29
2. ASPECTOS AMBIENTAIS DA EXPLORAÇÃO DE O&G
2.1.INDÚSTRIA DO PETRÓLEO - FASES
A dinâmica da indústria mundial do petróleo e suas características
peculiares foram sendo formadas gradualmente como resposta aos empecilhos de
crescimento inerentes ao próprio setor.
Devido a facilidade de produção, transporte e uso, o petróleo substituiu o
carvão, tornando-se insumo chave do desenvolvimento do século XX e
provavelmente de grande parte do século XXI. Estatísticas disponibilizadas on-
line2 e ilustrados na figura 2, mostram que em 2010 o consumo de O&G natural
somados, representaram 57,4% da matriz energética mundial.
De acordo com o documento "The Outlook for Energy: A view to 2040",
publicado em 2011 pela empresa ExxonMobil Corporation, no ano 2000, para
cada barril produzido globalmente mais de 2,5 barris foram descobertos em novas
reservas, como indicativo da importância das atividades de exploração na
demanda energética para as próximas décadas. A figura 2.2 ratifica esta
importância ao ilustrar que atualmente ainda são produzidos barris de petróleo
descobertos em décadas passadas e que portando as reservas descobertas
recentemente proporcionarão considerável produção de O&G, isto é, conforme
ilustrado na figura 3, o petróleo foi e permancerá como a maior fonte de energia
mundial por muitos anos.
_____________________ 2 O documento publicado pela BP “BP Statistical Review of World Energy 2011” descreve que em
2010, o consumo de óleo e gás natural representava 57,4% do total consumido no mundo. Energia
eólica, geotérmica e solar não foram consideradas neste percentual.
30
Figura 2 - Consumo mundial de energia. Fonte: Adaptação do BP Statistical Review of World
Energy - June 2011
Figura 3 - Produção global de óleo por período de descobrimento de reservas. Fonte: EM “2011
The Outlook for Energy: A view to 2040".
31
Figura 4 - Composição da demanda global por combustível por década – Fonte: Adaptação EM
“2011 The Outlook for Energy: A view to 2040".
Nos últimos 20 anos, de acordo com a tabela 1, o Brasil praticamente
triplicou suas reservas provadas3 demonstrando seguir a tendência mundial e
atraindo o investimento e a atenção de dezenas de empresas internacionais nas
atividades de prospecção em sua costa.
Tabela 1 - Reservas de petróleoo provadas. Fonte: Adaptação da BP Statistical Review of World
Energy. June 2011.
Reservas Provadas (óleo)
Até fim 1990 Milhares de milhões de barris
Até fim 2000 Milhares de milhões de barris
Até fim 2009 Milhares de milhões de barris
Até fim 2010 Milhares de milhões de toneladas
Até fim 2010 Milhares de milhões de barris
BRASIL 4.5 8.5 12.9 2.0 14.2
TOTAL MUNDO
1003.2 1104.9 1376.6 188.8 1383.2
________________ 3 Reservas: recursos descobertos de O&G comercialmente recuperáveis a partir de uma
determinada data. São classificados de acordo com o Grau de Incerteza quanto às informações
geológicas e de engenharia e às condições econômicas. Reservas Provadas: estimativa de
recuperaração comercial de reservatórios descobertos e avaliados, com elevado grau de certeza,
considerando as condições econômicas vigentes, os métodos operacionais usualmente viáveis e os
regulamentos instituídos pela legislações petrolífera e tributária brasileiras. Prováveis: análises
indicam uma maior incerteza na sua recuperação quando comparada com a estimativa de reservas
provadas. Possíveis: análises indicam uma maior incerteza na sua recuperação quando comparada
com a estimativa de reservas prováveis.
32
A cadeia produtiva da indústria do petróleo pode ser considerada
extremamente complexa se comparada com a de outros produtos, especialmente
por serem recursos não renováveis e principal fonte de energia utilizada no
mundo.
Esta fonte de energia mineral se encontra em reservas de quantidade e
qualidade irregularmente distribuídas em todo planeta, que faz com que existam
grandes diferenças na estrutura das atividades entre as empresas do setor,
atrelados aos riscos de natureza específica oriundos da incerteza de descobertas de
jazidas economicamente rentáveis, além de outros riscos existentes comum a
outras atividades industriais.
Os segmentos da cadeia petrolífera, descritos em detalhes no anexo 9, são
tradicionalmente classificados como upstream, midstream e o downstream, sendo
o segmento de upstream relacionado às atividades de E&P de O&G; o midstream
que engloba as atividades de refino, transporte e a importação e exportação de gás
natural, petróleo e seus derivados e finalmente o downstream responsável pela
distribuição e revenda de derivados.
A cadeia de upstream pode ser estruturada, com base na exploração,
desenvolvimento e produção de um campo petrolífero. Os objetivos almejados por
cada uma dessas etapas do ciclo de vida de um campo de petróleo são distintos.
Na fase de exploração, busca-se identificar e quantificar novas reservas de
O&G, garantir acesso a reservas por meio de negociações com entes públicos ou
privados; analisar a geologia dos subsolos; identificar potenciais reservatórios e
confirmar a existência do mesmo. Primeiramente através do poço pioneiro para
verificação da existência de acumulação de petrólelo e em seguida no caso de
descoberta, a perfuração de outros poços de delimitação ou extensão, para
estabelecimento dos limites do campo. Todos estes poços da fase de exploração
exigem das empresas um complexo planejamento para mobilização de pessoal,
especificação técnica, infraestrutura, equipamentos e processo de licenciamento
ambiental.
A atividade pode ainda ser classificada como terrestre (onshore) e marítima
(offshore), que exige tratamento diferenciado quanto às questões ambientais.
Especialmente nas operações offshore, as atividades de E&P têm sido alvo de
discussões com órgãos ambientais, organizações não-governamentais, sindicatos,
33
universidades e foco de muitas publicações científicas, face as perspectivas de
crescimento do setor no Brasil.
Em termos históricos, a exploração de petróleo no Brasil inclui três grandes
fases: o período pré-Petrobras (atividades pioneiras de reconhecimento); as etapas
de exclusividade da Petrobras (Etapa 1: 1954/1968: Fase Terrestre, Etapa 2:
1969/1974: Fase Marítima/Plataforma Rasa, Etapa 3: 1975/ 1984: Fase
Marítima/Plataforma Rasa/Bacia de Campos, e Etapa 4: 1985/1997: Fase
Marítima/ Bacia de Campos/Águas Profundas), responsável por sucessivos
incrementos na reserva petrolífera do país; e a fase atual, sob a vigência da nova
Lei do Petróleo, caracterizada por intensa atividade em que várias companhias
nacionais e estrangeiras atuam tanto nas áreas anteriormente trabalhadas como nas
desafiadoras novas fronteiras exploratórias (Milani et. al, 2000).
Nos anos 90, o Brasil em função de características geológicas específicas, já
havia conquistado a posição de grande produtor em águas profundas do mundo.
Atualmente são grandes as perspectivas de desenvolvimento de reservatórios em
águas ultra profundas, que exigirão diversas adequações e inovações tecnológicas
e principalmente garantia de altos padrões a cerca de potenciais impactos
ambientais. A exploração de O&G no ambiente marítimo é uma atividade de
grande importância econômica no Brasil, que se desenvolve com grande
aprimoramento tecnológico a fim de alcançar a exploração de reservas em águas
cada vez mais profundas.
A nova fronteira exploratória, o pré-sal, se apresentou como a descoberta
mais promissora dos últimos tempos. De acordo com o prestigioso órgão de
estatísticas do Departamento de Energia americano, o EIA (U.S. Energy
Information Administrative), em janeiro de 2011 a empresa Petrobras anunciou a
comercialidade do óleo do campo de Tupi e Iracema (renomeados Lula e
Cernambi), tornando o pré-sal uma realidade fascinante e simultaneamente
desafiadora, dada as incertezas de como as formações geológicas se comportarão
durante sua produção, dada a distância da localização destes reservatórios em
relacão a costa e toda a complexidade da tecnologia necessárias para este tipo de
operação.
De acordo com o lançamento do Plano Estratégico Petrobras 2020, realizado
no dia 26 de julho de 2011, o Presidente da Empresa José Sergio Gabrielli
afirmou que as descobertas em águas profundas no Brasil representam 1/3 das
34
descobertas do mundo nos últimos 5 anos, que atualmente o pré sal representa 2%
da produção nacional com previsão de que até 2020 este número alcance 40,5%.
A empresa tem como estratégia o desenvolvimento das reservas de forma
sustentável, com expectativa de perfuração de mais de 1000 poços offshore, sendo
cerca de 40% exploratório. Estas constatações corroboram com a escolha do tema
desta dissertação. As figuras 5 e 6 ilustram a expectativa do aumento significativo
da indústria offshore no Brasil.
Figura 5 - Liderança do Brasil em descobertas recentes. Fonte: Plano Estratégico Petrobras 2011-
2015 – Julho 2011
Figura 6 - Projetos offshore no Brasil. Fonte: Plano Estratégico Petrobras 2011-2015 – Julho 2011
A exploração marítima, por ser potencialmente poluidoras têm em seu
processo de licenciamento ambiental requisitos diretamente ligados ao controle de
poluição ambiental. As atividades de perfuração de poços, foco desta dissertação,
geram emissões atmosféricas, efluentes líquidos e resíduos sólidos em escalas e
tipologias distintas, desde resíduos sólidos de hotelaria e acomodações e
35
escritórios à resíduos contaminados, e classificados como perigosos. A figura 7
ilustra o dado fornecido pela NT 07/11 de que, com relação ao perfil de resíduos
gerados por plataformas de produção e perfuração em 2009, as atividades de
perfuração marítima geram os maiores quantitativos de alguns tipos de resíduos,
mesmo com a utilização de menor número de unidades marítimas e embarcações.
