Música e Músicos no Paraná: sociedade, estéticas e memória. v. 1, Curitiba: Artembap, 2014.
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“Ó HOMEM, CONHECE-‐TE A TI MESMO E CONHECERÁS O UNIVERSO ...”1: os Festivais Penalva e as Mostras de Música Paranaense2
Dra. Elisabeth Seraphim Prosser3 Universidade Estadual do Paraná/
Escola de Música e Belas Artes do Paraná [email protected]
Resumo Os Festivais Penalva e as Mostras de Música Paranaense, ao mesmo tempo que lembram a memória e o legado do sacerdote e músico José de Almeida Penalva, permitem conhecer numerosas obras compostas no Estado. Nos já realizados, foram apresentadas peças de quase cem compositores, com a participação de orquestras, coros, grupos de câmara e solistas. O resultado foi um panorama que abrangeu música popular e erudita, em estilos que vão do tradicional ao contemporâneo e permitem vislumbrar a qualidade e a amplitude da música escrita no Paraná. Palavras-‐chave: Festival Penalva; Mostra de Música Paranaense
“MAN KNOW THYSELF; THEN THOU SHALT KNOW THE UNIVERSE…”1: the Festivais Penalva and the Mostras de Música Paranaense
Abstract The Festivais Penalva and the Mostras de Música Paranaense recalled the memory and legacy of the priest and musician José de Almeida Penalva, as well as allowed the audience to hear numerous works composed in the state of Paraná (South Brazil). Works of almost hundred composers were presented, with the participation of orchestras, choirs, chamber groups and soloists. The result was an overview of popular or classical music, in styles ranging from traditional to contemporary, which gave a glimpse on quality and breadth of music composed in Paraná.
Keywords: Festival Penalva; Mostra de Música Paranaense
1 Inscrição no oráculo de Delfos, atribuída aos Sete Sábios (c. 650 a.C.-‐550 a.C.), adotada posteriormente por filósofos como Pitágoras e Sócrates. 2 Este artigo é uma compilação e ampliação de vários textos elaborados pela autora anteriormente (listados ao final) e que agora se mesclam formando uma narrativa mais abrangente. Além deles, são compilados também textos de outros autores que escreveram para os libretos de programação dos cinco Festivais Penalva e das quatro Mostras de Música Paranaenses realizados até o momento (entre 2003 e 2014). 3Musicista, musicóloga, historiadora social da arte paranaense, professora e pesquisadora da Unespar/Embap, Organizadora do Acervo da Música Paranaense, Líder do Grupo de Pesquisa em Estudos em Musicologia -‐ Linha de pesquisa: Música Paranaense; Coordenadora Geral dos Festivais Penalva & Mostras de Música Paranaense; autora e organizadora de várias publicações sobre inúmeros aspectos da arte e da cultura no Paraná.
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Desde 2002, amigos, colegas e ex-‐alunos do Pe. José de Almeida Penalva, cmf4
(Campinas/SP, 1924-‐Curitiba/PR, 2002), além de outros músicos, pesquisadores e
estudantes, se reúnem em torno do seu nome, da sua lembrança e da sua obra em eventos
que, a partir de 2003, transformaram-‐se nos Festivais Penalva. Estes, do ano seguinte em
diante, alargaram-‐se para conter também as Mostras de Música Paranaense5.
Por meio deles, a comunidade
musical de Curitiba e do Brasil rende
uma homenagem a este mestre que
ensinava pelo seu exemplo e que, de
acordo com inúmeros depoimentos,
deixou tanta saudade. Além de
celebrarem sua memória e seu legado,
estes eventos abrem-‐se em uma
perspectiva mais ampla ao difundir a
música escrita no Estado, dando a
conhecer antigos e novos
compositores. São pesquisadores,
artistas, compositores, professores,
estudantes, e outros interessados, que
se congregam para, juntos,
compartilharem esse universo tão
pouco explorado – a música local. A
cada edição, são cerca de sete dias de
intensa programação, em diversos
Pe. José de Almeida Penalva. Curitiba, dez. 1996. Foto: Marcos Campos
espaços de Curitiba, com concertos, mesas-‐redondas, debates, palestras, missa cantada in
memoriam e exposição do acervo do compositor.
4 cmf, em minúsculas, é uma sigla usada pelos sacerdotes da ordem a que o Pe. Penalva pertencia e quer dizer Cor Maria Filius (Filho do Coração de Maria). 5 Os Festivais Penalva & Mostras de Música Paranaense foram realizados nos anos de 2003, 2004, 2011, 2012 e 2014. Desde 2012 ocorrem bienalmente.
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O MESTRE
Ao músico-‐sacerdote e ao sacerdote-‐músico, nossa homenagem. Ao mestre, nosso carinho (PROSSER, 2011).
Sacerdote, compositor, professor, regente, musicólogo e teólogo, o Pe. Penalva
residiu em Curitiba por quase toda a sua vida e teve como principais instituições de atuação,
de um lado, o Studium Theologicum e a Igreja Imaculado Coração de Maria e, de outro, a
Escola de Música e Belas Artes do Paraná (Embap), hoje Campus I da Universidade Estadual
do Paraná (Unespar).
Um dos mais importantes compositores brasileiros da segunda metade do século XX,
José Penalva, como assinava suas obras, tornou-‐se figura emblemática da composição no
Estado e do País. Autor de uma obra inovadora e expressiva, escreveu desde música de
câmara e peças solísticas até obras corais, orquestrais e corais-‐orquestrais.
