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1 UM CHAMADO AO CONHECIMENTO DE DEUS Por Yago Martins Esse texto foi escrito baseado em um sermão pregado na Assembléia de Deus de Vila Betâ- nia Ministério Fortaleza, em 22 de abril de 2010, em Fortaleza, capital do Ceará. Espero que Deus use esse pequeno esforço para abençoar os que tiverem acesso a ele. Deus guie a leitura de to- dos vocês. - - - ―Assim diz o SENHOR: ‗Não se glorie o sábio em sua sabedoria nem o forte em sua força nem o rico em sua riqueza, mas quem se gloriar, glorie-se nisto: em compreender-me e conhecer-me, pois eu sou o SENHOR e ajo com lealdade, com justiça e com retidão sobre a terra, pois é dessas coisas que me agrado‘, declara o SENHOR‖ (Jeremias 9: 23,24). Falta-nos tempo para tratar de tudo que está contido nesse texto, mas há algo que ele nos mostra que é central para o que vamos tratar aqui: Ainda que nós não tenhamos a capacidade de conhecer a Deus totalmente (Rm 11:33-36), em certo nível, podemos compreendê-lo e conhe- cê-lo. É exatamente sobre isso que eu gostaria de tratar: sobre o conhecimento de Deus. Mais do que tratar, eu quero convocá-los a esse conhecimento. Eu louvo a Deus por me conceder a benção de conhecer muitos irmãos de vários lugares di- ferentes, e é por conviver rotineiramente com eles que posso vivenciar dia após dia os erros e a- certos da cristandade em geral. Assim, pude perceber algo que me entristece profundamente quando me reúno em alguns cultos públicos: A maioria daqueles que se declaram seguidores de Cristo, na verdade, são seguidores de outros deuses. Sei que isso soa muito duro e pesado, não quero deixar a impressão que sou apenas um acusador indiferente. Saibam que eu também luto contra a falta de conhecimento de Deus. Eu também luto para não adorar falsos deuses. Embora eu esteja em pé falando, considerem que eu também estou assentado com vocês, sendo exorta- do por essa Palavra. Não é sem tristeza que eu declaro o que acabei de dizer: a esmagadora maioria daqueles que professam fé em Cristo, na verdade, acreditam em deuses que não existem. Essas pessoas, por não conhecerem realmente a Deus, criam em suas mentes uma imagem de Deus que não é a aparência real do caráter d‘Ele. E são essas imagens que as pessoas seguem. São essas imagens que as pessoas adoram. São essas imagens que as pessoas amam. Cristo não é o alvo real delas, pois elas não conhecem realmente o Cristo das Escrituras. Deixe-me aplicar uma breve analogia. Psicólogos dizem algo que é mais ou menos assim: Quando você está apaixonado por alguém, você, na verdade, não está apaixonado por essa pessoa. Você está apaixonado por aquilo que você acredita que ela é. Se, com o tempo, suas idéias sobre tal individuo forem mudadas pela realidade e você ainda tiver sentimentos românti- cos por ela, suas emoções saíram da paixonite e já se tornaram amor. Se, ao conhecer realmente aquela pessoa seus sentimentos acabarem, então você nunca amou aquela pessoa realmente. Essa ideia fala sobre relacionamentos humanos, mas é exatamente o que acontece com a maioria dos cristãos. Muitas pessoas que dizem amar a Deus, na verdade, amam uma projeção de um deus que criaram em suas mentes. "... Pensaram que eu era igual a vocês. Porém agora vou repreendê-los; vou mostrar-lhes os seus erros" (Sl 50:21). Como explica Paul Washer: Você diz: "Mas eu amo a Deus desde que eu era pequeno." Não, você amou uma ima- gem de Deus que você criou com sua própria mente e você amou aquilo que criou, mas se alguém viesse a você e lhe apontasse o Deus da Palavra, você diria: "Eu nunca pode- ria amar um Deus como esse." Por tantas vezes eu vou às pessoas e elas me dizem: "Eu te- nho amado a Deus toda a minha vida." E eu digo: "Posso me sentar com você por meia hora e só explicar pela Palavra algumas crenças históricas e cristãs sobre Deus?". Depois de meia hora, um bom membro de igreja diria: "Este não é o meu Deus." e eu tenho que dizer: "Claro que não é, mas é o Deus das Escrituras.‖ 1 1 Vídeo: WASHER, Paul David. Todos os Homens nascem maus. <voltemosaoevangelho.com>

Yago Martins - Um Chamado Ao Conhecimento de Deus

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UM CHAMADO AO CONHECIMENTO DE DEUS

Por Yago Martins

Esse texto foi escrito baseado em um sermão pregado na Assembléia de Deus de Vila Betâ-

nia – Ministério Fortaleza, em 22 de abril de 2010, em Fortaleza, capital do Ceará. Espero que Deus

use esse pequeno esforço para abençoar os que tiverem acesso a ele. Deus guie a leitura de to-

dos vocês.

- - -

―Assim diz o SENHOR: ‗Não se glorie o sábio em sua sabedoria nem o forte em sua força nem

o rico em sua riqueza, mas quem se gloriar, glorie-se nisto: em compreender-me e conhecer-me,

pois eu sou o SENHOR e ajo com lealdade, com justiça e com retidão sobre a terra, pois é dessas

coisas que me agrado‘, declara o SENHOR‖ (Jeremias 9: 23,24).

Falta-nos tempo para tratar de tudo que está contido nesse texto, mas há algo que ele nos

mostra que é central para o que vamos tratar aqui: Ainda que nós não tenhamos a capacidade

de conhecer a Deus totalmente (Rm 11:33-36), em certo nível, podemos compreendê-lo e conhe-

cê-lo. É exatamente sobre isso que eu gostaria de tratar: sobre o conhecimento de Deus. Mais do

que tratar, eu quero convocá-los a esse conhecimento.

Eu louvo a Deus por me conceder a benção de conhecer muitos irmãos de vários lugares di-

ferentes, e é por conviver rotineiramente com eles que posso vivenciar dia após dia os erros e a-

certos da cristandade em geral. Assim, pude perceber algo que me entristece profundamente

quando me reúno em alguns cultos públicos: A maioria daqueles que se declaram seguidores de

Cristo, na verdade, são seguidores de outros deuses. Sei que isso soa muito duro e pesado, não

quero deixar a impressão que sou apenas um acusador indiferente. Saibam que eu também luto

contra a falta de conhecimento de Deus. Eu também luto para não adorar falsos deuses. Embora

eu esteja em pé falando, considerem que eu também estou assentado com vocês, sendo exorta-

do por essa Palavra.