36
Figura 7 - Comparação entre quantitativos totais de resíduos gerados por tipo de atividade. Fonte:
IBAMA NT 07/11.
De acordo com o “US Departments of Agriculture and Energy” (1998), o
processo de emissões de extração offshore convencionais segue os parâmetros de:
10,14L de efluentes líquidos para cada quilo de petróleo bruto produzido; sendo
que são estimados 2.8 x 10-4 kg de óleo e graxa nos efluentes líquidos para cada
quilo de petróleo bruto produzido. Com relação à emissões atmosféricas
provenientes da combustão de gás natural nos separadores de óleo/gás, turbinas,
ventilação (venting) e queimador (flaring) de gás natural, estima-se uma
quantidade de 0.26kg de produção de gás associado para cada quilo de petróleo
bruto extraídos dos poços offshore.
A NT 07/11, apresenta resultados consolidados sobre geração e destinação
de resíduos sólidos dos empreendimentos marítimos de E&P de petróleo. Durante
o ano de 2009, as atividades offshore em águas jurisdicionais brasileiras
produziram um total de 44.437 toneladas de resíduos sólidos provenientes de 221
unidades marítimas, sendo 90 plataformas de perfuração e 131 de produção, 419
embarcações (97 em atividades de perfuração) e 16 navios sísmicos. Estas
estimativas somadas aos dados apresentados pelo Plano Estratégico Petrobras
2020, anunciam a enorme quantidade de resíduos, efluentes e emissões que serão
gerados no país e ilustram a importância da discussão do tema através da proposta
37
de aplicação do CCV no gerenciamento dos mesmos para uma otimização da
geração, das técnicas de tratamento e disposição final.
2.2. SUSTENTABILIDADE
A conscientização sobre o exaurimento das reservas dos recursos naturais,
fez da preservação ambiental uma necessidade para a humanidade e novo
paradigma dos negócios do século XXI.
Existem diversas interpretações para o conceito de sustentabilidade.
Segundo a Agência de Proteção Ambiental Americana - EPA (2010), no conceito
baseado no relatório intitulado "Nosso futuro comum", também conhecido como o
Relatório Brundtland, a sociedade, as questões econômicas e ambientais são
reconhecidas como os três pilares da sustentabilidade, o tripé da sustentabilidade4,
que cria novas prioridades e novos incentivos ao redor do mundo e em agências
reguladoras. Elkington (1999), descreve que muitos executivos afirmam que o
negócio deles não é salvar o planeta, mas a expectativa de contribuição das
empresas neste quesito cresce a cada dia em todo o mundo. Organizações como a
World Business Council for Sustainable Development (WBCSD)5, auxiliam no
aumento destas expectativas e a pauta dos três pilares cresce rapidamente em
todos os setores da indústria para garantia da eficiência e da efetividade dos
recursos.
O desenvolvimento sustentável é atualmente interpretado como missão de
concientização e responsabilidade ambiental mundial.
_____________________ 4 Em 1994, John Elkington lançou o conceito do triple bottom line, conhecido no Brasil como o
tripé da sustentabilidade, com o qual ele pretendia disseminar a teoria de que as empresas
deveriam medir o valor que geram, ou destroem, nas dimensões econômica, social e ambiental.
Esse termo também ficou conhecido como os 3P’s, ou seja, “PPP – People, Planet and Profit”
(Pessoas, Planeta e Lucro). Essa nova abordagem deu suporte à criação do Dow Jones
Sustainability Index e do Global Reporting Initiative (GRI).
5 World Business Council for Sustainable Development (WBCSD - Conselho Empresarial Mundial
para o Desenvolvimento Sustentável) é o primeiro organismo internacional puramente empresarial
com ações voltadas à sustentabilidade, criado na Rio-92.
38
A missão de desenvolvimento sustentável acabou conectada com a tarefa de
solução de problemas sociais, econômicos e ecológicos, sendo proposta pelos
governos e líderes corporativos como solução para uma gama de problemas que
agora fazem parte da pauta internacional.
Segundo a Associação Global da Indústria de Petróleo e Gás para assuntos
ambientais e sociais - IPIECA (2010), à medida que as economias se tornam cada
vez mais globalizadas, surgem oportunidades nunca vistas para se gerar
prosperidade e qualidade de vida, por meio do compartilhamento do
conhecimento e do acesso à tecnologia. A questão é que temos um conflito entre o
crescimento do consumo e escassez de recursos naturais, atrelados ao crescimento
populacional que são acompanhadas de novos riscos à estabilidade do meio
ambiente, um dos grandes dilemas da atualidade.
O desenvolvimento de conhecimento e de tecnologia contribui para o
crescimento econômico e também pode contribuir para solução dos riscos e danos
que esse crescimento pode trazer à sustentabilidade de nossas relações sociais e
com o meio ambiente.
Novos conhecimentos e inovações em tecnologia, em gestão e em políticas
públicas cada vez mais desafiam as organizações a fazer novas escolhas em
relação ao impacto de suas operações e atividades, sobre as economias, pessoas e
o planeta.
Na indústria petrolífera este conflito é ainda maior. O petróleo bruto como
anteriormente descrito é uma fonte de energia não renovável, necessário para
suprimento da demanda de energia atual e futura, especialmente quando o
crescimento populacional esperado ao redor do mundo é levado em consideração.
De acordo com os cálculos publicados no documento "The Outlook for
Energy: A view to 2030", publicado em 2010 pela empresa ExxonMobil
Corporation, a população mundial passou dos aproximados 1 bilhão de habitantes
em 1800 para os atuais 7 bilhões, com estimativa de alcançar 8 bilhões em 2030.
Neste contexto a energia proveniente dos combustíveis fósseis continua ser a
chave para o desenvolvimento do planeta influencidado pelo aumento
populacional e pela demanda proveniente do crescimento da economia.
39
Figura 8 - População Global – Fonte EM “2010 The Outlook for Energy: A view to 2030"
Neste material foi enfatizada a conexão entre o progresso da economia, o
consumo de energia e os desafios relacionados ao aumento da demanda energética
global. Devido ao aumento populacional e uma siginificativa expansão da
economia mundial, é esperado um aumento de 40% na demanda energética em
comparação com o consumo de 2005. Conforme anteriormente citado, o consumo
de O&G representa mais da metade da matriz energética global e continuará
indispensável para o atendimento de grande parte desta demanda energética nos
próximos anos. A figura 8 ilustra que em 2030 é esperado um aumento de até 6
vezes o consumo de energia desde 1950, sendo que uma parte bastante
representativa ainda será fornecedia pela indústria de O&G. A indústria petrolífera
por seus tantos anos de existência e pelo seu caráter essencial ao desenvolvimento
da humanidade, pode ser considerada madura. No entanto, mesmo madura, ainda
lida diariamente com os impactos ambientais decorrentes da extração de O&G,
que já demostraram seu potencial catastróficos em alguns acidentes de grande
repercussão na mídia e incompatíveis com o desenvolvimento sustentável.
40
As empresas do setor de O&G, buscam constantemente a diminuição e
mitigação dos impactos de suas atividades e a solução do conflito entre suas
operações e a sustentabilidade do planeta, através de tecnologia, políticas internas
das empresas, sistemas de gestão com melhoria contínua proporcionada e através
das lições aprendidas com os impactos ambientais já ocorridos.
Esta interface entre as ferramentas utilizadas pelas empresas e o tripé da
sustentabilidade está ilustrado pela figura 9.
Figura 9- Tripé da Sustentabilidade.
A busca constante da indústria petrolífera em prol do desenvolvimento
sustentável pode ser exemplificado através do trabalho liderado pela
IPIECA/BASD 20126 no sentido de disseminar durante a Rio+20, a se realizar em
2012, que o setor de O&G visa uma indústria competitiva, ética, socialmente
responsável e sustentável.
_____________________ 6 BASD 2012: Ação Empresarial para o Desenvolvimento Sustentável 2012. Grupo coordenador
oficial das Nações Unidas sobre Negócios e Indústria para a próxima Conferência sobre o
Desenvolvimento Sustentável (Rio +20), que será realizada no Rio de Janeiro em 20-22 junho de
2012. A BASD 2012 é liderada por organizações internacionais, como coalizão temporária de
organizações comprometidas com o desenvolvimento sustentável: 1) International Chamber of
Commerce (ICC); 2) WBCSD) e 3)United Nations Global Compact (UNGC), tendo como
colaborador representante da indústria petrolífera a Global Oil & Gas Industry Association
(IPIECA).
41
Este conceito é refletido em trechos da mensagem IPIECA BASD 2012, tais
quais: “Desenvolvimento sustentável é uma visão compartilhada por muitas
partes, que exigem, hoje, ações de longo prazo” e “A indústria de petróleo e gás é
um parceiro integral desta visão, provendo energia para alimentar o crescimento
econômico e considerando continuamente seus impactos ambientais e sociais.” O
conceito também é reforçado através dos três compromissos descritos nesta
mesma mensagem: “Para atender às necessidades atuais de energia global, a
indústria de petróleo e gás está empenhada em fornecer energia, por intermédio de
operações seguras, confiáveis e eficientes e que sejam ambiental e socialmente
responsáveis; a indústria de petróleo e gás está comprometida em encontrar,
produzir e fornecer petróleo e gás que contribuam para o desenvolvimento
econômico e social a nível mundial e a indústria de petróleo e gás está
comprometida com a evolução de mais fontes de energia sustentáveis para
enfrentar os riscos das mudanças climáticas e outros impactos ambientais e sociais
agora, e nas próximas décadas.”
