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* Doutora, Mestre e Especialista em Dentística pela UFSC, Professora do Curso de Especialização em Dentística da ABO, Seção de Goiás, Goiânia
** Especialista em Dentística pela ABO, Seção de Goiás
*** Mestre em Odontologia pela UFG, Especializanda em Dentística pela ABO, Seção de Goiás
**** Especialista em Dentística pela ABO, Seção de Goiás, Professor do Curso de Especialização em Dentística da ABO, Seção de Goiás
***** Mestre em Dentística pela SLM, Campinas, Professor do Curso de Especialização em Dentística da ABO, Seção de Goiás
****** Mestre em Reabilitação Oral pela UFU, Uberlândia, Professor do Curso de Especialização em Dentística da ABO, Seção de Goiás
Rafael de Almeida DecurcioAvenida Itália, 1184, 74325-110, Goiânia, GO
Data de recebimento:27/02/2014Data de aprovação: 07/03/2014
Paula de Carvalho Cardoso *Cassiana Araújo Luz **
Ana Paula Rodrigues Magalhães ***Marcus Vinícius Perillo ****
Lúcio José Elias Monteiro *****Rafael de Almeida Decurcio ******
Facetas Cerâmicas: Como Remover os Excessos do Cimento Resinoso?
Ceramic veneers: Removing the excesses of the resin cement?
RESUMORecomendados para a cimentação de restaurações
cerâmicas parciais do tipo facetas, os cimentos resinosos fo-
toativados escoam nas margens pós-assentamento das peças
cerâmicas nos substratos dentários. O escoamento resulta na
formação de excessos marginais de cimento, que devem ser
removidos adequadamente, pois comprometem o resultado
estético, a saúde periodontal e a longevidade do processo re-
abilitador. O objetivo deste artigo é apresentar um caso clínico
detalhando a etapa de cimentação, com foco na remoção de
excessos do cimento resinoso, e apresentar ilustrações de mi-
crografias em Microscopia Eletrônica de Varredura (MEV) sobre
duas diferentes técnicas de remoção de excessos do cimento
resinoso. Conclui que a técnica de pincel para remoção de ex-
cesso de cimento resinoso é a melhor opção para a rotina clíni-
ca, tendo em vista seus bons resultados e simplicidade técnica.
PALAVRAS-CHAVE Cimentação. Facetas dentárias. Cerâmica.
ABSTRACTRecommended for cementation of Partial Ceramics
Restorations Veneer-type, photoactivated resin cements seep
into the margins of post-settlement of the dental ceramic subs-
trates. The flow results in the formation of marginal cement
excesses that must be properly removed as it may compromi-
se the aesthetic result, periodontal health and longevity of the
rehabilitation process. The purpose of this paper is to present
a case detailing the cementing step focused on removal of the
excess resin cement and display Scanning Electron Microsco-
py (SEM) micrographs of two different techniques for excess
removal of the resin cement. It was concluded that the brush
technique is the best option for excess removal of the resin
cement for the clinical routine, motivated by the good results
and technical simplicity.
KEYWORDS Cementation. Dental veneers. Ceramics.
Facetas cerâmicas: como remover os excessos do cimento resinoso?
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INTRODUÇÃOA constante demanda social por resultados estéticos, em
associação com a evolução dos sistemas adesivos e materiais
cerâmicos, originou uma nova era odontológica, impulsionando a
confecção de restaurações totalmente cerâmicas com resultados
funcionais duradouros e estéticos.1-3 Esses avanços permitiram a
aplicação de modernos princípios restauradores: 1) máxima pre-
servação; 2) máxima prevenção; e 3) mínimo desgaste,4-5 que cul-
minaram na modificação dos preparos tradicionais e na criação
de uma nova denominação: Restaurações Cerâmicas Parciais
(RCPs), incluindo inlay, onlay, overlay, fragmentos e facetas.
RCPs do tipo facetas convencionais (RCPs convencionais)
exigem a confecção de preparos com redução vestibular, proxi-
mal e incisal, e do tipo facetas cerâmicas sem preparo (RCPs sem
preparo) ou mínimo desgaste preconizam a utilização de finas lâ-
minas cerâmicas (0,1mm a 0,7mm de espessura) sobre estrutura
dental com mínimo ou nenhum desgaste, fortemente unidas ao
esmalte dental. Nessa técnica, o desenho dos mínimos desgas-
tes é orientado exclusivamente pelo defeito preexistente no dente
a ser restaurado, como por exemplo: correções de forma e bordo
incisal, dentes fraturados, conóides e diastemas.
