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GT ANPOLL – RELAÇÕES LITERÁRIAS INTERAMERICANAS
AMERICANIDADE/AMERICANIZAÇÃO
Zilá Bernd
UFRGS/CNPQ
Mérica, Mérica, Mérica,
Cosa sarà la sta Mérica?
Mérica, Mérica, Mérica,
L’è un bel massolino di fior.
(Anônimo)
Definindo os objetivos
Os objetivos da presente reflexão são muito ambiciosos, talvez
demasiadamente ambiciosos e por isso pode acontecer que seu
percurso fique inacabado. Mas acreditamos que valha a pena tentar
refazer a trajetória que o conceito de americanidade perfaz através das
Américas, retraçando seus deslocamentos, suas transferências e as
razões pelas quais ele é ora reivindicado ora rejeitado, pairando quase
sempre sobre ele o manto diáfano da ambigüidade. Justifica-se o
esforço por ser um conceito intimamente associado às questões de
identidade, podendo corresponder a um anseio de afirmação identitária
mais abrangente, para além das nacionalidades, dos gêneros e das
etnias, por tratar-se de um desafio de identificação continental.
Pensando-se na extraordinária heterogeneidade do continente
americano, esta proposta parece irrisória: como identificar-se a algo com
tantas facetas onde convivem a riqueza e a pobreza, onde os desníveis
econômicos e sociais são imensos e onde tantas culturas se mesclaram
em diferentes momentos de sua história? Outro obstáculo talvez ainda
mais difícil de vencer é que a proposta de adesão a uma identidade
continental obriga a romper com os tradicionais pontos de referência
2
étnicos, lingüísticos e nacionais que são os que, via de regra, criam entre
os indivíduos a noção de pertença a uma comunidade. A grande
vantagem é que a noção de americanidade - com suas variantes
“américanité” e “americanidad” - obriga a introduzir a dimensão da
alteridade na reflexão sobre o identitário, podendo se constituir como
uma espécie de não-lugar identitário para as populações migrantes.
Antes de entrar na questão propriamente dita da migração do
conceito de americanidade através das Américas, para questionar a
oportunidade ou não de sua utilização no despertar do século XXI, cabe
mencionar, ainda que brevemente, alguns esforços já empreendidos no
sentido de tentar apreendê-lo e projetá-lo no âmbito dos estudos
literários no Brasil. Em 1995, editou-se Literatura e americanidade
(Editora da UFRGS) onde o conceito foi usado no sentido de pertença à
América, com ênfase na possibilidade de contribuir para o esgarçamento
de determinadas fronteiras indevidamente impostas entre as literaturas
americanas, permanecendo a Europa como comparante incontornável.
Já neste livro foram lançados desafios para a prática de um
comparatismo literário interamericano. No mesmo ano de 1995,
Imprevisíveis Américas (Sagra Luzzatto/ ABECAN) teve a intenção de
discutir questões de hibridação cultural nas três Américas e de
interrogar-se sobre a possibilidade de as Américas possuírem uma
cultura que, apesar de sua prodigiosa heterogeneidade, teria em comum
o trabalho de e sobre o híbrido. Em 2000, essa obra coletiva teve uma
versão revista e aumentada, editada em inglês, em Amsterdan, sob o
título de Unforseeable Americas; questionning cultural hybridity in the
Americas, onde foi empreendido o questionamento mais aprofundado da
hibridação cultural nas Américas. A criação do GT- Relações literárias
interamericanas da ANPOLL, no ano 2000, deixou claro o interesse de
mais de 20 pesquisadores de diferentes universidades brasileiras de
exercer um comparativismo literário entre as Américas, exercício esse
3
que implica a revisão de muitos conceitos teóricos entre os quais o de
americanidade.
Nossa caminhada será longa, pois temos que antes de mais
nada nos entender sobre o que significam as expressões: americano/a,
americanidade, americanização e até mesmo América. Se formos
buscar ajuda no Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa, ele nos
confirma que “americano” é uma noção imprecisa, relativa em geral à
América do Norte, em especial aos Estados Unidos; em uma segunda
acepção, americano figura como relativo à América ou a qualquer país
deste continente. Enquanto, “americanizado” é referente à semelhança
com os americanos dos Estados Unidos e “americanização” é o efeito de
americanizar-se, de querer tornar-se semelhante aos cidadãos que
vivem nos Estados Unidos da América por admiração ao seu modo de
vida. A ambigüidade vem do fato desses cidadãos não se nomearem
estadunidenses, mas americanos, num processo metonímico
hipervalorizante. Enquanto os habitantes dos países latino-americanos
estavam se empenhando em definir-se como argentinos, uruguaios,
colombianos, brasileiros, etc, implicados em resolver a questão da
identidade nacional, os estadunidenses se apropriaram dos termos
América e “americano”, fazendo com que hoje, quando se fala de
“cultura americana” ou “cinema americano” ou simplesmente quando
dizemos que “fulano é americano”, por exemplo, associa-se o adjetivo,
em primeiro lugar, aos Estados Unidos.