Com toda esta temática desafiadora e ao mesmo tempo contrastante, o
desenvolvimento sustentável se tornou uma missão de conscientização e resposta
ambiental global que se estende à tarefas de cunho social, político, tecnológico e
econômico e que abrange o gerenciamento de resíduos das atividades de
perfuração marítima.
2.2.1. INDICADORES
De acordo com a definição do Ministério do Meio Ambiente em seu sítio
eletrônico, indicadores são informações quantificadas, de cunho científico, de
fácil compreensão, utilizadas nos processos de decisão em todos os níveis da
sociedade, úteis como ferramentas de avaliação de determinados fenômenos,
apresentando suas tendências e progressos que se alteram ao longo do tempo.
As empresas de O&G foram pioneiras nos relatórios de sustentabilidade a
partir de meados da década de 1990 (Krishna et al., 2011). No caso dos
indicadores ambientais, estas estatísticas procuram representar aspectos do meio
ambiente, dos recursos naturais e de atividades humanas neste contexto.
42
As empresas do setor, cientes da urgência e da magnitude dos riscos e dos
danos para a sustentabilidade, publicam com transparência e clareza em seus
anuários ações e metas sobre os impactos econômicos, ambientais e sociais. Estas
publicações são fundamentais para seus negócios e para as decisões sobre
investimento ou em outras relações de mercado, uma vez que de acordo com as
“Diretrizes para Relatório de Sustentabilidade” da Global Report InitiativeTM
(GRI)7, permitem o compartilhamento de uma estrutura de conceito de parâmetros
de monitoramento de sutentabilidade reconhecidos internacionalmente.
Dentre os impactos gerados pela atividade em questão, encontram-se nestes
indicadores parâmetros relacionados à resíduos, que no contexto desta dissertação
abrangem emissões atmosféricas, efluentes líquidos e resíduos sólidos.
A OGP (2011), ressalta a medição de resíduos como fator importante na indústria
de petróleo e as empresas de petróleo confirmam a importância da interface entre
sustentabilidade e gestão de resíduos nas atividades petrolíferas, através de seus
relatórios de sustentabilidade publicados com base no GRI e na segunda edição do
“Oil and Gas Industry Guidance on Voluntary Sustainability Reporting - 2010”
produzido pelas associações internacionais da indústria de O&G, IPIECA
(International Petroleum Industry Environmental Conservation Association),
OGP e pela API (American Petroleum Institute). Estas referências basicamente
definem as diretrizes e indicadores necessário para a elaboração de relatórios de
sustentabilidade da indústria petrolífera.
_____________________ 7 A Global Reporting Initiative (GRI) é uma organização sem fins lucrativos cujo principal
trabalho consiste na criação de diretrizes e indicadores para a elaboração de relatórios de
sustentabilidade, por meio de uma rede de diálogo multi-stakeholder, composta por milhares de
especialistas de todo o mundo. Atualmente, as diretrizes GRI são a principal referência para a
elaboração destas publicações, não só devido ao processo compartilhado de desenvolvimento e
gestão, mas também aos fundamentos de seu conteúdo, que dialoga com as principais referências
internacionais em sustentabilidade, como a Declaração Internacional dos Direitos Humanos, o
Pacto Global da Organização das Nações Unidas (ONU), os Objetivos de Desenvolvimento do
Milênio, entre outras.
43
A GRI, G3 divide seus indicadores de desempenho ambiental em aspectos
essenciais e aspectos adicionais, sendo que o Aspecto “EMISSÕES,
EFLUENTES E RESÍDUOS” engloba os resíduos tratados nesta dissertação,
dentre os quais: EN20 (NOx, SOx e outras emissões atmosféricas significativas,
por tipo e peso); EN21 (descarte total de água, por qualidade e destinação), e
EN22 (peso total de resíduo, por tipo e método de disposição).
Tabela 2 - Indicadores de Desempenho Ambiental GRI. Aspecto: emissões, efluentes e residuos.
Fonte: Diretrizes para Relatório de Sustentabilidade GRI
ASPECTO: EMISSÕES, EFLUENTES E RESÍDUOS
EN 16 Total de emissões diretas e indiretas de gases de efeito estufa, por peso.
EN 17 Outras emissões indiretas relevantes de gases de efeito estufa, por peso.
EN 18 Iniciativas para reduzir as emissões de gases de efeito estufa e as reduções obtidas.
EN 19 Emissões de substâncias destruidoras da camada de ozônio, por peso.
EN 20 NOx, SOx e outras emissões atmosféricas significativas, por tipo e peso.
EN 21 Descarte total de água, por qualidade e destinação.
EN 22 Peso total de resíduos, por tipo e método de disposição.
EN 23 Número e volume total de derramamentos significativos.
EN 24 Peso de resíduos transportados, importados, exportados ou tratados considerados
perigosos nos termos da Convenção da Basiléia – Anexos I, II, III e VIII, e
percentual de carregamentos de resíduos transportados internacionalmente.
EN 25 Identificação, tamanho, status de proteção e índice de biodiversidade de corpos
d’água e habitats relacionados signifiativamente afetados por descartes de água e
drenagem realizados pela organização relatora.
O Guia IPIECA/OGP/API (2010) divide os indicadores ambientais em três
grandes grupos: Mudanças Climáticas e Energia (E1, E2, E3 e E4), Serviços de
Ecosistemas (E5 e E6) e Impactos ambientais locais, onde se encontram os
indicadores discutidos neste material (E7 - Outras emissões atmosféricas, E8 –
derramamento no meio ambiente, E9 – Descarte no mar e E10 – Resíduo).
Ressaltamos que a questão da sustentabilidade na indústria de petróleo se
faz tão presente e atual, que a GRI em março de 2011 publicou a versão G3.1
(uma terceira geração de diretrizes para reporte do GRI’s Sustainability Report) e
que está atualmente desenvolvendo diretrizes específicas para o setor de O&G em
formato de suplemento ao G3.1 (GRI Oil and Gas Sector Supplement). De acordo
com o portal eletrônico do GRI consultado em setembro de 2011, este suplemento
44
tem publicação prevista para curto prazo e abordará alguns tópicos considerados
chaves do setor petrolífero dentre os quais emissões, efluentes e resíduo.
2.2.2. ECONOMIA VERDE: CONCEITO AMPLO E ATUAL DA SUSTENTABILIDADE
O conceito de economia verde, surgiu com destaque em vários fóruns
intergovernamentais, por meio de iniciativas como da OECD (Organization for
Economic Co-operation and Development), da “Green Economy Initiative” da
UNEP e por discussões entre os líderes do G20 (grupo formado pelos ministros de
finanças e chefes dos bancos centrais das 19 maiores economias do mundo mais a
União Europeia). No contexto do desenvolvimento sustentável foi declarado como
tema prioritário para a Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento
sustentável em 2012 (Rio+20), anteriormente mencionada.
A Câmara de Comércio Internacional – ICC descreve o termo "economia
verde" como “uma economia na qual o crescimento econômico e responsabilidade
ambiental trabalham juntos e mutuamente no apoio ao progresso do
desenvolvimento social – economy in which economic growth and environmental
responsibility work together in a mutually reinforcing fashion while supporting
progress on social development” e critica a utilização dos termos “verde” e
“marrom”, como adjetivos de setores e empregos, por não levarem em
consideração possíveis variações que dificultam o entendimento de que um setor
previamente reconhecido como “marrom”, pode ser responsável pela produção de
material para um setor reconhecido como “verde”.
Não existe espaço para julgamento que somente levem em conta uma das
dimensões da sustentabilidade. Um setor inicialmente e erroneamente classificado
como “marrom” pode ser crucial para as dimensões sócio-econômicas e por isso
deve ter esta classificação “esverdeada”. A aplicação do conceito do ciclo de vida,
por exemplo, pode trazer maior eficiência da utilização de recursos naturais e
tornando-se uma ferramenta capaz de “esverdear” processos. O conceito lançado
pela UNEP (2011) de que a economia verde é uma responsabilidade e desafio de
várias partes, indústria, governo, sociedade e consumidores, corrobora para o
compartilhamento da missão de todas as partes no alcance da sustentabilidade.
45
O investimento “verde” atualmente alcançou um novo nível de importância
na matriz energética das empresas, sejam elas de pequeno ou grande porte
(BERN, 2011).
A quebra do paradigma de incompatibilidade entre as empresas petrolíferas
e o desenvolvimento sustentável pode ser iniciada com a análise do gerenciamento
dos resíduos gerados na indústria de exploração de O&G offshore, uma vez que o
aumento do volume e da complexidade dos resíduos industriais, apresenta
potencial para por em risco a saúde humana e o meio ambiente nesta fase de foco
em exploração em águas ultra profundas na costa brasileira.
A UNEP (2011) em conjunto com a ICC (2011) tem a questão “resíduo”
como um dos onze setores analisados em seu relatório “Green Economy Report” e
reforça a introdução da dissertação ao descrever que o gerenciamento de resíduos
se tornou uma indústria global com o crescimento do volume dos mais diversos
tipos de resíduos e afirma que a abordagem do ciclo de vida será importante nesta
transição para a economia verde, por permitir que o resíduo passe a ser visto como
um recurso.
