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A Revista que se Responsabiliza Doutrinariamente pelos Textos Publicados maio/2011 | edição 104 | ano IX | www.nossolarcampinas.org.br Yvonne e o Suicídio Voltando ao Passado Um Caso de Lembrança Espontânea

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A Revista que

se Responsabiliza Doutrinariamente

pelos Textos Publicados

maio/2011 | edição 104 | ano IX | www.nossolarcampinas.org.br

Yvonne e o Suicídio

Voltando ao Passado

Um Caso de Lembrança Espontânea

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O Centro de Estudos Espíritas “Nosso Lar”

responsabiliza-se doutrinariamente pelos

artigos publicados nesta revista.

sumário

ReencARnAção4 Escolhendo uma vida

biogRAfiA9 A formação de Eurípedes: o menino cresce em amor

chico xAvieR13 Responsabilidade de Wantuil

cAPA14 Yvonne e o suicídio

ensinAmenTo21 A evolução perispiritual

neuRologiA22 A inteligência que o tempo corrói

cuRiosA exPeRiênciA23 Voltando ao passado

diálogo25 Diálogo com Divaldo

com TodAs As leTRAs26 Anuncie que é meio-dia e meia

mensAgem

27 Guardemos o ensino

expediente

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Maio/2011 | FidelidadESPíritA

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editorial

BRaDo DE fégrande anseio de escalar as alturas, subindo a escada de Jacó por onde também vos elevastes! Sei que minha sorte vos interessa, e que o meu dese-jo é o vosso! Ajudai-me!

Irmãos meus, que vos encontrais abaixo de mim, não vos lamento, nem vos desprezo. Já fui o que ora sois. Na criação não há privilégios. Todos os se-res têm capacidades e poderes para lu-tar e vencer, melhorar e progredir. “Em cada átomo do Universo, o Supremo Artífice insculpiu a seguinte legenda: ‘Para frente e para o alto’.” Entre o ver-me e a estrela há um ponto de conta-to. Nenhum ente, por mais mesquinho que seja, está esquecido do seu Cria-dor. Vós que sois aves, que não semeais nem ceifais, que não tendes despensas nem celeiros, não é verdade que Deus vos alimenta? Vós que sois lírios, que não sabeis fiar nem tecer, não é certo que a vossa indumentária é mais bela e custosa que as dos áulicos de Salomão? Todos vós fazeis parte da estupenda e maravilhosa orquestra da vida. “O canto do rouxinol é tão necessário ao concerto universal como o pensamento de Newton.” Nada de revoltas, nada de desânimos. Eu me interesso pelo vosso bem, quero ardentemente o vosso pro-gresso, pois sereis um dia o que eu sou na atualidade! Creio no vosso aperfei-çoamento e na vossa marcha ascensio-nal, porque creio no Autor da Vida e confio na sua justiça! u

Fonte:

VINÍCIUS. Em Torno do Mestre. Págs. 341-342. Feb. 2009.

Levanto minha fronte e vejo pairando, muito acima de mim, tantos homens que se

distinguiram neste mundo... Uns, pelos fulgores da inteligência; outros, pela in-teireza de caráter e extrema bondade de coração. São os gênios e os santos.

Elevo mais ainda o olhar do meu Espírito, e antevejo, numa hierarquia majestosa e sublime, os super-homens, seres angélicos, puros e amoráveis: an-jos, arcanjos, deuses!

Depois, sinto-me levado a consi-derar o que se passa nos planos que estão em escala inferior ao meu. Vejo homens que estão muito abaixo de mim em moralidade e saber. Lobrigo ainda, devassando o incomensurável cenário da vida – seres inferiores, ani-mais de toda a espécie, de variedades quase infinitas – do mísero verme, que se roja no pó, ao trêfego pássaro sul-cando os ares; da fera bravia que ruge nas brenhas à mansa ovelhinha balan-do docemente à porta do aprisco!

Eis que, então, se apodera de mim o desejo ardente de me dirigir a esses seres todos, aos do alto e aos do baixo plano, dizendo-lhes:

Irmãos meus, que vos achais acima de mim, não vos invejo; admiro-vos! O estado superior em que vos achais é um incentivo para mim! Quero imitar -vos, quero esforçar-me; serei diligente, operoso e perseverante, pois sei que assim, por esse caminho, galgarei, um dia, essa esfera lumino-sa em que habitais, tornando-me tal como ora vos vejo! O sentimento que me despertais é de emulação. Ao contemplar-vos, experimento um

fidelidadesPíRiTA | maio/2011

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FidelidadEspírita | Maio/2011

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reencarnação

ESCoLHENDo UMaVIDa

aprendo, mais me convenço de que existem coisas que podemos saber so-bre como escolhemos nossa próxima existência. Não se trata de um mistério impenetrável.

A questão da escolha é de impor-tância crucial no estudo da reencar-nação familiar. Muitas pessoas presu-mem que não nos é dada a chance de escolher a nossa próxima existência, e essa crença as impede de aceitar a possibilidade da reencarnação em família. Acham que a distribuição de espíritos se dá de maneira aleatória ou que é, no máximo, um processo regi-do pelas leis naturais do carma ou pe-los caprichos de um ser divino. Assim, se o espírito não tem escolha, a chan-ce de um deles retornar para a mesma família é de uma em milhões.

Mas, em minhas pesquisas, en-contrei centenas de casos de retorno na mesma família, o que indica que a reencarnação não é um processo aleatório. Se os espíritos não tivessem escolha, não veríamos nenhum caso desse tipo. Outro sinal desse fato vem das afirmações das próprias crianças. Algumas guardam memórias claras de sua existência “antes de eu ter nas-cido” e transmitem, com convicção, conceitos diferentes das crenças dos próprios pais no que se refere ao para-íso e à existência antes de nascer.

Em 1979, Helen Wambach, uma experiente terapeuta de vidas passa-

por Carol Bowman

das, foi a primeira a publicar relatos so-bre o estado de intervida (período en-tre as encarnações). Em seu livro Vida Antes da Vida, descreve sua pesquisa sobre o tempo antes da concepção e do nascimento. Ela criou experimentos nos quais várias pessoas foram simul-taneamente hipnotizadas e subme-tidas ao processo de regressão. Logo em seguida, Wambach pediu-lhes que escrevessem as respostas a uma série de perguntas sobre suas memórias an-tes do nascimento. Entre elas, “Você escolheu nascer?”, “Como se sentiu a respeito de começar sua nova vida?”, “Já conhecia sua mãe atual?” e “O que aconteceu após a concepção?”. Ela compilou e analisou os dados de 750 regressões para construir um modelo do processo que acontece antes do nascimento.

Na mesma época, o psiquiatra ca-nadense Joel Whitton coletava dados similares a partir dos relatos de seus clientes de terapias de vidas passadas, publicados em 1984 com o título de Vida Transição Vida. Em 1994, o pes-quisador e hipnoterapeuta Michael Newton, da Califórnia, publicou Jour-ney of the Souls (Jornada das Almas), a culminância de 20 anos de testemu-nhos de seus pacientes. O objetivo por trás de todas as atividades celestiais relatadas pelos três pesquisadores é o mesmo: os espíritos estão concentra-dos em planejar a próxima reencarna-

Quando eu era bem peque-na, acreditava que quan-do um bebê nascia uma

sábia cegonha o deixava cair pela cha-miné da casa da família que o esperava. Quando cresci, minhas noções infantis deram lugar ao reconhecimento do fato científico de que os bebês nascem do útero de suas mães. Já perto dos 9 anos, recebi de presente um livro que descrevia o processo da reprodução, mas ainda deixava sem resposta um mistério: por que nascemos em deter-minada família e não em outra?

Busquei nas minhas noções reli-giosas de um Deus poderoso e onis-ciente alguma maneira de preencher o vazio do meu entendimento. Imaginei Deus num paraíso cheio de nuvens, escolhendo pais para bebês que, em fila, esperavam para nascer. Concluí que a família em que nascemos é uma questão de sorte decidida por Deus. Porém, essa explicação me deixa-va inquieta. Não podia entender por que Deus escolhia oferecer a algumas crianças um bom lar, enquanto outras eram condenadas a morrer na guerra ou de fome. Havia algo faltando nessa minha interpretação.

Muitos anos depois, continuo fas-cinada pela questão de como nossa próxima vida é decidida. Mas agora ela é uma reflexão séria e vital para o meu trabalho. Passei muito tempo explorando essa ideia e, quanto mais

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Maio/2011 | FidelidadESPíritA

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reencarnação

ção com base nas lições que aprende-ram na anterior.

Baseada nas informações dessas variadas fontes, chego à conclusão de que, embora haja muitas coisas que o nosso cérebro jamais conseguirá com-preender, é possível concluir que os espíritos têm algum grau de escolha quanto ao lugar e ao momento em que reencarnar. Quando analisamos os fatores que influenciam a decisão de um espírito, torna-se claro que a opção por continuar um relaciona-mento dentro da mesma família não só é possível como, algumas vezes, é a escolha mais lógica e natural.

REVISÃo DE VIDa

Para o planejamento de uma nova vida, o primeiro passo do espírito é rever e avaliar sua última encarnação. Algumas pessoas relatam que, com a ajuda de guias, o espírito penetra em algo semelhante a um filme em três di-mensões ou uma visão holográfica da vida recém-deixada. Cada momento daquela existência é revivido em de-talhes sensoriais completos. O espírito percebe instantaneamente as inten-ções por trás de cada uma das atitudes e sente com total força emocional os efeitos que elas causaram nas outras pessoas. Essas descobertas podem ser prazerosas, tristes, dolorosas � mas são sempre esclarecedoras.

Por meio desse processo de retros-pectiva, o espírito observa e julga suas próprias ações e intenções. Os guias nunca julgam ou condenam. Pelo con-trário, eles oferecem todo o seu apoio e podem ajudar abrandando um jul-gamento por demais severo que um espírito faça de si mesmo, mostrando- lhe seus sucessos e suas falhas no con-texto mais amplo de seu desempenho em várias encarnações.

PoR QUE oS ESPÍRIToS REToRNaM

Existe uma clara inteligência moral por trás desse processo de revisão de vida. Mas o alto padrão moral não é imposto pelo julgamento dos guias ou de qualquer outra autoridade externa. Ele é autoimposto. O espírito empre-ga o seu senso inato de certo e errado para avaliar seu desempenho passado.

A incorporação de um padrão mo-ral parece ser a força motriz por trás da reencarnação, uma vez que o es-pírito luta para se tornar um ser ver-dadeiramente amoroso e compassivo. Exercitando sua livre escolha, percorre longos caminhos em direção ao seu objetivo numa existência, tropeça e cai de cara no chão numa outra, ma-chucando a si mesmo e aos outros.

A beleza desse processo é que ele é autocorretivo. Cada encarnação nos oferece a oportunidade de melhorar nossos erros, por mais cruéis que te-nham sido, em vez de sermos eterna-mente condenados por eles. E também nos confere infinitas oportunidades de compreender o que quer que precise-mos aprender sobre a condição huma-na. Por isso, o objetivo da revisão de vida e do processo de planejamento é escolher uma encarnação com a medi-da certa de desafios e oportunidades de aprendizagem e desenvolvimento.

A primeira decisão é se iremos ou não reencarnar. Não está determinado que todos os espíritos precisam vol-tar à Terra, pelo menos não imedia-tamente. Na amostra de 750 clientes de Helen Wambach, 81% disseram se lembrar de escolher entre nascer ou permanecer desencarnado. Embora escolhessem voltar, quase todos en-cararam com relutância a vida que se aproximava. Viram-na mais como um dever, algo desagradável que tinham que fazer para alcançar o desenvolvi-

mento espiritual. Não é difícil imaginar a relutância do espírito em deixar um lugar de amor incondicional para re-tornar a um mundo imperfeito onde há lutas e dor. Mas o desejo de ilumi-nação, o anseio por unir-se a Deus, é mais forte do que qualquer sofrimento na Terra.

Após a revisão, se o espírito for capaz de compreender suas próprias necessidades e objetivos e se tomar a decisão de voltar à Terra, estará pron-to para começar o estágio de planeja-mento de sua próxima encarnação. É hora de escolher uma vida.

