Curso GESTÃO PÚBLICA Disciplina
GESTÃO DE POLÍTICAS SOCIAIS
Patrícia NASSIF Koffi AMOUZOU
www.avm.edu.br
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Olá me chamo KOFFI DJIMA AMOUZOU e como o nome sugere eu
não sou brasileiro, embora já esteja muitos anos no país. Sou
natural de Togo na África e é um grande prazer trocar idéias com
vocês sobre uma de minhas áreas de predileção: A Administração
Pública.
Se eu pudesse resumir minha formação acadêmica eu diria que
esta se iniciou com minha graduação em Ciências de Gestão pela
Faculté des sciences Economiques et de Gestion da Universidade
de Togo (1997). Já no Brasil terminei no ano de 2000 meu
mestrado em Gestão Empresarial pela Fundação Getúlio Vargas e
por fim conclui meu doutorado em Engenharia de Transportes pela
UFRJ mais recentemente no ano de 2006. Desde 2001 atuo como
professor auxiliar da Universidade Estácio de Sá onde ministro
aulas em diversas disciplinas voltadas para as áreas de
Administração e Gestão de Programas e Políticas Públicas.
Também nessas áreas tenho algumas publicações além de atuar
ainda como pesquisador dos paradigmas organizacionais na esfera
da Administração Pública nas instituições no Instituto A Vez do
Mestre e na Universidade Estácio de Sá.
Um dos projetos mais interessantes que pude trabalhar foi como
coordenador do projeto de desenvolvimento sustentável local no
Projeto Rondon na Amazônia (2006) no município de Nova Ipixuna
em Pará, onde nessa experiência pude implementar com a minha
equipe composta de alunos de diversas áreas cadeias de produção
locais de: agroestrativista; hortas comunitárias, costura e
artesanato.
Depois dessa breve apresentação, onde foi possível nos conhecer
melhor espero que gostem do caderno, que ele possa servir como
auxiliar para o aprendizado na área de conceitos, instrumentos e
práticas na esfera da Administração Pública. Contem comigo para
o que precisar!
Sucesso a todos!
Meu nome é PATRÍCIA NASSIF DA CRUZ e sou graduada em
Ciências Econômicas pela Universidade Federal de Juiz de Fora.
Possuo especialização em Administração de Recursos Humanos
pela Fundação Machado Sobrinho e Mestrado em Administração
pela Fundação Getúlio Vargas, concluído em 1999. Atualmente sou
sócia-gerente da Nassif Consultoria e Empreendimentos S/C Ltda .
Atuo na área de Recursos Humanos da Fundação Oswaldo Cruz e
sou professora da Universidade Estácio de Sá na área de
Administração. Marketing e Sistemas de Informação. Espero que
estas experiências possam ser útil a você através das aulas
desenvolvidas para esta disciplina do curso de Gestão Pública.
Su
mário
07 Apresentação
09 Aula 1
Políticas sociais
41 Aula 2
OSCIP: definição e
características
55 Aula 3
Gestão de OSCIPs
79 Aula 4
Elaboração de projetos sociais
113
Aula 5
Avaliação: princípios e métodos
139
Aula 6
Avaliações de projetos sociais e de saúde
157 AV1
Estudo dirigido da disciplina
163
AV2
Trabalho acadêmico de aprofundamento
166 Referências bibliográficas
Gestão de Políticas
Sociais
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As transformações da sociedade contemporânea vêm acontecendo de forma
extremamente rápida e, de um modo ou de outro, afetam sobremaneira tudo, o que a própria sociedade faz. Essas transformações são fruto de uma
mudança global que vem causando impactos não apenas aos grandes sistemas, como à ordem financeira mundial, mas sobretudo à vida das pessoas. Mas, afinal, o que as políticas sociais deveriam produzir e projetar em sua comunidade? Talvez uma das construções essenciais ao homem atual seja o paradigma da sustentabilidade, a necessidade de vislumbrar um futuro que lhe garanta saúde, alimento, educação, qualidade de vida, dignidade, entre
tantos outros valores. Na verdade, essa construção somente poderá vir a se consolidar se for possível desenvolver no homem uma visão de longo prazo, enfaticamente ligada ao entendimento e à manutenção dos sistemas ambientais e às suas relações com o meio ambiente. No mundo todo, os avanços tecnológicos e as cobranças para a qualificação do gestor público e para o exercício da cidadania requerem dos indivíduos,
além dos conhecimentos, a capacidade de usá-los em situações diárias.
Assim, a disciplina “politicas sociais” apresenta, um conjunto de conceitos de gestão pública os quais voltam-se ao desenvolvimento de competências, que representam uma chance de atualização, de trocas de experiências e de acesso a novas oportunidades e à cultura de desenvolvimento de um país. São, portanto, temas tratados nesta disciplina:A finalidade da disciplina é contribuir para melhorar a efetividade dos gastos públicos estaduais e
municipais, tendo os seguintes componentes: (I) Fortalecimento da capacidade de planejamento e de gestão de políticas sociais; (II) Desenvolvimento de políticas e da capacidade de gestão de projetos sociais; (II) Fortalecimento de mecanismos de transparência administrativa e de comunicação por meio de indicadores de avaliação; (IV) Desenvolvimento de uma cultura de promoção de OSCIP e implantação de mudança institucional.
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Este caderno de estudos tem como objetivos:
Abordar a análise teórico-conceitual sobre a gestão de políticas sociais; Compreender o conceito de organizações sociais de forma a ajudar o
participante a gerenciar mais eficazmente as políticas sociais para arrostar os problemas da eqüidade e da participação da sociedade;
Contribuir para análise da melhoria na efetividade dos gastos públicos
estaduais e municipais.
Políticas Sociais
Patrícia Nassif
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Esta aula analisa o papel do Estado na gestão de políticas públicas
que vem mudando nos últimos 20 anos devido ao processo de
globalização. Esta mudança afeta principalmente o papel do
Estado de provedor do bem-estar social e da equidade pela gestão
das políticas sociais. É preciso que o Estado busque formas
modernas de gerenciar as políticas públicas, sem que isto
obscureça questões éticas. Uma das formas sugeridas por este
artigo é aplicar o conceito de rede à gestão social das políticas. A
análise teórico-conceitual sobre a gestão de políticas sociais
fundamentou-se com base em alguns autores estudiosos do tema
e a interpretação ocorreu sob a luz dos conceitos da teoria da rede
e do welfare state. Acredita-se ainda, que a compreensão do
conceito políticas sociais pode ajudar gerenciar mais eficazmente
as políticas públicas para arrostar os problemas da eqüidade e da
participação da sociedade neste novo milênio. São, portanto,
temas tratados nesta aula: A nova agenda de políticas sociais -
políticas sociais e melhoria dos gastos públicos - desenvolvimento
com justiça social: uma agenda para os municípios - ajuste fiscal e
despesa pública.
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Esperamos que, após o estudo do conteúdo desta aula, você seja
capaz de:
Contribuir para a compreensão das políticas sociais como ações
governamentais que visam elevar a qualidade de vida da
sociedade de forma mais equânime e justa, para melhorar as
condições sociais das populações;
Compreender que a descentralização é uma estratégia para
reestruturar o aparato estatal, não com o objetivo de que,
reduzido, ganhe agilidade e eficiência, mas para aumentar a
eficácia das ações das políticas sociais pelo deslocamento, para
esferas periféricas, de competências e de poder de decisão
sobre as políticas;
Analisar a adoção do regime de ajuste fiscal que tem
provocado o próprio desajuste social, diante do
descomprometimento maior em relação às carências nacionais
do conjunto da população.
Aula 1 | Políticas sociais 10
A nova agenda de políticas sociais
O desenho da sociedade mudou. Não existe
apenas a relação Estado e Mercado.
A visão de que grupos de cidadãos se mobilizam
apenas para cobrar ações do Estado foi modificada,
porque eles tomam iniciativas próprias para resolver
seus problemas.
A cidadania significa participar na administração
da cidade para melhorar a escola, o hospital, enfim os
equipamentos sociais, realizando trabalhos em prol do
bem comum, sejam de iniciativa do governo ou de uma
organização da própria sociedade. As iniciativas
privadas com fins públicos se multiplicam. Essas
iniciativas estão redefinindo os padrões da relação
Estado e Sociedade.
As parcerias envolvendo diversos atores sociais
não excluem o Estado na gestão das políticas sociais,
mas atribui à sociedade parte da sua responsabilidade
social. Este é um fenômeno recente, onde a sociedade,
com seus diversos atores, é desafiada a produzir juízos
de valor e formular escolhas não se conformando ao
preestabelecido, mas reinventando e reconstruindo-se
para fazer frente a novos desafios através de
deliberações coletivas.
Esse é um processo que está ainda em
construção, exigindo mudanças, tanto por parte do
Estado como da sociedade civil, de suas organizações,
pois há preconceitos e desconfianças de ambas as
partes. Isso exige interações, respeito aos papéis e
identidades. Quanto mais parcerias se estabeleçam,
mais recursos serão mobilizados, maior será o impacto
redistributivo dos programas públicos e menores os
riscos de desperdícios clientelismo e mesmo corrupção.
:: Cidadãos:
Todos aqueles membros da comunidade que se encontram localizados em qualquer uma das ocupações reconhecidas e definidas por lei.
Aula 1 | Políticas sociais 11
A nova relação entre Estado e Sociedade
configura uma nova dinâmica, mas não altera papéis.
Redefine o compartilhamento de responsabilidades.
Com isso, a lógica das políticas sociais deixa de ser
perpassada apenas pelo dever do Estado de oferecer
melhores condições de vida à população, mediante o
atendimento de suas necessidades, mas de seus
direitos. Com essa nova lógica, os direitos dos cidadãos
não são apenas de responsabilidade do Estado, mas
também da própria sociedade (Junqueira, 1996).
Essa discussão no Brasil não é recente. Ela vem
no bojo da transformação do Estado e de suas
competências. Por isso, diz-se que não há contradição
entre políticas sociais e sociedade, entre oferta de
serviço e fortalecimento do capital local.
Entre os anos 30 e 80, o Brasil logrou construir
um sistema de políticas sociais - um Estado de Bem-
Estar Social.
Nosso sistema de políticas sociais constituiu uma
área importante de ação do Estado, resultado de um
processo nada trivial de conquistas, derrotas e
negociações que envolveram gama bem diferenciada de
atores coletivos e, obviamente, custos econômicos e
sociais significativos.
Ainda assim, o seu desempenho foi medíocre e
esteve aquém das necessidades sociais da população,
mesmo no período de sua expansão acelerada, entre
meados dos anos 70 e 80. Seus programas, mesmo os
mais universais, pouco contribuíram para a redução das
desigualdades que marcaram a sociedade brasileira. Os
quase cinqüenta anos de construção do sistema de
políticas sociais, no Brasil, se em longo prazo, afetaram
positivamente as condições da população mais carente,
tiveram, porém, muito pouco sucesso em efetivamente
Importante
As políticas sociais pouco sucesso tiveram nesses últimos 50 anos, pois não afetaram positivamente as condições de vida da população.
Aula 1 | Políticas sociais 12
estabelecer em patamar digno e de “bem-estar” o nível
de vida dos brasileiros.
A política social é parte do processo estatal de
alocação e distribuição de valores, é o estado intervindo
na realidade social para promover e garantir aos
cidadãos os seus direitos. A discussão da relação
estado versus sociedade remete para as
transformações que vêem ocorrendo, a partir da
década de 70 com a crise do Estado do Bem Estar
Social, que tem na descentralização um de seus
pressupostos como meio de incorporar outros atores na
suas tarefas sociais.
Nos anos 80, o Estado de Bem-Estar Social
Brasileiro, de tipo conservador, esteve submetido a
pressões e demandas pela sua alteração e são elas que
explicam as alternativas, escolhas e encaminhamentos
que tanto a questão social quanto às políticas sociais
aqui tiveram.
As políticas sociais na agenda política da
democratização
Passos:
Com a abertura do sistema político, desde o
início da década de 70, e apoiados em
patamares crescentes de associativismo e
organização, ampliam-se e manifestam-se
demandas sociais, iniciando-se o movimento
por reforma do sistema de proteção social, ou
seja, a questão social vai ganhando
centralidade na agenda da transição que vem
se formando;
Com a vitória de setores oposicionistas
(prefeitos e governadores), em 1982, vão sendo
Dica da professora
Sintetizando: - A partir da década de 70, ampliam-se os movimentos sociais; - Entre 1983 e 1984, com o movimento das “Diretas Já” definem-se mais as questões sociais na agenda democrática.
Aula 1 | Políticas sociais 13
postas em prática iniciativas bastante
diversificadas de reordenamento de algumas
áreas de ação social nos estados e
municípios, acumulando-se, desde então,
experiências de organização da ação política;
Entre 1983 e 1984, com o adensamento do
movimento oposicionista e das diretas já e,
sob o arco conservador de alianças, que
processará a mudança do regime,
desembocando a candidatura e eleição de
Tancredo, definem-se mais decididamente os
termos do enfrentamento da questão social
na agenda democrática;
Imediatamente um programa de combate à
pobreza, ou pelo menos de atuação mais
decidida sobre as populações pobres e
miseráveis;
O aumento e o redirecionamento do gasto
social, com revisão do padrão de
financiamento dos programas;
Uma reforma dos parâmetros e perfil da
proteção social, segundo critérios socialmente
mais justos de eqüidade, conferindo às
políticas sociais um caráter redistributivo mais
forte;
Finalmente, uma reforma administrativa da
máquina estatal responsável pelas políticas
sociais, de modo a corrigir as suas piores
distorções, apoiando assim a efetivação dos
dois objetivos anteriores.
Aula 1 | Políticas sociais 14
“Nova República”
O período de 1985-1987 assiste a um
movimento mais denso de alteração do perfil
da proteção social no país: inicia-se a
discussão das reformas estruturais de cada
subsistema de políticas sociais, através das
grandes comissões criadas no executivo para
cumprir tal finalidade e, simultaneamente, são
iniciadas algumas modificações, sejam
medidas de descentralização, tal como a
extinção do BNH;
Entre 1988 e 1989, tem início a produção da
legislação complementar visando a
implementação das disposições da
constituição, movimento que ainda não
terminou. Ao encerrar a gestão Sarney,
esgotou-se também um ciclo de impulsos
reformistas dos programas sociais cujo
resultado resumiu-se às inegáveis ampliações
dos direitos sociais estabelecidos pela
constituição.
Crise, ajustamento econômico e política social: a
outra face da agenda de reformas.
Em 1983, entramos em recessão profunda –
o impacto social negativo foi rápido;
A crise econômica pôs rapidamente a nu o
déficit social acumulado e ampliou as
demandas sociais;
Nesse momento, começaram a ficar claras as
limitações do perfil do financiamento e do
gasto social, tão vinculados às contribuições
sociais e, por isso mesmo, tão sensíveis ao
comportamento cíclico da economia;
Dica da professora
Nova República: - Inicia-se a discussão das reformas estruturais das políticas sociais, através de comissões criadas no executivo para cumprir tal finalidade.
Aula 1 | Políticas sociais 15
O plano cruzado trazia consigo, entre seus
vários componentes, a elevação do salário
mínimo.
As raízes da nossa insuficiente política
social
Insucessos das políticas sociais estão no
caráter conservador do próprio sistema que
as organizou. O fundamento do nosso Estado
de Bem-Estar Social, desde sua origem, é a
capacidade de cada um – ou seu mérito, os
recursos individuais ou familiares, a inserção
na produção, a produtividade – em resolver
suas necessidades. O Estado age através das
políticas sociais para de um lado ampliar as
oportunidades básicas (educação, saúde) e de
outro, para corrigir parcialmente a ação do
mercado;
Distorções da própria organização do sistema
por parte do insucesso dos programas
sociais: acentuados graus de centralização
política e financeira no nível federal, tanto dos
recursos como do poder decisório, uma
grande fragmentação institucional, o formato
autoritário dos sistemas e subsistemas de
decisão, com quase total ausência de
mecanismos de participação e controles;
Relação entre o sistema de políticas sociais e
o sistema político de poder: o corporativismo
e o clientelismo, cristalizando privilégios e
introduzindo discriminações, irracionalidades,
descontinuidades. Isso significa particularismo:
esses modos fragmentados, particularizados
através dos quais os grupos sociais e as pessoas
têm acesso e adquirem privilégios e oportunida-
Dica da professora
Insucessos da política social: - Caráter
conservador do próprio sistema que a organizou; - Acentuados graus de centralização política e financeira no nível federal.
Aula 1 | Políticas sociais 16
des; mecanismos obviamente distante de
direitos universais;
Padrão de desenvolvimento econômico que
tivemos caracterizado por um rápido
crescimento com acelerada transformação da
estrutura social: baixos salários para a
maioria dos trabalhadores, ao mesmo tempo
em que a massa da população permaneceu
ou subempregada nas cidades ou
inteiramente marginalizada nas cidades e no
campo, integrando um imenso contingente de
pobres e miseráveis, cuja diminuição veio se
processando muito lentamente até os anos
80;
Volume e dinâmica da incorporação dos
segmentos da população aos programas
sociais. De um lado, foi considerável a rapidez
da incorporação da população a tais serviços:
dos anos 70 a meados dos anos 80, houve
ampliação do acesso e a expansão da
cobertura dos principais programas de
educação, saúde e alimentação, com claras
perdas de qualidade. De outro lado dado o
tamanho da população e sua estrutura etária,
os programas sociais básicos afetam
clientelas enormes, constituindo-se, portanto,
programas de massa.
DIFICULDADES
Descompasso entre políticas sociais, culturais,
urbanas e políticas de desenvolvimento
econômico;
Dica da professora
- A ação social busca, através dos setores governamentais e
não governamentais, combater a pobreza. Hoje, busca-se sair dessa lógica assistencialista ≥ fortalecimento das comunidades
Aula 1 | Políticas sociais 17
As políticas sociais não são capazes de
resolver sozinhas, os problemas de pobreza e
desigualdade;
Institucionalidades diferenciadas (diferenças
no processo de descentralização);
Fragilidade do federalismo brasileiro – muitos
municípios não têm a estrutura necessária
para implementação de políticas. Falta
capacidade administrativa e técnica;
Diferenças e fragilidades nas estruturas de
associativismo e cooperação;
Fragmentação e necessidade de integração
entre os diversos níveis institucionais;
Políticas sociais, no Brasil, são muito voltadas
ao combate à fome.
ALGUMAS SUGESTÕES E NECESSIDADES DAS
POLÍTICAS SOCIAIS
Necessidade de políticas públicas
territorializadas e integradas construídas a
partir de um processo de concertação com os
atores locais;
Participação representativa dos diversos
setores da sociedade para construção de
consensos estratégicos pactuados;
Construção de políticas a partir das
especificidades, peculiaridades e realidades
locais;
Reforçar uma visão estratégica de políticas
sociais integradas (contrapondo as políticas
setoriais);
A descentralização depende da transferência
de poder, de decisão e de recursos;
Quer saber mais?
O Estado sem se eximir de sua responsabilidade transfere algumas de suas competências para organizações da sociedade civil.
Aula 1 | Políticas sociais 18
Articulação entre as diversas esferas de
governo;
Integração intra e intergovernamental;
Articular as ações do setor público, privado e
do 3° setor;
Intersetorialidade;
Reforçar o papel do Governo Estadual na ação
estratégica compreendendo a importância da
dimensão territorial;
Fortalecer o novo papel dos prefeitos como
animadores e articuladores do
desenvolvimento local;
Planejamento estratégico e gestão integrada
de políticas públicas;
A construção do desenvolvimento com
eqüidade exige ciclos de longa maturação,
para além dos ciclos eleitorais;
Para implementar políticas sociais avançadas,
é necessário haver também políticas
econômicas locais.
POLÍTICAS SOCIAIS E MELHORIA DOS GASTOS
PÚBLICOS
O conceito de descentralização ganhou a cena
política, a partir de meados da década dos 70, nos
países europeus democráticos, como alternativa à crise
do Estado do Bem-Estar Social. Esse Estado,
constituído depois da II Guerra como uma forma de
regulação social, no âmbito de um determinado estágio
de desenvolvimento do capitalismo, se expressa nas
relações entre Estado e Economia, e Estado e
Sociedade, manifestando-se na organização e produção
de bens e serviços coletivos públicos ou privados,
regulados pelo Estado (Draibe, 1989:29).
O projeto de Estado social, no dizer de
Habermas (1987:18), caracterizou-se pela ambição de
Dica da professora
O que é o Terceiro Setor? O Terceiro Setor é constituído por organizações privadas sem fins lucrativos que geram bens, serviços públicos e privados. Todas elas têm como objetivo o desenvolvimento político, econômico, social e cultural no meio em que atuam. Exemplos de organizações do Terceiro Setor são as organizações não governamentais (ONGs), as cooperativas, as associações e as fundações.
Dica da professora
Descentralização: significa genericamente a institucionalização no plano local de condições técnicas para a implementação de tarefas de gestão de políticas sociais. Local: unidade de governo para a qual se pretende transferir atribuições de gestão das políticas sociais. A descentralização é um problema a ser investigado em um país federado como o Brasil que saiu recentemente de uma experiência de centralização ditatorial, e que possui uma grande desigualdade entre as suas subunidades nacionais.
Aula 1 | Políticas sociais 19
oferecer ao homem condições de vida emancipada e
digna, mas sem resultar em transformação nas
condições de trabalho. Embora o Estado social
entendesse como sua função primária „cobrir‟ os riscos
e as incertezas aos quais estão expostos os
trabalhadores assalariados e suas famílias na sociedade
capitalista, há efeitos dessas políticas que também
interessam ao capitalista. Nesse sentido, a política
social é uma resposta às necessidades do trabalho e às
necessidades do capital, compatibilizando-as entre si.
Os estados capitalistas avançados passaram a
caracterizar-se por uma nova relação Estado e
Sociedade, e Estado e Mercado. São estados que
intervêm nas relações sociais para regular a atividade
econômica e o trabalho e, ao mesmo tempo, garantem
alguns dos direitos civis e sociais do trabalhador
assalariado (Manzini Covre, 1986:171). Esse traço
intervencionista do Estado levou-o a desenvolver
grandes aparatos burocráticos centralizados.
Em meados da década dos 70, contudo, esse
Estado intervencionista e centralizado, embora
democrático, começou a dar sinais de esgotamento. O
processo de esgotamento desse modelo pode ser
explicado, também, em função do seu programa:
nutrindo-se da utopia de uma sociedade do trabalho, o
Estado intervencionista e centralizado deixou de
considerar qualquer alternativa que, eventualmente,
pudesse abrir novas perspectivas de vida coletiva.
A descentralização surge com uma alternativa
de mudança, como um instrumento para racionalizar e
dar eficácia ao aparato estatal das políticas sociais.
Apesar de constituir, independente da posição, uma das
estratégias importantes para a reestruturação do
Estado, o conceito varia conforme a concepção do seu
papel e do entendimento que se tenha da natureza da crise
Você sabia?
O Estado do Bem Estar Social foi constituído depois da 2ª GG como forma de regulação social, ou seja, o Estado regulando a atividade econômica e o trabalho para garantir direitos civis e sociais ao trabalhador. Esse traço intervencionista levou-o a desenvolver aparatos burocráticos e centralizados, apesar de democrático.
Aula 1 | Políticas sociais 20
a ser enfrentada (Junqueira, 1996:25).
A crítica neoliberal ao Estado do Bem-Estar
questiona o tipo de intervenção pública na economia
previsto no paradigma keynesiano e advoga a
desregulamentação da economia para torná-la mais
competitiva, uma vez exposta às leis do mercado.
Nessa leitura, a descentralização surge como exigência
de redução do tamanho do Estado, para que ganhe em
agilidade e em eficiência. O Estado deve reduzir-se a
funções mínimas, com competências públicas sendo
transferidas para o setor privado, sob a lógica da
eficiência e do lucro. A mesma lógica deve informar a
reestruturação do Estado, visando restaurar
responsabilidades individuais; excluindo do âmbito do
Estado o sistema de políticas sociais, responsáveis,
entre outros males, pelo déficit público e pelo
desestímulo ao trabalho. A ação do Estado na área
social deveria restringir-se, sob essa perspectiva, aos
programas assistenciais de auxílio à pobreza (Draibe,
1993:90).
