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[/Zce.nte. Vidzl&ò dz Ãvlla · For isso apesar3 das "gozações" a que tem submetido certos autores e in-certos leitores 3 o nosso mundo de hoje não conseguiu deixar de filosofar

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[/Zce.nte. Vidzl&ò dz Ãvlla

L I B E R D A D E E SEUS C O N D I C I O N A M E N T O S

H I S T Ó R I C O - S O C I A I S

E D I T O R A V i ? 0 L U T A D O R

1971

C A P A : Max VlgatlKzdo ?ofit&ò

E D I T Ô R A O L U T A D O R

R . I r . C e l e s t e , 185

C a i x a P o s t a l 2428

BELO H O R I Z O N T E - M G

LIBERDADE E SEUS CONDICIONAMENTOS HISTÕRICO-SOCIAIS

C o l e ç ã o F I L O S O F I A H O J E - V o L

direção: Pe. Paschoal Rangel

Obva publicada em colaboração com

Faculdade Bom Bosco de Filosofi

Ciências e Letras

de

SÃO JOÃO DEL-REIj MINAS GERAIS

f N D I C E

A P R E S E N T A Ç Ã O 9

L I V R O S 13

I - I N T R O D U Ç Ã O 15

II - OS E X T R E M O S SE T O C A M 23

III - D E T E R M I N A Ç Ã O E L I B E R D A D E N Ã O

SE R E P E L E M 30

IV - C O N D I C I O N A M E N T O S H I S T Õ R I C O -

SOCIAIS 46

V - A S S U M I R O M U N D O 65

VI - C O N C L U S Ã O : "A N O S S A H I S T Ó R I A " 69

A P R E S E N T A O

da nature za3

do homem3 fa-há poucoj na

Na hora das ciências da técnica e das ciências lemos de filosofia. Ainda Carta com que comemorou o octogêsimo a-niversãrio da "Rerum N ovarum"3 Paulo VI mostrava como as ciências 3 e - para não faltar a regra - as mais recentes ciên-cias do homem são levadas3 por necessi-dade metodológica mas também por um a-priori ideológico3 a isolar alguns as-pectos do homem e3 não obstante3 se sen_ tem tentadas a dar-lhes uma explicação que pretende ser global3 ou ao menos u-ma interpretação que desej aria ser tota lizante3 a partir de um ponto de vista meramente quantitativo ou fenomenológi-co (cf. O c t o g e s i m a A d v e n i e n s , n. 393 Ed. Vozes3 Petropolis3 1971). Ora3 isso é uma pretensão filosófica indébita. Se é para fazer filosofia3 sejamos claros e sinceros. Façamos confessamente filoso-fia. Alias3 não vemos como evita-la se nos movemos em um mundo de valores3 de significados3 de sentido.

For isso3 apesar das "gozações" a que tem submetido certos autores e in-certos leitores 3 o nosso mundo de hoje não conseguiu deixar de filosofar.

Por isso mesmo3 estamos começando com este pequeno volume uma coleção âe cadernos de filosofia. Sem acanhamento. Queremos levar ao leitor comum alguma contribuição sobre temas de "filosofia hoje".

A ocasião surgiu com a intenção da Faculdade Dom Bosco de Filosofia3 Ciên-cias e Letras de publicar alguns dos me_ lhores trabalhos que lhe foram entregues como pesquisas daqueles que tentavam re_ validar seu curso de Filosofia naquela Faculdades em janeiro de 1971, A comis-são examinadora selecionou dez trabalhos que julgou merecedores de publicação e nós nos dispusemos a edita-los.

Aliass convém lembrar que aqueles "alunos" sao professores de outras fa-culdades,, mestres intelectualmente res-peitados 3 alguns formados pela Universi_ dade Gregoriana, alguns homens profunda mente tarimbados 3 um deles ate bispo.

Aqui esta um deles3 começando nos-sa Coleção3 talvez o mais popular. Espe_ ro que tanto este quanto os outros pos-sam contribuir um pouco para ativar o interesse pela filosofia hoje e pela bus_ ca de uma visão realmente glob alizante do homem e do mundo3 sem fugir ao méto-do próprio desses estudos.

P.P.R,

BIBLIOGRAFIA

Livros que c o n t r i b u í r a m m u i t o para o

meu p r o v e i t o pessoal e para a e l a b o r a -

ção deste t r a b a l h o :

- Z A V A L L O N I , R o b e r t o : "A Liberdade Pes-soal", t r a d . de Frei E. B u z z i , 0 . F . M . , 1 9 6 8 , Ed. V o z e s .

- P R O Q U I T T E , J.H.: "As Fronteiras do D e terminismo Humano", E d . H e r d e r , 1 9 6 9 .

- T A Y L O R , Ri chard: "Curso de Filosofia -Metafísica", 1 9 6 9 , Z a h a r E d i t o r e s .

- N A S C H , Paul: "Autoridade^e Liberdade em Educação", 1 9 6 8 , Edições B l o c h .

- H E I D E G G E R , M a r t i n : "Sobre a Essjncia da Verdade - A Tese de Kant sobre o Ser", 1 9 7 0 , L i v . Duas C i d a d e s .

- L A N D S B E R G , P a u l - L o u i S : "O Sentido da Ação", 1 9 6 8 , Paz e T e r r a , d i s t r i b u i d o pela Ed. C i v i l i z a ç ã o B r a s i l e i r a .

- M A R l A S , J u l i a n : "Introdução ã Filoso-fia", 2 a , e d i ç ã o r e v i s t a , L i v . Duas Ci d a d e s .

1 4

- L E W I S , John: "O Homem e a Evolução", 1 9 6 8 , Paz e T e r r a , d i s t r i b u í d o pela E d , C i v i l i z a ç a o B r a s i l e i r a .

- DE S O L A G E S , Brunoj: "Iniciação Metafí-sica", 1 9 6 4 , E d i t o r a H e r d e r .

Mais ou menos d i r e t a m e n t e esses li

vros c o l a b o r a r a m na feitura do t r a b a l h o .

I ' - INTRODUÇÃO

Ao i n i c i a r este t r a b a l h o , c o m p l e x o

em s i , o c o r r e - m e um fato a c o n t e c i d o ha

m e s e s .

Num dos vários e n c o n t r o s com pro-

f e s s o r a s do curso p r i m á r i o , e s t i v e as

voltas com o p r o b l e m a da l i b e r d a d e 9 em

c o n t e x t o s o c i a l , s u s c i t a d o por uma das

o i t e n t a p a r t i c i p a n t e s .

A c o l o c a ç ã o do p r o b l e m a era mais

ou m e n o s e s t a : "eu e s t o u c o n v i c t a de que

não se deve dar s a t i s f a ç ã o a s o c i e d a -

d e , ã f a m í l i a e a quem q u e r que s e j a ,

q u a n d o se q u e r f a z e r uma determi nada coJ_

s a . Por que não p o s s o a c e i t a r o amor-

livre? Por que a s o c i e d a d e p r o c u r a morjj

l i z a r tudo? A f i n a l , sou ou não livre?"

16

C o n f e s s o q u e , ã p r i m e i r a v i s t a , a-

chei r e l a t i v a m e n t e fácil a a r g u m e n t a ç ã o ,

s o b r e t u d o p o r q u e t i n h a , j a d e i n T c i o ,

boa parte da s i m p a t i a das presen tes. Pois

B e m . Ô e n c o n t r o durou três dias intensi_

vós e - em cada unr dêles - foi r e s e r v a d a

uma hora para a d i s c u s s ã o do r e f e r i d o

a s s u n t o , Fiz todas as g i n á s t i c a s f i l o s ó

fi c o - m e t a f T s i cas p o s s í v e i s e imaginá-

v e i s . Usei da c o n v e n i ê n c i a - e ' do bom sejn

s o , mas nadai Cheguei ao ú l t i m o dia com

uma g r a n d e d e c e p ç ã o . A todos os meus a£

g u m e n t o s ela r e s p o n d e u : "são b o n s , são

s é r i o s . . . mas não me convenci a i n d a . . .

dentro de mim permanece" àquela m e s m a ijt. s a t i s f a ç ã o ! " . Dentro da m i n h a d e c e p ç ã o

e s i n t o m a s de c a n s a ç o e c o n f u s ã o , sur-

giu uma l u z , que me p a r e c e u , no m o m e n -

t o , arriscada, mas valida e seria. 0 meu

r e p e r t ó r i o f i l o s ó f i c o e s t a v a e s g o t a d o e

o que a a f l i g i a era s u m a m e n t e p r á t i c o .

Parti para a p r á t i c a . Resolvi c o r r e r um

17

r i s c o . " V a m o s , disse e u , p a r a r com a a_r

g u m e n t a ç ã o por o r a . Se você q u i s e r , voJ_

t a r e m o s , s u p o n d o as p o s s i b i l i d a d e s , ao

a s s u n t o daqui a seis a n o s . Mas com uma

c o n d i ç ã o : você p r a t i c a r a o a m o r - l i v r e e

p e n s a r a m u i t o no c a s o , na sua realiza-

ção como p e s s o a , pois p a r e c e que isto

e o que você deseja c o n v i c t a m e n t e ! " .

Não s u p u n h a , mas a reação foi ime-

d i a t a : "mas eu matarei o meu pai e a mj_

nha m ã e ! " . - R e s p o s t a : "você em nada de

ve p r e s t a r - l h e s c o n t a . . . você e s t á con-

victa disso e acha que n i s t o esta a sua

l i b e r d a d e ! " . - "Mas como a s o c i e d a d e me

vera e j u l g a r á ? " . - R e s p o s t a : " v o c ê tem

a sua c o n v i c ç ã o e não pode d e i x a r - s e cja

b r e s t e a r pela s o c i e d a d e ! " . - "Mas eu não

tenho c o r a g e m ! " . - R e s p o s t a : " d e v e r i a te

la uma vez que é c o n v i c ç ã o s u a ! " . "0 se^

n h o r ê ami g o - d a - o n ç a ? ( t e x t u a l ) " . - Res^

p o s t a : "sÕ se você fôr a o n ç a , pois es-

18

tou c o r r e n d o o risco s e r i o e c o n s c i e n t e

de e s c a n d a l i z a r m u i t a gente por causa

dessa c o n d i ç ã o e isto s i g n i f i c a a m i z a d e

e m u i t o i n t e r e s s e por v o c e l " .

R e s u l t a d o . Não foram n e c e s s á r i o s

os seis anos e m u i t o m e n o s o c u m p r i m e n -

to da c o n d i ç ã o . E ela c o n f e s s o u : "agora

estou r e a l m e n t e c o n v e n c i d a de que a li-

b e r d a d e não e i l i m i t a d a como eu pensa-

v a ! " .