PLaNEJaNDo UMa VIDa

Todos os estudos de regressão de-monstram que o processo de plane-jamento é feito em colaboração com os guias espirituais. São eles que apre-sentam ao espírito as opções para sua próxima vida. Suas atitudes anteriores, ou carma, determinam os parâmetros e limites das opções. Com base em seu desempenho passado, o espírito recebe um cardápio de vidas que po-derão lhe ensinar as lições que precisa aprender. Ele não tem uma escolha ili-mitada. Se fosse esse o caso, por que alguém escolheria uma vida de tragé-dias e sofrimentos?

Mesmo com o carma limitando as opções, o espírito ainda pode es-colher entre um número enorme de vidas. Esta escolha é muito complexa: a decisão deve considerar não apenas as suas necessidades, mas coordená-l as com os planos e as necessidades dos espíritos com os quais espera se unir – principalmente os pais. Embora seja impossível para os limites da nossa compreensão ter uma ideia de todas as variáveis que fazem parte da deci-são de encarnar, podemos falar sobre as mais óbvias.

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Em primeiro lugar é preciso con-siderar o corpo físico. Os estudos de casos sugerem que os atributos físicos fazem parte do pacote que o espírito seleciona para alcançar o que precisa aprender em sua próxima existência. Escolher um corpo com alguma inca-pacidade, por exemplo, pode acelerar o desenvolvimento da alma pelo fato de lhe dar a oportunidade de apren-der a vencer obstáculos ou de se con-centrar no desenvolvimento intelectu-al. Já um belo corpo pode trazer lições sobre vaidade e aparência. A escolha envolve o equilíbrio entre o desejo de estar com certos pais, que têm um pacote genético específico, e a neces-sidade de ter determinadas caracte-rísticas físicas. Talvez o espírito possa influenciar o corpo que se forma, ape-sar das características genéticas, como sugerem os casos de marcas e defeitos de nascença.

Os relacionamentos são vitais para o nosso aprendizado e crescimento es-piritual. Assim, planejar a reunião com certas almas na vida que se aproxima é de importância crucial. Todos os estudos apontam para o fato de que reencarnamos com quem tivemos al-guma proximidade em outras vidas. Para aprender a perdoar, podemos escolher voltar para alguém que nos feriu. Ou vice-versa: podemos voltar para alguém a quem tenhamos ferido para poder reparar nossos erros e pa-gar uma dívida cármica.

Graças à importância dos relacio-namentos e à intensidade das relações familiares, é claro que o espírito tem inúmeras razões para retornar à família que acabou de deixar. Acredito ser por este motivo que a reencarnação fami-liar seja tão comum. A escolha dos pais é a decisão mais crítica do processo de planejamento porque ela determina o cenário da existência que está por

vir. Não é de estranhar que crianças pequenas pareçam se lembrar de ter escolhido seus pais mais do que qual-quer outro aspecto de seu período an-tes de nascer. Elas geralmente dizem aos pais por que os escolheram, afir-mando que foi por decisão própria ou que foram orientadas por seus guias.

ESCoLHENDo oS PaIS

É comum o relato de crianças con-tando sobre quanto ficaram empol-gadas quando escolheram seus pais. Porém, muitos pais perdem a oportu-nidade de aprender por que foram es-colhidos quando não levam a sério as afirmativas dos filhos, considerando-as fruto da imaginação ou apenas mais uma das gracinhas que as crianças di-zem. Os pais de Jessa, entretanto, não podiam ignorar suas afirmações. Ela falava constantemente sobre a esfera espiritual.

Não somos uma família religiosa, mas desde os 2 anos Jessa nos conta histórias sobre Deus. Ela disse que, antes de nascer, nos escolheu como pais porque precisávamos de alguém como ela em nossas vidas! Jessa afir-mou que, antes de ser filha de Deus, teve outros pais, Michael e Susan, que morreram num incêndio. Então, des-creveu uma pequena casa de madeira. Ela fala sem parar sobre a morte e por que não precisamos temê-la. E nos diz para não ficarmos tristes com o recen-te falecimento de seus avós, porque eles estão num lugar lindo e sereno.

A história que se segue é a lem-brança pura de uma alma arrependida que agora está no corpo de uma crian-ça de 3 anos. É um exemplo pungen-te de alguém que voltou para reparar o mal que causou anos atrás. Numa conversa telefônica, sua mãe, Carrie, me descreveu o que aconteceu:

Eu estava lendo quando Amanda chegou e, de repente, disse: “Mamãe, você se lembra de muito, muito tempo atrás, antes de você nascer?” Respondi que não, deixando o livro de lado para dar a Amanda toda a minha atenção. Com a voz séria, ela me informou, da maneira mais casual possível: “Eu ma-tei você!”

Sem demonstrar surpresa ou des-crença, perguntei por que ela havia feito isso e ela respondeu: “Eu estava com muita raiva de você.” O rosto de Amanda tinha uma expressão triste. Ela se aproximou e se encolheu no sofá, perto de mim. Pedi que me con-tasse como me matou. “Com uma es-pingarda.” Eu não esperava uma coisa dessas! Fiquei curiosa em saber como ela se sentia sobre tudo isso e pergun-tei: “Bem, se foi isso que aconteceu, o que nós estamos fazendo agora?” A resposta de Amanda me fez gelar: “Mamãe, eu fiquei tão triste por você. Queria ser sua amiga de novo. Nunca mais vou fazer isso. Eu só quero ser da sua família agora.” Atualmente temos um ótimo relacionamento. Mas eu me lembro das várias vezes em que, sem nenhuma razão aparente, Amanda di-zia: “Estou muito triste por você. Dei-xa eu segurar sua mão.” Depois de ela ter dito que me matou numa vida an-terior, tudo faz sentido. Acho que ela vem tentando reparar seu erro e me compensar pelo que fez.

Lembro-me de que no seu livro você disse que os pais podem ajudar uma criança a elaborar as memórias de sua vida anterior. Então, algumas noi-tes depois, quando conversávamos an-tes da hora de dormir, eu disse da ma-neira mais casual possível: “Amanda, você se lembra de alguma coisa antes do meu nascimento?” Ela respondeu: “Lembro, mas não quero falar sobre isso. Eu era um homem muito mau. E

reencarnação

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Maio/2011 | FidelidadESPíritA

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Quando ouviram meu pedido, as duas meninas gelaram. Entreolharam- se e, após um longo minuto de silên-cio, Charlotte falou: “Mamãe, isso é uma coisa muito difícil de dizer. Não sei se vou saber explicar. Bem, só eu e Sarah, e agora Rebecca, sabemos disso. Por isso você tem que prometer que não vai contar a ninguém.“ Levan-tei as mãos e jurei segredo absoluto.

Satisfeita com nosso pacto, Char-lotte começou: “Não fique aborre-cida, mamãe, porque é uma história esquisita. Quando partimos para esta vida, Sarah e eu devíamos ter vindo juntas. Nós éramos gêmeas e tínha-mos que estar na barriga de Tricia (mi-nha cunhada). Mas, um pouco antes da partida, aquela pessoa me segurou. Você se lembra, Sarah? Lembra-se do que ela me disse?”

Com uma expressão séria, Sarah concordou: “Ela disse que você não podia vir. Que ainda não estava na sua hora, mas que ia dar um jeito para nós ficarmos sempre juntas. Disse que você ia ter que esperar, o que a deixou muito aborrecida. Mas olha só! Esta-mos aqui! Ela cumpriu a promessa!” As meninas se abraçaram enquanto eu refletia sobre aquela história espanto-sa. Eu sabia o suficiente sobre reencar-nação – e sobre aquele incrível vínculo entre elas – para aceitar a veracidade do relato que acabara de ouvir.

Após atravessarmos todo o pro-cesso de planejamento e escolhermos nossas vidas, por que poucos de nós se lembram desses momentos, como o que foi narrado pelas primas? Essa amnésia tem um importante objetivo. Segundo Joel Whitton, permite à pes-soa embarcar na nova vida sem os im-pedimentos de ecos confusos de boas e más atitudes do passado. Ele explica que em almas que experimentaram a luz, a amnésia também evita anseios e

saudades devido a tudo o que foi dei-xado para trás.

Algumas vezes, porém, a amnésia não é total, e algumas memórias do mundo espiritual permanecem. Na história que se segue, um menino de 4 anos se lembrou de um momento crucial do processo de planejamento de sua vida e contou ao pai. Muitos anos depois, a informação ajudou esse pai a lidar com a dor de uma tragédia inimaginável.

LEMBRaNDo-SE Do PLaNo

David Schultz era um lutador acla-mado internacionalmente. Vencera o campeonato norte-americano quatro vezes e ganhara medalha de ouro nas Olimpíadas de 1984. Por causa de seu amor pelo esporte e de seu entusias-mo pela vida, era considerado o em-baixador da amizade pelas pessoas que o conheciam por todo o mundo. Mesmo os seus oponentes, principal-mente os russos, o consideravam um grande amigo.

No dia 26 de janeiro de 1996, David foi assassinado. Centenas de pessoas assistiram ao seu enterro. O pai do lutador, Philip, contou essa his-tória em seu discurso de louvor ao fi-lho. Todas as pessoas na sala ouviram em silêncio o relato de Philip, e uma onda de emoção varreu a plateia. Phi-lip escreveu a história completa para que eu pudesse compartilhá-la com você neste livro:

Quando minha nora me ligou para dizer que David estava morto, não pude conter meu choque e minha des-crença, perguntando em soluços: “Por quê?” Na minha angústia, eu continu-ava a repetir a mesma pergunta. Tudo o que eu sabia era que tinha perdido meu filho, a alma mais preciosa que jamais conhecera.

fico muito triste.” Procurei tranquilizá- la: “Amanda, se isso deixa você triste, tudo bem. Só quero que entenda que eu a perdoo por qualquer coisa que tenha acontecido e que agora estamos numa outra vida. Eu a amo muito e você é minha filha.” Ela me abraçou e disse: “Mamãe, eu amo você demais.” Essa foi a última vez que Amanda afir-mou se sentir triste por mim.

JURo SEM CRUZaR oS DEDoS

Uma amiga me contou essa história sobre sua filha e sua sobrinha � primas e amigas inseparáveis. Ela nos mostra a força da influência dos guias na de-terminação da data e do lugar para o retorno da alma.

Estávamos passando as férias em nossa casa de praia que sempre divi-díamos com a família de meu irmão. Rebecca, a babá, chegou da praia ba-lançando a cabeça e dizendo: “Essas meninas vivem no mundo da lua! Vo-cês precisam ouvir as histórias que elas inventam. Mas como elas me fizeram jurar segredo, não posso contar nada a vocês!”

Rebecca estava falando sobre minha sobrinha de 7 anos, Sarah, e minha filha, Charlotte, um ano mais nova. Embora só se vissem duas ou três vezes por ano, eram muito unidas. Na verdade, pareciam mais irmãs do que primas, e eram tão sintonizadas que a comunicação verbal entre elas, com frequência, era reduzida ao mí-nimo.

Curiosa para saber da nova histó-ria, fui até a praia. Encontrei as duas vestidas exatamente iguais, com lindos vestidos, fitas de cabelo cor-de-rosa e tênis azuis. Estavam rindo de alguma coisa. Interrompi: “Rebecca disse que vocês estão inventando umas histórias muito interessantes. Talvez queiram me contar alguma.”

reencarnação

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FidelidadEspírita | Maio/2011

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reencarnação

Em meio a toda aquela dor, de repente me lembrei de uma história que David me contara quando tinha apenas 4 anos. Na época em que ele compartilhou comigo essa visão espe-cial, eu me senti totalmente envolvido por suas palavras e fiquei admirado pela maneira detalhada e madura com que me fez seu relato.

Jamais me esqueci daquele mo-mento. E agora essa história traz enor-me consolo para mim, para a família de David e para sua multidão de ami-gos. Estou convencido de que é abso-lutamente verdadeira e que eu estava destinado a ouvi-la, lembrar-me dela e contá-la hoje.

