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UMA ANÁLISE BREVE, BÍBLICA E RACIONAL DA MORTE DE CRISTO NO CALVÁRIO Escrito por Yago Martins para os sites VoltemosAoEvangelho.com e TeologiaeVida.com Primeira edição: Outubro de 2010. Esta obra está disponível sob a licença Creative Commons Attribution-NonCommercial- NoDerivs 3.0 Unported License aos sites VoltemosAoEvangelho.com e TeologiaeVida.com. Vo- cê é livre para copiar, distribuir e transmitir esta obra, desde que o crédito seja atribuído ao(s) seu(s) autor(es) - mas não de maneira que sugira que este(s) concede(m) qualquer aval a vo- cê ou ao seu uso da obra. Você não pode utilizar esta obra para finalidades comerciais, nem alterar seu conteúdo, transformá-lo ou incrementá-lo.

Yago Martins - Em Defesa da Expiação Eficaz

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UMA ANÁLISE BREVE, BÍBLICA E RACIONAL DA MORTE DE CRISTO NO CALVÁRIO

Escrito por Yago Martins para os sites VoltemosAoEvangelho.com e TeologiaeVida.com

Primeira edição: Outubro de 2010.

Esta obra está disponível sob a licença Creative Commons Attribution-NonCommercial-

NoDerivs 3.0 Unported License aos sites VoltemosAoEvangelho.com e TeologiaeVida.com. Vo-

cê é livre para copiar, distribuir e transmitir esta obra, desde que o crédito seja atribuído ao(s)

seu(s) autor(es) - mas não de maneira que sugira que este(s) concede(m) qualquer aval a vo-

cê ou ao seu uso da obra. Você não pode utilizar esta obra para finalidades comerciais, nem

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Introdução .......................................................................................................................................... 2

A Expiação ......................................................................................................................................... 3

Por Quem Cristo Morreu? ................................................................................................................. 4

Mundo / Todos – Resgatando o Contexto Judaico ..................................................................... 5

O Poder da Cruz ................................................................................................................................ 7

Conclusão ........................................................................................................................................... 8

Apêndice 1 – Lista de Refutações .................................................................................................. 9

Apêndice 2 – Lista de Livros e Sites ................................................................................................. 9

Resumidamente, a Expiação Eficaz (ou Limitada)1 é a doutrina que defende o testemu-

nho bíblico de que Jesus morreu para salvar apenas aqueles que creriam n‘Ele, e não por to-

das as pessoas do mundo.

Muitos que leem declarações deste tipo tendem a negá-las antes de uma análise mais

profunda. O culpado disso — creio eu — é a falta de comprometimento com a Verdade da-

queles que se professam seguir a Cristo. Digo isso porque alguém que é realmente comprome-

tido com a Verdade é alguém que, antes de tudo, analisa.

Uma pessoa que é sinceramente preocupada com a Verdade revelada nas Escrituras

não pode ser alguém contentado em seus pré-conceitos, antes, é alguém que julga o mais

intrínseco detalhe de cada afirmação, a fim de, ainda que do mais profundo engano, encon-

trar alguma centelha edificante, examinando de tudo e retendo o que é bom. Além de pro-

curar ser edificado mesmo ante o erro, alguém compromissado com a Verdade é alguém que

conhece o engano em suas várias formas. É exatamente por isso que os cristãos devem ser

esquadrinhadores do erro, assim, crescendo na habilidade de ensinar a Verdade.

Uma das grandes bênçãos em agir dessa forma é que, à medida que exerço o compro-

metimento com a Verdade, é inevitável ser transformado pelo conteúdo bíblico que analiso

cotidianamente. É por isso que os melhores mestres cristãos da história eram homens que não

temiam sair do cais relativista para mergulhar fundo no alto mar do conhecimento.