Não é sem tristeza que eu declaro o que acabei de dizer: a esmagadora maioria daqueles

que professam fé em Cristo, na verdade, acreditam em deuses que não existem. Essas pessoas,

por não conhecerem realmente a Deus, criam em suas mentes uma imagem de Deus que não é

a aparência real do caráter d‘Ele. E são essas imagens que as pessoas seguem. São essas imagens

que as pessoas adoram. São essas imagens que as pessoas amam. Cristo não é o alvo real delas,

pois elas não conhecem realmente o Cristo das Escrituras.

Deixe-me aplicar uma breve analogia. Psicólogos dizem algo que é mais ou menos assim:

Quando você está apaixonado por alguém, você, na verdade, não está apaixonado por essa

pessoa. Você está apaixonado por aquilo que você acredita que ela é. Se, com o tempo, suas

idéias sobre tal individuo forem mudadas pela realidade e você ainda tiver sentimentos românti-

cos por ela, suas emoções saíram da paixonite e já se tornaram amor. Se, ao conhecer realmente

aquela pessoa seus sentimentos acabarem, então você nunca amou aquela pessoa realmente.

Essa ideia fala sobre relacionamentos humanos, mas é exatamente o que acontece com a

maioria dos cristãos. Muitas pessoas que dizem amar a Deus, na verdade, amam uma projeção

de um deus que criaram em suas mentes. "... Pensaram que eu era igual a vocês. Porém agora

vou repreendê-los; vou mostrar-lhes os seus erros" (Sl 50:21). Como explica Paul Washer:

Você diz: "Mas eu amo a Deus desde que eu era pequeno." Não, você amou uma ima-

gem de Deus que você criou com sua própria mente e você amou aquilo que criou, mas

se alguém viesse a você e lhe apontasse o Deus da Palavra, você diria: "Eu nunca pode-

ria amar um Deus como esse." Por tantas vezes eu vou às pessoas e elas me dizem: "Eu te-

nho amado a Deus toda a minha vida." E eu digo: "Posso me sentar com você por meia

hora e só explicar pela Palavra algumas crenças históricas e cristãs sobre Deus?". Depois

de meia hora, um bom membro de igreja diria: "Este não é o meu Deus." e eu tenho que

dizer: "Claro que não é, mas é o Deus das Escrituras.‖ 1

1 Vídeo: WASHER, Paul David. Todos os Homens nascem maus. <voltemosaoevangelho.com>

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"Domingo de manhã [horário da maioria dos cultos evangélicos] é a hora de maior ido-

latria em toda a semana da América, porque as pessoas não estão adorando o único

Deus verdadeiro — a grande maioria pelo menos — mas adoram a um deus formado a

partir dos seus próprios corações por sua própria carne, artifícios satânicos e inteligência

mundana." 2

Você consegue perceber como isso é forte? Você consegue ver como isso influi na nossa vi-

vência cristã? Tentarei expor agora o que eu considero como os principais motivos para que bus-

quemos conhecer ao nosso Grande Deus.

O CONHECIMENTO DE DEUS E O SOFRIMENTO CRISTÃO

Ou nós conhecemos ao Senhor ou toda nossa dita ―vida cristã‖ foi — e ainda é — inútil. Por

exemplo, pare um pouco para pensar na história de Gandhi. Ele era um homem que vivia uma

constante abnegação. Não comia carne e se alimentava apenas o suficiente para se manter vi-

vo. Jejuava constantemente. Renunciou ao sexo aos 36 anos de idade enquanto ainda era casa-

do. Passava um dia na semana em profundo silêncio. Não usava as confortáveis roupas industriali-

zadas que usamos — representadoras de riquezas e sucesso — mas se vestia com vestes feitas em

casa. Para ameaçar o governo britânico, chegou a fabricar artesanalmente os tecidos de suas

próprias roupas. Ele, junto de uma equipe de professores, dava aulas gratuitas para as crianças de

seu país. Eu precisaria de um livro inteiro para mostrar as obras daquele homem. Em um espaço

de onze anos, ele foi indicado cinco vezes ao premio Nobel da Paz. Até Albert Einstein declarou

sobre ele que as gerações por vir teriam dificuldade em acreditar que um homem como este re-

almente existiu e caminhou sobre a Terra.

Por causa da vida que Gandhi levou, existe hoje muita polêmica sobre a salvação dele.

Não sei por que tanta polêmica, pois a Bíblia é clara em dizer: ―...aquele que não crê no Filho não

verá a vida, mas a ira de Deus sobre ele permanece.‖ (Jo 3:36). Rapidamente, muitos podem le-

vantar-se e questionar minha dura declaração, alegando que ele levou uma vida de abnegação

louvável. Mas eu digo que não. Digo que todo o sacrifício dele foi inútil, pois não foi direcionado

para o Deus Jeová.

Muitos de vocês podem ter ficado preocupados com a alma dele agora, mas eu acredito

que vocês deviam se preocupar com as almas de vocês. Muitos de vocês têm levado uma vida

de sacrifício e abnegação acima da imaginação humana. Muitos de vocês têm tido atitudes pi-

edosas incríveis, e tudo isso fora dos olhos e dos aplausos das pessoas ao redor. Mas saiba, se suas

atitudes não são baseadas num conhecimento do Deus Verdadeiro, a única diferença entre você

e Gandhi é que ele sacrificou mais.

Veja os homens-bomba que morrem em nome de deuses falsos. O sacrifício deles é comple-

tamente vão, pois não foi motivado por um amor que tinha como base o conhecimento do Único

Deus. Muitos sabem que se lançar no fogo em sacrifício ou doar tudo que tenho aos pobres é em

vão se não for feito por amor (1 Co 13:3), mas poucos lembram que se esse amor não for baseado

em um conhecimento de Deus, ele também é vão, pois é feito para outro deus.

Eu olho para o início de minha vida cristã e eu percebo quantas lágrimas eu desperdicei

quando eu chorava por avivamentos e pedia a Deus que operasse milagres sobrenaturais mais

frequentemente no meio dos crentes. Hoje eu percebo que não havia anjo nenhum colhendo mi-

nhas lágrimas. Hoje eu sei que chorei em vão. Isso porque eu não estava chorando ao Senhor Je-

ová, eu estava chorando a um deus impotente que eu tinha criado com meu coração. Eu orava

a um deus que não tinha poder suficiente para operar milagres. Esse deus não existe, e era para

ele que minhas lágrimas caíam. Eu não era como Neemias orando pelos muros caídos de Jerusa-

lém (Ne 1), mas sim como um profeta de baal, clamando a um Deus que não existe que mandas-

se fogo do céu (1 Rs 18). Imagino quantas noites inteiras de pranto vocês têm desperdiçado ao

longo de suas vidas.