Ambas as publicações por serem recentes, denotam que o tema abordado na
dissertação é bastante atual. A ICC (2011) ainda reforça que o gerenciamento de
resíduos está atrelado a muitas outras questões e que a melhoria deste setor irá
requerer mais educação, treinamento, desenvolvimento de políticas, novas
tecnologias, investimento e melhoria de infraestrutura.
Estes tópicos, serão abordados em maiores detalhes ao longo desta
dissertação possibilitando o aprofundamento da discussão do conceito da
sustentabilidade dentro da indústria do petróleo para fornecimento de uma visão
holística do interessado sobre o tema.
2.3.RESÍDUOS
A IPIECA (2004), define resíduo como “material (sólido ou líquido),
resultante de operações de empresas, planejado para ser disposto, reutilizado,
reciclado ou recuperado, dentro ou fora do local de sua geração.
46
A International Standards Organization - ISO 14040:20068 –
Environmental management — Life cycle assessment — Principles and
framework, define resíduo como “substância ou objetos cuja disposição é
requerida ao proprietário - substances or objects which the holder intends or is
required to dispose of”. Ambas as definições demonstram que resíduos sólidos,
efluentes líquidos e emissões atmosféricas são componentes indesejáveis mas
intrínsecos, não só às operações da indústria, mas ao nosso cotidiano. Por estarem
cada vez mais presentes, demandam gerenciamento eficiente para mitigação de
impactos indesejáveis à sua existência.
No contexto internacional, o relatório do Programa das Nações Unidas para
o Meio Ambiente (PNUMA) de 21 de fevereiro de 2011, destaca Políticas
Públicas Sustentáveis e Trajetória de Investimento Rumo à Rio +20 e prevê que o
mundo gerará 13 bilhões de toneladas de resíduos entre municipais e outros até
2050; e relata que atualmente, apenas 25% de todos os resíduos são recuperados
ou reciclados.
Segundo EPA (2011), um gerenciamento eficiente de resíduos, requer o
entendimento e atendimento à legislação ambiental. Este atendimento às leis será
garantido por procedimentos que permitam um fácil entendimento dos resíduos e
suas características, das expectativas ambientais, monitoramento de performance e
integração das operações à todos estes conceitos e ao conceito da sustentabilidade.
Na sequência estruturamos outros capítulos que melhor descrevem este itens
elencados neste material do EPA.
Segundo a OGP (2008), resíduo pode ser definido por diversas maneiras,
por uma abordagem técnica, legal ou até mesmo por nomeclatural empresarial
específica, muitas das vezes seguido por adjetivos tais como: perigosos, especiais,
industriais, domésticos e não perigosos.
_____________________ 8 ISO 14000 é uma série de normas desenvolvidas pela International Organization for
Standardization (ISO) que estabelecem diretrizes sobre a área de gestão ambiental dentro de
empresas.
47
Para fins desta dissertação, ao longo do trabalho, consideraremos como
resíduos, os efluentes líquidos, emissões atmosféricas e resíduos sólidos gerados
nas atividades de exploração marítima. Este trabalho não aborda as legislações
pertinentes à classificação resíduos que exigem certificado adicionais de
transportadoras e receptoras, junto órgãos de controle específicos, como a
Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) e a Comissão Nacional de
Energia Nuclear (CNEN).
2.3.1.EFLUENTES LÍQUIDOS E EMISSÕES ATMOSFÉRICAS
A minimização de poluição industrial, especialmente geradas na indústria de
E&P, requer procedimentos que contemplem geração de efluentes e resíduos a
bordo, sua disposição em terra, descarte de rejeitos no mar e das emissões
atmosféricas. Embora a busca pela mitigação dos impactos decorrentes do
descarte dos fluidos de perfuração e do cascalho configure uma das medidas
requerida pelo órgão ambiental, para controle de poluição provocada pelos
empreendimentos de E&P, esse tema ainda não é abordado por nenhum
instrumento regulador. Na NT 01/11 são definidas condições para o descarte de
efluentes líquidos (oleosos e sanitários e águas servidas) e referência de que o
monitoramento do descarte e da disposição em terra de fluidos de perfuração e
cascalhos, serão abordados em outro instrumento regulador específico para essa
temática. Quanto às emissões atmosféricas decorrentes da E&P de O&G, na NT
01/11 é exigida a realização de inventário semestral, contendo medidas indiretas
de monitoramento dessas emissões. No entanto, assim como para os efluentes,
existe uma referência na NT 01/11 que futuramente será emitida Nota Técnica, no
âmbito do licenciamento ambiental, especificamente relacionada às emissões
atmosféricas decorrentes da E&P de O&G.
Apesar da existência de indicadores específicos para efluentes e emissões
atmosféricas e dos mesmos fazerem parte dos relatórios de sustentabilidade das
empresas operadoras de unidades de perfuração marítima no Brasil, não foi
encontrado um estudo com quantitativo de geração dos mesmos. Todavia, os
volumes de fluidos utilizados na perfuração de poços por serem bastante elevados
e não foram totalmente desconsiderados no material apresentado pela NT 07/11
("Projeto de Controle da Poluição”). Resíduos sólidos das atividades de
48
Exploração e Produção de petróleo e gás em bacias sedimentares marítimas do
Brasil no ano de 2009 – Consolidação dos resultados da Nota Técnica
CGPEG/DILIC/IBAMA n° 08/ 08”), que menciona que o IBAMA está
trabalhando em conjunto com a indústria para elaboração de uma normativa
específica para um procedimento mais robusto para a gestão destas informações.
Atualmente as informações disponíveis sobre os fluidos utilizados na perfuração
de poços podem ser encontrados nos relatórios de cumprimento de condicionantes
dos empreendimentos licenciados. A NT 07/11, descreveu uma análise qualitativa
realizada a partir de dados de 30 poços marítimos perfurados no ano de 2009. Os
resultados indicam que a utilização de fluidos de base não aquosa pode variar de
100 bbl9 (110 m3) a 31.000 bbl (4.900 m3) por poço, ratificando que as estatísticas
realizadas com estes dados demonstraram não haver correlação direta entre a
profundidade perfurada e o volume de fluido utilizado, o que dificulta uma
inferência de volumes produzidos em função da quantidade de poços perfurados.
2.3.2.RESÍDUOS SÓLIDOS
A classificação correta dos resíduos gerados em uma determinada atividade
é o primeiro passo para estruturação de um gerenciamento adequado. A partir da
classificação são definidas as etapas de coleta, armazenagem, transporte,
manipulação e destinação final, de acordo com cada tipo de resíduo gerado. As
normas técnicas (NBRs) relativas ao gerenciamento de resíduos sólidos
publicadas pela Associação Brasileira de Normas Técnicas – ABNT, são as
regulamentações amplamente adotadas no Brasil.
A Norma NBR 10004:2004 – Resíduos Sólidos – classifica os resíduos
quanto aos riscos potenciais ao meio ambiente e à saúde pública.
A classificação baseia-se nas características dos resíduos, se reconhecidos
como perigosos, ou quanto à concentração de poluentes em suas matrizes.
_____________________ 9 bbl – Sigla para barril, unidade de volume que equivale a 158,987 litros (barril estadunidense).
49
Tabela 3 - Classificação de Resíduos. Fonte: Manual de Gerenciamento de Resíduos – FIRJAN
A NBR 10004:2004, preconiza também o espectro da classificação de
resíduos em função de suas propriedades físicas, químicas, toxicológicas ou
infecto-contagiosas e na identificação de contaminantes presentes em sua massa.
-Classe I – Resíduos Perigosos, são resíduos sólidos ou mistura de resíduos
sólidos que, em função de suas características de inflamabilidade, corrosividade,
reatividade, toxicidade e patogenicidade, podem apresentar risco à saúde pública,
provocando ou contribuindo para um aumento de mortalidade ou incidência de
doenças; e apresentarem efeitos adversos ao meio ambiente, quando manuseados
ou destinados de forma inadequada.
-Classe IIA representa os resíduos não perigosos e não inertes e podem
apresentar propriedades como combustibilidade, biodegradabilidade ou
solubilidade em água, ou seja, em sua maioria os resíduos do tipo comum não
reciclável que são dispostos em aterro sanitário.
-Classe IIB representa os resíduos não perigosos e inertes, ou seja, em sua
maioria os resíduos passíveis de reciclagem.
A figura 10 relaciona o fluxo para a escolha da melhor tecnologia para
tratamento e disposição final de resíduos sólidos e o anexo 2 descreve opções para
cada tipo de resíduo.
50
Figura 10 - Fluxo de escolha de tecnologia de tratamento e disposição final de resíduos sólidos.
Fonte: Adaptação FIRJAN - Manual de Gerenciamento de Resíduos
Resíduos classificados como industriais, tóxicos ou perigosos representam
grande perigo e, dadas as possibilidades de exposição, podem representar grande
risco à população e ao meio ambiente. O descarte destes resíduos em locais
inadequados, incrementa sobremaneira este perigo. Os resíduos sólidos gerados
pelas atividades foco desta dissertação, a partir do recebimento do mesmo nas
bases operacionais terrestres, seguem o mesmo fluxo dos resíduos classificados
oriundos de qualquer outra atividade industrial. A pesquisa bibliográfica então,
abrangeu o quantitativo de resíduo industrial como um todo, seja com base no
quantitativo gerado no Estado do Rio de Janeiro que segundo a NT 07/11 detém a
maior produção em campos marítimos do Brasil (93,6%), seja no quantitativo
país, que permite uma visão clara da precariedade de infraestrutura local.