Como isso se relaciona à Expiação de Cristo? Do mesmo modo que se relaciona com to-

da a doutrina bíblica. A cultura atual é uma forte ferramenta usada para dissuadir os homens

do estudo profundo das Escrituras. Ninguém mais quer perder seu tempo debruçado sobre um

livro velho. A própria cultura chamada evangélica atual prega que ―teologia esfria o crente,‖

defendendo um estudo exotérico da Bíblia. Mal se ouve falar de exegese no púlpito cristão

comum. Qualquer interpretação bíblica que aparente fazer algum sentido tem sido servida

nas mesas dos cristãos comuns dia após dia. É fácil entender por que tantos têm uma fé que

beira a morte: é só observar o veneno que eles têm ingerido.

O que eu quero com essa longa digressão (e veja que abri mão de toda a introdução

para fazê-la), é implorar para que você possa analisar as declarações deste livreto com im-

parcialidade e submissão à Palavra de Deus. Duvide, questione, pesquise, encontre as respos-

1 O termo Expiação Limitada, embora seja histórico, causa confusão nos dias atuais, pois dá a en-

tender que estamos rebaixando a morte de Cristo por chamá-la de limitada. Esse assunto será tratado

com mais cuidado em outro momento.

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tas! Oro para que isso possa ser frequente durante a leitura deste material. Mas, antes de tudo,

não se deixe levar pelo orgulho que o impede de assumir erros. Se estas interpretações das

Escrituras estiverem certas, submeta-se a elas! E faça tudo para a Glória de Deus.

Paulo, Jesus e o escritor da carta aos Hebreus nos dão um bom motivo para conhecer os ri-

tos sacerdotais judaicos:

―Examinai as Escrituras, porque vós cuidais ter nelas a vida eterna, e são elas que de

mim testificam‖ (Jo 5:39); ―Porque tendo a lei a sombra dos bens futuros, e não a

imagem exata das coisas...‖ (Hb 10:1); "Portanto, ninguém vos julgue pelo comer, ou

pelo beber, ou por causa dos dias de festa, ou da lua nova, ou dos sábados, que

são sombras das coisas futuras..." (Cl 2.16,17).

Não é difícil perceber, sob a luz destes textos, que os preceitos da lei judaica serviram como

sinal (ou sombra) da graça manifesta em Cristo (bens futuros), como o próprio Cristo confirmou

que eram as escrituras hebraicas — objeto de estudo dos mestres da Lei — que testificavam

d‘Ele. Não é necessário gastar muito tempo neste ponto, mas, mesmo assim, gostaria de citar

alguns poucos exemplos:

Mesmo no início de Gênesis, o animal inocente que foi morto por Deus para cobrir a nudez

de Adão era uma sombra de Cristo (Gn 3:21). A tenda do encontro que Deus usava para vir

até Moisés representa Cristo vindo ao homem (Ex 33:7-11), assim como a escada de Jacó,

também representando a descida de Cristo para a terra (Gn 28:12; Jo 1:51). A arca da aliança

representa a presença de Deus junto aos homens, assim como Cristo o era (II Cr 5:6). Todos

esses casos, como incontáveis outros, são excelentes tipificações de Jesus, mas é sobre outra

— que considero a maior — que quero focar.

Nos tempos da Lei Sacerdotal, os homens tinham seus pecados perdoados de um modo

muito peculiar, que era resumidamente assim: O pecador levava ao sacerdote uma oferta

pelo seu pecado. Esse sacerdote orava pelo homem e, com isso, os pecados do homem pas-

savam todos para a oferta. O sacerdote sacrificava a oferta e quando esse animal era morto,

o pecado era morto junto com ele. Assim, o homem estava livre de sua culpa (cf. Lv 1-6). O

que estava acontecendo neste momento era uma expiação (do hebraico kippurim, derivado

de kaphar, que significa ‗cobrir‘). Tal palavra nos traz a idéia de cobrir o pecado mediante um

‗resgate‘, de modo que haja uma reparação ou restituição adequada pelo delito cometido.