Uma das personagens de Noël Audet, ao viajar do Quebec aos
Estados Unidos, é impedida de entrar no país pelos funcionários da
alfândega que a proíbem de entrar na “América”. “Sans blague, proteste-
t-elle, j’habite déjà en Amérique!” Elle a envie de leur crier des injures, de
leur dire qu’ils ont usurpé à leur seul usage le nom d’Américains” (Audet,
1995, p.171).1 Já Maximilien Laroche, em seus ensaios vem, desde os
anos noventa, alertando para esta situação que nos impede de
4
nomearmos a nós mesmos de americanos sem correr o risco da
ambigüidade. Ele chama a atenção para a necessidade de romper com o
círculo vicioso que une obrigatoriamente “uma certa palavra a uma coisa:
a palavra americanidade, por exemplo, e a realidade América do Norte e,
mais particularmente, esta palavra e a realidade dos EUA” (Laroche,
1992, p.193). O interessante no texto de Laroche é que ele não apenas
constata a apropriação do termo pelos estadunidenses, como destaca os
efeitos de ambigüidade que dela decorrem, passando para uma
argumentação vigorosa em favor da reversão desta situação e propondo
que redescubramos a América, ou que juntos – latino-americanos,
antilhanos, brasileiros, quebequenses - a reinventemos. Neste sentido,
ele cita os autores Bell Gale Chavigny e Gari Laguardia que, no livro
Reinventing the Americas, comparative studies of literature of the United
States and Spanish America (Cambridge University Press, 1986),
afirmam que “a reinvenção da América deve começar pela
demonstração (revelação) da incoerência retórica que cometemos a
cada vez que designamos os Estados Unidos pelo signo ‘América’ um
nome que pertence de direito aos hemisférios” (Chavigny e Laguardia,
1986, p.VIII, apud Laroche, 1992, p.195).
Percurso brasileiro
No século XVIII, José Basílio da Gama compõe O Uraguai
(1769), obra que está nos fundamentos da identidade nacional,
invocando o “gênio da inculta América” (canto IV) o que corresponde à
personificação da Musa invocada inicialmente no canto I. Menciona
ainda no canto V, a “Liberdade Americana” (com maiúsculas) e refere-se
aos índios vencidos das Missões jesuíticas como o “rude Americano,/
que reconhece as ordens e se humilha,/ e a imagem de seu rei prostrado
1 “Isto é brincadeira, protesta ela, eu já moro na América! “Ela tem vontade de gritar-lhes injúrias, de dizer-lhes que eles usurparam, para seu uso particilar, a denominação de americanos”. (A tradução é minha)
5
adora” (GAMA, V, 137-139). Recuando ainda mais no tempo,
encontramos numerosas citações de Vieira (1608-1697) que incluem a
palavra América em referência ao continente, como o Sermão Vigésimo
Sétimo, em relação aos escravos: “e passam da mesma África à América
para viver e morrer cativos” (Vieira, 1981, p.84); ou o Sermão do Espírito
Santo : “e o pudera dizer com muita razão aos nossos da América”
(Vieira, 1981, p.142). Mas talvez seja no Sermão da Epiphania onde
apareça mais nitidamente sua concepção da América como um todo
onde o Brasil se inclui. Menciona ainda o fato de os três reis magos
representarem a Ásia, a África e a Oceania. E a América, o Novo Mundo,
como fica, indaga o padre (Vieira, 1957, p.206-209), clamando para que
esta nova terra seja mais respeitada.
Destaque-se, portanto, que, no que se refere ao Brasil, nem
sempre se cometeu a “incoerência retórica” de que falam os críticos
acima mencionados, pois a historiografia literária brasileira nos mostra
que, do século XVII ao XIX, circulava a palavra “americano” em
referência ao Brasil. José de Alencar, no prefácio ao romance Sonhos
d’ouro (1872), ao introduzir a expressão “literatura nacional”, fala em
“seiva americana”:
A literatura nacional, que outra coisa não é senão a alma da pátria,
que transmigrou para este solo virgem com uma raça ilustre, aqui impregnou-se da
seiva americana desta terra que lhe serviu de regaço, e cada dia se enriquece ao
contato de outros povos e ao influxo da civilização.