A essas a l t u r a s também eu me senti

a l i v i a d o » pois não e s p e r a v a a q u e l e re-

s u l t a d o . De m i n h a parte não houve inteni

ç ã o , em a b s o l u t o , de usar a p o s i ç ã o de

" a d v o g a d o do diabo" como t é c n i c a de ar-

g u m e n t a ç ã o . R e s t o u - m e apenas aquela s a í

da!

Mas os s e n h o r e s , que me s e g u e m , p£

la l e i t u r a , c e r t a m e n t e e s t ã o a pergun-

19

t a r - m e : qual i a "moral" da h i s t o r i a ?

Com ou sem " m o r a l " , e x p e r i m e n t e i

mais uma vez a minha p o s i ç ã o de que a li_

b e r d a d e p e r t e n c e as r e a l i d a d e s atingi-

das mais "pelo p r o c e s s o de e x p e r i m e n t a -

ç ã o " , do que pelo s i s t e m a de d e m o n s t r a -

ção r a c i o n a l ,

Não se t r a t a , é e v i d e n t e » da expe-

r i m e n t a ç ã o c i e n t í f i c a , q u í m i c a ou físi-

c a , ou m e s m o no s e n t i d o a d m i t i d o pelo

m e c a n i c i s m o b e h a v i o r i s t a , p r e t e n d e n d o

" d e f i n i r todo o c o m p o r t a m e n t o como ' rea^

ç ã o 1 a um ' e s t í m u l o ' exteri or (1 )". 0 cojn

trãrio disto seria também c o n f u n d i r ex-

p e r i m e n t a ç ã o com s i m p l e s " s e n t i m e n t o va^

go" de l i b e r d a d e . H á , é c e r t o , m o m e n t o s

èm que a l i b e r d a d e se a f i g u r a ao sujei to

(1) - Z A V A L L O N I , O b . c i t . , p g s . de 31 a 34; de 48 a 5 3 .

20

como algo i n d e f i n i d o , como no caso do

rapaz q u e , ao se l a n ç a r ao m a r , tinha

a " p r e s u n ç ã o " de d e s f r u t a r da l i b e r d a d e

p l e n a . Mas logo ao r o m p e r da b o r r a s c a

c e r t i f i c o u - s e de que a l i b e r d a d e também

era 1 i m i t a d a ( 2 ) .

Acho que " e x p e r i m e n t a ç ã o " aqui se

e x p l i c a m e l h o r pelo seu o p o s t o , isto é ,

c o n c e i t u a ç ã o r a c i o n a l . Com isto também

não q u e r o n e g a r o fato de a l i b e r d a d e

s e r , ãe cevto modo3 c o n c e i t u a d a . Ela o

é , em certos a s p e c t o s , e m u i t a gente tem

se o c u p a d o com i s t o . Mas o que c o n v e n c e

m e s m o é a sua p r ó p r i a real i dade - ato as_

p i r a d o e e x e r c i d o - e n q u a n t o sentida,vi_

v i d a , u s u f r u i d a pelo p r ó p r i o s u j e i t o ,

d e n t r o dos limites que a c o n d i c i o n a m , é

c l a r o .

(2) Z A V A L L O N I , o b . c i t . , p g s . de 183 a 184

21

T r a t a - s e , a q u i , não da a f i r m a ç ã o

do m e c a n i s m o dos c o n d i c i o n a m e n t o s , mas

d a q u e l a luz i n t e r i o r , por m e n o r que se-

j a , a qual nos g a r a n t e o fato da liber-

d a d e , m e s m o que c o m p a r a d a ao f i l o d e d i ^

m a n t e nas l i m i t a ç õ e s do seio da r o c h a .

Z a v a l l o n i , ao citar Leon Noêl , tem a se:

g u i n t e a f i r m a ç ã o : "A l i b e r d a d e e limitji

d a , q u i ç á i m p e r f e i t a ; ela está s u j e i t a

a i n ú m e r a s c o n d i ç õ e s , a e n f e r m i d a d e s , a

t r i s t e s e s m o r e c i m e n t o s . Em a l g u n s , rarji

m e n t e ela se e x e r c i t a r a , em sua plenitjj

de v i g o r o s a e e n é r g i c a , A p e s a r de tudo

i s t o , ela e x i s t e - e isto nos basta"(3).

Ter e x p e r i m e n t a ç ã o da l i b e r d a d e ,

para m i m , s i g n i f i c a j u s t a m e n t e ter essa

c e r t e z a , as vez«s i n e x p l i c á v e l : ela e-

xiste - eu a vivi - eu a s e n t i ! De fa-

(3) Z A V A L L O N I , o b . c i t . , p g . 26 7 .

22

t o , todas as p e s q u i s a s e v i d e n c i a m o "fa

to" da l i b e r d a d e , ou ao menos a "aspira_

ção ao f a t o " ( 4 ) . Mas nem sempre as ex-

p l i c a ç õ e s i n t e l e c t u a i s são s u f i c i e n t e s

para e s c l a r e c i - l o d e v i d a m e n t e .

P o r t a n t o , a guisa de c o n c l u s ã o d e £

ta fase i n t r o d u t o r i a , sou pelo fato da

l i b e r d a d e como "um p r o c e s s o de e x p e r i -

m e n t a ç ã o " , m a s , ainda a s s i m , c u m p r e - m e

e n t r a r pelas s e n d a s da concei t u a ç ã o , n j

ma t e n t a t i v a de a n á l i s e e expl i cação dos

fatores que l i m i t a m a l i b e r d a d e . Cumpre^

m e , o q u a n t o p o s s í v e l , fazer uma concei_

tuação t a m b é m , r á p i d a , da l i b e r d a d e e de

sua n e g a ç ã o , através do d e t e r m i n i s m o e

do i n d e t e r m i n i s m o a b s o l u t o s .

E e x a t a m e n t e isto que farei de a g £

ra para a f r e n t e .

(4) Z A V A L L O N I , o b . c i t . , p g s . de 150 a

208.

II - OS EXTREMOS SE TOCAM

F i l ó s o f o s e c i e n t i s t a s v á r i o s , le-

vados pela d i f i c u l d a d e de c o n c e i t u a ç ã o

da l i b e r d a d e , a d o t a r a m t e o r i a s , que , por

serem t o t a l m e n t e o p o s t a s - e x t r e m o s - ,

p r a t i c a m e n t e c o i n c i d e m em suas conclu-

s õ e s . M a s , de m o d o g e r a l , a c o n c l u s ã o úl

tima desses e x t r e m o s ê e x a t a m e n t e esta:

n e g a ç ã o da l i b e r d a d e h u m a n a

Essas p o s i ç õ e s r a d i c a i s podem ser

e n f e i x a d a s em duas d o u t r i n a s funda-

m e n t a i s , que assim se d e n o m i n a m : deter-

m i n i s m o e i n d e t e r m i n i s m o a b s o l u t o s .

0 d e t e r m i n i s m o b l o q u e a d o r da Tibe_r

dade e f a c i l m e n t e e n t e n d i d o pelas pala-

24

vras de P r o q u i t t e : "As m e s m a s causas pro

duzem os m e s m o s e f e i t o s ou a i n d a , aos

mesmos a n t e c e d e n t e s s e g u e m - s e sempre os

mesmos c o n s e q ü e n t e s , o u , a t e , os aconte^

cimentos que se d e s e n r o l a m no tempo es-

tão ligados entre si por relações inva-

r i á v e i s , a que chamamos l e i s . A observja

ção e a m e n s u r a ç ã o desses a c o n t e c i m e n -

t o s , que se d e s e n r o l a m no t e m p o , em es-

cala h u m a n a , c o n f i r m a m esta m a n e i r a de

v e r , de tal s o r t e que o p r i n c i p i o , fru-

to da e x p e r i ê n c i a , t o r n a - s e o p o s t u l a d o

n e c e s s á r i o da c i i n c i a " ( 5 ) .

Na r e a l i d a d e , os adeptos do deter-

m i n i s m o p a r t e m de pontos d i v e r s o s , mas

tem p o n t o de c h e g a d a c o m u m . Para eles

não e x i s t e , de f a t o , a l i b e r d a d e . Por es^

ta razão e que podemos d i s t i n g u i r os vã

rios tipos de d e t e r m i n i s m o , como o faz

(5) - P r o q u i t t e , o b . c i t . , p g s . 8 e 9 .

25

Zavalloni m u i t o b e m . C o n t u d o , a conclu-

são lógica de q u a l q u e r tipo de d e t e r m i -

n i s m o ê a tida como de F o u i l l e e : "Não

somos l i v r e s , mas a c r e d i t a m o s s e - l o , e

esta íinica p e r s u a s ã o tudo m o d i f i c a : ela

torna o curso de nossa a t i v i d a d e tão am

p i o , tão flexTvel e v i v o , tão v a r i á v e l

e p r o g r e s s i v o como a p r ó p r i a r e a l i d a d e

do livre a r b í t r i o " ( 6 ) .

Q u a n t o a esta c o n c l u s ã o , p a r e c e não

h a v e r d i s t o n a n c i a s e n t r e os p e n s a d o r e s

que se p r e o c u p a r a m ou se p r e o c u p a m com

o a s p e c t o c r T t i c o do p r o b l e m a ( 7 )

(6) Z a v a l l o n i , o b . c i t , p g s . 27; de 42 a 70 .

(7) T a y l o r , o b . c i t , , c a p . 4: onde faz uma a n a l i s e que i n t e g r a um tipo de d e t e r m i n i s m o e i n d e t e r m i n i s m o m o d e -r a d o s , mas r e f u t a como i n s u f i c i e n -tes p a r a uma clara e f u n d a m e n t a d a c o m p r e e n s ã o da l i b e r d a d e .

- N a s c h , o b . c i t . , p g s , d e 235 a 2 3 9 .

26

Disse p o s t u l a d o s e g u e - s e , conse-

q ü e n t e m e n t e , que toda e q u a l q u e r mani-

f e s t a ç ã o de l i b e r d a d e nada mais e do que

um mero " s e n t i m e n t o i l u s ó r i o da m e s m a " ,

e n q u a n t o as causas g e r a d o r a s de tais a-

t o s , que p r o v o c a m o s e n t i m e n t o , ou são

d e s c o n h e c i d a s ou e s q u e c i d a s pelo a g e n t £

p e s s o a .