Quando observamos essas ofertas que eram entregues pelo pecado, percebemos que elas

são tipificações de Cristo, em seu sacrifício de expiação pelo pecado (cf. Jo 1:29). Creio que

todos os cristãos têm isso como uma irrevogável verdade. Creio que não há leitor sincero das

Escrituras que duvide de tal coisa. O constrangedor é que, mesmo sendo unânimes em que os

sacrifícios da Lei eram sombras de Jesus, poucos percebem o que isso significa sobre a eficá-

cia e a extensão da Expiação de Cristo.

Sob a luz do sacrifício do Antigo Testamento, podemos ver mais claramente o que Cristo fez

na cruz. Os pecados foram lançados sobre Ele e, quando foi morto, os pecados foram mortos

com Ele. Assim, aqueles que tiveram seus pecados lançados na Cruz estão livres de todos os

seus pecados. Considere a declaração do famoso judeu convertido a Cristo Myer Pearlman:

"Expiar o pecado é ocultar o pecado da vista de Deus de modo que o pecador

perca seu poder de provocar a ira divina" (Myer Pearlman, Conhecendo as Doutri-

nas da Bíblia)

Você vê como, a partir dessa análise da morte de Cristo na cruz e da expiação do Antigo

Testamento, a afirmação de que Jesus morreu por todo o mundo é, no mínimo, problemática?

Perceba: se todos os pecados de todo o mundo foram lançados na Cruz de Cristo, quando

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esse morre, aqueles morrerão junto. Logo, todos os pecados de todas as pessoas do mundo

estão perdoados.

―A pergunta que necessita de uma resposta exata é esta: Cristo realmente fez ou

não fez um sacrifício vicário pelos pecados? Se Ele o fez, não foi em favor de todo o

mundo, pois, se assim fosse, todo o mundo seria salvo‖ (Palmer, Edwin; The Five Po-

ints of Calvinism; Grand Rapids, Baker Book House, 1980, p. 47).

Não podemos, de modo algum, acreditar que todos serão salvos. É evidente, à luz da Bíblia

que essa é uma heresia de fácil refutação. Sendo assim, só nos sobra a hipótese de que só

foram lançados na cruz os pecados dos Eleitos de Deus.

Creio que você pode estar pensando agora sobre como eu deturpo as Escrituras para dar

base às minhas ideias e pode ser que esteja, mentalmente, contra-argumentando algo como

ser necessário aceitar esse sacrifício para ser salvo. Embora isso seja uma argumentação vazia

de evidências bíblicas, não quero ser negligente em relação a ela. Por isso, dedicarei o próxi-

mo tópico a refutar tal fábula.

O nosso evangelismo de para-choque é ágil em responder essa pergunta. ―Por mim e por

você!‖ ou ―Por todo o mundo,‖ dizem a maioria daqueles que se professam cristãos. Esse tipo

de frases pré-prontas para evangelismo são tão influenciadoras nos dias de hoje que a exis-

tência de outras hipóteses parece impossível. Por isso, quero apresentar todas as possibilidades

de respostas para essa questão:

Jesus morreu por:

1.Todos os pecados de todos os homens; 2. Todos os pecados de alguns homens;

3.Alguns pecados de todos os homens; ou 4. Alguns pecados de alguns homens.

Instantaneamente, podemos eliminar os pontos 3 e 4. Se Cristo não morreu por todos os pe-

cados de alguém, ainda existem pecados os quais eles precisam pagar diante de Deus. Logo,

ninguém poderia ser salvo. O salmo 143 diz: ―Mas não leves o teu servo a julgamento, pois nin-

guém é justo diante de ti‖ (v. 2). E o salmo 130 diz também: ―Se tu, Soberano Senhor, registras-

ses os pecados, quem escaparia?‖ (v. 3). Se houver qualquer pecado sem ser expiado diante

de Deus, a morte eterna para o pecador será certa, pois o salário do pecado sempre será a

morte (cf. Rm 6:23). Então, nos restam o item 1 (Cristo morreu por todos os pecados de todos

os homens) e o item 2 (Cristo morreu por todos os pecados de alguns homens).