Mais adiante, no mesmo prefácio, ao falar das três fases da
literatura brasileira, reconhece que na segunda, a histórica, “se dá o
consórcio do povo invasor com a terra americana e a lenta gestação do
povo americano” (os grifos são meus). Como se vê, fica bem claro que
no século XIX, o discurso social punha em circulação o ideologema
americano/a como equivalente de brasileiro/a. Luiz Roberto Cairo, em
6
artigo intitulado “Francisco Adolfo Varnhagen e o instinto de
americanidade” (2000), investiga o que seja o instinto de americanidade
“que tão de perto parece ter acompanhado a construção do instinto de
nacionalidade na literatura brasileira”. Em seu artigo, Cairo cita Hélio
Lopes (1997) que definiu o americanismo como “uma exaltação do
continente americano, visto como um dos aspectos do nacionalismo
romântico brasileiro”(Cairo, 2000, p.86), chegando mesmo a afirmar que
o “americanismo” dos românticos brasileiros consistia em uma
usurpação do termo América: “chega-se a roubar o próprio nome da
América para restringi-lo ao Brasil” (Lopes, 1997, apud Cairo, 2000,
p.86). Esta constatação de “usurpação” da palavra América pelos
românticos, em referência ao Brasil, é prova inequívoca de que os
ideologemas viajam e que o “pecado” de usurpação cometido pelos
estadunidenses já fora cometidos por nossos poetas românticos. Não
seria difícil construir hipóteses sobre o porquê e o quando esta prática
deixa de ser costumeira. Acreditamos que “América” e “americano” foram
gradativamente substituídos por “Brasil” à medida que se consolidava o
projeto nacional e que institucionalizar as letras brasileiras tornou-se
uma urgência. Valeu enquanto significava oposição à Europa; quando
os Estados Unidos passam a exercer influência sobre a América Latina,
o interesse passa a ser o de se demarcar de um ideologema ambíguo
em favor de um que representasse nossa identidade de maneira
inequívoca como Brasil, brasilidade e brasileiro. Outra hipótese é
levantada por Donaldo Schüler, em seu mais recente livro (2001), onde
ele reflete sobre “O fazer literário no espaço americano”. Para o crítico
gaúcho,
O mapa do continente americano emerge das lutas por independência
manchado de nacionalidades, fragmentos de unidades impostas, herança de conflitos
distantes. As unidades políticas se isolam ressentidas, mutuamente hostis.
Desenvolvem-se inseguras, carentes. Nascidas de batalhas contra o autoritarismo de
cabeças coroadas, não cessa a resistência à subordinação imperialista, rapineira,
7
culpada pela transferência de nossas riquezas para outros territórios. O receio de que a
influência alienígena contamine legados culturais de que nos orgulhamos dissemina
cautelas. (Schüler, 2001, p.12)
Os modernistas, a começar por Mário de Andrade, vão tentar
definir a essência da brasilidade, sempre em oposição à Europa,
interessando-lhes acima de tudo a construção da língua e da cultura
nacionais. Suas sínteses não englobavam de forma alguma a Europa;
Mário de Andrade volta os olhos para a América, ao recolher, para
compor Macunaíma, mitos e lendas de toda a América Latina, tentando
integrá-los em uma única narrativa:
- Paciência manos! Não vou na Europa não! Sou americano, o meu lugar é
na América. A civilização européia na certa esculhamba a inteireza do nosso caráter.
(Andrade, 1975, p.145)
Sem dúvida, os postulados da Antropofagia prefiguram-se como
emergência do que hoje estamos chamando de americanidade, ao
preconizar uma identificação distintiva ao continente americano. O
poema Cobra Norato, de Raul Bopp (escrito em 1928 e editado em
1931), precursor da Antropofagia, ao apelar aos mitos cosmogônicos da
Amazônia, associados à renovação, e ao aderir ao imaginário mágico-
sacral dos nativos da América (“Agora sim, me enfio nesta pele de seda
elástica (da cobra) e saio a percorrer o mundo”) está fazendo prevalecer
a visão de mundo autóctone e afro-americana, sobre o racionalismo
europeu.
Percurso quebequense
No contexto quebequense, talvez seja ainda mais complexa a
relação com a América, pois sabe-se que a dupla colonização do
Québec, primeiramente pelos franceses em 1534 e depois pelos
8
ingleses em 1760, deixou uma ferida difícil de cicatrizar. Todo o
empenho em preservar a língua e a cultura francófonas no território da
província do Quebec teve que ser feito ao mesmo tempo a favor e contra
a França, num jogo de ambivalências que perdura até hoje. A favor da
França por ser imperioso para a comunidade preservar a herança do
patrimônio cultural francês e contra ela, pois o ressentimento de terem
sido laissés pour compte, quando da invasão inglesa, foi um trauma
difícil de resolver. Por isso, parece à primeira vista paradoxal que a
cultura francesa seja tão ferrenhamente defendida, enquanto os
franceses (“les Français de France”) sejam considerados como os
“maudits français” (malditos franceses). Esta situação determinou uma
busca de afirmação identitária calcada no repli sur soi (no
ensimesmamento), num retorno nostálgico ao passado e numa
demarcação territorial circunscrita aos limites da província. A célebre
expressão “nous autres québécois” (nós, os quebequenses) é reveladora
de uma identidade de raiz única, voltada para a determinação e
valorização da história, da língua, da religião, da cultura e dos valores
herdados da colonização francesa. Esta postura de preservação
caracterizou a afirmação identitária como defensiva, distante da fórmula
dos antropófagos brasileiros cuja proposta era preferencialmente
agressiva, de devoração da cultura do outro. No contexto do Quebec, o
outro que ameaça o equilíbrio instável da cultura quebequense, foi, à
época da invasão, a Inglaterra, passando depois a ser representado pela
América anglófona, ou seja pelas províncias canadenses de língua
inglesa e pelos Estados Unidos.