0 verso da m e d a l h a e o i n d e t e r m i -

n i s m o , E um p r o d u t o d a q u e l e s que conce-

bem a l i b e r d a d e como um e l e m e n t o . i 1 i m i -

- T o d o o livro de P r o q u i t t e se ocu-p a , como se p e r c e b e pelo p r ó p r i o t í t u l o , de uma a n a l i s e b a s t a n t e m i n u c i o s a dos v á r i o s tipos de de-t e r m i n i s m o s e do i n d e t e r m i n i s m o em g e r a l .

2 7

t a d o , a b s o l u t a m e n t e sem c a u s a s . Os atos

livres n a s c e m no acaso! Não p o d e m o s di-

zer: " n a s c e m do a c a s o " , porque e s t a r í a -

mos d a n d o uma função causai ao " a c a s o " .

N a s c h , em poucas p a l a v r a s , nos dá

uma boa noção do que e i n d e t e r m i n i s m o e

de como suas i m p l i c a ç õ e s são a b s u r d a s :

"0 i n d e t e r m i n i s t a v i s u a l i z a a v o n t a d e

livre como a h a b i l i d a d e do i n d i v í d u o

para agir com i m p r e v i s i b i l i d a d e comple-

t a , de m o d o a c o n t r a r i a r f r o n t a l m e n t e

os traços d o m i n a n t e s de seu c a r ã t e r , e

sem n e n h u m a r e l a ç ã o com as c i r c u n s t â n -

cias de a m b i e n t e ou c o n d i c i o n a m e n t o " . E

por mais p a r a d o x a l que p a r e ç a , as impli_

cações absurdas do i n d e t e r m i n i s m o são 1Õ

g i c a s : " S u b s t i t u i essa r e g u l a r i d a d e - a

do d e t e r m i n i s m o - apenas pelos m o v i m e n -

tos de acasos e repudia o u n i v e r s a l i s m o

da c o n e x ã o r a c i o n a l . Além d i s s o , retira

a base da r e s p o n s a b i l i d a d e moral indivi

28

d u a 1 . Nao posso ser r e s p o n s a b i 1izado por

atos que r e s u l t a m apenas do a c a s o " ( 8 ) .

Por aí se v ê , sem s o m b r a de dúvi —

das, que a l i b e r d a d e nada mais seria que

um caos i n i n t e l i g í v e l não sõ a razão co

mo t a l , mas ate ã e x p e r i m e n t a ç ã o pes-

s o a l . 0 r e s u l t a d o da e x p e r i m e n t a ç ã o de

um caos só p o d e r i a s e r , l o g i c a m e n t e , um

outro c a o s , uma c o n f u s ã o ! 0 s u j e i t o não

se r e c o n h e c e r i a nunca s u j e i t o da a ç ã o .

Os atos livres s e r i a m frutos certame_n

te de uma magia e s e r i a m s e m p r e sem do-

nos!

Em outras p a l a v r a s , a l i b e r d a d e tam

(8) - N a s c h , o b . c i t . , p g . 2 4 2 .

29

bem aT nao t e m ' v e z . P o d e r i a ter vez o

c a o s , a c o n f u s ã o , mas nunca a 1 i b e r d a d e !

A estas alturas já temos d e t e r m i -

nistas e i n d e t e r m i n i s t a s de mãos dadas!

G i r a r a m , g i r a r a m e c h e g a r a m ao m e s m o lu^

g a r . Ambos n e g a m a l i b e r d a d e ! M e s m o a-

que1 a l i b e r d a d e "experi mentaci o n a í " , se

é lícito o t e r m o , de que falamos a t r a s .

III - DETERMINAÇÃO E LIBERDADE NÃO SE REPELEM

A c o n s i d e r a ç ã o que fiz s o b r e deter

m i n i s m o e i n d e t e r m i ni s m o , e m b o r a resumi_

d a , já e s u f i c i e n t e para d e s p e r t a r a nos_

sa a t e n ç ã o para um o u t r o m o d o de expli-

cação racional da l i b e r d a d e . Não q u e r o

com i s s o , em a b s o l u t o , cair no d e t e s t á -

vel " t i r a r a m é d i a " . Não se trata de "mi

d i a " , t r a t a - s e , s i m , de e n t e n d e r m e l h o r

as c o i s a s , no meu modo de v e r .

Jamais p o d e r í a m o s , se q u i s é s s e m o s

ser o b j e t i v o s , i s o l a r a 1 i b e r d a d e do seu

c o n t e x t o h u m a n o - e x i s t e n c i a l . Nem pode-

r í a m o s , por mais m e t a f í s i c o que p a r e ç a ,

a c e i t a r uma e x p l i c a ç ã o e s t á t i c a , e m b o r a

com certa t o n a l i d a d e ou a p a r ê n c i a dinâ-

31

m i c a , como o faz H e i d e g g e r , se o e n t e n -

di bem: "A e s s ê n c i a da l i b e r d a d e , e n t r £

vista a luz da e s s ê n c i a da v e r d a d e , apa.

rece como e x - p o s i ç ã o ao ente e n q u a n t o

ele tem o c a r á t e r de d e s v e l a d o " , ou "a

l i b e r d a d e e o a b a n d o n o ao d e s v e l a m e n t o

do ente como t a l " ( 9 ) .

A b a n d o n o ao d e s v e l a m e n t o e o m e s m o

que " D e i x a r - s e r " ou " S e r - a í ( D a s e i n ) " ou

a i n d a , como e x p l i c a o p r o p r i o Heideg-

g e r , "o e n t r e g a r - s e ao e n t e " , A concei-

tuação de l i b e r d a d e , que já tem s i d o tão

c o m p l e x a , vai se e m b r e n h a n d o cada v e z

mais pela c o n s t i t u i ç ã o m e t a f í s i c a do

s e r , a p o n t o de se c h e g a r a total iden-

t i f i c a ç ã o de l i b e r d a d e com v e r d a d e : "A

e s s ê n c i a da v e r d a d e se d e s v e l o u como li_

b e r d a d e " 1

(9) - H e i d e g g e r , o b . c i t . , p g s . de 21 a 3 8 .

32

P r e f i r o , ao i n v é s , ter l i b e r d a d e

como um p r o c e s s o de r e l a ç ã o de atualiza,

ção de p o s s i b i l i d a d e s , que são reais na

vida h u m a n a c o n s c i e n t e . E s s e p r o c e s s o

i n c l u i , além da i n t e l i g ê n c i a , v o n t a d e ,

p o d e r c r i a d o r e e s t í m u l o s ou m o t i v a -

ç õ e s . Inclui um "Eu" que a g e , mas in-

clui também as c i r c u n s t a n c i a l i d a d e s prÕ

prias de um e n g a j a m e n t o no c o n t e x t o e-

x i s t e n c i a l , o assim c h a m a d o m u n d o , com

m ú l t i p l a s formas de vida p o s s T v e i s e , às

v e z e s , n e c e s s á r i a s .

Mesmo A d l e r , e x p l i c a n d o a c o n d u t a

humana" pela razão da f i n a l i d a d e pessoal,

foi o b r i g a d o a a d m i t i r um p o d e r criador,

e não apenas uma e s p é c i e de a b e r t u r a ou

d e s v e l a m e n t o do s e r , como H e i d e g g e r : ' " A

h e r e d i t a r i e d a d e , o a m b i e n t e , a - e d u c a ç ã o

são fatores que c o n d i c i o n a m , mas não de^

t e r m i n a m a c o n d u t a h u m a n a . S e g u n d o ilus

33

t r a ç ã o c l á s s i c a , p o d e r - s e - i a a f i r m a r que

o corpo ê a t e s e , o a m b i e n t e a a n t í t e s e

e a " r e s p o s t a " i m p r e v i s í v e l a s í n t e s e -

s í n t e s e a u t ô n o m a e cri a d o r a " ( c i t a d o por

Z a v a l l o n i ) (10).

Gosto m u i t o d a q u e l a c o n o t a ç ã o de

L a n d s b e r g , q u a n d o analisa o e n g a j a m e n t o

e o c o n s i d e r a como um ato total e livre.

£ um ato total "porque não se trata de

uma a t i v i d a d e da i n t e l i g ê n c i a a g i n d o i-

s o l a d a m e n t e ou de a t i v i d a d e e x c l u s i v a

da v o n t a d e , pois o e n g a j a m e n t o e obra

do homem integral". E um ato livre "não

por p a r t i c i p a r de uma l i b e r d a d e formal

do a r b í t r i o , mas por t r a d u z i r uma deci-

são da p e s s o a , que toma c o n s c i ê n c i a de

sua r e s p o n s a b i l i d a d e e s p e c í f i c a e reali_

za sua f o r m a ç ã o p o s i t i v a como p e s s o a "

_ _ (11).

(10) Z a v a l l o n i , o b . c i t . , p a g , 6 4 . (11) L a n d s b e r g , o b . c i t . , p ã g , 2 4 .

34

L i b e r d a d e , em c o n e x ã o com e n g a j a -

m e n t o , r e c e b e o s i g n i f i c a d o de p o s s i b i -

lidade de e s c o l h a c o n s c i e n t e , de capaci_

dade de a t u a l i z a ç ã o de p o s s i b i l i d a d e s ,

pelo que c o n s t r ó i , em p a r t e , e firma a

sua p e r s o n a l i d a d e , l e v a n d o - a , ao m e s m o

t e m p o , a sua i n t e g r a l i d a d e e a p a r t i c i -

p a ç ã o , como a g e n t e - p e s s o a , na constru-

ção do m u n d o e da H i s t o r i a ,

M a r í a s ( O u l i a n ) n e s s e p o n t o e posi-

tivo: "Eu me e n c o n t r o numa c i r c u n s t â n -

cia ou m u n d o , c e r c a d o de f o r ç o s i d a d e s ,

f a c i l i d a d e s e d i f i c u l d a d e s , tendo de fa

zer com elas essa vida em que j á me en-

c o n t r o . A vida é isso que t e n h o que fa-

zer; não me e dada feita mas me e d a d a ,

e , ao m e s m o t e m p o , com que f a z ê - l a ; a ês_

se 'com q u ê 1 d e n o m i n o c i r c u n s t â n c i a e a

ela p e r t e n c e o meu c o r p o , mas não só e-

le como também minha p s i q u e " (12).

(12) - M a r I a s , o b . c i t . , p g . 2 9 9 .

35

O fato de e u , como p e s s o a , e s t a r si_

t u a d o num todo e não apenas "ter a im-

p r e s s ã o " , mas l i b e r d a d e de f a t o , eis o

nõ da q u e s t ã o !