Se todo o seu sacrifício não ocorre baseado em uma profunda busca pelo conhecimento

de Deus, ele foi em vão. Isso porque você não tem sacrificado para Ele, mas sim para o deus que

2 Vídeo: WASHER, Paul David. 10 Acusações contra a Igreja Moderna. <voltemosaoevange-

lho.com>

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você criou. É triste como é ignorada a advertência que Deus brada pelos lábios de Oséias, no sex-

to capítulo de seu livro: "Porque eu quero [...] o conhecimento de Deus, mais do que os holocaus-

tos" (verso 6). Temos dado tanta importância para os nossos sacrifícios que nos esquecemos de ter

em mente o ―para Quem sacrificar‖. A atenção se concentra mais em ―para quê sacrificar‖.

Quando ignoramos o conhecimento de Deus, estamos sacrificando apenas por sacrificar. Acho

que isso é um bom motivo para pararmos e buscarmos incessantemente o conhecimento de

Deus.

O CONHECIMENTO DE DEUS E A ADORAÇÃO CRISTÃ

Tudo isso nos leva a pensar também na adoração Cristã. Você precisa conhecer a Deus pa-

ra escapar de estar adorando um deus que só existe em sua mente. Porque quem assim faz, ado-

ra falsos deuses e receberá a punição de Deus: ―Não sigam outros deuses... pois o Senhor, o seu

Deus... é Deus zeloso; a ira do Senhor, o seu Deus, se acenderá contra vocês, e ele os banirá da

face da terra.― (Dt 6:14,15).

Muitos jovens cristãos, quando são assolados por doutrinações ateístas em suas escolas, a-

cabam passando por um momento de questionamento onde nasce uma dúvida sobre a existên-

cia de Deus nos seus corações. Um amigo me ligou uma vez e disse: ―Yago, eu não me sinto mais

seguro para orar, pois quando eu estou orando e adorando por muito tempo, sempre me vem um

pensamento de que estou falando com as paredes do meu quarto e que ninguém está me ou-

vindo.‖

Sobre este jovem, eu louvo a Deus, pois hoje a fé dele foi tratada por Deus. Mas a dúvida

dele é minha certeza em relação a vários crentes da igreja moderna: ―Vocês estão falando com

as paredes!‖. Esse Deus que vocês adoram só existe na mente de vocês. Quando vamos a grupos

de evangelismo e submetemos os crentes àquelas conhecidas dinâmicas, muitas vezes pergun-

tamos: ―Quem é Deus para você?‖. Sabe o que grande maioria responde? ―Ele é Tudo‖. Não há

concepção mais vaga que poderíamos atribuir ao Senhor. As pessoas sabem definir melhor seus

colegas de trabalho do que seu Deus. Não creio que um cristão maduro possa realmente viver

assim. Isso pode soar muito duro, mas vocês precisam saber que estão morrendo para poderem

ser medicados. Louvado seja Deus, pois o único remédio que pode curar a falta de conhecimento

de Deus está ao nosso alcance: A Palavra do Senhor.

―A lei do SENHOR é perfeita, e refrigera a alma; o testemunho do SENHOR é fiel, e dá sabe-

doria aos símplices. Os preceitos do SENHOR são retos e alegram o coração; o mandamento do

SENHOR é puro, e ilumina os olhos. O temor do SENHOR é limpo, e permanece eternamente; os

juízos do SENHOR são verdadeiros e justos juntamente. Mais desejáveis são do que o ouro, sim, do

que muito ouro fino; e mais doces do que o mel e o licor dos favos.‖ (Salmo 19: 7-10).

Você consegue ver nisto mais do que poesia? Olhe para o final do texto: ―Mais desejáveis

são do que o ouro, sim, do que muito ouro fino.‖ Isso não é algo para ser negligenciado! O co-

nhecimento de Deus é mais precioso do que todo o dinheiro deste mundo. Eu afirmo categorica-

mente: Se um cristão maduro tiver a chance de escolher entre (1) todo o dinheiro, poder, prazer e

conquista que esse mundo pode oferecer dentro dos limites de uma vida sem pecado contra

Deus (2) e um profundo conhecimento de Deus, ele escolherá a segunda opção e, em seguida,

dará gritos de alegria. Você pode dizer: ―Isso é um absurdo‖, mas eu digo: ―Não, isso é o Cristia-

nismo‖.

Irmãos, perguntem a si mesmos: Quando vocês estão no culto público, o que é que os moti-

va a adorar? Você O adora porque é tomado pelos pensamentos sobre Deus e Sua soberania ou

simplesmente é levado pela música que entra nos seus ouvidos, a qual te emociona e te faz a-

char que está sendo impactando pelo Espírito de Deus?

Medite nas palavras de I Crônicas 16:29, onde diz: ―[...] Adorai ao SENHOR na beleza da sua

santidade.‖ Perceba que esse texto nos manda adorar a Deus por conta de um dos seus atributos:

A Santidade. Veja, não é uma adoração vaga. Não é uma adoração vazia. Não é uma adora-

ção baseada unicamente em emoções. E uma adoração baseada no que eu conheço de Deus.

É exatamente isso que deve acontecer. Deus deve ser adorado não por conta de uma voz que

nos leva a cantar ou por notas dissonantes que nos comovem, mas por causa dos atributos do

nosso Criador e da Sua magnífica obra.

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Se estudarmos a palavra ―louvor‖, nos surpreenderemos ao perceber que ela é um sinônimo

da palavra ―elogio‖ 3. Você não elogia ou louva uma pessoa porque está sentindo algum tipo de

êxtase místico, mas por causa dos elogiáveis atributos dela. Como diz o Shai Linne: ―Seus elogios

[que Deus recebe] são consequência de suas conquistas.‖ 4 Percebemos isso se meditarmos no

livro de Salmos. Veja quão ricos são tais louvores. Se você analisar com atenção, os atributos de

Deus são vívidos naqueles hinos. Além disto, as ordenanças para adorar ao Senhor neste livro se

baseiam constantemente em suas obras e atributos. Deixe-me ler alguns versos:

―Louvai ao SENHOR, porque ele é bom; porque a sua benignidade dura para sempre.‖

(136:1); ―Adorai o SENHOR na beleza da santidade.‖ (29:2) ―Louvai ao SENHOR, porque o SENHOR

é bom...‖ (135:3); ―Louvarei o teu nome pela tua benignidade, e pela tua verdade; pois engran-

deceste a tua palavra acima de todo o teu nome. [...] Todos os reis da terra te louvarão [...] E can-

tarão os caminhos do SENHOR; pois grande é a glória do SENHOR.‖ (138:2,4,5); ―Eu te louvarei,

porque de um modo assombroso, e tão maravilhoso fui feito; maravilhosas são as tuas obras, e a

minha alma o sabe muito bem.‖ (139:14).

