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XXII Seminário Nacional de Distribuição de Energia Elétri SENDI 2016 - 07 a 10 de novembro Curitiba - PR - Brasil Alexandre Piantini Plinio Luis Nosaki Clovis Yoshio Kodaira Universidade de São Paulo - Instituto de Eletrotécnica e Energia Rio Grande Energia SA Universidade de São Paulo - Instituto de Eletrotécnica e Energia [email protected] [email protected] [email protected] Thais Ohara de Carvalho Angelo Trein Lucca Acacio Silva Neto Universidade de São Paulo - Instituto de Eletrotécnica e Energia Universidade de São Paulo - Instituto de Eletrotécnica e Energia [email protected] [email protected] [email protected] Avaliação da Eficácia de Para-raios na Redução das Tensões Induzidas por Descargas Atmosféricas em Linhas de Média Tensão Palavras-chave descargas atmosféricas linhas de distribuição para-raios sobretensões tensões induzidas transitórios eletromagnéticos Resumo Este artigo descreve as principais características de um sistema desenvolvido para medição de correntes de descargas atmosféricas e estudo de tensões induzidas em linhas de distribuição devido a descargas indiretas através da obtenção simultânea de surtos induzidos em duas linhas monofásicas paralelas. Uma das linhas conta com para-raios, enquanto que a outra encontra-se desprovida de proteção. São apresentadas algumas das 1/12

XXII Seminário Nacional de Distribuição de Energia Elétricaabradee03.org/sendi2016/wp-content/uploads/2016/12/4063.pdfcorrentes de descargas incidentes na torre são realizados

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  • XXII Seminário Nacional de Distribuição de Energia Elétrica

    SENDI 2016 - 07 a 10 de novembro

    Curitiba - PR - Brasil

    Alexandre Piantini Plinio Luis NosakiClovis Yoshio

    Kodaira

    Universidade de São Paulo - Instituto de

    Eletrotécnica e Energia

    Rio Grande Energia SA

    Universidade de São Paulo - Instituto de

    Eletrotécnica e Energia

    [email protected] [email protected] [email protected]

    Thais Ohara de Carvalho

    Angelo Trein Lucca Acacio Silva Neto

    Universidade de São Paulo - Instituto de

    Eletrotécnica e Energia

    Universidade de São Paulo - Instituto de

    Eletrotécnica e Energia

    [email protected] [email protected] [email protected]

    Avaliação da Eficácia de Para-raios na Redução das Tensões Induzidas por Descargas Atmosféricas em Linhas

    de Média Tensão

    Palavras-chave

    descargas atmosféricas

    linhas de distribuição

    para-raios

    sobretensões

    tensões induzidas

    transitórios eletromagnéticos

    Resumo

    Este artigo descreve as principais características de um sistema desenvolvido para medição de correntes de

    descargas atmosféricas e estudo de tensões induzidas em linhas de distribuição devido a descargas indiretas

    através da obtenção simultânea de surtos induzidos em duas linhas monofásicas paralelas. Uma das linhas

    conta com para-raios, enquanto que a outra encontra-se desprovida de proteção. São apresentadas algumas das

    1/12

  • formas de onda registradas pelo sistema e analisada a efetividade do uso de para-raios quanto à mitigação de

    sobretensões em linhas de distribuição causadas por descargas atmosféricas indiretas.

    1. Introdução

    As descargas atmosféricas normalmente se constituem na principal fonte de perturbações em redes de distribuição

    localizadas em regiões com alta densidade de descargas, ocasionando problemas de qualidade de energia que causam

    transtornos aos consumidores e prejuízos significativos às empresas de energia. Esse é o caso de muitas

    concessionárias no Brasil e, particularmente, da RGE, cuja área de concessão envolve uma região do estado do Rio

    Grande do Sul com uma das mais elevadas densidades de descargas atmosféricas do país.