Só bem recentemente, a partir dos anos 70 do século passado,
começa a haver uma abertura no debate identitário, com a inclusão de
um número maior de interlocutores, representados pelos numerosos
contingentes imigratórios que chegaram ao Quebec nos dois últimos
séculos. Léon Bernier (2001) destaca a dificuldade para alguns
quebequenses em pensar a identidade como um sistema de círculos
9
concêntricos (identidade quebequense, canadense, americana),
confundindo americanidade (américanité) com estadunidade. Porém,
sobretudo entre os mais jovens, verifica-se a percepção de que o
desenvolvimento de uma consciência continental, não se traduz pelo
apagamento do sentimento de pertença a uma sociedade distinta, o
Quebec.
A americanidade não se confunde com americanização (assumir
o american way of life), pois remete – ao contrário – à inserção de um
dialogismo, como oposição ao “consenso globalizante da anglofonia”.
Como, nos dias de hoje, a grande maioria dos quebequenses são
descendentes de imigrantes das mais diversas origens, emerge no
Quebec uma francofonia mestiça, caracterizada pela permeabilidade e
pela integração de distintos socioletos. Este é o ponto de vista de Van
Schendel (2001) que introduz o conceito de americanidade da francofonia como vetor de uma pluralidade de pontos de vista e
contraponto dialógico à globalização.
Gérard Bouchard, em Génèse des nations et cultures du
Nouveau Monde (2000), vale-se reiteradas vezes do conceito de
americanidade emprestando-lhe um sentido de resistência à atitude de
buscar sempre referências na Europa. Para ele, o conceito é paralelo ao
de africanidade ou antilhanidade, designando “a soma das transações
através das quais os membros de uma população nomeiam e ou
sonham com seu habitat” (Bouchard, 2000, p.23). É interessante notar
também que americanidade designa, em sua reflexão, as marcas que a
cultura e o falar populares adquirem por distanciarem-se dos padrões da
norma culta emanada da Europa. Assim, ele afirma que a literatura
erudita ficava muito tolhida pela norma da língua francesa, nutrindo uma
relação de menosprezo com a cultura popular o que afastava os
escritores “de uma americanidade viva e robusta que, aliás, forneceu
um rico material às práticas discursivas” (Bouchard, 2000, p. 126). O
emprego que faz do conceito é muito positivo, chegando mesmo a
10
afirmar que só emerge uma literatura quebequense, a qual irá nomear a
nação que passará a chamar-se Quebec, quando a cultura se torna
realmente americana, isto é, deixa-se impregnar pelos neologismos,
impurezas, anglicismos e transgressões associados à redescoberta da
América. As mestiçagens seriam as figuras da americanidade, assim
como, no contexto latino-americano, o crioulo, em um primeiro tempo, e
depois o mestiço se tornam figuras autênticas da americanidade. Para
o autor, a americanidade da América Latina está inacabada porque os
processos de continuidade e ruptura (em relação aos modelos europeus)
vêm se alternando e os mecanismos de apropriação simbólica não
estão ainda inteiramente concluídos.
Jean Morisset é bem mais reticente em relação ao idelogema da
americanidade, colocando-o sob suspeição, por se tratar de um
neologismo que surge na América hispânica – americanidad 2 – e por
continuar sendo associado apenas aos Estados Unidos. É interessante
notar que não há um equivalente em inglês para esta palavra, o que nos
leva a crer que o idelogema não circula – ou ao menos não com este
rótulo – no contexto anglófono. Neste sentido, o geógrafo da cultura e
comparatista que assinou numerosos artigos de envergadura
comparatista Quebec/ Brasil, prefere falar de Américas no plural, para
eliminar toda e qualquer ambigüidade e para introduzir a perspectiva da
diversidade e da pluralidade.