Eu acredito que essa série de versículos refuta uma conhecida afirmação dos ditos ―minis-

tros‖ de louvor. Já cansei de ouvi-los afirmar: ―Nós precisamos levar as pessoas a adorar‖. Eu digo

que isso é uma tolice. Vocês, ―ministros‖ de louvor, precisam levar as pessoas ao conhecimento de

Deus e é esse conhecimento que vai levar as pessoas a adorar. Não é uma melodia bonita ou

uma dita ―ministração‖ empolgante que vai trazer adoração a Deus, mas sim o conhecimento

d‘Ele transmitido pela música. É isto que vai fazer com que a música cristã deixe de ser um show

carnal e passe a ser baseado em Colossenses 3:16, onde a Palavra de Deus habita ricamente nos

crentes enquanto eles cantam os hinos. Como escreveu Agostinho sobre o que ele sentiu enquan-

to ouvia os hinos de Ambrósio: "As vozes fluíam até meus ouvidos e a verdade vertia em meu co-

ração...‖ 5.

Perdoem-me se serei enfadonho, mas deixem-me falar mais um pouco sobre isso. Sabem

qual a principal ferramenta de satanás para encher os cristãos de má teologia? A chamada ―mú-

sica gospel‖. Se existe algo que satanás sempre lutará para continuar tendo domínio, isso é a mú-

sica (chamada de) cristã. Basta conversar com aqueles que se professam evangélicos e você ve-

rá que a principal fonte de conhecimento atual é a música, e não as Escrituras.

As músicas de hoje são tão vazias de teologia que até me assusto quando as chamam de

―louvores‖. Hoje, cantamos verdadeiras atrocidades! Músicas carregadas de humanismo, auto-

ajuda, triunfalismo e tantas idiotices mais que nem me agüentaria sóbrio ao citar tudo. O engra-

çado é que essas músicas sempre se tornam grandes sucessos. Eu poderia citar várias dessas mu-

sicas, mas existe uma que, em minha opinião, é a campeã na exaltação do homem:

―Acredite é hora de vencer/essa força vem de dentro de você/Você pode até tocar o

céu se crer/Acredite que nenhum de nós/já nasceu com jeito pra super herói/nossos so-

nhos a gente é quem constrói/é vencendo os limites escalando as fortale-

za/conquistando o impossível pela fé. Campeão! vencedor! Deus dá asas, faz teu vô-

o/Campeão! Vencedor! Essa fé que te faz imbatível/te mostra o teu valor...‖ 6

Não quero perder tempo mostrando porque essa música deveria entrar em um tipo de ín-

dex librorum prohibitorum 7 ou porque creio que essa letra é como a voz do próprio satanás no

ouvido de Eva, mas quero enfatizar o papel da música numa reunião Cristã. Vamos olhar com

mais cuidado para Colossenses 3:16: ―A palavra de Cristo habite em vós abundantemente, em

toda a sabedoria, ensinando-vos e admoestando-vos uns aos outros, com salmos, hinos e cânticos

espirituais, cantando ao Senhor com graça em vosso coração‖.

O texto diz que devemos ensinar uns aos outros através de salmos, hinos e cânticos. Logo,

vemos que a música, além de louvar a Deus, serve para edificar aqueles que ouvem a letra. E

quando isso acontece? Quando a palavra de Cristo habita em nós de um modo abundante. Se

3 Dicionário Priberam da Língua Portuguesa. 4 Trecho do RAP ―Spread His Fame (Espalhamos Sua Fama)‖, um perfeito exemplo de como a música

deve ser carregada de conteúdo teológico. 5 AGOSTINHO, Aurelio. Confissões. Livraria Apostolado da Imprensa. Lisboa, 1984. Itálico adicionado. 6 O titulo da música é ―Campeção, Vencedor‖, da cantora Jamily. 7 Em português, ―Lista dos Livros Proibidos‖. Esta lista continha as obras que se opusessem a doutrina

da Igreja Católica e deste modo tinha o objetivo de prevenir a corrupção dos fiéis.

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uma teologia bíblica for abundante em nosso meio, a música será um instrumento de edificação;

se não, será uma difusora de heresias. Querem saber por que a música, hoje, é tão pouco bíblica?

É exatamente porque a Palavra de Deus não é abundante na mente dos cristãos.

Precisamos perceber que os cânticos, salmos e hinos possuem um papel didático, como

ocorria com os Salmos no povo de Israel. Comentaristas explicam que eles cantavam constante-

mente a Palavra sobre Deus, pois temiam que lhes sobreviesse o que Deus disse: ―Se vocês se es-

quecerem de mim, os ferirei‖ (cf. Dt 6:12-16). É por isso, talvez, que Paulo nos alerta que nos man-

tenhamos cheios do Espírito ―falando entre vós em salmos, e hinos, e cânticos espirituais; cantando

e salmodiando ao Senhor no vosso coração‖ (Ef 5:19). Logo, esse é meu apelo aos músicos da I-

greja de Deus: Cantem a Bíblia!

Resumidamente, o que quero dizer é que todas as vezes que cantamos algo em adoração

a Deus, devemos ter em mente os atributos de Deus. Quando não fazemos isso, corremos o risco

de adorar algo que não seja Deus, mas algo que achamos que Deus é. E, quando isso acontece,

nos tornamos idólatras, pois adoramos um deus que só existe na nossa mente. Por isso, arrepen-

dam-se de gastar tempo com futilidades no lugar de dedicar-se com o conhecimento do Senhor.

―A sabedoria é a coisa principal; adquire, pois, a sabedoria; sim, com tudo o que possuis,

adquire o conhecimento‖ (Pv 4:7). Venham, ó homens de Deus, venham e adquiram o conhec i-

mento do Senhor! Por favor, é com lágrimas nos olhos que vos chamo! Venham e deleitem-se no

conhecimento do Soberano! A sabedoria é algo principal! Adquire a sabedoria! Com tudo o que

você possui, adquira o conhecimento de Deus! Acredite em mim, não há nada melhor do que se

deleitar n‘Ele a partir de um profundo conhecimento d‘Ele. Venham, irmãos! Venham!

O CONHECIMENTO DE DEUS E O TEMOR CRISTÃO

Além da adoração, o nosso temor a Deus é totalmente definido pelo nosso conhecimento

d‘Ele. Apenas quando eu conheço quem Deus é, eu posso realmente servir a Ele com ―temor e

tremor‖ (Fp 2:12). Medite em Êxodo 15, verso 11: ―Ó SENHOR, quem é como tu entre os deuses?

