ênc ia c r is t ã é e s senc ia lmente comuni tár ia ; s e r c r is t ão s ign i f i c a
es tar na comunidade , na igre ja . " É n es ta comunidade que Deus a tua no
culto, tanto quanto os próprios cultuadores . Como resposta à obra de
Deus t anto no passado quanto em n osso me io , " o cu l t o c r is t ão é p r imor
d ia l e e s senc ia lmente um a to de louvor e adoraçã o , que t ambém imp l ica
gra to re conhec imento pe lo amor abrangente e bondade redentora de
D e u s "
6
.
Essas idé ias são re força das po r outro teólo go o rtod oxo , _Niko.s_A..
Niss iot is , que enfat iza a presença e as ações da tr indade no culto.
Dec la ra e le : "O cu l t o não é p r imord ia lmen te in ic ia t i va do s e r human o,
mas a to redentor de Deus em Cr is t o por me io do s eu Esp í r i t o . "
7
D a
mesm a forma que Brunner , N is s io t i s en fa t i za a " abso luta p r ior idade de
Deus e s eu a to " , que os s e re s humanos somente podem reconhece r . Pe lo
pode r do Esp í r i t o Santo , a i g re ja como corpo de Cr is t o pode o fe re ce r o
cu l t o que é agradáve l c omo a to t anto p roveniente da t r indade quanto
d i re c ionad o para e la .
Em c í rcu los ca tó l i c os romanos t em s ido comum desc reve r o cu l t o
como "a g lor i f i c ação de Deus e a sant i f i c ação da humanidade " . Es ta
expressão p rovém de um motu próprio c láss ico de 1903 sobre mú sica
na igre ja, de autoria do papa Pio X, no qual e le fa lou do culto como
sendo para " a g lór ia de Deus e a sant i f i c ação e ed i f i c ação d os f i é i s "
8
. O
papa Pio X II repet iu esta exp ressã o em sua enc íc l ica de 1947 sobre o
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culto, int itulada Mediator Dei. A mesma de f in ição aparece com f re
qüênc ia na
Constituição sobre a Sagrada L iturgia
do Vat ica no I I , de
1963,
que " em ma is de 20 passagens co rr ige a de f in ição ante r io r de
l i turg ia e fa la p r ime i ro da sant i f i c ação do s e r humano e então da
g lor i f i c ação de Deu s "
9
. Esta inversão de ordem lança a ins is tente per
gunta : o que tem precedên cia, a glor i f icaç ão de Deus ou torna r santas as
pessoas? M ui t os dos debate s sobre o cu l t o em anos re c entes t êm g i ra do
em torno dessa ques tão , que é par t i cu larmente pe r t inente para o s mús i
cos de igre ja.
Deveria o culto ser a oferta dos nossos melhores talentos e artes a
Deus , mesm o que em formas inus i t adas ou mesm o incomp reens ív e is
para as pessoa s? Ou deveria, antes , art icular-se em l ing ua gem e est i lo s
fami l ia r e s de modo que o s ign i f i c ado s e ja cap tado por t odos , embora o
re su l t ado s e ja a r t i s t i c amente menos impress ionante? F e l i zmente e s sas
a l t e rnat ivas são fa lsas . G lor i f i c ação e sant i f i c ação fo rmam uma unida
de . Ireneu nos d iz que a gló r ia de Deus é um ser human o plen amen te
v ivo . Nada g lor i f i c a a Deus ma is do qu e um se r humano t ornado santo ;
nada t em maior p robab i l idade de t ornar santa uma pessoa do que o
dese jo de glor i f ica r a Deus. Tan to a glor i f icaçã o de Deus quanto a
sant i f i c ação das pessoas carac t e r i za m o cu l t o c r is tão . Tensões aparen
tes entre e las são superf ic ia is . O uso que Hoon faz dos conce itos de
re ve lação e re spos ta lança luz sobre i s t o : é p re c iso abordar as pessoa s
em t e rmos que e las possam compreende r , e e las p re c isam expressar
seu cu l t o em formas que t enham int egr idade . Tanto a abordab i l idade
quanto a autent ic idade fazem par t e do cu l t o . A l ém d is so , pessoas ar t i s
t i c amente ingênuas mui tas v e zes c r ia ram ar t e e le vada pe la s ince r idade
de sua expressão .
Outra maneira de se fa lar sobre o culto cr is tão tornou-se comum em
anos recentes . Trata-se da tendência a descrever o culto cr is tão como "o
mis t é r io pasca l " . Boa par t e da popular idade des t e t e rmo s e deve aos
esc r i t os de Odo Case i , O .S .B . , monge bened i t ino a lemão fa le c ido em
1948. As raíz es desse termo sã o tão ant ig as quanto a igre ja. O m istério
pasca l é o Cr is t o re s surre to p re sente e a t i v o em nosso cu l to . "M is t é r io "
neste sent ido é a auto-reve lação d iv ina daquilo que ultrapassa o enten
d imento human o, a re v e lação do a t é então ocu l t o . O e lemento "pas ca l " é
o ato redentor central de Cris to em sua v ida, minis tér io, sofr imento,
mor t e , re s surre ição e ascensão . Podem os fa la r do mis t é r io pasca l c omo
a comunidade c r is t ã compar t i lhando os a tos redentores de Cr is t o ao
ce lebrar culto.