Para os neoliberais, portanto, descentralização
significa redução do papel do Estado para chegar ao
Estado mínimo, deslocando a força motriz da mudança
para o mercado. Pretendem assim reduzir o gasto
público, acreditando que da máxima eficiência do
mercado possam advir melhores condições de vida para
a população. Ao Estado ainda caberia um papel na
gestão das políticas sociais compensatórias, o que seria
um meio para atenuar as desigualdades mais
aparentes.
Nessa perspectiva, interessa retomar a visão de
Habermas (1987:109) sobre a crise do Estado social. O
projeto, nesse caso, centrava-se em moderar a
economia capitalista; a crise impôs a necessidade de
domesticar o próprio Estado. O crescimento
centralizado do aparato burocrático deu-se em função
Dica da professora
A descentralização surge como exigência de redução do tamanho do Estado (reduzem-se as funções mínimas, onde a ação do Estado deveria restringir-se, aos programas assistenciais de auxílio à pobreza).
Aula 1 | Políticas sociais 21
do controle do capitalismo tendo como referência o
trabalho. A crise, entretanto, obrigou a reconhecer que
o próprio Estado intervencionista deveria ser objeto de
controle, pois o mundo da vida está ameaçado não
apenas pelo dinheiro, mas também pelo poder. A
“dinâmica interna de subsistemas governados pelo
poder e pelo dinheiro” precisa ser quebrada, ou no
mínimo contida, por formas de organização
autogestionárias e mais próximas da base.
A descentralização é uma estratégia para
reestruturar o aparato estatal, não com o objetivo de
que, reduzido, ganhe agilidade e eficiência, mas para
aumentar a eficácia das ações das políticas sociais pelo
deslocamento, para esferas periféricas, de
competências e de poder de decisão sobre as políticas.
Portanto, mesmo com a concordância quanto ao
significado geral da descentralização como
transferência do poder central para outras instâncias de
poder, constituindo um processo para um novo
reordenamento do aparato estatal, as diferenças de
posição dos neoliberais e progressistas sobre a
finalidade da descentralização decorrem de concepções
distintas do papel do Estado e da sua relação com a
sociedade e o mercado. Enquanto os neoliberais
preconizam o Estado mínimo e o mercado como
regulador das relações sociais, os progressistas não
retiram o caráter de intervenção do Estado, mas
concebem uma nova relação Estado e Sociedade.
A descentralização como estratégia de mudança
nas relações Estado e Sociedade teve início nos países
centrais democráticos, nos anos 70. Esse movimento
também ganhou destaque nos países latino-
americanos, a partir da década de 80, como um meio
de reestruturar o Estado e a gestão das políticas
sociais.
Dica da professora
- Mudanças: não existe apenas a relação Estado e Mercado, mas a visão de que os cidadãos se mobilizam para resolver os problemas. - Essas parcerias não excluem o Estado, mas atribui à sociedade parte da sua responsabilidade social.
Aula 1 | Políticas sociais 22
A descentralização, considerada como parte do
encaminhamento da solução dos problemas sociais,
supõe que a transferência de poder venha no âmbito de
uma transformação político-administrativa que vise a
facilitar o acesso da população aos centros de poder e,
conseqüentemente, que vise a atender à demanda
social.
As organizações descentralizadas podem mais
facilmente articular os interesses dos excluídos,
garantindo igualdade de acesso, ao mesmo tempo em
que viabiliza a articulação e a implementação de
políticas de desenvolvimento de modo a aumentar a
eqüidade e fortalecer as unidades regionais.
A descentralização como um processo de
transferência de poder determina a redistribuição do
poder de decisão como resposta à centralização. Essa
redistribuição do poder também é uma decisão política,
denominada de político-administrativa ou territorial,
porque pode envolver uma dimensão espacial.
A descentralização envolve mudanças, um novo
processo de articulação entre Estado e Sociedade, entre
o poder público e a realidade social. Apesar da
importância da atuação do Estado, ele não pode
substituir a sociedade em qualquer que seja o sistema.
Assim, é necessário saber o que transferir, para
quem e como transferir. A descentralização pode se dar
também para um ente público privado. O Estado
transfere a prestação de serviços que é de sua
competência para outro organismo público não estatal,
devolvendo para a sociedade aquilo que lhe é próprio. E
isso Martins (1994) denomina de devolução social.
O ente público privado que recebe as
competências permanecerá sujeito às normas, à
Importante
Essa nova realidade que está sendo construída estabelece uma nova relação entre Estado e Sociedade, entre público e privado. Se, até período recente, o Estado era o promotor exclusivo das políticas sociais, esta realidade começou a mudar em função das demandas e pressões advindas das pessoas e grupos organizados, até mesmo dos organismos governamentais que buscam novas formas de gestão, novas maneiras de atender as necessidades sociais.
Aula 1 | Políticas sociais 23
avaliação e aos controles de qualidade estabelecidos
pelo poder cedente. Para governar para o conjunto da
sociedade, é necessário identificar as formas de
organização, os interesses sociais e políticos que
articulam e os diversos modos pelos quais se
expressam. Sem desconhecer o papel regulador do
Estado, não se pode crer que apenas iniciativas
estritamente estatais sejam capazes de dar resposta de
maneira equânime e justa às necessidades sociais da
população.
A descentralização na perspectiva da devolução,
diz Martins (1994:336), ”anula a pretensão do Estado
de ser o principal agente da solidariedade social”. E isso
vem ao encontro da discussão proposta por Habermas
(1987:113) e mesmo por Rosanvalon (1997:95) da
existência de uma sociedade solidária, que se organiza
em espaços alternativos e que também exerce seu
controle sobre o próprio Estado.
Esse processo só se viabilizará na medida em
que os beneficiários das políticas sociais transformem-
se em sujeitos dessas políticas, tornando-os capazes de
escolhas racionais livres e ao mesmo tempo membros
de uma coletividade e responsável pelo bem comum
(Tourraine, 1999:82). Isso permitirá a construção da
cidadania, pois o indivíduo não estará sujeito a
intervenções seja do Estado ou de grupos, mas das
suas próprias escolhas e interesses. Essa mudança só
ocorrerá, através da educação para a cidadania,
quando os diversos atores sociais tomarem consciência
dos seus direitos de cidadãos.
A cidadania é um processo de aprendizado, que
se atualiza na medida em que as pessoas vão
experimentando relações e percebem que seu saber e
sua experiência têm importância e são respeitados. A
cidadania se consuma mediante o exercício do papel de
Quer saber mais?
Entendemos que da parte do Estado qualquer iniciativa que pretenda enfrentar com seriedade a questão social necessita incorporar a participação ativa da sociedade civil como uma aliada no processo. Participação essa que incorpora o Terceiro Setor nos níveis decisórios de Governo, desde o planejamento até a fiscalização bem como o controle social sobre a gestão das políticas públicas.
Aula 1 | Políticas sociais 24
sujeitos e de seus valores face a sujeição à liberdade do
que ao poder (Manzini-Covre, 1996: 37).
Assim, a realidade socioeconômica, política e
cultural da população, para quem o poder é transferido,
determina diferentes posições sociais diante desse
poder. Por isso, a descentralização não garante
automaticamente a participação, podendo, em algumas
circunstâncias, reiterar as diferenças. A possibilidade de
participar não homogeneíza os interesses que
permeiam a relação, inclusive pela descrença no poder
de influenciar os acontecimentos. As mudanças sociais
benéficas requerem, com freqüência, o uso de poder
diferencial, mantido apenas pelos privilegiados
(Giddens, 1991:154).
A descentralização, como um processo político-
administrativo de transferência de poder, viabiliza-se,
sobretudo, através do reordenamento do aparato
estatal e no partilhamento com outras instâncias de
poder, que não se restringem ao Estado. Neste
contexto, surgem as organizações sem fins lucrativos,
que se articulam para constituir o denominado terceiro
setor, como uma instância pública, mas privada de
gestão das políticas sociais.
Desenvolvimento com justiça social: uma
agenda para os municípios
A discussão de justiça social nos remete à noção
de direitos e deveres do homem/cidadão e do Estado,
relacionada às noções de igualdade e liberdade, que
vêm sendo estabelecidas ao longo da história,
principalmente desde os séculos XVII e XVIII,
culminando na Declaração Universal dos Direitos
Humanos, de 1948, e na Convenção Européia dos
Direitos do Homem em 1950 (Almeida, 2002, p. 26).
Aula 1 | Políticas sociais 25
Envolve na sua discussão a questão de juízo de
valor, freqüentemente relacionado com a distribuição
de renda, de riquezas e de outros benefícios, assim
como as opções políticas associadas à alocação de
recursos pelo Estado para promover a justiça social.
Justiça geralmente se refere ao que os filósofos
chamam de “justiça distributiva”, ou seja, distribuição
eqüitativa dos bens escassos em uma comunidade.
O princípio de igualdade tem por base o conceito
de cidadania, segundo o qual todos os indivíduos são
iguais, tendo, portanto os mesmos direitos; já a
eqüidade incorpora em seu conceito um valor de
justiça.
Esse princípio apregoa que todos os indivíduos
devem receber tratamento igual. Nesta noção todos os
indivíduos são iguais, têm o mesmo direito e, portanto,
merecem os mesmos recursos. Trata-se de um
princípio baseado em uma moralidade de direitos,
diferente, porém, das moralidades fundadas em direito
ao trabalho ou à propriedade, que julgam justa a
distribuição dos recursos de acordo com a contribuição
dos indivíduos para a sua obtenção.
Nesse sentido a descentralização aparece como
exigência estratégica a fim de alcançar o
desenvolvimento da justiça social, por meio da
implementação de ações em nível local, traduzindo,
dessa forma, a idéia de avanço democrático, elemento
fundamental da reforma do Estado.
A descentralização no cenário contemporâneo
constitui-se em palavra de ordem no mundo político-
administrativo, especialmente após a Constituição
Federal de 1988. A partir de então, são garantidos às
comunidades locais espaços para formular, negociar e
Importante
A ação coletiva das organizações sem fins lucrativos pressupõe a sua democratização para permitir a emancipação dos sujeitos sociais mediante o exercício da cidadania.
Aula 1 | Políticas sociais 26
controlar a gestão das políticas públicas, mediante as
demandas da sociedade civil, redirecionando, assim, as
tradicionais relações entre Estado e sociedade.
A municipalização da assistência social
possibilita a tomada de decisão mais próxima do local
onde os problemas acontecem, permitindo uma ação
mais imediata e concreta, vista como estratégia de
consolidação democrática. Essa proximidade também
permite uma participação maior da população, por meio
de organizações representativas, na formulação de
políticas e no controle das ações.
A Constituição Federal (art. 18) reconhece o
município como unidade da Federação, tendo a
competência de organizar e manter serviços com
autonomia em sua administração. Os serviços de
competência municipal são todos aqueles direcionados
às necessidades locais e regionais de caráter coletivo,
próximas do nível de decisão dessa esfera de governo.
Alguns autores alertam para se ter o cuidado ao
falar de descentralização para não confundi-la com
desconcentração, já que a descontração pode ser
entendida como a delegação de competências sem
deslocamento do poder decisório, enquanto que a
descentralização envolve uma questão de redistribuição
de poder e o deslocamento dos centros decisórios.
A descentralização e a municipalização estão
sempre ligadas à participação e mostram que a força
do exercício da cidadania está no município. No
município é possível que o cidadão fiscalize e exercite o
controle social. O município é a entidade político-
administrativa que oferece melhores condições para a
prática da participação popular. As ações e as intenções
do governo são percebidas e acompanhadas pela
população.
Dica da professora
O Brasil requer um reordenamento amplo e profundo no Estado e na sociedade, cujo caminho é o da descentralização e da desconcentração: - De receitas; - De rendas; - De poder; - Mas, sobretudo de Responsabilidades.
Aula 1 | Políticas sociais 27
Ajuste fiscal e despesa pública
PRINCIPAL QUESTÃO
Que problemas relativos à gestão das
finanças públicas afetam a potencialização da
gestão de políticas sociais?
Os estados federativos são encarados como
propensos a produzir níveis comparativamente mais
baixos de gasto bem como menor abrangência e
cobertura dos programas sociais. Tenderiam ainda a
tornar mais difíceis os programas gerando superposição
de competências e competição entre os diferentes
níveis de governo dada a relação negativa entre
dispersão da autoridade política e consistência interna
das decisões coletivas.
Adicionalmente, a existência de uma
multiplicidade de pontos de veto no processo decisório
implicaria que, em Estados federativos, as políticas
nacionais tenderiam a se caracterizar por um mínimo
denominador comum. Entretanto, a concentração da
autoridade política varia entre os Estados federativos,
dependendo do modo como estão estruturadas as
relações entre Executivo e Legislativo no plano federal,
bem como da forma como estão distribuídas as
atribuições de políticas entre os níveis de governo.
Como conseqüência, pode-se esperar que estes tendam
a apresentar variações em sua capacidade de
coordenar políticas nacionais, dependendo da maneira
como estão estruturadas estas relações em cada
Estado.
Diferentemente do que muitos analistas
apontam, a descentralização no Brasil está longe de ser
abrangente. Na verdade, esta vem se concentrando em
dois campos: no aumento dos recursos financeiros para
os municípios garantidos pela Constituição de 1988 e
Dica da professora
Por que “federalismo municipal”? O dicionário Aurélio define federalismo como uma “forma de governo pela qual vários estados se reúnem numa só nação, sem perderem sua autonomia, fora dos negócios de interesse comum”.
Aula 1 | Políticas sociais 28
no aumento progressivo das transferências federais, a
partir do final dos anos 90, para a implementação de
alguns programas sociais universais. Assim, embora a
descentralização tenha sido um dos objetivos dos
constituintes de 1988, desenvolvimentos recentes
apontam para a consolidação de políticas voltadas para
a implementação de políticas sociais e não para o
aumento da capacidade de decidir sobre onde e como
investir os recursos.
Os constituintes de 1988 optaram pelo formato
das competências concorrentes para a maior parte das
políticas sociais brasileiras. Assim, qualquer ente
federativo estava constitucionalmente autorizado a
implementar programas nas áreas de saúde, educação,
assistência social, habitação e saneamento.
Simetricamente, nenhum ente federativo estava
constitucionalmente obrigado a implementar programas
nestas áreas. Decorre deste fato a avaliação de que a
Constituição de 1988 descentralizou receita, mas não
encargos. Esta distribuição de competências é propícia
para produzir os efeitos esperados pela literatura sobre
federalismo e políticas públicas: superposição de ações;
desigualdades territoriais na provisão de serviços; e
mínimos denominadores comuns nas políticas
nacionais. Estes efeitos, por sua vez, são derivados dos
limites à coordenação nacional das políticas. Ocorre que
a Constituição Federal de 1988 não alterou a estrutura
institucional de gestão das políticas sociais herdada do
regime militar. Mesmo as medidas de reforma
aprovadas e implementadas pelos sucessivos
presidentes – posteriormente à Constituição Federal de
1988 – pouco ou nada alteraram esta estrutura prévia,
que é centralizada para as políticas de saúde e
desenvolvimento urbano e descentralizada para a
política de educação fundamental. No início dos anos
90, a distribuição federativa dos encargos na área
social derivava menos de obrigações constitucionais e
mais da forma como historicamente estes serviços
Importante
- Não existe um problema de gestão de finanças públicas e outro de gestão de políticas sociais.
- O problema central é de tomada de decisões pelos governos municipais. - As leis orçamentárias são a principal expressão deste processo, porque registram o resultado destas decisões.
Aula 1 | Políticas sociais 29
estiveram organizados em cada política particular. A
capacidade de coordenação das políticas setoriais
dependeu em grande parte destes arranjos
institucionais herdados.
A existência de grandes heterogeneidades entre
os municípios mostram evidências empíricas que, no
agregado, os governos locais estão de fato substituindo
o governo federal em algumas funções, enquanto
outras se encontram em uma espécie de vazio
governamental, seja por causa da política federal de
ajuste fiscal, seja porque o desenho da política a ser
municipalizada não contemplou incentivos capazes de
estimular a adesão dos municípios. O papel do governo
local na provisão de serviços sociais universais.
Políticas para superar os constrangimentos
financeiros e de gestão da maioria dos municípios
brasileiros foram engendradas pelo governo federal
através da adoção de novos desenhos e formas de
financiamento dessas políticas, que visam à
municipalização da provisão da saúde pública e da
educação fundamental.
Antes da introdução desses novos desenhos, era
comum a acusação de que a Constituição de 1988
havia transferido recursos, mas não competências, para
os governos subnacionais e de que a União havia
perdido receitas embora continuasse com as mesmas
responsabilidades, as quais não podiam ser transferidas
para as esferas subnacionais, que passaram a contar
com maior volume de receitas. No entanto, a
experiência brasileira está demonstrando que a questão
da transferência de responsabilidade pela provisão de
serviços sociais universais não se restringe à existência
de mais recursos financeiros para serem alocados
livremente.
Dica da professora
- Os governos municipais estão substituindo os governos federais
em algumas funções, porque o desenho da política a ser municipalizada não contemplou incentivos capazes de estimular a adesão dos municípios.
Você sabia?
As transferências federais para municípios são preponderantemente redistributivas (92%) e guardam semelhança com a natureza dos repasses aos estados, em especial no que diz respeito aos recursos do Fundo de
Participação dos Municípios.
Aula 1 | Políticas sociais 30
A leitura dos orçamentos públicos do Governo
Federal no Brasil, no período posterior à promulgação
da Constituição Federal de 1988, nos permite identificar
como característica marcante do desenho institucional a
forte preponderância de vinculação das receitas
orçamentárias de natureza não financeira a despesas
previamente definidas, que independem do processo de
elaboração orçamentária. Conforme mencionado por
Franco (2000), “A vinculação consiste em estabelecer
um automatismo, ou seja, em comprometer para um
certo fim um percentual das receitas de certo imposto
(ou contribuição), ou conjunto de impostos, ou mesmo
a totalidade de um imposto.”
A história recente da política fiscal no Brasil
aponta a Constituição Federal de 1988 como peça
institucional relevante para a compreensão da adoção
em larga escala das vinculações de receitas a
determinados gastos públicos, independentes das
decisões orçamentárias anualmente construídas no
parlamento federal. Porém, cabe ressaltar que a prática
vinculatória é uma tradição da gestão das finanças
públicas no Brasil, observada ao longo das últimas três
décadas com maior ou menor ênfase em termos de
percentual de receitas vinculadas.
O Brasil já cobre um quarto de século
comprometido com uma grave crise no seu padrão de
desenvolvimento econômico e social. O estancamento
na evolução da renda per capita vem sendo
acompanhado recorrentemente pela adoção de medidas
voltadas ao ajustamento das finanças governamentais,
especialmente no que diz respeito à geração de
superávit nas contas públicas.
Em grande medida, a adoção do regime de
ajuste fiscal tem provocado o próprio desajuste social,
diante do descomprometimento maior em relação às
Aula 1 | Políticas sociais 31
carências nacionais do conjunto da população. Isso
porque tem havido compromisso contumaz com os
credores da dívida publica financeira.
O padrão de ajuste tem representado o aumento
da carga tributária que afeta indiscriminadamente os
pobres, bem como o contingenciamento do gasto
social, acompanhado da desvinculação das receitas
fiscais sociais e da focalização das despesas em ações
de natureza mais assistencial do que a universalização
de bens e serviços públicos.
Os recorrentes programas de ajustamento fiscal
no Brasil não permitiram reduzir a dimensão do
endividamento financeiro do setor público. Por outro
lado, terminou contribuindo para o agravamento social
do país. De um lado, observa-se que o avanço da
riqueza financeirizada vem acompanhado do aumento
do achatamento da renda do trabalho e da ampliação
da quantidade de desempregados.
Entre 1980 e 2003, por exemplo, a renda do
trabalho perdeu cinco pontos percentuais na sua
participação relativa na renda nacional; e a renda do
capital permaneceu relativamente estável;
simultaneamente, a participação dos tributos cresceu
seis pontos percentuais.
Ao condicionar grande parte das transferências
fiscais intergovernamentais a critérios técnicos
previamente definidos e juridicamente
fundamentados, cria condições para a conformação
de uma linha estável de financiamento aos governos
locais e estaduais, independentemente do jogo
político-partidário, freqüentemente pautado por uma
racionalidade sujeita a fortes variações
circunstanciais, geradoras de descontinuidades na
condução das políticas públicas subnacionais e,
conseqüentemente, geradora de ineficiência
econômica dos gastos públicos.
Aula 1 | Políticas sociais 32
Conclusão
Apesar de a capacidade dos governos locais de
proverem serviços sociais universais e de aumentarem
formas de democracia participativa ser muito desigual,
vários municípios vêm assumindo novos papéis na
governança local como resultado de políticas federais e
locais. A despeito dessa expansão do papel dos
municípios, a sustentabilidade do atual sistema de
governança local ainda não está clara.
A descentralização que vem ocorrendo no
aparato estatal brasileiro transfere para as
organizações sem fins lucrativos competências para a
gestão das políticas sociais de responsabilidade do
Estado. Essas organizações em caráter complementar
realizam, em parceria com o Estado, a prestação de
serviços sociais, constituindo uma alternativa para fazer
frente aos problemas sociais que afetam a população. A
complexidade dos problemas sociais torna necessário
integrar os diversos atores sociais e organizacionais na
gestão das políticas sociais. A articulação das diversas
organizações que atuam no âmbito das políticas sociais,
constituindo as redes sociais exigem mudanças
significativas na lógica da gestão tanto das
organizações públicas estatais como das organizações
sem fins lucrativos, integrando-as para atender os
interesses coletivos.
A descentralização como um processo de
mudança do aparato estatal tem determinado novas
articulações entre Estado e Sociedade. Como
transferência do poder central para instâncias
periféricas ou para organizações públicas privadas, ela
possibilita que a gestão das políticas sociais seja
partilhada por outras organizações que assumem o
compromisso com o objetivo de garantir à população
seus direitos sociais. Esse processo vem assumindo
Aula 1 | Políticas sociais 33
características singulares em cada política e neste
contexto as organizações sem fins lucrativos surgem
como alternativa para eficácia da gestão pública.
Assim, como organizações privadas e autônomas
voltadas para o interesse coletivo, compartilham com o
Estado a gestão das ações sociais que se referem à
prestação de serviços. O Estado, independente do nível
de governo, transferindo seu poder sobre as políticas
sociais, cria parcerias e alianças com as organizações
do denominado terceiro setor para realizar suas
competências.
A descentralização constitui uma saída para que
o Estado garanta aos cidadãos o respeito aos seus
direitos. Nessa perspectiva, as organizações sociais
sem substituir o Estado, mas em parceria com ele,
como organismos da sociedade civil, recebem de volta
competências que as integram no processo de
reconstrução da sociedade.
A proposta dessa parceria é de tornar mais ágil
a gestão das políticas sociais, pois até então era apenas
o Estado que realizava essa tarefa. Com seu aparato
burocratizado e centralizado, com uma prática
ineficiente e marcada pelo atendimento dos interesses
de classes alojadas no seu interior, o Estado encontrou
na descentralização um meio de partilhar suas
competências com parceiros privados que possuem
maior agilidade no atendimento dos interesses
coletivos, das demandas sociais.
Essa realidade que se instaura na gestão das
políticas sociais não se faz sem a avaliação e o controle
do Estado, pois este, enquanto transfere suas
competências e disponibiliza recursos, deve estabelecer
um processo de regulação das instituições parceiras. O
Estado delega a execução das ações sociais, mas não a
Aula 1 | Políticas sociais 34
sua responsabilidade de garantir os direitos sociais da
população.
A complexidade dos problemas sociais que
afetam a população remete para a necessidade de
integrar os diversos atores organizacionais e sociais,
tanto públicos estatais como privados, na gestão das
políticas sociais. Se o Estado possui órgãos
especializados na gestão das diversas políticas
setoriais, a parceria que estabelece com as instituições
privadas também será fragmentada, se feita no âmbito
de uma única política.
A população localiza-se em um território com
necessidades e demandas próprias. Os indivíduos, parte
desse grupo populacional, constituem uma totalidade e
como tal devem ser considerados.
