7/25/2019 20120000511513
1/5
TRIBUNAL DE JUSTIAPODER JUDICIRIO
So Paulo
Registro: 2012.0000511513
ACRDO
Vistos, relatados e discutidos estes autos do Apelao n 0110669-
73.2007.8.26.0100, da Comarca de So Paulo, em que apelante/apelado OSWALDO
BIGHETTI NETO, apelado/apelante NILO CARIM SULEIMAN (JUSTIA GRATUITA).
ACORDAM, em 4 Cmara de Direito Privado do Tribunal de Justia de So
Paulo, proferir a seguinte deciso: "por votao unnime, negaram provimento aos recursos", de
conformidade com o voto do Relator, que integra este acrdo.
O julgamento teve a participao dos Exmos. Desembargadores NATAN
ZELINSCHI DE ARRUDA (Presidente) e TEIXEIRA LEITE.
So Paulo, 27 de setembro de 2012.
Maia da Cunha
RELATOR
Assinatura Eletrnica
7/25/2019 20120000511513
2/5
P O D E R J U D I C I R I O
TRIBUNAL DE JUSTIA DO ESTADO DE SO PAULO
4 Cmara de Direito Privado
2
Apelao n 0110669-73.2007.8.26.0100 - So Paulo - Voto n 26.578 - N/FAMCVincenzo Bruno Formica Filho
APELAO : 0110669-73.2007.8.26.0100APELANTE/APELADO: Oswaldo Bighetti NetoAPELANTE/APELADO: Nilo Carim Suleiman
COMARCA : So PauloJUIZ : Vincenzo Bruno Formica FilhoVOTO N : 26.578
Cobrana de honorrios advocatcios aps adissoluo da sociedade de advogados. Ausncia deacordo escrito quanto aos valores recebidos depoisda separao, presumindo-se, por se tratar deadvogados, que cada qual receberia dos clientesque ficaram na diviso havida entre os scios.Indcios que no se compatibilizam com aobrigatoriedade de acordo expresso, do que nocogitaram ao dividir os clientes. Dano moral porcomunicao de crime polcia que somente se dquando h ilicitude decorrente de dolo ou abuso dedireito. Aes de cobrana e de indenizao pordanos morais julgadas improcedentes. Correo.Recursos improvidos.
A r. sentena julgou simultaneamente trs aes,
duas de cobrana movidas por Nilo Carim Suleiman contra Oswaldo Bighetti
Neto, por honorrios no pagos aps a dissoluo da sociedade de advogados
que participavam, e uma terceira de indenizao por danos morais movida por
Oswaldo Bighetti Neto contra Nilo Carim Suleiman, por comunicao do crime deapropriao indbita autoridade policial. E julgou as trs improcedentes (fls.
589/595).
Apela Oswaldo Bighetti Neto, autor da indenizatria,
insistindo na condenao de Nilo Carim Suleiman ao fundamento de que a notcia
de crime de apropriao indbita, especialmente a quem advogado,
compromete a confiana que os clientes precisam ter e ocasiona inegvel dano
moral. Assenta que o inqurito policial foi arquivado e que a acusao foi
maliciosa por quem, sendo advogado, tinha condio de entender a sua natureza
delituosa (fls. 605/608).
Apela Nilo Carim Suleiman, autor das duas aes de
7/25/2019 20120000511513
3/5
P O D E R J U D I C I R I O
TRIBUNAL DE JUSTIA DO ESTADO DE SO PAULO
4 Cmara de Direito Privado
3
Apelao n 0110669-73.2007.8.26.0100 - So Paulo - Voto n 26.578 - N/FAMCVincenzo Bruno Formica Filho
cobrana de honorrios advocatcios contra Oswaldo Bighetti Neto, visando a
procedncia das aes porque quando separaram o escritrio ficou combinado
que repartiriam as verbas honorrias que fossem recebidas de aes ento emandamento, circunstncia que, nos dois processos, esto demonstrados por prova
documental existente no processo (fls. 612/625).
Este o relatrio.
O digno Magistrado sentenciante julgou
improcedentes as trs aes, duas de cobrana de Nilo contra Oswaldo e uma de
indenizao por danos morais de Oswaldo contra Nilo, primordialmente pela falta
de prova da existncia de pacto escrito que justificasse a cobrana dos
honorrios advocatcios posteriormente dissoluo da sociedade, e igualmenteo fez na indenizatria por considerar que a comunicao de crime autoridade
policial no constitui causa de dano moral.
E agiu acertadamente.
E por simples razes.
As cobranas de honorrios advocatcios aps a
dissoluo da sociedade no encontram ressonncia na prova da alegao de que
seriam repartidos aps a separao dos causdicos, e no se justifica que, entre
advogados, no se tenha formulado acordo escrito estipulando como e se seriam
os honorrios advocatcios a ser recebidos das aes que ainda se encontravam
em andamento ou sem pagamento.