Sua obra musical é considerada por muitos como monumental, não pela quantidade
de composições (mais de trezentas), mas pela sua dimensão expressiva, pelo que representa
no contexto da história da música contemporânea e da música de inspiração tanto sacra
quanto secular, e pela sua originalidade e qualidade. Nela amalgama tanto elementos da
poesia e da música nacional (de raiz e popular), quanto as mais ousadas linguagens da
Vanguarda e da Pós-‐Vanguarda. Sua música é ao mesmo tempo brasileira e universal,
temporal e atemporal, estabelecendo uma síntese entre estilos e valores do passado e do
presente. Ao mesclar linguagens de várias épocas e lugares e estabelecer pontes temporais,
construiu uma música densa em camadas de significação, intensidade expressiva e, em
outros momentos, cheia de humor brincalhão e inteligente. Refere-‐se ora ao “eterno” e
“imutável”, ora ao simples e humano.
Nas suas obras, imprimiu autenticidade, maestria, criatividade e coerência: os
universos da fé e de pensamento nos quais fincou as raízes da sua existência transformaram-‐
se em mundos sonoros e estéticos carregados de conteúdos. Sua visão aberta ao mesmo
tempo para a contemporaneidade e para a história – basta observar os pilares da sua obra –
se mantém sempre nova, única e reveladora dos mais profundos questionamentos da
existência humana e das respostas que encontrou. Tudo isso fez dele um nome entre os
mais respeitados da história da música brasileira de concerto.
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Henriqueta Garcez Duarte, que participou com Pe. Penalva da criação e organização
da Associação Pró-‐Música de Curitiba e dos Festivais Internacionais de Música do Paraná,
nos anos 1960-‐1970, comenta:
Tive a honra de conviver com o Padre Penalva, mestre espiritual, conselheiro e amigo de todas as horas, não só meu como de toda a minha família. Quero aqui, no entanto, lembrar o Padre Penalva, Músico. O convívio com ele era um permanente aprendizado. Sabia tudo, estava a par de todas as tendências e correntes musicais da atualidade. Tinha seu estilo próprio, marcante; era ele mesmo, apaixonado pela Música, pela Teologia, pelo seu sacerdócio, pela vida e pela humanidade que o cercava, a quem se doava com generosidade (DUARTE, 2003).
E Ingrid Müller Seraphim, ao falar do aspecto inovador de Penalva, tanto na música
quanto na vida como sacerdote, completa:
Sempre admirei o Padre Penalva pela sua visão de quem estava muito adiante do seu tempo. Sua música, com suas muitas facetas, forma um caleidoscópio colorido: compõe usando vários elementos da tradição musical desde o canto gregoriano e a polifonia renascentista até as linguagens da vanguarda. Assim como na música, também como sacerdote ele não tinha barreiras: era aberto, generoso, compreensivo. Conforme suas próprias palavras, era ecumênico por natureza, buscando em todos o seu melhor (SERAPHIM, 2003).
Como professor, Penalva era criterioso, sempre atualizado, de pensamento inovador
e crítico, exigente. Conhecia profundamente os temas pelos quais transitava durante suas
memoráveis aulas: alargava nossos horizontes e possibilitava a compreensão de fatos-‐chave
da história da música e da performance. O mesmo afirmam alguns de seus ex-‐alunos no
Studium Theologicum, hoje sacerdotes de destaque. Isso apontam também os seus escritos
tanto sobre música quanto sobre teologia, nos quais fazia profundas reflexões muitas vezes
questionadoras, mas sempre humanas e ousadas. Dizia: “não posso dar um curso, sem antes
estudar à exaustão e escrever sobre o assunto” (PENALVA, 1998).
Como regente, buscava a perfeição, seja na afinação seja na expressividade e na
sonoridade. Cantar sob sua direção, tanto no Coro Pró-‐Música quanto no Madrigal Vocale,
grupos que criou e aos quais se dedicou por várias décadas, era uma escola, um aprendizado
constante e intenso: exigia o máximo de refinamento e envolvimento.
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Bruno Spadoni, médico e músico, discípulo de Penalva enquanto regente, continua a
dirigir o Madrigal Vocale até a atualidade. Durante décadas participou do grupo como
cantor, regendo-‐o ocasionalmente. Ele descreve sua caminhada ao lado do mestre:
José Penalva foi um grande mestre da música em Curitiba e em todo o Brasil. Ele não somente ensinou com grande didática, mas principalmente deu um exemplo marcante de como compor, como interpretar, como estudar, como explicar, como amar a música. Esse é o método mais elevado de ensino. Por cerca de 15 anos, estive sob sua orientação para a regência coral e o seu método foi ‘aquilo que você preparar, você rege’. Frente às minhas dificuldades ele pouquíssimas vezes falou qualquer palavra, mas o exemplo de solução dos problemas que ele disponibilizava era inestimável. Até hoje, ao me deparar com problemas, por vezes descubro que por causa disso ele fazia de determinada maneira e obtinha tal resultado. Além de eficaz, este método de ensino é também muito pessoal e humano. A sua pessoa cheia de grandeza está marcada para sempre em todos nós que tivemos a graça de conviver com ele (SPADONI, 2003).