O item 1 é tão digno de ser descartado quanto os outros dois. Se todos os pecados de to-

das as pessoas do mundo foram lançados na cruz de Cristo, porque todas as pessoas não são

salvas? Isso é evidentemente ilógico. Infelizmente, algumas pessoas tentam apelar para uma

argumentação sem qualquer evidência bíblica para escapar desta questão dizendo: ―Eles

não são salvos por culpa da incredulidade deles. Eles precisam aceitar esse sacrifício para que

possam ser salvos.‖ Quero apresentar, rapidamente, três objeções para essa falácia.

Primeiro, ela apresenta que o sacrifício de Cristo não salva ninguém, mas apenas abre a

possibilidade de salvação para as pessoas. Deixe empregar uma breve analogia. Se você está

em um prédio em chamas e um bombeiro corajosamente toma você nos braços e te leva até

um lugar seguro, longe das chamas, você pode dizer que ele te salvou. Agora, se você está

neste mesmo prédio e ninguém pode entrar pra te tirar de lá, o que as pessoas vão gritar no

lado de fora será: ―Saia daí e salve a sua vida!‖ Quando você escolher sair do prédio, você

estará — evidentemente — se salvando. Ainda se considerarmos um meio termo — o de você

escolher que o bombeiro te salve —, no final das contas, sua atitude de escolher ser salvo foi

um fator que ajudou na salvação. Logo, nem o bombeiro te salvou totalmente e nem você se

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salvou totalmente, mas sim, uma ação conjunta. Dizer que nos salvamos ou que uma ação

conjunta nos salva é antibíblico e, até mesmo, blasfemo. A Bíblia deixa claro que Cristo veio

objetivamente salvar, e não apenas abrir uma porta para isso.

"E dará à luz um filho e chamarás o seu nome JESUS; porque ele salvará o seu povo

dos seus pecados." (Mt 1:21); "Porque o Filho do Homem veio buscar e salvar o per-

dido‖ (Lc 19.10) e ―Fiel é a palavra e digna de toda aceitação: que Cristo Jesus veio

ao mundo para salvar os pecadores, dos quais eu sou o principal‖ (I Tm 1:15).

Segundo, quando lemos a história de Jó, vemos que ele fazia constantemente sacrifícios em

nome de seus filhos, para que, se eles tivessem pecado, Deus os perdoasse (Jó 1:4,5). O inte-

ressante é que não existe qualquer evidência de que os filhos de Jó participassem desses sacri-

fícios. Se o sacrifício do antigo testamento é o modelo do sacrifício de Cristo — o que é verda-

de — e Cristo morreu por todos os homens, mesmo que eles não conheçam (ou aceitem) o

sacrifício de Cristo, ainda assim eles seriam perdoados. Tal declaração é, no mínimo, herética.

Terceiro, se o motivo que leva pessoas cujos pecados foram mortos em Cristo ao inferno é

sua incredulidade, então Jesus não morreu por todos os pecados dessas pessoas. Se Ele tivesse

morrido por todos os pecados desses homens, o pecado da incredulidade também teria sido

expiado e ninguém deveria ser julgado por ele. Então, voltamos para os itens 3 e 4, que já fo-

ram refutados. Logo, só nos resta o item 2. Cristo morreu por todos os peados de alguns ho-

mens, como diz a clássica confissão reformada:

―O Senhor Jesus, pela sua perfeita obediência e pelo sacrifício de si mesmo, sacrifí-

cio que, pelo Eterno Espírito, ele ofereceu a Deus uma só vez, satisfez plenamente à

justiça de seu Pai, e, para todos aqueles que o Pai lhe deu, adquiriu não só a re-

conciliação, como também uma herança perdurável no Reino dos Céus.‖ (Confis-

são de Fé de Westminster. São Paulo: Editora Cultura Cristã, 1991, VIII. V. – grifo do

autor).

