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L ISBOA. 31 . D.E AGOSTO DE ,.., ... .. .., ,,.. ....... ANO XIV N.• 709 A HISTORIA da MARIA · ROSA Por LEONOR DE OA.MPOS E SCUTA, Ro6a Maria, a histó- ria da Maria Rosa, uma rapariga simpática e esperta como tu, mas ... como tu , de11obedlente. * A Maria Rosa vivia numa cidade da provfncia, com sua mãe, costureira habilldoaa e trabalhadora, que muito nova !lcára viúva e com aquela tllha pequenina. Sem descanso, para que á crianclnhr. nada faltaase, a senhora Cândida todo o dia pedalava, curvada sõbre a · qUlna de costura. Maria Rosa. crescia. o depressa a mãe lhe fazia um vestióinho slmpleE, mas jeitoso, como êste deixava de lhe servir. A senhora Cândida comentava a sorrir : - «OU o vestido encolheu ou tu au. men taate 1 ... » PARA A ROSA MARIA E, daf a pouco, mais um vestido sur- gi a, de aparência modesta, mas que i-epresent an um ou doia serões da senhora Cândida. Faela.·o nas horas que roubava ao seu descanso, enquanto Maria Rosa. dormia, feliz, na sua ca· minha. 1 Maria Rosa crescia. A mãe qula que ela aprendesse a. ler, a ucrever e a con- t ar com perleição. Para iaso, era preciso mandá-la á eacola. E então meteu-a num colégio qué ficava defronte, por- que não queria deixá-la an dar sozinha na rua. e não tinha tempo para a acompanhar. &sim, mesmo da Janel a, a vigiava. Mas como o colégio era pago, e os livros, cadernos, lápis e borrachas custa vam dinheiro, a senhora. Oàndlda Jevantava·se mala cêdo e tõda a ma- nhã cosia afanoaamente. Maria Ros11. crescia. Mas os sapatos não cresciam com e.la. Eram caros. Contudo ... a menina fellzarda nunca deixou de ter dois J>ares de s anatos bons ; um, para a escola, o outro, para os domingos. E quem os pagava? A mãe, com o seu trabalho. Maria Rosa crescia. E cada vez o :ipepl te era maior. Comia, comia como um lobinho esfomeado. Maa nunca lhe faltou de comer. As ver.eli, havia pouco dinheiro em cau. Então, a senhora Càndidt. con- (ContiJ1ua 11a página 4J

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LISBOA. 31 .D.E AGOSTO DE 19ô~ ,.., ... .. .., ,,.. .......

ANO XIV N.• 709

A HISTORIA da MARIA ·ROSA Por LEONOR DE OA.MPOS

ESCUTA, Ro6a Maria, a histó­

ria da Maria Rosa, uma rapariga simpática e esperta como tu, mas ... como tu, de11obedlente.

* A Maria Rosa vivia numa cidade da

provfncia, com sua mãe, costureira habilldoaa e trabalhadora, que muito nova !lcára viúva e com aquela tllha pequenina.

Sem descanso, para que á crianclnhr. nada faltaase, a senhora Cândida todo o dia pedalava, curvada sõbre a má· qUlna de costura.

Maria Rosa. crescia. Tão depressa a mãe lhe fazia um vestióinho slmpleE, mas jeitoso, como êste deixava de lhe servir. A senhora Cândida comentava a sorrir :

- «OU o vestido encolheu ou tu au. men taate 1 ... »

PARA A ROSA MARIA E, daf a pouco, mais um vestido sur­

gia, de aparência modesta, mas que i-epresentan um ou doia serões da senhora Cândida. Faela.·o nas horas que roubava ao seu descanso, enquanto Maria Rosa. dormia, feliz, na sua ca· minha. 1

Maria Rosa crescia. A mãe qula que ela aprendesse a. ler, a ucrever e a con­t ar com perleição. Para iaso, era preciso mandá-la á eacola. E então meteu-a num colégio qué ficava defronte, por­que não queria deixá-la andar sozinha na rua. e não tinha tempo para a acompanhar. &sim, mesmo da Janela, a vigiava.

Mas como o colégio era pago, e os livros, cadernos, lápis e borrachas custavam dinheiro, a senhora. Oàndlda Jevantava·se mala cêdo e tõda a ma­nhã cosia afanoaamente.