Chico Mello, por sua vez, hoje compositor consagrado com carreira em Berlim,
Alemanha, mostra o lado do professor de composição:
Com muita saudade, daqui de longe, me lembro que o mundo da composição e da música contemporânea me foi aberto pelo Pe. Penalva. Isso aconteceu gradativamente, desde minha infância, no então pequeno mundo da música curitibana, sem que eu o percebesse – tanto nos festivais de música nos anos 60, onde as atividades de Penalva me eram sonoramente instigantes, como em sua constante presença em casa de minha família. De nossas conversas nos almoços semanais, quem sabe entre um doce, que ele tanto adorava, e um cafezinho, surgiu a ideia de eu estudar teoria e composição sob sua orientação. Foi uma felicidade. Aos sábados, regularmente, frequentava eu seus aposentos no silencioso convento, levando comigo os exercícios da semana. Mais que simples exercícios, eram pretextos para discussões artísticas, espirituais, que me apontavam um caminho para me aproximar musicalmente de mim mesmo. Era um encontro aberto, sem os entraves e limites dos encontros institucionais, marcado apenas pelo desejo de aprender e pelo prazer de conversar sobre música, de informar, de ensinar. E ensinar de uma forma que considero rara: propiciar ao aprendiz não só descobertas, mas de “des-‐cobrir” o que já “sabe”, e desse tanto ir construindo a própria identidade (MELLO, 2013).
Inscreveu marcas em toda uma geração de alunos, músicos, pensadores, sacerdotes
e amigos, este regente e professor que não se contentava a não ser com o mais perfeito. Na
música, via-‐se o sacerdote sincero; nas suas pregações, reconhecia-‐se o músico-‐pensador
ousado e original, sempre fiel às verdades mais fundamentais do cristianismo. Como ele
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mesmo dizia: “Sou profundamente agradecido a Deus por me permitir usar ao mesmo
tempo a batina e a batuta” (PENALVA, 1995).
Assim, o rigor com que abordava qualquer tema e o estabelecimento de altos
parâmetros em tudo o que fazia tornaram-‐no exemplo para os seus contemporâneos.
Fizeram dele, também, um ícone da composição e da música no Paraná.
OS FESTIVAIS PENALVA E AS MOSTRAS DE MÚSICA PARANAENSE
Capa do libreto com a programação dp IV Festival Penalva e III Mostra de Música Paranaense, realizado em Curitiba, em 2012.
Poucas semanas após o falecimento
do Pe. Penalva, em outubro de 2002, um
pequeno grupo de músicos, formado por
alguns professores, ex-‐professores e alunos
da Embap 6 , uniu-‐se para realizar um
concerto em homenagem ao mestre e
amigo, executando várias de suas obras. Foi
um concerto que deixou marcas em todos e
inspirou o grupo a organizar no ano seguinte
o I Festival Penalva. Participaram desse
evento várias orquestras e coros da cidade,
além de grupos de câmara e solistas, sempre
graciosamente, tocando exclusivamente
obras do compositor. Foram vários os
depoimentos de quem participou, afirmando o impacto causado pela grandeza da produção
e a profundidade do pensamento do compositor, que muitos intuíamos, a partir das obras
dele que já conhecíamos. Mas aquela era a primeira vez em que tantas peças de Penalva e
para tão diferentes formações eram executadas em uma só ocasião, permitindo vislumbrar
as dimensões do todo e seus significados.
6 Este grupo era liderado por Bernadete Zagonel, Elisabeth Seraphim Prosser, Henriqueta Garcez Duarte, Ingrid Müller Seraphim e Salete Chiamulera.
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Em 2004, observa Bernadete Zagonel, o Festival passou a assumir
uma perspectiva mais ampla, envolvendo os outros compositores paranaenses e aqueles residentes no Paraná. Assim, o II Festival Penalva ganhou um adendo em seu nome: I Mostra de Música Paranaense (ZAGONEL, 2004).
A figura do mestre e o que ela representa acabou tornando-‐se, assim, um símbolo da
composição no Paraná. Foi surpresa constatarmos a existência de tantos compositores
antigos ou novos, a maioria vinculada à Escola de Música e Belas Artes do Paraná (Embap), à
Universidade Federal do Paraná (UFPR), à Pontifícia Universidade Católica do Paraná
(PUCPR) e à Faculdade de Artes do Paraná (FAP), comprovando-‐se grande atividade
composicional no Estado. Outra vez, sua figura inspiradora e aglutinadora nos unia em torno
da boa música.
Como esses eventos eram feitos com a participação voluntária de grande número de
pessoas e dependia de aspectos institucionais, não foi possível dar-‐lhes continuidade nos
anos seguintes. Até que, em maio de 2011, Pe. Jaime Sánchez Bosch, amigo pessoal do Pe.
Penalva, Diretor do Studium Theologicum e guardião do acervo do compositor, pensou em
fazer uma Semana Penalva em outubro seguinte. Impossível não aderir à ideia e não
transformá-‐la em mais um evento da série. Estavam criados, então, o III Festival Penalva e a
II Mostra de Música Paranaense, que ocorreram em 2011, dirigidos a partir de então por
Elisabeth Seraphim Prosser. O sucesso foi tanto que os Festivais e Mostras seguintes foram
uma consequência natural, dado o entusiasmo e o envolvimento cada vez maior de músicos,
pesquisadores, professores, estudantes e outros interessados, e da presença do público
crescente a cada ano.