Há 32 anos, David e eu caminháva-mos de mãos dadas por um arvoredo próximo à nossa casa. Lembro-me do infinito prazer que senti naquele mo-mento que passávamos juntos. David tropeçava a todo instante, mas, deste-mido, continuava a caminhar.

Depois do segundo tropeço, ele segurou minha mão com mais força. Então parou e, com os olhos bem abertos de admiração e prazer, dis-se: “Tenho um segredo muito, muito grande para te contar. Mas você tem que prometer que não vai contar a ninguém.” Prometi e ele continuou: “E você não pode rir de mim.” Eu dis-se que nunca riria dele. Então, David ficou sério e continuou: “Porque isso aconteceu antes que eu nascesse e aconteceu lá no céu, lá em cima, nas nuvens.”

Minha boca estava aberta em to-tal surpresa e expectativa. Perguntei: “E então, filhinho, o que aconteceu?” David falou: “Bem, você sabe, esta-vam aqueles 12 homens.” Interrompi, incrédulo: “Doze homens? Você con-tou?” Parecendo mais velho do que seus 4 anos, e com os olhos brilhando

de alegria, continuou: “Isso mesmo, 12. Eu contei. Estavam numa roda, como se estivessem sentados em vol-ta de uma nuvem ou de uma mesa. Vi que tinham rostos, mas não tinham corpos. Um deles disse que eu tinha que descer aqui, bem aqui embaixo. Tinha que vir para ser testado.”

Perplexo, disse a meu filho que aquela história era muito interessan-te. E perguntei: “Você vai passar no teste?” David parou de apertar minha mão e deu um sorriso de satisfação: “Vou, sim!” Fiquei aliviado com a res-posta. Caminhamos um pouco mais em silêncio. Então, ele parou e olhou para mim, radiante: “Mas eu não vou ficar aqui por muito tempo.” Nesse

instante, David soltou minha mão e saiu para brincar, me deixando sozi-nho, refletindo sobre aquela extraor-dinária parábola. Nunca mencionei o assunto, como havia prometido. Até agora.

Não é preciso dizer que essa his-tória me trouxe paz e deu sentido à terrível tragédia que acabávamos de viver. E eu me senti invadido por uma enorme onda de ternura, amor e ad-miração por meu filho. u

Fonte:

BOWMAN, Carol. O Amor me Trouxe de Volta. Págs. 64-74. Sextante. 2001.

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biografia

a foRMaÇÃo DE EURÍPEDES

o MENINo CRESCE EM aMoR

por Corina novelino

Queria comprar um doce na venda. Os outros, maldosamente, sugeriram

ao pequeno: – Passe aquele caco de telha na pedra

até que fique redondinho e fino como o nosso “quarentão”1. Leve-o ao vendeiro e compre o seu docinho...

Assim fez o menino, enquanto os ou-tros se afastavam sob risos abafados.

Pacientemente, a criança burilou o pe-daço de telha. Em seguida foi à venda.

O dono da quitanda sorriu bondosa-mente, tomou o caco burilado e deu-lhe o doce.

Eurípedes ficara exultante. Já podia comprar doces como os outros meninos. Sabia fazer dinheiro...

*

Usava uma camisolinha de tecido grosso, tal como era o costume da época em que os meninos vestiam camisolas até sete a oito anos.

Meca fazia esses modelos, acrescen-tando um bolsinho, onde o menino guar-dava um naco de pele de porco e um pe-daço de rapadura.

O menino chupava, chupava a pele e guardava-a de novo. A operação durava todo o dia. E dava para enganar a fome.

Também fazia das suas traquinagens, uma das quais era perito reincidente: gos-tava de apanhar a “comidinha” que as ir-mãs faziam de brinquedo, no quintal, num

Aos quatro anos Eurípedes era uma

criança comum, condicionada à

ingenuidade própria da idade.

Conta-se que, certa feita, brincava com outros

meninos na via pública, junto à sarjeta alta.

Ao ver os companheiros com alguns níqueis,

deixou transparecer o desejo de possuir uma

moeda também.

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biografia

fogãozinho improvisado de adobes e cacos de telhas, que ele ajudava a cons-truir.

Era um Deus nos acuda. As meninas corriam atrás do irmão.

Este desabalava ao encontro da mãe. Muitas vezes encontrava-a no leito, presa de crises.2

Já o menino se preocupava muito com a mãe.

Quando a via assim, presa dos ata-ques, não saía de seu lado.

Dois anos depois nasce o sexto re-bento da família – uma menina a que o pai dera o nome de Arísia Hermenecí-lia. A ocorrência dera-se a 15 de abril de 1885.

As dificuldades eram uma constan-te na vida do casal, agravadas com o aumento gradativo da família e a enfer-midade de Meca. Todavia sofriam com paciência, aguardando melhores dias.

Desde pequeno, Eurípedes de-monstrou invulgar interesse pelos en-fermos. Vivia à volta de pessoas so-fredoras, a quem oferecia as alegrias naturais da idade.

Relata-nos a Sra. Edalides M. de Re-zende, em seu depoimento, que Eurípe-des ficara muito preocupado, quando tia Babota adoeceu para desencarnar. O menino, então com seis anos, não saía de junto do leito da enferma.

A doente pedira doce de cascas- de-laranjas. Ele correu à procura da deseja-da compota. Evidentemente as diligên-cias do pequeno foram demoradas, em virtude da confecção do mencionado doce exigir tempo.

Contudo, o menino chegou à beira do leito da tia e, muito feliz, foi levan-do-lhe pequenos bocados de doce à boca, o que ela pareceu saborear.

Depois, satisfeita, tia Babota voltou- se para o outro lado e disse:

“Eurípedes, como se vive, se morre”.

Foram suas últimas palavras. Logo após, falecia sob o olhar compungido do menino.

*

A pedido de Eurípedes, o pai enca-minhara-o para a escola primária do Sr. Joaquim Vaz de Melo, onde o menino aprendera a ler e a contar rapidamente. Depois que aprendeu a ler nunca mais deixou a companhia luminosa dos livros.

Eurípedes projetou-se na escola do Tatinho, mercê de sua aplicaçao e com-portamento exemplares. Aproveitou com brilhantismo as lições recebidas, através do método intensivo aplicado na época nas escolas oficiais e particu-lares da província.

O nascimento do sétimo filho – Odulfo Wardil – ocorrido a 22 de feve-reiro de 1887 – veio marcar um aconte-cimento importante para a família.

UMa ESTaÇÃo fERRoVIÁRIa E oS PRIMEIRoS NÍQUEIS

Mogico recebera vantajosa propos-ta do Sr. Antônio Batista de Melo para gerenciar sua casa comercial, que se localizava na Estação do Cipó, tronco ferroviário da Mogiana, a quatorze qui-lômetros de Sacramento.

O moço aceitara, jubiloso, o empre-go que lhe daria possibilidades melho-res para a manutenção de sua já nume-rosa família.

Profundamente ligado à esposa e aos filhos por sublimes laços, jamais tivera nos anos difíceis, momentos de desânimo.

Chegara, enfim, o ensejo tão so-nhado. O bom salário, acrescido de co-missões, seria a providência da família querida.

A mudança para o Cipó deu-se no correr de 1885.

O dinamismo e a retidão de Mogico asseguravam-lhe a crescente confiança do patrão.

Mas, na Estação do Cipó não havia escolas.

Eurípedes prosseguia seus estudos com o pai, que, nas horas vagas, trans-mitia-lhe lições de Aritmética e Língua Portuguesa.

Na casa comercial, onde o pai tra-balhava, o menino passava quase todo o dia, ocupado com seus livros e empe-nhado em auxiliar o progenitor no bal-cão. Nos momentos oportunos, quando chegavam fregueses a cavalo, oriundos das fazendas e sítios próximos, para com-pras, ele guardava os animais.

Quando o trem apitava a poucos metros da Estação, o menino prepa-rava-se para o carregamento de malas dos possíveis viajantes que desciam ou que embarcavam.

A doce preocupação de Eurípedes era ganhar dinheiro para a mãe.

Conseguiu amealhar o numerário para a compra das primeiras calças que usou.

Depois desse evento, todo o dinhei-rinho ganho era cuidadosamente guar-dado numa velha meia do pai.

As frações de mil réis – fruto do tra-balho cotidiano – Eurípedes as trocava por moedas de prata no valor de dois mil réis (2$000).

Quando houve um bom número des-sas moedas no cofre improvisado, ele as entregou à mãe, dizendo, alegremente:

– “Guarde, mãe, para o dia em que a senhora não tiver pão em casa”.

As lágrimas de ternura da mãe ba-nharam as faces do filho querido.

Era o primeiro dos grandes testemu-nhos de renúncia que aquela alma de escol daria existência afora...

o REToRNo a SaCRaMENTo

O Rio Grande sempre constituiu uma ameaça à saúde pública, no vale que se estende pela faixa do município de Sacramento, notadamente nos recu-ados quartéis do século passado, quan-

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biografia

do medidas profiláticas contra sezões eram desconhecidas.

Eurípedes fora acometido de malei-ta, muito comum nas épocas posterio-res às chuvas.

O fato trouxera naturais apreensões aos pais.

Meca esperava o oitavo filho, o que ocorreu a 7 de dezembro de 1889.

Desta vez veio outra criança do sexo feminino, que recebeu o nome de Eurídice Miltan.

Logo depois, Mogico apareceu com beri-beri.

A enfermidade pertinaz o levou a pensar no retorno a Sacramento. O Cipó era bom para se ganhar dinheiro, porém era foco de sezões e a família não devia ser exposta a esse perigo. Talvez por um desses felizes encadea-mentos, que a Providência estrutura no caminho das almas, resolvera voltar.

Dessa forma, depois de dois a três anos de permanência naquela Estação Ferroviária, a família regressa a Sacra-mento.

Eurípedes contava nove anos. Na cidade natal, a saúde retorna-lhe

ao abençoado veículo de carne.

o CaRaÇa CHEGa a SaCRaMENTo

Nesse ano – 1889 – inaugura-se em Sacramento uma fase nova para a po-pulação estudantil.

Instala-se na cidade o “Colégio Mi-randa”.

Seu diretor – o Prof. João Derwil de Miranda – era natural de Mariana, MC, e recebera esmerada formação no Caraça, o mais famoso educandário mi-neiro de todos os tempos.

A convite do coronel Manuel Cas-siano de Oliveira França, chefe político em Sacramento, viera com seu Colégio.

Numa época em que a rarefação demográfica opunha barreiras quase intransponíveis à comunicação entre as

cidades, vilas e povoações da Província de Minas Gerais, verdadeira elite de in-telectuais veio até Sacramento, através do eminente Prof. Miranda e de seu coadjutor Prof. Inácio Comes de Melo, ambos com brilhante estágio no Caraça e em outros colégios da época.

Para se avaliar a influência primor-dial que o Caraça representou na área educacional sacramentana é que nos dispusemos a trazer algumas notas in-formativas a respeito desse colégio a que se deve a visão pedagógica dos professores mencionados.

João Camilo de Oliveira Torres ofe-rece valiosa documentação no seu ex-celente tratado História de Minas Gerais – vol. IV – cap. V – acerca do regimento interno do Caraça, em que evidencia a extraordinária experiência pedagógica dos padres lazaristas – portugueses que dirigiam o conceitua do educandário.

O historiador acima referido vale- se de brilhante trabalho de Alceu Amoro-so Lima, inserto em Voz de Minas – Rio, 1944 – págs. 124 a 127 – em que o brilhante publicista católico enfatiza o avançado comportamento psicológico, observado no regime do Caraça.

Em seguida, o autor transcreve al-guns dispositivos do importante código que data de 1835 e, segundo seu capa-citado juízo, “deveria continuar a inspi-rar sempre a educação mineira”.

A título de informação, damos a seguir, alguns artigos do mencionado código:

Cap. 5º – Art. 1º – “Os oficiais de uma casa de educação (isto é, diretores e professores) devem considerar-se re-vestidos dos caracteres de outros tantos pais de família...

Sua religião deve ser pura, deverá ainda evitar o cheiro da hipocrisia e fanatismo; devem conduzir a mocida-de com suavidade e amor, mesmo no exercício da correção e é, então, espe-cialmente, quando devem estar preve-

nidos para não usarem de nomes inju-riosos nem excederem a moderação.”