    Tendo em vista a necessidade e o interesse da RGE e da CPFL em alterar esse quadro e oferecer uma energia de

    melhor qualidade aos seus consumidores, foi desenvolvido o projeto de pesquisa "Padrões de Redes de Distribuição

    Aéreas Robustas Frente a Descargas Atmosféricas Diretas" – PA0030. O projeto envolveu uma série de questões

    relacionadas ao tema, como a análise do comportamento das resistividades de diversos tipos de solo com a umidade

    (Coelho et al., 2014), avaliação e desenvolvimento de modelos relativos ao efeito da ionização do solo e à representação

    de sistemas de aterramento submetidos a surtos atmosféricos (ALMAGUER et al., 2013), desenvolvimento de sensores

    de baixo custo para medições de correntes de descargas e sobretensões atmosféricas em redes energizadas, além da

    modelagem de equipamentos (SHIGIHARA et al., 2016). Foram analisados os desempenhos de linhas com diferentes

    configurações frente a descargas atmosféricas diretas e indiretas. Além disso, foi desenvolvido um sistema para

    medições de correntes de descargas atmosféricas e de tensões induzidas em linhas de distribuição, implantado no

    campus da Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões (URI) em Santo Ângelo – RS, região

    caracterizada por elevada densidade de descargas atmosféricas. A apresentação desse sistema, que substituiu um

    sistema anterior que operou no período de 2002-2009 na cidade de São Paulo (PIANTINI et al., 2003, PIANTINI et al.,

    2004), constitui-se no primeiro objetivo deste trabalho.

    O segundo objetivo se refere à avaliação da eficácia da utilização de para-raios em redes de distribuição para mitigação

    das sobretensões decorrentes de descargas atmosféricas indiretas. Esta é uma das principais técnicas para proteção de

    linhas de distribuição frente a descargas atmosféricas e desde 1969 estudos vêm sendo realizados nesse sentido (IEEE

    TASK FORCE, 1969, YOKOYAMA, 1986, PIANTINI & JANISZEWSKI, 1997, PAOLONE et al., 2004, PIANTINI &

    JANISZEWSKI, 2007, PIANTINI, 2008, SHORT & AMMON, 1999). Entretanto, com exceção das pesquisas

    desenvolvidas pelo CENDAT – Centro de Estudos em Descargas Atmosféricas e Alta Tensão da USP (PIANTINI &

    JANISZEWSKI, 2007, PIANTINI, 2008, PIANTINI et al., 2004), em nenhum outro estudo foram obtidos registros

    simultâneos de tensões induzidas pela mesma descarga em linhas com e sem para-raios.

    Em geral admite-se que a instalação de para-raios a intervalos de 200 m assegura uma redução significativa das

    sobretensões decorrentes de descargas em suas proximidades, embora a linha ainda esteja sujeita a interrupções

    causadas por descargas diretas. Entretanto, as conclusões apresentadas em um estudo experimental realizado na

    região de Long Island, nos EUA (SHORT & AMMON, 1999) levam a crer que a eficácia dos para-raios em termos de

    redução do número de interrupções causadas por descargas atmosféricas é muito baixa, mesmo quando estes estão

    instalados em praticamente todos os postes. Em função dessa surpreendente conclusão, alguns tópicos do artigo são

    discutidos no item 2.

    Esse tipo de divergência, aliado à importância das sobretensões causadas por descargas indiretas no desempenho de

    linhas de distribuição, foi um dos fatores que motivaram o desenvolvimento do novo sistema para estudo de tensões

    induzidas por descargas atmosféricas naturais. O novo sistema representa uma extensão da pesquisa realizada em

    (PIANTINI & JANISZEWSKI, 2007, PIANTINI, 2008) com modelo reduzido, sendo a metodologia pioneira anteriormente

    2/12

  • desenvolvida aplicada a um sistema em escala real. A análise dos resultados envolveu medições realizadas tanto em

    escala real como em experimentos em escala reduzida, além de simulações realizadas através do "Extended Rusck

    Model" (ERM) (PIANTINI, 2010, PIANTINI & JANISZEWSKI, 1998, PIANTINI & JANISZEWSKI, 2003a, PIANTINI &

    JANISZEWSKI, 2009).