DA MINHA ALDEIA VEJO O MUNDO
O pensamento que norteia a realização dos Festivais Penalva & Mostras de Música
Paranaense foi traduzido de maneira muito sensível por Maria José Justino, Diretora da
Escola de Música e Belas Artes do Paraná/Universidade Estadual do Paraná, em seu texto de
apresentação ao libreto de programação do IV Festival e III Mostra, em 2012:
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Da minha aldeia vejo quanto da terra se pode ver no Universo Por isso a minha aldeia é tão grande como outra terra qualquer.
Fernando Pessoa
Esse é o princípio do Festival Penalva: partindo da nossa particularidade, do nosso chão, celebramos o universo. Sob a aura de um artista que inspirou músicos da região e do resto do país, o Festival Penalva atinge sua quarta edição e firma-‐se como referência regional, unindo jovens talentos a artistas consolidados no meio musical. Festeja a música em todas as nacionalidades, sem deixar de lado a de raiz paranaense. É a música atravessando fronteiras e firmando-‐se como linguagem universal, como parte da carne do universo. O Festival Penalva é um momento de encontro da diversidade de vozes e cores da música (JUSTINO, 2012).
Na mesma linha do pensamento de Fernando Pessoa, Trotski também afirmou: “Se
queres ser universal, começa por pintar a tua aldeia”. E a Profa. Adalice Araújo,
compartilhando da mesma convicção, ao trabalhar durante décadas no seu Dicionário da
Arte Paranaense pretendia que, com o estudo da arte local, se escrevesse uma nova história
da arte brasileira, até então ainda em grande parte focada nos maiores centros culturais do
país, como Rio de Janeiro e São Paulo.
Para os músicos e pesquisadores participantes e para o público, cada novo Festival &
Mostra tem revelado imensas surpresas, permitindo perceber não apenas a grande
dimensão da música escrita no Estado, mas a sua qualidade e diversidade.
MÚSICA PANARAENSE?
Desde o início dos Festivais Penalva, eram muitos os músicos e pesquisadores que
aceitavam o convite para participar do evento. Uma homenagem ao mestre? Uma
oportunidade de tocar e conhecer obras dos muitos compositores locais? Chance de
resgatar peças e compositores do passado e de estrear novas obras, do popular ao erudito,
passando por várias linguagens e estilos? Invariavelmente havia uma atmosfera de alegria e
encantamento – um conhece-‐te a ti mesmo mesclado com entusiasmo e surpresa.
Participaram de cada um mais de trezentos músicos divididos em orquestras, coros,
grupos de câmera e solistas, em várias salas de concerto da cidade. As estreias de obras,
algumas escritas especialmente para a ocasião, revelam o papel não apenas de incentivo à
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difusão e à pesquisa desse repertório, mas de fomento à criação, desempenhado pelo
evento. Em cada nova edição, foi tocada a música de cerca de quarenta compositores,
abrangendo um século e meio de música, e perpassando diversos idiomas composicionais.
Por música paranaense ou de compositores paranaenses entende-‐se a música feita
no Estado. Trata-‐se da produção de artistas nascidos ali, ou de originários de diferentes
lugares e que adotaram o Paraná como residência, ou, ainda, de outros que nele residiram
por algum tempo, desempenhando papel relevante para o estudo e a performance musical,
a pesquisa poética em música e a criação, bem como para a formação de novas gerações de
músicos e estudiosos. Outros, ainda, compuseram ali ocasionalmente, mas construíram
carreiras como regentes, intérpretes, pesquisadores ou organizadores culturais.
Dentre os compositores que tiveram obras apresentadas estão os reconhecidos Alceo
Bocchino, José Penalva, Henrique de Curitiba, Bento Mossurunga, Brasílio Itiberê, Jaime
Zenamon, Rodolfo Coelho de Souza, Chico Mello, Harry Crowl e Mauricio Dottori. Ao lado
deles, destacam-‐se os jovens Felipe Ribeiro, Alexandre Brusamolim de Magalhães, Rodrigo
Henrique de Oliveira, Willian Lentz, Daniel Vargas, Rogério Krieger, Márcio Steuernagel,
James Corrêa e Fernando Deddos, entre outros, com uma linguagem composicional própria,
expressiva e consistente, e um conjunto de composições que já figuram entre as mais
importantes no Estado. Ao lado deles passou-‐se a conhecer uma geração de novos
compositores, alguns ainda estudantes, que, pelo que se pôde constatar a partir das obras
apresentadas, prometem uma produção de peso. Um quarto grupo é o de compositores que
desempenharam importante papel no seu tempo, muitos injustamente esquecidos, como
Renée Devraine Frank, Benedito Nicolau dos Santos, Rodrigo Herrmann e outros.
Os Festivais & Mostras tomaram para si várias funções: o resgate da produção e da
memória de artistas do passado; a difusão da música dos compositores de destaque; a
oportunidade de performance e fruição da música de novos compositores; o fomento à
composição de novas obras; a estreia de peças inéditas de compositores do passado e do
presente, inclusive de estudantes dos cursos de composição das universidades locais; o
fomento do diálogo entre estilos e épocas; o incentivo à pesquisa, com sua apresentação,
debate e disponibilização; e a possibilidade de se ouvir este imenso repertório,
desconhecido da maioria.
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A seguir é apresentado um Quadro, que registra os nomes dos aproximadamente
cem compositores que tiveram suas obras executadas nos Festivais & Mostras realizados
entre 2003 e 2014. Estes nomes e números seriam vazios se olhados apenas como uma
estatística (que por si só já é reveladora). Mas adquirem importância, à medida que os
examinados mais de perto e pelo que apontam. Por trás de cada um está todo um universo
criativo e poético, uma tendência. Demonstram a fecundidade da atividade composicional
no Estado e a formação sólida que os compositores mais jovens têm recebido nas últimas
décadas, nos cursos de composição e regência da Embap e de outras instituições.