Maria Ros11. crescia. Mas os sapatos não cresciam com e.la. Eram caros. Contudo ... a menina fellzarda nunca deixou de ter dois J>ares de sanatos

bons ; um, para a escola, o outro, para os domingos. E quem os pagava? A mãe, com o seu trabalho.

Maria Rosa crescia. E cada vez o :ipeplte era maior. Comia, comia como um lobinho esfomeado. Maa nunca lhe faltou de comer.

As ver.eli, havia pouco dinheiro em cau. Então, a senhora Càndidt. con-

(ContiJ1ua 11a página 4J

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O SONHO DO OURO .. ---..

Por MANUEL .FERREIRA

ESDE que, em certo dia,

D um ouriYH ambulante viera dar dois dedos de cavaco à lojeca do Manel da Venda, êste acalen­tava odesejo devir a ser Imensamente rico.

O ourives fizera-o pasmar, mostrando-lhe um cordão imenso, que pesava meio quilo, um par de arrecadas que fazia delirar tódas as moçonas da aldeia. Então, o Manel deu em preguntar :

- cMas o que vem a ser Isto do ouro ? l!: feito com quê ? Onde é que se faz ?1

Rindo, o ourive1 explicou que o pre­cioso metal luzia nas pedras ou em palhetas na arei& de certos rios.

- conde? Onde ?• - preguntou o Manel, admirado.

1 -«Lll ~ora, no Tranavaal, no Ca·

nadll, em Moçambique. Naquela.a ter­ras anda-se aos pontapés ao ouro.-.

Aferraram-se aqueJH palavras no bestunt-0 do Manel. 'E:le, que vivia fellz, com os modesto• lucros do seu negócio, revoltou-se contra a sorte. Queria vir a ser i·1co, multo rico. Para isso, Iria emigrar e, por maLs que alguns com­panheiros o tentassem dissuadir, êle nem os ouvia.

Dai a alguns dias, o Manel vinha a Lisboa tratar doe papeis do embarqut. Iria para o Transvaal, que êle não sabia onde ficava, mas que era terra onde o ouro se encoutr,.va a cada passo.

Porém, ao ser atendido no consulado,

t,..,,

mandaram-o voltar no dia seguinte e, neasa noite, quando passava por um cjnema, viu, em grandes letras, as pa· lavras cO sonho do ourot, titulo da ma que se exibia.

Comprou o bilhete e foi assistir. Tal· vez o que vtsse lhe fôs&e ú til.

No seu lugar, ,r.fantl da venda arre· galava os olhos para o ecran. Ouviu-se o som duma campainha, chamando os retardatàrio&, apagaram-se as luzes e começa1·am a movimentar-se u !flgu. ras.

O argumento surgiu:-Um grupo de homens, mode1t-0s fazendeiros do Oeste americano, não haviam podido resistir à tentação da riqueza. Após a venda dos bens, os aventureiros partiram para o desconhecido . .

Andaram dias, muitos dias, num sitio deserto, onde não havia uma peça de caça, um fruto, ou a mercê duma gotinha de ãgua.

Levados por falsu plstas, demora­ram-se dois meses a encontrar o cami­nho que, afinal, estava próximo do ponto da partida. Depois foi a t ragé· dia. Aos poucos, foram tombando, em delirio, atacados de febres. A terra continuM•a deserta.

Passados dias, apenas um dos ho­mens, Jack, conseguiu descobrir as minas. Que alegria ao ver, aqui e além, rochedos cobertos de estrellnhas que rebrilhavam e, no Jeito dum riacho completamente sêco, as pepitas ambi· clonadas!

Havia ali a maior fortuna do mundo. Para cada lado que se voltasse, via

aquelas serras, sob a caricia do sol, brilharem, maravllho1amente.

Mas a terra era amaldlçHda. Nem uma •gota de orvalho, cem uma rair;, sequer. Sómente pedras e rochas ae viam.

A fita termlnan apr .. entando Jack,

tombado, cheio de fome e sêde, no melo daquela tão grande amblçlo que o le­vara á morte.

Quando as 1uze1 brilbanm. nova· mente, na &ala, o Manel da Venda me­ditou. Pois qul? Então, era a.s11m tão difícil a posse do ouro ?

Não, não partiria! o Manel abandonou para i;empre

êE&ea sonhos de riqueza desmedida e continuou a viver do seu ne1óelo, lá na aldeia, alegre e feliz.