Nessa perspectiva que a intersetorialidade
constitui um importante fator de inovação na gestão
das políticas sociais. Em vez de estabelecer parcerias
isoladas por políticas, muda-se a lógica, ou seja,
identificam-se os problemas sociais integrando saberes
e experiências das diversas políticas, passando a
população também a desempenhar um papel ativo e
criativo nesse processo. Se apenas com as
organizações estatais esse trabalho era de difícil
consecução, devido as suas práticas e valores que
privilegiam os interesses individuais, com as
organizações sem fins lucrativos, com uma lógica de
gestão que valoriza o cliente, esse processo pode ser
facilmente instaurado, dando maior eficácia à gestão
das políticas sociais (Junqueira, 2000:121) mediante
uma visão integrada da população e dos seus
problemas sociais.
É no bojo dessa dinâmica que as redes sociais
têm um papel: integrar as diversas organizações que
Aula 1 | Políticas sociais 35
atuam com as políticas sociais, conservando, no
entanto, sua identidade e sua especificidade. A
complexidade dos problemas sociais demanda diversos
olhares, que convergem para objetivos construídos
coletivamente. A articulação de pessoas, organizações
públicas e agentes econômicos preocupados com a
realidade social constitui um meio para tornar mais
eficaz a gestão das políticas sociais. Cada membro da
rede preserva sua identidade na gestão dos recursos, e
a articulação de todos os seus membros faz com que se
integrem, tanto na concepção das ações sociais como
na sua execução, para garantir à população seus
direitos sociais.
Assim, com a descentralização o Estado
transfere suas competências para outras instâncias
organizacionais, criando novas possibilidades de
parcerias na gestão das políticas sociais. Com isso, as
organizações sem fins lucrativos passam a integrar
esse movimento e a articular-se em rede com outros
organismos estatais e privados, privilegiando a ação
intersetorial, que ocasiona a criação de respostas novas
aos problemas sociais.
Integradas e articuladas essas organizações
buscam novas formas de gestão para dar eficácia às
políticas sociais. Contudo, esse processo exige também
mudanças significativas nas práticas dessas
organizações, sejam públicas ou privadas, pois a
possibilidade de participar não homogeneíza os
interesses que permeiam as relações sociais.
A maneira como se organiza o poder e os
interesses numa organização passa tanto pelos seus
membros como por seus objetivos e cultura,
construídos ao longo dos anos. Para mudar práticas de
gestão, é necessário alterar não apenas os objetivos e
a cultura, mas os interesses que permeiam e a maneira
Aula 1 | Políticas sociais 36
de lidar com a realidade social. É essa mudança que
possibilitará a articulação das organizações públicas,
estatais e privadas. Apesar de estarem voltadas para o
interesse coletivo, ele não é dado, mas construído nas
relações sociais. É através dessas relações, que os
diversos atores sociais estabelecem entre si, que é
possível construir uma nova realidade social,
garantindo ao conjunto da população os seus direitos
sociais.
Essa perspectiva apenas se concretiza com a
superação da dualidade privatização/estatização, re-
inserindo a solidariedade na sociedade. É nesse
processo que o terceiro setor desempenha um
importante papel, não como substituto do Estado na
gestão das políticas sociais e tampouco como elemento
de privatização, mas como um parceiro que, integrando
diversas organizações, é capaz de permitir a formação
de relações de solidariedade mais reais, mesmo que os
processos que as regulam devam ser mais conflituais
(Rosanvalon, 1997:95).
Aula 1 | Políticas sociais 37
EXERCÍCIO 1
Sobre as dificuldades na gestão das políticas sociais,
marque a alternativa incorreta.
( A ) Descompasso entre políticas sociais, culturais,
urbanas e políticas de desenvolvimento
econômico;
( B ) As políticas sociais não são capazes de resolver
sozinhas problemas de pobreza e desigualdade;
( C ) Institucionalidades diferenciadas (diferenças no
processo de descentralização);
( D ) Políticas sociais, no Brasil, são muito voltadas ao
combate à fome;
( E ) Unidade e fortalecimento nas estruturas de
associativismo e cooperação
Aula 1 | Políticas sociais 38
EXERCÍCIO 2
No que diz respeito a algumas sugestões e
necessidades das políticas sociais, marque a alternativa
correta.
1) Necessidade de políticas públicas territorializadas e
integradas construídas a partir de um processo de
concertação com os atores locais;
2) Participação representativa dos diversos setores da
sociedade para construção de consensos estratégicos
pactuados;
3) Construção de políticas a partir das especificidades,
peculiaridades e realidades locais e regionais;
4) A centralização depende da transferência de poder,
de decisão e de recursos;
5) Integração intra e supra-governamental.
( A ) As alternativas 1 e 2 são verdadeiras;
( B ) As alternativas 3, 4, 5 são verdadeiras;
( C ) A alternativa 1 é verdadeira, a 3 e 4 são falsas;
( D ) As alternativas 3, 4 e 5 são verdadeiras;
( E ) As alternativas 2 e 3 são falsas.
EXERCÍCIO 3
Qual é a importância da descentralização e seu impacto
na gestão das políticas sociais?
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____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
Aula 1 | Políticas sociais 39
EXERCÍCIO 4
“.... A complexidade dos problemas sociais que afetam
a população remete para a necessidade de integrar os
diversos atores organizacionais e sociais, tanto públicos
estatais como privados, na gestão das políticas
sociais....” (pag. 34).
Explique o que você entende sobre esse trecho do
texto.
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
RESUMO
Vimos até agora:
A nova relação entre Estado e Sociedade
configura uma nova dinâmica, mas não altera
papéis. Redefine o compartilhamento de
responsabilidades. Assim, a nova lógica das
políticas sociais se refere aos direitos dos
cidadãos não são apenas de responsabilidade
do Estado, mas também da própria
sociedade;
Foram destacadas as diversas raízes da
ineficiência da política social e suas principais
dificuldades, bem como algumas sugestões e
necessidades, para que o estado, de maneira
simplista, não transfira algumas de suas
competências para a organização da
sociedade civil;
Aula 1 | Políticas sociais 40
A descentralização, como um processo
político-administrativo de transferência de
poder, viabiliza-se, sobretudo, através do
reordenamento do aparato estatal e no
partilhamento com outras instâncias de
poder, que não se restringem ao Estado;
A descentralização e a municipalização estão
sempre ligadas à participação e mostram que
a força do exercício da cidadania está no
município. No município é possível que o
cidadão fiscalize e exercite o controle social;
Os recorrentes programas de ajustamento
fiscal no Brasil não permitiram reduzir a
dimensão do endividamento financeiro do
setor público. Por outro lado, terminou
contribuindo para o agravamento social do
país.
OSCIP: Definição e
Características
Koffi Amouzou
AU
LA
2
Ap
res
en
taç
ão
Essa aula sobre OSCIP traz, uma conceituação básica sobre o
tema e o contexto em que se apresenta no Brasil. Em seguida,
busca também explicar conceitos bastantes presentes no universo
do terceiro setor, como “lucro”, “finalidade lucrativa” e
remuneração. Feitas as explicações conceituais, parte-se para as
informações práticas e funcionais sobre constituição de uma
associação, elaboração do estatuto e formação do quadro de
dirigentes. A partir dessas noções, foram expostos os
procedimentos específicos para a regularização de uma OSCIP. Ao
se conhecer todas essas informações, é importante esclarecer e
explicar mais detalhadamente o denominado “Termo de Parceria”
criado pela lei das OSCIPs. Finalmente, mais alguns conceitos são
explicados para que se entenda o funcionamento e possibilidades
trazidas pela OSCIP, como “imunidade tributária”, “isenção de
imposto de renda”, “remuneração de dirigentes” e
“financiamento”. São, portanto, temas tratados nesta aula: OSCIP
- conceitos e definições - Principais características de OSCIP –
funcionalidade – gestão - legislação e tributação - Acesso a
recursos para realização de projetos e Prestação de Contas Anual
da OSCIP.
Ob
jeti
vo
s
Esperamos que, após o estudo do conteúdo desta aula, você seja
capaz de:
Analisar as principais características de OSCIP, suas funções
finalidades, as normas de gestão e prestação de contas;
Esclarecer as diferenças entre OSCIP e as ONGs, entendendo
que a OSCIP é uma qualificação decorrente da lei 9.790 de
23/03/99;
Conhecer os requisitos legais que deve conter o estatuto das
OSCIPs;
Conhecer os cinco passos que levam a fundação de uma ONG.
Aula 2 | OSCIP: definição e características 42
Introdução
Num país como o nosso, nada mais justo do que
políticas distributivas orientadas para favorecer
segmentos excluídos e marginalizados da população. As
políticas direcionadas para esses setores são sociais e
públicas. Mas além dessa obviedade, que lamentamos
ter de repetir, é preciso reconhecer que mesmo quando
se trata de interesses puramente privados é muito
diferente saber que os fundos públicos estão ajudando
a reerguer algum tipo de atividade produtiva e, assim,
devolvendo uma pequena parcela dos postos de
trabalho eliminados nos últimos anos ou sendo
embolsados pelo setor financeiro.
Por tudo isso, não temos a menor dúvida de que
as ONGs e outras entidades sem fins lucrativos, cuja
finalidade é e deve ser pública, devem ter acesso a
fundos públicos como ocorre em todos os países em
que o capitalismo se tornou mais civilizado, através dos
controles impostos ao mercado e do Estado de Bem-
Estar Social. A ABONG (Associação Brasileira das
ONGs) desde sua fundação, em 1991, tomou uma
posição clara nesse sentido, tendo participado do
debate sobre os fundos públicos com uma posição clara
de exigir o acesso aos mesmos por parte das
organizações da sociedade civil, desde que
asseguradas, de maneira geral, as condições de
publicidade e transparência para o acesso aos mesmos.
O processo de elaboração da chamada “Lei das
OSCIPs” ou “Marco Legal do Terceiro Setor” foi
impulsionado por duas rodadas de interlocução política
entre a Sociedade Civil e o Estado promovido pelo
Conselho da Comunidade Solidária entre 1997 e 1998.
A ABONG participou dessas discussões e propôs
mudanças ao projeto de lei original (vide artigo de
Jorge Eduardo Saavedra Durão nessa mesma seção –
Importante
A Lei Federal 9790/99 criou uma nova qualificação para pessoas jurídicas de direito privado sem fins lucrativos (associações civis ou fundações). Esse
“título público”, conferido pelo governo federal, pode ser obtido por associações civis e fundações privadas mediante requisitos e procedimento objetivos estabelecidos em lei.
Aula 2 | OSCIP: definição e características 43
“Aprovação da lei das OSCIPs pelo Congresso
Nacional”).
Essa Lei buscou reconhecer o caráter público de
um conjunto de organizações da sociedade civil até
então não reconhecidas pelo Estado, criando um novo
sistema classificatório que procurou também diferenciar
organizações sem fins lucrativos de interesse público
daquelas de benefício mútuo e de caráter comercial.
Além disso, previu a existência do termo de
parceria que pretende facilitar e desburocratizar o
acesso das organizações da sociedade civil sem fins
lucrativos a fundos públicos. Atualmente, essa relação é
estabelecida através de convênios com a administração
pública, instrumento jurídico este inadequado para
regular a transferência de recursos públicos para ONGs.
Partindo deste esboço, nesta aula, serão
analisadas as principais características da OSCIP, suas
funções, finalidades, as normas de gestão e prestação
de contas, além de saber o que é o terceiro setor.
Definição de OSCIP
Existe certa confusão no que diz respeito ao
termo OSCIP; de modo geral, a OSCIP é entendida
como uma instituição em si mesma, porém, OSCIP é
uma qualificação decorrente da lei 9.790 de 23/03/99.
Para entender melhor o assunto, é preciso esclarecer
outra questão em relação a outro termo diretamente
relacionado à OSCIP; as ONGs.
Do mesmo modo que OSCIP – Organização da
Sociedade Civil de Interesse Público, ONG –
Organização Não Governamental, é uma sigla e não um
tipo específico de organização. Não há no direito
brasileiro qualquer designação de ONG. Se procurarmos
Aula 2 | OSCIP: definição e características 44
no código civil ou em outra lei a sigla ONG, não vamos
encontrar. Não há uma espécie de sociedade chamada
ONG no Brasil, mas um reconhecimento supralegal de
cunho cultural, político e sociológico que está em vigor
mundo afora.
Podemos dizer que há um entendimento social
de que ONGs são entidades às quais as pessoas se
vinculam por identificação pessoal com a causa que
elas promovem. Essas entidades, por natureza, não
têm finalidade lucrativa, mas uma finalidade maior,
genericamente filantrópica, humanitária, de defesa de
interesses que costumam ser de toda a população e
que, historicamente, deveriam ser objeto de atividade
do poder público. Destina-se a atividades de caráter
eminentemente público, sendo a parcela da sociedade
civil, como um todo, que se organiza na defesa de seus
interesses coletivos. Dessa forma, distinguem-se até de
seus sócios e passam a fazer genericamente parte do
patrimônio de toda a sociedade, às vezes, no mundo
inteiro.
A sigla ONG, então, expressa genericamente o
conjunto de organizações do terceiro setor tais como
associações, cooperativas, fundações, institutos.
Por não governamentais considera-se o fato de
que essas organizações normalmente exercem alguma
função pública, isto é, embora não pertençam ao
Estado, ofertam serviços sociais, geralmente de caráter
assistencial, que atendem a um conjunto da sociedade
maior que apenas os fundadores e/ou administradores
da organização. Assim, a esfera de sua atuação é a
esfera pública, embora não estatal. É importante
mencionar, também, que nem todas as ONGs têm uma
função pública direcionada à promoção do bem-estar
social (educacionais, de tratamento médico, de
caridade aos pobres, científicas, culturais) e que
apresentam diferentes graus de institucionalização. Há
Aula 2 | OSCIP: definição e características 45
ONGs cuja função é única e exclusivamente atender aos
interesses do seu grupo fundador e/ou administrador,
como alguns sindicatos, as cooperativas, as associações
de seguro mútuo.
Caracterizam-se normalmente por serem
organizações constituídas para fins não econômicos e
finalidade não lucrativa, em grande medida com
trabalho voluntário e, dependentes financeiramente, na
maioria das vezes, de doações privadas e/ou estatais.
Nada impede, contudo, que tenham fins econômicos ou
atividades de cunho econômico, mas cumpre saber
distingui-las das sociedades comerciais, cuja
característica é ter atividade econômica, produzir lucro
e dividi-lo entre os sócios. Por isso, em sua maior
parte, sua natureza é civil.
Juntando-se as peças desse quebra-cabeça,
temos que ONGs são em geral:
Associações civis;
Sem fins lucrativos;
De direito privado;
De interesse público.
Agora que já discutimos o que é ONG, voltemos
à OSCIP. Como dissemos acima, OSCIP é uma
qualificação decorrente da lei 9.790 de 23/03/99.
Considerando a exposição que fizemos sobre ONGs,
podemos dizer que OSCIPs são ONGs, que obtêm um
certificado emitido pelo poder público federal ao
comprovar o cumprimento de certos requisitos.
Ainda está confusa a definição de OSCIPs?
A lei 9.790 de 23/03/99, também conhecida
como Lei do Terceiro Setor, é um marco na organização
desse setor. Promulgada a partir de discussões
Dica do professor
Resumindo: ONG não existe em nosso ordenamento jurídico. É um fenômeno mundial, onde a sociedade civil se organiza espontaneamente para a execução de certo tipo de atividade cujo cunho o caráter é de interesse público. A forma societária mais utilizada é a da associação civil (em contrapartida às organizações públicas e às organizações comerciais). São regidas por estatutos, têm finalidade não econômica e não lucrativa. Fundações também podem vir a ser genericamente reconhecidas como
ONGs.
Aula 2 | OSCIP: definição e características 46
promovidas entre governo e lideranças de organizações
não governamentais, esta lei é o reconhecimento legal
e oficial das ONGs, principalmente pela transparência
administrativa que a legislação exige.
As ONGs, que com a adoção da lei 9.790
provavelmente passarão a ser “chamadas” de OSCIP's,
são entidades privadas atuando em áreas típicas do
setor público, e o interesse social que despertam
merece ser, eventualmente, financiado, pelo Estado ou
pela iniciativa privada, para que suportem iniciativas
sem retorno econômico.
Como qualificação, a OSCIP é opcional, significa
dizer que as ONGs já constituídas podem optar por
obter a qualificação e as novas podem optar por
começar já se qualificando como OSCIP.
Para obter essa qualificação, é necessário o
cumprimento de alguns pré-requisitos que a
legislação estabelece, mas, principalmente, se
enquadrar em alguns dos objetivos sociais, finalidades,
já estabelecidos na lei:
Promoção da assistência social;
Promoção da cultura, defesa e conservação
do patrimônio histórico e artístico;
Promoção gratuita da educação, observando-
se a forma complementar de participação das
organizações;
Promoção gratuita da saúde, observando-se a
forma complementar de participação das
organizações;
Promoção da segurança alimentar e
nutricional;
Defesa, preservação, conservação do meio
ambiente e promoção do desenvolvimento
sustentável;
Aula 2 | OSCIP: definição e características 47
Promoção do voluntariado;
Experimentação sem fins lucrativos de novos
modelos socioprodutivos e de sistemas
alternativos de produção, comércio, emprego
e crédito;
Promoção de direitos estabelecidos,
construção de novos direitos e assessoria
jurídica gratuita de interesse suplementar;
Promoção da ética, da paz, da cidadania, dos
direitos humanos, da democracia e de outros
valores universais;
Estudos e pesquisas, desenvolvimento de
tecnologias alternativas, produção e
divulgação de informações e conhecimentos
técnicos e científicos que digam respeito às
atividades mencionadas acima.
OSCIP: principais características
No dia 30 de junho de 1999, o Presidente da
República regulamentou por intermédio do Decreto no
3.100 a lei no 9.790, que dispõe sobre a qualificação de
pessoas jurídicas de direito privado e sem fins
lucrativos como Organizações da Sociedade Civil de
Interesse Público, instituindo e disciplinando o Termo
de Parceria.
Cabe destacar que a nova lei abre às entidades
do Terceiro Setor um caminho institucional mais
moderno, condizente com as necessidades atuais da
sociedade, já que rompe com as velhas amarras
regulatórias. Pela primeira vez, o Estado reconhece
publicamente a existência de uma esfera que é pública,
não pela sua origem, mas pela sua finalidade: é
pública, embora não estatal.
Assim como qualquer outra entidade, as OSCIPs
têm um Estatuto, no qual deverá conter requisitos
Aula 2 | OSCIP: definição e características 48
legais; apresentados anteriormente na definição de
OSCIP.
É necessário, por exemplo, que em caso de
dissolução da entidade, o seu patrimônio passe para
outra que tenha o mesmo objeto social da extinta (de
preferência), e não caia em mãos de diretores ou seja
usado de outra maneira não prevista no Estatuto.
O pedido de obtenção de qualificação como
OSCIP deve ser enviado ao Ministério da Justiça,
através de um requerimento contendo os documentos
exigidos (como, por exemplo, o Estatuto registrado em
cartório ou a declaração de isenção do Imposto de
Renda). Sua desqualificação resulta do não
cumprimento de quaisquer destes requisitos, mediante
processo administrativo ou judicial.
Pela nova lei, a qualificação passa a ser
automática, desburocratizando-se o processo. A
qualificação é ato vinculado ao cumprimento dos
preceitos estabelecidos na lei (Ministério da Justiça).
Não é mais necessário o Título de Utilidade Pública
Federal, Registro de Entidade de Assistência Social ou
Certificado de Fins Filantrópicos.
A nova lei cria um novo instrumento jurídico: o
Termo de Parceria. Para ter acesso ao mesmo, a
entidade precisa ser qualificada como OSCIP.
CINCO PASSOS QUE LEVAM À FUNDAÇÃO DE UMA
ONG
Primeiro Passo: Convocação
As pessoas de uma determinada região; sejam
elas de uma comunidade, de um sindicato, de um
bairro, de uma escola, ou clube, que tenham como
Importante
Pela nova lei, a escolha dos parceiros é feita por meio de concursos de projetos. Os objetivos e metas são negociados entre as partes e o controle é feito por resultados. Os Conselhos de Políticas serão consultados para elaborar os Termos de Parceria e fiscalizarão os resultados.
Dica do
professor
Os dirigentes das OSCIPs podem ser remunerados; e no caso do uso indevido
de recursos estatais, as entidades e seus dirigentes serão severamente punidos.
Aula 2 | OSCIP: definição e características 49
objetivo um trabalho de interesse público, estarão
aptas a criar uma entidade. Podem estar preocupadas
com a defesa de um rio, de uma cidade, de uma praça,
de uma praia ou outra riqueza natural ou cultural, ou
com os direitos de comunidades (índios, caiçaras,
pescadores, quilombolas). Ou a fim de investir no
desenvolvimento humano como criar, por exemplo,
centros educacionais e esportivos, creches, e
associações de assistência às pessoas carentes.
O primeiro passo é se juntar e se mobilizar,
convocando uma reunião através de telefonemas,
cartas, anúncio na rádio local, panfletos e jornais, ou
outros meios, para seduzir as pessoas em relação à
importância da criação da entidade que estão
pretendendo.
Deve ser formada, também, uma Comissão de
Redação do Estatuto Social, que deverá ser pequena e
ágil, no sentido de formular e apresentar uma proposta
de estatuto que será discutido, analisado, modificado
(se necessário) e finalmente aprovado pela Assembléia
Geral, sendo que, neste dia, terão que ser
providenciadas cópias para todos.
Segundo Passo: Assembléia geral
A Assembléia Geral de fundação da entidade, na
qual será oficializada a mesma, com a convocação de
todos os interessados, deverá ocorrer após definida a
missão da entidade e redigida a primeira proposta de
Estatuto.
Esta Assembléia deve ser precedida de uma
carta convite, contendo o dia, a hora, o local, além dos
objetivos desta e da pauta da reunião.
Importante
O que deverá ser explicitado na reunião são os objetivos da entidade, sua importância, assim como sua necessidade, além da definição de uma comissão de preparação das próximas reuniões, com a divisão de tarefas e responsabilidades.
Dica do professor
No dia da Assembléia, deverá haver um livro de presença que registrará todos os interessados em participar da Assembléia e um Livro de Atas, no qual serão anotadas as assembléias, assinadas pelos presentes.
Importante
Cada artigo que a Assembléia ache polêmico, ou seja destacado, deve ser discutido,
modificado (se necessário) e aprovado.
Aula 2 | OSCIP: definição e características 50
Uma mesa dirigente dos trabalhos com um
presidente e dois secretários deverá ser eleita pela
Assembléia.
Após a leitura da pauta pelo presidente, este
deverá encaminhar os debates, principalmente o do
Estatuto.
Terceiro Passo : Estatuto
A comissão deve ler o Estatuto e distribuir uma
cópia para cada presente.
Abaixo estão alguns itens essenciais que devem
estar contidos nos Estatutos:
Nome e sigla da entidade;
Sede e foro;
Finalidades e objetivos;
Se os sócios respondem pelas obrigações da
sociedade;
Quem responde pela entidade;
Os sócios e seus tipos, entrada e saída,
direitos e deveres;
Poderes, tais como assembléia, diretoria,
conselho fiscal;
Tempo de duração;
Como os estatutos são modificados;
Como a entidade é dissolvida;
Qual o destino do patrimônio, em caso de
dissolução.
Quarto Passo : A posse da diretoria
A eleição da diretoria deve seguir o que foi
aprovado no Estatuto; e, após eleita, deve ser
conferida a posse dos cargos aos eleitos.
Aula 2 | OSCIP: definição e características 51
Finalmente, foi fundada a Entidade, entretanto,
ela ainda não possui "status" legal, o que só ocorre
após alguns procedimentos burocráticos.
Quinto Passo : Como proceder para o registro
legal
Devido à grande burocracia e às exigências
específicas de cada cartório, é necessária muita
paciência, pois sempre faltará algum item.
Não é recomendável colocar o endereço da
Entidade no Estatuto, pois a burocracia se repetirá a
cada mudança de endereço.