Case i d is corre sobre a mane i ra em que os c r is t ãos v iv em, por me io do
cu l t o , "nossa p rópr ia h is t ór ia sagrada" . Quando a ig re ja comemora os
eventos da his tória da salvação, "o próprio Cris to está presente e age
por meio da igre ja, sua
ecclesia,
enquanto e la age com e le "
1 0
. Ass im,
esses mesmos atos de Cris to voltam a tornar-se presentes com todo o
seu poder para salvar. O que Cris to real izou no passado volta a ser
conced ido à pessoa que p res ta cu l to , para que o expe r imente e ap ro pr ie
no t empo a tua l . É um a forma de v iv e r c o m o Senhor . A ig re ja apresenta
o que Cr is t o rea l i zou por me io da nova rep resentação desses e v entos
pe la comun idade cu l tuante . A pessoa p ar t i c ipante do cu l t o pode ass im
vo l t a r a expe r ienc iá - los para sua p róp r ia sa lvação .
Cada uma dessas d iversas de f inições é apenas uma estação no traje to
do/a próprio/a le itor/a rumo a uma comp reensão pessoal do cu lto cr is tão.
É prec iso f icar aberto para descobrir outras de f inições e chegar a uma
com preens ão m ais profunda das mesmas, à medida qu e se cont inua a
fazer experiênc ias e re f le t ir sobre o que de f ine o culto cr is tão.
O Linguajar Cristão sobre o Culto
Outramane i ra út i l de e s c la re ce r o que que remos d ize r c om " cu l t o
c r is tã o " 6 v e r i f ic a r " " a lgumas pa lâv ras - chave que a comun idade c r is t ã
esco lheu para fa la r s obre s eu cu l t o . Mui ta s v e zes e s sas pa lav ras e ram
de or igem secu lar , mas fo ram esco lh idas como o me io m enos inadequa
do de expressar o que a comunida de reunida expe r im entava no cu l t o .
Há um a r ica gama dessas pa lav ras em u so no passado e na a tua l ida
de .
Cada pa lav ra e cada id ioma ac rescentam nu anças de s ign i f i c ado que
comp lementam os out ros . Um ráp ido apanhad o dos t e rmos ma is amp la
mente usados com re lação ao cu l t o em d iv e rsas l ínguas oc identa is pode
mos t rar as rea l idades que e s tão s endo ex pressas .
Já nos deparamos com uma pa lav ra impor tante , o t e rmo a lemão
GoÉüesdiens íwTrata-se de uma palavra da qual a l íngua inglesa poderia
ter inve ja. Para reproduzi- la, é necessário um punhado de palavras do
ve rnácu lo : " o s e r v iç o de Deus e nosso s e rv i ç o para Deu s " . O equ iva len
t e a "Deus " (Gott) pode - se d is c e rn i r, porém menos fami l ia r é dienst.
Pessoas v ia jadas a re conhece rão como a pa lav ra que ident i f i c a pos tos
de gaso l ina em t e r ras ge rmâ nicas . Serv iço é o equ iva lent e ma is aprox i
mado , e é in t e re ssante que t ambém em ing lê s e s ta pa lav ra é usada
tanto para re fer ir-se a serv iço no sent ido de culto quanto a postos de
gaso l ina . "Se rv iç o " s ign i f i c a a lgo f e i t o para out ros , não impor ta s e
es tamos fa lando de s e rv iç o domés t ic o , s e rv iç o munic ipa l de água e
esgoto ou s e rv iç o soc ia l . E le re f l e t e o t raba lho p res tado ao púb l ic o ,
mesmo qu e ge ra lmente a t roco de ganh o par t i cu lar . Em ú l t ima aná l is e
e le v em do t e rmo la t ino
servus,
um esc ravo que e ra obr ig ado a s e rv i r
out ras pessoas . O t e rmo oficio^ do la t im
officium,
s e rv iç o ou ta re fa ,
t ambém é usado para des ignar um se rv iç o de cu l t o .
GaUQsdienstrsSler.
t e um Deus que " eavaz iourse a s i mesme-e assum iu a - eond ição de s e r vn" .
(Fp 2.7 ), bem como nosso serv iço para tal Deus.
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Am bas as pa lav ras desempenham um pape l s ign i f i c a t iv o , embora cont ro
verso, no desenvolv imento da teologia eucarís t ica cr is tã.
Te rm o bem menos p roeminente na l i t e ra tura neot e s tamentár ia é
threskeía,
que s ign i f i c a " cu l t o " ou " o f í c io re l i g ioso " ( como em At 26 .5 ;
Cl 2.18 e Tg 1.26).
Sébein
s ign if ica "pre star cult o" (em Mt 15.9; Mc 7.7;
At 18.3; 19.27). Em A tos , outro uso deste verb o des ig na o s tementes a
Deus , gent ios que freq üenta m o culto da s in ag og a (13.50; 16.14; 17.4,17;
e 18 .7) . Out ro t e rmo do No vo Tes tamento apresenta usos impor tan tes
na desc r ição do cu l t o .
Homologein
t em uma var iedad e de s ign i f i c ados ,
com o confessar pecad os (1 Jo 1.9 ), "se confessa rmo s nossos pec ado s" ,
dec lar ar ou professa r publicam ente (R m 10.9), "se confessare s com tua
boc a que Jesus é Senhor" , ou louvar a Deus (Hb 13.15), "o t r ibuto dos
láb ios que re conhecem o s eu nome " .
E s s e s t e r m o s d e o u t r a s l í n g u a s p o d e m e x p a n d i r a i m a g e m
unid imens iona l do t e rmo " cu l t o " . Todos merecem se r ponde rados para
perceber o que outros experimentaram em diversos tempos e lugares .
Alg un s termos do vernáculo l igado s ao culto prec isam de certa e luc idação.