As RCPs convencionais, com mínimo desgaste e sem
preparo, exigem que a cerâmica permita o tratamento superficial
com ácido hidrofluorídrico, seguido de silanização, para então ser
adesivamente cimentada.6-7 Para tanto, são recomendados, para
a cimentação das RCPs, os cimentos resinosos fotoativados que
escoam em toda a margem da restauração após assentamento
das peças sobre os dentes. O escoamento resulta na formação
de excesso de cimento, que deve ser removido para permitir me-
lhor higienização, evitando, assim, acúmulo de biofilme e conse-
quente desenvolvimento das doenças cárie e periodontal,8-9 bem
como para prevenir o manchamento do excesso de cimento resi-
noso, comprometendo a longevidade do resultado estético.
Dessa forma, a remoção do excesso do agente cimen-
tante é fundamental, embora muitas vezes seja negligenciada.8-9
Diferentes instrumentos são recomendados na literatura para a
remoção de excesso do agente cimentante,10-17 entretanto, ne-
nhum tem se mostrado completamente efetivo.18
O objetivo deste artigo é apresentar um caso clínico em
que se detalha a etapa de cimentação com foco na remoção de
excessos do cimento resinoso, a qual é complementada com
ilustrações de micrografias em MEV, com duas diferentes técni-
cas de remoção de excessos do cimento resinoso.
REVISÃO DA LITERATURAA seleção adequada do material para cimentação é o pri-
meiro passo para a longevidade de RCPs. Preconiza-se o uso
de cimentos resinosos fotopolimerizáveis, pois apresentam va-
riedade de cores e diferentes graus de opacidade. Além disso,
os cimentos resinosos fotopolimerizáveis apresentam maior es-
tabilidade de cor, quando comparados aos cimentos resinosos
de dupla polimerização.19 Ainda, o tempo de trabalho e o grau
de escoamento dos cimentos de dupla polimerização dificultam
sobremaneira sua indicação. Em contrapartida, os cimentos fo-
topolimerizáveis possibilitam menores espessuras da linha de ci-
mentação, pela alta fluidez e pelo excelente grau de escoamento,
facilitando a remoção de excessos.20
Os cimentos resinosos fotoativados selecionados, geral-
mente, têm cor muito próxima da cor da estrutura dental natural,
para proporcionar excelência no resultado estético, o que pode
dificultar a remoção do excesso de cimento.18 Com isso, pode
permanecer cimento resinoso nas margens da restauração, con-
tribuindo para aumento da rugosidade, acúmulo de biofilme9 e
consequente desencadeamento dos processos das doenças cá-
rie e periodontal.21-22 Portanto, a remoção do excesso de cimento
é fundamental para a longevidade do tratamento.
Na literatura, há controvérsia com relação ao momento
de remoção do excesso de cimento, podendo ser imediatamente
após o assentamento da peça com pincel9, 23-26 ou após uma pré-
-polimerização de cinco segundos.27-28 Nessa técnica, o excesso
de cimento11,28 deve ser removido somente após fotopolimeriza-
ção de três a cinco segundos, nesse período, o cimento resino-
so torna-se um gel, devendo-se ter cuidado ao removê-lo, para
evitar danos à restauração e à estrutura dental. Na cimentação
de facetas de porcelana,24 a remoção sistemática do excesso de
cimento resinoso não polimerizado, antes da polimerização pela
luz, simplifica o acabamento pós-cimentação.
Pesquisadores29 descreveram a cimentação de uma face-
ta indireta. A restauração é vagarosamente assentada com suave
pressão digital, e o excesso grosseiro de cimento resinoso, re-
movido com a ponta de um explorador umedecido em adesivo,
movimentado em paralelo à margem, para evitar a remoção do ci-
mento na junção marginal. Os autores afirmaram que não se deve
utilizar fio dental nas áreas interproximais, quando o cimento não
estiver polimerizado, para não promover trincas, deslocamentos
ou remoção da peça do dente.
CASO CLÍNICOA paciente ST, 30 anos de idade, compareceu à Clínica
do Curso de Especialização em Dentística da ABO-GO insa-
tisfeita com seu sorriso em função do manchamento no dente
21. Ao realizar análise dentofacial (Fig. 1-7), observou-se que
os dentes se apresentavam alinhados, linha do sorriso anterior
alta, arco e dentes quadrados, papilas saudáveis e contorno
gengival alterado nos elementos centrais (Fig. 8). Nas figuras
9, 10 e 11, é possível verificar os detalhes da microestética,
Cardoso PC, Luz CA, Magalhães APR, Perillo MV, Monteiro LJE, Decurcio RA.