A concluso da r. sentena dotada de lgica
jurdica ao presumir que, sendo advogados, no havendo acordo expresso e
existindo diviso de clientes, cada qual receberia os honorrios advocatcios
daqueles com os ficaram para a continuidade do patrocnio da causa. Presumir
diferentemente, ou concluir o contrrio baseado em indcios formados por
documentos frgeis, para o fim de estabelecer diviso de honorrios advocatcios
dos clientes que ficaram com o outro advogado, alm de injurdico, feriria por
completo as mximas da experincia comum que se ligam ao fato de que
advogados, acostumados s lides forenses e seus acordos obrigatoriamente
escritos, no fariam diferente em se tratando da prpria dissoluo da sociedade
da qual participavam.
As longas razes recursais do autor das cobranas,
discorrendo sobre os dois casos em que pretende a diviso dos honorrios
advocatcios, constituem prova bastante de que nada havia de acertado em
relao ao recebimento dos honorrios advocatcios, no se prestando a tanto,
bom que se afirme, as negociaes extrajudiciais de, sem reconhecimento da
7/25/2019 20120000511513
4/5
P O D E R J U D I C I R I O
TRIBUNAL DE JUSTIA DO ESTADO DE SO PAULO
4 Cmara de Direito Privado
4
Apelao n 0110669-73.2007.8.26.0100 - So Paulo - Voto n 26.578 - N/FAMCVincenzo Bruno Formica Filho
obrigao, aceitar a cliente algum pagamento. Igualmente indevido buscar os
honorrios advocatcios com base na contratao anterior, visto que obviamente
era feita em nome de ambos ou da sociedade que possuam. A admitir-se esteraciocnio, em tumulto inaceitvel para advogados, que cada um movesse ao
contra o outro para haver honorrios advocatcios recebidos dos clientes com os
quais ficaram aps a separao.
Correta, pois, a improcedncia das duas aes de
cobrana.
E idntico caminho se segue na indenizatria.
Nesta ao o autor das cobranas teria dado causa a
danos morais ao comunicar autoridade policial crime de apropriao indbitaque teria sido cometida pelo no pagamento de honorrios advocatcios que
entendia devessem ser partilhados.
A comunicao de crime autoridade policial s
constitui ilcito civil ensejador do dever de indenizar quando dotado de m-f
consistente em denegrir aquele que se noticia como autor do delito. Em outras
palavras, o exerccio regular de direito, como , em princpio, a comunicao de
crime em Boletim de Ocorrncia, s gera indenizao quando se verifica abuso na
conduta do autor da denncia.
Nessa linha se tem decidido reiteradamente neste
Egrgio Tribunal de Justia, valendo conferir, exemplificativamente, as ementas
abaixo:
DANOS MATERIAL E MORAL - Interposio de recurso
contra sentena que julgou improcedente ao de indenizao por no vislumbrar a
ocorrncia de danos e a situao configurar exerccio regular de direito, o qual foi
utilizado pelo ru ao ingressar com queixa-crime contra o aqui autor sob a alegao da
prtica de crime de calnia. Exerccio regular de direito que no autoriza a imposio de
reparao. Ratificao dos fundamentos do "decisum" - Aplicao do art. 252 doRITJSP/2009 - Recurso improvido. (Apelao 9215747-77.2005, 7 Cmara de
Direito Privado, Relator Des. lvaro Passos, j.04.05.2011).INDENIZAO POR DANOS MORAIS E MATERIAIS -Ao
julgada improcedente - Autores que buscam a condenao calcados na instaurao de
inqurito para apurao de fatos inverdicos descritos como crime - Inexistncia de prova
da inteno da r em prejudicar os autores Dano moral no caracterizado -
Comunicao de provvel delito que constituiu exerccio regular de direito -Sentena
mantida - Recurso improvido.(Apelao 0120265-27.2006, 6 Cmara de Direito
Privado, Relator Des. Percival Nogueira, j. 24.06.2010)
verdade que, em se tratando de advogado, cujo
7/25/2019 20120000511513
5/5
P O D E R J U D I C I R I O
TRIBUNAL DE JUSTIA DO ESTADO DE SO PAULO
4 Cmara de Direito Privado
5
Apelao n 0110669-73.2007.8.26.0100 - So Paulo - Voto n 26.578 - N/FAMCVincenzo Bruno Formica Filho
conhecimento jurdico possui em toda a sua extenso, a comunicao assume
maior gravidade. Mas verdade tambm que, no caso em apreciao, o que se
extrai a convico do autor da denncia do direito ao recebimento doshonorrios advocatcios, tanto que ingressou com as aes visando receb-los do
denunciado.
Corolrio da ausncia do dolo e do abuso de direito
a ausncia do ilcito que geraria o dever de indenizar.
E mais no necessrio ponderar para a integral
confirmao da r. sentena apelada, inclusive e especialmente pelos seus
prprios e acertados fundamentos.
Pelo exposto que se nega provimento aos
recursos.
MAIA DA CUNHA
RELATOR
Recommended