O Instituto Estadual do Ambiente do Estado do Rio de Janeiro (INEA),
disponibilizou em seu site a situação atual do Estado do Rio de Janeiro. Os dados
referentes ao período de janeiro a dezembro de 2008, indicaram uma geração
anual pelas indústrias fluminenses de 12.089.739,85 toneladas de resíduos
industriais, sendo aproximadamente 5% deste total classificados como perigosos.
Face a quantidade de geração atual de resíduos não só no Brasil, como no
mundo, e tendo em vista a expectativa de geração futura, vislumbra-se uma
deficiência no país para o gerenciamento deste montante. Segundo a pesquisa
nacional de saneamento básico 2008 (PNSB) do Instituto Brasileiro de Geografia
e Estatística (IBGE), no Brasil constitucionalmente é de competência do poder
51
público local o gerenciamento dos resíduos sólidos produzidos em suas cidades
que compreendem, coleta, limpeza pública e destinação final. A pesquisa,
transcrita a seguir, ainda mostra que os vazadouros10 a céu aberto (lixões)
constituíram o destino final dos resíduos sólidos em 50,8% dos municípios
brasileiros. Embora este quadro venha se alterando nos últimos 20 anos, sobretudo
nas regiões sudeste e sul do país, tal situação se configura como um cenário de
destinação reconhecidamente inadequado, que exige soluções urgente e estrutural
para o setor. Contudo, independente das soluções e/ou combinações de soluções a
serem adotadas, é a clara necessidade de mudanças social, econômica e cultural da
sociedade.
Tabela 4 - Destino final dos resíduos sólidos, por unidade de destino dos resíduos Brasil
1989/2008. Fonte: IBGE / Pesquisa Nacional de Saneamento Básico 2008
Ano Destino finaldos resíduos sólidos,porunidadededestinodos resíduos
Brasil1989/2008
Vazadouro a céu aberto Aterro Controlado Aterro Sanitário
1989 88,2 9,6 1,1
2000 72,3 22,3 17,3
2008 50,8 22,5 27,7
Quando o foco são os resíduos perigosos provenientes de atividades
industriais no país, a situação brasileira não demonstra um cenário positivo.
Segundo os dados levantados pela publicação dos “Perfil dos municípios
brasileiros”, 97% dos municípios brasileiros não possuem aterro sanitário11 dentro
de seus limites territoriais, utilizando- se de outras alternativas para destino deste
tipo de resíduo.
_____________________ 10 Vazadouros a céu aberto ou “Lixão”: Forma inadequada de disposição final de resíduos e
rejeitos, que consiste na descarga do material no solo sem qualquer técnica ou medida de controle.
11 Aterro Sanitário: Técnica de disposição de resíduos sólidos urbanos no solo, sem causar danos à
saúde pública e à sua segurança minimizando os impactos ambientais, método este que utiliza os
princípios de engenharia (impermeabilização do solo, cercamento, ausência de catadores, sistema
de drenagem de gases, águas pluviais e lixiviado) para confinar os resíduos e rejeitos à menor área
possível e reduzi-los ao menor volume permissível, cobrindo-o com uma camada de terra na
conclusão de cada jornada de trabalho, ou a intervalos menores, se necessário (adaptado da versão
preliminar do PNRS).
52
Figura 11 - Geração de Resíduos Sólidos Industriais no Brasil (parcial) – Fonte: Adaptação do
Panorama dos Resíduos Sólidos do Brasil – ABRELPE (2007)
A pesquisa do IBGE aponta para uma série de aspectos importantes no
contexto da qualidade ambiental que confirma o entendimento anteriormente
abordado da relação direta entre o aumento populacional, crescimento da
economia e geração de resíduos. Tendo em vista não só o atual cenário dos
resíduos sólidos em geral (urbanos e industriais), e a conscientização crescente da
sociedade quanto a preservação ambiental e sustentabilidade, os órgãos
internacionais e brasileiros de controle ambiental têm sido cada vez mais
conservativos, com relação ao controle sobre a geração de resíduos e lançamento
de poluentes ao meio ambiente. Paralelamente, a legislação ambiental tem
estimulado as indústrias a desenvolverem tecnologias eficazes para o tratamento
de seus resíduos.
No que se refere ao destino dos resíduos tóxicos ou perigosos, a pesquisa do
IBGE anteriormente referenciada, mostra que o papel desempenhado pelos
vazadouros a céu aberto como destinação final, efetivamente se traduz em
necessidade de conscientização, punição cabível e melhoria. Os dados
evidenciam, portanto, a necessidade de adequação nacional da gestão de resíduos
e de maior aparelhamento dos órgãos federais, estaduais e municipais de meio
ambiente para tratamento efetivo da questão.
53
No ano 2009, período de abrangência da NT 07/11, o total de resíduos
sólidos gerados pelas atividades de E&P de O&G offshore, foi de 44.437
toneladas. Neste quantitativo não foram considerados os dados referentes aos
fluidos12 não aquosos, fluidos aquosos contaminados e cascalhos12 contaminados
desembarcados em terra que também demonstram a pressão exercida pela
indústria offshore na infraestrutura e logística de resíduos.
Tabela 5 - Esquema de processo que envolvem geração de resíduos sólidos em atividades de
perfuração marítima. Fonte: IBAMA NT 07/11.
Atividade de Perfuração Elementos associados a geração de resíduos
Fluidos de perfuração – base aquosa (descarte no mar);
Cascalhos (descarte no mar); Fluidos de base não aquosa; Cascalho contaminado; Hotelaria / acomodações e escritórios; Lubrificantes / produto de motores e
equipamentos; Soldagens / reparos mecânicos; Produtos Químicos / Resíduos contaminados de
óleo.
_____________________ 12 De acordo com o dicionário do petróleo em língua portuguesa: cascalho de poço é “fragmento
da formação cortado pela broca, retirado do poço pela circulação do fluido de perfuração e
separado deste por meio de peneiras vibratórias localizadas na sonda”. Fluido de perfuração é uma
“mistura complexa de líquidos, sólidos e, em alguns casos, gases, que podem assumir aspectos de
suspensão, dispersão coloidal ou emulsão, a depender da composição química e do estado físico de
seus componentes. Sua função principal é transportar os sólidos gerados durante a perfuração de
um poço até a superfície e promover a separação dos mesmos nos equipamentos de extração de
sólidos. Entre suas outras funções destacam-se: manter sólidos em suspensão, exercer pressão
hidroestática suficiente contra as zonas permeáveis para evitar influxo de fluidos da formação para
o poço, manter a estabilidade de poço, inibir reatividade de formações argilosas, refriar e lubrificar
broca, reduzir atrito entre a coluna e as paredes do poço e propiciar a coleta de informações do
poço através de cascalhos, testemunhos e perfis”. O processo de perfuração de poços de petróleo
envolve a utilização de fluidos de perfuração, cujas funções principais são conter as pressões de
subsuperfície e trazer o cascalho até a superfície. Podem ser constituídos de base aquosa ou não
aquosa. Os fluidos de base aquosa, caso atendam determinadas condições, podem ser descartados
no mar. Os fluidos de base não aquosa ou contaminados são trazidos para a terra para serem
tratados ou dispostos adequadamente.
54
Os principais resíduos gerados nas atividades de exploração offshore são:
lixo comum não reciclável, plástico, papel, vidro, madeira, pilhas e bateria,
tambores metálicos, metal, lâmpadas fluorescente, óleo de cozinha, bombonas
plásticas, cimento, salmoura, óleo lubrificante e hidráulico usados, água oleosa,
efluente industrial, resíduos de serviço de saúde, fluidos de perfuração e cascalho
e resíduos contaminados em geral.
A tabela 6 enumera os resíduos gerados pela atividade que são classificados
como perigosos e suas origens:
Tabela 6 - Resíduos perigosos e suas principais origens. Fonte: Lucas Troia Machado Silva. O
Gerenciamento de Resíduos na Indústria do Petróleo, 2011. 86p. Monografia (Projeto de
Graduação) - Faculdade de Engenharia Ambiental, Pontifícia Universidade Católica.
RESÍDUOS ORIGEM
Fluido de Perfuração Oriundo do processo de recuperação de fluido; de lavagens de tanques de fluidos das embarcações e das unidades de perfuração
Resíduos químicos
Produtos químicos utilizados durante a operação, como por exemplo, clorofórmio, ácidos, tolueno e etc.
Lâmpadas fluorescentes
Manutenção em geral das unidades marítimas e das embarcações
Pilhas e baterias
Manutenção em geral de alguns equipamentos das unidades marítimas e das embarcações de apoio.
Água oleosa
Água contaminada com pequenas frações de óleo proveniente da drenagem de áreas contaminadas, do tanque SLOP, etc.
Salmoura contaminada
Água com sal oriunda do poço no processo de perfuração contaminada com outros produtos químicos.
Tambores metálicos
Tambores usados na operação contaminados com óleo ou produtos químicos.
Resíduos de serviço de saúde Resíduos provenientes das unidades de saúde Bombonas plásticas
Bombonas usadas na operação contaminadas com óleo ou produtos químicos.
Efluente industrial
É uma mistura de fluido aquoso, fluido não aquoso e salmoura, sendo sua geração oriunda de limpeza esporádica de tanques das empresas de fluido.
Resíduos contaminados
Resíduos contaminados com óleo ou produtos químicos, como trapos sujos, papelão contaminado, dentre outros.