Creio que tais argumentações serviram para abalar um pouco as bases daqueles que, de

coração sincero, analisaram-nas com cuidado e submissão. Mas, muitos ainda podem contra-

argumentar, usando alguns textos que — segundo eles — defendem que Cristo morreu por

todas as pessoas do mundo. Para entender isso, precisamos resgatar o contexto judaico de

alguns termos que usamos hoje.

Pouco se fala sobre o judaísmo nos dias de hoje. Ainda que estudemos sobre Israel nas uni-

versidades ou conheçamos alguém que venha de uma cultura judaica, esses assuntos são tão

relevantes quanto qualquer outro que possam nos interessar. Embora isso pareça irrelevante,

isso traz uma grave problemática em nossas interpretações bíblicas: constantemente nos es-

quecemos de considerar o contexto judaico em alguns textos bíblicos.

Por exemplo, olhe com cuidado para as parábolas de Jesus. Ele se refere aos judeus quan-

do ele fala sobre remendo novo em roupa velha e de vinho novo em odres velhos (Mt 9:16,17);

sobre os trabalhadores na vinha (Mt 20:1-16); sobre o filho pródigo (Mt 21:28-32); sobre os la-

vradores (Mt 21:33-44); sobre o banquete de casamento (Mt 22:2-14) e várias outras parábolas.

Algumas dessas parábolas, se não interpretadas neste contexto, podem dar base para ensinos

heréticos. Agora, por que isso é importante? Porque o contexto judaico precisa ser levado em

conta na interpretação de vários textos das Escrituras.

Esta informação nos dá luz para interpretar algumas passagens que, traduzidas para o por-

tuguês, dão a entender que Cristo morreu por ―todos os homens‖ ou por todo o ―mundo‖. Pre-

cisamos considerar que, no contexto daquela época, falar de ―mundo‖ ou de ―todos os ho-

mens‖ é uma freqüente referência aos gentios em contraste com os judeus. Veja, por exem-

plo, a exposição de John Owen para cinco significados de ―mundo‖ (do grego, Kosmos) nas

Escrituras:

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1. O universo material ou a terra habitável (Jó 34:13; Mt 13:38; At 17:24; Ef 1:4); 2. O

povo do mundo: Todos sem exceção (Rm 3:6), todos sem diferença (Jo 7:4), muitos

homens (Mt 18:7), a maioria dos homens (Rm 1:8), o Império Romano (Lc 2:1), ho-

mens bons (Jo 6:33), homens maus (Jo 14:17); 3. O mundo como um sistema corrup-

to (Gl 6:14); 4. A condição humana (Jo 18:36) e 5. O reino de Satanás (Jo 14:30).

E para os mais céticos, o autor continua:

Lucas 2:1 - "todo o mundo": Isso significa claramente o Império Romano. Não pode

significar todas as pessoas do mundo. | João 1:20 - "e o mundo não o conheceu":

Mas alguns homens realmente creram n‘Ele. "Mundo", portanto não pode significar

todas as pessoas. | João 8:26 - "falo ao mundo": Mas somente certos judeus O ouvi-

ram falar. "Mundo" não pode significar todas as pessoas. | João 12:19 - "todo o

mundo vai após ele [tradução literal]": Isso só pode significar que a maioria da na-

ção judaica fora após Ele. Não pode significar todas as pessoas. | I João 5:19 - "to-

do o mundo": Mas há muitos crentes verdadeiros, no mundo, que obviamente não

estão em poder do maligno. "Mundo" não pode significar todas as pessoas.