    2. Desenvolvimento

    A metodologia utilizada consistiu, inicialmente, na análise dos resultados obtidos através do primeiro sistema

    desenvolvido para estudo de tensões induzidas por descargas atmosféricas. Tal sistema possibilita a obtenção de

    registros simultâneos de tensões induzidas pelas mesmas descargas em duas linhas monofásicas distantes 6 m uma da

    outra. Uma das linhas está protegida com para-raios (duas unidades, com espaçamento de aproximadamente 374 m),

    ao passo que a outra não conta com nenhum dispositivo de proteção. A comparação direta entre as tensões induzidas

    nas duas linhas permite a determinação, para a situação específica (configuração da linha, parâmetros da descarga e

    posição relativa entre a linha e o ponto de incidência da descarga), da eficácia dos para-raios na redução da amplitude

    da tensão induzida. Ressalta-se que as tensões são medidas em dois pontos de cada linha: o primeiro a 27 m e o outro

    a aproximadamente 181 m do para-raios mais próximo. Os valores das resistências de terra nos dois pontos de

    instalação dos para-raios são iguais a 45 ohms e 95 ohms, sendo o valor mais elevado correspondente à extremidade

    da linha, conforme indicado na Figura 1a. A Figura 1b apresenta o traçado da linha experimental do novo sistema e as

    localizações dos pontos de medição de tensões induzidas, da torre e da sala de comando do sistema de medição e

    aquisição de dados.

    A partir de simulações realizadas com o ERM estimou-se, fixando-se uma certa distância do ponto de incidência da

    descarga em relação à linha, a corrente da descarga que induziria na linha sem proteção a tensão medida na mesma.

    Trata-se meramente de uma estimativa, uma vez que correntes com diferentes amplitudes podem induzir tensões com

    mesmo valor de crista se as descargas ocorrerem a diferentes distâncias em relação à linha. Posteriormente os

    resultados obtidos foram correlacionados com medições efetuadas em escala reduzida, visando o aumento da base de

    dados. Essa etapa foi complementada por simulações computacionais, realizadas com o ERM, obtendo-se então, a

    partir de determinadas premissas, o grau de melhoria do desempenho da linha após a instalação de para-raios na

    mesma.

    A escolha do local mais adequado para instalação do novo sistema, indicado na Figura 1b, foi realizada com base na

    análise das densidades de descargas para terra (Ng) das cidades localizadas na área de concessão da RGE. Tal análise

    foi baseada em dados do INPE (2012), tendo-se verificado a existência de uma região com Ng superior a 12

    descargas / (km2.ano) próxima à fronteira com a Argentina. A celebração de um convênio de cooperação acadêmica

    entre a URI e a USP permitiu a implantação do novo sistema no campus da URI em Santo Ângelo – RS.

    O sistema consiste de uma torre de 70 m de altura para a captação das descargas, duas linhas experimentais para

    medição das tensões induzidas e uma cabine de medição e aquisição de dados. O sistema conta também com um

    receptor de sinais do sistema GPS (“Global Positioning System”) para registro do horário das medições e um sensor de

    campo elétrico vertical para registro e automação do sistema. As tensões induzidas são registradas em 4 pontos da linha

    experimental, a qual é constituída por dois condutores a 9 m de altura, distantes 6 m um do outro, ambos casados nas

    duas extremidades. Um dos condutores é protegido com para-raios em pontos estratégicos, enquanto que o outro não

    dispõe de nenhum equipamento de proteção. As medições de tensão são feitas em dois pontos de cada condutor, de

    modo que a avaliação da eficácia do sistema de proteção da linha pode ser avaliada diretamente, através de

    comparações entre as tensões induzidas medidas simultaneamente nos dois condutores, em diversas situações. Faz-se

    também o registro do campo elétrico por meio de um sensor instalado próximo à cabine de medição. Os registros de

    3/12

  • correntes de descargas incidentes na torre são realizados por meio de uma placa de aquisição de dados instalada em

    um computador. Na Figura 2 são mostradas fotos da torre e de um trecho da linha.

    (a) (b)

    Figura 1 - Sistemas de medição de tensões induzidas e de correntes de descargas. Zc: impedância característica da

    linha; PR's: para-raios.

    1 e 3: pontos de medição das tensões induzidas na linha sem PR's

    2 e 4: pontos de medição das tensões induzidas na linha com PR's

    a) Campus da USP (2002 – 2009). DE CARVALHO et al. (2005) b) Campus da URI em Santo Ângelo – RS (atual)

    Figura 2: Torre e trecho da linha experimental construída no campus da URI em Santo Ângelo - RS.

    A medição das tensões induzidas se dá por meio de divisores de tensão resistivos para impulsos de até 250 kV. Cada

    4/12

  • poste tem dois divisores, cada um ligado a um dos condutores da linha. Um osciloscópio de quatro canais foi instalado

    em cada poste, onde as tensões induzidas em cada condutor são medidas em dois canais com diferentes atenuações.