Para ser r e a l i s t a tenho que admi-

tir a l i b e r d a d e , p o r q u e , m e s m o que não

a c o n c e i t u e s a t i s f a t o r i a m e n t e , não pos-

so e s c o n d ê - l a d e b a i x o das s u t i l e z a s do

meu r a c i o c í n i o . Eu tenho " e x p e r i m e n t a -

ção" dela! Posso até n e g a - l a , mas conti_

nuarã em m i m , se sou p e s s o a n o r m a l , co-

mo algo " e x p e r i m e n t a c i o n a d o " , s u m a m e n t e

í n t i m o ao meu s e r , com o qual eu t e n h o

outro ou outros m e i o s de c o n t a t o que não

só o r a c i o c í n i o - a p r ó p r i a i n t u i ç ã o

b a s t a r i a para i s s o . Mas a m a i o r dificuj_

dade não esta aí. Estã no fato de que

sou livre d e n t r o de um c o m p l e x o de con-

d i c i o n a m e n t o s f í s i c o s , p s í q u i c o s e so-

c i a i s . L i b e r d a d e e c o n d i c i o n a m e n t o s , li

36

b e r d a d e e d e t e r m i n a ç ã o são duas realida.

des i n s e p a r á v e i s na pessoa "si tuada" ,que

"jã" e x i s t e e p o d e r á ser mais " e n g a j a -

d a " , Não a d i a n t a q u e r e r a b s t r a i r liber-

dade de sua " s i t u a ç ã o " . Seria racionali_

z a ç ã o , No mais p r o f u n d o de m i n h a pessoa

engajada3 tenho c e r t e z a de que há atos

que são "meus" ou ao menos p o d e r i a m ser

" m e u s " , e m b o r a agora não o s e j a m . M e s m o

que não q u e i r a m u i t o i n t e n s a m e n t e , sin-

to r e s p o n s a b i l i d a d e por mim e pelo mun-

do! P e r c e b o que esses atos não são ou

não s e r i a m gerados por uma cadeia de cauí

sas que não "EU" m e s m o ! "SSO M E U S " aqui

e a g o r a , e me fazem e n t r a r na e s f e r a e

p a r t i c i p a r da vida do " N Ü S " . Mas como

e x p l i c a r essa c o n s c i ê n c i a que tenho de

que há fatos que "são" ou "serão" de fa_

to " m e u s " ? .

T a n t o os d e t e r m i n i s t a s como os in-

d e t e r m i n i s t a s não foram c a p a z e s . Chega-

37

ram a n e g a ç ã o de "minha a t u a ç ã o " . Nega-

ram a r e a l i d a d e de m i n h a l i b e r d a d e ! To-

d a v i a , p a r e c e - m e , como a o u t r o s , exis-

tir uma s a í d a , a da não c o n t r a d i ç ã o en-

tre l i b e r d a d e e d e t e r m i n a ç ã o . Z a v a l l o n i

afirma essa p o s i ç ã o com ê n f a s e e dã o

m é r i t o a B l o n d e l : "0 d e t e r m i n i s m o e a Ti_

b e r d a d e não sÕ não se e x c l u e m , mas re-

c l a m a m - s e e se s u s t e n t a m m u t u a m e n t e . 0

m é r i t o todo de Blondel ê de ter dado a

p r o v a ; prova que se a r t i c u l a em dois

t e m p o s : 1) gênese n e c e s s á r i a da liber-

d a d e ; 2) e x e r c í c i o n e c e s s á r i o da liber_

d a d e . C o m p r e e n d i d a entre duas necessidja

d e s , a a n t e c e d e n t e e a subseqliente, uma

que assume e a outra que p r o d u z , a li-

b e r d a d e é 'como um p o n t o c u l m i n a n t e que

s e r v e para d i v i d i r as á g u a s a f l u e n t e s

do d e t e r m i n i s m o e as n a s c e n t e s da deter

m i n a ç ã o p e s s o a l ' " . . . "A l i b e r d a d e e a

'razão l i b e r t a n t e ' " (13).

(13) - Z a v a l l o n i , o b . c i t . , p g s . 289 e 2 9 0 .

38

A l i b e r d a d e não e um fato ou um fe

n e m e n o i s o l a d o . £ um p r o c e s s o de liber-

t a ç ã o . £ um p r o c e s s o de s u p e r a ç ã o d o s

d e t e r m i n i s m o s , pela a t u a l i z a ç ã o das p o £

s i b i l i d a d e s , graças a v o n t a d e m o t i v a d a e

i l u m i n a d a . Para Z a v a l l o n i , "o ato livre

não é pura e s i m p l e s m e n t e a r e s u l t a n t e

de um d e t e r m i n a d o p r o c e s s o de fatores

f i s i o l ó g i c o s e a m b i e n t a i s ; pelo contrá-

r i o , êle r e q u e r , desde o seu p o n t o de

p a r t i d a , um p r o c e s s o de a u t o d e t e r m i n a -

ç ã o . E s s e p r o c e s s o p r e s s u p õ e a realida-

de de um E u - e m - a ç ã o , que constitui o

p r i n c i p a l r e s u l t a d o de todas as investi_

gações e x p e r i m e n t a i s sobre a a t i v i d a d e

v o l u n t á r i a . 0 fato b á s i c o , s o b r e o qual

se c o n c e n t r a toda a d i s c u s s ã o do pro-

blema do 1 i v r e - a r b í t r i o , e p r e c i s a m e n t e

i s t e : a intervenção ativa do Eu" (14).

(14) - Z a v a l l o n i , o b . c i t , , p g s . 242 a 249 .

39

Aqui jã temos o c o n c e i t o a c e i t á v e l

de l i b e r d a d e : AUTODETERMINAÇÃO

T a m b é m T a y l o r aceita o Eu como au-

t o d e t e r m i n a n t e , e m b o r a não a p r e s e n t e a

q u e s t ã o com toda aquela p o s s i b i 1 i d a d e de

e n g a j a m e n t o , a l i b e r d a d e e n g a j a d a de Z_a

v a l l o n i , de MarTas e de L a n d s b e r g . E a

teoria de agencia» assim c h a m a d a . 0 p o £

to p r i n c i p a l , p e n s o , e este: "A ú n i c a

c o n c e p ç ã o de ação que esta de a c o r d o

com os nossos dados e aquela s e g u n d o a

qual os homens - e t a l v e z a l g u m a s outras

c o i s a s , t a m b é m - s ã o , por v e z e s , mas nem

s e m p r e , c l a r o , seres a u t o d e t e r m i n a n t e s ;

isto e , seres q u e , por v e z e s , são as

causas de seu p r ó p r i o c o m p o r t a m e n t o . No

caso de uma ação que e l i v r e » d e v e r ã ser

tal que o a g e n t e que a d e s e m p e n h a e que

a c a u s a , mas tal que n e n h u m a s c o n d i ç õ e s

a n t e c e d e n t e s fossem s u f i c i e n t e s para que

40

êle d e s e m p e n h a s s e , p r e c i s a m e n t e , essa

ação. No caso de uma ação ao m e s m o tem-

po livre e r a c i o n a l , deve ser tal que o

agente que a realizou fe-lo por alguma

r a z ã o , mas essa razão não pode

ter sido causada daquela" (15).

T e m o s , j á , os elementos explicati-

vos e s s e n c i a i s da a u t o d e t e r m i n a ç ã o , mas

poderemos ou podemos ir um pouco mais

l o n g e . Creio q u e , se i n t e r p r e t a d a as-

s i m , também a analise das r u p t u r a s 3

graus de l i b e r t a ç ã o , com o d e t e r m i n i s -

m o , pela " c o n s c i ê n c i a r e f l e x a " , de Pro-

q u i t t e , são v a l i d a s , d i g o , é v á l i d a . A

libertação dos d e t e r m i n i s m o s se dá gra-

d a t i v a m e n t e . Nessa s u p e r a ç ã o progressi-

v a , parece não se admitir uma e v o l u ç ã o

m e c â n i c a , pois o "eu imanente" ou "cons_

(15) - T a y l o r , o b . c i t , , p g s . de 76 a 78.

41

ciência de si" ê "pessoal e i n c o m u n i c á -

vel" e tem a função e s p e c í f i c a de s i n t £

t i z a r e u n i f i c a r o c o n j u n t o dos fatores

do m u n d o , e x t e r i o r e s a p e r s o n a l i d a d e . " A

c o n s c i ê n c i a regula os a u t o m a t i s m o s , a-

d a p t a - o s com f i n u r a , p e r m i t e a p e r s o n a -

lidade fazer frente ao e x t e r i o r , agir

com e f i c á c i a sobre a r e a l i d a d e , t a n t o da

n a t u r e z a como da vida s o c i a l " (16).

Essa " c o n s c i ê n c i a de si" cresce em

sua p r ó p r i a a t u a ç ã o e t o r n a - s e "cons-

ciência r e f l e x a " ou " cons ci enci a da cons_

c i ê n c i a " . N e s s e ato de " c o n s c i ê n c i a re-

f l e x a " - o s u j e i t o a s s u m e a si m e s m o e ,

e n t r a n d o a ação da v o n t a d e , a b r e - s e a

p o s s i b i l i d a d e de e s c o l h a e a s u p e r a ç ã o

dos d e t e r m i n i s m o s i n f e r i o r e s .

(16) - P r o q u i t t e , o b . c i t . , c a p . II

42

P o r t a n t o , não nos e l i c i t o recha-

çar de nossos c o n c e i t o s de l i b e r d a d e os

d e t e r m i n i s m o s . £ - n o s n e c e s s á r i o r e c u s a r

o d e t e r m i n i s m o a b s o l u t o , desde que ê ni5

gação c o m p l e t a de l i b e r d a d e . £ pura me-

cani ci d a d e .

Mas o h o m e m que e " s i t u a d o " t e m

c o n s c i ê n c i a dos m ú l t i p l o s condi ci onameji

t o s , pela sua p r ó p r i a s i t u a ç ã o , m a s , ao

m e s m o t e m p o , sente - intui - , como que

por uma " e x p e r i m e n t a ç ã o " ou " f a m i l i a r i -

dade" a c o n c e i t u a l , o seu EU d e l i b e r a n -

d o , è s c o l h e n d o e a g i n d o ! 0 p r ó p r i o "Eu-

e m - a ç ã o " é causa de seus atos livres. P£

de ser que em m u i t o s casos não se dêem

atos l i v r e s . M a s , a í , o " E u - e m - a ç ã o " n ã o

é causa e x c l u s i v a ! Nos atos livres não

ha essa coação e m e c a n i c i d a d e . 0 Eu se

d e t e r m i n a e e s c o l h e , d e n t r e as p o s s i b i -

lidades de sua vida e n g a j a d a e em enga-

j a m e n t o , a q u e l a s que são p r e f e r i d a s pe-

43

Ia d e l i b e r a ç ã o da v o n t a d e , a p o n t o de p£

der a f i r m a r convi c t a m e n t e : "eu quero",

"eu a s s u m o " , "eu me r e s p o n s a b i 1 i zo", etc...