P rec isamos faze r uma d is t inção c la ra ent re do is t ipos de cu l t o : o
cu l t o em comum e devoções pesso a is . O aspec to ma is c la ro do culto em
comuin
_é _g j j e _ s^Jra ía_d^_cu l t o o fe r t ado pe la comunidade reunida , a
assemb lé ia c r is t ã . D i fi c i lmente s e pode exa ge rar a impor tânc ia do reu
n i r -s e . Por v e zes o t e rmo juda ico " s ina gog a" ( r eunir - s e ) também fo i
usado para re fer ir-se à assemb lé ia cr is tã (Tg 2.2 ) , por ém o termo princ i
pal para des ignar a assemblé ia cr is tã é a igre ja, a ekklesía, aque le s
chamados para fo ra do mundo. Es t e t e rmo, c om a acepção de " assem
b lé ia " , " c on greg ar " , " reu nir " , " encont rar - s e " ou " a juntar -s e " , é usado
repe t idamente ao longo do Novo Tes tamento para des ignar a ig re ja
loca l ou univ e rsa l . Um dos aspec tos ma is fac i lmente e squec idos do
cu l t o em comu m é que e le c omeça com a reunião de c r is t ãos e spa lhados
em um lug ar para fo rmar a ig re ja em cu l t o . Ge ra lmente encaram os o a to
de reunir-se como mera necess idade mecânica, mas e le é em s i mesmo
par t e impor tan te do cu l t o em com um. Reunimo-nos para encont rar-nos
com Deus bem
como
c om nossos p róx im os .
A s devoções pessoais , por sua v e z , ge ra lmente , mas nem sempre ,
ocorr em em sepa rado da p resença f í s i ca do re s tante do corp o de
Cr is t o . De fo rma a lgum a is t o que r d i z e r que não e s t e jam l iga das ao
cu l t o de out ros c r is t ãos . E fe t i vamente , t anto as devoções pessoa is
quanto o cu l t o em comum são p lenamente comuni tár ios , uma ve z que
ambo s compar t i lha m do cu l t o da comu nidade univ e rsa l do corpo de
Cr is t o . Porém o ind iv íduo que p ra t ica devoçõe s pessoa is pode de t e r
min ar s eu p róp r io conteúdo e r i tmo, mesm o ao s egu i r uma es t rutura
amp lam ente usada . Em cont rapo s ição a i s so , para que o cu l t o em
comum se ja poss ív e l , é p re c iso have r consenso sobre e s t rutura , pa la
v ras e ações , caso cont rár io o caos s e r ia a conseqüênc ia . Ta is re gras
fundamenta is não são necessár ias em devoções onde o ind iv íduo e s ta
be le c e a d is c ip l ina . ( "Devoção" v em de um t e rmo la t ino que des igna
"vo to " . )
A re lação ent re cu l t o em comum e devoções pessoa is é impor tante .
Embo ra o t ema do p resente l i v ro se ja o cu l t o em com um e pouco s e d iga
a re spe i t o de devoções pessoa is , deve r ia f i c a r c la ro que o cu l t o em
comum e as devoções pessoa is dependem um do out ro . Como nos d iz
Eve lyn Unde rh i l l :
O culto [em comum] e o culto pessoal, embora na prática um geralmente
tenda a ter precedência sobre o outro, deveriam se completar, reforçar e
checar
mutuamente.
Apenas onde isto ocorr e é que efetivamente encontra
remos a vida normal e equilibrada de devoção cristã plena em sua perfei
ção (...) Nenhuma alma - nem mesmo o maior dos santos - pode compre
ender plenamente tudo o que isto tem a nos revelar e exigir, ou alcançar
com perfeição essa riqueza equilibrada de resposta. Esta resposta preci
sa ser obra da igreja inteira, dentro da qual as almas em sua infinita
variedade desempenham cada qual um papel e contribuem com esta
parte para a vida total do Corpo .
11
O cu l t o em comum prec isa s e r c omp lementado pe la ind iv idua l idade das
devoções pessoa is ; e s tas p re c isam se r equ i l ib radas pe lo cu l t o em co
mum,.
Um t e rmo amp lamente usado em anos re c entes é ce lebração . Ele é
f reqüentemente usado em contextos s e cu lare s e parece t e r desenvo lv ido
certa vagu eza que o torna um tanto sem sen t ido, a não ser que se ja
ut i l i zado com u m ob je t i v o e spec í f i c o , de modo qu e s e sa iba o que e s tá
sendo c e leb rado . Ao s e fa la r da c e leb ração da eucar is t ia ou c e leb ração
do Natal, o conteúdo pode estar c laro. Desde os anos 20 o termo tem
s ido assoc iado a noções inde f in idas do t ipo c e leb ração da v ida , da
a le gr ia , de um novo d ia ou out ros ob je t os igua lmente vagos . Parece
melhor usá- lo para descrever o culto cr is tão somente quando o obje to
está c laro, de modo que haja conteúdo e forma de f inidos . O culto cr is tão
está suje ito a normas pastorais , teológicas e his tóricas ; muitos t ipos de
ce leb ração fac i lmente e s cap am a todas e las .