Compositores que tiveram obras apresentadas nos Festivais Penalva & Mostras de Música Paranaense realizados entre 2003 e 2014. Acácio Weber Adailton Pupia Adriano G. Sviech Alan Rafael Medeiros Alceo Bocchino Alexandre Brasolim de Magalhães Alexandre Gonçalves Alexandre Torres Ana Carolina de Lima Andras J. Ellendersen Audryn Souza Benedito Nicolau dos Santos Bento Mossurunga Bernadete Zagonel Bernardo Cardeal Bernardo M. Duarte Brazílio Itiberê Brazílio Itiberê II Carlos Assis Carmo Bartoloni Carolina Cesconetto Chico Mello Cláudio Menandro Daniel Migliavacca Daniel Miranda Daniel Vargas Douglas G. Bertoncello Eduardo Cáceres Eduardo Frigatti Elizabeth Fadel Emanuel Martinez Enzo Fonseca Veiga
Ezidemar Siemiatkouski Fabio Gottschild Fabrício Mattos Felipe de Almeida Ribeiro Fernando Deddos Fernando Garcia Fernando Nicknich Fernando Riederer Gabriel Jungles Gilberto Stefan Guilherme Campos Gisele Regina Malon Gustavo Alencar Harry Crowl Hélcio Müller Helio Brandão Helma Haller Henrique Bérgamo Henrique de Curitiba Herculano Sávitri Inami Custódio Pinto Jaime Zenamon James Corrêa João Egashira João Guilherme Dick João José de Félix Pereira João Ramalho Joaquim Rebollo José Penalva Juliana Gomes Julião Boêmio Klérison Kiel Kotacho
Leonardo Gorosito Letícia Lass Lucas Araujo Melo Luis Henrique Sierakowski Luiz Cláudio Ribas Ferreira Luiz Eulógio Zilli Maiko Thomé Araujo Marcelo Oliveira Márcio Steuernagel Maria Paz Villahoz Marilia Giller Maurício Dottori Norton Dudeque Octávio de Camargo Osmário Estevam Jr. Osvaldo Ferraz Renée Devraine Frank Ricardo Petracca Rodolfo Coelho de Souza Rodolfo Richter Rodrigo Henrique de Oliveira Rodrigo Herrmann Rogério Krieger Sérgio Albach Sólon de Albuquerque Mendes Tadeu Taffarelo Thiago Portela Victor Lazzarini Vinícius Giusti William Hegenberg Willian Lentz Wilson Moreira
Fonte: Elaborado pela autora a partir da programação completa dos I a V Festivais Penalva & I e IV Mostras de Música Paranaense, realizados em 2003, 2004, 2011, 2012 e 2014.
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Assim, com estilos que vão do Nacionalismo à Vanguarda e à Pós-‐Vanguarda, da
música de raiz à música popular e à erudita, da modalidade e da tonalidade à música atonal,
concreta e eletrônica, com o uso de instrumentos tradicionais e instrumentos acusmáticos e
suas combinações, os Festivais & Mostras revelam concepções diversas e até contrastantes,
permitindo vislumbrar o que se compôs no passado e no presente. Possibilitam, ainda,
distinguir algumas das tendências estilísticas que certamente se farão ouvir nos próximos anos.
O PRÊMIO PENALVA
A partir de 2004, foi criado no âmbito do Festival & Mostra, o Prêmio Penalva,
outorgado a músicos paranaenses de reconhecida contribuição para a cultura brasileira. Em
2004, foi premiado o compositor e maestro Alceo Bocchino (2004), pela sua obra como
compositor e por sua atuação como maestro fundador e depois emérito da Orquestra
Sinfônica de Curitiba. Em 2011 receberam o prêmio a pianista, cravista e organizadora
cultural Ingrid Müller Seraphim (2011) e a pianista e organizadora cultural Henriqueta
Garcez Duarte, que, por sua atuação incansável como concertistas, docentes e na criação e
organização dos Cursos Internacionais de Música do Paraná, das Oficinas de Música de
Curitiba, da Camerata Antiqua e outros, contribuíram para a formação de incontáveis
músicos e grupos, consolidando Curitiba como celeiro de grandes intérpretes. Em 2012, foi o
pesquisador e folclorista Inami Custódio Pinto quem recebeu o prêmio, por sua atuação na
preservação e na divulgação do fandango caiçara, dança e música do litoral do Estado. Em
2014, foi homenageada a Família Brandão, que, assim como os demais premiados, é
protagonista da história da música em Curitiba e no Brasil dos anos 1940 à atualidade, com
sua música de altíssimo nível.
Transcrevemos a seguir os textos dedicados aos homenageados, publicados nos
libretos de programação dos Festivais & Mostras realizados:
PRÊMIO PENALVA 2004 Nosso homenageado, o maestro e compositor Alceu Bocchino
Nasceu em Curitiba em 1918, onde estudou música inicialmente com Antônio Melilo e João Poeck e foi professor da Escola de Música e Belas Artes do Paraná.