Pierre Nepveu, em Intérieurs du Nouveau Monde; essais sur les
littératures du Québec et des Amériques, esclarece já no prefácio suas
restrições em relação à noção de americanité, segundo ele, “neologismo
quebequense que freqüentemente significou (e significa cada vez
menos, felizmente) uma imensa ignorância da América e sua redução a
valores estereotipados nos quais não me reconheço: primitivismo,
naturalismo, anti-intelectualismo, mitologia dos grandes espaços,
sacralização da juventude e do novo” (Nepveu, 1998, p.7). Contudo, a
11
relação de abertura que o autor propõe com respeito à América, faz do
livro um ponto de referência obrigatório para quem pretende se deter
nesta questão das relações entre as identidades nacionais e uma virtual
identidade continental, que não se confunde com homogeneização nem
com melting pot, mas com dispositivo de ruptura com a idéia limitadora
de fronteiras e de limites, ampliando-se as noções de espaço. O que é
acima de tudo valorizado, na revitalizante proposta de Nepveu, é a
possibilidade que a americanidade - ou como quer que queiramos
chamar as tentativas de estabelecimento de diálogo entre as Américas -
oferece às literaturas, por mais ligadas que estejam a culturas
particulares, de se abrirem a outras influências para, depois, voltarem
mudadas, “carregadas de imagens e de idéias novas” (Nepveu, 1998,
p.9).
Outro instigante ensaio que traz à baila a questão da
americanidade é Le mythe américain dans les fictions d’Amérique, de
autoria do crítico quebequense Jean Morency (1994). Comparando
autores estadunidenses e quebequenses conclui sobre a presença, no
corpus selecionado, de um mito unificador centrado no princípio da
renovação. A esse mito de renovação ele chama de mito americano o
qual constituiria a grande narrativa das metamorfoses do homem em
contato com o Novo Mundo e sua tentativa de superação dos conflitos
iniciais.
Para encerrarmos, a tentativa de cartografar as migrações do
ideologema da americanidade, no que se refere ao Quebec, é oportuno
destacar a posição do historiador quebequense Yvan Lamonde. Em
recente artigo (Le Devoir, out. de 2001), Lamonde desabafa criticando
justamente a inflação da noção de americanidade nos últimos tempos,
sobretudo a partir da Cúpula das Américas (Sommet des Amériques),
que aconteceu em Quebec, em abril de 2001. Ele quer evitar que a
2 Americanidad: expressão de uso corrente na América Latina no século XIX, para sublinhar a existência de uma outra América, a América Latina, diferente da América do norte anglo-saxã. (cf Thériault, J.Y., 2001)
12
noção de americanidade inflame as consciências e se torne um novo
messianismo. Apoiado em suas pesquisas, aponta a necessidade de
lembrar que a americanidade é apenas um dos componentes da
identidade histórica do Quebec. Faz questão de sublinhar o ordinal “um”
porque é preciso não esquecer que as experiências que ligaram o
Quebec à França, como primeiro colonizador, e à Inglaterra, como
segundo, foram tão determinantes para a formação da identidade
quebequense quanto a experiência americana. Como se vê, ele entende
por americanidade a constatação (e a aceitação) de pertencer ao
continente e de vivenciar experiências americanas. Lembra que há uma
síntese a realizar e que essa síntese deve incluir todas as heranças, logo
a americanidade e a europeidade, e que a noção de americanidade não
deve se confundir com uma aceitação incondicional da americanização
“ou de qualquer forma de imperialismo, garantindo a vigilância contra
qualquer projeto em que o econômico venha a comandar a
continentalização do imaginário e da cultura”. (Lamonde, 2001)
Percurso caribenho
Os ideologemas não apenas viajam como se
metamorfoseiam e se travestem, a exemplo dos tricksters que povoam o
imaginário americano. Assim, em 1927, quando surge no Haiti a Revue
Indigène, seus objetivos são os de chamar a atenção para o que havia
de mais recuado nas Américas antes da chegada dos conquistadores: os
índios (caraíbas e arawakes) que, no caso do Caribe, sofreram o
genocídio logo nos primeiros séculos. A palavra de ordem do manifesto
de Normil Sylvain, publicado no n. 1 da Revue Indigène, parece ser o da
renovação o que não significa fazer tábula rasa dos aportes culturais
europeus, mas “construir uma doutrina original” a partir dos modelos
existentes. Há um desejo manifesto de integração com a América Latina,
propondo que o cordão de isolamento erguido entre a América hispânica
13
e a América francesa seja rompido. A noção de identidade apresentada
pelos articuladores da revista ultrapassa os limites dos essencialismos
como o que leva os latino-americanos a definirem-se como índios ou
negros. Somos antes de tudo homens, afirma Sylvain, concluindo que os
haitianos devem exorcizar a culpa de ignorar a América Latina e tomar
consciência de que “um perigo comum nos ameaça”, ou seja a alienação
cultural e o franco-tropismo que leva a cultura das elites a adquirir um
caráter imitativo e subalterno. Trata-se, como o Manifesto Antropófago
brasileiro, publicado menos de um ano mais tarde, de uma proposta
clara de voltar-se para a América, assumindo com orgulho o termo
indigène (indígena) que fora usado como insulto. Falar a partir de um
“ponto de vista indígena”, isto é, autóctone, americano é a proposta que
encerra o primeiro número da Revue Indigène, coincidindo com os
pressupostos dos modernistas brasileiros com o seu lema “Tupi or not
Tupi”. Reatar com uma tradição americanista interrompida parece ser a
tendência dos intelectuais haitianos de 1927, convergindo com as teses
da Antropofagia, que se inspiraram do ritual antropofágico dos primeiros
habitantes da América, os tupinambás, para formular sua teoria da
cultura nacional.