A l i á s , seria i m p o s s í v e l f a l a r

em a u t o r e s p o n s a b i 1 i z a ç ã o se o p r ó p r i o

"EU" não fosse causa da d e l i b e r a ç ã o , da

d e c i s ã o e da e s c o l h a de seus a t o s .

E i n t e r e s s a n t e n o t a r certas contr^a

dições dos que não a c e i t a m a l i b e r d a d e

como um f a t o . F i q u e m o s com os explorad_o

res do i n c o n s c i e n t e » que deixam impreg-

n a r - s e pelo d e t e r m i n i s m o f r e u d i a n o . Pe-

la p s i c a n á l i s e d e s c o b r i r a m os d e t e r m i -

nismos i n c o n s c i e n t e s , c h e g a r a m a n e g a -

ção da l i b e r d a d e . Mas o p r o c e s s o tera-

p ê u t i c o ê t o t a l m e n t e o i n v e r s o . Inicia-

se pela t o m a d a de c o n s c i ê n c i a de tais

d e t e r m i n i s m o s , não a s s u m i d o s ou não co-

n h e c i d o s pelo d o e n t e . E a cura p r o p r i a -

mente dita se faz q u a n d o , cientes des-

44

sas coações i n c o n s c i e n t e s , o d o e n t e v()

1 u n t ã r i a m e n t e as s u p e r a , t o r n a n d o - s e ,

daT por d i a n t e , d e i i b e r a d o r e s de seus

a t o s , s o b r e t u d o d a q u e l e s que f u g i a m ao

seu c o n t r o l e c o n s c i e n t e .

Como n e g a r t e o r i c a m e n t e o fato da

l i b e r d a d e , q u a n d o a cura se faz pelo e-

x e r c T c i o da m e s m a ?

Isso p a r e c e - m e c o n f i r m a r , mais uma

v e z , que a l i b e r d a d e , i n d e p e n d e n t e m e n t e

da c o n s c i ê n c i a c o n c e i t u a d a ou da pró-

pria concei t u a ç ã o , e e x e r c i d a e e "expe^

r i m e n t a c i o n a d a " pelos h o m e n s ,

Ela e x i s t e . C o n c e i t u a d a ou n ã o ,

ela existel E i p e r c e b i d a na m e d i d a em

que os homens a s e n t e m , a i n t u e m . Ela é

p e r c e b i d a na m e d i d a em que os homens de£

cobrem c o n v i c t a m e n t e , m e s m o que por uma

d i s p o s i ç ã o i n t e r n a , que são "senhores de

45

seus a t o s " , ao menos de a l g u n s . Desco-

brem q u e , em sua vida e n g a j a d a , iles d£

c i d e m , e s c o l h e m , r e a l i z a m e a s s u m e m cons_

ci e n t e m e n t e .

c D e s c o b r e m que s ã o , pelo seu Eu-em-

a ç ã o , a u t o d e t e r m i n a n t e s , isto e , são a-

gen t e s o: u c a u s a s U n i e a s -t aç. r petx T d a s

as m o t i v a ç õ e s , de seus atos livres!

IV - C O N D I C T D N A M E N T O S

H I S T Õ R I C O - S O C I A I S

Ao falar em c o n d i c i o n a m e n t o s , so-

mos t e n t a d o s a d e s c a m b a r para uma espé-

cie de e x c l u s i v i s m o n e g a t i v i s t a : pura e

s i m p l e s l i m i t a ç ã o .

De f a t o , hã c o n d i c i o n a m e n t o s que £

b e d e c e m a leis t o t a l m e n t e e x t e r n a s ao

c o n h e c i m e n t o , a v o n t a d e e ã c o n s c i ê n -

cia h u m a n a s . Mas há condi ci o n a m e n t o s que,

s i t u a n d o a l i b e r d a d e h u m a n a , s ã o , a o m e s _

mo t e m p o , e x p r e s s ã o dessa m e s m a liberdja

d e , e n q u a n t o , também são atos livres já

r e a l i z a d o s h i s t o r i c a m e n t e . Vistos sob

ê s s e a n g u l o , são m a n i f e s t a ç õ e s reais da

c a p a c i d a d e " c r i a d o r a " da i n t e l i g ê n c i a e

47

v o n t a d e h u m a n a s .

0 homem não ê uma i l h a . Vive enga-

jado e s i t u a d o , como vimos anteriormeji

t e , no seu 'contexto exi stenci al . Vi ve na

H i s t o r i a . Constrói a H i s t o r i a . Não £ a

s o c i e d a d e , mas dele é a s o c i e d a d e . Sua

a t u a ç ã o e l i m i t a d a . Sua a t u a ç ã o e "criji

d o r a " !

A s s i m s e n d o , e por mais p a r a d o x a l

que p a r e ç a , o homem e 1 i m i t a d o pel o m e i o

f T s i c o , pelo m e i o p s i c o l ó g i c o e , sobre-

t u d o , pelo m e i o s o c i a l . Ao m e s m o t e m p o

e x e r c e função c o n s t r u t i v a e " c r i a d o r a " .

Da s i g n i f i c a ç ã o ãs coisas e aos pró-

prios l i m i t e s í A falta de s i g n i f i c a ç ã o

de algum c o n d i c i o n a m e n t o m o t i v a a supe^

ração do m e s m o .

0 homem não e a c o s t u m a d o a viver

em s o c i e d a d e . Ele a p a r e c e na s o c i e d a d e ,

48

êle c r e s c e na s o c i e d a d e , e o seu cres-

c i m e n t o c o n s c i e n t e e e n g a j a d o é ja cres^

c i m e n t o da s o c i e d a d e m e s m a , p o r q u e de le,

em um t o d o , é a s o c i e d a d e .

Se fosse l i m i t a d o pela s o c i e d a d e e

pelos e l e m e n t o s h i s t ó r i c o s da mesma, £

le seria uma peça em um m o n t e de p e ç a s ,

um t i j o l o em um m o n t e de t i j o l o s , se"não

t i v e s s e voz ativa" e c a p a c i d a d e para S£

p l a n t a r , e n t e n d e r e "criar" p r o g r a m a s de

v i d a . E a sua a t u a ç ã o " c r i a d o r a " que o

torna s i g n i f i c a t i v o e s i gni fi cante em re

lação ao seu fim e ao fim comum da so-

c i e d a d e . Essa s o c i e d a d e , c o n s i d e r a d a cc>

mo um t o d o , a H u m a n i d a d e , ou como uma

parte desse t o d o , tem uma H i s t o r i a que

é sua e que nada s i g n i f i c a para os ojj tros seres do U n i v e r s o c o n h e c i d o . Ao nas

cer o h o m e m se i r r o m p e nessa H i s t ó r i a ,

i n t e g r a - a e o seu s e n t i d o e c o n t e ú d o ,

Mas a H i s t ó r i a não i apenas c o n s t a t a ç ã o

49

de uma c o r r e n t e de fatos d e c o r r i d o s do

i n t e r r e 1 aci o n a m e n t o h u m a n o . Vai mais 1 ojn

ge. A m p l i a os seus h o r i z o n t e s . Ela inte

gra as c o n s t a n t e s e as v a r i a n t e s do re-

l a c i o n a m e n t o do homem também com os ou-

tros seres do U n i v e r s o c o n h e c i d o . E l a ,

e n q u a n t o do homem - e do h o m e m em so-

c i e d a d e - , r e s s a l t a , d e s c o b r e , d i m i n u i ,

a n i q u i l a , a u m e n t a e "cria" valores no

U n i v e r s o , E isso sÕ e p o s s T v e l ao ho-

m e m . E Lewis que diz: "Os animais n ã o

tem h i s t ó r i a . A d u r a ç ã o de cada vida com

p r e e n d e o comêço e o fim de sua ati vi da_

de. Não têm c o n h e c i m e n t o de seu passa-

d o , nem a n t e c i p a m o seu f u t u r o . Não acjj

m u l a m c o n h e c i m e n t o s ( b á s i c o s ) - digo -

t é c n i c o s . N e n h u m a visão do s i g n i f i c a d o

da vida surge ou se d e s e n v o l v e " (17).

(17) - L e w i s , o b . c i t . , p g s . 141 e 25.

50

S e g u n d o o m e s m o a u t o r , "o h o m e m e

algo mais e mais e l e v a d o do que um m e r o

animal r e p e t i d o " . A p a r t i r daí começa o

seu e s t u d o sobre a " s i n g u l a r i d a d e " d o h £

m e m , e m b o r a bem c a l c a d o em c o n s i d e r a -

ções de e v o l u ç ã o b i o l ó g i c a . Essa singu-

l a r i d a d e não pode ser t i r a d a do h o m e m ,

p o r q u e ele é "ator" em sua H i s t ó r i a ,

c o n f o r m e o afirma De Sol ages: "o homem

se acha s i t u a d o em uma h i s t o r i a , t a n t o

c o l e t i v a como i n d i v i d u a l , a que e s t a s u b

m e t i d o , mas em que e ator" (18).

C l a r o , não se trata de "ator" como

em r e p r e s e n t a ç õ e s t e a t r a i s , mas c o m o " £

t u a ç ã o " , " a g i r " . 0 p r ó p r i o De S o l a g e s o

a f i r m a . Êle c o n s i d e r a a " h i s t ó r i a natu-

ral como uma e s p é c i e de p r ê - h i s t o r i a da

(18) - D e S o l a g e s , o b . c i t . , p g s . d e 303 a 3 0 4 .

51

h u m a n i d a d e " .

A sua c a p a c i d a d e " c r i a d o r a " ou siji

g u i a r i d a d e a t u a n t e esta na sua p o s s i b i -

lidade de p l a n e j a r , de o r d e n a r , de uni-

ficar e de dar s i g n i f i c a ç ã o ã sua exis-

tência e a e x i s t ê n c i a de todos os ou-

tros seres que com êle c o n v i v e m no Uni-

v e r s o . Está na c a p a c i d a d e d e , indivi-

dual e c o l e t i v a m e n t e , r o m p e r , s u p e r a r

os c o n d i c i o n a m e n t o s . Esta na c a p a c i d a d e

de c o m p r e e n d e r , dar s i g n i f i c a ç ã o e assiu

.mir os c o n d i c i o n a m e n t o s , sejam h i s t ó r i -

c o s , s e j a m s o c i a i s , q u a n d o o a p e r f e i ç o a

m e n t o pessoal ou c o l e t i v o o e x i g i r . Es-

ta no fato de s a b e r t r a n s f o r m a r os seus

c o n d i c i o n a m e n t o s e s u p o r t e s para a ação

1 i v r e .