Assim como em ―mundo‖, o termo ―todos‖ não deve ser considerado de um modo literal. O

uso mais comum desta palavra nas Escrituras é ―toda espécie‖ ou ―todos os tipos‖. Em Lucas

11:42, por exemplo, a maioria dos críticos traduz como ―todo tipo de hortaliças‖ ou ―toda sorte

de hortaliças (NVI)‖, mas, no grego, está escrito ―todas as hortaliças‖. Lendo no contexto da

argumentação de Jesus, ele diz ―Mas ai de vós, fariseus, que dizimais a hortelã, e a arruda, e

toda a hortaliça...‖ (Almeida Corrigida Revisada e Fiel). Só podemos perceber que ―toda hor-

taliça‖ é uma referência a toda espécie de hortaliças.

Outro exemplo é a visão de Pedro em Atos 10:12, onde, no grego, lhe aparece ―todos os

animais‖. As Bíblias em português são rápidas em traduzir por ―toda espécie de animal‖ — o

que concordo. Logo, vemos que ―todos‖ não pode significar ―todos‖, mas sim ―todos os tipos‖.

Outro caso seria o de Atos 2:17, onde Pedro relata que a profecia de Oséias estava se

cumprindo naquele momento, onde diz que nos últimos dias, Deus derramaria do seu Espírito

sobre ―toda a carne‖ [tradução literal do grego]. Qualquer um que estude um pouco sequer

desta passagem percebe que isso não é uma promessa pra que o Espírito de Deus esteja so-

bre todos os seres humanos, mas sim determinando a inclusão dos gentios. ―Toda carne‖ —

que muitos interpretam como ―todas as pessoas‖ —, na verdade, é uma referência a ―todos os

tipos de pessoas.‖ John Owen confirma isso com três rápidos argumentos:

1. A palavra "todos" frequentemente significa ―alguns de toda espécie‖; 2. A pala-

vra "todos" pode significar ―todos de uma determinada espécie.‖ Em romanos 5:18,

"todos os homens" obviamente significa "todos os homens justificados" ou "todos os

crentes"; e 3. Quando o Velho Testamento profetiza que "todas as nações" serão

convertidas, o Novo Testamento mostra que isso significa todos os eleitos de Deus de

todas as nações.

Um ponto que está totalmente de acordo com essas afirmações é as Escrituras testemunha-

rem que Cristo morreu em resgate de muitos. Por que afirmar que Cristo morreu por muito se

ele morreu por todos? Não há sentido nisso. A única explicação racional é que Cristo realmen-

te não morreu por todos, mas por muitos, como dizem as Escrituras:

―Ele verá o fruto do trabalho da sua alma, e ficará satisfeito; com o seu conheci-

mento o meu Servo, o Justo, justificará a muitos; porque as iniquidades deles levará

sobre si‖ (Is 53:11); ―Bem como o Filho do homem não veio para ser servido, mas pa-

ra servir, e para dar a sua vida em resgate de muitos.‖ (Mt 20:28).

Do mesmo modo, a Bíblia afirma que Cristo morreu apenas pelas suas ovelhas, e não pelos

bodes — muito menos pelos lobos:

―Eu sou o bom Pastor; o bom Pastor dá a sua vida pelas ovelhas. [...] Assim como o

Pai me conhece a mim, também eu conheço o Pai, e dou a minha vida pelas ove-

lhas." (Jo 10:11-15).

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Alguns podem relutar contra estas realidades dizendo: ―Deus não teria escrito em Sua Pala-

vra coisas tão confusas e difíceis de entender.‖ Reconhecemos que esses são assuntos às ve-

zes complicados, mas não ―tem Ele escrito Sua Palavra para pessoas preguiçosas que são tão

negligentes, ou tão ocupadas com as coisas deste mundo, ou, como Marta, tão ocupadas

em ‗servir‘, que não têm tempo e nem coração para ‗examinar‘ e ‗estudar‘ as Escrituras Sa-

gradas!‖ (A. W. Pink) Assim, a partir desses poucos argumentos, quero que você reinterprete

alguns versos que aparentam pregar uma expiação universal. Em oração, busque a face de

Deus para que Ele te ajude nisto.