Óleo lubrificante e hidráulico
Usado no maquinário das unidades das operações.
Esta gama de resíduos, representam consumo improdutivo de recursos
naturais, incompatível com o conceito da sustentabilidade. O aproveitamento dos
resíduos gerados pode trazer benefícios interessantes, tanto do ponto de vista
ambiental como também: redução da criação e utilização de aterros; redução de
gastos com acondicionamento e transporte; redução da utilização dos recursos
naturais e diminuição dos riscos proporcionados por esses resíduos.
55
Os resíduos devem ser destinados/tratados dependendo de sua composição.
Alguns dependendo de parâmetros estipulados por acordos internacionais e
legislação nacional e regional podem ser tratados para descarte ao mar, destinados
para aterros sanitários, co-processados em fornos de cimento, incinerados,
reciclados/reutilizados/recuperados.
A escolha dos métodos de tratamento e disposição final deve ser realizada
após análise de alguns critérios que abragem aspectos técnicos e legais e
econômicos, elencados a seguir:
1)Tipo de resíduo;
2)Classificação do resíduo;
3)Quantidade do resíduo;
4)Avaliação da disponibilidade, dos métodos e técnicas ambientalmente
viáveis de tratamento ou disposição e de seus resultados a longo prazo;
5)Custo dos métodos disponíveis.
A NT 07/11 apresenta também os resultados relativos às formas de
destinação final dos resíduos gerados pela atividade de E&P de O&G nos campos
marítimos no ano de 2009. As formas de destinação consideradas são aquelas
previstas na NT 01/11, estabelecidas em função da prática verificada no processo
de licenciamento ambiental das atividades, assim como da experiência das
próprias empresas nacional e internacionalmente. O conceito de destinação final
amplamente adotado pela indústria e na NT 07/11 é abrangente, pois inclui tanto
formas de disposição final (como aterros ou coprocessamento), quanto outras
etapas que podem ser consideradas intermediárias (como estação de tratamento e
rerrefino). Na NT 07/11 é possível observar que os percentuais de cada tipo de
destinação por categoria de resíduo sólido são um indicativo de que maioria dos
resíduos tem uma disposição característica.
Figura
07/11
2
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aspec
ativid
0
10
20
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40
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Tambor/Bombonacontaminado
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Fabricante
57
Esta abordagem reconhece características comuns entre muitas questões
relacionadas a sustentabilidade no processo do gerenciamento dos negócios,
facilitando o entendimento dos riscos e dos desafios que deverão ser endereçados
através de normas e práticas específicas de cada empresa. A figura 13 ilustra uma
típica disposição de tópicos de sustentabilidade que devem ser endereçados pelos
sistemas de gerenciamento das empresas de petróleo com ênfase no tema desta
dissertação, a questão do gerenciamento de resíduo e a aplicação do conceito do
ciclo de vida.
Figura 13 - Características comuns entre questões sustentáveis e suas integrações estratégicas aos
processos de gerenciamento negocial. Fonte: Adaptação do IPIECA “oil and gas industry
guidance on voluntary sustainability reporting”
58
Figura 14 - Modelo de Gestão Básico para aplicação de CCV.
2.4.1.RESÍDUOS X GERENCIAMENTO
A palavra gerenciamento para o manuseio dos resíduos gerados em
atividades de perfuração marítima, abrange definições de projetos, seleção de
tecnologia das instalações, coleta, armazenamento, transporte, tratamento e
disposição final.
Segundo Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro, FIRJAN
(2006), o desenvolvimento e implantação um Plano de Gerenciamento de
Resíduos (PGR) é fundamental para qualquer empresa maximizar as
oportunidades e reduzir custos e riscos associados à gestão dos mesmos. Os
mesmos preceitos da implantação de qualquer sistema de gestão devem ser
aplicados no caso de um PGR.
O PGR deve assegurar que todos os resíduos serão gerenciados de forma
apropriada e segura, desde a geração até a destinação final. Isso significa adotar os
passos apresentados pela figura 15.
59
Figura 15 - Plano de Gerenciamento de Resíduos. Fonte: Manual de Gerenciamento de Resíduos –
FIRJAN
O gerenciamento de resíduos é um componente integral da exploração de
O&G, tendo como maior benefício a proteção da saúde humana e do meio
ambiente. O gerenciamento adequado dos resíduos traz também benefícios dentre
os quais: redução de gastos operacionais e de CAPEX13, redução de
responsabilidade legal, financeira e de risco de dano à imagem da empresa.
O gerenciamento de resíduos basicamente deve endereçar características
ambientais da atividade, o aspecto regulatório local, os desafios de logística e a
comunidade e pessoal envolvidos. O tratamento de resíduos é um dos pilares de
atuação do desenvolvimento sustentável. A diversidade de composição dos
resíduos e de seu comportamento ambiental, tornam sua gestão uma operação
complexa, exigindo uma diversidade cada vez maior, de soluções e de
tecnologias.
_____________________ 13 CAPEX é a sigla da expressão inglesa capital expenditure (em português, despesas de capital ou
investimento em bens de capital) e que designa o montante despendido na aquisição (ou
introdução de melhorias) de bens de capital de uma determinada empresa. Fonte: Wikipedia
60
2.4.2.HIERARQUIA DE RESÍDUOS
A hierarquia dos resíduos é um conceito amplamente adotado na gestão de
resíduos, que consiste na identificação das estratégias básicas para o
gerenciamento de resíduos seguindo uma ordem de prioridade.
O modelo de hierarquia de resíduo (“waste hierarchy”), ilustrado através da
figura 16, deve ser considerado para a implementação de qualquer PGR (IPIECA,
2004).
Este conceito apesar de ter sido inicialmente apresentado, para situações de
derramamento de óleo, utiliza princípios de redução de resíduo, reutilização e
reciclagem para diminuição do total de resíduo produzido, com consequente
redução de custos e garantia de atendimentos às legislações locais. É uma
ferramenta simples para estruturação de estratégia de gerenciamento de resíduos,
que pode ser utilizada como modelos para todos os tipos de atividades.
Figura 16 - Hierarquia dos Resíduos. Fonte: Adaptação de “Guidelines for oil spill waste
minimization and management”- IPIECA.
Os princípios básicos do gerenciamento de resíduos já publicados pela OGP
(2008) e anteriormente referenciados para a questão de indicadores ambietais,
61
também ressaltam a importância do conceito de hierarquia de resíduos nas práticas
de gerenciamento, que garantam técnicas e estratégicas para lidar com o resíduo
gerado nas operações offshore de O&G.
Esta hierarquia é frequentemente citada na literatura em termos de redução,
reutilização, reciclagem, tratamento e disposição final. Seguindo a ilustração da
pirâmide podemos aplicar tal conceito ao gerenciamento de resíduos das
atividades de exploração de O&G marítima, considerando a sequência da
hierarquia: a redução do consumo dos recursos naturais (através de
modificações em equipamentos, processos e até mesmo procedimentos),
substituição de recusos naturais, melhorias no housekeeping, na manutenção e
na conscientização da força de trabalho, treinamento e controle de inventário;
redução na toxicidade (substituição de substâncias por outras mais
ecologicamente corretas - ex. uso de tinta à base de água, plásticos biodegradáveis
etc); reutilização de produtos quando aplicável; utilização de materiais que
possam ser reutilizados por mais tempo e remodelagem de equipamentos (como
válvulas); reciclagem através da conversão de resíduos em matérias que possam
ser reutilizadas, evitando consumo de recursos naturais e consumo de energia;
tratamento para destruição, desentoxicação ou neutralização dos resíduos por
processo tais como térmico, biológico, químico e etc e finalmente a opção de
disposição final através de aterros ou descarte em mar ou terra, sendo obviamente
é a última opção na hierarquia de resíduo.
Figura 17 - Hierarquia dos Resíduos. Fonte: Adaptação “Guidelines for waste management with
special focus on areas with limited infrastructure”- OGP.
62
Alguns autores citam que não existe resíduo na natureza, mas que ao mesmo
tempo ele é inerente à produção de O&G necessário para o desenvolvimento da
humanidade. O gerenciamento dos resíduos deve estar presente em todas as fases
do projeto, uma vez que o mesmo não deixará de existir. O ideal é que no futuro
não se tenha o gerenciamento de resíduo baseado na reciclagem ou redução, e sim
tendo o resíduo como sinônimo de geração de recursos, fechando literalmente o
ciclo de vidade forma integrada.
2.5.CICLO DE VIDA
2.5.1.INTRODUÇÃO AO CONCEITO DO CICLO DE VIDA:
O aumento da demanda de produtos e serviços gera um crescimento
econômico que auxilia a erradicação da pobreza e melhora a qualidade de vida das
pessoas e ao mesmo tempo, implica no aumento de consumo de recursos naturais
e traz impactos indesejáveis ao meio ambiente.
A Rio-92 foi um marco para o entendimento global sobre sustentabilidade
versus consumo e produção. A Agenda 2114 já prescrevia que o sucesso no
gerenciamento dos recursos naturais, face ao desenvolvimento social e
econômico, dependeria fundamentalmente de mudanças nos padrões de consumo
e de produção ao redor do mundo, o dilema da atualidade.