Quem é como tu glorificado em santidade, admirável em louvores, realizando maravilhas?‖ Não

há como não tremer diante de tal declaração! O salmo 114 ordena: ―estremeça na presença do

Soberano, ó terra...‖ (verso 7). E como a terra tremerá? Contemplando os feitos d‘Ele e contem-

plando quem Ele é!

Como diz Paul Washer: "Não há temor em nosso meio, pois não há conhecimento de Deus

em nosso meio‖ 8. Pais, vocês querem saber por que não há temor do Senhor em suas casas? Por-

que não há conhecimento de Deus nelas. Pastores, vocês querem saber por que não há temor do

Senhor nas congregações que vocês servem? Porque não há conhecimento de Deus nelas. Cren-

tes, vocês querem saber por que não há temor do Senhor em suas vidas? Porque o conhecimento

de Deus não é abundante em suas mentes e em seus corações. Irmãos, sabem por que há tão

pouco temor de Deus na minha vida? Porque eu, muitas vezes, negligencio o conhecimento de

Deus.

Um forte fator humano para dar força ao amor é a admiração. Medite nesta boa notícia:

Deus é totalmente admirável! Deus não é como o tolo de provérbios (17:28) que precisa se calar e

esconder sua tolice para ser reputado por sábio. Quanto mais Deus fala e se revela a nós, mais

nós O reputamos por dono de toda a sabedoria e o admiramos. Quanto mais estudamos sobre

Ele, mais nossa carne se prostra diante da grandeza do Soberano. Precisamos conhecê-lO para

temê-lO. Como diz Arthur W. Pink: ―Não nos é possível servir nem adorar um Deus desconhecido,

nem depositar n‘Ele a nossa confiança‖ 9.

Acho que as palavras de Charles Spurgeon não precisam de nenhum comentário posterior:

"Nada é melhor para o desenvolvimento da mente que contemplar a divindade. Trata-

se de um assunto tão vasto, que todos os nossos pensamentos se perdem em sua imensi-

dão; tão profundo que nosso orgulho desaparece em sua infinitude. Podemos compre-

8 Vídeo: WASHER, Paul David. 10 Acusações contra a Igreja Moderna. <voltemosaoevange-

lho.com> 9 PINK, A. W.. Os Atributos de Deus. PES - Publicações Evangélicas Selecionadas. 1985.

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ender e aprender muitos outros temas, derivando deles certa satisfação pessoal e pen-

sando enquanto seguimos nosso caminho: "Olhe, sou sábio". Mas quando chegamos a

esta ciência superior e descobrimos que nosso fio de prumo não consegue sondar sua

profundidade e nossos olhos de águia não podem ver sua altura, nos afastamos pensan-

do que o homem vaidoso pode ser sábio, mas não passa de um potro selvagem, excla-

mando então solenemente: "Nasci ontem e nada sei". Nenhum tema contemplativo ten-

de a humilhar mais a mente que os pensamentos sobre Deus..." 10.

O CONHECIMENTO DE DEUS E A PREGAÇÃO CRISTÃ

Que tal falar um pouco da pregação cristã? E, Oh, Deus, como nós a temos negligenciado!

Lembro-me de um grande e piedoso amigo que, embora seja um dos jovens mais conhecedores

de Deus que já tive o prazer de conhecer, costumava dizer, sempre quando entrávamos em dis-

cordâncias teológicas, algo que reprovo: ―Teologia, teologia, teologia... e tantas almas se per-

dendo por aí‖.

Eu discordo disto porque não precisamos de mais pregadores de Baal. Não precisamos de

mais missionários que levem outros deuses. Quer saber por que a Igreja brasileira não vive ainda

uma forte perseguição? Quer saber por que não temos os corpos dos crentes estendidos mortos

nas ruas? É unicamente porque nós temos pregado um deus que se ajusta a cada ouvinte. Um

deus sem personalidade e pobre em atributos. Um deus qualquer, que cada ouvinte o imagina

como bem preferir. Esse é um deus que não incomoda, é um deus calado, é um deus que aco-

moda o coração. Quem não quer esse deus?

Quando pregamos um Deus assim, deixamos de pregar o Cristianismo para pregar uma no-

va espécie de Agnosticismo. O Agnosticismo prega que existe um Deus (que nós não conhece-

mos e nem temos certeza se existe de verdade). Logo, devemos ser bons (sobre padrões morais

que não conhecemos) para escaparmos de um julgamento (que não sabemos se haverá) a fim

de ir para um paraíso (que não sabemos se existe, e se existe, não sabemos como é). É quase ins-

tantâneo consideramos tal idéia absurda, mas é assim que a maioria dos que se dizem cristãos

tem vivido seu ―cristianismo‖ e é esse mesmo conteúdo ―teológico‖ que tem composto as prega-

ções modernas.

Se a pregação deve levar a Salvação para as pessoas, porque não seguir a oração de Je-

sus? ―Esta é a vida eterna: que te conheçam, o único Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo, a quem

enviaste.‖ (Jo 17:3). A vida eterna não começa quando você passa através dos portais da glória,

a vida eterna começa com a conversão; e a conversão começa com o conhecimento de Deus.

É por isso que temos que apresentar o único Deus verdadeiro para as pessoas. Precisamos desgas-

tar-nos para apresentar o Jesus das Escrituras. Só poderemos fazer isso quando conhecermos bibli-

camente quem Deus é.

A pregação cristã é e sempre foi semelhante a Paulo pregando no Areópago (Atos 17). Hoje

há uma grande diferença: Não é só o mundo que adora um deus desconhecido, a maioria dos

cristãos está no mesmo barco. A maioria dos ditos ―cristãos‖ é como os saduceus que foram re-

preendidos por Jesus com duras palavras: ―Errais, não conhecendo as Escrituras, nem o poder de

Deus.‖ (Mt 22:29).

Veja o que diz James I. Paker:

―É comum dizer-se hoje em dia que a teologia está mais forte que nunca, e em termos

de especificação acadêmica, ou na qualidade e quantidade de livros publicados, isto

talvez seja verdade. No entanto, faz muito tempo que a teologia não se apresenta tão

fraca e inábil na tarefa básica de manter a Igreja dentro das realidades do Evangelho.‖ 11

Essas palavras me fazem tremer. Nós, como ocidentais, podemos conseguir em 5 dias um

conteúdo teológico bíblico muito mais vasto do que nossos irmãos do passado conseguiam em 5

anos. O amedrontador é que, mesmo com tudo isso à nossa disposição, nós ainda somos teologi-

camente analfabetos. É nisso que a pregação bíblica tem um papel único: pregar verdades anti-

10 Citado em: PACKER, James I.. O Conhecimento. Editora Mundo Cristão. 2ª Ed. 11 PACKER, James I.. O Conhecimento. Editora Mundo Cristão. 2ª Ed.