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tais como a desarmonia do zênite gengival do dente 11 e a
interessante textura superficial do dente 11.
Diante do delineamento da queixa da paciente e das
informações obtidas por minucioso exame clínico, radiográfi-
co e fotografias extra e intrabucais, realizou-se o enceramento
diagnóstico para correção da forma do elemento 21. Apesar
de indicada, não foi executada cirurgia periodontal para cor-
reção de contorno gengival, pois a paciente não aceitou a
proposição e optou apenas pela resolução da queixa relatada
anteriormente.
Preconizou-se a realização de clareamento profissional
com peróxido de carbamida a 37% (Power Bleaching, BM4,
Brasil). O agente clareador foi aplicado sobre a superfície
dental, sem aplicação de barreira gengival, e mantido por 45
minutos. Foram realizadas quatro aplicações, por quatro dias
consecutivos.
Em seguida, realizou-se o preparo dental com pontas
diamantadas de extremo arredondado e polimento da estru-
tura dental preparada com sistemas de borrachas à base de
óxido de alumínio (Jiffy Polishers, Ultradent, EUA), usadas na
seqüência decrescente de abrasividade (Fig. 12 e 13). A Figura
14 mostra a seleção de cor do substrato para comunicação
com o ceramista responsável pelo caso.
Na mesma sessão, foi realizada uma moldagem em
Figura 1: Fotografia de face frontal inicial em repouso.
Figura 5: Análise em repouso.
Figura 7: Sorriso lateral esquerdo.
Figura 6: Sorriso Inicial.
Figura 8: Intraoral inical. Observe a presença de restauração deficiente.
Figura 2: Fotografia de face frontal sorrindo.
Figura 3: Fotografia lateral direita. Figura 4: Fotografia lateral esquerda.
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dois passos, com moldeira total adequadamente adesivada
(Universal Tray Adhesive, Zhermack, Itália) e silicona de adi-
ção (Virtual, Ivoclar Vivadent, Liechtenstein). Na primeira etapa,
realizou-se a moldagem com o componente pesado, com so-
breposição de uma película de policloreto de vinila (PVC). Na
segunda etapa, procedeu-se o afastamento gengival pela téc-
nica de duplo fio, inserindo-se inicialmente o fio 00 (Ultrapack,
Ultradent) (Fig. 15) e, em seguida, o segundo fio 0 (Ultrapack,
Ultradent) (Fig. 16). A próxima etapa consistiu na retirada do
segundo fio e na imediata aplicação do material leve sobre
os preparos e sobre o primeiro molde e o posicionamento da
moldeira, finalizando o processo (Fig. 17).
Após a obtenção dos moldes em silicona de adição
(Virtual, Ivoclar Vivadent, Liechtenstein) (Fig. 18), executou-se
um ponto de condicionamento ácido (Fig. 19a) (Power Etching,
BM4), aplicação de adesivo (Excite F, Ivoclar Vivadent) (Fig.
19b) em todo o substrato, e inserção de uma camada única de
resina composta (Empress Direct, Ivoclar Vivadent) (Fig. 19c),
que foi devidamente acomodada para confecção da restaura-
ção provisória (Fig. 20).
Figura 9: Detalhe do defeito e restauração deficiente no dente 21.
Figura 11: Intraoral lateral esquerda inicial.
Figura 13: Visão lateral do preparo finalizado.
Figura 10: Fotografia aproximada para análise da textura pré-existente.
Figura 12: Preparo finalizado.
Figura 14: Seleção da cor do substrato.
Cardoso PC, Luz CA, Magalhães APR, Perillo MV, Monteiro LJE, Decurcio RA.
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Figura 15: Inserção do primeiro fio retrator de menor calibre. (Ultrapack 000, Ultradent)
Figura 17: Remoção do segundo fio e inserção do material leve.
Figura 19a: Ponto de condicionamento previamente à confecção da provisória.
Figura 19c: Inserção da resina composta para provisória.
Figura 16: Aspecto do segundo fio instalado, maior calibre. (Ultrapack 00, Ultradent)
Figura 18: Aspecto da moldagem.