Existe um ponto interessante que precisa ser considerado: o quão poderosa é a Cruz do

nosso Senhor. Muitos podem estar se perguntando se crer nestas afirmações não diminuiria o

poder da Cruz de Cristo. A questão é que a crença de que Jesus morreu por todos limita o

poder da cruz de Cristo, quando crer que ele morreu pelos seus eleitos limita o alcance dessa

expiação. Enquanto um limita a quantidade, outro limita a qualidade. Como considerou o

teólogo americano Lorraine Boettner:

―Para o calvinista, a expiação é como uma ponte estreita que segue em todo o

caminho por cima do rio; para o arminiano, a expiação é como uma ponte larga

que vai somente até metade do caminho. Na realidade, o arminiano coloca mais

limitações severas na obra de Cristo do que o faz o calvinista‖ (Lorraine Boettner,

The Reformed Doctrine of Predestination; Philipsburg, New Jersey, Presbiterian and

Reformed Publish-ing Company, 1932, p. 153).

Crer em uma Expiação Limitada é, na verdade, crer em uma Expiação Eficaz, como já foi

citado antes: ―Ele verá o fruto do trabalho da sua alma, e ficará satisfeito; com o seu conhe-

cimento o meu Servo, o Justo, justificará a muitos; porque as iniquidades deles levará sobre si‖

(Is 53:11). Não poderia ser mais claro do que isto. Ele verá o fruto do trabalho de Sua alma! Por

quê? Porque ele justificará a muitos! Isso é uma cruz poderosa, uma expiação que cumpre o

seu propósito. Se a expiação fosse geral, Jesus poderia muito bem ter morrido em vão, pois

poderia ser que ninguém aceitasse o sacrifício d‘Ele. Mas uma expiação específica diz que

nenhuma gota do cálice da Ira de Deus foi bebida em vão.

Se essa inconsistente expiação geral fosse verdadeira, a Ira de Deus pelo pecado de alguns

homens teria sido derramada sobre Cristo em vão. Além de que, uma vez derramada, ela não

poderia ser derramada novamente sobre o pecador, pois Cristo já bebera deste cálice. O Cris-

to da Expiação Ilimitada é um Cristo que sofre em vão, já o Cristo da Expiação Limitada é um

Cristo que verá o fruto do Seu trabalho, e ficará satisfeito.

O poder disso na proclamação do Evangelho é tremendo. Não fomos enviados a um traba-

lho vago, Deus já consumou sua obra naquela cruz. Ele morreu por seus filhos e nós precisamos

entregar o Evangelho para o mundo, para que aqueles o quais Cristo morreu possam ser Sal-

vos pela poderosa mão d‘Ele. Não mais uma cruz genérica, mas uma Cruz poderosa! É por isso

que Paulo não se envergonhava do Evangelho, porque ele é poder de Deus para a salvação!

(cf. Rm 1:16)

É esse poder que nos dá a certeza da salvação que foi — de uma vez por todas — entre-

gue aos santos (Jd 3). Como podemos ter certeza da nossa salvação — tecla que Paulo tanto

bateu — se Cristo morreu genericamente por todos? Apenas quando eu sei que Ele morreu

por mim é que posso ter certeza de que fui justificado diante d‘Ele. Como disse Charles Spur-

geon:

―Afirmamos que Cristo morreu para assegurar a salvação de uma tão grande quan-

tidade de pessoas que ninguém é capaz de enumerar, pessoas que mediante a

morte de Cristo não somente podem ser salvas, mas são salvas, têm de ser salvas; e

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não existe a possibilidade de, por meio de qualquer casualidade, elas serem outra

coisa, exceto pessoas salvas‖

Aleluia! Louvado seja o nome do Senhor por tão grande obra em nossas vidas! Não existe

maior obra de amor do que amar incondicionalmente pecadores como nós e morrer para nos

salvar de nossos pecados. Não de um modo genérico, mas de um modo eficaz e consumado.