    Os osciloscópios registram tensões induzidas simultaneamente, uma vez que os seus sistemas de disparo são

    interligados. A conexão entre as portas de “trigger out” e “trigger in” dos osciloscópios usados no ponto se dá através de

    fibra ótica. Conversores de sinais TTL elétrico para fibra ótica e vice-versa são utilizados para essa finalidade e também

    para enviar o sinal de disparo dos osciloscópios para a cabine de medição, permitindo assim a obtenção do horário de

    disparo dos osciloscópios por meio da placa receptora de sinais GPS. Um sistema microcontrolado é responsável pelo

    acionamento dos osciloscópios, monitoramento da carga das baterias, temperatura do sistema e acionamento do

    sistema de ventilação.

    A medição de corrente na torre é feita por meio de dois transformadores de corrente (TCs) no topo da estrutura, sendo

    um para registro de correntes com valor de crista de até 20 kA e o outro, até 100 kA. Os sinais elétricos dos sensores de

    corrente são convertidos em óticos para transmissão por fibra ótica do topo da torre até a cabine de medição, onde os

    sinais óticos são reconvertidos em sinais elétricos. Essas conversões elétrico/ótico e ótico/elétrico são realizados por

    meio de links óticos que podem transmitir sinais com frequência de até 40 MHz. Foram adquiridos dois links, um para

    cada TC. A placa de aquisição possui dois canais com largura de banda de 60 MHz, taxa de amostragem de 100 MS/s,

    resolução vertical de 14 bits e memória total de 1 GS.

    Foi também desenvolvido um programa computacional para aquisição dos dados de tensões induzidas na linha

    experimental, de correntes incidentes na torre, campo elétrico e horário dos eventos, com base em um receptor de sinais

    GPS. O programa também faz o gerenciamento dos sistemas de medição, acionando os osciloscópios em determinados

    períodos e monitorando as tensões das baterias e as temperaturas nas caixas dos instrumentos. O programa principal

    foi desenvolvido em LabVIEW, da National Instruments. O acionamento dos osciloscópios é realizado por meio de

    microcontrolador Arduino, que também faz o monitoramento da tensão da bateria e da temperatura no interior da caixa

    onde os equipamentos estão instalados. Um sistema de ventilação e de aquecimento pode ser acionado caso

    necessário, tendo em vista as grandes variações de temperatura ambiente às quais os equipamentos estarão

    submetidos. O sistema permitirá aproximadamente 10 segundos de registro da forma de onda da corrente de descarga,

    possibilitando a análise de correntes tanto da primeira descarga ("first stroke") quanto das descargas subsequentes

    ("subsequent strokes").

    Nesta parte descreve-se sucintamente o projeto desenvolvido em (SHORT & AMMON, 1999), referente a um projeto

    desenvolvido em Long Island, EUA, onde a densidade anual de descargas para terra nas regiões consideradas varia

    entre 1,0 e 2,3 descargas/km2. O trabalho relata os resultados obtidos experimentalmente acerca da verificação da

    eficácia de para-raios na proteção de linhas de distribuição, sendo a seguir tecidos comentários a respeito do estudo.

    O projeto compreendeu o monitoramento de cinco alimentadores durante um período de cerca de 3 anos (1993 a 1996).

    Os circuitos são de 13,2 kV, com quatro condutores e neutro multiaterrado, sendo a distância entre os postes igual a 40

    m. Possuem configuração horizontal com cruzetas de madeira de 2,4 m, sendo que a tensão crítica de descarga

    disruptiva (CFO) varia de 150 kV a 300 kV. Em 1993, foram instalados para-raios de óxido de zinco poliméricos e de

    porcelana nas três fases de três circuitos, enquanto os outros dois ficaram sem proteção. A Tabela 1 apresenta a

    nomenclatura dos circuitos, além dos respectivos espaçamentos entre os para-raios.

    5/12

  • TABELA 1 - CIRCUITOS MONITORADOS (ADAPTADA DE (SHORT & AMMON, 1999)).