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gas aos homens que não querem buscá-las. Ninguém vai, por si só, buscar um banquete que não

sabe que existe. Mas, a partir do momento em que levarmos pratos desse banquete aos homens

alienados, eles perceberão que estão perdendo a melhor ceia existente na terra. O pregador de-

ve lutar incessantemente, não para trazer novas interpretações de versos das Escrituras, mas para

servir o velho caminho bíblico da saudável teologia Cristã: "Ponham-se na encruzilhada e olhem;

perguntem pelos caminhos antigos, perguntem pelo bom caminho. Sigam-no e acharão descan-

so" (Jr 6:16).

Ireneu de Lyon, um pai da Igreja 12 que viveu entre 130 e 202 d.C., enquanto refutava a he-

resia gnóstica, apresentou uma bela analogia:

―É como se a um autêntico retrato do rei, realizado cuidadosamente em rico mosaico

por hábil artista, alguém desmanchasse a figura de homem e fizesse com as pedras des-

locadas e mal dispostas a figura de cão ou de raposa e depois dissesse e confirmasse

que aquela era a autêntica imagem do rei feita pelo hábil artista. Mostrando aquelas

mesmas pedras que, bem dispostas pelo primeiro artista apresentavam a imagem do rei

e mal dispostas pelo segundo artista transformavam-na em figura de cão, pelo brilho das

pedras enganam os simples que não conhecem o aspecto do rei e os convencem que a

ridícula imagem da raposa é o autêntico retrato do rei.‖ 13

Quando leio isto, tenho a impressão de que esse texto foi escrito na atualidade sobre o púl-

pito cristão comum. Muitos têm usado versos bíblicos para tentar mostrar o Deus a quem servem,

mas, na verdade, estão pregando sobre cães e raposas. Esses péssimos artistas têm usado cons-

tantemente versos das Escrituras, enganando os simples que não conhecem o Rei. É exatamente

por isso que você precisa conhecer a Deus: para escapar de estar pregando um deus que só exis-

te na sua mente. Porque quem assim faz, prega falsos deuses e receberá a punição de Deus: ―No

passado surgiram falsos profetas no meio do povo, como também surgirão entre vós falsos mes-

tres. Estes introduzirão secretamente heresias destruidoras, chegando a negar o Soberano que os

resgatou, trazendo sobre si repentina destruição.‖ (II Pe 2:1).

Veja o caso de Jó: "Sucedeu que, acabando o SENHOR de falar a Jó aquelas palavras, o

SENHOR disse a Elifaz, o temanita: A minha ira se acendeu contra ti, e contra os teus dois amigos,

porque não falastes de mim o que era reto, como o meu servo Jó" (Jó 42:7).

O próprio Deus repreende os amigos de Jó por falar sobre Ele coisas que não eram verdade.

Deus ficou irado contra eles assim como está irado contra aqueles que falam o que não é reto

sobre Ele hoje. Pense nisso, sempre que você se levanta para supostamente pregar Cristo e acaba

pregando o que não é correto sobre Deus, Deus está irado contra você. Acho que devemos ser

realmente prudentes quando pregamos a Palavra do Senhor, como disse Lutero: ―Aquilo que a

Bíblia não ensina com clareza, não devemos pregar com certeza‖. Da mesma forma, Paulo diz ―E

eu, irmãos, apliquei estas coisas... para que em nós aprendais a não ir além do que está escrito...‖

(1 Co 4:6).

Quer saber de onde vêm todos os usos e costumes legalistas de nossa denominação? Não,

não vêm de nossa tradição. Não vêm do nosso zelo pela moral. Não vêm de nosso pudor. Todas

essas regras de homens vêm de uma incrível falta de conhecimento de Deus. Como diz o Senhor

Jesus: ―E assim invalidastes, pela vossa tradição, o mandamento de Deus.‖ (Mt 15:6). De certo

modo, o mundo não leva a Igreja a sério porque a Igreja não é séria. Não mais nos atemos a as-

suntos sérios em relação à Fé cristã, como o Problema do Mal, a Soberania de Deus, a Deprava-

ção Humana, os Atributos Divinos. Nós - hoje - nos limitamos a discutir sobre se as mulheres podem

ou não usar calças, se devemos batizar por imersão ou aspersão, ou sobre misticismos conspira-

cionais tolos. O que realmente importa é ignorado enquanto o secundário é supervalorizado. Pre-

cisamos parar de entrar nesses assuntos irrisórios para nos dedicarmos ao que realmente importa:

"Quem e como Deus É?". Oro ao Senhor que Ele possa revelar isso para nós através da Palavra

d‘Ele.

12 ―Pai (ou padres) da Igreja‖ é um termo usado em referencia aos influentes teólogos, profes-

sores, mestres cristãos e bispos do inicio do Cristianismo (aproximadamente entre o século II e VII). Seus traba-

lhos acadêmicos foram utilizados como precedentes doutrinários para séculos vindouros. 13 LYON, Ireneu de. Contra as Heresias. Paulus. 1ª Ed.

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O CONHECIMENTO DE DEUS E A MOTIVAÇÃO CRISTÃ

Outro tópico importante a ser levantado é sobre a relação entre o conhecimento de Deus e

a motivação cristã. Daniel revela que ―... o povo que conhece ao Seu Deus se esforçará e fará

proezas‖ (Dn 11:32). Eu acredito que é nisto que está toda a força para a luta cristã. Quando co-

nhecemos nosso Deus, temos força para fazer verdadeiras proezas. Você quer ter força para lutar

contra o pecado? Conheça o Seu Deus. Você quer ter força para resistir ao mal que te sobre-

vém? Conheça o Seu Deus. O conhecimento d‘Ele é o que nos dá a paixão necessária para lutar

o bom combate. Sabe por que essas pregações triunfalistas e motivacionais são tão populares? E

sabe por que elas têm um efeito de tão curta duração? É porque a maioria dos crentes não pos-

sui uma motivação baseada no conhecimento de Deus. É apenas através do conhecimento d‘Ele

que teremos força para viver a vida cristã em todos os momentos de nossa vida, seja na fome,

seja na fartura (Fp 4:12).