A documentação terá que ser reunida e
encaminhada ao Cartório de Registro Civil de Pessoas
Jurídicas, além de pagar as taxas, registrar o Livro de
Atas, os Estatutos e publicar um extrato dos mesmos,
aprovados no Diário Oficial:
3 cópias dos estatutos em papel timbrado;
3 cópias da Ata de Fundação datilografada,
assinadas pelo presidente e demais diretores
com firma reconhecida;
Livro de atas original;
Pagamento de taxas do cartório (se houver);
3 cópias da Relação Qualificada da Diretoria
(nome, cargo, estado civil, nascimento,
endereço, profissão, identidade e CPF);
3 cópias da relação de sócios fundadores;
Um resumo contendo os principais pontos dos
Estatutos que, às vezes, é solicitado pelo
cartório para que seja apresentado no Diário
Oficial.
Todos estes documentos fazem com que a
entidade passe a ter personalidade jurídica, mas no
caso de realizar operações financeiras, abrir conta
Aula 2 | OSCIP: definição e características 52
bancária ou celebrar contratos, é necessário, também,
que a entidade tenha o CGC. Para isto, basta procurar
uma delegacia regional da Secretaria da Receita
Federal, com todos os documentos registrados no
cartório, autenticados e carimbados e os documentos
do responsável pela entidade. Além disso, deve-se
preencher um formulário padrão e dar entrada para
obtenção do CGC.
EXERCÍCIO 1
As OSCIPs, por natureza, não têm finalidade lucrativa,
mas uma finalidade maior, genericamente filantrópica,
humanitária, de defesa de interesses que costumam ser
de toda a população. Pode-se afirmar que as OSCIPs
cumpram funções sociais que, historicamente,
deveriam ser:
( A ) Objeto de atividade do poder judiciário;
( B ) Objeto de atividade da sociedade civil;
( C ) Objeto de atividade da comunidade;
( D ) Objeto de atividade do poder público;
( E ) Objeto de atividade de ONGs.
EXERCÍCIO 2
Diferentemente das organizações públicas e as
organizações comerciais, a forma societária mais
utilizada para as OSCIPs é:
( A ) Associação civil;
( B ) Associação comunitária;
( C ) Associação de direito privado;
( D ) Sociedade anônima;
( E ) Organização não governamental.
Aula 2 | OSCIP: definição e características 53
EXERCÍCIO 3
Identifique em no máximo 10 a 20 linhas, as principais
razões que expliquem o surgimento de tantas ONGs no
Brasil no inicio da década de 90 até hoje.
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
EXERCÍCIO 4
Você acha que as ONGs no Brasil devem ser
fiscalizadas por meio de uma CPI no congresso?
Justifique.
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
RESUMO
Vimos até agora:
O processo de elaboração da chamada “Lei
das OSCIPs” ou “Marco Legal do Terceiro
Setor” foi impulsionado por duas rodadas de
interlocução política entre a Sociedade Civil e
o Estado promovido pelo Conselho da
Comunidade Solidária entre 1997 e 1998;
Aula 2 | OSCIP: definição e características 54
Como qualificação, a OSCIP é opcional,
significa dizer que as ONGs já constituídas
podem optar por obter a qualificação e, as
novas, podem optar por começar já se
qualificando como OSCIP. Mas, para obter
essa qualificação é necessário o cumprimento
de alguns pré-requisitos;
O detalhamento dos cinco passos que levam a
fundação de uma ONG, buscando esclarecer
cada uma das etapas e suas exigências
legais;
Pela nova lei, a qualificação passa a ser
automática, desburocratizando-se o processo.
A qualificação é ato vinculado ao
cumprimento dos preceitos estabelecidos na
Lei (Ministério da Justiça). Não é mais
necessário o Título de Utilidade Pública
Federal; Registro de Entidade de Assistência
Social; ou Certificado de Fins Filantrópicos.
Gestão de OSCIPs
Koffi Amouzou
AU
LA
3
Ap
res
en
taç
ão
Esta aula busca explicar conceitos bastantes presentes no
universo do terceiro setor, como “lucro”, “finalidade lucrativa” e
remuneração. Feitas as explicações conceituais, parte-se para as
informações práticas e funcionais sobre constituição de uma
associação, elaboração do estatuto e formação do quadro de
dirigentes. A partir dessas noções, foram expostos os
procedimentos específicos para a regularização de uma OSCIP. Ao
se conhecer todas essas informações, é importante esclarecer e
explicar mais detalhadamente o denominado “Termo de Parceria”
criado pela lei das OSCIPs. Finalmente, mais alguns conceitos são
explicados para que se entenda o funcionamento e possibilidades
trazidas pela OSCIP, como “imunidade tributária”, “isenção de
imposto de renda”, “remuneração de dirigentes” e
“financiamento”. São, portanto, temas tratados nesta aula: Principais características de OSCIP – funcionalidade – gestão -
legislação e tributação - Acesso a recursos para realização de
projetos e Prestação de Contas Anual da OSCIP.
Ob
jeti
vo
s
Esperamos que, após o estudo do conteúdo desta aula, você seja
capaz de:
Conhecer todos os aspectos relacionados à gestão e formação
das OSCIPs, como remuneração dos dirigentes, resultados
financeiros, tributação e outros;
Entender a prestação de contas anual da OSCIP e saber os
documentos que devem ser publicados;
Compreender o que é o Terceiro Setor a partir do
conhecimento do Primeiro e Segundo setores.
Aula 3 | Gestão de OSCIPs 56
Da gestão das OSCIPs
A legislação reconhece o princípio da
autogestão. As OSCIPS são organizações democráticas
controladas pelos seus membros, que participam
ativamente na formulação das suas políticas e na
tomada de decisões.
A OSCIP é administrada por:
Assembléia Geral: composta pelos
associados;
Diretoria – eleita pela Assembléia Geral,
responsável pela administração da instituição;
Conselho Fiscal – também eleito pela
Assembléia Geral e responsável pelo
acompanhamento do cumprimento do
estatuto social por parte de todos os
associados, pelo acompanhamento do
cumprimento das políticas e decisões
aprovadas pela Assembléia Geral.
DA FORMAÇÃO DE OSCIPS
As OSCIPs podem ser constituídas por um
número ilimitado de pessoas físicas. Para preencher
todos os cargos (diretoria e conselho fiscal) previstos
na legislação, deverá ser composta por um mínimo de
10 pessoas.
DO PATRIMÔNIO
O patrimônio das OSCIPs será constituído de
bens móveis, imóveis, veículos, semoventes, ações e
títulos da dívida pública.
No caso de dissolução da instituição, o
respectivo patrimônio líquido será transferido a outra
Aula 3 | Gestão de OSCIPs 57
pessoa jurídica qualificada nos termos da lei 9.790/99,
preferencialmente que tenha o mesmo objetivo social
(Lei 9.790/99, inciso IV do art. 4º).
Na hipótese da Instituição obter e,
posteriormente, perder a qualificação instituída pela Lei
9.790/99, o acervo patrimonial disponível, adquirido
com recursos públicos durante o período em que
perdurou aquela qualificação, será contabilmente
apurado e transferido a outra pessoa jurídica
qualificada nos termos da mesma Lei,
preferencialmente que tenha o mesmo objetivo social.
(Lei 9.790/99, inciso V do art. 4º).
DA REMUNERAÇÃO DOS DIRIGENTES
A remuneração dos dirigentes é um dos avanços
da nova lei, que busca acabar com alguns subterfúgios
que as instituições utilizam para remunerar seus
dirigentes. A lei prevê a opção pela remuneração dos
dirigentes nos seguintes termos:
A instituição remunera seus dirigentes que
efetivamente atuam na gestão executiva e aqueles que
lhe prestam serviços específicos, respeitados, em
ambos os casos, os valores praticados pelo mercado na
região onde exerce suas atividades. (Lei 9.790/99,
inciso VI do art. 4º).
Caso a instituição opte por remunerar seus
dirigentes, ficará impedida de:
Concorrer ou manter a Declaração de Utilidade
Pública e o Certificado de Entidade Beneficente de
Assistência Social;
Ficar isenta do Imposto de Renda. Vale ainda
ressaltar, que a expressão “a possibilidade de
instituir remuneração para os dirigentes...”, como
consta literalmente do inciso VI do art. 4º da Lei
9.790/99, resulta nas mesmas implicações da
expressão ”A instituição remunera seus
dirigente...” como citado na sua finalidade.
Importante
Observe que a compreensão da OSCIP (Organização da Sociedade Civil de Interesse
Público) é fundamental para a continuação da leitura deste caderno. Portanto, se dedique bastante a esta leitura e desenvolva os exercícios propostos a fim de averiguar seus conhecimentos.
Aula 3 | Gestão de OSCIPs 58
A partir da MP 66, as OSCIPs que optam por
remunerar seus dirigentes poderão ter isenção do
Imposto de Renda (Lei nº 9.532/97) e receber doações
dedutíveis das empresas doadoras (Lei 9.249/95). Até
a edição dessa MP, a entidade que remunerava seus
dirigentes perdia tais benefícios, conforme
determinações expressas nas leis específicas. A
possibilidade de remunerar dirigentes permite que as
organizações tenham um quadro de dirigentes
profissionalizado.
Portanto, com a edição da MP 66, finalmente se
reconhece que há diferença entre o conceito de “sem
fins lucrativos” (atividade desinteressada que se
relaciona a fins que não resultem em benefício aos
sócios) e “remuneração de dirigentes”, que é a
contrapartida a serviços prestados. Ou seja, para a
entidade ser caracterizada como “sem fins lucrativos” e
obter os benefícios fiscais referentes a associações
deste caráter, não é mais necessário que não se
remunere seus dirigentes. Em outras palavras, é
possível que a associação remunere dirigentes e ainda
assim seja considerada “sem fins lucrativos”.
Importante notar que a MP refere-se
expressamente à “hipótese de remuneração de
dirigente, em decorrência de vínculo empregatício”. Ou
seja, os dirigentes devem ser empregados da
instituição e não apenas prestadores de serviço, para
fazerem jus à isenção. Isso quer dizer que a
remuneração dos dirigentes será o „salário‟, e não
qualquer outra forma de contrapartida (bonificações, ou
outros benefícios, por exemplo).
O parágrafo único da MP 66, diz que a
permissão da remuneração com isenção aplica-se
somente à remuneração não superior, em seu valor
bruto, ao limite estabelecido para a remuneração de
servidores do Poder Executivo Federal.
Aula 3 | Gestão de OSCIPs 59
DOS RESULTADOS FINANCEIROS
Os recursos financeiros necessários à
manutenção da instituição poderão ser obtidos por:
Termo de Parceria, Convênios e Contratos
firmados com o Poder Púbico para
financiamento de projetos na sua área de
atuação;
Contratos e acordos firmados com empresas
e agências nacionais e internacionais;
Doações, legados e heranças;
Rendimentos de aplicações de seus ativos
financeiros e outros, pertinentes ao
patrimônio sob a sua administração;
Contribuição dos associados;
Recebimento de direitos autorais.
DA TRIBUTAÇÃO DAS OSCIPS
A tributação das OSCIPS segue basicamente os
critérios tributários das associações e,
conseqüentemente, tem na tributação um dos maiores
complicadores para esse tipo de instituição,
principalmente por não haver indicações claras sobre
todos os tributos (tributo inclui impostos, taxas e
contribuições), principalmente pelas várias
possibilidades de atuação das associações e pelo fato
de muitos tributos terem legislações diferentes nos
vários níveis de governo (federal, estadual e
municipal). É importante considerar, ainda, as várias
alterações que a legislação tributária vai sofrendo ao
longo do tempo.
Existem três tipos de categorias de relações com
a obrigação de pagar tributos:
Na imunidade, a sociedade não é submetida a
determinados impostos e taxas por força consti-
:: OSCIPs:
Segundo WIKIPEDIA, são ONGs criadas por iniciativa privada, que obtêm um
certificado emitido pelo poder público federal ao comprovar o cumprimento de certos requisitos, especialmente aqueles derivados de normas de transparência administrativas.
Aula 3 | Gestão de OSCIPs 60
tucional. É o caso das associações
filantrópicas e todas as demais sociedades
que não têm “renda”. Ficam imunes ao
Imposto de Renda Pessoa Jurídica.
A não incidência, que é quando o ato
realizado não se encaixa no que é previsto na
legislação correspondente. Por exemplo, a
transferência de produtos do associado para a
sua cooperativa não é considerada “circulação
de mercadorias”. Por isso, não incide nesta
operação o Imposto de Circulação de
Mercadorias.
A incidência, que é quando, genericamente,
deve ser recolhido o tributo. Em relação à
incidência, quatro possibilidades podem
ocorrer:
O produto é tributado. O imposto (taxa ou
contribuição) deve ser recolhido;
O produto é, especificamente, não
tributado, por força de lei. Neste caso, há
incidência, mas uma lei livra o produto de
determinado imposto;
O produto é isento. Neste caso, o produto
é tributado, mas uma decisão do poder
público libera o recolhimento do imposto
correspondente. Dos produtos da cesta
básica, as hortaliças e as frutas são isentas
do ICMS por decisão do próprio poder
público;
O deferimento ocorre quando o imposto é
devido, está presente na nota fiscal, mas o
mesmo é assumido temporariamente pelo
poder público (o governo empresta) com a
finalidade de incentivar o consumo. É o
caso das compras de adubo.
A legislação tributária brasileira é muito confusa,
em alguns casos há a isenção em um Estado e não há
Aula 3 | Gestão de OSCIPs 61
em outro; os Estados e Municípios têm autonomia para
decidir se em seus tributos se efetuam ou não as
cobranças. Vamos destacar aqui os mais importantes e
que afetam as OSCIP diretamente:
Impostos federais
Imposto sobre Importação: Caso a OSCIP
importe algum produto.
Imposto sobre Exportação: Caso a OSCIP
exporte algum produto.
Imposto sobre Renda e proventos de
qualquer natureza (IRPJ): No caso das OSCIPs,
ocorre a imunidade (são liberadas pela constituição)
desde que cumpram alguns requisitos, especialmente
no que se refere:
À não remuneração de dirigentes;
À não distribuição de sobras/ganhos
financeira para os seus associados;
À aplicação de suas rendas e patrimônio na
consecução dos objetivos, em território
nacional.
Imposto sobre Produtos Industrializados
(IPI): Ocorre quando a OSCIP compra algum produto
industrializado (o imposto vem embutido no preço). No
caso de a OSCIP industrializar e vender algum dos seus
produtos, dependerá do tipo de produto (há produtos
que são isentos) para ocorrer o imposto. A isenção
somente poderia ocorrer caso a associação conseguisse
a equiparação com o atual regime jurídico da
microempresa.
Imposto sobre Operações Financeiras
(IOF): pago nas operações de crédito, câmbio, seguros
e outras aplicações bancárias.
Importante
Cabem também as retenções do imposto na fonte nos pagamentos de salários (de empregados cuja remuneração ultrapasse a tabela de IRPF), recolhidas mensalmente, bem como os recolhimentos correspondentes sobre eventuais ganhos obtidos em aplicações financeiras.
É obrigatória a Declaração de Ajuste Anual do Imposto de Renda Pessoa Jurídica.
Aula 3 | Gestão de OSCIPs 62
Imposto Territorial Rural (ITR): Pago sobre
eventuais propriedades que a associação tenha em área
rural.
Contribuições para a União
Contribuição Provisória sobre
Movimentação ou Transmissão de Valores e de
Créditos e Direitos de Natureza Financeira
(CPMF): Se cobravam, da OSCIP, as movimentações e
transmissões de recursos depositados em instituições
financeiras. É uma taxa de 0,38%.
Encargos trabalhistas e previdenciários –
INSS, FGTS e outros: Em relação à folha de pessoal
(empregados contratados), a associação recolhe
aproximadamente 52% de encargos (contribuição
patronal, FGTS, férias, 13º.)
Contribuição Sobre a Produção Rural: As
OSCPs que eventualmente desenvolvem atividades
produtivas rurais (como o devem fazer todos os
produtores rurais) pagam 2,5% ao INSS sobre a receita
bruta da comercialização da produção.
Contribuição para o Financiamento da
Seguridade Social (COFINS): Nem as associações
nem as cooperativas estavam submetidas a esta
contribuição nas operações com associados. No
entanto, uma Medida Provisória recente retirou todas
as sociedades civis da isenção do COFINS. Agora é
As OSCIP‟s, assim como as associações, ao contrário
das cooperativas, não contam com a não-incidência
do ICMS nas operações entre associados e a sua
entidade. Mas podem ser beneficiadas (como
também as outras empresas e cooperativas) por
políticas estaduais e locais que desejam incentivar
determinada atividade produtiva, como no caso da
comercialização de produtos da cesta básica, da venda de artesanato.
Aula 3 | Gestão de OSCIPs 63
obrigatório o pagamento de 3% sobre a receita bruta
proveniente da venda de mercadorias e serviços, sendo
que sobre a mesma podem ser aplicadas algumas
deduções. Alguns ramos do cooperativismo, seguindo
orientações de seus departamentos jurídicos, estão
fazendo depósito em juízo dessa contribuição, enquanto
aguardam decisão judicial definitiva sobre o caso.
Taxas para a união
Taxas Portuárias: Para eventual utilização dos
portos no caso de exportação.
Taxas de Classificação: Devidas aos
Ministérios da Agricultura ou da Saúde para inspeção,
fiscalização e licenciamento de comercialização de
produtos animais ou vegetais. No caso de a OSCIP ter
produtos industrializados, com marca própria, deverá
registrá-los, conforme o caso, em um dos ministérios
acima mencionados.
Impostos para os estados
Imposto sobre a Propriedade de Veículos
Automotores (IPVA)
Imposto sobre a Transmissão de Bens
Imóveis (ITBI)
Imposto sobre Circulação de Mercadorias
(ICMS): De modo geral, o fisco estadual vem cobrando
o ICMS para a circulação de mercadorias
(movimentação física de qualquer produto ocasionada
por operações realizadas no exercício do comércio, da
indústria ou da produção de bens econômicos) das
OSCIPs. Alguns estados estabeleceram percentuais
menores ou mesmo isentaram as operações de OSCIPs.
Em outros, são determinados produtos que são isentos.
Importante
Antes da Lei 9.790/99 a forma de interação financeira entre o setor público e o privado era o convênio, que representava inúmeros problemas nas prestações de conta. Mas, com esta Lei, se tornou possível uma prestação de contas por métodos que se baseiam mais na eficiência/eficácia do
que na formalidade das contas.
Aula 3 | Gestão de OSCIPs 64
Taxa para os estados
Taxa de registro das OSCIPs nos cartórios.
Impostos para os municípios
Imposto Predial e Territorial Urbano
(IPTU): Pago sobre as propriedades da associação na
cidade.
O Imposto sobre Serviços de Qualquer
Natureza (ISSQN): Há toda uma polêmica a respeito
do recolhimento do ISSQN. Nos casos em que
profissionais vinculados à associação já recolhem
ISSQN, não há por que repetir o recolhimento. Nos
demais casos, enquanto não há uma legislação
específica, cabe uma alíquota (que varia de município
para município) sobre os pagamentos de serviços
prestados pela associação. A não ser que consigam
negociar com as prefeituras uma declaração de não
incidência. É que os municípios têm autonomia para
cobrar ou isentar as associações deste imposto. As
associações que prestam serviços devem se inscrever
nas prefeituras do local de suas sedes, requerendo a
isenção de ISS se for o caso.
Imposto sobre Vendas a Varejo de
Combustíveis Líquidos e Gasosos: Imposto
embutido no preço dos combustíveis.
Laudêmio: No caso da utilização de terras
públicas.
Imposto sobre transmissão inter vivos de
bens imóveis por atos onerosos ou acessão física.
Taxas para o município
Taxa de Limpeza Pública, Taxa de
Iluminação Pública: Outras inúmeras taxas e
Aula 3 | Gestão de OSCIPs 65
contribuições dependendo do serviço prestado pelo
órgão público.
PRESTAÇÃO DE CONTAS ANUAL DA OSCIP
A prestação de contas anual da OSCIP (Lei
9.790/99, inciso VII do art. 4º e Decreto 3.100/99, art.
11) é diferente da prestação de contas do Termo de
Parceria (Decreto 3.100/99, art. 12).
No caso da prestação de contas anual da OSCIP,
ela deve ser feita sobre a totalidade das operações
patrimoniais e resultados da entidade, devendo ser
apresentados os seguintes documentos:
Relatório anual de execução de atividades;
Demonstração de resultados do exercício;
Balanço patrimonial;
Demonstração das origens e aplicações de
recursos;
Demonstração das mutações do patrimônio
social;
Notas explicativas das demonstrações
contábeis, caso necessário;
Parecer e relatório de auditoria independente,
somente para os casos em que os recursos
recebidos pela OSCIP, por meio de Termos de
Parceria, forem maior ou igual a
R$600.000,00 (seiscentos mil reais).
A prestação de contas anual da entidade deve
ser feita por um contador registrado no Conselho
Regional de Contabilidade, seguindo os princípios
fundamentais da contabilidade e as Normas Brasileiras
de Contabilidade.
Esta prestação de contas é um dos itens que o
órgão público pode requisitar para verificação antes de
celebrar o Termo de Parceria.
Importante
O controle social e a transparência, de acordo com a Lei 9.790/99, qualquer cidadão pode requerer, judicial ou administrativamente, a perda da qualificação de uma entidade OSCIP, desde que amparado por evidências de erro ou fraude.
Aula 3 | Gestão de OSCIPs 66
No caso específico das fundações de direito
privado, a prestação de contas anual deve continuar
sendo enviada ao Ministério Público.
DOCUMENTOS QUE DEVEM SER PUBLICADOS
A seguir, apresentamos a lista dos documentos
que devem ser publicados ou estar disponíveis para o
exame de qualquer cidadão:
O extrato do Termo de Parceria, conforme
anexo I do Decreto 3.100/99, deve ser
publicado pelo órgão estatal parceiro no
Diário Oficial após 15 dias da assinatura;
O demonstrativo da execução física e
financeira do Termo de Parceria deve ser
preenchido e publicado pela OSCIP na
imprensa oficial, 60 dias após o término do
exercício financeiro, de acordo com o Modelo
II do Decreto 3.100/99;
O Regulamento de Aquisição de Bens e
Contratação de Obras e Serviços deve ser
publicado em Diário Oficial da União, do
Estado ou do Município (dependendo do nível
de governo em que se encontra o parceiro),
no prazo máximo de trinta dias, contando a
partir da assinatura do Termo de Parceria;
O relatório de atividades e das demonstrações
financeiras da entidade, incluindo as certidões
negativas de débitos junto ao INSS e ao
FGTS, por qualquer meio eficaz (pela
Internet, afixado na Prefeitura ou outro local
público, jornal do bairro) no encerramento do
exercício fiscal.
Estatuto de OSCIPs
O Estatuto de uma entidade que pretende obter
a qualificação de OSCIP deve conter, além dos
Aula 3 | Gestão de OSCIPs 67
requisitos legais e gerais para todas as associações, os
seguintes itens:
A observância dos princípios da legalidade,
impessoalidade, moralidade, publicidade,
economicidade e eficiência;
A adoção de práticas de gestão
administrativa, necessárias e suficientes para
coibir a obtenção, de forma individual ou
coletiva, de benefícios ou vantagens pessoais,
até parentes do terceiro grau, ou em favor de
pessoas jurídicas vinculadas, em decorrência
da participação no respectivo processo de
decisão;
A constituição de conselho fiscal dotado de
competência para opinar sobre
demonstrações financeiras, emitindo
pareceres aos órgãos superiores da entidade;
A previsão de que, em caso de dissolução da
entidade, o respectivo patrimônio líquido seja
transferido a outra entidade qualificada nos
termos da mesma lei, preferencialmente com
objeto social assemelhado ao da extinta;
A previsão de que, na hipótese de perda de
qualificação de que trata a lei, o patrimônio
amealhado com recursos públicos durante o
período de qualificação seja revertido a outra
entidade qualificada;
As normas de prestação de contas a serem
observadas pela entidade que, no mínimo,
atenderão aos princípios fundamentais da
contabilidade e às Normas Brasileiras de
Contabilidade, serão objeto de divulgação
pública por qualquer meio eficaz, até mesmo
com certidões negativas de tributos, FGTS e
INSS, e serão objeto de auditoria nos termos
do regulamento.
Importante
OSCIP é uma pessoa jurídica de direito privada, sem fins lucrativos, regida por estatuto.
Observe o detalhamento ao lado sobre o estatuto de uma OSCIP.