    De acordo com os autores, a principal conclusão do estudo é que existem poucas evidências de que os para-raios sejam

    eficazes na redução do número de descargas disruptivas ocasionadas por descargas atmosféricas em linhas de

    distribuição aéreas. Afirmam ainda que:

    - apenas uma pequena parcela das faltas registradas nos circuitos monitorados foi causada por descargas

    atmosféricas. Isso se deve à atividade ceráunica moderada em Long Island e também ao grande número de árvores

    nas vizinhanças dos circuitos monitorados, que os deixa menos expostos às descargas diretas. A análise sugere que a

    maior parte das faltas foi ocasionada por descargas diretas;

    - os circuitos com para-raios não apresentaram, no período considerado, nenhuma melhora mensurável em relação

    aos circuitos sem para-raios, independentemente do intervalo de instalação. Em um resultado surpreendente, mesmo o

    circuito com para-raios em virtualmente todos os postes teve praticamente o mesmo número de faltas causadas por

    descargas atmosféricas que os outros circuitos.

    Entretanto, apesar do mérito inegável do trabalho, cumpre ressaltar que, além do curto período de medições coberto

    pelo estudo e a pequena quantidade de dados obtidos, insuficiente para garantir a solidez das conclusões mencionadas,

    aspectos para os quais os autores não deram o devido destaque, há pelo menos outras duas questões que merecem

    comentários. Primeiramente, o circuito 3H-83, descrito como "virtualmente à prova de faltas devido a descargas

    atmosféricas", por possuir para-raios em todos os postes, não tinha, na realidade, para-raios raios instalados em cerca

    de 11 % do seu comprimento. A maior parte das faltas causadas por descargas atmosféricas ocorreu justamente nesses

    trechos. Em segundo lugar, devido à grande quantidade de árvores nas proximidades do circuito, os autores excluíram a

    possibilidade das faltas terem sido ocasionadas por descargas diretas. Descartaram também a possibilidade das faltas

    terem sido decorrentes de tensões induzidas por descargas indiretas, com a justificativa da grande quantidade de para-

    raios. Como também foi descartado o motivo "mau funcionamento dos para-raios", em função da pequena taxa anual de

    falhas dos mesmos (entre 0,05 % e 0,08 % nos dois primeiros anos de operação), a real causa das faltas não foi

    determinada. Entretanto, a possibilidade das interrupções terem resultado de tensões induzidas por descargas nas

    árvores próximas ao alimentador, junto ao trecho sem para-raios, é bastante plausível e não deve ser eliminada.

    Testes realizados através de modelo em escala reduzida mostram que descargas muito próximas à linha (distâncias da

    ordem de 20 m) podem induzir tensões com valores de crista da ordem de 700 kV (para correntes com amplitude de

    70 kA), mesmo com para-raios a cerca de 150 m do ponto considerado (no caso, um transformador localizado em um

    final de ramal) (PIANTINI & JANISZEWSKI, 2000). Na mesma situação, o valor de crista da tensão induzida foi de

    aproximadamente 300 kV para uma corrente com amplitude de 34 kA (PIANTINI & JANISZEWSKI, 2000). No caso da

    pesquisa americana, as amplitudes das correntes das quatro descargas correlacionadas com as faltas foram de 37 kA,

    6/12

  • 89 kA, 37 kA e 14 kA.

    Dentre as diversas tensões induzidas registradas pelo primeiro sistema desde o início do seu funcionamento, as mais

    importantes para o presente estudo são aquelas de valores mais elevados. Destacam-se, portanto, os casos indicados

    nas Figuras 3 e 4a, nas quais as tensões atingiram valores suficientemente altos para provocar a atuação dos para-

    raios. A Figura 3 ilustra uma das situações onde foi possível obter os registros simultâneos das tensões induzidas nos

    quatro pontos de medição. Na Figura 4a são apresentadas as tensões induzidas nos pontos 1 e 2 (Figura 1) por uma

    descarga que atingiu um eucalipto localizado a 67 m de distância do condutor mais afastado (sem para-raios).