Ritua l é um t e rmo bás ico para desc re ve r o cu l t o c r is t ão . T ra ta - s e de
um t e rmo t ra içoe i ro , uma ve z qu e s ign i f i c a co isas d i f e rente s para pes
soas d i f e rente s . Para mui tos , e le c om f reqüênc ia suge re vaz io (da í a
expressão " r i tua l vaz io " ) , uma ro t ina de repe t iç ões s em sent ido . Ant ro
pó logos usam o t e rmo de modo so f i s t i c ado para desc re ve r a tos repe t i
dos que são soc ia lmente aprovados , c omo por exemp lo uma ce r imônia
de natura l i zação , um potlatch , ou cos tumes de s epul tamento . L i turgos
usam o t e rmo par a des ignar um l i v ro de r i t os . Para os ca tó l i c os roma
nos o termo "r itual" se re fere ao manual de of íc ios pastorais de bat is
mos , casamentos , fune ra is , e tc . Na t rad ição me tod is ta , " r i tua l " t em s ido
usa do desde 1848 para re fer ir-se a todas as cerimô nia s of ic ia is da
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igre ja, inc luindo a eucaris t ia e os of íc ios de ordenação, a lém dos pasto
ra is . R i tos
são as palavras e fe t ivamente pronunciadas ou cantadas num
cul t o , embora às v e zes e s t e t e rmo s e ja usado para des ignar t odos os
aspec tos de um o f í c io . Tam bém po de re fer i r - s e a gru pos re l i g iosos
como os catól icos de r ito oriental, cujo culto segue um padrão d is t into.
Os r i t os d i f e rem do cer imonia l , que são as ações executadas num culto.
O c e r imonia l ge ra lmente e s tá exp l i c i t ado nos manua is de cu l t o por
me io das rubr icas , i s t o é , ins t ruções para ex ecução do cu l t o . Embo ra
atua lmente t ambém se empreguem out ras core s , as rubr icas mui tas
ve zes são impressas em ve rme lho , c omo o ind ica o nome de r ivado do
t e rmo la t ino que des igna a cor v e rme lha . Out ro aspec to e s senc ia l é a
estrutura de cada of íc io, chamado o rdo ou o rdem (de culto) . Ordem,
rito e rubricas , is to é , a estrutura, as palavras e as instruções são os
componentes bás icos da ma ior ia dos m anua is de cu l t o .
Diversidade na Expressão
do Culto Cristão
— Até a qu i abordamos os fa t ore s comuns que nos pe rmi t em fa la r do
culto cr is tão em termos genéricos . Certamente exis te unidade bás ica
sufic iente para podermos fazer muitas af irmações gerais e esperar que
e las se apl iquem à maioria senão a todo culto de pessoas cris tãs . Entre
t anto, p re c isamos equ i l ib rar e s sas a f i rmações ge ra is de constância con
s iderando a diversidade cultural e his tórica que também é parte impor
tante do culto cr is tão. A constânc ia, como já v imo s, é enorme; a d ivers ida
de é igualm ente impress ionan te . O culto cr is tão é uma mistu ra fasc inan
te de constânc ia e d ivers idade. Bas icamente usamos as mesmas estrutu
ras e of íc ios por dois mil an os; entretanto, pessoas d o outro lado da
c idade também a s prat icam, mas à sua própria ma neira caracterís t ica.
Em anos recentes nos tornamos m uito mais sens íve is para a importân
c ia dos fatores culturais e é tnicos na compreensão do culto cr is tão.
Eme rg iu da í uma for t e p reocupação com a l i gação ent re
culto cristão e
justiça.
Em certo sent ido, is to não é nada novo pa ra algun s cris tãos . Já
desde o mov imen to quac re no séc . 17 tem hav ido u ma forte consc iênc ia
entre os membros da Soc iedade dos Amigos de que o culto não deve
marg in a l i za r pessoa a lgum a por causa de s exo , c or ou mesmo se rv idão .
Com e fe ito, a ins is tênc ia quacre na igualdade humana deriva-se d ire ta
mente da sua compreensão do que acontece na comunidade cultuante .
Is to s ignif ica naturalmente que mulheres e escravos dev iam falar no
culto,
o que até então fora prerrog at iva exc lus ivam ente m asculina.
O teólog o angl ican o do séc . 19 Frederick D enison Ma urice fez avança r
nosso pensamento sobre culto e just iça da mesma forma como o f izeram
em nosso s écu lo Pe rcy Dearmer , W i l l ia m Temp le , Wa l t e r R auschenbusch
e V i rg i l M iche l . Porém apenas em anos re c entes é que grande número de
cris tãos passou a observar o escândalo da injust iça das formas de culto
que marg ina l i zam amp los s egmentos de f reqüentadores do cu l t o por
causa do gêner o ou outras d is t in ções hum anas. Is to resultou em es forços
para mudar a l inguagem de t ex tos l i túrg icos e h inos que t end iam a
tornar inv is íve is as mulheres , re fazer prédios que exc luíam as pessoas
portadoras de de f ic iênc ia e dar acesso a novas funções àquelas pessoas
que anteriormente não eram bem-v indas para ne las serv ir .
Estre itamente l igado a is to está o es forço para levar a sério a d ivers i
dade cu l tura l e é tn ica ex is t ent e na igre ja em n ív e l mund ia l . I s t o im p l ica
re spe i t o pe los dons e pe la var iedade de d i f e rente s povos como expres
sões l e g í t imas do cu l t o c r is t ão . O t e rmo t é cn ico para desc re ve r e s t e
p rocesso é incu ltu ração ; sua rea l idade é a ace i t ação da d iv e rs idade
como uma das dád ivas de Deus para a humanidade e a d ispos ição de
incorporar e s sa var iedad e às fo rmas de cu l t o . A mús ica m ui tas v e zes é
um dos me lhores ind icadores da d iv e rs idade de expressão cu l tura l .