Figura 19b: Aplicação do adesivo previamente à provisória.
Figura 20: Provisória finalizada.
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Os moldes superior e inferior, registro de mordida, encera-
mento diagnóstico, ordem de serviço e fotografias extra e intrabu-
cais foram enviados ao ceramista Murilo Calgaro, para confecção
da faceta com sistema feldspático convencional (Fig. 21).
Após adequada profilaxia do substrato, a faceta cerâmica
foi criteriosamente avaliada no modelo de gesso de trabalho e
troquéis enviados pelo ceramista (Fig. 22), sendo manuseada em
recipiente plástico com considerável profundidade, a fim de evitar
uma situação irreversível, como queda da peça cerâmica no solo
e sua consequente fratura.
Previamente à etapa clínica de prova e cimentação, a pro-
visória foi cuidadosamente removida, para preservar a integrida-
de do tecido gengival marginal. A Figura 23 revela a redução do
volume da provisória em resina composta com ponta diamantada
e, em seguida, o uso de lâmina de bisturi para remoção total da
provisória. Após profilaxia do substrato dental, a RCP foi posicio-
nada para avaliação da adaptação.
Em seguida, iniciou-se a prova da cor do conjunto RCP-
-cimento resinoso, realizada com a pasta matizada de prova
(Variolink Veneer Try In, Ivoclar Vivadent). O primeiro passo foi
a inserção da pasta de prova Medium, transparente na super-
fície interna da RCP, seguida do posicionamento no substrato,
remoção do excesso da pasta e, finalmente, a avaliação da cor.
A análise detalhada revelou que o resultado estético com a pas-
ta Medium proporcionou baixo valor à RCP, oportunizando sua
substituição por uma pasta matizada de alto valor. Na Figura
Figura 21: Fotografias montadas em Keynote para melhor comunicação com o ceramista.
Figura 23: Remoção da restauração provisória.
Figura 22: Aspecto da faceta feldspática finalizada.
Figura 24: Prova da faceta com pasta de prova.
Cardoso PC, Luz CA, Magalhães APR, Perillo MV, Monteiro LJE, Decurcio RA.
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Figura 25: APosicionamento da faceta na pasta densa da silicone de adição.
Figura 26: Preparo da faceta com ácido fluorídrico e silano.
24, observa-se a inserção da cor +3 na face interna, e posterior
confirmação da seleção adequada do cimento resinoso a ser
utilizado na etapa de cimentação.
Confirmada a cor final desejada para o conjunto, iniciou-
-se o preparo da RCP, com a proteção da superfície externa da
cerâmica com pasta densa da silicona de adição (Fig. 25), sendo
a peça manuseada dentro de recipiente plástico.
Em seguida, aplicou-se ácido hidrofluorídrico a 10% na
superfície interna e margens internas da cerâmica, respeitando-
-se o tempo de condicionamento de dois minutos, indicado para
cerâmicas feldspáticas convencionais. Após lavagem abundan-
te com jato de ar e água por 30 segundos, a superfície foi seca,
e o silano, que é um agente de união química entre o adesivo à
base de metacrilato e a rede de sílica das cerâmicas condicio-
náveis, foi aplicado. Após 60 segundos, foi seco com leve jato
de ar (Fig. 26).
O tratamento do substrato dental foi realizado pela técnica
de condicionamento ácido total de dois passos. Inicialmente, um
fio retrator de menor calibre para selamento do fundo de sulco
gengival e os dentes adjacentes foram protegidos com fitas de
politetrafluoretileno contra a ação ácida, a fim de evitar transtor-
nos advindos do excesso de cimento resinoso e adesão inde-
sejada ao substrato adjacente. O ácido fosfórico a 35% (Power
Etching, BM4) foi aplicado no substrato dental, respeitando-se
o tempo de condicionamento de 30 segundos para o esmalte e
15 segundos para a dentina (Fig. 27).
A B C
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Após o período, promoveu-se enxágue abundante e se-cagem adequada, de acordo com a característica da estrutura dental, e, em seguida, o sistema adesivo (Excite F, Ivoclar Viva-dent) foi aplicado, de acordo com as instruções do fabricante, seguido de leve jato de ar (Fig. 28), sem fotopolimerização, para evitar a formação de uma película que impede o assentamen-to passivo da cerâmica. Em seguida, as fitas protetoras foram removidas dos dentes adjacentes. De forma concomitante ao preparo do substrato, a peça cerâmica foi preenchida com o cimento resinoso fotopolimerizável +3 (Variolink Veneer, Ivoclar Vivadent), previamente definido na etapa de prova (Fig. 29a). A restauração foi posicionada com leve e contínua pressão digital, e os excessos de cimento extravasados foram removidos com pincel, conforme demonstrado na Figura 29b.
