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Teto Remuneratório do Poder Judiciário - Resoluqão n. 1312006 do CNJ

Análise da situaqão do Tribunal de Justiqa do Rio Grande do Norte

6PD Relator: Conselheiro Joaquim Falcão

Trata-se de procedimento para averiguar se o Tribunal de Justiça do Rio Grande

do Norte está cumprindo o determinado pelo Conselho Nacional de Justiça, em sua

Resolução n.13, de março de 2006.

As informações prestadas pelo TJ-RN já foram objeto de análise preliminar pela

Secretaria deste Conselho. Em síntese, cerca de 30 magistrados - 13 da ativa e 17

aposentados - estão recebendo remuneração superior ao teto de R$22.111,25, sob a

forma de "verbas indenizatórias" (para os magistrados da ativa) e "parcelas de

irredutibilidade" (para os aposentados).

0 Segundo a Presidência do TJ-RN, a "verba indenizatória" corresponderia as

seguintes vantagens: Salário-Família, Anuênios, Gratificação de Presidente de Câmara,

de Presidente e Vice-presidente do Tribunal, Corregedor, Ouvidor, Diretor da Escola e

da Revista do Tribunal, integrante do Conselho da Magistratura. O valor dessa verba é

de R$3.850,00 para o Presidente do Tribunal, e de R$3.300 para outros 12

desembargadores em atividade.

A "parcela de irredutibilidade", por sua vez; paga em diferentes valores a cada

um dos 17 magistrados aposentados, corresponderia as seguintes vantagens por eles

incorporadas: Provento de Classe Imediatamente Superior, Adicional por Tempo de

Serviço, Gratificação de Nível Universitário- Salário Família.

Tanto as "verbas indenizatórias", quanto as "parcelas de irredutibilidade" foram

pagas de junho a novembro e suspensas em dezembro, atendendo a determinação

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expressa da Presidência deste Conselho, com exceção de dois Desembargadores

aposentados, que se beneficiam de decisão judicial liminar no MS 2006.006290-5.

A Presidência do TJ-RN justificou o pagamento de tais verbas afirmando que

elas corresponderiam a vantagens percebidas pelos magistrados - antes da instauração

do regime de subsídios - com base em legislação estadual: a Lei Estadual 11.920153,

bem como na LCE n.122194, que a revoga, e no Código de Organização Judiciária do

Estado do Rio Grande do Norte. Assim, por força do principio da irredutibilidade, o

pleno do TJ-RN decidiu, em sessão administrativa ordinária e na esteira da decisão do

STF no MS 24.875-1, que as referidas parcelas de gratificação poderiam ser pagas

desde que posteriormente fossem absorvidas por aumentos futuros; o mesmo raciocínio

se aplicaria aos magistrados aposentados quanto aos valores que vinham sendo pagos @ antes da Resolução do CNJ e que ultrapassavam o teto de R$22.111,25.

E o relatório. Passo a decidir.

Tendo em vista que a Resolução n.1312006 dispôs sobre a aplicação do teto

remuneratóno constitucional a magistratura e sobre quais verbas e vantagens podem ou

não ser cumuladas com o subsídio (arts. 4" e 5"), o que se precisa definir é se a

percepção de tais "verbas indenizatórias" e "parcelas de irredutibilidade" a) é ou não

compativel com o regime de remuneração por subsídio e b) está sujeita ou não ao teto

remuneratório, com base na Resolução.

Como já decidiu o Supremo Tribunal Federal em diversos precedentes, é preciso

0 reconhecer o caráter exaustivo da enumeração das vantagens enumeradas pela Lei

Complementar no 35/79. Veja-se, apenas a titulo de exemplificação:

Perante a enumeração exaustiva do artigo 69 da Lei Orgknica da Magistratura Nacional (Lei Complementar 11.35-79), ficam revogadas as leis estaduais concessivas de licença- prêmio ou especial aos magistrados, aos quais, igualmente, não se aplicam as normas que confiram esse mesmo direito aos servidores públicos em geral. (AO-155-RS, Rel. Min. Octavio Gallotti, DJ 10.1 1.1995, Julgado em 23.08.1995, Tribunal Pleno)

A expressào "adicionais ou vantagens pecunihrias", objeto da vedação do artigo 65, 24 da LC 35/79, deve entender-se como todo e qualquer acréscimo pago ao magistrado, seja de que natureza for, inclusive indenizatória. Precedentes. (AO 499-DF, Rel. Min. Mauricio Corrêa, DJ 01.08.2003, Julgamento: 21/08/2002, Tribunal Pleno)

Tem caráter exaustivo a enumeração das vantagens conferidas aos magistrados pela Lei Complementar na 35/79. Precedentes (RE 100.584, RMS 21.410, AO 184, AO 155, MS 21.405). Beneficio outorgado aos servidores em geral, por Ici ordinária, não aos juizes. (MS 24353-DF, Rel. Min. ELLEN GRACIE, DJ 28-03-2003, Julgamento: 20/02/2003, Tribunal Pleno)

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É de caráter exaustivo a enumeração das vantagens conferidas aos magistrados pela Lei Complementar no 35-79, não se Ihes estendendo, portanto, as outorgadas, em lei ordinária, aos servidores em geral. Precedentes do Supremo Tribunal: RE 100.584 (DJ de 3-4-92). RMS 21.410 (DJ de 2-4-93), AO 184 (RTJ 148119) e AO 155 (RTJ 1601379). (RMS 21405-RS, Rel. Min. OCTAVIO GALLOTTI, DJ 17-09-1999, Julgamento: 2010411 999, I a Turma)

Se a enumeração das vantagens feita diretamente pela LOMAN é exaustiva,

dada a cláusula de exclusão geral do art.65, 3 2", e se ela foi recepcionada pela

Constituição Federal de 1988 como Lei Complementar, então nenhuma vantagem pode

ser concedida a magistrados pela legislação estadual ou por atos normativos dos

Tribunais sem previsão expressa na LOMAN.