Seguindo a Rio 92, tivemos em ordem cronológica eventos que marcaram o
início do reconhecimento da abordagem do ciclo de vida como crucial na
trajetória rumo ao consumo e à produção sustentável. Em 2000, o 1st Global
Ministerial Environmental Forum, evento onde mais de 100 Ministros de Meio
Ambiente declararam que almejavam que a sociedade reconhecesse a produção,
uso e diposição de um produto como um ciclo compreeensível, que considerasse
todo o processo requerido nesta produção: extração e processamento; manufatura;
transporte e distribuição; uso, reuso e manutenção; reciclagem e disposição final.
_____________________ 14 A Agenda 21 é um amplo programa de ação, com o objetivo de dar efeito prático aos princípios
aprovados durante o Rio 92, norteadores do novo paradigma de desenvolvimento sustentável
através de um roteiro detalhado de ações concretas a serem executadas pelos governos, agências
das Nações Unidas, agências de desenvolvimento e setores independentes (como o setor produtivo
e as organizações não governamentais), rumo ao desenvolvimento sustentável.
63
Em 2002, no World Summit on Sustainable Development (WSSD) em
Johannesburg, onde os líderes mundiais reconheceram que deveriam existir
políticas de produção e consumo que melhorassem os produtos e serviços, para
redução dos impactos nas saúde humana e no meio ambiente através de
abordagem científicas apropriadas dentre as quais a análise do ciclo de vida.
A UNEP juntamente com a SETAC lançou em 2002 a “Iniciativa do Ciclo
de Vida” (Life Cycle Initiative), reforçando e disseminando que uma abordagem
integrada do ciclo de vida seria a ferramenta para o enlace deste dilema entre
produção e consumo. Esta iniciativa desde então, tem resultado em diversas
publicações sobre o tema que demonstram que cada fase de um produto ou
atividade tem interação com o meio ambiente (uso de recurso naturais), com a
economia (custo de produção ou da atividade) e com a sociedade (pessoal
envolvido ou impactado por tal atividade ou produção do produto), as três
dimensões da sustentabilidade.
A relevância da aplicação deste conceito em prol da sustentabilidade na
indústria offshore está no dinamismo dos domínios ambiental, econômico, social e
suas relações. A abordagem do ciclo de vida nestes domínios, feitos através de
ferramentas, programas ou procedimentos, auxiliam na otimização do processo de
tomada de decisões em uma velocidade adequada.
A UNEP (2005), define em suas publicações que a abordagem do ciclo de
vida pode ser classificada como analítica ou prática. A analítica é feita através de
ferramentas analíticas tais como a análise sugerida pelo WSSD em 2002, o Custo
do Ciclo de Vida - LCC (life cycle costing), Avaliação do Ciclo de Vida - LCA
(life cycle assessment) e checklists. A abordagem prática é a tradução da teoria e
de resultados da abordagem analítica em prática, que basicamente consistem em
programas governamentais e corporativos e suas respectivas ferramentas.
Durante o desenvolvimento da dissertação, observou-se que ambas as
abordagens já começaram a ser vistas na indústria do petróleo no Brasil, mas
ainda de forma aleatória e sem muita efetividade. A já mencionada idéia de que o
conceito do ciclo de vida seria o o diferencial na gestão de resíduos, já aparecia
em uma das grandes referências na temática da sustentabilidade do planeta, a
Agenda 21 Global. Em seu item 20.6. (Capítulo 20 - Manejo Ambientalmente
Saudável dos Resíduos Perigosos, incluindo a Prevenção do Tráfico Internacional
Ilícito de Resíduos Perigosos) é descrita a importância do ciclo de vida em prol do
64
desenvolvimento sustentável, como desafio para o mundo corporativo e para a
sociedade, conforme o exposto em seu objetivo geral “No quadro de um manejo
integrado do ciclo de vida, o objetivo geral é impedir, tanto quanto possível, e
reduzir ao mínimo a produção de resíduos perigosos e submeter esses resíduos a
um manejo que impeça que provoquem danos ao meio ambiente”. No entanto
apesar do conceito estar descrito na agenda 21 global, a transformação desta teoria
em ferramentas do dia a dia na indústria de forma ordenada, pode ser considerada
recente. Muitas publicações científicas já agregam o conceito de sustentabilidade
ao conceito do ciclo de vida, mas ainda não temos estes conceitos difundidos nas
atividades de exploração de O&G.
Segundo UNEP/SETAC (2007), a jornada em prol da sustentabilidade
requer uma expansão das fronteiras negociais tradicionais das empresas, que estão
pautadas nas dimensões econômicas, sociais e ambientais, através da introdução
do conceito de ciclo de vida nos negócios. A figura 18, adaptação de original
desenvolvida pela UNEP para ilustrar uma visão global das abordagens do ciclo
de vida, demonstra a aplicabilidade e a importância do tema abordado nesta
dissertação e sugere estudos e ações futuras que possam melhorar a efetividade de
ações para tornar a abordagem analítica mais orientadas para a prática e a
abordagem prática mais baseada em resultados científicos.
65
Figura 18 -Abordagem prática e analítica do ciclo de vida, direcionada por conceitos e suportada
por informações. Adaptação do “Life Cycle Approaches - The road from analysis to practice” –
UNEP.
2.5.2.CICLO DE VIDA NA INDÚSTRIA DO PETRÓLEO
Nas últimas décadas as empresas têm operado com mais responsabilidade
ambiental e demonstrado que iniciativas e melhorias podem trazer benefício
econômico. Como retrospectiva, podemos resumir que nos anos 80 as medidas de
prevenção de poluição começaram a ser entendidas pelas empresas como algo que
valia a pena, através da implantação de processos com foco na redução do uso dos
recursos naturais, das emissões e dos resíduos, gerando lucros significativos para
as empresas.
Assim como nas questões ambientais, os acidentes de grande repercussão
mundial na indústria de petróleo, mostraram para as empresas que seria essencial
a implementação de sistemas de gestão para garantia de operações seguras. As
empresas então observaram que segurança não é a única temática essencial para a
66
indústria e expandiu seus sistemas de gestão para uma integração como todos os
outros sistemas de gerenciamento, incluindo o ambiental.
Nos anos 90 sugiu a série ISO 14:000. A integração dos sistema ambiental,
de gerenciamento da qualidade e do ambiente de trabalho, criaram novas
oportunidades para as empresas, dentre eles menor consumo de recursos naturais,
impacto positivo na imagem da empresa, melhoria na relação com comunidade,
ONGs e governo, inovações tecnológicas e melhor atendimento às legislações
nacionais e internacionais.
Segundo a EPA (2011), atualmente mesmo com todo o avanço tecnológico
e suas ferramentas para eficiência de gestão tais quais auditorias, análise de riscos
e planos de resposta à emergências, todas as atividades relacionadas à extração do
recurso natural trazem impactos indesejáveis à saude humana ou ao meio
ambiente e consequentemente à sociedade como um todo, pondo em risco a
sustentabilidade do planeta. No entanto a importância da atividade petrolífera no
mercado garante a sua existência e delimita seu consumo e produção. O
crescimento atual da população mundial, e consequentemente o maior consumo de
energia continuarão a incentivar o investimento nas atividades de exploração de
O&G, gerando cada vez mais resíduos e portanto exigindo das empresas
petrolíferas soluções complexas para conformidade com questões e aspectos
sociais, políticos, econômicos, ambientais, estabelecidos como parte integral do
gerenciamentos dos resíduos destas empresas.
Um gerenciamento de resíduos eficiente reduz e mitiga seus impactos
indesejáveis ao meio ambiente, através de consumo eficiente de recursos naturais,
logística bem planejada e sistemas que permitam opções de tratamento que
considerem local de operação, consumo de energia, questões econômicas e sócio
políticas, isto é, através de ferramentas de abordagem analítica e prática do
conceito do ciclo de vida.
Muitas práticas industriais adotadas no passado são questionáveis nos dias
de hoje e por isso o entendimento do conceito do ciclo de vida em todo o fluxo do
resíduo (geração, identificação, segregação, inventário, armazenamento,
transporte, tratamento e disposição) é essencial para que através de uma sequência
lógica a empresa tenha um gerenciamento pró ativo, efetivo e responsável deste
assunto, que facilite as agências reguladoras, os órgão normativos locais,
67
empresas e sociedade em geral a assegurem que as atividades de exploração estão
alinhadas com o conceito de desenvolvimento sustentável.
O indicadores de sustentabilidade em uso estão a cada dia mais consistentes
e já trouxeram inegáveis melhorias à indústria de petróleo. No entanto, por serem
setoriais não fornecem uma visão mais ampla dos pontos que ainda podem sofrer
intervenção para melhoria em prol da sustentabilidade. Estas lacunas são
preenchidas pelo CCV, que pode ser entendido como a consciência de que um
bom desempenho ambiental de uma unidade isolada da cadeia produtiva da
indústria da construção não é suficiente para o desenvolvimento sustentável. Esta
condição será atingida apenas se a totalidade dos elos dessa cadeia apresentar
desempenho ambiental adequado.
Por isso, neste contexto proposto, toda fase do ciclo de vida de uma
atividade, produto ou serviço, deve estar fortemente coordenada com a outra fase,
de maneira que as partes envolvidas na concepção, uso e disposição de um
produto sejam trazidas juntas num processo consistente com um fluxo de
informação.
O ciclo de vida do resíduo gerado nas operações offshore pode ser resumido
em quatro fases:
Projeto – os requerimentos relacionados ao gerenciamento de resíduos são
muito mais fáceis de serem identificados nas fases iniciais do projeto (tempo de
operação, número de poços a serem perfurados, número de pessoas envolvidas na
atividade, licenciamento), onde ainda não existem pressão operacional e de custos
extras envolvidos.