Quão l im i tados fomos nós ao enfa t i zar e xpressões europé ias de louvor
c r is tão , quando o mundo int e i ro canta a g lór ia de Deus? Novos h inár ios
t endem a re f l e t i r c ada v e z ma is a d iv e rs idade cu l tura l , porém a ma ior
par t e de le s a inda t em um longo ca min ho a andar a t é s e r um espe lho da
var iedad e de pessoas , mesm o numa única nação .
A p reocupa ção com o cu l t o e a jus t iça t em assumido m ui tas fo rma s ,
todas com u m fator comu m: enfat izar o valor indiv idual de cada cultuante .
Naque le s lugares em que a lguns são neg l igenc iados ou re le gados a um
status in fe r io r por causa da idade , gêne ro , de f ic i ênc ia , raça ou or ig em
lingüíst ica, estas injust iças estão sendo reconhec idas e atenuadas. Mas
é lento o processo de consc ient izar-se de prát icas d iscriminatórias para
então tentar encontrar as maneiras mais equitat ivas de re formulá- las . O
resultado é que o culto cr is tão se torna mais complexo e d ivers i f icado
na med ida em que t enta re f l e t i r uma comunidade mund ia l . Por i s so ,
mesmo pe rm anecendo vá l id o o que d is s emos a re spe i t o da cons tânc ia ,
as expressões cu l tura is dessa cons tânc ia e s tão s e t ornando cada v e z
mais d iv e rs i f i c adas em nosso t empo.
Na rea l idade , a d iv e rs idade não é nada no vo no cu l t o c r is t ão , embora
ta lv e z s e ja uma impor tante inovação encará - la de modo pos i t i v o . Mes
mo nos p r ime i ros t e x tos l i túrg icos enxe rgamos mane i ras d i f e rente s de
a f i rmar as mesmas rea l idades , que r nos p r inc íp ios t e o lóg ic os , que r nas
necess idades humanas . As d i f e renças são re f l e xos da var iedade de
povos e lugares . Os d i f e rente s l i v ros l i túrg icos p roporc ionam ro tas
para le las para cobr i r a mesma jornada . Ent re tanto , e le s var iam em
es t i lo e de ta lhes da mesma forma como pessoas d i f e rente s em lugares
var iad os d i f e rem n aque le s pontos que as t orna m d is t intas , sua l íngua e
h is t ór ia , por exemp lo .
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Comparemos duas passagens com funções idênt icas de duas das
l iturgias ma is amplamente usadas no mundo. A prim eira pertence á missa
catól ica roma na pré-Vaticano I I , do pre fác io co mum da oração eucaríst ica:
Na verda de, é justo e necessário , é nosso dever e salvação dar-vos graças ,
sempre e em todo lugar, Senhor, Pai Santo, Deus eterno e todo-poderoso,
por Cristo, Senhor nosso.
A out ra é a mesma passage m conform e cons ta na l i turg ia de São João
Cr isós tomo:
E justo e dign o celebrar-vos, bendizer-vos, dar-vos graças e adorar-vos em
todos os lugares do vosso domínio. Porque vós sois um Deus inefável,
incompreensível, invisível, inacessível, subsistindo eternamente, vós e o
vosso unigénito Filho e o vosso Espírito Santo.
Am bas d iz em a mesm a co isa , porém o e s t i lo e o e sp í r i t o são bas tante
d i f e rente s. A l ingu agem da p r ime i ra fo i c ompara da à re t ór ica l e ga l do s
t r ibuna is roman os , a da s egunda , ao e sp lendor da cor t e dos impe rado
re s b i zant inos . C laramente e s tamo s l idando com do is e s t i los d i f e rente s
de expressão .
Os l i turgis tas c lass i f icaram as várias l i turg ias eucarís t icas ant igas e m
famíl ia s l i túrgicas d is t intas . A semelh ança das famíl ias hu man as, e las
apresentam carac t e r ís ti c as comuns . A lgu ma s ta lv e z pe r t ençam à famí l ia
a lexandr ina , denominada s egundo Marcos , uma ve z que co locam as
intercessões no meio do segmento de abertura da oração eucarís t ica.
Outras , como o r ito romano, usam palavras caracterís t icas para introdu
z ir as palavras da inst ituição: "o qual, no d ia antes de sofrer" , ao passo
que outras famíl ias , como aquela denominada segundo João Crisóstomo,
p re fe rem a expressão "na no i t e em que fo i ent regue " . Ass im como se
podem reco nhece r os f i lhos e f i lhas ou irm ãos e irmãs de determ inad a
pesso a pe las semelhanças fac iais , pode-se aprender também a ident i f icar
a famí l ia l i túrg ica da qua l p rovém d e t e rminado t ex to .
Diferentes povos e lugares em torno do mundo mediterrâneo e na
Europa setentrional deram suas próprias caracterís t icas l ingüíst icas ao
cu l t o c r ist ão . A lgum as carac t e r ís t i c as desaparece ram, mui tas v e zes por
causa da estereot ipação que o processo de impressão tornou poss íve l no
séc . 16. Ma s uma grand e varied ade ainda pers is te , part icularmente n a
ortodoxia oriental, e até mesmo dentro do catol ic ismo romano, embora
isoladamente em lugares como Milão, na I tá l ia, ou Toledo, na Espanha,
ou nas igre jas catól icas de r ito oriental. Nesses r itos d íspares temos um
reconh ec imen to franco da verda de ira catol ic idade, is to é , universal idade
da igre ja . Aque las que pod e r iam parece r s obrev iv ente s cur iosas e s ingu
lares são na verd ade voze s de d i ferentes pov os e lugares acrescentan do
sua própria contribuição caracterís t ica ao louvor a Deus.