Paulo adverte os cristãos da cidade de Corinto dizendo: "... recuperem o bom senso e pa-

rem de pecar; pois alguns há que não têm conhecimento de Deus; digo isso para vergonha de

vocês." (I Co 15.34). Veja, Paulo mostra o porquê dos cristãos de Corinto precisarem parar de pe-

car, recuperando, assim, o bom senso: alguns entre eles não possuíam o conhecimento de Deus –

algo vergonhoso para eles. E, como eles adquiririam bom senso e, assim, deixariam de pecar?

Tendo conhecimento de Deus! Irmãos, essa é a nossa principal motivação. Precisamos adquirir

uma paixão inflamada por Jesus através de um estudo profundo do caráter de Deus nas Escritu-

ras. Ora, "com que purificará o jovem o seu caminho?‖, pergunta o salmista. A resposta vem logo

em seguida: ―Observando-o conforme a tua palavra" (Sl 119:9).

Agora, muitos podem estar discordando em suas mentes. Muitos devem estar lembrando-se

de pessoas que têm um grande conhecimento teológico, mas que levam vidas desgraçadas. É

notório que essas pessoas existem e é para elas que fica a advertência de Tiago: ―Sejam cumpr i-

dores da palavra e não somente ouvintes...‖ (Tg 1:22). Sobre isso, devemos considerar um ponto

importante: Podemos conhecer a Palavra e não segui-la, mas é impossível seguir a Palavra sem

conhecê-la, pois apenas a Palavra pode dividir o que é da alma e do espírito e discernir os pen-

samentos e intenções do coração (Hb 4:12), além de que só poderemos crescer na graça através

do conhecimento (2 Pe 1:2). Então, o testemunho de pessoas que conhecem teologia e têm uma

vida sem conhecimento do Senhor não é suficiente para sustentar a afirmação de que conhecer

a Deus pela Palavra não mudará drasticamente as nossas vidas.

O CONHECIMENTO DE DEUS E A ALEGRIA CRISTÃ

Precisamos considerar também, ainda que resumidamente, a tamanha alegria que inunda

a vida do crente quando este conhece a Deus. Considere a afirmação de Oséias: ―Conheçamos,

e prossigamos em conhecer ao Senhor..." (6:3). Não acredito que isso seja uma ordem pesada de

ser seguida. Acredito nisto por que conhecê-lo é um deleite. Assim, como foi considerado pelo

profeta, esse é um prazer tão imenso que não podemos ficar sem prosseguir nisto. Conhecer os

atributos de Deus é como contemplar o nascer do Sol. Ainda que você se lembre de como é, na-

da se compara a ir novamente e contemplá-lo outra vez.

Irmãos, nós não precisamos caçar essas ―reuniões de avivamentos‖ nem procurar esses ditos

―profetas‖ nem essas ditas ―novas unções‖. Essas coisas nunca nos darão alegria genuína. Muitos

estão procurando essa ―unção do riso‖ para esquecer um pouco os problemas desta vida terre-

na, mas eu repudio isso. Dê-me cinco minutos meditando nos evangelhos e você verá que eu não

poderei deixar de gargalhar de tanta felicidade.

É exatamente por isso que pregações motivacionais e triunfalistas são tão populares neste

último século. Os crentes não possuem um satisfatório conhecimento de Deus, por isso não possu-

em uma alegria duradoura. Precisamos lutar contra esse câncer que tem invadido nossas televi-

sões, nossos rádios, nossos púlpitos e, até mesmo, os corações de muitos salvos. Não há como re-

pudiar tal falsa alegria se não tivermos prazer no conhecimento de Deus. Veja o que é confessado

com poesia pelo salmista: ―Tenho prazer nos teus decretos...‖ (Sl 119:16). Como ter prazer no que

não se conhece? Precisamos nos debruçar sobre nossas bíblias e conhecer a Deus ao ponto de

criarmos poemas de tanto prazer n‘Ele! Existe promessa melhor para quem tem prazer no conhe-

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cimento de Deus do que a de Habacuque 2:14? ―Porque a terra se encherá do conhecimento da

glória do SENHOR, como as águas cobrem o mar.‖

CRISTO E O CONHECIMENTO DE DEUS

Depois de tudo que estudamos aqui, só podemos encerrar com uma consideração sobre

Cristo e o conhecimento de Deus. E como ignorar isso? O próprio Jesus expressa que ―esta é a vi-

da eterna: Que te conheçam, Pai, único Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo a quem tu enviaste‖ (Jo

17:3). Conhecer a Cristo é a própria vida eterna!

Por um momento, vamos voltar ao Éden. O que temos lá? Satanás seduzindo a raça huma-

na a desobedecer ao seu Criador. Com o que a serpente seduz Eva? Com a promessa de co-

nhecimento fora de Deus. Desde os tempos mais remotos o homem foi seduzido pela falsa sabe-

doria. Com isso, Deus pune o homem. Agora, ninguém mais pode chegar-se a Deus. Agora, ―não

há ninguém que entenda; não há ninguém que busque a Deus‖ (Rm 3:11). Um dos aspectos da

Depravação Total do Homem é que ele não só não está separado do conhecimento de Deus,

mas ele ama não conhecê-lo. ―...vocês não querem vir a mim para terem vida‖ (Jo 5.40). O ho-

mem caído simplesmente não deseja Deus. Não há homem que possa mudar sua vontade caída

de ódio ao Senhor para uma submissão a Ele. "Porque a inclinação da carne é morte... Porquanto

a inclinação da carne é inimizade contra Deus, pois não é sujeita à lei de Deus, nem, em verdade,

o pode ser" (Rm 8.6,7).

Deus, em sua Santidade, poderia deixar tudo seguir seu curso normal. O homem escolheu a

ignorância, e era nessa ignorância que pereceríamos eternamente no inferno. Escolhemos ficar

longe de Deus e era exatamente isso que teríamos eternamente. O segundo capitulo da carta de

Paulo aos efésios começa dizendo que ―estávamos mortos em nossos delitos e pecados‖ (v. 1),

continua dizendo que andávamos "segundo o curso deste mundo, segundo o príncipe das potes-

tades do ar, do espírito que agora opera nos filhos da desobediência" (v. 2), e ainda complemen-

ta: "andávamos nos desejos da nossa carne, fazendo a vontade da carne e dos pensamentos; e

éramos por natureza filhos da ira..." (v. 3). Nós estávamos realmente em sérios apuros.