Mobilização – Fase de construção ou preparação para as atividades com
seleção das instalações/equipamentos de apoio (navio sonda, embarcações de
apoio, base operacional), determinação de tipos de resíduos a serem gerados e seu
respectivo volume, a distância que o mesmo vai percorrer desde sua origem até
seu tratamento ou disposição final e os planos operacionais que garantirão o
alinhamento com o conceito da pirâmide de hierarquia do resíduo.
Operação – Durante as operações, o gerenciamento dos resíduos pode ser
dividido em duas partes: (i) a logística para coleta, armazenamento, transporte,
tratamento e disposição final e (ii) revisão periódica dos planos de gerenciamento
e sua implementação para garantia de melhoria contínua e atendimento à
legislação local.
68
Abandono – Esta fase pode representar um projeto inteiro dependendo da
complexidade de instalações associadas à operação, da quantidade de resíduo
gerado, possíveis impactos ambientais e necessidade de remediações ou
desinvestimento.
O fato do processo ser bastante complexo, envolvendo profissionais de
diversas localidades e organizações e com equipe e em fases distintas, faz com
que no processo do gerenciamento de resíduos seja comum a postergação do
problemas identificados, para as fases subsequentes ou até mesmo para gerações
futuras no caso de uma disposição final inadequada.
O anexo 3, ilustra detalhes destas quatro fases onde fica claro que muitas
das atividades são desempenhadas por equipes de profissionais que normalmente
não tem nenhum tipo de interação entre suas atividades de rotina.
Figura 19 - A nova dimensão de percepção após introdução do conceito de ciclo de vida.
A aplicação do CCV permite análise quantitativa como previsto por
qualquer sistema de gestão, mas também permite análise qualitativa quanto ao
impacto que cada etapa tem na sustentabilidade da operação, o que facilita o
entendimento destes dados por todos os envolvidos, mesmo que de outras áreas,
que muitas vezes demonstram resistência às atividades desempenhadas pelos
profissionais da área ambiental.
69
O sucesso da aplicação do conceito do ciclo de vida às atividades em
questão é comprovado pelo fato das duas maiores empresas do setor de O&G do
mundo15, ExxonMobil e Petrobras respectivamente, terem o conceito como parte
de suas publicações quanto a sustentabilidade de suas operações.
A Petrobras, tem em sua Política de Segurança, Meio Ambiente e Saúde –
SMS, descrita no relatório de sustentabilidade de 2010, o objetivo de “Assegurar a
sustentabilidade de projetos, empreendimentos e produtos ao longo do seu ciclo
de vida, considerando os impactos e benefícios nas dimensões econômica,
ambiental e social”.
Figura 20 - O envolvimento multidisciplinar no processo de gerenciamento de resíduos e suas
diversas fases. Fonte: Adaptação de esquema ilustrado no “Life Cycle Management - A bridge to
sustainable products”- UNEP
_____________________ 15 De acordo com o Relatório de Sustentabilidade 2010 publicado pela empresa Petrobras (página
38), em 24 de setembro de 2010, a empresa passou a ocupar o segundo lugar entre as empresas do
setor de óleo e gás no mundo, atrás apenas da empresa ExxonMobil.
70
A ExxonMobil, também descreve no seu Relatório de Cidadania
Corporativa de 2009 que “O CCV contribui para o gerenciamento de toda gama
de potenciais impactos sociais e ambientais associados às nossas operações e
produtos. Adotamos uma abordagem holística para compreensão de nossa
impactos desde as atividades inicias de exploração até seu eventual
encerramento”.
2.5.3.CICLO DE VIDA - ABORDAGEM PRÁTICA E ANALÍTICAS NAS EMPRESAS
Para melhor entendimento das duas abordagens de ciclo de vida no contexto
de resíduos, podemos fazer um paralelo entre hierarquia e gerenciamento de
resíduos. Ambos são focados na redução de resíduos, sendo que a hierarquia
representa uma sequência de prioridades para opções de gerenciamento, desde a
ideal até a menos desejada. Isto é, a hierarquia é um conceito simples que pode ser
facilmente implementado e que não requer nenhuma análise analítica. Já o
gerenciamento de resíduos envolve: avaliação de ativos e opções de tratamento
local e regional ecologicamente e economicamente viáveis para se atingir os
objetivos, requerendo um considerável número de análises quantitativas. Assim,
representariam exemplos de abordagem prática e analítica do ciclo de vida
respectivamente. A abordagem analítica é geralmente desenvolvida pela
comunidade científica e de complexo entendimento. A prática geralmente consiste
em programas desenvolvidos por empresas ou pelo governo mas que
eventualmente podem ter seus resultados subestimados for falta de suporte
científico.
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Por ser intuitiva seria mais facilmente adotada pelas empresas e pelos diversos
setores envolvidos no processo, sendo por isso mais facilmente disseminada para
uso em tomadas de decisões diárias, que em muito impactam no resultando final
do processo. Ainda referenciando o paralelo entre a hierarquia e o gerenciamento
de resíduos, sugere-se para incremento do uso do conceito do ciclo de vida em
gestão de resíduos nas atividades de exploração marítima, uma estrutura de fácil
assimilação por todos os setores envolvidos, que inicialmente não necessite
nenhuma ferramenta de abordagem analítica e que ao mesmo tempo tenha
referência com ferramentas já conhecidas e utilizadas por estes profissionais. Esta
estrutura está ilustrada na figura 22, como uma adaptação da figura desenvolvida
pela UNEP/SETAP (2005), que representaa correlação entre o tripé da
sustentabilidade e os tópicos abordados nos capítulos anteriores. A
sustentabilidade é o objetivo maior da alta gerência das empresas que alicerçam o
conceito do ciclo de vida para definição de estratégias negociais que serão
atingidos através dos sistemas de gestão com foco em responsabilidade social,
prevenção da poluição e lucros. Esta estrutura facilita a integração entre as três
dimensões da sustentabilidade e as ferramentas de execução, que a empresa utiliza
para a aplicação do conceito do CCV ao PCP das atividades de exploração
marítima, alinhadas às políticas e sistemas de gestão já existentes.
Figura 22 - Gerenciamento dos Resíduos x Ciclo de Vida – Dinamismo e interfaces com todos os
níveis da empresa. Fonte: Adaptação de figura da UNEP/SETAP.
73
Assim, a aplicação do CCV ganha o suporte da alta gerência como parte da
estratégia negocial. Este comprometimento da alta gerência define o ritmo da
mudança de paradigma do comportamento e entendimento da equipe quanto a
estes conceitos e a sua correlação com suas atividades diárias, para alinhamento
das diversas etapas das atividades, ,isto é, das fases do ciclo de vida do resíduo. A
utilização destes conceitos nas tarefas de rotina permite a identificação de
oportunidades mais concretas de redução de impactos ambientais no processo.
O CCV oferece uma estrutura que permite que a gerência se organize para o
alinhamento de vários conceitos e ferramentas, através de sinergias que garantam
a redução dos impactos nas três dimensões descritas anteriormente. O CCV é o
motor que impulsiona a coincientização de sustentabilidade desde os níveis mais
altos da empresa incluindo todos os envolvidos na atividade, auxiliando
diariamente a tomada de decisões em todas as fases da atividade em questão. Isto
é, as informações reunidas no âmbito da área conceitual do CCV permitem avaliar
os efeitos ambientais oriundos da cadeia produtiva e das ações operacionais
executadas, enquanto quantificam as repercussões em toda a cadeia do resíduos,
desde a sua geração até o seu tratamento ou disposição final.
Figura 23 – Fatores norteadores da estrutura de gerenciamento do ciclo de vida. Fonte:
HERMANN, Ing. Christoph. Material de aula da disciplina “Maintenance and life cycle
management in infrastructure planning”.
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2.6.CONCLUSÕES DO CAPÍTULO
O CCV pode ser entendido como a consciência de que um bom desempenho
ambiental de uma unidade isolada da cadeia produtiva da indústria petrolífera, não
é suficiente para garantir que a mesma seja sustentável. Essa condição será
atingida apenas se a totalidade dos elos dessa cadeia apresentar desempenho
ambiental adequado.
A utilização do CCV estimula o desenvolvimento sustentável com foco na
preservação das gerações futuras, além do foco tradicional em produção e
processos para inclusão das dimensões econômicas, sociais e ambientais nos
negócios, de forma real e ao longo de todo o ciclo de vida da atividade. O CCV
expande o conceito genérico de sustentabilidade do setor, já que a cada estágio da
atividade é possível identificar oportunidades de redução de consumo de recursos
e melhoria de desempenho, como uma reação em cadeia que abrange todos os
setores e profissionais envolvidos na atividade de perfuração e o seu fluxo de
resíduos, efluentes e emissões. A aplicação do CCV permitiu que ao longo da
dissertação fosse feita uma análise criteriosa de cada fase do fluxo de resíduos,
como também análise de uma visão macro da atividade em questão.
A simplificação de todo o processo fornecido pela visão holísitica, torna
mais simples o entendimento de como cada etapa pode influenciar no processo
dentro e fora da empresa, incluindo as empresas contratadas e envolvidas na
atividade (nas bases de operações contratadas para gerenciar armazenamento
temporário e transporte dos resíduos em terra, que por sua vez, precisam
coordenar a logística ainda com outras empresas, para que alguns resíduos tenham
seu transporte/disposição final economicamente viáveis devido a distância entre o
recebimento do resíduos e as empresas especializadas no tratamento e disposição
final dos mesmos).