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ENTREVI S T A FRANCIS C O GRAZIAN O N E T O. Sustentabilidade é in e vit á vel. O. engenhei r o ag r ônomo Xic o Graziano aconse- lh a o p r odu t o r rura l a a d ota r d e v e z a su s t e n ta- bilida d e: p r oduçã o eco- nomicame n t e vi á v e l,. - PowerPoint PPT Presentation
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Xico Graziano, natural de Araras (SP), é engenheiro agrônomo, escritor,consultor em organização, marketing de agronegócio e sustentabilidade. É sócio- diretor da Organização Internacional Agropecuária (OIA)/Certificação Socioambiental e já foi secretário de agricultura e do meio ambiente do governo paulista. Graduado pela USP (1974), mestre em economia agrária pela USP (1977) e doutor em administração pela FGV (1989). É diretor do instituto FHC.
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engenheiro agrônomo Xico Graziano aconse- lha o produtor rural a adotar de vez a sustenta- bilidade: produção eco- no micamente v iáv el,processo socialmente justo e ideias
ecológicas. E a não receber ordens de ambientalistas que nada entendem de agricultura. Ele esteve na FAEMG para falar no Seminário Ambiental sobre Meio Ambiente e Licenciamen- to de Atividades Agrissilv ipastoris em São Paulo e recomendou a Minas Gerais sim plificar a legislação am- biental, pois é complicada e ninguém consegue cumpri-la.Qual é a principal mudança no novo Código Florestal?
A maior crítica que havia no Có- digo Florestal anterior é que buscava recompor com vegetação nativa áre- as no território que já estavam ocu- padas com a agropecuária. A lei an- terior dizia que você não podia fazer aquilo que os agricultores já estavam fazendo. Por exemplo, os morros das Minas Gerais plantados com café. Pe-
ENTREVISTA FRANCISCO GRAZIANO NETOSustentabilidade é inevitávelO
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FAEMG | SENAR 5
lo Código antigo, isso não poderia ter acontecido, não era para ter café, era para ter mato, pois são encostas. Essa foi a principal m udança do novo Có- digo, que reconheceu que essas áreas são de produção, ocupadas historica- mente e consolidadas, sem precisar tirar o café e colocar l oresta no lugar. É o que o Código anterior exigia. E co- mo exigia e ninguém cumpria, o Mi- nistério Público vinha e denunciava os agricultores como criminosos am- bientais. A outra novidade foi trazer o Cadastro Ambiental Rural (CAR). Mas o governo não o coloca em prática…Quais são os prós e os contras do Código Florestal?
Eu não gosto dessa coisa de prós e contras. Eu trabalho com sustentabi- lidade e acho que temos de somar as coisas e não opor. A nova legislação e o CAR funcionando trazem a opor- tunidade de o agricultor se regula- rizar perante os órgãos públicos. É como se você fizesse sua declaração de Im posto de Renda. Vale como do- cumento. Hoje, quando o agricultor faz a coisa errada, é penalizado. E os agricultores que fazem a coisa cer- ta nunca são reconhecidos. Isso faz com que a opinião pública pense que todos os agricultores fazem as coisas erradas. Mas a nova legislação esta- belece os marcos melhores, de forma a deixar o agricultor em dia com suas obrigações.Como o agricultor deve se adaptar ao novo Código?
Ele tem que fazer o cadastro am- biental da sua propriedade. É lá que ele vai declarar como utiliza as áreas e o sistema desenvolvido vai calcular qual é o espaço que precisa ser preser- vado. O preenchimento desse cadas- tro é muito sim ples. É como Im posto de Renda. No começo, todo mundo tinha que contratar contador para fazer. Mas os sindicatos e federações precisam ser treinados para dar essas orientações. A barreira do computa- dor vai ter que ser vencida.Como está a aplicação do Código?
Não está funcionando. Está ca- penga. A grande âncora dele, que é o CAR, não foi regulamentada pelo
poder Executivo. Infelizmente, a le- gislação ambiental brasileira virou ninho de gato, coisa desarrumada. Cadê o CAR? Em dois anos o governo ainda não conseguiu regulamentá-lo, sendo que poderia ser instrumento fenomenal para puxar os agriculto- res a participarem dessa agenda da sustentabilidade.
Quais as vantagens e desafios do CAR?
É como se fosse um atestado de boa conduta ambiental para o agricultor. Antes ele não tinha esse documento para mostrar. E muitas vezes não fa- zia porque não tinha como cumprir a lei como era antes. Essa regularidade ambiental vai facilitar o acesso aos i - nanciamentos. Progressivamente os créditos só vão ser dados a quem tiver o cadastro.Há diferença de legislação ambiental entre os estados?