E uma c o n s e q ü ê n c i a da i n t e l i g ê n c i a ,

c o n s c i ê n c i a e v o n t a d e h u m a n a s . E a c a p ^

cidade de a u t o d e t e r m i n a r - s e . E o "Eu-em

52

- a ç ã o " , É o p r ó p r i o e x e r c í c i o da liber-

d a d e .

Acho e x t r a o r d i n á r i a a c o l o c a ç ã o da

q u e s t ã o em L a n d s b e r g . Para ê l e , " o homem

e n g a j a d o p e r m a n e c e um h o m e m livre, isto

é , que se liberta p e r m a n e n t e m e n t e pela

humanização". Ve-se aT c l a r a m e n t e a di-

n â m i c a da a t u a ç ã o livre do h o m e m n o m e i o

em que v i v e , s o b r e t u d o o h i s t Ó r i c o - s £

c i a i . 0 e n g a j a m e n t o é "um ato total e

l i v r e " , como "obra do homem integral, e

como "uma decisão da pessoa, que toma

cons ciência de sua responsabilidade es-

pecífica e realiza sua formação positi-

va como pessoa". Há um c o m p r o m i s s o com

o h i s t ó r i c o e com o s o c i a l , seja no seji

tido de a s s u m i - l o , seja no senti do de

s u p e r á - l o , seja no s e n t i d o de t r a n s f o r -

m á - l o . Não se a d m i t e n e u t r a l i d a d e . A neu^

t r a l i d a d e seria q u e b r a de c o m p r o m i s s o ,

a l i e n a ç ã o ou a n o m a l i a . Jamais nossas de

53

cisões p e r m a n e c e m alheias a H i s t ó r i a da

H u m a n i d a d e : "Nossas p r ó p r i a s d e c i s õ e s

i n s e r e m - s e e n t ã o na h i s t o r i a moral da hjj

m a n i d a d e . Pois n e n h u m a decisão de valor

pode ser tomada sem antes r e l a c i o n a r - s e

com todas as demais d e c i s õ e s da m e s m a

p e s s o a , e a s e g u i r com todas as demais

decisões da h i s t ó r i a do gênero h u m a n o .

Q u a n d o a d e c i s ã o e s t a b e l e c e uma nova dj_

reção de vida ela t r a n s f o r m a s e m p r e , ao

m e s m o t e m p o , as d i r e ç õ e s e x i s t e n t e s da

vida pessoal e c o l e t i v a " (19).

•MarTas dedica todo o c a p . X do seu

livro ja citado ã "Vida H i s t ó r i c a " . A-

ponta o i n d i v í d u o e a s o c i e d a d e como su

jeitos da H i s t o r i a . A s s i m , um dos seus

textos situa a q u e s t ã o : "Para que haja

(19) - L a n d s b e r g , o b . c i t . , p g s . de 21 a 3 7 .

54

h i s t o r i a é n e c e s s á r i o que haja m u i t o s

h o m e n s , s u c e s s i v o s , mas p a r c i a l m e n t e c£

e x i s t e n t e s , de tal modo que o 'pretéri-

to' - o h o m e m v e l h o , que e o de 'outro

t e m p o 1 - , seja p r e s e n t e na vida daque-

le que c o n s i d e r a m o s c o m o ' h o m e m a t u a l ' " .

Ele frisa m u i t o a idéia de "situa-

ção" da vida na H i s t ó r i a , o que e q ü i v a -

leria a c o m p a r a ç ã o "texto no c o n t e x t o " .

A s o c i e d a d e , ou m e l h o r , a H i s t o r i a é uma

r e s u l t a n t e da H u m a n i d a d e c o n c r e t i z a d a ,

aqui e a g o r a , em s o c i e d a d e e em indiví-

duos: - u o i n d i v í d u o jã se e n c o n t r a na S £

c i e d a d e , de m a n e i r a que a vida indivi-

dual é , ela p r ó p r i a , s o c i a l , " como "a

s o c i e d a d e so é s o c i e d a d e historicamen-

te". E a H i s t ó r i a é "drama" não sim-

ples v a r i a ç ã o a p e n a s , e isto s i g n i f i c a

que tem argumento e personagens; o que

nos remete ã nossa p e r g u n t a inicial pe-

lo s u j e i t o da h i s t o r i a " .

55

Em outras p a l a v r a s , t a n t o Lands-

berg como M a r T a s chamam a nossa a t e n ç ã o

para a i n s e r ç ã o na H i s t ó r i a , não apenas

como e s p e c t a d o r e s p a s s i v o s , mas como a-

tuantes na c o n s t r u ç ã o da m e s m a , e m b o r a

ela possua elos ou c o n d i c i o n a m e n t o s que

e s c a p a m ãs d e t e r m i n a ç õ e s livres ou ãs ajj

t o d e t e r m i n a ç õ e s da s o c i e d a d e e m e s m o

das i n d i v i d u a l i d a d e s h u m a n a s . N e s s e poni

to não p o d e m o s dizer que a l i b e r d a d e hui

mana "cria" a H i s t ó r i a , em s e n t i d o abs_o

l u t o . Podemos d i z e r , s i m , que a HistÓ-

ri a sÓ tem s i g n i f i c a ç ã o em sua final i dja

de pela i n t e l i g ê n c i a e l i b e r d a d e huma-

n a s . Podemos d i z e r , a i n d a , que a Histó-

ria ê e n r i q u e c i d a pela " s i n g u l a r i d a d e "

do h o m e m , e n q u a n t o a p r e s e n t a um certo

a s p e c t o " c r i a d o r " , " i n o v a d o r " que se ini

sere no curso da m e s m a , d i r i g i n d o - a ã

o r d e m da m a i o r ou m e n o r p e r f e i ç ã o . Mi-

nhas d e c i s õ e s livres a m p l i a m , i n f l a m ,

põem em ação nova e s c a l a de v a l o r e s .

56

D e s c o b r e m e a s s u m e m novos v a l o r e s . Afe-

t a m , e n f i m , a m i n h a p e r f e i ç ã o e a per-

f e i ç ã o , assim como r e a l i z a ç ã o , de tôda

a H u m a n i d a d e ,

E n t e n d i d o a s s i m , p o d e m o s dizer que

n o s , o h o m e m , temos c a p a c i d a d e "criado-

r a " , " i n o v a d o r a " , " c o n s t r u t o r a " e "li-

b e r t a d o r a " da H i s t o r i a .

Essas d i s t i n ç õ e s se fazem n e c e s s á -

rias ou já foram c o l o c a d a s q u a n d o , no

início deste í t e m , eu c o n s i d e r e i os coin

di.ci o n a m e n t o s histÓri co-soci ais como li^

m i t a ç õ e s de l i b e r d a d e ou de p o s s i b i 1 i d a_

d e s , e , em p a r t e , e f e i t o s ou c o n s e q ü ê n -

cias - m a n i f e s t a ç õ e s - da p r ó p r i a 1 i b ejr

dade já e x e r c i d a num p a s s a d o h i s t ó r i c o .

0 Certo e que tanto a s o c i e d a d e co_

mo a H i s t ó r i a , ou melhor, a p r o p r i a s o_

Q - C e d a d e - h i s t ó r - i o a 3 a-

57

p e s a r de ser c o n d i c i o n a n t e e s e m p r e an-

t e r i o r aos i n d i v í d u o s que a f o r m a m no

p r e s e n t e , q u a n t o a sua o r i g e m e m u i t a s

de suas l i m i t a ç õ e s a t u a i s , não seria de

fato uma s o e i e d a d e - h i s t Õ

r i c a se não h o u v e s s e a a t u a ç ã o da

l i b e r d a d e h u m a n a , s e não h o u v e s s e atos

livres que lhe dessem s i g n i f i c a ç ã o e di_

reção em vista a um c r e s c i m e n t o pessoal

e c o l e t i v o ao m e s m o t e m p o . Os c o n d i c i o -

n a m e n t o s h i s t õ r i c o - s o -

c i a i s , ao c o n t r a r i o de i m p e d i r

ou de d i m i n u i r a e x i s t ê n c i a da l i b e r d a -

de h u m a n a , c o n v i d a m o h o m e m a e x e r c i t á -

la na s u p e r a ç ã o das s i t u a ç õ e s - 1 i m i t e s

sem s i g n i f i c a ç ã o , que o b s t a c u l a m a bus-

c a , em um p r o c e s s a m e n t o , dos fins-reali_

z a ç ã o , tanto com r e l a ç ã o ao i n d i v í d u o ,

em si m e s m o , como da vi da s o c i e t á r i a ,

na qual o i n d i v í d u o se acha e n g a j a d o .

Há tempos em que ate as d e t e r m i n a n t e s ou

n e c e s s i d a d e s i n d i v i d u a i s p r e c i s a m ser

58

s u p e r a d a s em razão de o b j e t i v o s comuns

que tragam m a i o r e s valores h i s t Õ r i c o - s £

c i a i s . H a , como diz P r o q u i t t e , uma hie-

rarquia de d e t e r m i n i s m o s , como há uma

h i e r a r q u i a de v a l o r e s . Em ambos os ca-

s o s , a a u t o d e t e r m i n a ç ã o h u m a n a se enca_r

r e g a , d e c i d e - s e pelo que ocupa a área

p r i o r i t á r i a dos valores, s a c r i f i c a n d o

os d e m a i s , se n e c e s s á r i o , numa supera-

ção c o n s c i e n t e e r e s p o n s á v e l .