A fotoativação foi feita por 60 segundos pela vestibular,
com fotoativador calibrado (Bluephase, Ivoclar Vivadent), e, na sequência, deu-se início ao processo de remoção dos excessos e acabamento das margens da restauração. Inicialmente, utili-zou-se tira serrilhada na proximal (Fig. 30), seguida da lâmina de bisturi 12 (Fig. 31) e do fio dental (Fig. 32). Após acabamento, removeu-se o fio retrator do interior do sulco com instrumental de ponta extremamente fina (Espátula Sofia, Golgran) e depois com pinça (Fig. 33).
Após a cimentação, pequenos ajustes foram realizados para o estabelecimento do equilíbrio oclusal. Em seguida, a su-perfície desgastada foi devidamente polida com borrachas de polimento cerâmico (Shofu, Japão). O resultado final das res-taurações é observado nas figuras 34-39. A RCP do tipo faceta resultou em excelente aspecto estético, devolvendo a harmonia
para face e sorriso, com absoluta naturalidade.
Figura 27: Após instalação do fio retrator e proteção dos dentes vizinhos, aplicou--se ácido fosfórico por 15 seg na dentina e 30 seg no esmalte.
Figura 29a: Posicionamento da faceta com cimento resinoso.
Figura 30: Remoção do excesso proximal com tira serrilhada.
Figura 28: Aplicação do adesivo.
Figura 29b: Remoção do excesso com pincel.
Figura 31: Uso do bisturi na região gengival.
Cardoso PC, Luz CA, Magalhães APR, Perillo MV, Monteiro LJE, Decurcio RA.
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Figura 32: Fio dental auxiliando na remoção do excesso.
Figura 34:Aspecto final intraoral.
Figura 36: Vista lateral final com detalhe para anatomia estabelecida.
Figura 33: Remoção do fio retrator.
Figura 35: Detalhe frontal do resultado final.
Figura 37: Repouso final.
Figura 38: Sorriso final. Figura 39: Face, sorriso, gengiva e dente em harmonia.
Facetas cerâmicas: como remover os excessos do cimento resinoso?
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PreParação dos esPécimes Para microscoPia eletrô-
nica de varredura
Inicialmente, realizou-se a cimentação de duas facetas
cerâmicas reforçadas com dissilicato de lítio em dois incisivos
centrais, extraídos por condenação periodontal, sem nenhum tipo
de preparo, variando a técnica de remoção de excesso, conforme
desenho esquemático. Na primeira técnica, flash de luz, realizou-
-se pré-polimerização de três segundos, seguida da remoção
dos excessos, e, na segunda, o excesso foi removido com pin-
cel. Na sequência, realizaram-se preparos convencionais em dois
caninos, com redução vestibular de 1,2mm, extensão proximal e
término incisal em 0o. As facetas cerâmicas foram cimentadas,
variando-se a técnica de remoção de excesso, conforme dese-
nho esquemático (Fig. 40).
Os dentes foram cortados no sentido longitudinal para
avaliação em microscopia eletrônica de varredura (MEV),30 em
máquina de corte metalográfico Isomet 1000 (Buehler, Estados
Unidos). Cada metade do lado coronal foi polida com lixas abra-
sivas, com decrescente abrasividade (até 1200). Os espécimes
foram então montados em bases de alumínio, metalizados com
ouro (Polaron SC7620, Quorum Technologies, Inglaterra) e obser-
vados sob o MEV (JSM 6060 LV, JEOL, Japão).
As micrografias estão expressas nas figuras 41-46, em
diferentes ampliações, 50x, 100x e 1000x, respectivamente, com-
parando-se a técnica do flash de luz (lado direito) e a técnica do
pincel (lado esquerdo), nas duas situações, com e sem preparo.
DISCUSSÃOA cimentação adesiva é considerada a etapa mais crítica
e minuciosa da rotina clínica, em função de inúmeras variáveis
e tempo de trabalho. Evidências científicas norteiam a execução
protocolar desse processo, para o alcance de resultados previ-
síveis.31
A remoção do excesso de cimento imediatamente após
o assentamento da peça, previamente à polimerização, deve ser
feita em fase fluida,32 preferencialmente, com pincel na face vesti-
bular,9 e nas áreas interproximais, com fio dental, simplificando o
acabamento pós-cimentação.24 Eliminou-se o uso do pincel29 e se
incluiu o uso da ponta de um explorador umedecido em adesivo,
movimentado em paralelo à margem, para evitar a remoção do
cimento na junção marginal.