As legislações são muito diferentes em cada estado. Estudei a legislação de Minas. E duvido que alguém con- siga cumprir aquilo ali. Você demora um ano só para se classificar, para definir o que você é. Muito confuso. Em São Paulo não tem nada disso. O licenciamento das atividades agrope- cuárias mineiras é mais complicado e burocratizado do que lá. Em Minas a legislação estabelece uma série de ca- tegorias de agricultor, são mais de 30
O licenciamento das atividades agropecuárias mineiras é mais complicado eburocratizado do que em São Paulo. Lá é muito mais simples. Em Minas a legislação estabelece uma série de categorias de agricultor, são mais de 30 ou 40. Querem saber se ele é pequeno, se é médio, se planta cana…”
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ou 40. Querem saber se ele é pequeno, se é médio, se planta cana…
O que é mais burocrático em Minas? Em São Paulo a
legislação tem a de- claração de conformidade, de que vo- cê a segue
corretamente. Você recebe a declaração e não precisa de licença.
Por que outros estados, como Minas e o Espírito Santo, são burocratizados
demais? Parece que se parte do princí- pio de que todo agricultor é
poluidor. Contra isso temos que nos rebelar. Não é só burocracia. Exigir licenciamento sobre atividades de
menor potencial poluidor é uma deformidade. É preci- so ir em frente
em qualquer esforço de desburocratizar. A legislação paulista
pode servir de exemplo.Quais são os caminhos futuros do campo?
A susten tabilidade, no caso do campo, tem que ser agenda dos agri- cultores, levados por suas instituições de classe. É como a FAEMG vem fazen- do nos últimos tempos, ela assumiu isso. O meu raciocínio é o seguinte: já que é preciso fazer, é melhor nós fa- zermos do que os outros nos obriga- rem a fazer. Hoje os agricultores i cam levando lição de moral de ambien- talistas que nunca pisaram na roça, nunca pegaram em uma enxada... e acham que é fácil ser produtor. É pre- ciso parar de receber ordens de quem
se diz ambientalista, mas que não en- tende de agricultura. Só o agricultor poderá propor uma agenda boa, mas terá que fazer. Não adianta ser contra a preservação ambiental.
A sociedade atual é mais consciente da preservação ambiental?
Há quarenta anos, quando me for- mei, ninguém falava de ecologia. Mas o mundo m udou muito de lá para cá. Hoje as primeiras aulas para os alu- nos são de ecologia. E as crianças têm conceitos ecológicos que nós não tí- nhamos. A agenda da sustentabilida- de está aí e deve ser cumprida. Há coi- sas que não somos capazes de fazer, mas nossos filhos serão. Essa causa do meio ambiente não é nossa, é dos nossos i lhos, dessa nova geração que tem cabeça completamente diferen- te. Se não adotarmos a sustentabilida- de como princípio da agricultura, vão nos e n i ar goela abaixo. Como a glo- balização, não é uma questão de ser contra ou a favor. Não dá pra brigar contra o assunto, mas debater, nos ca- pacitarmos e fazer muito mais do que já estamos fazendo.O que é ser sustentável?
É produzir e viver sem comprome- ter a capacidade dos que vão te suce- der. A agricultura sustentável se con- figura em três pilares. Você tem que ter uma produção que seja economi-
camente viável, processo socialmente justo e respeitar as ideias ecológicas.
Quem deve ser responsável pela agenda da sustentabilidade?
Ela precisa ser assumida pela agri- cultura. Percebo que, quando falo, as pessoas aceitam essa mensagem. Mas os governos não estão ajudando muito. É preciso auxiliar o agricultor para que ele seja sustentável. E não apenas cobrar que ele seja. É preciso dar os instrumentos e as ferramentas, o apoio para o agricultor caminhar na sustentabilidade.É preciso unificar a agenda da produção com a da preservação?
Sim. Temos que tirar o sinal de X e colocar o sinal de + no processo. Não é produção versus preservação: é produção mais preservação. É essa a equação. É d i ícil, mas precisa ser fei- ta. O plantio direto é isso.As inovações tecnológicas ajudam na sustentabilidade? De que forma?
Ajudam. O único caminho para ser sustentável é através da tecnologia. Ou você i ca atrasado tirando três li- tros de leite por vaquinha, não sei se tem futuro. O caminho é pela tecno- logia e conhecimento. Ou seja, produ- tiva, que reparta as riquezas. Hoje os empregos na agricultura remuneram muito bem. Até pouco tem po não acontecia. Isso m udou em função do desenvolvimento tecnológico; é pre- ciso qual i icação. Os tratores hoje têm até ar condicionado. É preciso saber apertar os botões. São novos proces- sos de agricultura, novos trabalhado- res e melhor remunerados.
Como o senhor avalia o potencial agrícola do Brasil?
O Brasi l já é um dos países agrí- colas m ais im portantes do m undo. E cam in ha para ser o m ais im por- tante. Há m uitas áreas dispon íveis, m uita produtiv idade para elevar na pecuária e na agricultura. H á nov as ativ idades que vão surgindo. Em 20 anos, o Brasi l vai ser o grande l íder da agropecuária, não tenho a menor dúvida disso.
“Hoje os agricultores i cam levando lição de moral de ambientalistas que nunca pisaram na roça, nunca pegaram em uma enxada… e acham que é fácil ser produtor. É preciso parar de receberordens de quem se diz ambientalista, mas que não entende de agricultura.”
ENTREVISTA FRANCISCO GRAZIANO NETO