A p r ó p r i a H i s t o r i a nos f o r n e c e e-

x e m p l o s de fatores h i s t õ r i c o - s o c i a i s d£

t e r m i n a n t e s , sem significação de valor

individual e coletivamente, que não sõ

são o b j e t o de r e c u s a , mas ai nda se trans_

formam em v e r d a d e i r o s desafios a liber-

dade h u m a n a . Toda o p r e s s ã o , como um ca_

s o - e x e m p l o , e , t a l v e z , a p i o r forma de

c o n d i c i o n a m e n t o h i s t õ r i c o - s o c i a l , E q u ^

se s e m p r e livre da parte de quem a pro-

g r a m a , mas s e m p r e coação para quem a r ^

59

c e b e . A p r ó p r i a p a l a v r a o diz c l a r a m e n -

te. £ o c o n t r á r i o da l i b e r d a d e . T o d a -

v i a , nunca se tem tão c l a r a m e n t e a aspi_

ração ã " e x p e r i m e n t a ç ã o " , ao "gozo" da

l i b e r d a d e , e m b o r a l i m i t a d a , como em es-

tado de o p r e s s ã o . Ela e um " s i n a l " , é

uma r e c l a m e de l i b e r d a d e . E q u a n t o mais

é a s s u m i d a c o n s c i e n t e m e n t e , isto é,quaji

to mais se tem e x p e r i ê n c i a e conhecimen^

to da sua n a t u r e z a e dos seus e f e i t o s ,

tanto mais se a s p i r a a l i b e r d a d e . De cer

to m o d o a p r ó p r i a o p r e s s ã o se t r a n s f o r -

ma numa e s p é c i e de " e x p e r i m e n t a ç ã o " da

l i b e r d a d e , como um testemunho de "con-

traste ,r.

Não podemos falar de s u p e r a ç ã o li-

vre de c o n d i c i o n a m e n t o s , de q u a l q u e r es^

p ê c i e , se não f a l a m o s em " c r í t i c a " e " a u -

t o e r T t i c a " . A s u p e r a ç ã o livre de condi-

c i o n a m e n t o s s e m p r e se faz d e n t r o de um

p r o c e s s o , que p o d e r i a r e c e b e r o nome de

60

" p r o c e s s o de l i b e r a ç ã o " , ou m e l h o r , "prc)

cesso de l i b e r t a ç ã o " . E i s s e p r o c e s s o

de l i b e r t a ç ã o tem o seu i n i c i o q u a n d o

a pessoa começa a t o m a r c o n s c i ê n c i a e a

j u l g a r os c o n d i c i o n a m e n t o s s e g u n d o es-

calas de v a l o r e s , AT começa a " s u p e r a -

ção" ou a " l i b e r t a ç ã o " . Dessa p r i m e i r a

e t a p a p a s s a - s e a uma s e g u n d a , a de "de-

l i b e r a ç ã o " e de " d e c i s ã o " . Esta s e g u n d a

e t a p a p o d e r - s e - i a c h a m a r t a m b é m "etapa

da e s c o l h a " . A t e r c e i r a e t a p a e a da

"realização" ou " r u p t u r a " . £ a fase da

" a ç ã o " .

Para que i s s e p r o c e s s o se faça coji

v e n i e n t e m e n t e e n e c e s s á r i o que as pes-

soas e a s o c i e d a d e s e j a m formadas crlti_

camente para o exerotoio da liberdade.

P r e c i s a m a p r e n d e r a " d e c i f r a r " os

" s i n a i s " , os " c o n v i t e s " d a H i s t ó r i a ! Pre

cisam i n t e r r o g a r , c o n s t a n t e m e n t e , a si

61

m e s m a s e a H i s t o r i a . 0 fato de "interrc)

gar" e de " d e c i f r a r " c o n s t a n t e m e n t e , se

c r í t i c o e a u t o c r í t i c o , faz que e n t r e m ,

e s t a b e l e c e n d o o p r i m e i r o e l o , no "pro-

cesso de l i b e r t a ç ã o " .

Como disse no i n í c i o , ha os condi-

c i o n a m e n t o s que " i m p e d e m " , " l i m i t a m " ,

a l i b e r d a d e . Mas ha t a m b é m os c o n d i c i o -

n a m e n t o s , s o b r e t u d o h i s t o r i c o — soei a i s ,

que são n e c e s s á r i o s para a e x i s t ê n c i a

h u m a n a e q u e , p o r t a n t o , são n e c e s s á -

r i o s , por e x e m p l o : l e i s , di s ci pl i nas , es_

paço,, heredi tari e d a d e , t e m p e r a m e n t o , cu_]_

t u r a , e t c . . .

Esses c o n d i c i o n a m e n t o s não são li-

mítrofes, num s e n t i d o p e j o r a t i v o , para

a liberdade humana. P o d e r i a ser para um

tipo de l i b e r d a d e p u r a , não h u m a n a . Mas

para a l i b e r d a d e h u m a n a êles são até ne

c e s s a r i o s , são até b á s i c o s , p o r q u e tra-

62

ta-se da l i b e r d a d e de p e s s o a s , q u e , por

sua p r ó p r i a n a t u r e z a são " s i t u a d a s " e

" e n g a j a d a s " num U n i v e r s o de s e r e s . Êles

tem significação para as pessoas3 para

a sociedade 3 e3 conseqüentemente3 para

a Historia. E aT a pessoa h u m a n a livre

nada mais tem a fazer do que " d e c i f r a r "

ao m á x i m o a sua s i g n i f i c a ç ã o e assumi-

l o s , os c o n d i c i o n a m e n t o s , c o n s c i e n t e -

c r í t i c a - e l i v r e m e n t e , não mais como

condicionamentos3 mas como valores de

contexto existencial.

Q u a n d o p e r d e r a m , alguns d e l e s , a

" s i g n i f i c a ç ã o de v a l o r , " sejam t r a t a d o s

como os " i m p e d i e n t e s " de que falamos a-

t r ã s ,

63

Conclusão: i i m p o s s í v e l ao hornem-1ivre

v i v e r sem c o n d i c i o n a m e n t o s .

* Ha tipos de c o n d i c i o n a m e n t o s , de toda

e s p é c i e , que impedem o h o m e m de ser li_

v r e . N e s s e caso o h o m e m terá que supe^

rã-los pelo processo de libertação. E

para isto é n e c e s s á r i o que se f o r m e , o

h o m e m , para exercer criticamente a sua

1 i b e r d a d e .

* Há tipos de c o n d i c i o n a m e n t o s , t a m b é m

de todas as e s p é c i e s , i ncl ui ndo os his^

t õ r i c o - s o c i a i s , que não sÕ não impe-

dem o e x e r c í c i o da l i b e r d a d e , mas até

são b á s i c o s para tal e x e r c í c i o . Eles

têm s i g n i f i c a ç ã o de v a l o r . Cabe ao h_o

mem " d e c i f r a r " essa si gni f i cação de vji

lor para a sua e x i s t ê n c i a i n d i v i d u a l

e c o m u n i t á r i a ( s o c i e t á r i a ) e a s s u m i -

l o s , não mais como condicionamentos3

mas como valores, E isto m e s m o já é

exevoíoio da l i b e r d a d e .

Há t a m b é m a " a t u a ç ã o c r i a d o r a " , "a i-

n o v a ç ã o " , que p r o c e d e da i n t e l i g ê n -

c i a , c o n s c i ê n c i a e v o n t a d e do homem. 1

Por essa " a t u a ç ã o c r i a d o r a " , a " s i n g £

l a r i d a d e " do h o m e m , a H i s t o r i a pode

ser e e dirigida. E a d i r e ç ã o do ho-

m e m , em relação ã H i s t ó r i a , se faz em

vista ã m a i o r ou m e n o r p e r f e i ç ã o da

m e s m a , e n q u a n t o um "todo" r e s u l t a n t e .

0 h o m e m , de certo m o d o , constrói a sua

H i s t ó r i a . E a c o n s t r u ç ã o da H i s t o r i a

ê o m á x i m o da m a n i f e s t a ç ã o de sua li-

b e r d a d e !

V - ASSUMIR O MUNDO

Não tenho n e n h u m a p r e t e n s ã o de ra-

c i o n a l i z a ç ã o da l i b e r d a d e e , c o n s e q ü e n -

t e m e n t e , da p r ó p r i a m i s s ã o ou f u n ç ã o do

homem no m u n d o . Eu m e s m o acho que os a_r

g u m e n t o s ou t e n t a t i v a s s u m a r i a s de ex

p l i c a ç ã o racional da l i b e r d a d e , no Ttem

I I I , me s a t i s f a z e m , mas não p l e n a m e n t e .

0 a s s u n t o ê m u i t o c o m p l e x o para ser tão

f a c i l m e n t e e x p l i c a d o . Para mim so uma

coisa ê certa e não exige m u i t a explica_

ção r a c i o n a l : é a experimentação da li-

berdade. Jã no Ttem IV p r o c u r e i s e n t i r

e e s t u d a r a l i b e r d a d e no h o m e m que e

" s i t u a d o " e " e n g a j a d o " numa s o c i e d a d e ,

numa H u m a n i d a d e , na sua H i s t o r i a . DaT

muita coisa se p o d e r i a c o n c l u i r com re-

lação a função ou m i s s ã o do h o m e m . Mas

66

acho que esse a s s u n t o m e r e c e um p o u c o

mais de c o n s i d e r a ç ã o !

As e x p e r i ê n c i a s , ou s e j a , os com-

p o r t a m e n t o s h u m a n o s c o n s c i e n t e s e li-

vres ou em p r o c e s s o de l i b e r t a ç ã o , im-

plicam t r a n s f o r m a ç õ e s na ordem da per-

feição dos s ê r e s , com os quais o homem

ésta em c o n t a t o e x i s t e n c i a l . 0 h o m e m e

êsses outros sêres f o r m a m o m u n d o ! E na

m e d i d a em que o homem vai se inserindo

comprometidamente no seu mundos vai "co

m u n i c a n d o - s e " , " e m p r e s t a n d o - s e " e "par-

ti ci p a n d o - s e " aos outros s ê r e s , que com

êle c o n v i v e m no m u n d o . Sob um certo as-

pecto p o d e r - s e - i a dizer que o h o m e m "em

presta i n t e l i g ê n c i a " , pois e pela inte-

ligência h u m a n a - não temos c o n h e c i m e n -~ íe

to de o u t r a , a nao ser q u e ^ q u e i r a refe-

rir-se a Deus - , que os seres não inte-

l i g e n t e s , não a u t o d e t e r m i n a n t e s , rece-

bem s i g n i f i c a ç ã o em suas e x i s t ê n c i a s e

67

f i n a l i d a d e s , que crescem "com s e n t i d o "

na escala e ordem de p e r f e i ç ã o ! A l i á s ,

o p r ó p r i o e n g a j a m e n t o outra coisa não

e senão um " e n t r a r i n t e l i g e n t e e 1 i v r e " ,

e n q u a n t o p o s s í v e l , no "meio" para fer-

m e n t á - l o , d a r - l h e s e n t i d o e f a z e - l o

" c r e s c e r " na ordem da p e r f e i ç ã o do "to-

d o " , do U n i v e r s o . Ê i m p o s s í v e l v i v e r sem

" e n t r a r em c o n t a t o " , sem " u t i l i z a r d e " ,

sem " m o d i f i c a r a l g o " ! Mas pode aconte-

c e r , e a c o n t e c e m e s m o m u i t a s v e z e s , que

esse " m o d i f i c a r algo" não seja i n t e n c i £

nal e c o n s c i e n t e m e n t e p r o g r a m a d o pelo

h o m e m . Nesse c a s o , os outros seres se-

rão ú t e i s , mas nada significarão na or-

dem de p e r f e i ç ã o da H i s t ó r i a , do Unive_r

so! Serão üteis3 mas insignificantesl

C o n s e q ü e n t e m e n t e , não s e r ã o c o l o c a d o s

no " p r o c e s s o de l i b e r t a ç ã o " da H i s t ó r i a

e do U n i v e r s o , p r o v o c a d o e r e a l i z a d o ,

l e n t a , mas c o n t i n u a m e n t e pela inteligin^

c i a , c o n s c i ê n c i a e v o n t a d e h u m a n a s .