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É comum ident i f i c a r
sete famílias l itúrgicas clássicas
o r iundas de
d iv e rsas á reas do mundo ant igo . Cada uma dessas famí l ias usa os
mesmos of íc ios de culto e os mesmos t ipos de manuais de culto, mas
cada qua l mos t ra pecu l ia r idad es ind iv idua is de e st i lo e e xpressão . E las
exem pli f ica m a d ivers id ade dentro da constânc ia.
É ma is fác i l dar a volta ao redor do mund o mediterrân eo em sent ido
ant i-horário (d iag ram a 1), aqui apenas para uma breve en umera ção des
sas famíl ias , uma vez que voltarem os a e las em ma ior detalhe no capítulo
8. A pri mei ra famíl ia encon tramos central izada em A l exand r i a , no Eg i t o ,
sendo que o exemplo mais notáve l é conhec ido como a de São Marcos .
Ho je em dia e la tem sobrev iven tes coptas e e t íopes no Eg ito e na Et iópia .
A Síria Ocidental incluía os centros eclesiásticos de Jeru salém e An tioqu ia.
Uma l i turgia que provave lmente funde aquelas usadas nessas c idades
prese rva o nome t rad ic iona l de São T iago , p r ime i ro b ispo de Je rusa lém.
Os padrões l i túrgicos da
A r m ê n i a
preservam muitas caracterís t icas dos
primeiros tempos e provave lmente derivam-se em últ ima análise desta
fam íl ia da S ír ia Oc idental e a e la pertencem. A Síria Oriental ao redor de
Edessa foi o ant igo centro de uma famíl ia muito caracterís t ica cujo
pr inc ipa l e xemp lo é o r i t o denominado s egundo os Santos Add a i e Ma r i .
Cesaré ia, na Ás ia Menor, era o domic í l io de São Basi l io, e a l i turgia
denominada segundo e le (com uma versão alexandrina anterior ) deriva-
se do padrão s ír io-oc idental. Igualmente de origem s ír io-oc idental é a
ass im chamada l i turg ia b izant ina ou l i turgia de São João Crisóstomo,
patriarc a de Constant inopla no séc . 4 . A part ir de Constant inopla e la se
espalhou por boa parte do Império Bizant ino e da Rúss ia. Somente o rito
romano, outrora conhec ido como rito de São Pedro, se encontra em uso
mais amp lo . E le é o r i t o dominante do ca to l i c i smo romano. Uma grande e
mis t e r iosa famí l ia , agá l ica , com preende o sét im o c lã, o c lã oc idental não-
romano com q uatro ramo s da árvo re famil ia l : o mila nês ou ambro s iano, o
moçárabe, o cé lt ico e o gal icano.
A pe rs is t ênc ia dessa d iv e rs idade nos mundos or t odoxo e ca tó l i c o
romano até os d ias de hoje , apesar de ocas ionais es forços de supressão
e padron ização , é um t r iunfo para as d i f e renças é tn icas e nac iona is . E la
representa a capac idade das pessoas de p re se rva r expressõ es e fo rma s
de pensamento que lhes são caras e naturais .
A d ivers idade caracterizou o culto protestante desde o iníc io. O culto
p ro t e s tante pode s e r d iv id ido em nove tradições l itúrgicas protestan
tes. Não é tão fác i l d is t ingui- las com base nos textos de l i turgias
eucar ís t i c as como é o caso das famí l ias l i túrg icas ca tó l i c a romana e
or t odoxa , embora c e r tas t rad ições p ro t e s tantes possam se r fac i lmente
de f in idas em t e rmos de manua is de cu l t o . A lg uns g rupo s , c omo os
quac res , não t êm l i turg ias . Mas podemos fa la r de tradições l itúrgicas
dist intas , is to é , de hábitos e supos ições sobre o culto herdadas e
passadas de ge ração em ge ração . Em cada caso c e r tas cara t e r ís t i c as
domin antes apresentam co e rênc ia su f ic ient e , o que nos pe rm i t e d is t in
gu i r uma t rad ição e spec í f i c a
12
.
Não é fác i l d i f e renc ia r e s sas t rad ições geogra f i camen te , uma ve z que
e las s e sobrepõem em grau cons ide ráve l . Os pur i t anos , ang l i canos e
quac res v iv e ram lado a lado , embora não mui to a le gremente , na Ing la
t e r ra do s é c . 17 . Podemo s map ear as nove t rad ições do cu l t o p ro t e s tan
t e no d iagram a 2 :
A s T R A D I Ç Õ E S P R O T E S T A N T E S D E C U L T O
Ala esquerda Centro Direita
Séc. 16 Anabatista Reformada Anglican a Luterana
Séc. 17 Quacre Puritana
Séc. 18 Metod ista
Séc. 19 Fronteira
Séc. 20 Pentecosta l
Diagrama 2
As rup turas m a is rad ica is c om o cu l t o med ie va l t a rd io e s tão ind icadas
por grupos na co luna da a la e sque rda ; os grupos ma is conse rvadores
da Re form a, em t e rmos de p re se rvaçã o da cont inu idade , aparecem na
a la d i re i t a ; os grup os c ent ra is são ma is mode ra dos .