Cap. 2º – Parag. 11 – “Os castigos dos maiores crimes (sic) será a privação de recreação e separação dos colegas.”

Cap. 3º – Parag. 13 – “Convém co-nhecer o gênio e o caráter de cada alu-no para com prudência tratar bem a to-dos; pois o que agrada ao melancólico e perturbado, muitas vezes não agrada ao de gênio alegre e vice-versa.”

Cap. V – “Os professores se não se cansarem no ensino dos estudantes, se-rão a causa destes ficarem paralisados nos conhecimentos, de tornarem- se inúteis a si e à sociedade e serão res-ponsáveis pelas despesas que os pais fazem com seus filhos.”

Cap. 5º – Art. 5º – “Eles (os estudan-tes) devem persuadir-se que não vêm só para aprender os estudos e ciência, mas também as virtudes e é o que mais desejam os pais de seus filhos. Vale mais um homem de conhecimentos medianos, sendo virtuoso, do que grande sábio sem virtudes.”

“– Devem olhar para os Diretores e Mestres como para outros tantos ami-gos e como quem faz as vezes de pai, e respeitá-los.”

Art. 6º – “Devem ser sofredores, pois não tendo todos aqueles cômodos, que teriam em casa de seus pais e porque têm de viver com outros, dos quais uns terão uma educação e outros outra.”

Art. 7º – “Devem respeitar-se uns aos outros mutuamente evitando os dois extremos – inimizades e amizades particulares.”

Art. 13º – “Devem ser muito políti-cos (isto é, muito polidos), pois a políti-ca (a polidez) é um dos caracteres por onde se conhece o homem de bem, para o que não devem omitir a lição, quando se fizer sobre regras de política (polidez).”

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biografia

a EDUCaÇÃo fÍSICa JÁ ERa oBJETo DE INTERESSE

Cap. 7º – Parag. 2º – “Nas recrea-ções, permitam-se os jogos, especial-mente aqueles que exercitarem as for-ças corporais.”

a aLIMENTaÇÃo Do CoRPo TaNTo QUaNTo a Do ESPÍRITo ERa CUIDaDa DE MoDo PaRTICULaR

Cap. 9º – Parag. 1º – “O bom cozi-nheiro concorre muito para a boa or-dem. Se o estudante, descontente do refeitório, em vez de recrear-se ou estu-dar, estará murmurando, perturbando- se e perturbando a casa.”

Cap. 9º – Parag. 2º – “O presiden-te da cozinha (sic) deve ser um homem muito asseado e em tudo procurar que os ajudantes também sejam asseados e que tudo façam com limpeza.”

Art. nº 5 – “Os manjares sejam bem guisados e, com variedades, deleitam e as mesmas comidas repetidas, ainda que boas, aborrecem, haverá para isso variedades no guisamento.”

Cap. II – Art. 1 – “Tenha a enferma-ria, ou lugar dos doentes, bem arran-jada e asseada, as camas dos doentes compostas, arejadas e defumados os ditos lugares com espécies aromáticas.”

Cap. II. Art. 6 – “O enfermeiro di-vertirá os doentes, trazendo-lhes al-guns ramalhetes de flores ou plantas medicinais.”

Cap. II. Art. 8 – “Se houver alguns doentes, cuja enfermidade for incurá-vel ou contagiosa, como tísica ou mal de Lázaro, quando o doente morrer ou mudar, todas as coisas de seu uso devem ser queimadas e quebradas e o aposen-to lavado, arejado e bem caiado.”

Vê-se por aí, que a higiene pedagó-gica não é invenção do século xx...

Logo que concluiu o curso primário na cidade natal, João Durwil de Miran-da, ingressou no Colégio Caraça, onde

permaneceu longo tempo no estudo de “Humanidades” – assim também chamados os preparatórios.

A avó de João (e também sua tutora, Maria Querubina) destinava-o ao sacer-dócio.

Após esse estágio no Caraça, João transferira-se para o seminário de Ma-riana.

Não tinha ele, porém, vocação para o sacerdócio.

Seu escrúpulo religioso o levou a aconselhar-se com o Bispo de Mariana – D. Antônio Ferreira Viçoso.

Exposto seu problema ao Bispo – não queria ser padre – este o aconse-lhou a ir seguindo o curso do seminário e visse se a vocação despontava. Caso contrário, desistisse definitivamente de ser padre, apesar dos anseios de sua avó.

Permanecendo em Mariana, no se-minário passou por todas as Ordens, exceto o Presbiteriato – última e irrevo-gável ordem a ser recebida.

Tornou-se professor, lecionando em diversas cidades mineiras, até que se radicou em Sacramento.

Logo após sua chegada, casou-se com Amélia Vieira, filha do capitão Maurício Vieira, com quem constituiu numerosa família. Dos dez filhos do casal faleceram os seguintes: Ascânio, Virgínia, Balduíno, João, Enéias, Creu-sa e Maurício.

Os demais: Dr. Iulo, Profa. Ismalita, Dra. Maria Augusta e Da. Maria Natalina – esta casada com o Sr. José Fidelis Bor-ges – todos residentes em Sacramento.

Houve uma época (provavelmente de 1899 a 1900) em que o Prof. Miran-da transferiu seu colégio para Uberaba, onde funcionou com o nome de Ate-neu Miranda.

Em 1905, mudou-se para Ouro Pre-to, fechando definitivamente o colégio. Nessa cidade, lecionou dezoito anos no ginásio local.

Nesses anos, encaminhara todos os filhos para os estudos de nível superior.

E, em 1922, retornou a Sacramento com a família.

Aí veio a falecer em 1937.

*

O Prof. Inácio Martins Comes de Mello era natural de Paracatu.

Quando fixou residência em Sacra-mento, no início deste século, era ho-mem feito e carregava respeitável baga-gem de conhecimentos.

Altamente versado em Retóri-ca, Francês e Latim, colaborou com eficiên cia no Colégio Miranda e depois no Liceu Sacramentano, ao lado de Eu-rípedes.

Faleceu em idade avançada, sob os cuidados de Da. Edalides Milan de Rezende, que reconhecida a sua con-dição de professor e colaborador de Eurípedes, no magistério, prestou-lhe assistência carinhosa até o último mo-mento de sua existência terrena.

NotA – Os dados para a composição do

presente capítulo foram fornecidos pelas

seguintes pessoas: Dr. Iulo Derwil de Mi-

randa, Profa. Ismalita Derwil de Miranda,

Dra. Maria Augusta Derwil de Miranda,

Da. Maria Natalina Miranda Borges – to-

dos residentes em Sacramento, MG; Da.

Edalides Millan de Rezende, residente em

S. Carlos, SP, valendo-se das reminiscên-

cias de sua irmã Maria Neomísia; e do ar-

quivo do Dr. Wilson Ferreira de Mello, São

Paulo, SP. u

Fonte:

NOVELINO, Corina. Eurípedes – o Homem e a Missão. Págs. 27-36. IDE.1986.

1. Quarentão era a menor fração de mil

réis.

2. Relato do próprio Eurípedes à sua se-

cretária Da. Amália.

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chico xavier

Chico xavier preocupa-se com as ingen-tes lutas do amigo. Pelo primeiro tópico da carta compreende-se que Wantuil tenha manifestado o desejo de ir visitá-lo. Mas Chico o tranqüiliza, pedindo-lhe que não se preocupe. E comenta as grandes respon-sabilidades que pesam sobre os ombros do presidente da FEB.

Responsabilidades essas muitas vezes desejadas por quantos julgam serem tais cargos diretivos tarefas suaves, fonte de ale-grias e encantamento espiritual constantes.

Contudo, bem diversa é a posição da-quele que é convocado a cargos administra-tivos e que, realmente, se disponha a exercer os encargos e deveres que lhe são inerentes.

No caso de Wantuil, tantas são as suas preocupações e atividades que ele está como que prisioneiro delas. Somente os que estão imbuídos do espírito de renúncia e boa vontade total conseguem perseverar até o fim nesses postos, levando avante a missão que receberam e com a qual estão compromissados.

Conhecedor das diretrizes que Wantuil de Freitas adota à frente da FEB, ciente da sua abnegação e do seu alto espírito de fi-delidade doutrinária, Chico o reconforta dizendo que no futuro saberão reconhecer melhor a orientação da Casa de Ismael.

Menciona ainda o Prof. Cícero (Pereira), trabalhador dedicado da União Espírita Mi-neira e que está gravemente enfermo.

Outras referências completam a carta. u

RESPoNSaBILIDaDEDE WaNTUIL

por Suely CaldaS SChuBert

Fonte:

SCHUBERT, Suely Caldas. Testemunhos de Chico Xavier. Págs. 232-233. Feb.1998.

“(...) Não te preocupes por mi-nha causa. Sei avaliar-te a prisão nos deveres pesados e tenho-te à conta de um herói para solucionar tantos problemas com essa “visão de comando”, que te caracteriza o serviço na Presidência da FEB.

(...) Agradeço-te as notícias do Efigênio. Estou satisfeito ao saber que ele modificou a opinião relati-vamente à Casa de lsmael.

O professor Cícero está finali-zando a presente fase. Não vejo re-cursos de adiar-se-lhe, por muitas semanas, a grande viagem. Jesus o favoreça. A “cianose hipertrófica” é um caminho inevitável.

Grato pelas notícias da FERGS. Um dia virá em que os nossos ir-

mãos entenderão melhor a orienta-ção da Casa de lsmael. O teu “pulso firme” não é obra individual. É am-paro de Cima sobre o teu coração de missionário sustentando-te no combate para que o programa da FEB não periclite.

(...) À notícia da partida de nos-sa irmã, filha do Sr. Carlos Lomba, muito me comoveu. (...) e nossos amigos informaram que ela se acha-va em doloroso mas sublime pro-cesso redentor.

(...) Esperarei pelo “Reforma-dor” o artigo de Zêus (...) Espero seja edificante como os anteriores que ele tem escrito (...) Pelo telegra-ma que te envio à leitura, em anexo, soube que o Congresso da USE será instalado dia 31. (...)”

chico xavier

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capa

YVoNNE E o

SUICÍDIo

O que sabemos é que o suicídio é infração às

leis de Deus, considerada das mais graves que o ser humano poderia praticar

ante o seu Criador. Os próprios Espíritos de

suicidas são unânimes em declarar a intensidade

dos sofrimentos que experimentam, a amargura

da situação em que se agitam, consequentes

do seu impensado ato.Yvonne1

por pedro Camilo

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capa

(...) Yvonne trouxe para a sua úl-tima experiência física o compromis-so com o suicídio. Cabia a ela, como médium, atender a espíritos suicidas, orientando-os no caminho do equilí-brio da própria consciência, além de aconselhar e escrever livros e artigos que ajudassem os indivíduos a valori-zar a vida, fugindo da ideia de auto- extermínio.

Sua tarefa junto aos suicidas, ou seu resgate, como gostava de afirmar, lhe foi anunciada, pela primeira vez, pelo espírito Roberto de Canallejas. Foi na cidade mineira de Lavras, no ano de 1926, numa das mais belas manifestações desse querido espírito.

Apenas seis dias depois da sua chegada à cidade, Yvonne recebeu um convite para participar de uma reunião de materializações realizada na casa da médium Zulmira Teixei-ra. Novata, sem conhecer os partici-pantes, Yvonne localizou-se em uma cadeira e assistiu ao desenrolar da reunião.