Aula 3 | Gestão de OSCIPs 68
Cláusulas especiais do Termo de Parceria
São seis as cláusulas especiais do Termo de
Parceria:
A do objeto, contendo a especificação do
programa de trabalho;
A de estipulação das metas e dos resultados a
serem atingidos e os respectivos prazos de
execução ou cronograma;
A de previsão expressa dos critérios objetivos
de avaliação de desempenho a serem
utilizados, mediante indicadores de resultado;
A de previsão de receitas e despesas a serem
realizadas em seu cumprimento;
A que estabelece as obrigações da OSCIP,
entre as quais a de apresentar ao Poder
Público, ao término de cada exercício,
relatório sobre a execução do objeto do Termo
de Parceria, contendo comparativo específico
das metas propostas com os resultados
alcançados, acompanhado de prestação de con-
Para se qualificar como OSCIP, a entidade deve:
Não ter fins lucrativos, conforme art. 1º da lei
9.790/99;
Não ter nenhuma das formas de pessoas jurídicas
listadas no art. 2º da lei 9.790/99;
Ter objetivos sociais que atendam a pelo menos
uma das finalidades estabelecidas no art. 3º da lei
9.790/99;
Expressar em seu estatuto todas as determinações
do art. 4º da lei 9.790/99;
Apresentar cópias autenticadas dos documentos
exigidos (art. 5º da lei 9.790/99).
Quanto à remuneração de dirigentes, a entidade
para se qualificar como OSCIP deve expressar em
seu estatuto uma das duas opções possíveis:
Não remunera os dirigentes, sob nenhuma forma;
Remunera os dirigentes que efetivamente atuam
na gestão executiva da entidade ou lhe prestam
serviços específicos, de acordo com os valores praticados no mercado da região onde atua.
Aula 3 | Gestão de OSCIPs 69
tas dos gastos e receitas efetivamente
realizados;
A de publicação, na imprensa oficial,
conforme o alcance das atividades celebradas
entre os parceiros, de extrato do Termo de
Parceria e de demonstrativo da sua execução
física e financeira, conforme modelo
simplificado.
Financiamento das OSCIPs
Como já vimos, as OSCIPs têm a possibilidade
de estabelecer parcerias com o Poder Público. Dessa
forma, uma das fontes de financiamento será
proveniente do próprio Poder Público, desde que
estabelecida tal parceria.
Assim, se for realizado um termo de parceria
com a Secretaria de Educação Municipal, por exemplo,
esse órgão poderá disponibilizar recursos para a
realização de projetos da OSCIP. Além disso, outras são
as possibilidades de financiamento, provenientes do
setor privado.
Feitas essas considerações, podemos analisar as
demais fontes de financiamento que a organização
pode obter. As pessoas físicas não são autorizadas a
deduzir de seu imposto de renda as doações efetuadas
a quaisquer entidades, sejam quais forem suas
naturezas (filantrópica, educacional ou de assistência
social) ou ainda que reconhecidas como de utilidade
pública. É evidente que tais doações podem ocorrer de
qualquer forma. No entanto, não terão qualquer
vantagem fiscal.
Já as pessoas jurídicas contam com mais
incentivos federais à doação. A lei 9.249/95, com
redação alterada por uma Medida Provisória, permite a
Importante
De acordo com o disposto com a Lei 9.790/99, as OSCIPs são reconhecidas oficial e legalmente como ONGs, e têm a finalidade de fomentar o fluxo de recursos públicos disponibilizados pelo Estado sob a forma de parcerias.
Aula 3 | Gestão de OSCIPs 70
dedução no Imposto de Renda das Pessoas Jurídicas
até o limite de 2% sobre o lucro operacional das
doações efetuadas às OSCIPs. Além disso, as empresas
se interessam pela publicidade que estas doações
podem dar a elas. É uma grande porta para obtenção
de recursos junto às empresas.
Isso quer dizer que quaisquer empresas podem
disponibilizar recursos para a OSCIP, sejam grandes ou
pequenas. Para isso, normalmente escreve-se um
projeto e se envia para a empresa, requerendo
determinado recurso (que pode ser dinheiro ou bens,
por exemplo). A empresa avalia se interessa a ela
ajudar aquele projeto e por fim disponibiliza os
recursos, conforme os requisitos da lei, podendo obter
isenção fiscal.
Fora os recursos doados por empresas,
inúmeras são as oportunidades de financiamento de
fundações privadas nacionais e internacionais
especialmente criadas para esse fim. Possuem
profissionais que compreendem muito bem o sentido do
terceiro setor. A maioria delas tem um processo de
solicitação padrão que pode ser obtido através da
home-page (página na internet da fundação) ou por um
pedido simples por telefone ou carta. A maioria delas
possui modelos de formulários de solicitação de
recursos que solicitam apresentação de justificativa,
objetivo, avaliação de resultados. Os projetos
costumam ser de um a três anos e os recursos visam
contribuir para a busca da auto-sustentação financeira.
Uma boa forma de captação de recursos é a
realização de eventos. Se forem bem organizados, além
de angariar fundos, podem ser úteis para divulgar a
causa, a missão e os projetos da organização, além de
reconhecer doadores e captar voluntários. Muitas
organizações tendem a desenvolver projetos que
Aula 3 | Gestão de OSCIPs 71
possam gerar receita própria e, se possível, que seja a
fonte principal de seus recursos. Ou seja, tornam-se
auto-sustentáveis.
O QUE É TERCEIRO SETOR
Para entendermos o que é o Terceiro Setor,
devemos localizar anteriormente quais são o Primeiro
Setor e o Segundo Setor.
Na conceituação tradicional, o primeiro setor é o
Estado, representado por entes políticos (Prefeituras
Municipais, Governos dos Estados e Presidência da
República), além de entidades a estes entes ligados
(Ministérios, Secretarias, Autarquias, entre outras).
Quer dizer, chamamos de primeiro setor o setor
público, que obedece ao seu caráter público e exerce
atividades públicas.
O segundo setor é o Mercado (Empresas),
composto por entidades privadas que exercem
atividades privadas, ou seja, atuam em benefício
próprio e particular.
Falando em termos financeiros, o Estado (1º
setor) aplica o dinheiro público em ações para a
sociedade. O Mercado (2º setor) investe o dinheiro
privado nas suas próprias atividades.
O Terceiro Setor é composto de organizações
privadas sem fins lucrativos, que atuam nas lacunas
deixadas pelos setores público e privado, buscando a
promoção do bem-estar social. Quer dizer, o terceiro
setor não é nem público nem privado, é um espaço
institucional que abriga entidades privadas com
finalidade pública. Esta atuação é realizada por meio da
produção de bens e prestação de serviços, com o
investimento privado na área social.
Importante
Resumindo: O terceiro setor também é conhecido como setor com fins não econômicos, organizações da sociedade civil, em contraste com o
primeiro setor que é composto de instituições do Estado e o segundo setor, constituído por empresas privadas que objetivam o lucro.
Aula 3 | Gestão de OSCIPs 72
Isso não significa eximir o governo de suas
responsabilidades, mas reconhecer que a parceria com
a sociedade permite a formação de uma sociedade
melhor. Portanto, o Terceiro Setor não é, e não pode
ser, substituto da função do Estado. A idéia é de
complementação e auxílio na resolução de problemas
sociais.
Para comparar com os termos financeiros
anteriormente explicados, no caso do Terceiro Setor
utiliza-se o dinheiro privado em atividades públicas.
Essa tabela vai ajudar a compreender tal divisão:
Setor Recurso Fim
1º setor (Estado) Público Público
2º
setor (Mercado) Privado Privado
3º
setor (Sociedade Civil) Público e Privado Público
Exemplos de organizações do Terceiro Setor são
as organizações não governamentais (ONGs), as
cooperativas, as associações, as fundações, os
institutos, as instituições filantrópicas, as entidades de
assistência social e, hoje em dia, também, as
Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público
(OSCIPs). Todas são entidades de interesse social e
apresentam como característica em comum a ausência
de lucro e o atendimento de fins públicos e sociais.
Ou seja, existem diversas formas de entidades
do Terceiro Setor. Aqui será apresentada uma opção:
as OSCIPs, por serem mais adequadas às atividades
realizadas pelo grupo.
Aula 3 | Gestão de OSCIPs 73
Considerações finais
Existem diversos sites relacionados ao Terceiro
Setor que devem ser visitados de vez em quando.
Esses sites trazem informações diversas como cursos,
eventos, oportunidades e inúmeros temas relacionados
ao Terceiro Setor.
É extremamente importante se manter
atualizado com o que acontece nessa área. Além disso,
esses sites podem trazer novidades importantes, como
a realização de um curso de captação de recursos ou
um novo concurso para financiamento de projetos, por
exemplo.
Uma boa iniciativa é cadastrar o endereço de e-
mail na lista desses sites. Periodicamente, eles enviam
um boletim eletrônico com as principais novidades. Dois
sites têm um bom serviço nesse aspecto:
www.rits.org.br e www.setor3.com.br.
Além disso, outros sites podem ser visitados
para obtenção de informações sobre o Terceiro Setor e
temas relacionados: www.comunidadesolidaria.org.br;
www.andi.org.br; www.dhnet.org.br; www.idis.org.br;
www.rets.org.br; www.vivafavela.com.br;
www.gef.org.br; www.comcat.org.br;
www.brazilfoundation.org/index_pt_b.html;
www.gife.org.
Finalizando, é importante pensar que o Terceiro
Setor é uma porta que se abre para a formação de uma
sociedade melhor. A profissionalização dessa área traz
novas possibilidades de trabalho e facilita o
envolvimento na realização dos objetivos sociais.
No princípio pode parecer complicado começar
uma organização nova, mas na verdade não é nada que
Aula 3 | Gestão de OSCIPs 74
pessoas preparadas e capacitadas não consigam fazer
tranqüilamente. Os obstáculos sempre aparecem, assim
como as soluções.
Antes do início dos debates, deverá ser formada
uma mesa diretora para conduzir de forma mais
eficiente as discussões. Ela deverá ser composta, no
mínimo, por um presidente dos trabalhos e um
secretário, que lavrará a ata, a ser eleita pelos
presentes em votação simples.
O presidente dos trabalhos deverá empossar
formalmente os eleitos em seus cargos. Não é possível
que uma mesma pessoa ocupe, em órgãos da
administração, cargos que exerçam fiscalização
recíproca, tais como diretoria e conselho fiscal.
Tais requisitos são: identificação de todos os
presentes e a transcrição dos fatos ocorridos, o texto
integral do estatuto aprovado e a relação dos dirigentes
eleitos, com o relato de sua posse. Todos os presentes
e, principalmente, os eleitos deverão ser corretamente
qualificados, com nome, nacionalidade e inscrição no
CPF (obrigatório para os dirigentes).
O requerimento deverá ser assinado por pessoa
com poderes de representação legal da entidade
(conforme previsto no estatuto). É comum que este
requerimento seja acompanhado de duas vias da ata da
assembléia de constituição da entidade, devidamente
visadas por advogado regularmente inscrito na OAB.
O registro declarará:
A denominação, os fins, a sede, o tempo de
duração e o fundo social, quando houver;
O nome e a individualização dos fundadores
ou instituidores e dos diretores;
Importante
O terceiro setor da economia formou nas últimas décadas várias ONG‟s, fundações, agrupamentos voluntários, assim como as OSCIPs, e representa uma grande mudança na sociedade civil.
Aula 3 | Gestão de OSCIPs 75
O modo por que se administra e representa,
ativa e passivamente, judicial e
extrajudicialmente;
Se o ato constitutivo é reformável no tocante
à administração e de que modo;
Se os membros respondem ou não,
subsidiariamente, pelas obrigações sociais;
As condições de extinção da pessoa jurídica e
o destino do seu patrimônio, nesse caso.
EXERCÍCIO 1
Sobre a formação das OSCIPs, é correto afirmar que:
( A ) As OSCIPs podem ser constituídas por um número
limitado de pessoas físicas;
( B ) Todos os cargos (diretoria e conselho fiscal)
previstos na legislação devem ser preenchidos;
( C ) A OSCIP deverá ser composta por um mínimo de
50 pessoas;
( D ) A OSCIP deverá ser composta por um máximo de
150 pessoas;
( E ) Nenhuma das respostas está correta.
Aula 3 | Gestão de OSCIPs 76
EXERCÍCIO 2
Os recursos financeiros necessários à manutenção das
OSCIPs poderão ser obtidos por todas as opções
abaixo, exceto:
( A ) Termo de Parceria, Convênios e Contratos
firmados com o Poder Púbico para financiamento
de projetos na sua área de atuação;
( B ) Contratos e acordos firmados com empresas e
agências nacionais e internacionais;
( C ) Impostos e Taxas Públicas;
( D ) Rendimentos de aplicações de seus ativos
financeiros e outros, pertinentes ao patrimônio
sob a sua administração;
( E ) Contribuição dos associados;
EXERCÍCIO 3
As OSCIPs são instituições sem fins lucrativos. No
entanto, seus dirigentes podem ser remunerados.
Analise esta questão, discutindo as indicações legais.
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
Aula 3 | Gestão de OSCIPs 77
EXERCÍCIO 4
Aponte as características básicas de uma instituição
que pretenda se qualificar como OSCIP.
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
RESUMO
Vimos até agora:
As OSCIPS são organizações democráticas
controladas pelos seus membros, que
participam ativamente na formulação das
suas políticas e na tomada de decisões;
É importante considerar as várias alterações
que a legislação tributária vem sofrendo ao
longo do tempo. Sendo que, atualmente,
existem três tipos de categorias de relações
com a obrigação de pagar tributos, sejam
impostos ou taxas tanto da união, quanto dos
estados e municípios;
O Terceiro Setor é composto de organizações
privadas sem fins lucrativos, que atuam nas
lacunas deixadas pelos setores público e
privado, buscando a promoção do bem-estar
social. Portanto, o terceiro setor não é público
nem privado, é um espaço institucional que
abriga entidades privadas com finalidade
pública.
Elaboração de
Projetos Sociais
Patrícia Nassif
AU
LA
4
A
pre
se
nta
çã
o
Nesta aula se destaca o projeto como etapa fundamental do
processo de planejamento, no que diz respeito as suas
características básicas, critérios em sua elaboração, sua tipologia
e especificidade nos requisitos para um projeto social. Discute-se
o quadro lógico, elaboração de matriz e aplicabilidade desta
(MQL). Importante também é observar o possível prognóstico do
projeto.
Ob
jeti
vo
s
Esperamos que, após o estudo do conteúdo desta aula, você seja
capaz de:
Identificar a importância do planejamento na elaboração de
projetos;
Reconhecer que um projeto é uma unidade administrativa
numa Instituição e contêm seus próprios planos, custos,
equipes e documentos, ajudando a gerenciar processos;
Compreender as etapas do processo de elaboração de projetos
sociais a partir de conceitos e de um exemplo prático.
Aula 4 | Elaboração de projetos sociais 80
Projeto no processo de planejamento
Projetar significa planejar algo que se pretende
realizar no futuro, sendo que um projeto distingue-se
de outras formas de planejamento – como o
planejamento estratégico de uma instituição ou uma
simples programação de atividades rotineiras – por ser
fechado, isto é, tem começo, meio e fim previsíveis e
programados.
Em alguns casos, o propósito do projeto é
estabelecer uma nova iniciativa, sem prazo para
terminar. Mas, mesmo assim, o projeto compreenderá
todas as ações levadas a cabo para implementar essa
iniciativa, para colocá-la em funcionamento.
Segundo definição da ONU: um projeto é um
empreendimento planejado que consiste num conjunto
de atividades inter-relacionadas e coordenadas para
alcançar objetivos específicos dentro dos limites de um
orçamento e de um período de tempo dados.
POR QUE PLANEJAR?
Reduzir a possibilidade de impactos
negativos;
Garantir respeito às necessidades dos
beneficiários, através do permanente sistema
de avaliação;
Antecipar mentalmente ações futuras, para
poder preparar melhor a execução destas
ações;
Um grupo que compartilhe idéias organizadas
está em melhores condições de cumprir com
as suas atribuições de forma organizada.
Uma maneira clara de se fazer uma distinção
entre um projeto e outras formas de planejamento é
Aula 4 | Elaboração de projetos sociais 81
considerá-lo como uma tentativa de solucionar um
problema, de preencher uma necessidade. Ou seja, os
projetos:
[...] são empreendimentos finitos que
têm objetivos claramente definidos em
função de um problema, oportunidade
ou interesse de uma pessoa, grupo ou
organização.
(Maximiano, 1997, p. 20)
É um empreendimento planejado que consiste
num conjunto de atividades inter relacionadas e
coordenadas para alcançar objetivos específicos dentro
dos limites de um orçamento e de um período de tempo
dado. (ONU, 1984).
CARACTERÍSTICAS BÁSICAS DE UM PROJETO
Objetivos claros;
Envolve mudanças, com resultados
exeqüíveis e com a criação de algo novo e
diferente;
Definição do público alvo;
Têm princípio e fim definidos. São
empreendimentos;
São orientados por objetivos claramente
definidos;
Têm um componente de incerteza e
complexibilidade;
Exige uso de técnicas específicas de
gerenciamento;
Não contempla tarefas rotineiras;
Metas estabelecidas.
ONDE HÁ FRUTOS NA ELABORAÇÃO DE PROJETOS?
No comprometimento do coletivo.
Na possibilidade de financiamento: os
financiadores querem estar certos de que a
organização sabe aonde quer chegar, como che
Dica do professor
Plano: É a dimensão superior onde são definidos os programas e projetos necessários que permitem transitar de uma situação problemática em direção a uma situação objetivo, levando em conta as opções estratégicas de um governo democraticamente eleito. Programa: É um planejamento um pouco mais específico que inclui objetivos e metas concretas, estratégias e políticas de programas, abrangências e responsabilidades.
Aula 4 | Elaboração de projetos sociais 82
gar, quem vai trabalhar e quanto custa tudo.
Querem saber do impacto social, das
mudanças que podem ser previstas, das
responsabilidades financeiras. Querem saber
sobre a causa que motivou o projeto, se eles
se identificam com esta causa ou não.
Os conflitos internos diminuem.
Na gestão organizacional, o projeto escrito é
uma ferramenta de trabalho, um instrumento
gerencial.
Um projeto é uma unidade administrativa dentro
da instituição – tem seus próprios planos, custos,
equipes, e seu documento ajuda a gerenciar processos:
estratégias, procedimentos nos serviços, resultado no
público, nas finanças e com as pessoas.
Pode-se dizer, portanto, que um “projeto social”
é um planejamento para solucionar um problema” ou
responder a uma carência social.
Os projetos sociais padecem de alguns riscos
que devem ser minimizados para melhor consecução de
seus objetivos, a saber:
Fragmentação das ações;
Excessiva dependência;
Falta de legitimidade ou representatividade;
Indefinição de responsabilidades e méritos;
Descontinuidade de ações, pessoas...;
Baixo controle da efetividade das ações.
TIPOLOGIA DE PROJETOS E REQUISITOS PARA
PROJETOS SOCIAIS
ZOPP – ZielOrientierte ProjektPlanung
(Planejamento de Projetos Orientado para
Objetivos) – GTZ/Alemanha;
Dica do professor
Projeto: é um conjunto de eventos e atividades interligadas e inter-relacionadas, que se iniciam num certo momento do tempo e terminam em outro momento quando se caracteriza o alcance bem-sucedido das metas do plano. Projeto Social: é
um conjunto de atividades que, organizadas em ações concretas, atendam às necessidades sentidas e identificadas pela comunidade em um espaço de participação criado por ela própria ou estimulado pelo demandado.
Aula 4 | Elaboração de projetos sociais 83
RBM – Results Based Management (Gestão de
Projetos com Base em Resultados) –
CIDA/Canadá;
PES – Planejamento Estratégico Situacional –
Fundação Altadir/Chile. - MAPP – Método
Altadir de Planificación Popular
Quadro Lógico (QL) - Agência Americana para
o Desenvolvimento Internacional/United
States Agency for International Development
(USAID). Também conhecido como Matriz de
Planejamento de Projeto (MPP) ou Marco
Lógico.
PMI – Project Management Institute (Instituto
de Gerenciamento de Projeto) - Estados
Unidos
VAMOS FALAR SOBRE O QUADRO LÓGICO (QL)
A matriz lógica (logframe) foi desenvolvida
pela Agência Oficial dos Estados Unidos para
o Desenvolvimento Internacional - USAID
como uma resposta aos problemas com que
os projetos estavam se defrontando
(planejamento impreciso, responsabilidades
mal definidas, dificuldades de
acompanhamento e avaliação dos
resultados).
A ferramenta surge a partir de adaptações do
método ZOPP da GTZ.
Um conjunto de conceitos relacionados entre
si e que devem ser utilizados ao mesmo
tempo e de maneira dinâmica para permitir a
elaboração de um projeto bem desenvolvido
em termos de objetivos e do qual se poderá
posteriormente avaliar os resultados.
Aula 4 | Elaboração de projetos sociais 84
É uma visão sistemática do ambiente de um
projeto, que objetiva por um lado identificar o
motivo pelo qual o projeto é realizado, bem
como a finalidade para qual ele contribui e, de
outro lado, definir de uma maneira concisa e
precisa o ambiente a ser construído após o
término, assim como o conjunto de condições
críticas a serem realizadas para que o projeto
atinja os diferentes níveis de objetivos para
os quais ele foi desenvolvido (USAID).
O QUE É A MATRIZ DO QUADRO LÓGICO?
É um instrumento desenvolvido para:
Facilitar a elaboração, a gestão e a avaliação
de programas e projetos de desenvolvimento;
Favorecer mecanismos de discussão e
trabalho transparentes, participativos,
estruturados e flexíveis;
Facilitar a análise, a troca de experiências, a
reflexão, a escolha entre diferentes opções e
relacionar a análise com a ação;
Possui uma lógica vertical que clarifica a
razão pela qual o projeto foi concebido e
como será executado;
A lógica horizontal explica como os resultados
do projeto serão expressos de forma clara,
realista e verificável.
POR QUE APLICAR A MQL?
Facilita a comunicação com grande parte dos
doadores potenciais dado que é um
instrumento utilizado durante longo tempo
por importantes instituições, tais como:
USAID, ONU, União Européia, Banco Mundial;
Aula 4 | Elaboração de projetos sociais 85
Favorece o diálogo e a concentração entre os
atores políticos, sociais, econômicos do
âmbito local e a sua inter-relação com os que
se situam no âmbito nacional e internacional;
Facilita a abordagem participativa na
elaboração das estratégias de
desenvolvimento local, dos programas e
projetos;
Assegura que as questões fundamentais
relativas à planificação do desenvolvimento
local e à elaboração de programas e projetos
sejam analisadas e que, em função dos
problemas, se estabeleçam e definam
prioridades e objetivos;
Ajuda a realizar uma análise sistemática e
lógica de problemas e elementos chave que
estão inter-relacionados;
Facilita a inter-relação e a continuidade entre
a estratégia de desenvolvimento local (plano)
e as iniciativas de desenvolvimento
(Programas e/ou projetos);
Facilita o monitoramento e a implementação
tanto do Plano de desenvolvimento local,
como das diferentes iniciativas concretas
(programa e projetos).
CARACTERÍSTICA DO ML
Constitui-se na estrutura lógica de um
projeto.
Tem foco nos resultados e não nas atividades.
É um instrumento simples e importante para
o monitoramento de alcance dos resultados e
do uso prudente dos recursos.
Facilita a elaboração de relatórios e
documentos baseados nos resultados
alcançados e nas lições aprendidas.
Aula 4 | Elaboração de projetos sociais 86
MATRIZ DO QUADRO LÓGICO
A Matriz se resume em uma página:
Por que o projeto é executado;
O que o projeto vai alcançar;
Como o projeto vai obter os resultados;
Quais os fatores externos importantes para o
êxito do projeto;
Através de que se consegue medir o êxito do
projeto;
Onde vão se encontrar os dados para
proceder à avaliação do projeto;
Quanto custará o projeto.
MATRIZ DO QUADRO LÓGICO
Descrição
Sumária
Indicadores
Objetivamente
Verificáveis
Meios de
Verificação
Fatores de
Risco
Objetivo
Geral
Objetivos
Específicos
Resultados
Atividades
Principais
Recursos
Importante
A Matriz do Quadro Lógico é uma metodologia das mais difundidas e utilizadas no planejamento, monitoramento e avaliação de programas e projetos. Por isso, se debruce nesta leitura para compreensão do tema.