Já no quarto verso, existe a expressão que fez toda a diferença na nossa eternidade: ―Mas,

Deus...‖. Podemos ler novamente? ―Mas, Deus...‖. Eu poderia passar horas sobre meus joelhos só

lendo esse verso em voz alta e exultando em adoração. ―Mas, Deus...‖. Deus, Ele próprio, veio nos

salvar. Não foram os homens que se dobraram a Ele, mas Ele que nos resgatou. A salvação não

vem de mim, mas d‘Ele. ―Mas Deus, que é riquíssimo em misericórdia, pelo seu muito amor com

que nos amou, estando nós ainda mortos em nossas ofensas, nos vivificou juntamente com Cristo‖

(v. 4).

Esse verso é incrível e requereria horas de pregação expositiva para retirar toda a delicia

que há nele, mas eu quero dizer uma única coisa: ―O homem não pode receber coisa alguma, se

não lhe for dada do céu‖ (Jo 3:27). Cristo veio como a revelação máxima do conhecimento de

Deus. Ele veio não só para nos mostrar o caminho, mas para ser o próprio caminho (Jo 14:6). É

d‘Ele que precisamos para podermos conhecer ao Senhor. Saibam: ―isto não vem de vós, é dom

de Deus‖ (Ef 2:8). Ninguém pode conhecer a Cristo (e, por conseguinte, conhecer a Deus) pelas

próprias forças. Ninguém, por si mesmo, poderá buscar o conhecimento de Deus revelado em

Cristo por si só, pois ―será que o etíope pode mudar a sua pele? Ou o leopardo as suas pintas? As-

sim também vocês são incapazes de fazer o bem, vocês, que estão acostumados a praticar o

mal." (Jr 13.23). Pecador, apenas se você puder gritar: ―Coisa alguma em minhas mãos eu trago,

Somente em Tua cruz me agarro!‖ 14, você poderá ser salvo. Apenas despojando-se de toda obra

para alcançar o conhecimento de Cristo vocês poderão ser alcançados por Ele.

CONCLUSÃO

Oro para que Deus conceda a todos nós o poder de conhecê-lO. Não esqueçam o verso

que citei a pouco: ―O homem não pode receber coisa alguma, se não lhe for dada do céu.‖ (Jo

3:27). Não é diferente com o conhecimento de Deus. Você precisa orar a Deus e ler a Sua Palavra

para que Ele possa te dar esse conhecimento d‘Ele. Não mais viver das migalhas que caem dos

14 Originalmente: ―Nothing in my hand I bring, Simply to the cross I cling‖. Trecho da letra de um

antigo hino cristão, conhecido como "Rock of Ages, cleft for me".

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púlpitos, mas sim do alimento completo que é a Palavra de Deus, meditando nela de dia e de noi-

te (Sl 1:2; Js 1:8).

Além disso, oro para que Deus nos conceda não só um conhecimento teórico, mas um co-

nhecimento prático, como sintetizou Arthur W. Pink: ―Necessitamos de algo mais que um conhe-

cimento teórico de Deus. Só conhecemos verdadeiramente a Deus em nossa alma, quando nos

rendemos a Ele, quando nos submetemos à Sua autoridade e quando Seus preceitos e manda-

mentos regulam todos os pormenores de nossa vida‖ 15. O conhecimento de Deus não é algo que

influencia apenas uma área de sua vida. O conhecimento de Deus mudará o modo como você

se relaciona com as pessoas, o modo como você pensa, o modo como você anda, o modo co-

mo você se veste, o modo como você respira, o modo como você trabalha, até mesmo o modo

como você pergunta as horas ou põe os seus sapatos. O conhecimento de Deus transformará

quem você é de um modo que nada neste mundo poderá sonhar em fazer.

Lembrando do texto que citei no inicio, vemos que Deus diz: ―Eu sou o SENHOR e ajo com

lealdade, com justiça e com retidão sobre a terra‖ (Jr 9:23,24). Se você quer conhecer que é esse

Senhor, você descobrirá quem Ele é vendo as declarações d‘Ele sobre Si nas Escrituras. Vá na Pa-

lavra e conheça a Deus – lá você encontrará o conhecimento. Além disso, indico um bom livro de

Arthur W. Pink: ―Os Atributos de Deus‖ 16. Esse é um bom material para ajudá-los na busca pelo co-

nhecimento do Senhor.

E, finalmente, oro para que todos possam viver constantemente com o conhecimento de

Deus inundando suas mentes. Quando vivemos esquecendo-nos de Deus, vivemos como ateus,

tendo a mesma condenação deles, mas quando meditamos, memorizamos e, principalmente,

vivemos a Palavra de Deus, isso evidencia que veremos aquele que nos chamou. Que todos pos-

sam meditar e, se possível, memorizar o que Deus falou pela boca de Oséias: ―O meu povo foi

destruído, porque lhe faltou o conhecimento; porque tu rejeitaste o conhecimento, também eu te

rejeitarei... e, visto que te esqueceste da lei do teu Deus, também eu me esquecerei de teus fi-

lhos.‖ (4:6).

Deixem-me orar por nós: Pai amado, eu oro a Ti e te imploro para que isso não seja apenas

um homem falando. O que são palavras, Senhor? Estas pessoas já escutaram muitas, meu Deus.

Se for do teu agrado que teu Espírito desça esta noite, ó Pai, que ele desça como bem quiser.

Ninguém precisa sentir arrepios, mas que sejamos levados por Ti para abrir nossas Bíblias e te co-

nhecer e prosseguir em te conhecer. Toque em nossas mentes para que possamos te adorar ver-

dadeiramente, meu Senhor. Que paremos de adorar um deus que foi criado pela mente caída.

Eu te imploro que tu cumpras os teus propósitos. Que todos os que tiverem acesso a estas palavras

possam ser transformados e impactados por ti, para que venham a viver de acordo com a tua

Palavra. Que ninguém saia por essas portas pensando em belas palavras ou na performance de

um homem, mas que eles saiam pensando que querem chegar logo em suas casas para poder

abrir suas Bíblias e conhecer a Ti. Que além de fazer isto, elas possam ver boas pregações e com-

prar bons livros, meu Senhor. Que elas parem de viver para ídolos que elas próprias criaram e que

possam viver pra ti! Unicamente para Ti. Eu te imploro, Senhor. E que tudo seja feito para sua honra

e para a Tua glória. Que Deus abençoe a todos vocês. Amém.

Por Yago Martins. © Voltemos Ao Evangelho. Website: voltemosaoevangelho.com

Permissões: Você está autorizado e incentivado a reproduzir e distribuir este mate-

rial em qualquer formato, desde que adicione as informações supracitadas, não altere

o conteúdo original e não o utilize para fins comerciais.

15 PINK, A. W.. Os Atributos de Deus. PES - Publicações Evangélicas Selecionadas. 1985. 16 Você pode comprar esse livro na Editora PES - Publicações Evangélicas Selecionadas.