Primeiramente, materializou-se o espírito Dr. Augusto Silva, patrono do espiritismo em Lavras, e, em seguida, uma filha desencarnada da médium Zulmira. De repente, Yvonne viu de-senhando-se à sua frente, a silhueta inconfundível do espírito Roberto, que dela se afastara havia seis anos, dado o amor obsessivo que lhe devo-tava. Era, sim, Roberto de Canallejas, revelando- se:

(...) um homem jovem, deixando ver barba preta, curta terminada em ponta, no queixo, bigodes cheios de cabelos espessos e volumosos, pen-teados para o alto, formando a cabe-leira clássica dos elegantes do sécu-lo xIx, mãos finas e aristocráticas, e trajos masculinos antigos, porém um tanto leves, como que vaporosos.2

Tomada de profunda emoção, Yvonne ouviu daquele espírito as seguintes palavras, fortes o suficien-te para permanecerem gravadas na acústica de sua alma durante o correr dos anos:

– Não chores, minha querida, eu agora estou bem, renovado para Deus e resignado à Sua lei... Quero pedir-te que me perdoes o muito que te tenho feito sofrer com a minha insistência an-gustiosa a teu lado. Não penses que foi vingança... Foi apenas saudade de um passado que me foi caríssimo... Devo avisar-te de que obtive concessão para trabalhar contigo, a bem do próxi-mo, como tanto desejei outrora... Sou médico e trabalharei na minha antiga profissão, agora, por teu intermédio... Também exercerei atividades em tor-no do socorro a suicidas. Eu, que fui um desses, valho-me de ti, que tanto amei, para agora socorrê-los. E tu me ajudarás, já que também o foste.3

Depois daquele dia, o espírito Ro-berto de Canallejas a acompanharia, juntamente com outros espíritos ami-gos, na abençoada tarefa de auxílio aos trânsfugas da vida.

1. aTENDIMENTo a SUICIDaS

Em toda a sua vida de médium, Yvonne do Amaral Pereira dedicou boa parcela do seu tempo ao aten-dimento a espíritos suicidas. Dizia mesmo que os amava, naturalmente por compreender a extensão das suas dores, dos seus sofrimentos. Aliás, ela fala um pouco desses sofrimentos no artigo “O Estranho Mundo dos Sui-cidas”, que podemos encontrar nas páginas do livro À Luz do Consolador. Acompanhemos algumas observa-ções suas:

Durante nosso longo tirocínio me-diúnico, temos tratado com numero-sos Espíritos de suicidas, e todos eles

se revelam e se confessam superlati-vamente desgraçados no Além-Túmu-lo, lamentando o momento em que sucumbiram. Certamente que não haverá regra geral para a situação dos suicidas. A situação de um desencar-nado, como também de um suicida, dependerá até mesmo do gênero de vida que ele levou na Terra, do seu caráter pessoal, das ações praticadas antes de morrer.4

Adiante, ainda falando sobre as dores dos suicidas, dores que são consequência natural do ato que pra-ticam e não castigo de Deus, Yvonne esclarece:

Num suicídio violento, como, por exemplo, os ocasionados sob as rodas de um trem de ferro ou outro qualquer veículo, por uma queda de grande altura, pelo fogo, etc., neces-sariamente haverá traumatismo peris-piritual e mental muito mais intenso e doloroso que nos demais. Mas a terrível situação de todos eles se es-tenderá por uma rede de complexos desorientadores, implicando novas reencarnações que poderão produ-zir até mesmo enfermidades insolú-veis, como a paralisia e a epilepsia, descontroles do sistema nervoso, re-tardamento mental, etc. Um tiro no ouvido, por exemplo, segundo infor-mações dos próprios Espíritos de sui-cidas, em alguns casos poderá arras-tar à surdez em encarnação posterior; no coração, arrastará a enfermidades indefiníveis no próprio órgão, con-sequência essa que infelicitará toda uma existência, atormentando-a por indisposições e desequilíbrios insolú-veis.5

Dos muitos espíritos suicidas que socorreu, em situações tão lamen-táveis quanto as descritas no trecho acima, podemos destacar o caso de um operário alemão, residente da ci-

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capa

dade de Petrópolis, que cometera sui-cídio devido a dificuldades financei-ras. Chamava-se Wilhelm, tinha sido o construtor da casa em que ela se hospedara e tirara a própria vida, dez anos antes daquele 1935, com um tiro no coração.

Desde a primeira noite na casa, Yvonne não conseguiu conciliar o sono. Ruídos, pancadas e agitação perturbaram sua paz por completo. O suceder dos dias mais agravou o qua-dro, quando ela, atraída para o sótão, lá identificou a presença do espírito enfermo, que sofria o triste espetácu-lo da recordação cíclica do suicídio, passando por todas as angústias do momento trágico.

Impregnada por energias tão den-sas, Yvonne foi, aos poucos, perden-do a saúde, e, se não fosse a inter-venção dos espíritos, em especial de Charles e de Camilo Castelo Branco, talvez tivesse enlouquecido e mesmo desencarnado.

Diariamente, envolvia aquele sui-cida em preces amorosas, promoven-do o seu esclarecimento, conforme recomendação dos guias, através das páginas consoladoras de O Evangelho Segundo o Espiritismo. No entanto, compreendia que seria necessário, talvez, socorrê-lo diretamente, atra-vés da psicofonia, e, para isso, ne-cessitava do concurso de um centro espírita.

Buscou, assim, uma casa da cida-de, mas encontrou duas dificuldades: a desconfiança dos trabalhadores da mesma, que não a conheciam, e a distância da instituição, que ficava bem afastada do bairro em que resi-dia.

Sem opção, restou a ela assistir o espírito com os recursos de que dis-punha. Viveu, juntamente com ele, aquelas dores; compartilhou dos seus

infortúnios; envolveu-o nas vibrações harmoniosas da prece; amou-o como a um filho querido ao coração.

Dias antes de se retirar de Petró-polis, o suicida foi retirado da casa e levado para o refazimento em para-gens espirituais. Já havia transcorrido um ano em que ela se vira mergulha-da em atendimento tão delicado.

O caso em apreço é um detalhe dos testemunhos que necessitavas apresentar à lei de reparações de deli-tos passados, testemunho de fé, tu que faliste pela falta de fé em ti mesma e no poder de Deus. Assim ligada a ti pelas correntes afins humanizadas, a entidade suicida adquiriu condições para se reanimar e perceber o que se tornava necessário à melhora do pró-prio estado, revigorando-se vibratoria-mente para se desvencilhar do torpor em que se deixava envolver.

E, um pouco mais à frente: Cumprias dever sagrado, reabilita-

vas tua consciência, servias ao Divino Mestre servindo à sombra da lei da fra-ternidade, que nos aconselha proce-der com os outros como desejaríamos que os outros procedessem conosco.�

*

Outro caso que comove pela sin-gularidade é o de Carmelita, uma jo-vem de vinte anos que viveu as agru-ras do amor não correspondido.

Vivendo numa cidade do interior de Minas em que a própria Yvonne residiu, Carmelita “era gentil e mimo-sa, com aqueles cabelos louros bem tratados e os olhos luminosos de um puro azul celeste”.6 Desejando casar- se, encontrou um pretendente que a cobriu de encantos e quis levá-la ao altar. Pouco antes do casamento, po-rém, o noivo fugiu da cidade, sem dar notícias, deixando a pobre moça in-consolável, sofrendo a zombaria dos irmãos, que não perdoavam o seu fracasso. Apesar de tudo, Carmelita reabilitou- se, encontrando amparo em uma instituição espírita da cidade, em que o Evangelho vinha balsamizar as feridas do seu coração.

Outro amor, contudo, surgiu na sua vida, e ela entregou-se de corpo e alma a ele, chegando, mesmo, a distanciar- se das atividades espiritu-ais. No entanto, de casamento mar-cado, nova decepção se desenhou no horizonte do seu destino: o pai do noivo o ameaçou, prometendo deser-dá-lo caso ele casasse com ela, que era moça pobre, de condição social inferior.

Carmelita não suportou esse se-gundo golpe. Atormentada pelos ir-mãos, curtindo o amargo sabor da rejeição e esquecida das lições de amor do Evangelho, ela sorveu um terrível veneno, uma mistura de soda cáustica com iodo. Acamada por dois meses, durante os quais expelia, em crises de vômito, até mesmo fragmen-tos do estômago e da garganta, Car-melita encontrou a face fria da morte. Tristemente, o suicídio se consumara.

Ao escrever as páginas do livro Recordações da Mediunidade, o

espírito Charles, seu amado guia, deu-lhe algumas explicações

sobre aquele caso, das quais destacamos

os seguintes trechos:

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capa

Acionada pelo espírito padre Ví-tor, Yvonne, seis meses depois do ocorrido, foi prestar socorro a Car-melita, que se encontrava presa aos despojos carnais. Falou-lhe com o coração sobre a necessidade de refa-zimento, mas a moça não conseguiu desembaraçar- se.

Dez anos depois, comunicando- se no grupo mediúnico, Carmelita se mostrava arrependida, prometendo que de tudo faria pela própria reabili-tação. Admitia a loucura que a domi-nara, dizendo que o amor que tanto buscava estava no Além, a esperá-la, e que o suicídio apenas aumentara, em um século, a distância entre os dois.

Depois daquele dia, Yvonne nun-ca mais deixaria de orar por ela, ro-gando a Deus atendesse às suas ne-cessidades evolutivas.

Carmelita se suicidara em 1938. Trinta e oito anos depois, ou seja, nos primeiros dias de maio de 1976, Yvonne foi surpreendida pela sua pre-sença espiritual. Vinha despedir-se da amiga de outrora e de sempre, afir-mando que reencarnaria, em breve, para expiar suas faltas.

E, em tom de despedida, Carme-lita afirmava, melancólica e decidida:

– Adeus, minha boa amiga! Obri-gada pelas suas preces tão perseve-rantes. Somente agora encontro-me em condições para resistir às prova-ções que me esperam. Sofrerei in-tensamente. Mas é preciso que seja assim, a meu próprio benefício. Não me esqueça em suas orações. Outro corpo foi-me concedido pela bonda-de de Deus...7

*

Por último, vale a pena transcrever informações prestadas pela própria Yvonne, numa entrevista publica-

da no extinto periódico Obreiros do Bem, de maio de 1975. No seu modo muito peculiar, ela narra um atendi-mento curioso que realizara, fora do corpo físico e com a ajuda do Dr. Be-zerra de Menezes, com nuances que confessa não ter compreendido muito bem. Acompanhemos:

Eu havia lido no jornal o suicídio duma moça de dezessete anos, ocor-rido na estação Deodoro. A moça chamava-se Jurema, nome que ainda mantenho em meu caderno de pre-ces, após mais ou menos 20 anos. Essa moça, arrimo de família, por di-ficuldades da vida, atirou-se na frente de um comboio, na referida estação. Condoí-me profundamente, tomei- lhe o nome e principiei a orar. Uns dois meses depois, fui convidada pelo Dr. Bezerra (nada os Guias Espirituais nos impõem...) e, em corpo astral, vi-me na estação de Deodoro, como se es-perasse o trem entrar. Sobre a linha pude ver um vulto branco, uma es-pécie de forma humana, que estava como se fora uma massa sem ossos, algo muito esquisito, que não posso bem precisar. A moça, que reconhe-ci ser Jurema, estava mais afastada, já desencarnada, é claro, segura por dois Espíritos, e em gritos, desesperada... Quando o trem parasse, fui instruída a atirar-me na frente dele para retirar aquela massa, aquele volume, e atirar sobre a moça. Foi o que fiz: quando o trem chegou, lancei- me à sua frente, tomei daquele vulto e atirei-o sobre ela. Recordo-me ainda não se tratar de composição elétrica, porque senti perfeitamente a quentura da máqui-na em meu corpo, e acordei banhada em suor. Antes, porém, quando lancei sobre Jurema aquela massa, ela emi-tiu um grito, desesperada, e desmaiou. Nada mais eu pude ver, senão que os Espíritos, orientados pelo Dr. Bezerra,

recolheram-na nos braços e afasta-ram-se. O que foi que peguei, não o sei; até hoje não posso explicar esse fenômeno. Sei apenas que aconteceu um caso desses com Chico Xavier, que teve de mergulhar numa lagoa, tirar esse tal volume, que estava ao lado de uma ossada, trazê-lo à superfície e lançá-lo sobre o Espírito que estava em ânsias. Calculo que isso seja ener-gia vital, é só o que posso dizer.

2. a REENCaRNaÇÃo DE UM SUICIDa ILUSTRE

Yvonne Pereira via o espírito Ca-milo Castelo Branco desde os seus doze anos, embora não soubesse de quem se tratava. Era um espírito que dela se aproximava na companhia de Roberto e Charles, que foram seus orientadores no Hospital Maria de Nazaré, instituição espiritual dedica-da ao atendimento de suicidas que acolheu o conhecido escritor na vida de�além-túmulo. Charles está escon-dido, nas atividades daquele hospital, sob o nome Ramiro de Guzman.