Essa é a Cruz de Cristo!

Com esse rápido livreto, tencionei fazê-lo pensar um pouco sobre a obra de Cristo na Cruz

do Calvário. Creio que — unicamente pela misericórdia de Deus — pude cumprir o propósito

deste escrito. Acredito que pude ser bíblico. Acredito que pude ser racional. Acredito que pu-

de ser breve. E é exatamente por isso que esta obra é insuficiente, algo bíblico e racional deve

evitar ser breve. Acredito que muitas dúvidas estão inundando sua mente e que vários pré-

conceitos foram confrontados aqui. Então, não deixe que suas dúvidas morram no conformis-

mo. Não deixe que tudo que você leu aqui vá para o ―fundo da gaveta‖ de sua memória.

Pesquise mais, leia mais, aprenda mais. Estude até dominar esse assunto. Leia sobre os outros

pontos do calvinismo: A Depravação Total, A Eleição Incondicional, A Graça irresistível e a Per-

severança dos Santos.

Que Deus possa abençoá-lo mais a cada dia.

Com amor e muito carinho, de seu irmão,

Yago.

Senhor,

Como é preocupante ser confrontado em relação ao que cremos!

Eu mesmo já sofri isto, Deus, ao longo desta curta vida.

Pai, eu oro para que tua palavra possa ser revelada para aqueles que lêem esse material.

Revela-te a eles e fornece-os meios para que Te conheçam mais e mais.

Cumpre todos os teus propósitos, Deus amado.

Grato pela Cruz, te imploro. Amém.

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Quero apresentar uma curta lista de refutações às principais más interpretações de texto

usadas para combater a doutrina apresentada neste livro. Todos os títulos citados são de ma-

teriais gratuitos, assim, uma simples pesquisa em qualquer site de busca pelo título do texto

apresentado o levará a qualquer um deles.

JOÃO 3.16 – O Significado de "KOSMOS" em João 3:16 - Arthur W. Pink

ROMANOS 5.18,19 – Romanos 5:18-19 - William Hendriksen

I TIMÓTEO 2.4 – Análise Calvinista de Versículos “Arminianos”: 1 Timóteo 2.4 - Heitor Alves

I TIMÓTEO 4.10 – 1 Timóteo 4:10 - William Hendriksen

TITO 2.11 – Tito 2:11 - Gordon Haddon Clark

HEBREUS 2.9 – Análise Calvinista de Versículos “Arminianos”: Hebreus 2.9 - Heitor Alves

II PEDRO 2.1 – 2 Pedro 2:1 nega a Expiação Eficaz? - John Piper

II PEDRO 3.9 – Sobre os supostos textos “arminianos” da Bíblia[2] – Análise de 2 Pedro 3.9

I JOÃO 2.2 – 1 João 2:2 - Arthur W. Pink

Quero, também, fornecer uma breve lista de livros e sites para um aprofundamento no as-

sunto. Não deixe de comprar um dos livros e freqüentar os sites apresentados.

LIVRO: POR QUEM CRISTO MORREU?, DE JOHN OWEN – Editora PES

LIVRO: CALVINISMO - AS ANTIGAS DOUTRINAS DA GRAÇA, DE PAULO ANGLADA – Knox Publicações

LIVRO: CALVINISMO, DE ABRAHAM KUYPER – Editora Cultura Cristã

LIVRO: ELEITOS DE DEUS, DE R. C. SPROUL – Editora Cultura Cristã

SITE: VOLTEMOSAOEVANGELHO.COM – Blog com ótimas pregações de teólogos calvinistas

SITE: MONERGISMO.COM – Site com vários materiais em defesa do calvinismo

SITE: IPRODIGO.COM – Site com ótimos textos e vídeos para a edificação do Cristão

SITE: BOMCAMINHO.COM – Site com ótimos textos e aulas

SITE: CINCOSOLAS.BLOGSPOT.COM – Blog Cristão com materiais edificantes