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. . 1

~O CEITINHO D!Q----............... AI'><

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SECÇÃO PARA MENINAS por ABELHA MESTR A

Não acham tão engraçado ~ste bê· bé? Eu confesso que o acho apetl· toso !

Como êle parece ufano de sua linda <toilette> 1

E tem ra.i:ão, sim, minhas queridas, porqti_e o seu fatinho fica·lhe multo bem. O Bébé está um janota!

Ma• ~le nlio é egoísta ; não quere êstes lu;11os só para si, motivo porque veio aqui. hoje, apresentar-se, a·fim·de que vocês possam copiar o mod~lo para os bêbés da família.

Nada há mais simples ; com uma ajuda da mãezinha, facilmente pode· rio eiceéutar a obra.

O bordado da frente, compõe-se de uns cordões em ponto pé de flor, rematados por pequenas florinhas.

Também na gola e punhos, bordam alsiumas dessas pequeninas flõres.

Bêbé parece que é um pouco vai· doso, pois também vos quere mos· Irar a sua camisinha, que a rende e uma peouenina rosa bordada, tornam imensamente "'arrida !

Vous

ABELHA•M PSTRA

C O LAE O R .A ç A. o .I N A N T I L

HISTÓRIAS DE " MAR I BEL" Ortografadas e g_t!ml"­ticadas "por seu........J>...A.L

1

U MA HISTÓRJA

Era uma vez um menino muito mau que era filho dum príncipe muito rico.

E uma vez o menino foi brincar para a rua e encontrou uns rapazes que pediram se lhes davam um bocadinho de pão ; e êle disse assim:

- < Vocês, se não fôssem pedinchões, eu le\lava·te para o meu palácio, que tem uma quinta muito grande, e eu dava·te roupa muito bonita, e assim não vaie para o palácio do meu pai.

E agora, quando eu vir alguns pobre· zinhos que não peçam nada, é que eu os levo para o palácio do meu pai. Seja quem fõr que me peça esmola, eu não levo para o palácio do meu pai, que é um príncipe muito rico, que dú muitos brinquedos aos pobres que não pedem esmola.

Depois, no dia seguinte, êle foi paro

... - - -a rua brincar e encor.trou nm pobre e preguntou-lhe: -<Tu éo; pobre?> . - cSou. sim, senhor, meu menino;

não tenho pai nem mãe e ando à pr~· cura de trabalho para ·~1111har eh· nheiro.>

- Olha, qtteres ir para o palácio do meu pei, que é príncipe "!

- cQuero, sim, meu menino; mas eu queria-me '1estir muito bem para sabe· rem que o meu menino é muito bem criado ... >

'!\ * Passaram-se dias e dia~. No tiltímo

dia, quando iam embarcar pera o Bra· sil, o filho do príncipe batei! no pe· queno; e como o pai do príncipe go~­teva muito do pobrezinho, tirou-lhe tudo quanto era dêle e ~le fez·se ra· paz da rua.

A quem faz mal a uma pessoa: há· de sempre acontecer·lhe al<.tuma coisa.

--- - --ri HISTÓRlA DE AMOR TRAIÇOEIRO

Era uma vez uma mulher e um homem que andavam a passear num dia de chuva. Sabem como se chama· \lam? Eram camores traiçoeiros>. E eram uns intrujões de primeira ordem.

Êles iam a dizer que $abiam cantar milito bem, e que já tinham ido ao Casino tocar num concêrto, com umas p(!Saoas conhecidas.

Quando foram para o piano - ena, pai! - todos se fartaram de rir à~ datgalhadas, pois foram tocar o Ninz el Bébé, uma música que a Maria Isa· bel já toca - e até já toca mais para diante. AI ! quando ela foi tocar o Nini et Bébé ! - cai! ai! u da guarda, pei;11e frito, quem m' a<!ode senão eu grito!> <.!titava ela com tal \ler!lonha, que saJU pel(l porta fóra e nã? ~isse nada.

E muito pouco sabto o homem que ~e Julga sdbio. !HBIBEL·(8 am de idade)

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~' nm. um.

CARTA da PRAIA __,.. ... -

Por GRAC I ETTE BR A NC O

Minha boa Professora: - Com saudades, venho, agora, falar-lhe do Sol que abrasa, dêste Céu em pleno abril : e oi'recer-lhe a minha casa em S. João do Estoril.