No livro Memórias de um Suicida, podemos acompanhar toda a trajetó-ria desse espírito após o suicídio, co-metido no dia 1º de junho de 1890. As agruras do vale sinistro, o labor da Legião dos Servos de Maria, o pro-cesso de reajustes conscienciais de um suicida, o trabalho de socorro em grupos mediúnicos, os estudos e reflexões a que se entrega o espírito suicida no intuito de reeducar-se para os verdadeiros valores da vida � todas essas lições estão registradas nas pági-nas desse importante tratado.

Através das eloquentes memórias desse espírito que, quando encar-nado, empolgou a sociedade de sua época com seu estilo inconfundível, estilo que, até os dias atuais, ain-da prende e encanta o leitor atento,

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vamos anotar a sua revelação sobre uma próxima reencarnação. Sim, Ca-milo tinha necessidade de reencarnar para, mergulhado no esquecimento, tentar reparar o imenso mal causado a si mesmo com a fuga da realidade.

Aliás, um dos mais significativos �remédios evolutivos, não apenas para espíritos suicidas, como para to-dos os que necessitam de reajustes, será a reencarnação. Reencarnar é catalisar a evolução do espírito, per-mitindo-lhe, no contato com o mun-do físico, acelerar o seu processo de amadurecimento espiritual.

Foi a iminência dessa reencarna-ção que impediu o escritor desen-carnado, inclusive, de levar à frente o trabalho de organização e revisão do Memórias de um Suicida para sua posterior publicação. A revisão, a pro-pósito, somente foi realizada um ano após a publicação da primeira edição da obra, ou seja, em 1957, pelo espí-rito Léon Denis.

Depois de um longo tirocínio de aprendizado espiritual, realizado en-tre o hospital e a universidade espiri-tuais a que se vinculara durante cerca de quarenta anos, Camilo sentiu, em seu coração, a necessidade de reen-carnar. E como seria essa nova encar-nação?

Segundo suas próprias informa-ções, nessa nova existência, ele deve-ria ser médium curador, em face dos serviços prestados no Hospital Maria de Nazaré na tarefa junto às enferma-rias.9

Além disso, conforme as palavras de Yvonne, Camilo veio despedir-se dela, acusando a reencarnação, em fevereiro de 1948; e, segundo ela mesma afirma, o escritor português regressaria à sua Portugal de outro-ra. Sabe- se, ainda, que, aos quarenta anos de idade, ficaria irremediavel-mente cego, revivendo as duras pro-vações que o arrastaram para o sui-cídio e que, depois disso, mais vinte anos amargaria na vida física, vindo encontrar a desencarnação aos ses-senta anos. Estando certa a estimativa de datas, isso seria no ano de 2008.

Certo é, realmente, que a reencar-nação do ilustre suicida se efetivou, para seu benefício e dos que o amam. Embora levasse o seu mundo de in-certezas quanto aos sucessos da nova empreitada, Camilo Castelo Branco guardava a esperança de dias melho-res:

(...) meus instrutores advertiram- me de que levarei sólidos elementos de vitória adquiridos no longo estágio reeducativo, e que por isso mesmo será bem pouco provável que a mi-nha vontade se corrompa ao ponto de me arrastar a maiores e mais gra-ves responsabilidades.10

Quem sabe se ele mesmo, agora reencarnado, não pôde compulsar as

páginas do seu portentoso tratado, re-vivendo na intimidade do ser aquele aprendizado sublime? Quem sabe se, agora cego, não leva consigo a paz de consciência, verdadeira consolação para aqueles que choram?

É certo que, se ainda encarnado, seus olhos não poderão tocar as letras que essas páginas reúnem. Contudo, talvez escute, dos lábios de alguém, essas breves anotações a seu respeito. Se isso acontecer, caro amigo, gosta-ria de trazer para aqui aquelas frases que, ao final do Memórias de um Sui-cida, murmuravas de si para consigo mesmo, antevendo a redenção que o aguardava:

– Coragem, peregrino do pecado! Volta ao ponto de partida e reconstrói o teu destino e virtualiza o teu caráter aos embates remissores da Dor Educa-dora! Sofre e chora resignado, porque tuas lágrimas serão o manancial ben-dito onde se irá dessedentar tua cons-ciência sequiosa de paz! Deixa que teus pés sangrem entre os cardos e as arestas dos infortúnios das reparações terrenas; que tuas horas se envolvam no negro manto das desilusões, calca-das de angústias e solidão! Mas tem paciência e sê humilde, lembrando-te de que tudo isso é passageiro, tende a se modificar com o teu reajustamen-to nas sagradas leis que infringistes... e aprende, de uma vez para sempre, que – és imortal e que não será pe-los desvios temerários do suicídio que a criatura humana encontrará o porto da verdadeira felicidade...11

3. SaLVaNDo VIDaS

Yvonne do Amaral Pereira desen-carnou em 9 de março de 1984, vítima de complicações cardíacas. Contudo, somente o seu corpo foi encontrar a solidão do sepulcro, porque ela, es-pírito livre, mais ganhou em lucidez e

capa

Com base nas observações feitas por

Yvonne Pereira em uma entrevista que permanece inédita8

e de informações do próprio livro

Memórias de um Suicida, podemos

levantar dados aproximados da reencarnação do

escritor português.

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mobilidade para empregar suas forças em favor das almas sofridas.

Profundamente vinculada à valori-zação da vida e à prevenção do sui-cídio, temos notícias que revelam sua intensa atividade, no além, em torno desse ideal. Aqui, trazemos três fatos que merecem, de nós, uma atenção especial.

*

Era madrugada na praça Maciel Pinheiro, no centro do Recife.12

Ali, sentado num banco tosco, um pai de família contemplava sua es-posa e casal de filhos, dormindo ao relento, cobertos com pedaços de pa-nos e jornais velhos.

Há mais de dois meses lançado àquelas condições deploráveis, lem-brava-se de que viviam em paz, no interior do Maranhão, embora com dificuldades. Tinha sua pequena casa e sua banca de verduras, na feira, que vendera para aventurar uma promes-sa de emprego na capital pernambu-cana.

Contudo, apesar das promessas e das esperanças, a realidade não correspondeu às suas expectativas. O emprego não veio, as suas poucas economias foram gastas com um ho-tel modesto, os recursos lhe faltaram e apenas uma solução se desenhou para ele e sua família: pedir esmolas.

Não que quisesse levar uma vida de facilidades, não mesmo. Era pes-soa honesta, trabalhador sincero, apenas desejando um emprego e o sustento digno. Mas as oportunidades não lhe acenavam, generosas; antes, o desprezo e a indiferença vinham abraçá-lo, transmitindo grande des-gosto.

Diante de tanta humilhação, de tanto sofrimento, às duas da ma-drugada daquele dia 08 de julho de

1989, ruminava o desejo de retirar a própria vida, quando viu sentar-se, ao seu lado, uma senhora de meia- idade. Amorosa, ela passou a mão em sua cabeça, perguntando por que ele alimentava desejos tão sinistros, advertindo-o dos perigos de pensa-mentos tão infelizes. �De repente, olhando para ela, estava com sua face muito feliz – aquela felicidade me fez muito bem dentro do meu coração –, registraria, dentro da sua simplicida-de, aquele pobre homem, em carta que ficaria para a posteridade.

Disse ela, então, que se chamava Yvonne do Amaral Pereira e que seus sofrimentos iriam acabar. Forneceu- lhe o nome da Sra. Ângela Borba Sales Rangel, então 2ª tesoureira do recém- fundado Centro Espírita Yvon-ne Pereira, do qual se falará mais adiante, juntamente com o endereço da aludida instituição, na cidade na-tal de Yvonne, Rio das Flores, Estado do Rio de Janeiro. Recomendou-lhe escrevesse para lá, pois a ajuda não tardaria.

E assim se fez. Chegada a carta ao seu destino, a

Sra. Ângela, que apenas emprestara o seu nome à composição da diretoria do centro, sem qualquer familiarida-de com fenômenos mediúnicos, foi tomada de grande emoção frente ao chamamento recebido do Alto.

Aquele homem pôde, enfim, vol-tar para a sua cidade de origem, livre do suicídio, com a sua família. E a Sra. Ângela Borba, depois daquele dia, se tornaria evangelizadora e expositora espírita.

*

Aquele final de semana parecia igual a todos os outros.13

Atendendo às tarefas de rotina, Augusto Marques de Freitas, à frente

da Livraria Espírita Yvonne Pereira, na cidade de Valença, também no Es-tado do Rio, organizava seus livros e apetrechos.

Às 9h30min. daquele sábado, 18 de julho de 1998, um senhor aparen-tando cinquenta anos parou à porta da livraria, ladeado por sua filha. Am-bos olhavam os livros, até deterem-se num volume que ostentava um título sugestivo: Enxugando Lágrimas, psi-cografia de Francisco Cândido xavier.

Vendo o volume na prateleira, a menina, então, apontou-o ao pai, que o reconheceu como sendo a obra que uma senhora lhe havia indicado em sonho. A ele que, lidando com algu-mas dificuldades, encontrava-se aba-tido, pensando mesmo em suicídio. A senhora do sonho o havia advertido contrariamente à prática do ato, indi-cando-lhe a leitura do livro que tinha, agora, diante dos olhos.

Antes que Augusto M. Freitas, já com mil ideias a bailar em sua mente, tentasse esboçar qualquer comentá-rio, o homem viu um quadro na pare-de e o apontou para a filha, reconhe-cendo, no retrato, a senhora do seu sonho.

Era a foto de Yvonne do Amaral Pereira.

*

Na noite do dia 24 de dezembro de 2002, estive realizando uma pales-tra doutrinária em determinado cen-tro espírita de Salvador, Bahia. Nessa casa, conheço uma médium, a quem chamarei de Helena, de excelentes qualidades e atestada idoneidade, que, no final da exposição doutriná-ria, chamou-me a um canto e relatou- me o seguinte:

Naquela noite, Helena tinha inte-resse em ir ao centro, mas um con-gestionamento no trânsito ia minando

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sua vontade, quando o seu guia es-piritual surgiu, dizendo ser imprescin-dível sua presença na casa espírita. Chegando lá após o início da palestra e ignorando minha presença, ela en-controu uma senhora, de nome Mari-lu, que estava à sua procura, com um ar tenebroso, olhos vagos, necessita-da de falar. Entraram na sala de aten-dimento fraterno para a conversa.

Enquanto conversavam, a médium passou a ver uma massa negro-cinzenta desprendendo-se da cabeça e do peito da mulher, como se a estivesse liberan-do de uma asfixia. De repente, duas mãos surgiram, uma sendo colocada no peito de Marilu e a outra no seu peito, como se estivessem unindo os dois corações. A partir desse momento, a pobre mulher começou a chorar con-vulsivamente, revelando que saiu de casa com o intuito de se jogar debaixo do primeiro carro que encontrasse pela frente e que, sem saber como, chegara até o centro espírita.

Quanto mais Marilu chorava, mais Helena sentia um fluxo inten-so de energias desprendendo-se do seu peito de encontro ao da mulher; e esta, depois de quarenta minutos de atendimento, sentiu-se completa-mente renovada, como se nada tives-se acontecido.

No instante em que a mulher sorriu, revelando que já estava melhor, Helena viu as duas mãos irem, aos poucos, to-mando forma... e foi a figura de Yvonne do Amaral Pereira que se desenhou à sua vidência, num lindo e inesquecível fenômeno mediúnico! O espírito sor-riu, depositou um beijo em um e outro rosto e desapareceu...

Tempos depois, eu e Helena torna-mos a nos encontrar, e esta me disse que Marilu já estava bem mais renova-da, buscando dar prosseguimento à sua vida, marcada por duras provações.

1. PEREIRA, Yvonne A. À Luz do Consola-

dor, 2ª ed., Rio de Janeiro, FEB, 1997,

p. 48.

2. PEREIRA, YVONNE A. Recordações da

Mediunidade, 7ª ed., Rio de Janeiro,

FEB, 1992, p. 91.