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Revelou-‐se logo um grande pianista, acompanhador, arranjador e compositor. Aos 26 anos, transferiu-‐se para São Paulo, onde estudou composição com Camargo Guarnieri e Dinoráh de Carvalho, foi professor do Conservatório de Santos e atuou em várias emissoras de rádio e televisão. Em 1946, instalou-‐se no Rio de Janeiro, onde desempenhou intensa atividade como regente, diretor musical, redator e assessor musical de várias emissoras de rádio e de televisão. Desde 1979 é maestro titular e emérito da Orquestra Sinfônica do Paraná, dividindo seu tempo entre o Rio de Janeiro e Curitiba. Sua produção musical, apresentada, gravada e publicada nas Américas, na Europa e na Ásia Menor, inclui música solística, camerística, orquestral e grande número de canções para voz e piano. Compõe dentro de “uma nova tonalidade”, aliando a tonalidade e o modo a um tratamento ora mais, ora menos livre. Nacionalista convicto, utiliza freqüentemente constâncias rítmicas, melódicas, harmônicas e modais da música folclórica brasileira, especialmente paranaense e gaúcha, combinadas a procedimentos do neo-‐classicismo centro-‐europeu. Divide sua própria trajetória em três períodos: o primeiro, anterior a 1944, que chama de período juvenil; o segundo, muito influenciado por Camargo Guarnieri e Francisco Mignone, com linguagem complexa e uso freqüente da polifonia; e o terceiro, iniciado em fins de 1951, fortemente marcado por Villa-‐Lobos, seu amigo pessoal, com tendência à simplicidade, à expressividade e à brasilidade, combinadas a linguagens da música universal, inclusive com o dodecafonismo. E afirma: “Sou, antes de tudo, um compositor nacionalista. O Brasil e o Paraná têm muitas manifestações musicais que não foram ainda estudadas, registradas. Este material, que constitui as nossas próprias raízes, a riqueza e a diversidade da nossa própria identidade, é muito precioso e sobre ele se pode e se deve trabalhar. Por isso sou nacionalista: penso que dentro da nossa própria cultura existe uma riqueza inigualável, pronta para ser explorada” (PROSSER, 2014).
PRÊMIO PENALVA 2011 Nossas homenageadas, Ingrid Müller Seraphim e Henriqueta Garcez Duarte
Ingrid Müller Seraphim e Henriqueta Garcez Duarte, ao lado de José Penalva, Henrique de Curitiba e Neyde Thomaz, mudaram os rumos da história da música e da cultura em Curitiba e no Paraná. Nossas homenageadas foram, ambas, professoras da Escola de Música e Belas Artes do Paraná, são pianistas e pedagogas ainda atuantes e organizadoras culturais de peso. Empreenderam, criaram caminhos e forjaram realidades que tiveram como fruto um sem número de músicos e grupos de carreira nacional e internacional. Os muitos eventos que organizaram, muitas vezes juntas ou apoiando o trabalho uma da outra, colocaram Curitiba entre as cidades mais importantes no cenário musical do país. Estes tiveram, igualmente, um alcance muito além das nossas fronteiras. Henriqueta dedicou-‐se especialmente à Pró-‐Música de Curitiba – criada em 1963 –, uma sociedade que promovia concertos, em uma época em que estes eram raros, e aos Festivais Internacionais de Música -‐ 1965-‐1977. Ingrid criou e consolidou a Camerata Antiqua e a Orquestra de Câmara da Cidade de Curitiba – 1974-‐2000 –, bem como as Oficinas de Música – 1983-‐2001, que constituem ainda hoje os projetos mais importantes da Fundação Cultural de Curitiba no âmbito da música e que continuam encantando e formando as novas gerações de músicos e de apreciadores da arte. Ambas participaram, também, da criação e da organização do primeiro concerto em honra ao Pe. Penalva, realizado em 2002, e dos I e II Festivais Penalva. Como musicistas, ao cravo, ao piano ou ao órgão, continuam enriquecendo a vida cultural da cidade.
Música e Músicos no Paraná: sociedade, estéticas e memória. v. 1, Curitiba: Artembap, 2014.
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Seus ideais e o seu trabalho tiveram resultados que se revelam em centenas e milhares de pessoas que participaram desses eventos e grupos, e que tiveram a sua vida profissional e pessoal impactadas por suas atividades. A estas duas guerreiras generosas, multiplicadoras, de ampla visão, a nossa admiração e gratidão (FEIJÓ, 2011).