Sinto-me alegre e feliz; na praia do Tamariz, dou pulos e cambalhotas ... Passo a manhã tõda assim, cômo bolas de Berlim e já andei nas gaivotas.

Se visse, nilo conhecia a sua loira Maria que está da cor do carvão 1 De tal fonna me queimei que parece que cheguei há dois dias do sertão 1

Mas não julgue que não estudo~ O tempo chega p'ra tudo ; (como diz o meu avô .•. ) Faço contas e ditados e até já faço bordados que a mllezinha me ensinou.

Assim que a manhã acorda, jogo o «ring•, salto a corda e jogo •tennis• também. Tomo os meus banhos e até já nado fóra de pé sem iruxílio de ninguém !

Agora, vou terminar. Responda-me sem tardar; dê-me essa grande alegria !

Um beijo repenicado, com um abraço apertado, da muito amiga MARIA

A HISTÓRIA DA MAR IA ROSA ( e o n t i n u a do da pó ' i na 1 )

,, ./

... tentava·H com algumas fatias de pio sêco e duas ou três chévenas de café, para que Marla Rosa pudesse comer o que tinha na vontade.

- Entio - dlrés tu e todos os outros meninos que me lêem - Maria rtosa era, com certeza, multo amiga da mãe e nunca a arreliava.

Infelizmente, não sucedia bem assim. Ela era meiga, aem dúvida. De ma­nhã, apenas acordava, enchia de beijos as faces da mãe e exclamava :

- «Quertda.,querlda., querida mãe! ... . Não há mãe melhor do que esta!•

A tarde, ma1s beijos e caricia& : -.cMãezinha adorada! ... Anjinho

do ~u !. .. • E á noite, depois de a beijar cem

vezea, a.firmava: - •Gosto mu1to mais de si, que de

. oarmela.da.• Mas... tudo lato eram palavra.a,

. ;a1da1 da bóca e não do coração. A amizade não ae demonstra a.penas com beijinhos, a.braço• e solenes afirmações. Uma pessoa verdadeira-

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AS RATOEIRAS · DO MAR

1-Dom Goraz, vendo brilhar, em sua concha, um marisco, diz, lá no fundo do mar:

!1 - Avança lépido e já pertinho, num atvorôço, ri contente:·- <(Ah, ah, ah 1 •..

- •Oh, que excelente petisco !> Não tem espinhas ... Que almôço ! ... >

lll- Já fareja a rica prêsa ••• O molusco, todavia, prepara a sua defesa, enquanto o Dom Goraz ria.

mente 'amiga de outra, evita·lhe des­gostos e aflições, laz o posslvel por lhe tornar a vida mais leve e airradé.· vel, Não é verdade?

Valia bem mais que Maria Rosa fizesse poucas melirulces e !ôsse obe· dlente.

Porque Maria Rosa desobedecia sempre. ·E a mãe, a quem o trabalho custava muitlsslmo menos do que a desobediência da tuha, afll&la-se. chorava e emagrecia.

Ora a senhora CD.ndlda recomen­. dava sempre é pequena:

- e Antes de alraveasares a rua, olha para um e outro lado. Se vires que nlo vem perto 11,utomóvel nem carroçn, atravessa então, no teu paaso normal, nem multo vaaaroso nem apressado.»

Mas ela, que só gostava de andar aos saltinhos, como as pêgas, ou em correrias, como as lebres, nlo fazia caso daa recomendações da mãe. E quando la para a. escola, ao atraveuar a rua, ora h'nltava> uma pega - pé aqui, pé acolé - ora !azia de lebre. Se na ocasião passava ,algum carro, o

IV - Fecha a concha, de repeute, quando êle abria as gilelas, entalando-o brutalmente, fazendo-o ver as estrêlas,

cor ação da senhora Cândiáa, que da janela a espreitava, dava um grande salto e ficava depois a bater de~orde­nadainente.

E um dia sucedeu o que era de es­perar. Nêsse dia era a vez da lebre. E a lebre escorregou, não pôde esca­par-se a tempo e foi apanha.da de raspão por um au~omóvel. Perdtu os sentidos e ficou estendida na rua.

o coração da senhora Cândida deu um sallo maior. Em seguida parou dois segundos. E a dona caiu para traz, sem acôrdo.