Na pré-polimerização, realiza-se a fotopolimerização de
três a cinco segundos, imediatamente após o assentamento da
Figura 40: Desenho esquemático da micrografias para comparação da técnica de remoção de excesso do cimento resinoso.
Figura 42: Micrografias da remoção de excesso com flash de luz (a) e com pincel (b) em facetas cerâmicas cimentadas sob substrato sem preparo com aumento de 100X.
Figura 44: Micrografias da remoção de excesso com flash de luz (a) e com pincel (b) em facetas cerâmicas cimentadas sob substrato com preparo com aumento de 50X.
Figura 43: Micrografias da remoção de excesso com flash de luz (a) e com pincel (b) em facetas cerâmicas cimentadas sob substrato sem preparo com aumento de 1000X.
Figura 45: Micrografias da remoção de excesso com flash de luz (a) e com pincel (b) em facetas cerâmicas cimentadas sob substrato com preparo com aumento de 100X.
Figura 41: Micrografias da remoção de excesso com flash de luz (a) e com pincel (b) em facetas cerâmicas cimentadas sob substrato sem preparo com aumento de 50X.
Cardoso PC, Luz CA, Magalhães APR, Perillo MV, Monteiro LJE, Decurcio RA.
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RCPs. Consequentemente, o cimento resinoso torna-se um gel,
produzindo um cimento suavemente polimerizado. Segundo au-
tores,27-28 a técnica facilita a remoção do excesso, que pode ser
retirado com instrumental de ponta afiada, fio dental ou com lâmi-
na de bisturi 12. Entretanto, diante do presente estudo, observou-
-se que técnica de remoção de excesso após pré-polimerização
deve ser evitada, pois se constatou a formação de pequeno gap
e ausência de cimento nas margens cavossuperficiais.
Alguns autores afirmam que, em todas as margens cavos-
superficiais, deve-se deixar uma quantidade residual de cimento,
visando a limitar a inibição de polimerização pela presença de oxi-
gênio nessas margens, prevenir fendas e compensar a contração
de polimerização do cimento.26
Cabe lembrar que a contração de polimerização do ci-
mento resinoso se restringe à linha de cimentação, sendo essa
uma situação altamente desfavorável. Tal fato deve-se à relação
direta com o Fator de Configuração Cavitário (Fator C), que trata
da razão entre o número de superfícies (paredes) adesivas e o
número de superfícies livres.33 Os cimentos resinosos utilizados
para cimentação são premiados com a configuração cavitária
mais desfavorável a esse relaxamento,34 pois esta apresenta ape-
nas a linha de cimentação para liberação do estresse de contra-
ção de polimerização.
Em relação à estrutura dental, deve ser considerado o
substrato no qual as paredes cavitárias estão localizadas. Neste
artigo, as margens do preparo estavam quase totalmente em es-
malte dental, confirmando a eficiência do condicionamento ácido
e do adesivo em superfície e, consequentemente, a diminuição
da microinfiltração, indicando a superioridade clínica dessa situa-
ção, em relação aos preparos em dentina. Pesquisadores35 expli-
caram que a maior infiltração em margens de dentina ocorre pelo
fato de esse substrato ser heterogêneo quando comparado ao
esmalte, resultando em adesão deficiente, incapaz de resistir aos
efeitos negativos do estresse de polimerização.
Diante dos resultados apresentados, somados às infor-
mações científicas disponíveis, a técnica de pincel para remoção
de excesso de cimento resinoso parece ser a melhor opção para
a rotina clínica, por seus bons resultados e simplicidade. Novos
estudos devem ser realizados, comparando as duas técnicas de
remoção de excessos em RCPs com e sem preparo, incluindo-
-se análises de rugosidade, formação de biofilme e adaptação
marginal.
CONCLUSÃOA técnica de pincel para remoção de excesso de cimento
resinoso é a melhor opção para a rotina clínica de cimentação
de RCPs do tipo facetas, por seus bons resultados e simplici-
dade técnica, o que promove saúde dental e periodontal, assim
como aumenta a longevidade estética dos resultados.
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