Seis décadas mais tarde, em 1989, um outro manifesto eclode
no região do Caribe de língua francesa, intitulado Elogio da Crioulidade (Éloge de la créolité), assinado pelos martinicanos Jean Bernabé, Patrick
Chamoiseau e Raphael Confiant. A crioulidade é um agregado
interacional (de influências recíprocas) ou transacional (acordo que tem
por base concessões recíprocas) de elementos culturais caribenhos,
europeus, africanos, asiáticos, etc. que a história reuniu em um mesmo
solo. É, portanto, fruto de um turbilhão de significados em um só
significante, constituindo uma especificidade aberta, contrariamente à
Negritude que se concentrava em torno de uma “especificidade
fechada”: a etnia e a cultura negras. Seus autores distinguem
americanidade, antilhanidade e crioulidade, conceitos que poderiam, no
14
limite recobrir as mesmas realidades. Os processos de americanização
(entendidos aqui não como desejo de tornar-se estadunidense, mas
como processo contínuo de identificação com as Américas) e o
sentimento de americanidade dela decorrente serviriam para descrever
processos de adaptação progressiva das populações ao chamado Novo
Mundo. Diferente seria o processo de crioulização que designaria o
“contato brutal de populações culturalmente diferenciadas que foram
levadas a inventar novos esquemas culturais, para permitir sua
coabitação” (Bernabé, et alii, 1989, p.30). Definida desta maneira, a
crioulidade englobaria a americanidade, pois implica um duplo processo:
- a adaptação de europeus, africanos asiáticos ao Novo
Mundo;
- a confrontação cultural entre esses povos num mesmo
espaço, levando à criação de uma cultura sincrética, dita
crioula.
Edouard Glissant, que havia proposto a superação da negritude
através do conceito de antilhanidade (Discours Antillais, 1981), fornece
com suas teorizações sobre o Diverso e a Relação (Poétique de la
Relation,1990), sólidas bases para a crioulidade. Embora a princípio,
tivesse sido um crítico dos signatários do Éloge, acaba por avalizar o
conceito, preferindo, contudo, imprimir-lhe um caráter dinâmico, através
da introdução do termo: crioulização, que remete ao devir inerente ao
conceito de identidade.
Em uma publicação recente, Walter Mignolo (2000, p.239-249),
reflete sobre a crioulidade que considera um caso especial de
pensamento da margem (border thinking), onde as diferentes
populações em presença no espaço do Caribe são chamadas a
inventar novos projetos culturais que lhes permite coexistir. Seria,
portanto, resposta à busca de uma outra lógica, a lógica da diversidade,
e de um outro pensamento, o pensamento da margem (Mignolo, 2000,
p.247).
15
No contexto do Caribe, vários são os autores que se referem à
americanidade de forma recorrente, como o já citado Maximilien
Laroche, René Depestre e Dany Laferrière. Nos limites do presente
artigo, não é possível dar conta de todos os usos do termo e, portanto,
vamos nos limitar a mencionar um artigo recente de Dany Laferrière,
intitulado “Je suis en Amérique” (2000). Sendo de origem haitiana e
cidadão canadense, viveu no Quebec e residindo atualmente Estados
Unidos, o escritor se situa num entre-lugar que é americano. Afirma ter
o sentimento de pertencer à América e não à Europa (embora sinta-se
ligado à França através da língua) ou à Africa (ligação com a cultura
dos antepassados). A América, para ele, seria um lugar de
cruzamentos: escrever em francês, no jardim da casa de sua mãe no
Haiti, contos que ela lhe contara em créole, faz dele um americano,
como se o continente americano fosse uma espécie de elo de ligação
entre dois mundos, um espaço de hibridação. Já que ele não é mais
apenas haitiano, nem inteiramente canadense (ou quebequense), ele
prefere nomear-se americano, como forma de reconhecer-se em uma
identidade mais ampla. Prefere, portanto, ser reconhecido não como
escritor francófono (palavra inventada pelos franceses), mas como
escritor americano que escreve em uma língua francesa crioulizada.