As vizinhas que trouxeram a casa Maria Rosa, jé reanimada e apenas com leves escoriações, meteram na cama a senhora Cândida e correram :i. chamar um médico.

t ste auscultou-a. deu-lhe um fras­qulnho a cheirar, injectou-lhe vârlas drogas e quando a viu melhorzlnha, a rir e a chorar por te1· ao pé de si, bem viva e sem mazela de maior, a a ua querida filha, disse-lhe :

- cO seu coração estâ cans:tdo, minha senhora. Portanto, nada de

w

V - D~ste contlnho, um profundo conr.ello deixo exarado : - Em tórla a parte do mundo h<J ratoeiras . .. Cuidado I

tadlgl\S, nem de comoções. É preciso evitu tudo o que posu causar·lhas.»

A senho1·a Cândida não respondeu, mas olhou a filha. Então, Maria Rosa arrependeu·se sinceramtnte. Caiu de joelhos Junto ao leito da mie e, num grito, exclamou :

- «Prometo, minha miiezlnha, pro· 1neto que nunca mais terei teimosa, nem desobediente. Não quero tornar a vê· la nc!ste estado. Que seria de mim se a minha mãe morresse 1 Sozinha, tão pequenita, nêst~ grande mun· do! . .. »

- cTens razão, minha filha - res­põndeu o m~dico. E fixa 19em isto : cSejas tu pequena ou grande, crlaoça ou adulta.a tua mãe ser• Stmprt e através de tudo, a tua melhor amiga. Faze. pois, o possível por lhe prolonga­res a vlda.t

.. Maria Rosa não voltou a ser deso·

bedlente. E a mãe melhorou. Hoje a senhora Cândida trabalha multo, é

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UMA LENBA • rl

Por F. M.

N AQUELE dia, o pequeno

Carlos, ao ver o mapa· mundo, ouvia dizer a seu pai que o qlobo fõra quási todo descoberto e possuído · pelos portu· gueses.

- •Como, paiiinho? Foram os nossos avós senhores de quâsi todas as terras e fo ram ~les que atra\1essaram todos os mares?>

- «Sim, Carlos - el<plicou o pai-. Por vontade de Deus, ~ste planeta não teve se~redos para nós. Fomos os primeiros no mar, devido à gran· deza de alma do Infante de Sagres, e no ar pelo génio de mestre João Torto.

Da\1id M el~ueiro foi ao polo norte, Bartolomeu Dias viu a África. Vasco da Gama alcançou a lndia, Cõrte Real descobriu a América. Go· dinho Hcrédia trou.'<e·nos a Occ•ania, Fernão de Masialhães deu a \1oltn ao mundo. Ao rnumo tempo. Pero da Co,·ilhã vai i1 Abi1sl11ie, Peres de Andrade entra no Tibet, Serpa Pinto atravessa a Aftice, Pais Leme des· venda o interior do Brasil. Por isso, no reinado de O. Mannel 1 quésl todo o mundo conhecido, fóra da Europa,

certo, mas tem a grande consolaçii'.> de poder dJzer bem alto:

- «Bendito seja Deu~. que tran.~­formou a minha '-faria Rosa na mais carinhosa, na mais educada, na mais obediente das filhas !1

• Rosa Ma1·ia : A felicidade das m(leS depende muito

era nosso. Mas tu sabes porque foi a Raça portuguesa a escolhida, entre todas •. para abrir as portas da terra ?>

- <Não, paizinho, Conte .....

• . .. Estava Deus descançando no Pa·

raíso. Havia já criado os homens e distribuído por êles a terra. Nesse dia, aparece1t um homem para lhe falar. O Senhor atendett·o.

- cSon, Senhor, de uma poderosa nação da Europa. Sei, - pois me dis· seram os astros - que, para lá do mar sem fim, ei<istem continentes ri­cos de ouro e de pedrarias. Queria apo· derar-me dêles e, para isso, venho pedir-vos auxilio>.

Irritou-se Dens com a ambição da· crnele ser e não atendeu a sua súplic::i. · Rolaram tempos e outro homem

''eiu a11istar-se com Deu~: - <Soube pelo '1ento que, além das

montanhas, que limitam a minha po· derosa nação, ei<istem terras cheias de negros, amarelos e bronzeados que poderão enriquecer os meus ci<ércitos e aumentar a legião dos nossos escravos. Peço, pois, Senhor,

do comportamento dos filhos. Não pode sentir-se feliz quem tenha tllhos desobedientes.