Aula 4 | Elaboração de projetos sociais 87
Indicadores Objetivamente
Comprováveis
Meios de
Verificação
Fatores de
Risco
Objetivo
Superior
• Renda média aumentada em
x% até o ano 2002.
• Migração reduzida.
• Censo anual. • Política de
desenvolvimento
prioriza a
produção de
arroz.
Objetivo do
Projeto
• Produtividade (ton./hectare)
aumentado em x% na região
tal no ano 2001, y% no ano
2002 e z% no ano 2003.•
Produção de arroz tipo
exportação aumentada em
x%.
• Censo agrícola.
• Documentação do
projeto.
• Não há
migração para a
região do projeto.
Resultados • Na região são implantados
60km de canais de irrigação e
12 bombas elétricas de
potência média até 9/2000.
• X hectares de terras são
servidos em 12/2000.
• Ociosidade do sistema de
irrigação é, no máximo,
24h/mês.
• Relação dono de assessores/
agricultores.
• No mínimo, 2 visitas
técnicas/mês por agricultor.
• Quantidade de insumos
solicitada em x%.
• Valor de créditos
concedidos.
• Nº de créditos concedidos.
• Inadimplência abaixo de 5%.
• Esquema de comercialização
é definido em 2/2001,
especificando locais, datas,
pagamento etc.• Volumes
comercializados: 2001 - x;
2002 - y; 2003 – z toneladas.•
Nº de agricultores treinados
em novas técnicas de cultivo
de arroz.• Tipo e duração do
treinamento e seu
aproveitamento.
• Livro de obras.
• Vistoria local.
• Livro de
ocorrências.
• Min. de Agricultura
• Relatórios dos
assessores.
• Livros de
solicitação.
• Documentação do
Fundo Rotativo.
• Documentação do
Depto de
Comercialização.
• Relatórios dos
instrutores.
• Documentação do
projeto.
• Não há
desastres
naturais.
• Não há disputas
excessivas pelo
uso d'água.
• Não há evasão
de assessores
capacitados.
• Preço do
combustível não
aumenta mais
que 5%.
• O preço
internacional do
arroz não baixa
mais que 10%.
• Agricultores
assimilam o novo
conhecimento.
Atividades
Recursos
A seguir, a redação do projeto sob o
enfoque do marco lógico (ml):
Aula 4 | Elaboração de projetos sociais 88
O PROCESSO DE ELABORAÇÃO DE PROJETOS
SOCIAIS
Pode-se dizer que a fase de “elaboração”
compreenderá as três etapas a seguir:
Identificar um problema, uma carência, uma
situação sentida como deficiente. Para isso é
preciso organizar as informações disponíveis
sobre a situação, reunir-se com outros
interessados e tentar caracterizar o problema
de vários pontos de vista. Quando se percebe a
existência de vários problemas, é preciso
decidir a quais, por sua importância ou pela
maior facilidade de solução, vai se dar
prioridade de solução imaginadas têm que ser
analisadas para saber se são viáveis;
Pensar em como solucionar o problema ou
carência e nas ações que poderiam contribuir
para mudar essa situação”. As diferentes
alternativas de solução imaginadas têm que ser
analisadas para saber se são viáveis. Em
seguida, têm que ser comparadas, a fim de se
escolher a melhor;
Escolhida uma solução, parte-se para
“programar em detalhes o que vai ser feito, o
que se espera que aconteça como resultado de
nossa ação e o que se necessita agenciar e
disponibilizar” de modo a assegurar a realização
disso.
ETAPAS DA ELABORAÇÃO DE PROJETOS
SOCIAIS
Diagnóstico
A experiência dos avaliadores de programas e
projetos sociais mostra que uma grande deficiência
neles freqüente é a debilidade na definição e na
estruturação do problema alvo da intervenção. É
bastante comum nos depararmos com projetos bem
redigidos e lastreados pelas melhores intenções,
mas que não deixam claro qual a situação-problema
que está sendo enfrentada. Em decorrência disso, os
objetivos são geralmente múltiplos e inconsistentes,
quando não são concorrentes entre si. A precária
definição do problema e a discrepância dos objetivos deixam margem a um alto grau.
Aula 4 | Elaboração de projetos sociais 89
Entendemos projeto social como um conjunto de
atividades que, organizadas em ações concretas,
atendam às necessidades sentidas e identificadas pela
comunidade em um espaço de participação criado por
ela própria ou estimulado pelo demandado.
A elaboração de um projeto social possibilitará
que as atividades transformem os dados e informações
obtidas na comunidade pelos demandantes em um
documento (projeto) que identifique a situação
(diagnóstico), as intervenções necessárias e os
resultados esperados (prognóstico).
A elaboração de um projeto divide-se em quatro
etapas:
Identificação;
Viabilidade ou anteprojeto;
Programação ou o projeto propriamente dito;
Análise.
Identificação
Segundo Pedro Demo (1988:45), são os
componentes básicos do planejamento participativo:
Processo inicial da formação da consciência
crítica e autocrítica da comunidade, através
da qual se elabora o conhecimento adequado
dos problemas que afetam o grupo, mas
sobretudo, a visão de que a pobreza é
injustiça; trata-se de saber interpretar,
entender, postar-se diante de si e diante do
mundo; muitos chamam esta fase de
autodiagnóstico;
Tendo tomado consciência crítica e
autocrítica, segue a necessidade de
formulação de uma estratégia concreta de
enfrentamento dos problemas, que saiba desta
Importante
O planejamento participativo é um importante instrumento para o trabalho comunitário, que facilita a compreensão da realidade. Tem como resultante, um plano de ação para enfrentamento dos problemas que exigem discussão e solução.
Aula 4 | Elaboração de projetos sociais 90
car prioridades, caminhos alternativos,
propostas de negociação; quer dizer, do nível
de reconhecimento teórico, parte-se para a
ação, dentro de um contexto planejado;
Consumado o terceiro ponto, aparece a
necessidade de se organizar, como estratégia
fundamental para os dois passos anteriores; a
competência se demonstra, sobretudo na
capacidade de organização, que é um teste
fundamental dos compromissos democráticos
do grupo, aliado ao desafio de fazer
acontecer...
O projeto deve ter uma estratégia de ação na
qual a comunidade deixe de ser um sujeito passivo
para ser o sujeito determinante do processo de
transformação de sua condição socioeconômica e
política. O projeto só alcançará resultados positivos se
a população a ser beneficiada se envolver em todas as
etapas de sua elaboração.
Um bom plano de trabalho ajuda a não
perder tempo, a concentrar esforços
nas coisas mais importantes sem
perder o rumo que a gente traçar. A
não cair no desânimo.
Mas um bom plano tem de ser
participativo, isto é, o próprio grupo
que vai fazer o trabalho tem de fazer o
plano. É o grupo que decide “o que
fazer”, “como fazer”, “onde fazer” e
“com quem fazer”.
Tem de acompanhar a vida, isto é,
enquanto o grupo vai fazendo, vai
aprendendo, vai descobrindo coisas,
vai conquistando vitórias, no seu
bairro, na sua localidade, no seu
município. Vai conquistando a parte
que lhe cabe, que ele tem direito de
possuir, mas que até hoje está em
outras mãos. E com isso vai-se
organizando.
(Falkembach, 1987: 30)
As atividades a serem ainda desenvolvidas nesta
etapa são as seguintes:
Aula 4 | Elaboração de projetos sociais 91
Levantar dados e informações preliminares a
fim de caracterizar o problema a ser
estudado, por exemplo: número de famílias,
crianças, unidade hospitalar, escolas,
produtos cultivados;
Especificar a área urbana ou rural na qual o
projeto será realizado, isto é, localizar dentro
do bairro, município ou estado o local onde o
projeto será implementado;
Identificar a importância das necessidades a
serem atendidas dentro da área especificada;
Definir os objetivos a serem alcançados;
Identificar os beneficiários do projeto;
Identificar os recursos necessários:
financeiros, humanos, materiais, tecnológicos.
Viabilidade: técnica, econômica, financeira,
gerencial, social, ecológica
Nesta segunda etapa, os dados e informações
serão melhor organizados, procurando verificar até que
ponto o projeto será ou não viável. Trata-se de
examinar qual das alternativas enumeradas na etapa
anterior será a mais efetiva em termos técnicos,
econômicos, financeiros, gerenciais, sociais e
ecológicos.
Viabilidade técnica:
Tratando-se de um projeto comunitário cujos
objetivos são comprometidos com a participação efetiva
da comunidade, a viabilidade técnica significa o modo
como a tecnologia educacional envolve o processo total
da educação, desde a identificação das necessidades à
avaliação dos resultados obtidos. Este procedimento,
que ocorrerá durante e após o término do projeto,
contribuirá para enriquecer o processo, tornando os
meios, as técnicas e as estratégias cada vez mais
efetivos.
Importante
Note que existem várias formas de análise da viabilidade de um projeto. E, todas elas são muito importantes no processo de elaboração de um projeto social. Leia atentamente.
Aula 4 | Elaboração de projetos sociais 92
Seja um projeto de criação de uma creche ou de
cultivo de hortaliças, por exemplo, sua operação
dependerá do uso de tecnologias. Portanto, o estudo
de viabilidade técnica vai verificar se as tecnologias
escolhidas serão adequadas quanto à relação:
recursos aplicados e resultados possíveis de serem
alcançados. Para o caso de um projeto de cultivo de
hortaliças, a análise da viabilidade técnica verificará se
o solo e a água existentes na área são compatíveis com
as variedades de cultivos planejadas; se a tecnologia
prevista para o plantio atende às alterações climáticas;
se o processo de comercialização – transporte,
armazenagem e estradas – está bem dimensionado. No
caso da creche, o estudo de viabilidade técnica
verificará, fundamentalmente, a capacidade profissional
e experiências, determinação e visão política das
pessoas que aí trabalharão e a proposta metodológica
empregada no projeto.
Viabilidade econômica
O estudo de viabilidade econômica verificará
qual a contribuição que o projeto trará para a
comunidade como um todo. Portanto, esse estudo
estará centrado nos fatores de produção: recursos
naturais (solo, água, adubo, sementes) e recursos
humanos (professores, médico, dentista, assistente
social) a serem combinados em função da produção
(caso do projeto de hortaliças) ou do processo
educativo decorrente da prestação de serviços (creche)
que o projeto venha a atender.
Nessa análise devem ser também levados em
consideração os recursos já existentes, observando-se
seu comportamento dentro da realidade da
comunidade.
Aula 4 | Elaboração de projetos sociais 93
Viabilidade financeira
Essa análise deverá estar centrada nas despesas
que existirão durante a execução do projeto. Os
resultados dessa análise devem assegurar que os
recursos financeiros sejam suficientes para cobrir os
custos de implementação do projeto, conforme a
programação prevista. Outro aspecto desse estudo é o
de verificar a possibilidade de recuperação das
despesas realizadas, bem como dos investimentos
porventura feitos pelos beneficiários do projeto.
Visando tornar mais objetivo esse tipo de análise,
sugerimos utilizar a Matriz de Interdependência
Recursos – Atividades na qual podem ser visualizadas
as relações entre as principais atividades com os
diferentes recursos necessários à execução do projeto.
Na criação de uma creche, várias atividades
poderão anteceder a execução da obra. Uma delas é a
procura, dentro da área do projeto, da disponibilidade
ou não de espaço e recursos humanos adequados para
o desenvolvimento de uma creche. Caso exista esse
espaço, o mesmo deverá ser arrolado como um recurso
já existente.
Matriz de Interdependência Recursos –
Atividades seria preenchida da seguinte forma:
RECURSOS ATIVIDADES
HUMANOS MATERIAIS TECNOLÓGICOS INFORMAÇÕES INFORMANTES
FINANCEIROS
Procura de espaço físico disponível e adequado
Pessoas habilitadas
Conhecimento ou experiência com o tema
Comunidade Custo homem/hora
Levantamento
do espaço identificado
Engenheiro
civil ou arquiteto
Equipamento
de medição
Conhecimento
especializado
Infra-estrutura:
água, luz, rede de esgotos, instalações, nº de pessoas a serem atendidas.
Custo
homem/hora
Elaboração do projeto civil e de instalações
Engenheiro civil ou arquiteto
Equipamento de desenho e cálculo
Conhecimento especializado
Obtidas no levantamento anterior
Custo homem/hora
Aula 4 | Elaboração de projetos sociais 94
Viabilidade Gerencial
A análise dessa viabilidade deve ser feita
levando em consideração o aspecto legal e técnico da
administração do projeto. No primeiro caso, o estudo
verificará se o projeto atende a requisitos do tipo
legalização do terreno ou da situação fundiária da
região. Quanto ao aspecto técnico, a análise verificará
se as especificações técnicas, preliminarmente
elaboradas, atenderiam às necessidades gerenciais do
projeto.
Nessa análise deverá ser também verificado se
a(s) instituição(ões) financiadora(s) do projeto têm
agilidade para desembolsar os recursos segundo as
necessidades programadas.
Viabilidade Social
Na etapa de identificação, dados e informações
sobre os hábitos (higiênicos, alimentares, e práticas
sociais) (participação, envolvimento político) da
população a ser beneficiada pelo projeto são levantados
a fim de facilitar o diagnóstico da situação. No entanto,
é quando se faz o estudo de viabilidade social que
serão verificadas as conseqüências sociais que surgirão
em decorrência dos investimentos realizados pelo
projeto. Dependendo dos objetivos do projeto, as
conseqüências podem ser, entre outras, criação de
oportunidade de emprego, melhoria da distribuição de
renda, capacitação participativa e qualidade de vida por
meio de melhores serviços de saúde, transporte,
habitação, saneamento básico, lazer.
Viabilidade Ecológica
Essa análise procura verificar quais as
conseqüências do projeto para a proteção do meio
ambiente. Assim, no estudo de viabilidades ecológicas
Aula 4 | Elaboração de projetos sociais 95
verifica-se se existem atividades programadas junto à
população rural ou urbana sobre a importância da
preservação do meio ambiente; se há preocupação com
os efeitos negativos pelo uso de agrotóxicos; se estão
bem dimensionadas as instalações sanitárias, a fim de
que não se poluam os reservatórios de água potável.
Por exemplo, o uso indiscriminado de herbicidas ou
fertilizantes na lavoura poderá produzir efeitos
colaterais maléficos não só para a população
diretamente envolvida no cultivo, como o produtor
rural, como também para os consumidores dos
produtos.
Os estudos de viabilidade na elaboração de um
projeto comunitário não se esgotam com a identificação
desses seis aspectos. Na realidade, outros elementos
poderão servir de parâmetro para a análise da
viabilidade. No entanto, consideremos esses seis como
básicos e a maneira de utilizá-los não deve ser isolada,
isto é, os aspectos devem ser vistos de forma
integrada, onde o resultado da análise de uma
viabilidade influenciará as outras.
Em resumo, o processo de diagnóstico é feito
para se conhecer a realidade fazendo-se as seguintes
perguntas:
Quais os principais problemas?
Quais as maiores necessidades?
Quais as possibilidades de mudar essa
realidade?
Esse diagnóstico pode ser feito de vários modos:
Em reuniões de grupo;
Através de entrevistas;
Pela observação;
Através de documentos escritos;
Dica da
professora
A formulação de perguntas no processo de diagnóstico colabora para identificar as necessidades e dar o foco do projeto no que se quer alcançar. Sendo assim, é possível ter sintonia com a realidade que se quer transformar.
Aula 4 | Elaboração de projetos sociais 96
Através de tudo que ajude a ver criticamente,
e compreender melhor a realidade.
PROGNÓSTICO
Projeto
As etapas de identificação e viabilidade são
também chamadas de anteprojeto: idéia ou problema
que começou a ser estudado, segundo os dados e
informações coletados; alternativas são elaboradas e o
estudo de viabilidade é feito a fim de decidir por qual
ou quais linhas de ação o projeto será programado. A
etapa agora apresentada indicará, genericamente, o
que deve conter o documento ou anteprojeto definitivo.
Dizemos ainda “anteprojeto” porque o mesmo será
novamente submetido a uma análise final a ser
preferencialmente feita por quem não participou da
etapa de elaboração.
O documento poderá contar com o seguinte
conteúdo:
Diagnóstico: análise da área urbana ou rural,
incluindo aspectos de natureza
socioeconômica como, por exemplo, renda
familiar, número de famílias, hábitos,
costumes, expectativas e outras informações
que venham a caracterizar a situação
estudada - é a radiografia da comunidade ou
do problema abordado;
Beneficiários, clientela, público-alvo do
projeto - pessoas ou grupos sociais sem
nenhuma discriminação.
Questões a serem levantadas:
Que fatos acontecem, que vêm à tona,
quando a sociedade que nos cerca nos
incomoda?
Aula 4 | Elaboração de projetos sociais 97
Que problemas são identificados? Quem
sofre estes problemas? Onde moram estas
pessoas?
Que necessidades se originam destes
problemas?
Quais são aquelas necessidades que a
instituição pode satisfazer? De todos os
envolvidos nos problemas, quais são as
pessoas que se terá como alvo?
Objetivos Gerais (o que se pretende com esse
projeto, conforme descrito na fase de
diagnóstico) e Específicos (quais serão os
passos para se chegar aos objetivos gerais);
Justificativa:
Após a descrição dos itens anteriores,
comentar a importância do projeto em
relação aos problemas identificados;
Síntese dos dados do diagnóstico ou
estudos prévios que justifiquem o projeto,
bem como algumas previsões sobre a
transformação da situação problema que
se pretende resolver com a realização do
projeto.
Programação das atividades - apresentação
do cronograma de tempo de todas as etapas
do projeto;
Descrição da metodologia de ação - apresenta
a equipe responsável pelo projeto e como o
mesmo será exposto;
Parcerias - Identificação dos órgãos ou
instituições que participarão das atividades do
projeto, tanto como financiadores quanto
apoiadores;
Aula 4 | Elaboração de projetos sociais 98
Programação orçamentária dos recursos
financeiros, humanos, materiais e
tecnológicos - é a apresentação de todas as
despesas previstas com o projeto;
Administração do projeto - apresentação da
equipe que administrará o projeto;
Metodologia de acompanhamento - a forma
de acompanhamento e avaliação do
desenvolvimento do projeto;
Anexos, quando for necessário.
Análise
O processo de análise que aqui descrevemos é
aquele que ocorre na última etapa de elaboração,
quando vai ser feito o estudo crítico do projeto, a fim
de examinar-se a proposta será capaz de atender a
idéia ou problema originalmente identificado. No
entanto, podemos observar que a análise pode ser
desenvolvida durante a etapa de Identificação e
Elaboração, ou seja, dependendo da dimensão ou
amplitude do projeto, esse processo será simultâneo ou
não. Em projetos de pequeno porte, geralmente, esta
etapa ocorre paralela às demais. Em um projeto de
grande porte, como é o caso daqueles voltados para o
desenvolvimento regional, isto é, de ação em grandes
espaços geográficos, a etapa de Análise deverá ser a
última.
Caracterizando essa como sendo a análise final,
o seu processo deverá ser o seguinte:
Estudar os antecedentes do projeto: a idéia
ou problema identificado;
Ler o diagnóstico a fim de observar o nível de
aprofundamento dos dados e informações
levantados;
Pré-avaliação:
Quer saber mais?
Redação Final do Projeto Social - Estágio final do processo de elaboração de um projeto social. - Muitas vezes, as Instituições que financiam projetos sociais têm formatos próprios de apresentação. Nesses casos, é
importante respeitar
ao máximo os critérios exigidos, mas sem deixar de complementá-los ou adaptá-los de acordo com o interesse do grupo.
Aula 4 | Elaboração de projetos sociais 99
Das informações sobre os benefícios,
clientelas ou público-meta;
Dos objetivos;
Da justificativa;
Da programação;
Das metodologias;
Dos órgãos, direta ou indiretamente
envolvidos;
Dos recursos (humanos, materiais,
financeiros e tecnológicos);
Da metodologia de acompanhamento;
Da administração dos projetos.
Quais são os fatores de êxito nos projetos
sociais?
Realizar um diagnóstico consistente é
fundamental para a elaboração do projeto,
mesmo com recursos e tempo limitados.
Ter objetivos e resultados claramente
definidos.
Construir unidade de propósitos, um clima de
colaboração e envolvimento e clara divisão de
responsabilidades dentro da equipe
executora.
Pessoas certas nos lugares certos: reunir
competência técnica especializada nas áreas
prioritárias e capacidade metodológica para
conduzir processos participativos.
Sempre contar com a participação de
potenciais beneficiários diretos do projeto em
todas as principais atividades planejadas,
aumentando as chances de alcançar os
objetivos e a sustentabilidade política do
projeto;
Ouvir todos os integrantes: desenvolver a
capacidade de harmonizar, quanto possível,
as visões, interesses e expectativas de todos
os atores envolvidos – dirigentes da organização
Aula 4 | Elaboração de projetos sociais 100
promotora do projeto, equipe técnica
responsável pela implementação,
beneficiários diretos, instituições parceiras,
órgãos públicos e financiadores – de forma a
obter-se consensos progressivos sobre os
principais elementos do projeto.
Dispor de capacidade gerencial técnica,
administrativa e financeira adequada ao nível
de complexidade e ao volume de recursos do
projeto.
Dispor de recursos financeiros suficientes
para sustentar a maior parte das atividades
previstas.
EXEMPLO DE PROJETO COMUNITÁRIO
PROJETO: Centro Cultural Alcione Nazaré
Curso de Informática para Surdos
DIAGNÓSTICO
A surdez, entre as deficiências físicas, merece
destaque, devido ao reduzido número de profissionais
especializados disponíveis no mercado para trabalhar
com pessoas portadoras deste tipo de doença.
Observa-se, nessa realidade, que é a de exclusão,
abandono e de quase nenhuma oportunidade de
qualidade de vida, a pouca ou quase nenhuma
educação profissional e cultural ao alcance do cidadão
especial.
Pesquisa realizada por diversos órgãos
especializados indica o estado de pobreza, baixa
escolaridade e pouquíssima vida social das pessoas
portadoras de algum tipo de deficiência, podendo levar
ao isolamento social devido ao estigma, temores e
constrangimentos relacionados à deficiência e à
rejeição da sociedade em geral.
Quer saber mais?
Existem outros exemplos de projetos comunitários que podem incidir em áreas que contribuam diretamente para: A geração de
emprego; A melhoria da
qualidade de vida.
Aula 4 | Elaboração de projetos sociais 101
A Organização Mundial de Saúde (OMS) estima
que mais de 300 milhões de pessoas sejam portadoras
de algum tipo de deficiência em todo o mundo, das
quais 70% encontram-se em países subdesenvolvidos
ou em desenvolvimento, sendo que apenas 1 a 2%
conseguem acesso a programas de reabilitação , entre
os quais encontra-se a educação para pessoas
especiais, por meio de profissionais preparados.
Segundo o Censo Demográfico realizado no
Brasil em 2000, pelo IBGE (Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística), existem 5.735.099 (cinco
milhões, setecentos e trinta e cinco mil e noventa e
nove) deficientes auditivos e segundo o MEC (Ministério
da Educação e Cultura) existem apenas 43.241
(quarenta e três mil duzentos e quarenta e um)
deficientes auditivos nas escolas em todo o Brasil.
Esses dados foram obtidos pelo Censo Escolar, em
todos os níveis escolares.
Consulta feita ao DEPD (Departamento de
Promoção à Pessoa com Deficiência), ligado à Diretoria
de Políticas Sociais de Juiz de Fora, há 287 deficientes
auditivos cadastrados nesta, sendo 131 do sexo
feminino e 156 do sexo masculino, dos quais 31 são
menores de idade e deste total apenas 63 estão
trabalhando e 224 desempregados.
A estimativa é que o número de deficientes
auditivos cadastrados e não cadastrados em Juiz de
Fora chegue a 600 e apenas 1,05% estão em atividade
produtiva.
É necessário mudar este cenário. Sabe-se que a
lei, que incentiva a criação de vagas nas empresas para
deficientes, não tem alcançado o deficiente auditivo,
devido ao baixo grau de escolaridade, pois apenas 2%
têm acesso ao 1º grau, onde no geral, a escolaridade
Aula 4 | Elaboração de projetos sociais 102
não atinge a conclusão do ensino fundamental
completo.