Percurso hispano-americano
Não poderíamos concluir esse périplo em busca das aparições,
migrações e metamorfoses do ideologema da americanidade sem
relembrar que ele surge na América Latina como americanidad. Aimé
Bolaños3 nos informa que o conceito de americanidad se desenvolve
acompanhando um longo processo de diferenciação e de identificação,
sublinhando a importância do pensamento crioulo da ilustração,
3 Informações fornecidas através de mensagem eletrônica em janeiro de 2002.
16
vinculado às guerras de independência, para a consolidação deste
conceito. Ricardo Ávila (1998) aponta a gênese do conceito em Simón
Bolívar: Americanidad teria circulado primeiramente entre as elites
ilustradas do continente, vindo a tornar-se um mito fundacional, logo,
parte do imaginário coletivo dos latino-americanos. Solidifica-se como
resposta à política do presidente norte-americano Monroe, sintetizada na
frase: “A América para os americanos”, que era interpretada, na América
Latina, como “A América do Sul para os americanos do norte”. As bases
assimilacionistas dessa doutrina originaram a “resposta” latino-
americana que se expressou através da americanidad. Teriam sido,
segundo Ávila, a postura dos norte-americanos de se declararem
paladinos da democracia que deu origem a uma identidade antagonista
na América Latina, opondo as Américas do Norte e do Sul.
Não se pode deixar de mencionar José Martí, quando o tema é a
americanidade. José Martí sonhou com uma América “nossa”: no
antológico Nuestra América (1891), articula seu pensamento em torno
de uma americanidade homogênea, prefigurando uma América “com
um só peito e uma só mente”, a união dos povos e o advento de “novos
homens americanos”. Não se confunda aqui o ideal de Martí, que
corresponde a um ideal da modernidade, de vislumbrar uma América
mestiça e homogênea, com o conceito de americanidade que vimos
tentando construir no âmbito desse artigo. Na conjuntura da pós-
modernidade, reconhece-se a vasta heterogeneidade de culturas em
presença na América e sua capacidade de hibridação e de aceitação
do diverso em uma harmonia polifônica, como referem os autores do
Éloge de la créolité. Martí é ainda hoje uma referência obrigatória por
valorizar todos os elementos da América (a sua natureza, a sua cultura,
o seu povo mestiço) e por acreditar na possibilidade de constituir um
continente harmônico, reconhecendo-se direitos de índios, negros,
brancos e crioulos.
17
Deve-se ao cubano José Lezama Lima (1910-1976) uma das
reflexões mais lúcidas sobre a relação do escritor à América e sobre a
necessidade de uma “expressão americana”. Essa expressão americana
se caracterizaria pela proliferação e pela voracidade, no sentido de
abertura para a recepção de influências, e pela capacidade de recuperar,
restos, vestígios, marcas de culturas desvalorizadas para reencená-las
em um novo contexto. Em suma, a América seria o lugar de
transformação de fragmentos de outros imaginários, caracterizando uma
estética barroca. Irlemar Chiampi, autora do excelente prefácio à
edição brasileira de A Expressão americana (1988), sublinha que “o
barroco figura na fábula de nosso passado como um autêntico começo e
não como uma origem, já que é uma forma que renasce para gerar o
americano” (Chiampi, 1988, p.24). Trata-se não de uma adaptação do
barroco europeu ao contexto americano, mas de constatar que o
verdadeiro barroco é realizado em sua plenitude no Novo Mundo, desde
os atos da vida cotidiana até às mais elaboradas formas artísticas. É
ainda Chiampi quem nos explica que a noção fulcral de protoplasma
incorporativo, exposta por Lezama no último capítulo de A expressão
americana, intitulada “Sumas críticas do americano”, para definir a
originalidade da formação da cultura nas Américas, “deriva
conceitualmente da tese da transculturação” (Chiampi, 1988, p.10). Isto
comprova que, da imbricação de aportes culturais os mais diversos em
presença no continente, não há apenas perdas, mas a geração de
expressões culturais inéditas.
Incontornáveis Américas Do trajeto percorrido, podemos perceber que há nuanças
significativas entre os conceitos de americanidad, américanité e
americanidade o que era, aliás nossa hipótese inicial. Americanidad
surge primeiramente como força propulsora das independ6encias e,
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mais tarde, como revide ao temor de um neocolonialismo norte-
americano, estando ligado a determinadas urgências de uma América
que precisa concluir seus processos de independência social, política e
econômica.4 Quanto à américanité quebequense, trata-se sobretudo de
destacar o seu caráter francófono, de reconhecer que a herança
européia não foi exclusiva e que há lugares de memória (lieux de
mémoire) incontornáveis relacionados à vivência americana. Gérard
Bouchard fala, em sua obra já citada, em “gênese das nações e das
culturas do Novo Mundo” e é um dos grandes defensores da
“americanidade quebequense”. A americanidade, para além das
variantes nacionais, repousaria sobre a matriz das coletividades novas
ou culturas fundadoras. Lembremos que as coletividades novas são
definidas por Bouchard como aquelas que desenvolvem modelos
culturais a partir da ruptura com as metrópoles (e não a partir da
continuidade, como é o caso das coletividades ditas transplantadas). O
autor lembra também que esses espaços novos onde se erige a nova
cultura, embora fossem na verdade já habitados pelas populações
autóctones, “criaram circunstâncias próprias (pela ruptura com os
modelos metropolitanos) a uma mitologia dos (re)começos, a uma
espécie de tempo-zero (ao menos virtual, e às vezes real) da vida social”
(Bouchard, 2000, p.15-16).