E a lua mãe, como lôda1 as mães que se sacrificam pt lo bem-estar dos seus pequenos, tem o direito de sei· feliz.

Daqui em diante, vais ser multo obediente e não torn·arãs a deagostã-la. Combinado ?

o vosso auxílio para que essás terras sejam minhas.>

Do mesmo modo, Deus negou a sa­tisfação do pedido.

Terceiro homem se apresentou: - cSou dum país pequeno, porém

muito lindo, chamado Portugal, cuja principal maravilha consiste em ter siozado sempre da '10Ha bendita Gra· ça. Disse-me uma voz do coração que, para lá dos areais sem fim das mi

nhas praias, ei<istem mundos povoados de siente de todas as côr~s. mersin· lhadas na mais triste isinorância e desconhecendo o Vosso Nome.

Quisera eu ir para l!sses mares, em serviço de Deus, não pelo fito de ri· guezas, mas i.I conquista de almas. Poderei não enriquecer, contudo trarei à mão de Deus tantos milhões de homens que se perdem, sem des­tino.•

Abrin. então, Deus os braços ao portuS!uês:

- cPois vai, português, meu muito amado filho. Pelos teus sentimentos, és disino de possuir o mundo. Para ti, de nada valerão as lendas tene· brosas. Para lonae os vãos terrores! Descobre, conquisto, civiliza e a His· tórla será tua ...

Ani<iliado por Deus, o portusiuês lançou·se no descobrimento e con­quista do mundo. É esta a lenda da expansão de Portuszal.

• . .., ,

Assim acabou o pai do Carlinhos aquela pro-Jeitosa liç·êo.

,

·.. 2E

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...

Maria J.ulza 1'(1,loa .DuarLe Crui

17 ano•

Ana da Soledadt urtto Gomea

t8 anos

l'loa Teresa .Plcolto 17 anos

J!;nplette de J,ourt s AJcalde Alrertt

Hlanos

r;.uc:n::n1 mruarrt.rum •

Cândida Coita Cortes

1l 81101

Maria .l.mélla Cutl· lelro Indlaa

U anos

Emilla Mar ia do l\O· 1árlo Gonçalns

17 anos

Maria lúlla cosla dt Sousa Phnt ntel

tt ª"ºª

Maria Ter esa Barro10 de Lagos ·J5 anos

Maria tJJnuela da Le· mH j.>erelra Duarte

H anoa

Uma menina que queira corrt11Ponder-11e com uma nova am11ulnha, nlo tcrn mais a ta&er do tiU• tnTiar·~os o seu retrato, Indicando o nome, a ldade e a morada respecUvas e a1uardar • publlcaçlo do retrato ~a amlJUlni::\a que Jhe coube em sorte. Depois enviar-nos a primtlra carta. que lhe tôr destinada, dentl"O doutn que 11erá eQdtreeacla á Redac· çio do «Plm·Pam·Pumit, com a indicação : - Inter·câmbto epistolar •

. , . ,..... ... . Publicamos hoje nova série de retratos de itl.llc1·1tas na nou;a s11çlo de lnter·cê.mblo epistolar, corr~spondendo

a oada uma daa nouae leitora.a, que figuram na coluna 1uperlor, respectlvamente, a am11utnll• que lhe fica, na mesma vert1c11lldade, em baixo.

PALAVRAS CRUZADAS

HORIZONT Ali :-1, extremidade duma peça de vestui rio , 2, caaa, habltaçlo ; 3, une, liga ; 4, tempo do verbo dar ; 5, terra portugueaa ; 6, vogal; 7, vogal; 8, eslrêla mais próxima da terra ; 9, 1osta; 10, tempa do verbo Ir; 11, mulher acusada de crime ; 12, dez 'fezes cem; 13, var.ia.

VERTICAl.S : -1, esvoaça.do; 1&, plantio de batatas; 16, pedra de altar; 6, tempo do verbo ser; 9, co11tmenle; 17, estômago das aves graui· yoras; 18, suspiro i 12, pedra de momho.

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PARA OS CASTELOS DE AREIA M ! --

CONSTRUÇAO

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