BENEFICIÁRIOS DO PROJETO
Diretamente serão 287 jovens e adultos que
receberão conhecimentos de Libras e informática.
OBJETIVOS GERAIS
Criar um núcleo de informática para
deficientes auditivos.
OBJETIVOS ESPECÍFICOS:
Capacitar deficientes aditivos para manusear
equipamentos de informática;
Recuperar o interesse pelo conhecimento do
deficiente;
Proporcionar condições de empregabilidade;
Apresentar ao deficiente uma oportunidade
de vida concreta;
Recuperar a socialização do deficiente e sua
auto-estima.
JUSTIFICATIVA
Este projeto visa à capacitação de jovens e
adultos no mercado de trabalho; a recuperação de sua
auto-estima; à promoção da vida, ou seja,
simplesmente oportunizar a vida a quem tem vida, pois
proporcionar condições de resgatar a cidadania e
dignidade de um grupo tão especial de cidadão, é mais
que um dever nosso, é um desafio digno de heróis.
Com o conhecimento básico de processamento
de dados - Windows, (Word, Excel e Power Point), será
possível apresentar a estes cidadãos um novo mundo.
Neste, estes cidadãos farão parte, sem discriminação,
Para pensar
Cada um destes itens, ao lado, deve ser elaborado de forma muito clara para garantir os
propósitos do projeto. Observe o exemplo dado e procure você mesmo elaborar um exemplo.
Aula 4 | Elaboração de projetos sociais 103
sem preconceitos, sendo possível criar condições para
que seus talentos sejam desenvolvidos. Assim, a
angústia dará lugar à vida, a tristeza dará lugar à
esperança, e o aprendizado abrirá uma porta.
A arte de viver não deve ser privilégio específico
de classe alguma, de cor alguma, de raça alguma, tam
pouco de nenhum tipo específico de pessoa, pois a vida
pertence a quem a tem, como também os direitos de
sair da ociosidade e de viver de forma produtiva e
digna, o que favorece a formação de uma identidade de
conhecimentos de valores éticos e morais.
PROGRAMAÇÃO DAS ATIVIDADES
ANO 2004 ANO 2005
Dez Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov
1 Seleção de
instrutores
X X
2 Divulgação do
curso
X
3 Contratação de
professores
X
4 Elaboração de
apostilas
X
5 Contratação de
professores
X
6 Compra de
equipamentos
X X
7 Início do curso X
8 Recesso X
9 Início do
2°semestre
X
10 Encerramento X
11 Pré-matrícula X
12 Avaliação do
projeto
X X X X X
METODOLOGIA DE AÇÃO
A equipe responsável pela elaboração do projeto
tem como membro a direção da Primeira Igreja Batista,
Aula 4 | Elaboração de projetos sociais 104
a Sra. Regina Márcia, e contou com a colaboração do
DEPD (Departamento de Promoção à Pessoa com
Deficiência).
ORÇAMENTO
Para implantação do projeto:
Recursos materiais Unidade Quantidade
total
Valor
unitário (R$)
Valor total
(R$)
Armário Secretária Un 01 163,00 163,00
Materiais diversos Un 01 217,35 217,35
Suporte com água de 20l Un 01 44,20 44,20
Copo descartável 200ml Pct 01 2,55 2,55
Porta copos Un 01 13,00 13,00
Mesa Recepção Un 01 149,00 149,00
Mesa c/teclado lateral Un 01 104,00 104,00
Cadeira fixa marca Un 01 39,00 39,00
SUBTOTAL 732,10
Recursos
tecnológicos
Unidade Quantidade
total
Valor unitário
(R$)
Valor total
(R$)
Micro PL MAE M863 Un 09 1.530,00 13.770,00
Impressora HP
1315 3x1
Un 01 452,20 452,20
SUBTOTAL 14.222.20
Recursos
humanos
Unidade Quantida
de por
módulo
Valor unitário
(R$)
Quantidade
anual
Valor total
(R$)
Instrutor
Informática
Hora/aula 12 20,00 (h/aula) 12 2.880,00
Professor
Windows
Hora/aula 12h 20,00 (h/aula) 12 2.880,00
Professor Word Hora/aula 12h 20,00 (h/aula 12 2.880,00
Professor Excel Hora/aula 12h 20,00 (h/aula) 12 2.880,00
Professor power
point
Hora/aula 12h 20,00 (h/aula) 12 2.880,00
Interprete de
Libras
Hora/aula 12h 36,00 (h/aula) 12 5.184,00
Supervisor do
Curso
Un 1 400,00 12 4.800,00
(ano)
TOTAL R$24.384,00
RECURSOS FINANCEIROS TIPO DE PARCERIA
RECURSOS MATERIAIS R$732,00
RECURSOS TECNOLÓGICOS R$14.222,20
RECURSOS HUMANOS R$24.384,00
TOTAL R$39.338,20
Aula 4 | Elaboração de projetos sociais 105
Administração do projeto
O projeto será administrado pela Diretoria da
Primeira Igreja Batista de Juiz de Fora, com apoio do
DEPD (Departamento de promoção à pessoa com
deficiência), ligado à Diretoria de Políticas Sociais de
Juiz de Fora.
METODOLOGIA DE ACOMPANHAMENTO E AVALIAÇÃO
O grupo envolvendo a diretoria, professores e
colaboradores do DEPD estarão se reunindo a cada 60
dias para avaliação do desenvolvimento dos deficientes
e o grau de envolvimento com conteúdo apresentado.
O Conselho Fiscal e as entidades mantenedoras
do projeto estarão se reunindo semestralmente.
FONTE DE FINANCIAMENTO DE PROJETOS SOCIAIS:
APOIO E FOMENTO
As Organizações não Governamentais (ONG‟s)
brasileiras cresceram e se multiplicaram com forte
apoio da cooperação internacional. Agências privadas
de desenvolvimento, muitas das quais ligadas às
igrejas dos países da Europa Ocidental e América do
Norte, apoiaram, desde os anos 70, projetos de
educação popular, defesa de direitos e melhoria da
qualidade de vida comunitária.
Na década de 90, este padrão de financiamento
entrou em crise em função de um conjunto de fatores:
explosão do número de ONG‟s brasileiras e ampliação
de seus orçamentos, realocação de recursos das
agências européias para a Europa do Leste, prioridade
crescente atribuída à África, aumento do desemprego e
das carências sociais no interior das sociedades
Aula 4 | Elaboração de projetos sociais 106
européias, certo desencanto com a persistência da
pobreza e da desigualdade no Brasil.
A instabilidade institucional gerada por esta crise
nos padrões tradicionais de financiamento de seus
projetos obrigou as ONG‟s a um esforço determinado de
diversificação de fontes de financiamento, ampliando o
esforço interno de captação de recursos. Esta opção
coloca o desafio de um novo relacionamento com o
Estado e com o setor privado empresarial. Aos poucos
as ONG‟s foram incluindo em sua pauta de trabalho a
preocupação com seu fortalecimento institucional e com
a construção das condições de sua sustentabilidade a
longo prazo.
Problema
O acesso de organizações da sociedade civil a
recursos públicos esbarra em múltiplos problemas que
vão da desconfiança da burocracia governamental à
descontinuidade das políticas públicas, passando pela
ausência de mecanismos claros e transparentes de
contratação pelo Estado de entidades não-
governamentais. É fenômeno recente o reconhecimento
pelo governo da legitimidade e competência da atuação
das ONG‟s enquanto promotoras do desenvolvimento
sustentável e com eqüidade. Por outro lado, não se
pode esperar de órgãos governamentais que financiem
o trabalho de ONG‟s via doações e sim via contratação
de serviços, o que levanta exigências novas de
transparência e capacidade executiva para ambas as
partes.
A captação de recursos junto ao setor privado,
por sua vez, é dificultada pela ausência de uma
tradição brasileira de investimento social da empresa.
Até bem pouco tempo, as ONG‟s ignoravam o mundo
empresarial enquanto as empresas sentiam-se
Importante
A visão dos problemas funciona como indicadores iniciais para elaboração de projetos sociais, pois não existe outra forma senão reconhecer, identificar e enfrentar as dificuldades.
Aula 4 | Elaboração de projetos sociais 107
desobrigadas de qualquer responsabilidade pela
melhoria da vida comunitária. A redução deste
distanciamento entre Mercado e Sociedade Civil passa
pela superação de preconceitos e pela exploração de
formas novas de colaboração no enfrentamento de
questões que interessam a todos, como a melhoria da
educação e da saúde, combate à violência e à pobreza,
promoção da cultura, defesa do meio ambiente.
Mais difícil ainda é para as ONG‟s explorar uma
terceira possibilidade interna de captação de recursos
que são as doações feitas por pessoas físicas e
jurídicas. Esta captação de recursos junto ao público,
junto à sociedade brasileira, que é feita há décadas
pelas organizações filantrópicas e beneficentes, requer
uma linguagem que não faz parte da trajetória das
organizações da sociedade civil e uma política de
fomento via incentivos fiscais à doação de recursos por
parte de pessoas físicas e jurídicas.
Novas tendências
Multiplicam-se em todos os níveis de governo as
ações em parceria com ONG‟s o que implica um
crescente reconhecimento pelo Estado de seu acervo de
experiências e competências no enfrentamento da
pobreza e exclusão social. A expansão destas ações em
parceria é facilitada pelo processo em curso de
descentralização de poderes e recursos para o âmbito
municipal, plano no qual a interação com órgãos da
sociedade se dá de modo mais flexível e operacional.
O Programa Nacional de Combate à AIDS do
Ministério da Saúde e o Programa de Formação de
Jovens do Conselho da Comunidade Solidária são
exemplos de formas transparentes de contratação de
ONG‟s para ações focalizadas junto a populações em
situação de risco mediante concursos públicos.
Aula 4 | Elaboração de projetos sociais 108
A tomada de consciência por parte das empresas
de sua responsabilidade social é um fenômeno recente,
porém em rápido crescimento no Brasil. Nos últimos
tem se ampliado o volume de recursos canalizado para
investimentos sociais por parte de institutos e
fundações empresariais. Vale lembrar que recursos não
se limitam a dinheiro. O empresário pode também
contribuir com doações em espécie e com a
disponibilização de sua competência para a melhoria da
qualidade dos projetos sociais.
Algumas ONG‟s têm explorado formas
inovadoras de captação de recursos via comercialização
de produtos e serviços, associação com
administradoras de cartões de crédito para emissão de
cartões de afinidade e campanhas de arrecadação de
recursos junto ao público em geral. A potencialização
destas iniciativas passa, no entanto, por mudanças
legais ainda por realizar com vistas a estimular, via
incentivos fiscais, a doação de recursos por pessoas
físicas e jurídicas.
EXERCÍCIO 1
“... É bastante comum nos depararmos com projetos
bem redigidos e lastreados pelas melhores intenções,
mas que não deixam claro qual a situação-problema
que está sendo enfrentada. Em decorrência disto, os
objetivos são geralmente múltiplos e inconsistentes,
quando não são concorrentes entre si. A precária
definição do problema e a discrepância dos objetivos
deixam margem a um alto grau. Esse texto diz respeito
a problemas relacionados à(ao):
( A ) Análise de projetos sociais;
( B ) Avaliação de projetos;
( C ) Elaboração de projetos sociais;
( D ) Justificativa de projetos sociais;
( E ) Cronograma dos projetos sociais.
Dica do
professor
Finalmente chegamos ao fim desta aula e esperamos que a compreensão sobre a elaboração de projetos sociais tenha se tornada clara o suficiente para que você possa formular também um projeto.
Aula 4 | Elaboração de projetos sociais 109
EXERCÍCIO 2
A matriz lógica (logframe) foi desenvolvida pela
Agência Oficial dos Estados Unidos para o
Desenvolvimento Internacional - USAID como uma
resposta:
( A ) Aos problemas sociais que os projetos estavam se
defrontando;
( B ) Aos problemas de planejamento impreciso;
( C ) Às questões de responsabilidades definidas e de
dificuldades de acompanhamento e avaliação dos
resultados;
( D ) Ao surgimento das OSCIPs;
( E ) Nenhuma das respostas anteriores.
EXERCÍCIO 3
Qual a importância das organizações da sociedade civil
terem em sua cultura à necessidade de elaboração de
projetos sociais? Explique.
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
Aula 4 | Elaboração de projetos sociais 110
EXERCÍCIO 4
“.... Multiplicam-se em todos os níveis de governo as
ações em parceria com ONG‟s o que implica um
crescente reconhecimento pelo Estado de seu acervo de
experiências e competências no enfrentamento da
pobreza e exclusão social....” Comente esse texto,
fazendo um “link” com a necessidade das ONG‟s de
fomentarem à iniciativa de elaboração de projetos
sociais.
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
RESUMO
Vimos até agora:
Segundo definição da ONU, um projeto é um
empreendimento planejado que consiste num
conjunto de atividades inter-relacionadas e
coordenadas para alcançar objetivos
específicos dentro dos limites de um
orçamento e de um período de tempo dados;
Um “projeto social” é um planejamento para
solucionar um “problema” ou responder a
uma carência social;
O quadro lógico (QL) é um conjunto de
conceitos relacionados entre si e que devem
ser utilizados ao mesmo tempo e de maneira
dinâmica para permitir a elaboração de um
projeto bem desenvolvido em termos de
objetivos e do qual se poderá posteriormente
avaliar os resultados;
Aula 4 | Elaboração de projetos sociais 111
A elaboração de projeto social possibilitará
que as atividades transformem os dados e
informações obtidas na comunidade pelos
demandantes em um documento (projeto)
que identifique a situação (diagnóstico), as
intervenções necessárias e os resultados
esperados (prognóstico).
Avaliação: Princípios
e Métodos
Patrícia Nassif
AU
LA
5
Ap
res
en
taç
ão
Nesta aula são apresentados os princípios e métodos da avaliação
de projetos, objetivando que a avaliação seja usada para melhorar
os projetos existentes. Observa-se que a avaliação é uma função
de gestão destinada a auxiliar o processo de decisão para que se
torne o mais efetivo e racional possível. Destaca-se o papel dos
indicadores, como instrumentos projetados para avaliar a
consecução de objetivos e metas, e que quantificam os resultados
em comparação com os dados iniciais.
Ob
jeti
vo
s
Esperamos que, após o estudo do conteúdo desta aula, você seja
capaz de:
Compreender a importância da avaliação nos diferentes
momentos de elaboração dos projetos, chamadas de avaliação
ex-ante (antes do projeto), durante e ex-post (depois do
projeto);
Destacar os modelos de avaliação de projetos em Educação
Infantil, por se tratar de um novo e importante campo de
prática social; Aprender a elaborar perguntas para indicadores que
identifiquem os resultados na avaliação de projetos.
Aula 5: Avaliação: princípios e métodos 114
Avaliação: princípios e métodos
A avaliação de projetos é tema extenso,
prestando-se a várias abordagens, principalmente
quando se trata de projetos sociais. O melhor sentido
da avaliação é que seja utilizada como meio de
melhorar os projetos existentes, aprimorar o
conhecimento sobre sua execução e contribuir para seu
planejamento futuro, tendo como pano de fundo sua
contribuição aos objetivos institucionais.
MAS O QUE É AVALIAÇÃO?
A avaliação é uma forma de pesquisa
social aplicada, sistemática, planejada
e dirigida; destinada a identificar,
obter e proporcionar de maneira válida
e confiável dados e informação
suficiente e relevante para apoiar um
juízo sobre o mérito e o valor dos
diferentes componentes de um
programa, ou de um conjunto de
atividades específicas que se realizam,
foram realizadas ou se realizarão, com
o propósito de produzir efeitos e
resultados concretos; comprovando a
extensão e o grau em que se deram
essas conquistas, de forma tal que
sirva de base ou guia para uma
tomada de decisões racional e
inteligente entre cursos de ação, ou para
solucionar problemas e promover o
conhecimento e a compreensão dos
fatores associados ao êxito ou ao
fracasso de seus resultados.
(Aguilar e Ander-Egg, ps. 31-32)
Avaliação deve estar atenta às três etapas de
um projeto: planejamento, processo e resultados.
Desta forma, cada uma delas deve ser objeto de
julgamento por parte da organização e não somente ao
final do projeto. A avaliação do plano e conceitualização
do projeto comportam a avaliação do estudo-pesquisa,
do diagnóstico e do plano e concepção do projeto.
Portanto, quando se fala de avaliar a concepção do
projeto, avalia-se o modelo de intervenção proposto
Importante
A formulação e a avaliação são duas faces de uma mesma moeda. Um programa ou um projeto não pode ser bem formulado a não ser que se saiba como será avaliado, uma vez que só a partir da metodologia de avaliação é que será possível determinar qual a informação necessária para sua formulação.
Aula 5: Avaliação: princípios e métodos 115
para a situação colocada: suas estratégias, atividades,
métodos, técnicas e procedimentos a utilizar.
QUANDO AVALIAR?
Antes, durante e depois de realizado um projeto
ou atividade. A avaliação realizada antes de um projeto
ter início (ex-ante) serve para determinar sua
pertinência, viabilidade e eficácia potencial, para que se
possa decidir sobre a conveniência de realizá-lo.
AVALIAÇÃO EX-ANTE
É realizada durante a formulação de um
programa e tem por finalidade elaborar estimativas de
custos e benefícios (ou impacto), considerados
essenciais para a tomada de decisão. Permite ordenar
as respectivas ações de acordo com a identificação da
melhor alternativa para alcançar os objetivos de
impacto perseguidos.
A avaliação ex-ante dos projetos que constituem
um plano plurianual deveria ser realizada de forma
concomitante com a sua formulação para se verificar se
o programa é prioritário, se está bem definido, se tem
condições de ser executado com eficiência e eficácia, e
se está consistente com os conceitos e estrutura
adotados
TIPOS DE ANÁLISE DA AVALIAÇÃO EX-ANTE
Análise de Consistência do Programa com as
Orientações Estratégicas do Governo:
consiste na verificação do alinhamento do
programa com as orientações estratégicas do
Governo para fins de definição da sua
prioridade.
Você sabia?
Existem 2 tipos clássicos de avaliação que se diferenciam de acordo com o momento de sua realização e os objetivos perseguidos: a avaliação ex-ante e a ex-post.
Aula 5: Avaliação: princípios e métodos 116
Análise da Coerência Interna do Programa e
dos seus Atributos: uma vez realizada a
avaliação da consistência do programa e sua
validação, deve-se efetuar uma verificação
completa dos seus atributos em relação aos
conceitos definidos e verificar se existe uma
relação consistente de causa e efeito entre
problema a resolver, o objetivo do programa,
indicadores, objetivos específicos, ações, seus
produtos, metas e custos. Ou seja, verificar a
matriz lógica.
Análise da Pertinência e Suficiência das Ações
para o Alcance dos Objetivos e Resultados do
Programa: Pertinência: analisar se uma
ação é perfeitamente compatível com o
objetivo do programa e seu público alvo. Uma
ação descolada dos objetivos não agrega
valor ao programa, constituindo-se em
estorvo para seu gerenciamento e um custo
desnecessário para a administração pública.
Já por Suficiência entende-se como a
necessidade de verificar se o conjunto das
ações é realmente suficiente (efetivo) para o
alcance dos resultados pretendidos.
Análise da Capacidade de Financiamento das
Ações do Programa: verificar a
compatibilidade dos dispêndios previstos com
a previsão de recursos do Orçamento
Municipal no que concerne aos projetos e
atividades. Se os recursos forem insuficientes
para o financiamento de todas as ações, o
comportamento adequado deve ser: procurar
parceiros (União, municípios e/ou setor
privado) que possam financiar algumas ações
ou parte delas; reduzir as metas dos produtos
das ações de menor prioridade, ou seja,
aquelas que não comprometem o cronograma
Aula 5: Avaliação: princípios e métodos 117
e realização e não se constituem em pré-
requisito para a execução de outra ação e
cortar ações de menor prioridade, tendo
cuidado, neste caso, de rever metas e
objetivos;
A avaliação realizada durante a execução
fornece informações sobre o andamento do projeto
para ponderação de resultados, com o objetivo de
estabelecer até que ponto a proposta inicial está sendo
cumprida.
A avaliação ex-post é a que se realiza após a
conclusão do projeto, no sentido de determinar seu
impacto sobre a situação inicial, assim como sua
execução e funcionamento, a partir do que se pode
aprender para aplicação em outros projetos.
QUEM AVALIA?
A avaliação pode ser externa, interna, mista ou
auto-avaliação. A externa recorre a avaliadores não
vinculados à instituição executora do projeto. A interna
tem como avaliadores pessoas da própria instituição,
mas não diretamente responsáveis pela execução do
projeto. Na avaliação mista, recorre-se a uma
combinação das duas anteriores. Finalmente, a auto-
avaliação é realizada pelas próprias pessoas
encarregadas da execução do projeto.
Qualquer que seja a escolha da organização a
este respeito, deve-se levar em consideração como o
público beneficiário avalia o projeto em que está
envolvido. O conhecimento produzido por este público
sobre um projeto tem grande valor: possibilita novos
entendimentos sobre razões de êxitos, dificuldades e
possíveis soluções em seu encaminhamento, serve para
que este público possa posicionar-se sobre novas ações
Quer saber mais?
Na avaliação são considerados os valores que pautam a ação das organizações que conduzem projetos sociais. Essa ação é orientada para duas dimensões: individual, referida à auto-realização, que pode ser definida como concretização de potencialidades e satisfação, e outra coletiva, que se refere ao entendimento que cada organização desenvolve na direção de responsabilidade e satisfação sociais.
Você sabia?
Avaliação ex-post Sua função é orientar a tomada de decisão, seja sobre ações em andamento, fornecendo elementos de apoio para a adoção de medidas de ajuste ou reformulação, seja sobre os resultados obtidos com aquelas já concluídas.
Aula 5: Avaliação: princípios e métodos 118
e decisões, além de promover maior integração com a
organização.
MÉTODOS A SEREM UTILIZADOS
Outro desafio é a escolha dos métodos de
avaliação. Além de servirem como registro das
conclusões a que a organização chegou sobre um
projeto num dado momento, podem ser utilizados para
que esta informação seja socializada junto a outras
áreas da organização, parceiros e públicos direta ou
indiretamente.
As abordagens qualitativa e quantitativa são
denominadas de métodos. O método é, pois,
considerado bom sempre que permita construção
correta dos dados obtidos e ofereça elementos teóricos
para a análise. Ou seja, espera-se do método que ele
possua uma operacionalidade de execução que
considere a reflexão sobre a dinâmica da teoria.
A técnica mais comum de coleta de dados nos
métodos quantitativos é o questionário, composto por
questões fechadas previamente estabelecidas e
codificadas; o que torna a coleta e o processamento
dos dados bastante simplificados e rápidos. Para
tratamento dos dados, utiliza uma análise estatística.
De outro lado, as pesquisas que utilizam o
método qualitativo trabalham com valores, crenças,
representações, hábitos, atitudes e opiniões. Não tem
qualquer utilidade na mensuração de fenômenos em
grandes grupos, sendo basicamente úteis para quem
busca entender o contexto onde algum fenômeno
ocorre. Em vez da medição, seu objetivo é conseguir
um entendimento mais profundo e, se necessário,
subjetivo do objeto do estudo, sem preocupar-se com
medidas numéricas e análises estatísticas.
Aula 5: Avaliação: princípios e métodos 119
Em muitas circunstâncias, a utilização de única
abordagem pode ser insuficiente para abarcar toda a
realidade observada. O ideal, portanto, é integrar as
vantagens do método quantitativo com as do
qualitativo. O procedimento de integração vai requerer
do pesquisador conhecimento aprofundado dos
diferentes métodos utilizados ou, do contrário, que ele
trabalhe cooperativamente com outros pesquisadores.
Não pode ser a pesquisa qualitativa pensada como
oposição à quantitativa, mas como podendo uma gerar
questões para serem aprofundadas pela outra.