68

Ao i n v é s , q u a n t o mais i n t e 1 i g e n t e e

livre o h o m e m se m o s t r a r , no "agir" em

seu " c o n t e x t o e x i s t e n c i a l " , t a n t o mais

ele se e n g a j a r a , t a n t o mais ele "empres^

tarã" e " p a r t i c i p a r á " i n t e l i g ê n c i a , daji

do s e n t i d o , aos outros s ê r e s , tanto mais

êle a s s u m i r á o m u n d o , t a n t o mais êle fa

ra o m u n d o " " c r e s c e r " na ordem dos valo-

res3 na ordem da p e r f e i ç ã o !

Creio que a m i s s ã o do h o m e m não se

ja sÓ a de viver! Hã sêres não h u m a n o s

que vivem t a m b é m ! T a l v e z sua missão"sija

g u i a r " , ou "como s i n g u l a r " , seja a de

dar e a de encontrar sentido na sua e-

xistancia e na existência de todos os se

resl E , t a l v e z a i n d a , o ponto crucial

dessa m i s s ã o seja a n e c e s s i d a d e de as-

sumir o mundo e a de inserir os seres

que o compõem no P R O C E S S O DE L I B E R T A Ç Ã O

DA H I S T O R I A ! ! !

VI - CONCLUSÃO: "A NOSSA HISTÓRIA"

A minha c o n c l u s ã o não tem a r g u m e n -

tos e não e uma s í n t e s e do c o n t e ú d o d e £

te t r a b a l h o . í um p e n s a r a 1 -

t o ! Não q uma p o e s i a . E uma r e

f 1 e x ã o ! Não me i m p o r t a a f o r m a .

I m p o r t a - m e , s i m , a s e r i e d a d e e a impor-

tância do a s s u n t o , que e n g l o b a o pes-

s o a l , o social e o h i s t ó r i c o . 0 homem

e esse - p a r a d o x o que está aT! " l i v r e " e

" l i m i t a d o " , "e c r i a d o " e " c r i a " , "e anj^

mal" e "e racional". 1

E rico p o r q u e 5 p a r a d o x a l !

E nesse tipo de r e f l e x ã o , creio e_s

tar a m e l h o r c o n c l u s ã o , ao menos a mais

70

c o e r e n t e com o meu modo de p e n s a r s o b r e

o H O M E M , livre e c o n d i c i o n a d o , sobre H

B E R D A D E e c o n d i c i o n a m e n t o s , s o b r e t u d o

os HISTfiRICO-SOCIAIS.

Q u a n d o falo de I N T E L I G Ê N C I A e n g l o -

bo aí todas as c a r a c t e r í s t i c a s da per-

s o n a l i d a d e h u m a n a : c o n s c i ê n c i a , vonta-

d e , l i b e r d a d e , s e n t i m e n t o s , etc.! Não

tenho nenhuma p r e t e n s ã o p o é t i c a , repi-

to. Foi o m e i o mais a d e q u a d o que encon-

trei para e x t e r n a r uma c o n s i d e r a ç ã o bem

m i n h a m e s m o !

V a m o " s a e l a :

A NOSSA HISTÓRIA

Hã di as . . .

Hã bem poucos d i a s . . . eu v i a j a v a .

E no v a z i o de um dia l í m p i d o eu via e

71

p e n s a v a :

- Via uma b a r r a g e m , c o m o uma i m e n s a for,

t a l e z a , e p e n s a v a : o h o m e m

é forte!

- Via os h o s p i t a i s e os a s i l o s r e p l e -

t o s , e p e n s a v a : o h o m e m

ê fraco!

- Via o rio a n c o r a d o , m a n s o e o b e d i e n -

t e , e p e n s a v a : o h o m e m

é dominador.'

- Via os m e n d i g o s i m p l o r a n d o u m a e s m o l a ,

e p e n s a v a : o h o m e m

ê mesquinho•

- Via c r i a n ç a s m a l t r a p i 1 h a s , g i r a n d o sem

r u m o , p e l a s r u a s , e p e n s a v a : o h o m e m

é ignorante/

- Via t u d o em h a r m o n i a , em q u a s e perfei^

ta o r d e m , e p e n s a v a : o h o m e m

ê inteligente.'

0 H O M E M T E M UMA V A N T A G E M :

T I N T E L I G E N T E :

72

O H O M E M T E M UMA D E S V A N T A G E M :

E I N T E L I G E N T E :

A inte A INTE

A inte A i nte

A inte A inte

A inte A inte

A INTE A inte

i gen ci a cons trõi i g ê n c i a d e s t r õ i

rgen cia une i g ê n c i a di vi de 4 • • »

i g ê n c i a gera c o m p r e e n s ã o i g ê n c i a i n c i t a t o r m e n t o .

i g ê n c i a gera a l e g r i a .... i g ê n c i a p r o d u z s o f r i m e n t o

i genci a causa a m o r i g ê n c i a p r o e r i a o d i o . . . .

E no t u m u l t o de m e u p e n s a m e n t o ,

Uma o u t r a v i s ã o c o n f u n d i u - m e m a i s ain-

da.'

Vi uma e s p a ç o - n a v e em vôo hã m a i s de

três mil a n o s !

Sua t r i p u l a ç ã o g o z a v a do s o n o dos três

mi 1:

73

ERA O M Á X I M O DA T É C N I C A !

ERA O M Á X I M O DO D E S E N V O L V I M E N T O !

ERA O M Á X I M O DA I N T E L I G Ê N C I A !

De r e p e n t e c h o c o u - s e contra um p l a n i t a

des conheci d o .

E no p l a n i t a havia m a c a c o s e h o m e n s . . .

Os m a c a c o s f a l a v a m

Os homens eram m u d o s !

Os m a c a c o s p e r s e g u i a m

Os homens eram p e r s e g u i d o s !

Os m a c a c o s se a s s e n t a v a m a m e s a

Os homens d e p e n d u r a v a m - s e ãs a r v o r e s !

Os m a c a c o s se a l i m e n t a v a m

Os homens se e m p a n t u r r a v a m !

Os m a c a c o s e s t u d a v a m

Os homens eram e s t u d a d o s !

Os m a c a c o s j u l g a v a m

Os homens eram j u l g a d o s !

ERA 0 P L A N Ê T A DOS M A C A C O S !

74

Um dos t r i p u l a n t e s ,

C o n s e r v a n d o a t é c n i c a , o d e s e n v o l v i m e n -

to e a i n t e l i g ê n c i a dos três m i l ,

Evadi u - s e . . .

E m b r e n h o u - s e pela " F l o r e s t a P r o i b i d a " ,

Mas uma e s t a t u a em ruínas o fêz parar...

Era uma e s t a t u a m u i t o c o n h e c i d a ,

ERA A E S T A T U A DA L I B E R D A D E !

E no d e s e s p ê r o êle ficou preso pela so-

1i d ã o .

E na s o l i d ã o de seu d e s e s p ê r o êle com-

p r e e n d e u :

T u d o foi feito ... T u d o foi des-truído! Do p l a n ê t a de homens ... Ao planê-ta de m a c a c o s ! Os homens c o n s t r u i r a m tudo ... Os homens d e s t r u í r a m tudo!

DE VOLTA DA V I A G E M AOS A S T R O S ,

DE HOMENS SÜ E N C O N T R O U OS R A S T R O S !

75

O filme t e r m i n o u ,

Mas eu c o n t i n u a v a a p e n s a r !

E o meu p e n s a m e n t o jã era um pouco d i f £

rente:

EU P E R G U N T A V A !! !

Nao p e r g u n t a v a donde v i m , p o r q u e V I M !

P e r g u n t a v a :

QUE SOU? - QUE DEIXO?

Eu nao f i CO , mas dei xo 0 que c o n s t r u i ! Eu não f i CO , mas dei xo 0 que d e s t r u i !

Eu não f i CO , mas dei xo 0 que uni ! Eu não f i CO , mas dei xo 0 que d i v i d i !

Eu não f i CO , mas dei xo a al egri a que g e r e i !

Eu não fi CO , mas d e i x o 0 s o f r i m e n t o que f a b r i q u e i !

Eu não f i c o , mas deixo o amor que vivi! Eu não f i c o , mas deixo o ódio

que e x p e l i !

76

EU DEIXO OS MEUS R A S T R O S ,

COMO C A R A C T E R E S NAS P Á G I N A S DE UM

LIVRO!

EU DEIXO UM L I V R O ,

NOS D E I X A M O S OS LIVROS DA NOSSA

H I S T O R I A !

E as g e r a ç õ e s n o v a s , com novas v i d a s ,

As g e r a ç õ e s do f u t u r o ,

P r o c u r a r ã o d e c i f r a r nossos r a s t r o s ,

E T e r ã o ,

NOS LIVROS DA NOSSA H I S T O R I A :

O povo de

0 povo de

O povo de

O povo de

0 povo de

O povo de

c o n s t r u i u

destrui u

.. uni u

d i v i d i u

, odiou

amou

E , e n t ã o ,

Essas novas g e r a ç õ e s

S a b e r ã o o

Q U E S O U

S a b e r ã o o

QUE SOMOS !!.'

E isto é c o n s o l a d o r ,

üa que nos ...

Nos m e s m o s ...

Nem s e m p r e nos p r e o c u p a m o s em s a b i

+ + +

ÀQUELES QUE SABEM O QUE SÃO.

ASSISTIRÁ O DIREITO DE MEMÓRIA

O QUE VALE NÃO É DOMINAR UMA NAÇÃO.

Ê CONSTRUIR SÃBIAMENTE UMA HISTÓRIA

i m p r e s s ã o da e d i t o r a o l u t a d o r

r . i r . c e l e s t e , 185 - b . h . - m g