    Deve-se ressaltar, no entanto, que embora a separação de 6 m resulte em um acoplamento entre os condutores bem

    inferior àquele correspondente ao caso dos condutores de uma linha convencional, o mesmo não é nulo. Assim, a

    presença de para-raios em uma das linhas afeta, ainda que de forma não significativa, as tensões induzidas na outra. A

    fim de se avaliar o grau de influência desse acoplamento nos resultados obtidos, procurou-se estimar as características

    da corrente da descarga que induziu as tensões apresentadas na Figura 4a, uma vez que para esse caso o local exato

    do ponto de impacto era conhecido. A forma de onda estimada da corrente é mostrada na Figura 4b, observando-se que

    ela representa uma corrente típica de descarga atmosférica (amplitude de 30 kA e tempo de frente de aproximadamente

    6,4 microsegundos). Por sua vez, a Figura 5 apresenta a tensão induzida no condutor sem para-raios, calculada a partir

    dessa corrente. Considerou-se, nos cálculos, que a velocidade de propagação da corrente ao longo do canal é igual a 30

    % da velocidade da luz no vácuo. A figura mostra ainda a tensão que seria induzida no condutor supondo a ausência do

    outro (com para-raios). Para efeito de comparação, a tensão medida nesse condutor (onda 1, Figura 4a) é apresentada

    novamente.

    (a)

    (b)

    Figura 3 - Tensões induzidas simultaneamente nas linhas com e sem PR's.

    a) pontos 1 e 2 (Figura 1a) b) pontos 3 e 4 (Figura 1a)

    7/12

  • (a) (b)

    Figura 4 – Tensões medidas simultaneamente nos dois condutores (pontos 1 e 2 indicados na Figura 1a) e corrente

    estimada da descarga que atingiu uma árvore a 67 m de distância da linha.

    a) tensões induzidas b) corrente estimada da descarga

    Figura 5 - Tensões induzidas no ponto 2 da linha sem para raios considerando a corrente indicada na Figura 5. Ponto

    atingido: árvore a 67 m de distância da linha sem PR's. 1) tensão calculada sem considerar a presença da linha com

    PR's; 2) tensão calculada considerando a presença da linha com PR's; 3) tensão medida (onda 1, Figura 4a).

    Nota-se que existe uma diferença de aproximadamente 10 % entre as tensões induzidas no condutor sem proteção

    quando se considera ou não o efeito do condutor com para-raios. Conforme mencionado anteriormente, tal diferença se

    deve ao acoplamento entre os dois condutores e a avaliação do efeito dos para-raios deve levar em conta esse aspecto.

    Além disso, especificamente no caso em questão, o fato do ponto de incidência da descarga estar um pouco mais

    próximo do condutor com para-raios (61 m) que do condutor sem proteção (67 m) também contribui um pouco para

    reduzir a diferença entre as tensões medidas nos dois condutores. Levando em consideração esses fatores apresenta-

    se, na Tabela 2, para alguns dos registros obtidos, as relações (Vcom/Vsem) entre os valores de crista das tensões

    induzidas nos condutores com (Vcom) e sem (Vsem) para-raios (xpr indica a distância entre o ponto de medição e o

    para-raios mais próximo).

    Cumpre destacar que a relação (Vcom/Vsem) depende de uma série de parâmetros, em especial da amplitude e do

    8/12

  • tempo de frente da corrente da descarga, da distância desta em relação à linha e da distância xpr entre o ponto sob

    análise e o para-raios mais próximo. A tensão induzida em um determinado ponto da linha tende a aumentar à medida

    que diminui a distância entre este ponto e o local de incidência da descarga. O aumento da tensão se verifica também

    no caso de crescimento da amplitude da corrente ou diminuição do tempo de frente da mesma. Pontos mais afastados

    de um para-raios tendem a apresentar tensões mais elevadas. Evidentemente, quanto menor for a amplitude da tensão

    induzida, menor a corrente que fluirá através dos para-raios e, consequentemente, menor será a diferença entre as

    tensões nos dois condutores. Tal fato pode ser comprovado através dos resultados apresentados na Tabela 2. Nota-se,

    por exemplo, que no Caso 5, onde a tensão no condutor sem para-raios (calculada eliminando-se o acoplamento) atingiu

    23 kV, a relação entre os valores de crista das tensões nos dois condutores é igual a 0,93. Já no Caso 6,

    correspondente à Figura 4, onde a tensão no condutor sem para-raios atingiu cerca de 78 kV, a relação entre as duas

    tensões é igual a 0,57.

    TABELA 2 - RELAÇÕES ENTRE AS TENSÕES INDUZIDAS MEDIDAS SIMULTANEAMENTE NOS CONDUTORES

    COM E SEM PARA-RAIOS (Vcom/Vsem), ELIMINANDO O EFEITO DO ACOPLAMENTO.