3. Idem, p. 91.

4. PEREIRA, YVONNE A. À luz do Con-

solador, 2 ed., Rio de Janeiro, FEB,

1997,p.48.

5. Idem, p. 49.

6. PEREIRA, YVONNE A. Cânticos do Co-

ração – II, Rio de Janeiro, CELD, 1994,

p. 50.

7. PEREIRA, YVONNE A. Cânticos do Co-

ração – lI, Rio de Janeiro, CELD, 1994,

p. 45.

8. CAMILO, PEDRO (Organizador). En-

trevistas de Yvonne Pereira. 2006. (Ain-

da no prelo, a obra será publicada pela

Lachâtre).

9. PEREIRA, YVONNE A. Memórias de

um Suicida, 2ª ed., Rio de Janeiro, FEB,

1958, p. 546.

10. Idem, p. 556.

11. Idem, pp. 567-568.

12. FREITAS, AUGUSTO M. Yvonne do

Amaral Pereira – O Vôo de uma Alma,

Rio de Janeiro, CELD, 999, pp. 174-184.

13. FREITAS, AUGUSTO MARQUES DE.

Da Curiosidade à Renovação Social, Rio

de Janeiro, CELD, 2003, pp. 207-2 12.

Fonte:

CAMILO, Pedro. Yvonne Pereira. Uma Heroína Silenciosa. Págs. 75-89. La-châtre. 2010.

Era, mais uma vez, a bondade di-vina, manifestada na intervenção es-piritual de Yvonne Pereira, que vinha resgatar mais uma alma dos estreitos labirintos do suicídio... u

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ensinamento

a EVoLUÇÃo

Como o carvalho que guarda em si os sinais de seus desenvolvimentos anuais, assim também o perispírito conserva, sob suas aparências presen-tes, os vestígios das vidas anteriores, dos estados sucessivamente percor-ridos. Esses vestígios repousam em nós muitas vezes esquecidos; porém, desde que a alma os evoca, desperta a sua recordação, eles reaparecem, com outras tantas testemunhas, balizando a caminho longa e penosamente per-corrido.

Os Espíritos atrasados têm envol-tórios impregnados de fluidos mate-riais. Sentem ainda depois da morte as impressões e as necessidades da vida terrestre. A fome, o frio e a dor subsistem entre aqueles que são mais grosseiros. Seu organismo fluídico, obscurecido pelas paixões, só pode vibrar fracamente, e, portanto, suas percepções são mais restritas. Nada sabem da vida do espaço. Em si e ao seu redor tudo são trevas.

A alma pura, livre das atrações bes-tiais, conforme um perispírito seme-lhante a si própria. Quanto mais sutil for esse perispírito, tanto maior força expenderá, tanto mais se dilatarão suas percepções. Participa de meios de existência de que apenas podemos fazer uma idéia; inebria-se dos gozos da vida superior, das magníficas har-monias do infinito. Tal é a tarefa e a recompensa do Espírito humano. Por seus longos trabalhos, ele deve criar por si novos sentidos, de uma deli-cadeza e de uma força sem limites, domar as paixões brutais, transformar esse espesso invólucro numa forma diáfana, resplandecente de luz; eis a obra destinada a todos em geral, e em que todos necessitam prosseguir, atra-vés de degraus inumeráveis, na pers-pectiva maravilhosa que os mundos oferecem. u

PERISPIRITUaL por léon deniS

Fonte:

DENIS, Léon. Depois da Morte. Págs. 239 – 240. Feb. 2009.

As relações seculares entre os Espíritos e os homens, confirmadas, explicadas

pelas recentes experiências do Espiri-tismo, demonstram a sobrevivência do ser sob uma forma fluídica mais per-feita.

Essa forma indestrutível, compa-nheira e serva da alma, testemunho de suas lutas e de seus sofrimentos, participa de suas peregrinações, eleva- se e purifica-se com ela. Gerado nos últimos degraus da animalidade, o ser perispiritual sobe lentamente a esca-la das espécies, impregnando-se dos instintos das feras, das astúcias dos felinos, e também das qualidades, das tendências generosas dos animais su-periores. Até então mais não é que um ser rudimentar, um esboço incomple-to. Chegando à Humanidade, come-ça a ter sentimentos mais elevados; o Espírito irradia com maior vigor e o perispírito ilumina-se com claridades novas. De vidas em vidas, à proporção que as faculdades se dilatam, que as aspirações se depuram, que o campo dos conhecimentos se alarga, ele se enriquece com sentidos novos. Como a borboleta que sai da crisálida, assim também o corpo espiritual desprende- se de seus andrajos de carne, sempre que uma encarnação termina. A alma, inteira e livre, retoma posse de si mes-ma e, considerando, em seu aspecto esplêndido ou miserável, o manto flu-ídico que a cobre, verifica seu próprio estado de adiantamento.

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neurologia

nal/ocupacional, os interesses vocacio-nais, o conhecimento de eventos coti-dianos, a cultura geral acumulada com a experiência.

Deteriora-se nas doenças neuropsi-quiátricas – como ocorre no Alzheimer e na Esquizofrenia.

aNaToMIa Da INTELIGêNCIa:

Os lobos frontais são os mais direta-mente envolvidos com a nossa ativida-de intelectual. Entretanto, demonstra- se que as áreas cerebrais relacionadas à Inteligência parecem estar distribuídas em todo o cérebro.

o DESENVoLVER Da INTELIGêNCIa:

Da criança ao adulto a Inteligência, representada pelas nossas diferentes capacidades cognitivas, evolui de modo distinto durante todo o ciclo vital – esse desenvolvimento não é uniforme e sua anatomia vai mudando com o passar do tempo.

HoMENS E MULHERES SÃo IGUaLMENTE INTELIGENTES:

Ambos têm a mesma performance nos testes neuropsicológicos. O que difere são as áreas cerebrais mobiliza-das por um e por outro e as estratégias que utilizam.

Sempre é bom lembrar que ao se comparar a Inteligência de um homem e a de uma mulher é preciso saber que tipo de problema estamos propondo resolver. Elas decidem melhor que restaurante vamos jantar, que cor terá as paredes da sala, qual a marca da geladeira, que esco-la matricular os meninos e até mesmo o quanto devemos dar de gorjeta.

a INTELIGêNCIa E o TEMPo:

Alguns aspectos da Inteligência não se modificam com o passar do Tem-po – É a Inteligência Cristalizada – cujos componentes são:

• As habilidades verbais• A informação sobre o uso da Lin-

guagem• As habilidades sociais

O envelhecimento corrói a Inteli-gência Fluida – cujas habilidades são:

• A velocidade de decisão• A eficiência da memória de trabalho• O desempenho em testes de Inte-

ligência Geral

o CaPITaL INTELECTUaL:

Nosso capital mental é representa-do pelas habilidades cognitivas, a flexi-bilidade na aprendizagem e a resiliên-cia frente aos estresses.

o CaPITaL Do BEM-ESTaR MENTaL:

O bem-estar mental relaciona-se a nossa capacidade de nos engajar de maneira positiva e produtiva na comu-nidade e desenvolvermos estratégias para desenvolver nosso potencial. u

a INTELIGêNCIa QUE o TEMPo CoRRóI

por nuBor orlando FaCure

Fonte:

O autor, Dr. Nubor Orlando Facure, espí-rita desde criança, especialista em Neu-rologia, diretor do Instituto do Cérebro de Campinas, ex-professor titular de Neuro-cirurgia da UNICAMP, pesquisador, es-critor e expositor espírita, é colaborador desta Revista.

o QUE é INTELIGêNCIa?

“É uma capacidade mental muito geral que, entre outras coisas, implica na habilidade para raciocinar, planejar, resolver problemas, pensar de manei-ra abstrata, e aprender da experiência. Não deve ser considerado um mero co-nhecimento enciclopédico, uma habili-dade acadêmica particular ou uma des-treza para resolver um teste. Entretanto, reflete uma capacidade mais ampla e profunda para compreender o ambien-te – perceber, dar sentido às coisas, ou imaginar o que deve ser feito”

TIPoS DE INTELIGêNCIa:

Na literatura leiga e especializada a Inteligência é melhor compreendida quando tentamos identificar os seus tipos – lógica, matemática, espacial, emocional, musical – para mim essa classificação está, na verdade, se refe-rindo a talentos.

Neurologicamente é mais fácil reco-nhecermos uma Inteligência Geral – li-gada diretamente a nossa sobrevivência e a Inteligência Específica – que se refe-rem a talentos especiais.

o faToR G:

Refere-se a nossa Inteligência Geral que está envolvida em tarefas simples e complexas do nosso cotidiano, como, por exemplo:

Destreza manual – colocar pontos dentro de uma série de triângulos dese-nhados numa folha de papel.

Fluência verbal – nomear animais que começam com a letra M, dar os si-nônimos de uma lista de palavras.

Correlaciona-se com o rendimento escolar, com o desempenho profissio-

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curiosa experiência

detendo ante uma janela iluminada, que me permitia olhar o interior.

Divisei ampla sala, quase um salão. Notei a pobreza de mobiliário. Um mó-vel tosco e pesado na parede ao fundo, uma mesa e alguns bancos ao redor dela.

Eram móveis grandes, de madeira maciça e sem lustro. E nada mais havia naquela sala. Nem quadros nas pare-des, nem vasos ou enfeites.

oBSERVaÇÃo:

Posteriormente, alguém me contou que, no interior do Brasil, ao tempo do império, as casas realmente não pos-suíam mobiliário como o conhecemos hoje. Os móveis eram poucos, de ma-deira, rústicos e pesados.

*

Então, eles me chamaram a aten-ção. Eram dois homens que me pa-receram tropeiros, de vestes rústicas e espécie de manto sobre as costas, tudo sem cores destacadas, apenas o aspecto de couro ou tecidos crus.

Estavam sentados, um de costas para a minha janela e o outro na pon-ta da mesa ao seu lado, de modo que

não me viam. Iluminava-os a luz de um lampião sobre a mesa.

Não sei reproduzir as palavras que diziam, mas entendi, amedrontada, que tramavam a chacina dos moradores.

Que fazer? Avisar aos moradores, é claro! Mas, para isso, teria de passar pelos homens, que certamente me ve-riam e eu também morreria.

Debati-me indecisa e, finalmente, decidi que fugiria, porque nada pode-ria fazer pelos infelizes moradores.

oBSERVaÇÃo:

A propósito, antevi ou lembrei, não sei bem, que o caminho para a fuga era apenas uma trilha rodeada de mato e me senti como uma mulher de época recuada, talvez o tempo do império no Brasil, mas em local afastado de cida-des. Naquele tempo e local, a mulher usava vestes compridas e pesadas, que dificultavam uma caminhada por aque-las trilhas e não dispunha de autonomia qualquer, para se aventurar sozinha pe-las estradas, nem teria ocupação em que ganhar seu sustento. Era uma situ-ação completamente diferente da que temos hoje em dia e em nossas cidades.

VoLTaNDo aoPaSSaDo

por therezinha oliveira

Não sendo médium propria-mente, é quando estou em emancipação parcial

do espírito em relação ao corpo que melhor consigo registrar fatos da vida além. Mais uma dessas experiências que obtive, enquanto o sono concedia repouso ao corpo, é o que desejo par-tilhar com você que me lê.

Era noite. À minha frente, uma casa com janela à esquerda e, à direi-ta, uma entrada em arco, por onde se adentrava ao interior.

E uma voz me disse: “Lembra? Mas ainda não era assim...”.

A casa pareceu passar por uma transformação que a envelhecia, mos-trando como deveria ser antes.

E a voz tornou a dizer: “Mas ainda não era assim...”.

A casa passou por nova e rápida metamorfose e, finalmente, apresen-tou-se muito antiquada, embora na mesma disposição de janela à esquer-da e entrada em arco.

Sem nada mais ouvir, aventurei-me a entrar. Atravessei aquela entrada e fui para o fim da construção, contor-nando-a sem encontrar abertura, e me

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FidelidadEspírita | Maio/2011

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curiosa experiência

*

Ainda no sonho tão vívido, lembrei que, naquela entrada da casa, havia umas gavetas na parede, em que eu guardara joias. Precisaria delas para custear minha fuga.