@ É precisamente este o caso de diversas das vantagens que, segundo informa o

próprio TJ-RN- estão na origem das "verbas indenizatórias" e das "parcelas de

irredutibilidade" pagas fora do subsídio e acima do teto constitucional.

Com relação as "verbas indenizatórias" - denominação que se afigura

equivocada, já que não possuem nenhum traço de caráter indenizatório -, somente as

gratificações de Presidente, Vice-presidente, Corregedor e Diretor de Escola encontram

amparo na Resolução n.13 do CNJ ou na LOMAN. As outras gratificações (Diretor de

Revista, Presidente de Câmara, Membro do Conselho da Magistratura e Ouvidor do

Tribunal) não têm previsão legal válida e, portanto, sequer poderiam ter sido concedidas

aos magistrados. É também o caso dos anuênios.'

Por outro lado, mesmo as gratificações que encontram amparo na Resolução

0 n.13 e na LOMAN estão em situação irregular. De fato, a soma dessas verbas com o

subsídio dos respectivos magistrados ultrapassa o teto constitucional de R$22.111,21,

contrariando o artigo 5", parágrafo único da Resolução n.13. Além disso, é preciso

determinar se a percepção de tais vantagens foi temporária, vinculada ao período de

exercício da função- já que, nos termos da LOMAN, a sua incorporação seria nula de

pleno direito.

Nessa linha de raciocínio, também estão em situação irregular as "parcelas de

irredutibilidade" percebidas por 17 magistrados aposentados, por se fundarem em

vantagens sem previsão legal válida. Com efeito, a "Gratificação de nível universitário"

' Em seu artigo 65, V11, a LOMAN admite o qüinqiienio, mas não o anuênio

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e o "Provento de Classe Imediatamente Superior" não têm correspondência na

LOMAN, nem no artigo 5' da Resolução n.13 do CNJ.*

No caso do Salário-Família, além de previsto pela LOMAN (art. 65, VII), está

também expressamente previsto na Constituição (art.39, § 3"), tomando possível a sua

percepção junto ao subsidio, e inclusive acima do teto constitucional. Vale notar,

porém, que, diferentemente do que foi afirmado pela Presidência do Tribunal, o valor

relativo a percepção de Salário-Familia não está integrando a "parcela de

irredutibilidade" de vários dos magistrados aposentados. De fato, em diversos dos

contracheques apresentados, está assinalada a percepção tanto do Salário-Família,

quanto da "parcela de irredutibilidade" - isto é, são valores distintos em vários dos

casos analisados, não sendo aquele incorporado por este.

@ No caso do adicional por tempo de serviço, é preciso averiguar qual a base legal

invocada para justificar a sua incorporação em cada um dos casos.

Pelos motivos acima, decido:

1. Determinar liminarmente ao TJ-RN a suspensão imediata do pagamento de qualquer

parcela acima do teto remuneratório de R$22.111,25, com as exceções abaixo;

O pagamento das gratificações referentes às funções de Presidente, Vice-

Presidente, Corregedor e Diretor de Escola está autorizado, com fundamento na

LOMAN e na Resolução n.13, desde que em caráter temporário e dentro do teto

0 remuneratório de R$22.111,25, nos termos do artigo S O , parágrafo Único da

Resolução n.13106 do CNJ.

O pagamento das gratificações referentes as funções de Presidente de Câmara,

de Membro do Conselho da Magistratura, de Diretor da Revista e de Ouvidor do

Tribunal deve ser suspenso.

O pagamento das parcelas referentes a gratificação de nível universitário e aos

proventos de classe imediatamente superior deve ser suspenso.

p ~ - ~ ~

2 Res. 13106, art. 4", 111, b).

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2. Determinar ao TJ-RN que informe, no prazo de 5 (cinco) dias, a composição

individualizada e discriminada da "verba indenizatória" e da "parcela de

irredutibilidade" de cada um dos magistrados que as recebem, esteja ou não dentro do

teto, juntando os devidos contracheques ou fichas financeiras para comprovação.

3. Determinar ao TJ-RN que informe, no prazo de 5 (cinco) dias, todos os magistrados,

ativos ou aposentados, que recebem o adicional de tempo de serviço, juntando o

respectivo contracheque ou ficha financeira e indicando especificamente a

fundamentação legal para cada caso.

4. Solicite-se a Presidência do TJ-RN cópia dos autos do MS 2006.006290-5, para

@ análise das medidas cabíveis.

Brasília, 01 de fevereiro de 2006.

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Conselheiro JOAQUIM FALCÃO


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