    Os dados apresentados na Tabela 2 também mostram que a eficácia dos para-raios é tanto maior quanto menor for a

    distância entre os mesmos e o ponto considerado. Com efeito, em ambos os casos onde as tensões induzidas foram

    registradas simultaneamente nos quatro pontos de medição (casos 1 a 4), a relação Vcom/Vsem foi menor no caso de

    distância xpr = 27 m que no caso de maior espaçamento (xpr = 181 m). De maneira geral, para pontos próximos a um

    para-raios a relação Vcom/Vsem diminui com o aumento da amplitude da corrente de descarga. Essa redução é mais

    acentuada para baixos valores de resistência de terra, pois nesses casos a tensão no condutor com para-raios (Vcom)

    não varia de forma significativa com a corrente de descarga, enquanto que no condutor sem proteção a tensão induzida

    (Vsem) é proporcional à corrente. Por outro lado, à medida que o ponto sob análise se afasta dos para-raios, a relação

    Vcom/Vsem passa a ser menos dependente da amplitude da corrente de descarga, pois o efeito dos para-raios demora

    mais a ser sentido. No caso de descargas de mesma amplitude mas com diferentes tempos de frente, o efeito dos para-

    raios é mais marcante, ou seja, a relação Vcom/Vsem é menor, no caso da corrente com subida mais lenta.

    As comparações efetuadas para alguns registros obtidos em condições semelhantes mostraram a coerência dos

    resultados. Ainda assim, em razão da grande quantidade de parâmetros com influência significativa nas tensões

    induzidas, a análise foi complementada com simulações computacionais desenvolvidas utilizando-se o ("Extended Rusck

    Model" - ERM). Os resultados mostraram que a instalação de para-raios a cada 360 m pode acarretar uma melhora

    apreciável no desempenho de uma linha de distribuição típica frente a descargas atmosféricas indiretas. Menores

    distâncias, no entanto (200 m, por exemplo), resultarão tensões induzidas de menor amplitude e, portanto, em um

    9/12

  • melhor desempenho da linha.

    3. Conclusões

    A análise dos resultados obtidos durante a pesquisa mostrou que a instalação de para-raios pode ser bastante eficaz na

    redução do número de sobretensões induzidas e, consequentemente, melhorar o desempenho de linhas de distribuição

    frente a descargas atmosféricas indiretas. Entretanto, para que essa melhoria seja substancial, o espaçamento entre os

    para-raios deve ser o menor possível e os valores de resistência de terra devem ser baixos.

    O estudo desenvolvido utilizou uma metodologia pioneira e teve por base as medições realizadas em dois condutores de

    uma linha com cerca de 2,7 km de comprimento, afastados 6 m um do outro. Os resultados obtidos nesta pesquisa são

    contrários às conclusões apontadas ao final de um projeto desenvolvido nos EUA com o mesmo objetivo, segundo o

    qual não foram encontradas evidências de que os para-raios possam contribuir de modo apreciável para a melhoria do

    desempenho de linhas de distribuição frente a descargas atmosféricas. É importante considerar, todavia, que o período

    de medições coberto pelo estudo (pouco superior a três anos) não foi longo o suficiente para garantir a solidez das

    conclusões citadas no trabalho. Além disso, as áreas onde se situavam os cinco circuitos estudados possuíam

    densidades médias anuais de descargas para terra muito baixas e a quantidade de dados obtida foi muito reduzida, o

    que restringe sobremaneira a validade das conclusões. Entretanto, apesar de reconhecerem essas limitações, os

    autores não lhes deram o devido destaque. Não obstante, o trabalho tem relevância e realça a inexistência de consenso

    sobre o assunto, enfatizando a importância de desenvolvimento de mais pesquisas na área.

    Em que pese a necessidade de continuidade de medições de tensões induzidas visando a ampliação da base de dados,

    os objetivos propostos neste estudo foram atingidos. Foi desenvolvido um novo sistema de medição e aquisição de

    dados de correntes de descargas e de tensões induzidas, implantado em uma área com elevada densidade de

    descargas atmosféricas. O estudo terá prosseguimento e envolverá, dentre outras, a análise de linhas com diferentes

    configurações.

    4. Referências bibliográficas

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