PRÊMIO PENALVA 2012 Inami Custódio Pinto, Prêmio Penalva 2012
A Cultura Popular é a manifestação espontânea dos povos e tem sido objeto de estudo, já desde o século XX, pela academia – inicialmente por interessados e posteriormente por pesquisadores que observaram nela valores, sentidos, significados, práticas, calendários relevantes não só para os diferentes grupos que nela estavam representados como também para as análises que a cultura requer. Um desses pesquisadores foi o professor Inami Custódio Pinto. Curitibano, desde jovem interessou-‐se pelas expressões artísticas e culturais do Paraná e dedicou-‐lhes sua trajetória docente e artística. Foi professor de várias gerações de paranaenses, brasileiros de outras latitudes e estrangeiros que por aqui passaram, em instituições como a Faculdade de Educação Musical do Paraná, o Instituto de Pesquisa do Paraná e o Grupo de Dança Folclórica Paranaense. Dirigiu o Gabinete de Etnografia do Museu Paranaense e a Divisão de Folclore e Pesquisas Históricas do Museu da Imagem e Som do Paraná. Foi apresentador da TV Educativa do Paraná e produtor fonográfico das gravadoras Continental, Copacabana e Chantecler. Como compositor, tem mais de uma centena de obras publicadas e gravadas. O professor Inami está entre o grupo de brasileiros que entendeu ser o estudo das manifestações populares do país fundamental para definir questões identitárias brasileiras. Nesse grupo estão Mário de Andrade e Luíz da Câmara Cascudo. Ele direcionou sua pesquisa ao Estado do Paraná, onde diversas manifestações estavam presentes. Este território com características diferenciadas, uma região do povo guarani, onde também se estabeleceram quilombos, aliados aos processos colonizadores portugueses e espanhois, além de alemães, poloneses, japoneses, ucranianos e de outras etnias, constitui aos olhos de um pesquisador atento um desafio enorme. Suas obras maiores atestam a amplitude e a importância da sua produção. Publicou, entre outras, Folclore no Paraná, Folclore, Folpar – Curso de Folclore, Curso de Introdução aos Estudos de Folclore, Fandango do Paraná e Folclore: Aspectos Gerais. Participou, ainda, como co-‐autor em Tocadores, Fandango de Mutirão e A [Des]Construção da Música Paranaense. Suas obras e entrevistas são referência em publicações nacionais e internacionais. Recebeu várias homenagens pelo conjunto da sua produção. Sua sensibilidade sutil, seu senso agudo como etnógrafo e seu olhar crítico como cientista fizeram de Inami Custódio Pinto um paranaense ilustre próximo do seu povo (PITRE, 2014).
PRÊMIO PENALVA 2014 Os Brandão: família que transforma vida em música
Desde bem cedo de manhã até altas horas da noite, a residência da família Brandão, em Curitiba, mergulha em um universo sonoro e poético que mais parece uma escola de música europeia. A casa, em meio às altas árvores, respira música: não bastassem os muitos pássaros que habitam o imenso jardim, ouvem-‐se de cada janela e ao mesmo tempo diferentes instrumentos e obras sendo estudados, ou grupos de câmara ensaiando.
Música e Músicos no Paraná: sociedade, estéticas e memória. v. 1, Curitiba: Artembap, 2014.
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Tudo começou quando o ainda estudante de medicina e violinista, Hélio Brandão, em 1946, foi um dos responsáveis pela criação da Orquestra Estudantil de Concertos, regida por Bento Mossurunga. A orquestra, inicialmente, ensaiava na casa dos pais de Hélio, em alegres e divertidos encontros aos domingos. Em dezembro daquele ano, passou a participar do grupo a pianista Ophelia Ribas Moreira, que logo se tornou amiga dos seus integrantes e assídua frequentadora dos seus concertos, e com quem, mais tarde, Hélio se casou. Cada um dos sete filhos do casal estudou um instrumento, formando, nos anos 1960 e 70, uma orquestra de câmara, cujos ensaios ocorriam às 5 horas da manhã (!), por ser o único horário em que todos estavam em casa. Ainda nos anos 60, formavam também um coro infanto-‐juvenil de sonoridade ímpar, regido pela maestrina Hildegard Soboll Martins. Seguiram-‐se anos de estudos de alguns na Europa e de mudança de outros para diferentes cidades e países. Quase todos acabaram se tornando músicos profissionais e solistas admirados nos instrumentos que escolheram, como Maria Alice (violoncelo), Maria Ester (violino), Eunice (viola da gamba), Zelinha (flauta transversal) e Helinho (contrabaixo e composição); pesquisadores, como Maria Luiza (violino); ou por hobby, como o engenheiro Renato (piano). Músicos do mais alto nível, atuam intensamente no cenário nacional e internacional, com gravações ao lado de nomes como Jordy Savall, Montserrat Filgueiras, Olga Kiun, Roberto de Regina, Ingrid Seraphim e muitos outros. O Prêmio Penalva de 2014 leva o nome da Família Brandão – essa família acolhedora, que transforma vida em música e que contribui tão generosamente para a cultura da cidade e do país. Essa família que, em muitos momentos, mudou o rumo da história da música da sua aldeia (como dizia Tolstoi) e, por conseguinte, do mundo. Em nome de toda a comunidade musical, o Festival/Mostra agradece o privilégio de poder ouvir sua arte nas nossas salas de concerto e nas suas gravações e de tê-‐la na nossa cidade (PROSSER, 2014).
Pe. Penalva participou da vida de todos estes homenageados, às vezes como colega
ou colaborador, outras como pesquisador, regente ou professor, mas sempre como amigo.
Por isso, nada mais justo que ter esses personagens maiores da cena musical curitibana
premiados no evento que leva o seu nome.
OUTROS DESDOBRAMENTOS
Os Festivais Penalva & Mostras de Música Paranaense, inspiraram a criação, a partir
de 2012, do Acervo da Música Paranaense (Unespar/Embap), vinculado à Biblioteca da
Embap, e do Grupo de Pesquisa em Estudos em Musicologia/Linha de pesquisa: Música
Paranaense (CNPq/Unespar/Embap).
Os três formam, assim, um tripé:
Música e Músicos no Paraná: sociedade, estéticas e memória. v. 1, Curitiba: Artembap, 2014.