Já no contexto do Caribe, o conceito de crioulização abrange e
ultrapassa o de americanidade como um desafio de organizar a
comunhão “das diversidades humanas que não precisam renunciar ao
que elas são” (Chamoiseau, 1997, p.203). Parece que há aqui uma
clivagem em relação à idéia de “gênese” das nações e das culturas
através dos mitos de recomeço, presente na concepção de
americanidade quebequense, pois, no âmbito da crioulização, surge o
4 Há também o conceito de latino-americanismo que, segundo uma definição tradicional (ver Alberto Moreiras, 2001) é “o conjunto de representações engajadas, encarregadas de preservar, mesmo que de maneira contraditória ou tensa, uma idéia da América Latina como o repositório de uma diferença cultural que quer resisitir à assimilação pela modernidade eurocêntrica” (Moreiras, 2001, p. 60).
19
conceito de “digênese” (Glissant), ou seja, uma negação da gênese, da
origem e dos recomeços. Nas Américas, “o ponto de impulso é
indiscernível, e móvel, e recapitulativo, e aberto, crescente, proliferante,
presidindo o nascimento sem começo das identidades crioulas”
(Chamoiseau, 1997, p.204).
Segundo E. Glissant, a entrada em contato, no Novo Mundo,
das culturas atávicas (que possuem seus mitos cosmogônicos) dá origem
a culturas compósitas que não geraram gêneses, pois não adotaram
esses mitos de criação vindos de fora, até porque sua origem não se
perde na noite dos tempos, mas tem uma história. No que concerne às
sociedade crioulas do Caribe, “a gênese se funde em uma obscuridade,
a do ventre do navio negreiro. É o que eu chamo de digenèse” 5(Glissant,
1997, p.36).
Esse pensamento converge com o de Lezama Lima para quem
a americanidade, ou a expressão americana, emerge com as formas
proliferantes e incorporativas do barroco que, nas Américas, graças ao
trabalho da transculturação, ao aproveitamento dos restos, dos vestígios
e das marcas deixadas por diferentes culturas gera elementos culturais
novos.
A americanidade na América Latina não se originaria, como quer
Gérard Bouchard, nem com o crioulo nem com o mestiço, pois a
mestiçagem se caracteriza pela homogeneidade (melting pot) e pela
previsibilidade. Ela só emerge verdadeiramente com a posta em marcha
dos processos de transculturação e de hibridação com seu valor
acrescido da imprevisibilidade. O processo está inacabado, como sugere
o historiador quebequense, mas sempre o estará, pois os processos de
identificação estão em contínuo devir. O que interessa não é
propriamente o acabamento, mas que as trocas, as interpenetrações e os
processos de desiherarquização continuem a se realizar e que a idéia de
5 Segundo o dicionário Houaiss (2001), digenético é o que se desenvolve em dois hospedeiros distintos, um um intermediário e outro definitivo 9diz-se de parasita), p.1039.
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uma americanidade compartilhada entre o norte e o sul continue a
possibilitar a relação.
Colocamos em epígrafe a esse artigo, versos anônimos
entoados pelos colonos italianos aqui chegados no século XIX. Sua
curiosidade em relação à América era muito grande e muitas foram as
utopias que se geraram em razão da expectativa da chegada. A América
foi pressentida por eles como um “massolino di fior”, um ramalhete de
flores, heterogêneo, múltiplo. As flores arranjadas em um ramo guardam
cada uma sua identidade, mas sua beleza adquire um esplendor maior
quando na harmonia do arranjo. Esta pode ser uma utopia oitocentista,
mas corresponde à intuição de um grupo que optou pela América como
lugar onde realizar seus sonhos e ideais. Talvez estejam na voz popular
e no imaginário mítico americano as chaves que levarão à decifração
e/ou à (re)invenção da americanidade. Talvez sejam necessários, como
quer Walter Mignolo, o surgimento de novos lugares de enunciação para
dar força e criatividade a conhecimentos que foram subalternizados
durante o processo de colonização (Mignolo,200, p.3-45). Redescobrir na
oralidade, no saber popular, na “gnoseologia marginal” novas formas de
habitar as Américas e de definir nossa pertença a elas pode ser a via de
acesso à americanidade como lugar de resistência e recuperação da
diferença colonial.
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