O culto luterano, o r ig inado em Wit t enbe rg , f l o re s ceu nos pa ís e s
germ âni cos e escandin avos no séc . 16, expandin do-se desde então por
todo o mundo. O culto re formado teve sua gênese na Suíça (Zurique e
Genebra) e França (Estrasburgo), mas espalhou-se rapidamente pe los
Pa ís e s Ba ixos , pe la F rança , Escóc ia , Hungr ia e Ing la t e r ra . Os
anabatistas
com eçara m na S uíça por volta de 1520. O culto ang l icano , como indica o
nome , e ra o cu l t o da igre ja nac iona l da Ing la t e r ra e rep resentava mui tos
dos acordos pol ít icos necessários para uma igre ja nac ional. A tradição
pur i tana (e separat is ta) fo i um protesto contra acordos que parec iam
contrários à vontade de Deus reve lada na Escritura.
A t rad ição m a is rad ica l f o i o mov imento quacre do séc . 17. A silencio
sa e spe ra dos quac res por Deus s em aux í l io de s e rmões , cânt ic os ou
esc r i turas rea l i zou uma rup tura d rás t ica com o passado . O metodismo,
no séc . 18, combin ou muitas verten tes , tanto ant ig as quan to da Refor
ma, t omando emprés t imo par t i cu larmente das t rad ições ang l i can a e
pur i t ana . A f ronte i ra amer icana f e z surg i r out ra t rad ição , e spec ia lmen
t e desenvo lv endo fo rmas de cu l t o para os que hav iam pe rd ido o conta to
com a igre ja. Essa tradição da fronteira é a que p redomina ho je no
protestant ismo americano e é part icularmente conspícua no evange l ismo
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t e le v is iv o . Os Es tados Unidos t ambém foram o be rço da t rad ição
pentecostal no s é c . 20 . Neg ros e mulhe res e s tavam ent re os p r im e i ros
l íderes a fomentar esta tradição.
A coex is t ênc ia de d iv e rsas t rad ições pe rmi t iu às pessoas buscarem
as formas de expressão para o cu l t o que achassem mais na tura is . Na
Ing la t e r ra do s é c . 18, aque le s que s e s ent iam demas iadamen te re s t r i t os
pe lo
Livro de Oração Comum
a f lu íam aos a tos re l i g ios os c e leb rados
improv isadamente na t rad ição pur i t ana . E aque le s que achavam esse
cu l t o demas iadamente c le r ica l pod iam encont rar um t ipo d i f e rente de
l ibe rdade ent re os quac res . Out ros e ram a t ra ídos pe los h inos f e rvoro
sos e pe la v ida sac ramenta l ca lorosa dos p r ime i ro s me tod is tas . Pessoas
diferentes podiam encontrar um canal para suas d ivers idades de ex
p ressão e s co lhend o a t rad ição que lhes parecesse ma is conveniente . A o
mesmo t empo, porém, um a l t o grau de cons tânc ia ex is t ia ao longo de
ge ra ções dent ro de cada t rad ição .
Constância nos Tipos de Manua is
de Culto
Boa par t e do e s tudo do cu l t o c r is t ão g i ra em torno do e s tudo dos
d iv e rsos man ua is de cu l t o usados por c e r tas ig re jas . Como as necess i
dades são mui to s eme lhantes , c e r t os t ipos de manua is de cu l t o s e
repe t em em mui tas famí l ias e t rad ições l i túrg icas d i f e rente s . É t enta
dor , porém pe r ig oso , ident i f ic a r o cu l t o com l i v ros . L iv ros e fe t i vamente
são usados para muitos cultos , ta lvez para a maioria de les , e por certo
são a ev idênc ia de culto mais fác i l de ser estudada e analisada. Porém
boa parte do culto está baseada na espontaneidade, que é o e lemento
ma is d i f íc i l de ser estudado. Vár ios t ipos de culto contêm diferentes
proporç ões t anto de fó rmulas f ixas para pa lav ra e ação encont radas em
l iv ros quanto da e spontane idade que aumenta e d iminu i c onforme a tua
o Esp í r i t o e que não e s tá su je i t a ao me io impresso . Embora pouco
venham os a d i z e r s obre a e spontane idade , e la é um ingred ient e impor
tante no culto de hoje em muitas igre jas oc identais .
Onde o movimento carismát ico at in giu as pessoas , entre os pentecostais
c láss icos , e em muitas igre jas n egras , exc lama ções espontâneas são
parte v ita l do culto. O culto quacre é a própria espontane idade, embora
exempli f ique a necess idade de uma l iberdade autodisc ip l inada para que
a espontane idade po ssa trazer seu melhor fruto. A espontane idade nã o é
s implesmente soltar as pessoas para a introspecção indiv idual ou para
falar. Trata-se de usar os d iversos dons de d i ferentes pessoas para o
benef íc io de toda a comunidade reunida. As palavras de Paulo sobre o
culto espontâneo seguem-se imediatamente a seu capítulo sobre o amor
(1 Co 13) e v isam u m ún ico obje t ivo : ed if icar a igre ja (1 Co 14.26). Os dons
recebidos pe los cr is tãos são concedidos para ser compart i lhados na
comunidade, não para ser mant idos no isolamento.
O cu l t o c r is t ão dos p r ime i ros t empos parece t e r imp l icado c e r ta
espontane idade . A ma ior par t e dessa e spontane idade hav ia aparente
mente desaparec ido por vo l t a do f im do s é c . 4, t endo re ssurg id o apenas
em a lgumas t rad ições da Re forma. O cu l t o pentecos ta l no s é c . 20
enfa t i zou as inespe radas po ss ib i l idades do cu l t o e spontâneo . A ausên
c ia de manua is de cu l t o ou de fo lhe tos impresso s em a lg uma s igre jas de
forma a lguma garante e spontane idade . Em mui tas congregações , a
repe t içã o e s tabe le c eu f irmemente uma es t rutura de cu l t o que é s egu ida
com a l t o grau de p rev is ib i l idade . Po r out ro lado , t rad içõ es que usam
manu a is de cu l to dão e spaço cada v e z m a ior ho je em d ia a e lementos de
espontane idade , par ti cu larmente em int e rc essões .