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• Os Festivais & Mostras oferecem aos compositores, intérpretes, estudiosos e
ao público, a performance da música, sua fruição, sua difusão como
fenômeno sonoro, acessível à academia e aos ouvintes de modo geral;
• O Acervo pretende a guarda e a disponibilização das obras e das pesquisas
realizadas, com vistas à coleta de todo tipo de documento relativo à música
no Estado com a preservação do material existente, possibilitando sua
execução, divulgação e pesquisa em arte e em áreas afins (sociologia, história,
antropologia, políticas etc.); e
• o Grupo de Pesquisa Estudos em Musicologia, com sua linha de pesquisa
Música Paranaense (CNPq/Unespar/Embap), contribui para a construção de
um corpo teórico, historiográfico e analítico sobre os fazeres musicais no
Estado nos seus muitos aspectos. Um dos produtos do grupo é a série de
livros Música e Músicos no Paraná: sociedade, estéticas e memórias, que
disponibiliza estudos de pesquisadores sobre este tema.
Os Festivais & Mostras, o Acervo e o Grupo de Pesquisa se retroalimentam,
permitindo que se preserve a memória da música, dos músicos e das instituições envolvidas,
que se vislumbre a amplitude dessa música e que se elabore, paulatinamente, o perfil da
atividade composicional no Estado.
UM CAMPO PROFÍCUO DE FRUIÇÃO, DISCUSSÃO E CRIAÇÃO
O Pe. Jaime Sánchez Bosch, Diretor do Studium Theologicum, amigo pessoal de
Penalva e atual guardião do seu acervo, ao comentar sobre o IV Festival, escreveu:
O Festival Penalva alcança já a quarta edição e marca mais uma vez o ritmo da vida cultural de Curitiba e do Paraná, fruto de um sentimento compartilhado de gratidão, amizade e admiração pelo mestre. Parece que o espírito generoso, alegre e dedicado de Penalva continua a pairar no nosso meio, suscitando sempre novas manifestações de amor à música e do gosto de “fazer juntos”. O Festival tem muitos protagonistas, todos entusiastas, e se torna realidade graças a um esforço discreto e persistente de pessoas dispostas a dar tudo para que todos possamos ter momentos de íntima fruição e lembrança de alguém que continua presente em todos nós. A todos o nosso mais profundo agradecimento (BOSCH, 2012)
Música e Músicos no Paraná: sociedade, estéticas e memória. v. 1, Curitiba: Artembap, 2014.
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Apesar do grande número de compositores participantes do evento, outros ainda
estão por ter suas obras apresentadas. Espera-‐se contar com essa produção nas próximas
edições, tornando o conjunto dos Festivais & Mostras um tempo e lugar não apenas de um
progressivo “conhece-‐te a ti mesmo”, no que tange à história da música feita no Paraná, mas
uma possibilidade de mapeamento dessa música e ao mesmo tempo um campo profícuo de
discussão e criação.
REFERÊNCIAS
DUARTE, Henriqueta Garcez. Depoimento. In: PROSSER, E. S. (org.). I Festival Penalva. Curitiba: ArtEmbap, 2003. Libreto de Programação.
FEIJÓ, Anna Maria Lacombe. Nossas homenageadas, Ingrid Müller Seraphim e Henriqueta Garcez Duarte. (Prêmio Penalva 2011). In: PROSSER, E. S. (org.) III Festival Penalva & II Mostra de Música Paranaense. Curitiba: ArtEmbap, 2011. Libreto de Programação.
JUSTINO, Maria José. Texto de Abertura. In: PROSSER, E. S. (org.). IV Festival Penalva e III Mostra de Música Paranaense. Curitiba: ArtEmbap, 2012. Libreto de Programação.
MELLO, Chico. Depoimento. In: PROSSER, E. S. (org.). I Festival Penalva. Curitiba: ArtEmbap, 2003. Libreto de Programação.
PENALVA, José de Almeida. Depoimentos a Elisabeth Seraphim Prosser. Curitiba, 1995 e 1998.
PITRE VASQUEZ, Edwin. Inami Custódio Pinto, Prêmio Penalva 2012. (Prêmio Penalva 2012). In: PROSSER, E. S. (org.) IV Festival Penalva & III Mostra de Música Paranaense. Curitiba: ArtEmbap, 2012. Libreto de Programação.
PROSSER, Elisabeth Seraphim. Apresentação. In: PROSSER, E. S. (org.). III Festival Penalva e II Mostra de Música Paranaense. Curitiba: ArtEmbap, 2011. Libreto de Programação.
_____. Nosso homenageado, o maestro e compositor Alceu Bocchino. (Prêmio Penalva 2004). In: PROSSER, E. S. (org.) II Festival Penalva & I Mostra de Música Paranaense. Curitiba: ArtEmbap, 2004. Libreto de Programação.
_____. Os Brandão: família que transforma vida em música. (Prêmio Penalva 2014). In: PROSSER, E. S. (org.). V Festival Penalva & IV Mostra de Música Paranaense. Curitiba: ArtEmbap, 2014. Libreto de Programação.
SERAPHIM, Ingrid Müller. Depoimento. In: PROSSER, E. S. (org.). I Festival Penalva. Curitiba: ArtEmbap, 2003. Libreto de Programação.
SPADONI, Bruno. Depoimento. In: PROSSER, E. S. (org.). I Festival Penalva. Curitiba: ArtEmbap, 2003. Libreto de Programação.
ZAGONEL, Bernadete. Texto de apresentação. In: PROSSER, E. S. (org.) II Festival Penalva & I Mostra de Música Paranaense. Curitiba: ArtEmbap, 2004. Libreto de Programação.