Fui para a entrada, tateei nas pa-redes em busca das gavetas, achei- as, abri e tomei as joias nas mãos. “Joias”?! Eram peças de três tipos de adorno, acho que colares, brincos e pulseiras. Porém, tão pobres e rústi-cas... As pulseiras, por exemplo, eram de ouro, sim, mas apenas uns fios deles, tendo por enfeite flores de um material escuro com pequenina pe-dra ao centro, que acreditei fosse um brilhante...

Tudo me parecia sem valor maior, porém, eu precisaria de qualquer coi-sa para me ajudar a fugir.

oBSERVaÇÃo:

Uma prima, a quem eu contara a experiência onírica que me impressio-nara, esteve em Ouro Preto e de lá me escreveu:

Vi joias parecidas com as que você me descreveu: “são artesanatos de es-cravos, as flores são de casca de coco, escurecida e recortada, e as pedrinhas são de vidro”.

Fonte:

OLIVEIRA, Therezinha. Coisas que Eu não Esqueci Porque me Ensinaram Mui-to. Págs. 97 – 103. Editora Allan Kardec. 2010.

*

E eu precisava fugir, senão, seria viti-mada pela chacina que estava sendo tra-mada contra todos os que ali moravam...

Quando, sem saber bem o que fa-zer, decidi pegar aquelas pobres joias e partir, ouviu-se um tumulto e uma cena ao fundo se fez visível para mim. Eram muitas pessoas, vestidas em roupas que me lembraram as túnicas gregas, porque deixavam um ombro à mostra, mas curtas e de tecido singelo. Pareceram-me pessoas escravizadas e era delas que vinha o clamor.

Por que clamavam? Era por cau-sa das minhas “joias”! Estavam sendo acusadas de as roubar ou precisariam delas e estavam sendo levadas embo-ra... Não entendi bem, mas pensava:

“Tenho direito a elas, são minhas!” E aquela multidão começou a vir

em minha direção e eu, atemorizada, sem saber o que fazer... Foi então, que, na semiescuridão, apareceu alguém, um homem de aparência bela e pre-sença poderosa, inspirando respeito. Ele estendeu um braço que se fez pa-rede intransponível, onde a multidão descontrolada foi detida.

E aquele alguém olhou para mim. Jamais esquecerei seu olhar, cheio de compreensão e firmeza. Olhou-me e

estendeu para mim sua mão, sem dizer palavra, mas eu entendi que era para nela eu depositar aquelas “joias”... Hesitei, hesitei... Olhava para aquelas pobres pessoas, sentia-me com direito às “joias”...

Ao fim, coloquei meus míseros va-lores na mão que se me estendia...

Tudo então desapareceu. Eu estava de volta à cena inicial. Fui deixando a casa e, atravessando o portãozinho da entrada, saí de lá.

*

Que me poderia ensinar esse sonho espírita, a vivência que tive no plano es-piritual, enquanto meu corpo dormia?

Especialmente, guardei a impres-são de que lá atrás, no passado, em outra encarnação, eu possa não ter agido com a coragem e desprendi-mento devidos.

E, também, que, quaisquer sejam os valores de que dispomos e nos parecem “nossos por direito”, são, em verdade, recursos que Deus nos confia para os empregarmos em benefício geral. u

curiosa experiência

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Maio/2011 | FidelidadESPíritAmaio/2011 | fidelidadesPíRiTA

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DIVaLDoDIÁLoGo CoM

por divaldo FranCo

diálogo

Fonte:

FRANCO, Divaldo. Diálogo com Trabalha-dores e Dirigentes Espíritas. U.S.E. 2001.

1.24 – CaRIDaDE – aÇÃo Do CENTRo ESPÍRITa

Pergunta: A caridade é a legenda maior das práticas espíritas. Na recicla-gem das terminologias, utiliza-se hoje: Assistência Social, Serviço Social Espí-rita e Serviço Assistencial Espírita, que variam desde a distribuição do pedaço de pão até assistência e tratamento de distúrbios psíquicos em hospitais es-píritas. Em sua opinião, Divaldo, essa tarefa seria da competência exclusiva do governo ou os Centros Espíritas e Instituições Espíritas devem também ocupar desse mister?

Divaldo: – No Brasil, onde os pro-blemas sócio-econômicos são graves, e desde que estamos promovendo o homem, libertando-o da ignorância, do egoísmo, do vício, é muito válido colaborarmos nessa obra que, por base e princípio, pertence ao gover-no, mas que, por extensão, pertence- nos a todos, porquanto afetando aos

nossos irmãos, afeta-nos a cada um e a todos coletivamente. É muito válido que a Casa Espírita exerça a caridade e, numa das suas ramificações, rece-ba a abrangência do Serviço Social, da Assistência Social, sem que o Serviço Social e a Assistência Social anulem a caridade moral e espiritual, uma vez que o Serviço Social promove o homem, reintegra-o na comunidade, todavia a caridade, do ponto de vista espírita, liberta o homem, ilumina-o, salva-o. Que não façamos a inversão de valores como muitas Instituições em que, a pretexto do serviço de aju-da ao próximo, abandonam as ativida-des espíritas. E onde os seus diretores ficam tão preocupados em arranjar pão, comida, vestuário, que se esque-cem da diretiva de libertar as almas espiritualmente, engajados que estão no assistencialismo. Não deveremos colocar a Doutrina à margem, diante da Assistência Social, porque o serviço

ao nosso próximo será uma decorrên-cia da nossa iluminação espiritista.

A divulgação da Doutrina tem regi-me prioritário, porquanto a carida-de é uma conseqüência dessa nossa transformação. Encontramos muitos companheiros cansados desse serviço e, por conseguinte, nervosos, desequi-librados, irritados, queixosos... Estão dando coisas, mas não estão dando o essencial, que é a paz, porque estão sem ela.

A Doutrina nos dá a paz necessária para promovermos a paz. Deveremos trabalhar no Serviço Social, na Assis-tência Social, mas não faltemos com a caridade espiritual para nós mesmos, nem para aqueles que freqüentam as nossas casas. Em tudo, o equilíbrio – como diz o próprio Codificador. u

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FidelidadEspírita | Maio/2011

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com todas as letras

por eduardo martinS

Fonte:

MARTINS, Eduardo. Com Todas as Le-tras. Pág. 91. Editora Moderna. 1999.

aNUNCIE QUE éMEIo-DIa

A meia-noite e a zero hora equi-valem-se. Mas é importante você fixar a diferença: a meia-noite pertence ao dia que está terminando e a zero hora (como o próprio nome diz) refe-re-se ao dia que está começando. As-sim, por exemplo, o horário de verão começa à zero hora de um dia e termi-na à meia-noite de outro.

NÃo PaSSE DE 24 HoRaS

Uma coisa você deve lembrar sem-pre: o dia só tem 24 horas. Então, nun-ca diga ou escreva 24 horas e 15 minu-tos ou 24 horas e 45 minutos.

Finalmente, só falta você saber como se apresentam as horas e mi-nutos. É importante que a abreviatura (h) não tem ponto nem plural nem maiúscula. Veja os exemplos: 5h, 16h, 15 min, 16h45min, 22h35min, 18h36min12seg. Os jornais em ge-ral dispensam a última abreviatura: 16h45, 18h36min12 (está sempre su-bentendida a última unidade). Só não use a forma inglesa: 21:00, 14:16, etc. Nem represente a palavra erradamen-te, como “8hs.” ou “22 hrs.”. u

E MEIaPara assinalar as 12 horas e

30 minutos, como você diz: meio-dia e meio ou meio-

-dia e meia? Você está certo se es-colheu a segunda opção. E sabe por quê? Porque na expressão está suben-tendida a palavra hora. Assim, a frase completa seria meio-dia e meia hora. O vocábulo hora, porém, é indispen-sável nesse caso.

E a concordância, você sabe como fazer? meio-dia mantém o verbo no singular, mesmo que ele seja comple-mentado por algum outro valor: Já é meio-dia e meia, já é meio-dia e 15 (minutos), já passa de meio-dia e 40. Ou seja, nunca use a forma verbal são com meio-dia.

O mesmo acontece com 1 hora. Por isso: Já é (e nunca já “são”) 1 hora. / Já é 1 hora e 30 minutos. / Já deu 1 hora e 45 no relógio da igreja.

Mais uma coisa que você não pode esquecer sobre as horas é que elas exigem artigo em construções como as que seguem: Ele chegará entre as 2 e as 4 horas. / Ouço o noticiário da TV entre o meio-dia e a 1 hora. / O Jornal Nacional começa às 20 horas. / Estou no serviço sempre a partir das 9 horas. / Muitos têm medo da meia-noite da sexta-feira.

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Maio/2011 | FidelidadESPíritA

ssine: (19) 32

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mensagem

GUaRDEMoS o

ENSINo “Ponde vós estas palavras em vossos ouvidos.” – Jesus.

(Lucas, 9:44.)

Muitos escutam a palavra do Cris-to, entretanto, muito poucos são os que colocam a lição nos ouvidos.

Não se trata de registrar meros vo-cábulos e sim fixar apontamentos que devem palpitar no livro do coração.

Não se reportava Jesus à letra mor-ta, mas ao verbo criador.

Os círculos doutrinários do Cristia-nismo estão repletos de aprendizes que não sabem atender a esse apelo. Com-parecem às atividades espirituais, sinto-nizando a mente com todas as inquie-tações inferiores, menos com o Espírito do Cristo. Dobram joelhos, repetem fórmulas verbalistas, concentram-se em si mesmos, todavia, no fundo, atuam em esfera distante do serviço justo.

A maioria não pretende ouvir o Se-nhor e, sim, falar ao Senhor, qual se Jesus desempenhasse simples função de pajem subordinado aos caprichos de cada um.

São alunos que procuram sub-verter a ordem escolar. Pronunciam longas orações, gritam protestos, ali-nhavam promessas que não podem cumprir.

Não estimam ensinamentos. For-mulam imposições. E, à maneira de loucos, buscam agir em nome do Cristo.

Os resultados não se fazem espe-rar. O fracasso e a desilusão, a esterili-dade e a dor vão chegando devagari-nho, acordando a alma dormente para as realidades eternas.

Não poucos se revoltam, desen-cantados...

Não se queixem, contudo, senão de si mesmos.

“Ponde minhas palavras em vossos ouvidos”, disse Jesus.

O próprio vento possui uma dire-ção. Teria, pois, o Divino Mestre trans-mitido alguma lição, ao acaso? u

Emmanuel/Chico XavierVinha de Luz

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R. Dr. Luís Silvério, 120Vl. Marieta – Campinas/SP(19) 3233-5596

Ônibus: Vila Marieta nr. 348*Ponto da Benjamim Constant em frente à biblioteca municipal.

Conheça nossas atividades e participe.

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1º Ano: Curso de Iniciaçãoao Espiritismo com aulas eprojeção de filmes (em telão)alusivos aos temas. Duração1 ano com uma aula por semana. 2ª Feira 20h00 – 21h30 05/03/2012

1º Ano: Curso de Iniciaçãoao Espiritismo com aulas eprojeção de filmes (em telão)alusivos aos temas. Duração1 ano com uma aula por semana. sábado 16h00 – 17h00 03/03/2012

1º Ano: Curso de Iniciaçãoao Espiritismo com aulas eprojeção de filmes (em telão)alusivos aos temas. Duração1 ano com uma aula por semana. domingo 10h00 – 11h00 04/03/2012

2º Ano 3ª Feira 20h00 – 22h00 07/02/2012 Restrito

2º Ano Domingo 09h00 – 11h00 05/02/2012 Restrito

3º Ano 2ª Feira 20h00 – 22h00 06/02/2012 Restrito

3º Ano Domingo 9h00 – 11h00 05/02/2012 Restrito

Evangelização da Infância Domingo 10h00 – 11h00 Fev / Nov Aberto ao público

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Atendimento ao público

Assistência Espiritual: Passes 2ª Feira 20h00 – 20h40 ininterrupto Aberto ao público

Assistência Espiritual: Passes 3ª Feira 20h00 – 20h40 ininterrupto Aberto ao público

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