Se fa lamos pou co, no presente l ivro, sobre a esponta ne idad e no culto,
não é porque e la s e ja de pouca impor tânc ia , mas s imp le smente porque ,
s endo t ão e fêmero s eu t e s t emun ho, torna- se exaspe radoramente d i f í c i l
re latá- la. Mas deveria estar c laro que culto e manuais de culto de forma
a lguma são s inônimos . Os manua is de cu l t o somente podem o fe re ce r
fórmulas -padrão . É p rec iso have r um equ i l íb r io sad io ent re t a is fó rmu
las e os e lementos não-escritos e não-plane jados que somente a esponta
ne idad e pod e oferecer.
Com es t e a le r t a , v e jamos o que os man uais de cu l to podem d ize r -nos
sobre a constânc ia no culto cr is tão. Prat icamente todo culto ut i l iza a
Bíbl ia, a qual inc lui e la próp ria mu itas partes escritas par a f ins cultuais .
Os quac res são uma exceção nes t e t ocante , porém o con hec imento
bíb l ico entre e les compensa a sua fa lta de e fe t iva le itura da Bíb l ia no
cu l t o púb l ic o . A m a ior ia dos p ro t e s tantes e ca tó l ic os romano s t am bém
ut i l i zam u m hinár io . A lé m d is so , os ca tó l i c os romanos e d iv e rsas t rad i
ções de cu l t o p ro t e s tantes empregam, f reqüentemente ou s empre , um
man ua l de cu l to . Em suma, um ou ma is l i v ros são cons ide rados requ is i
t os para o cu l t o na ma ior par t e da c r is t andade .
Os l i v ros que exam inarem os são manua is de cu l t o . E le s dão u ma
v isão v ív ida da cons tânc ia no cu l t o c r is t ão . Mui t o embora e le s var iem
ent re s i , os conteúdos apresentam seme lhanças n otáve is . Ape sar de
have r d i f e renças em fa mí l ias e t rad ições , necess idades comun s e re cur
sos s eme lhantes para a t ende r a e s sas necess idades são pe rcep t ív e is .
Na igre ja ant iga , uma var iedade de l i v ros e ram usados por d iv e rsas
pessoas que exe rc iam m inis t é r io s de l ide rança num mesm o cu l t o . Tan
to os l e igos quanto os c lé r igos t inham minis t é r ios re conhec idos para
exe rce r , as s im como l i v ros adequad os para capac i t á - los a desempenh ar
seus papé is e spec í f i c os no cu l t o . A idé ia de co locar tudo em um l i v ro e
e s t e apenas nas mãos do c le ro é um produto med ie va l que pouco t em a
seu favor . A tua lmen te há um a inve rsão da menta l idade d o l i v ro único e
8/18/2019 WHITE, James F. Introdução Ao Culto Cristão
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uma vo l t a ao uso de vár ios l i v ros para l e i t o re s , c omen tadores , l íd e re s de
canto, l íderes de oração e sacerdotes ou pastores . Exis te , af inal de
contas , uma d iv e rs idade de papé is min is t e r ia is na condução do cu l t o ,
papé is que podem se r compar t i lhad os ent re vár ias pessoas qu ando
l iv ros adequados e s tão à d ispos ição .
A invenção da impressão criou uma s ituação antes desconhec ida, a
poss ib i l idade de padroniza ção l i túrgica. Nos iníc io s do séc . 16 hav ia cer ca
de 200 variedades de missais em uso nas paróqu ias e ordens re l igiosa s
europé ias . Tanto o s catóücos roman os quanto m uitos protestantes se con
vencera m de que a uniform idade htúrg ica representava um avanço. Ass im
sendo, o primeiro l ivro de orações angl icano de 1549 decretava que
"doravante toda a regiã o deverá ter apenas um uso " . Efe t ivamente a mes
ma coisa foi fe ita ao se padronizar os l ivros catól icos rom anos até a últ ima
vírgula , com exceções perm it idas apenas para algum as poucas d ioceses e
ordens re l i g iosas
13
. Essa tendência de padron ização em Rom a reprim iu os
manua is de culto em ch inês no séc . 17 e outras adaptações à cultura nat iva
que poderiam ter fortalec ido enormemente a missão na China e alterado de
modo drást ico a his tór ia posterior.
Ho je em d ia t anto os p ro t e s tantes quanto os ca tó l i c os romanos cons i
de ram a padronização um ob je t i v o fa ls o . O que pode t e r s ido l ibe r tador
no séc . 16 pare ce restr i t ivo no séc . 20. Es fo rços fe ito s em nosso temp o
es tão tentando des faze r a c le r ica l i zação med ie va l , que compr im iu t odos
os l i v ros l i túrg icos em documentos c le r ica is , e a padronização do s é c .
16,
que tornou todo s os l ivros idênt ico s , se ja para o c lero, se ja para os
le igos . Uma var iedade de min is t é r ios em vár ias cu l turas ex ige uma
aborda gem m ui to ma is p lura l i s ta dos l i v ros l i túrg icos . Ho je já podem os
cons ta tar um genuíno p lura l i smo l i túrg ico co m d iv e rsas ro tas a l t e rnati
vas de autor idade equ iva lent e d isponív e is na mesm a denomin a