MODELOS DE AVALIAÇÃO EM EDUCAÇÃO INFANTIL
A educação infantil, um novo campo de prática
social – que consiste em educar e cuidar de crianças de
até 6 anos em instituições coletivas – apóia-se em três
tipos de fundamentos na intuição, em valores e no
conhecimento científico. A intuição vem informando
uma série de decisões no campo da educação infantil,
estejam elas situadas no plano micro (por exemplo,
ações envolvendo educadoras e crianças), ou no plano
macro (por exemplo, delimitação de metas de
cobertura). Este fundamento – que vem da própria
prática sistematizada – constitui uma das principais
bases para a ação em educação infantil brasileira, haja
vista o número de pessoas que atuam no campo e que
não usufruíram de uma formação profissional específica
inicial ou continuada. Aqui me refiro tanto ao(à)
professor(a) de educação infantil, quanto ao(à)
técnico(a), administrador(a), sindicalista, político(a) e, até
mesmo, ao(à) assessor(a). Se a intuição constitui uma
base importante para fundamentar a ação, ela é
insuficiente, pois nem sempre é generalizável ou passível
de exame crítico. Ser generalizável e passível de crítica,
de confronto com análise oferecida por outros
interlocutores, são qualidades necessárias, pois está se
falando de educação infantil em espaços coletivos, para
além da esfera privada, portanto, públicos. Outro
Quer saber mais?
“O fenômeno avaliação é, hoje, um fenômeno indefinido de professores e alunos que usam o termo atribuem-lhe diferentes significados, relacionados, principalmente, aos elementos constituintes da prática avaliativa tradicional: prova,
nota, conceito, boletim, recuperação, reprovação. Quando questiono diretamente o significado da palavra avaliação, recebo, por vezes, tantas definições quanto são os professores presentes nos encontros.” (HOFFMANN, 1966:14)
Aula 5: Avaliação: princípios e métodos 120
fundamento essencial para a ação no campo da educação
infantil são os valores individuais e sociais, o que se
considera que sejam necessidades e experiências válidas
e adequadas para crianças e adultos. Qualquer proposta
de educação, de socialização, de cuidado se orienta por
parâmetros do que seja bom, desejável em oposição ao
que é tido como indesejável, ruim. Observa-se uma
grande variação social e histórica quanto aos valores que
devem reger a educação em qualquer etapa da vida. Esta
variação é tanto mais intensa quanto menor a criança,
pois, nas sociedades contemporâneas, a criança pequena
é considerada um ser imensamente plástico.
O outro fundamento da prática no campo da
educação infantil é o conhecimento que decorre de
pesquisas e teorias científicas formuladas no próprio
campo da educação infantil ou em disciplinas
correlatas: da Saúde à Psicologia, passando pela
Educação, Antropologia, História, Sociologia, nas
últimas décadas.
O que distingue o conhecimento científico dos
demais fundamentos da educação infantil? Com certeza
não significa que tal fundamento seja neutro, apolítico
ou que não se apóie na intuição. Considera-se que o
que distingue o conhecimento científico é que, além de
ultrapassar o aqui e agora do contexto de sua produção
Em relação ao aluno, é preciso levar em conta não
apenas a dimensão cognitiva, mas a social, a
afetiva, os valores, as motivações e até mesmo a
sua própria história de vida. A ênfase recai nas
variáveis de processo, muito mais do que no
resultado da educação, e a avaliação deve ser
eminentemente dialógica e dialética, voltada para a
transformação, tanto no plano pessoal como no
social. A perspectiva deve ser diagnóstica e de
caráter contínuo, pressupondo trocas constantes
entre avaliador e avaliado, o que pode implicar
inclusive, dependendo do nível de ensino, maior
interação com as próprias famílias dos educandos,
especialmente no caso da pré-escola e das séries
iniciais do ensino fundamental.
Aula 5: Avaliação: princípios e métodos 121
(mesmo guardando os atributos de ser sempre
histórico), ele oferece uma interpretação da realidade
que não é imposta, mas que pode ser provada.
Neste sentido, o conhecimento científico é
público e os argumentos em que baseia suas
interpretações devem passar pelo confronto da crítica
dos pares. Assim, sustento que um indicador de uma
saudável comunidade científica é a disponibilidade para
a competição entre diversas perspectivas, o confronto
público, o pluralismo.
Ou seja, quando defendo que o conhecimento
científico deve constituir um dos fundamentos das
negociações em políticas sociais, não está se
assumindo que é o conhecimento quem deva
determinar, diretamente, as prioridades em políticas
públicas. Nesta determinação, o conhecimento deve
instrumentar os atores, pois estas opções são políticas,
resultantes do jogo de interesses e pressões. Esta
ressalva me parece importante, pois observou- se e
observa-se onipotência e manipulação cientificista,
pretendendo-se que o conhecimento acadêmico, em si,
carregado da aura da neutralidade científica, seja
inquestionável e possa orientar opções corretas,
absolutas e universais de prioridades e estratégias em
políticas públicas. Desta ótica, decisões políticas são
travestidas do qualificativo de “decisão técnica”
competente, diminuindo, portanto, o poder de
barganha dos demais atores sociais.
Nessa tarefa de reconstrução da prática avaliativa,
considero premissa básica e fundamental a postura
de „questionamento‟ do educador. Avaliação é a
reflexão transformada em ação. Ação essa que nos
impulsiona a novas reflexões. Reflexão permanente
do educador sobre a realidade, e acompanhamento,
passo a passo, do educando, na sua trajetória de
construção do conhecimento. Um processo
interativo, através do qual educandos e educadores
aprendem sobre si mesmos e sobre a realidade
escolar no ato próprio da avaliação.
Aula 5: Avaliação: princípios e métodos 122
No atual cenário mundial, a participação de
especialistas e suas pesquisas no estabelecimento de
prioridades, estratégias e avaliações em políticas
educacionais vem sendo potencializada, inclusive no
campo da educação infantil a partir dos anos 90.
É necessário, pois, atentar que na construção da
agenda de prioridades em políticas sociais, os atores
sociais não dispõem de mesmo poder de negociação.
Isto é particularmente notável no caso da educação
infantil–especialmente nos países em desenvolvimento–
campo social que visa à produção da vida, e não à
produção e administração de riquezas, objetivo menos
valorizado nas sociedades contemporâneas.
Com efeito, de um lado a educação infantil
responde particularmente a necessidades de mulheres
e crianças, segmentos sociais que tendem a ocupar a
posição mais próxima do pólo da subordinação no eixo
do acesso ao poder. Em segundo lugar, nos países em
desenvolvimento, políticas, programas e projetos
governamentais visam à educação infantil de
populações pobres, segmentos sociais que também
ocupam a posição mais próxima do pólo da
subordinação no eixo da distribuição do poder.
E em terceiro lugar, porque refere-se à avaliação
de políticas, programas e projetos contemporâneos,
A avaliação de programas educacionais no Brasil
tem como referência, de um lado, a longa tradição
de avaliação na própria área da educação e, de
outro, as contribuições mais recentes da ciência
política. Na primeira perspectiva, a avaliação
educacional no Brasil, caudatária do pensamento
anglo-saxônico, e mais particularmente dos estudos
norte-americanos, acompanhou a transição da
avaliação concebida como medida, voltada para os
resultados da aprendizagem do aluno e a cargo de
psicólogos e psicopedagogos, para uma perspectiva
mais ampla. Entre os anos 60 e 70, passam a ser
focalizados como objeto de estudo os programas
educacionais e o seu contexto, tendo profissionais
do campo das Ciências Sociais como avaliadores.
Aula 5: Avaliação: princípios e métodos 123
isto é, que se desenvolvem na atual conjuntura mundial
globalizada, em que os países do sul enfrentam os
desafios das políticas de ajuste conseqüentes ao novo
ordenamento econômico mundial. Redução dos gastos
sociais, flexibilização dos contratos de trabalho,
enfraquecimento dos espaços tradicionais de debate
político limitam o poder de participação e negociação já
limitado desses atores sociais. Diante deste contexto,
advogo uma ampliação do conceito tradicional de
avaliação de políticas, programas e projetos de
educação infantil. A avaliação constitui uma forma
particular de pesquisa social que tem por finalidade
determinar não apenas se os objetivos propostos foram
atingidos (conceituação tradicional), mas também se os
objetivos propostos respondem às necessidades dos
participantes diretamente concernidos pela educação
infantil: pais (especialmente as mães), profissionais e
crianças. Ao recomendar esta conceituação de
avaliação está se sugerindo, inicialmente, um
questionamento dos objetivos que vêm orientando
propostas de projetos e programas de educação
infantil. Qual o seu objetivo? Os objetivos que propõem
respondem a que tipos de necessidades/ interesses? Os
atores sociais mais particularmente interessados –
pais/mães, profissionais e crianças – concordam com
tais objetivos? Esta pergunta é chave para orientar a
montagem de pesquisas visando a avaliação de
programas e projetos, pois inclui reflexão e análise
relativas ao ponto de partida: os objetivos de políticas,
programas e projetos.
Uma análise da literatura internacional
evidencia, de imediato, duas grandes tendências
contemporâneas quanto aos objetivos da educação
infantil: uma para os países desenvolvidos; outra para
os em desenvolvimento. Para os países em
desenvolvimento, particularmente para a América
Latina dos anos 90, o principal objetivo que vem sendo
Aula 5: Avaliação: princípios e métodos 124
proposto à educação infantil é o da prevenção do
impacto da desigualdade econômica (mortalidade,
desnutrição infantil), especialmente prevenção do
fracasso escolar no ensino fundamental, uma estratégia
para o aumento de sua eficiência.
Dentro desta ótica, o design dos projetos de
diagnóstico/avaliação são orientados para avaliar
cobertura, custo e impacto, este último geralmente
medido através de aferição do estado nutricional, da
inteligência, de habilidades cognitivas, mas, raramente,
do desenvolvimento social. O indicador chave deste
modelo é a avaliação custo–benefício, incluindo nos
benefícios principalmente as taxas de retorno. Este é o
modelo particularmente presente nos estudos
realizados, encomendados ou publicados pelo Banco
Mundial.
Quais os problemas que detecto neste
modelo?
Nos países desenvolvidos, especialmente na
Comunidade Européia, pode-se encontrar outro modelo
de avaliação de políticas de educação infantil, que pode
nos inspirar nos planos teórico-conceitual e na
construção de indicadores. Refiro-me ao modelo
apresentado no documento Monitoring childcare
services for young people (European Comission
Network on Childcare, 1994). O documento retoma o
duplo pertencimento dos serviços de educação infantil:
tais serviços referem-se a políticas para infância e a
políticas para igualdade de oportunidades entre homens
e mulheres. Este duplo objetivo da educação infantil
tem marcado a história de sua reivindicação também
no Brasil. Ter-se clareza do duplo objetivo deste setor
da política social permite que se definam, também
claramente, quais os indicadores a serem selecionados.
Aula 5: Avaliação: princípios e métodos 125
O modelo da Comunidade Européia pode ser
resumido numa matriz de dupla entrada que atenta
simultaneamente para os participantes diretamente
envolvidos em programas e projetos de educação
infantil – pais/mães, profissionais/trabalhadores(as) e
crianças – e para as categorias de informação:
necessidades, demanda e provimento. Necessidades,
demanda e provimento são expressas diferentemente
conforme se considerem pais/mães, profissionais e
crianças. O modelo conceitua necessidade como “direito
socialmente reconhecido”, reconhecimento que pode
ser legal ou, apenas, instituído na prática. No Brasil,
por exemplo, desde a Constituição de 1988, o acesso a
creches e pré-escolas é tanto um direito de pais e mães
trabalhadores(as) quanto das crianças de até 6 anos de
idade.
Necessidades de pais/mães, crianças e
profissionais não são obrigatoriamente as mesmas. Pais
e mães podem ter necessidade de serviços de educação
infantil para prover a guarda dos(as) filhos(as)
enquanto trabalham ou para complementar a
educação/socialização doméstica (o que o referido
documento traduz, nas línguas latinas, por
acolhimento). Estas necessidades se traduzem nos
projetos de avaliação em indicadores diversos: quando
No Brasil, o modelo para avaliação da qualidade da
educação que vem sendo discutido parte de uma
análise do contexto nacional, envolvendo
características da população, seus valores culturais,
investimentos financeiros em educação e a
organização das escolas; leva em consideração fatores
não diretamente ligados à escola (status
socioeconômico da família, nível de educação dos pais,
atividades fora da escola, entre outros); advoga uma
discussão aprofundada sobre a escola em termos de
variáveis de entrada, processo e produto. Um modelo
assim concebido deve relacionar o desempenho dos
estudantes a contextos culturais e a práticas
educacionais associadas ao rendimento escolar.
Chama a atenção para a necessidade de validação dos
instrumentos, particularmente para a validação dos testes de escolaridade.
Aula 5: Avaliação: princípios e métodos 126
se trata de avaliar o quanto a necessidade de guarda
está sendo respondida por projetos e programas, tem-
se que considerar, obrigatoriamente, o horário de
funcionamento previsto pelo projeto. Saber se o horário
de funcionamento cobre a jornada de trabalho dos pais,
especialmente a das mães, passa a ser uma questão
chave para avaliação do projeto/programa.
As crianças têm sempre necessidade de
acolhimento (cuidado, educação), independentemente
das necessidades parentais. Mesmo que da ótica dos
pais/mães, a necessidade prioritária seja a de guarda,
da ótica da criança ela será sempre a de acolhimento.
Avaliar se os programas respondem às necessidades
das crianças implica tanto em aferir o número de
crianças que são acolhidas pelos programas (o que se
denomina cobertura), quanto se os programas
respondem ao que se considera socialmente serem
necessidades das crianças. Necessidades de “guarda”
da ótica dos pais/mães e de acolhimento da ótica das
crianças podem não coincidir. E é necessário estar-se
alerta para conflitos de interesse nesse campo: por
exemplo, a jornada de trabalho dos pais/mães pode ser
muito extensa para a necessidade de acolhimento da
criança.
Algumas crianças têm também necessidades
especiais (por exemplo, suplementação alimentar
quando diagnosticam-se carências nutricionais) e
outras têm necessidade de proteção (por exemplo, em
caso de maus tratos). Para avaliar se estas
necessidades estão sendo respondidas qualitativa e
quantitativamente, os indicadores a serem selecionados
serão de outra natureza.
Os(as) trabalhadores(as) em educação infantil
têm necessidades de formação (prévia e continuada),
de condições de trabalho, de salário e de status
profissional.
Aula 5: Avaliação: princípios e métodos 127
Na América Latina, pouca atenção vem sendo
dada à avaliação das necessidades de “guarda” e dos
profissionais. Além disso, confundem-se necessidades
de proteção e necessidades especiais com necessidade
de acolhimento.
Finalmente, confundem-se necessidades dos
pais/mães com as das crianças: poucos são os que
chegaram a níveis das unidades de análise das
necessidades de crianças, como apontam os textos.
A demanda é uma necessidade sentida e
expressa. Ela pode ser explícita ou latente: a explícita é
avaliada através da procura de um serviço. A demanda
latente é aquela que não se expressa espontaneamente
por alguma razão (distância entre domicílio e
equipamento, qualidade ou tipo de serviço oferecido). A
única forma de aferição da demanda latente é a
realização de enquetes específicas. No Brasil são
raríssimos, quase inexistentes, os estudos sobre
demanda: não sabemos quais as modalidades de
serviços preferidos pela população e qual a extensão da
demanda latente. Não dispomos de instrumentos para
avaliar qualquer tipo de demanda, além da extensão da
“lista de espera”.
Além disto, confunde-se, freqüentemente,
necessidade com demanda: considera-se que, desde
que sejam pobres, todas as famílias de crianças
pequenas têm demanda por serviços, olvidando-se da
mediação de valores para que uma necessidade se
configure em demanda. Também, não se avaliam as
demandas dos(as) profissionais quanto às condições de
trabalho.
Finalmente, o provimento dos serviços,
categoria que tanto pode ser descrita como a
capacidade, isto é, número de vagas disponíveis,
quanto como o uso efetivo no caso das crianças.
Aula 5: Avaliação: princípios e métodos 128
Percebe-se que um modelo de avaliação que
leve em consideração os três participantes (pais/mães,
profissionais e crianças) e as três categorias
(necessidade, demanda e provimento), complexifica as
avaliações de custo–benefício: se pretendo ampliar a
cobertura respondendo a necessidades de proteção das
crianças a um custo mínimo, poderei estar eliminando
de meu programa as necessidades de acolhimento das
crianças, de “guarda” dos pais/mães e laborais dos
profissionais.
Tal modelo permite que se explicitem opções
para os atores sociais: por exemplo, quem arca com os
custos (monetários ou não) e quem se beneficia com o
provimento.
CONSTRUÇÃO DA PERGUNTA AVALIATIVA
A avaliação é uma função de gestão destinada a
auxiliar o processo de decisão visando torná-lo o mais
racional e efetivo possível. Na atual conjuntura, o alto
custo da atenção a saúde, seja por sua cobertura ou
complexidade, tem exigido dos gestores decisões que
beneficiem maior número de usuários e que consigam
resultados mais eqüitativos com os mesmos recursos
disponíveis. Para que isso aconteça é necessário que se
defina claramente o para que se está fazendo a
avaliação. Isso significa ter claro qual a decisão em
jogo e quem tem o poder para decidir. Para que a
decisão a ser tomada seja realmente efetiva e não se
torne apenas uma medida racionalizadora de recursos
será necessário que se tenha sempre em mente que a
avaliação deverá ser feita tendo como beneficiário final
o cliente/usuário do serviço/programa ou projeto e não
exclusivamente quem solicitou a avaliação.
Esta característica peculiar faz com que a
avaliação se torne um campo de trabalho propício para
Você sabia?
São os seguintes aspectos ou dimensões da qualidade desejáveis nos serviços de saúde: efetividade (relação do impacto real com o impacto potencial numa situação ideal); Eficácia (capacidade de produzir o efeito desejado); Eficiência (relação entre o efeito real e os custos da produção); Eqüidade (distribuição dos serviços de acordo
com as necessidades de saúde objetivas e percebidas da população).
Aula 5: Avaliação: princípios e métodos 129
a aplicação transdisciplinar dos conhecimentos
existentes em áreas como a de Epidemiologia,
Administração, Estatística, Ciências Sociais. Isto
porque, para alcançar tais objetivos mais
compreensivos, a avaliação exige a utilização de
conceitos e técnicas abrangentes e mais adequadas ao
que será avaliado e não a adoção de modelos pré-
estabelecidos e rígidos.
Em realidade, o que se quer responder com a
avaliação se constitui em uma seqüência de perguntas,
geradas por uma clara pergunta inicial, que vão sendo
formuladas na medida em que se avança no processo
de análise dos dados. A partir das questões formuladas,
se fará uma primeira aproximação dos dados
disponíveis. Na medida em que se aprofunde o
conhecimento dado pelas informações coletadas, novas
perguntas são formuladas para ajudar a entender o
significado ou representatividade dos dados. Cabe
lembrar que as questões surgidas devem manter
coerência com a pergunta inicial, norteadora do
processo de avaliação.
Assim, na avaliação de sistemas, serviços ou
programas/projetos de saúde é possível iniciar o
processo de avaliação com a abordagem sistêmica da
administração que permite analisar o processo de
trabalho e as relações com os resultados e seguir com o
estudo de impacto epidemiológico visando entender as
repercussões das ações operacionalizadas para atender
a população usuária ou de referência.
Para aprofundar o significado das mudanças
apontadas, podemos adotar uma abordagem qualitativa
com os usuários e profissionais envolvidos nas
atividades.
Aula 5: Avaliação: princípios e métodos 130
BASE CONCEITUAL DOS INDICADORES
Os indicadores são instrumentos projetados e
utilizados para avaliar a consecução de objetivos e
metas, variáveis que permitem quantificar os
resultados de ações, obter uma quantificação inicial
para termos de avaliação no momento ou comparação
posterior (Malett, 2000).
Tradicionalmente, portanto, os indicadores
trazem uma concepção de quantificação de
informações, sendo desenvolvidos com essa finalidade;
e eles estão vinculados aos critérios de confiabilidade e
validade, entendidos como busca de precisão e
exatidão no que se quer medir, isto é, em que nível de
certeza o resultado da observação espelha o que se
pretendeu avaliar.
Ainda na perspectiva de definição dos
indicadores, também importam critérios de qualidade
historicamente agrupados em sete aspectos englobados
como simplicidade, validade, disponibilidade, robustez,
sinteticidade, discriminatoriedade e poder de cobertura.
Neste sentido, abre-se campo para pensar os
indicadores em saúde na perspectiva da definição de
informação, entendendo que informação é “a
representação de fatos da realidade com base em
determinada visão de mundo, mediante regras da
simbologia; e que informar é um processo dinâmico e
complexo, envolvendo componentes tecnológicos,
econômicos, políticos, conceituais e ideológicos,
associados a um referencial explicativo sistemático. Os
indicadores utilizados para avaliar a qualidade dos
serviços de saúde são três grandes grupos – estrutura,
processo e resultado. Os indicadores de estrutura incluem
os recursos ou insumos utilizados no sistema de saúde,
que podem ser sintetizados em humanos, materiais e
financeiros; os de processo englobam as atividades e
Importante
Indicadores “Definem o sentido e o alcance de um projeto e medem o
sucesso dos objetivos... É necessário definir indicadores para cada um dos objetivos de impacto e de produto”.
Aula 5: Avaliação: princípios e métodos 131
procedimentos envolvidos na prestação de serviços e os
de resultados incluem as respostas das intervenções para
a população que tenha sido beneficiada por elas. Os
indicadores de resultado tradicionalmente utilizados em
estudos epidemiológicos são os que avaliam as mudanças
na saúde da população, relacionadas à mortalidade e
morbidade.
CONSTRUÇÃO DE INDICADORES
A idéia de construção de resultados para
projetos vem ganhando força entre dirigentes e
técnicos de várias organizações, principalmente as do
Terceiro Setor. É possível construir um sistema com
parâmetros e critérios de avaliação de projetos e
organizações que expressem, de modo claro e
compreensível, os pressupostos de cada um na escolha
e priorização de um conjunto de indicadores.
Atualmente, muitas organizações admitem a
necessidade e estão motivadas a desenvolver um
sistema de indicadores de resultados que lhes seja
adequado. Querem elas mesmas ter condições de
avaliar até que ponto os objetivos a que se propõem
estão sendo alcançados e por que, visando melhorar
sua atuação.
A formulação de indicadores é uma das
operações básicas inerentes aos sistemas de
Por que indicadores?
Indicam exatamente os resultados de cada um dos
níveis de objetivos.
Fornecem as provas tangíveis de realização de
cada nível.
Fornecem uma descrição operacional (quantidade,
qualidade, público-alvo, tempo e localização dos
objetivos e resultados)
Permitem julgar a pertinência e a viabilidade do
objetivo do projeto e de seus produtos.
Estabelecem critérios para a avaliação do projeto. Permitem acompanhar a realização do projeto.
Aula 5: Avaliação: princípios e métodos 132
informação em saúde. No ato da formulação dos
indicadores, estão contempladas a sua definição
propriamente dita, a definição dos dados a coletar para
sua composição e a definição dos métodos e
procedimentos de sua produção. É importante atentar
para a definição de indicadores confiáveis e válidos.
Alguns indicadores são, portanto, mais sensíveis às
mudanças nos/dos serviços e isso deve funcionar como
critério para orientar a sua seleção. O uso de
indicadores deve contribuir para aprimorar a qualidade
dos serviços e suas respostas; a dificuldade reside em
decidir, objetivamente, quais são os parâmetros que
expressam qualidade e como medi-los adequadamente.
Como formular indicadores?
Identifique um ou mais indicadores que sejam
compatíveis com cada nível de objetivo.
Quantifique-os de forma realista.
Determine a qualidade do resultado
pretendido.
Determine o período para obter o resultado.
Tipos e características de indicadores
Os indicadores podem ser usados para medir ou
revelar aspectos relacionados a diversos planos da vida
social: individual e familiar, coletivo e associativo, das
relações sociais, políticas, econômicas e culturais da
sociedade.
Os indicadores se referem a aspectos tangíveis e
intangíveis da realidade. Tangíveis são os facilmente
observáveis e aferíveis quantitativa ou
qualitativamente, como renda, escolaridade, saúde,
organização, gestão, conhecimentos, habilidades e
outros. Já os intangíveis são aqueles sobre os quais só
podemos captar parcialmente e indiretamente algumas
Você sabia?
Os indicadores devem ser: CONFIÁVEIS, já que distintos avaliadores devem obter os mesmos resultados ao analisar o mesmo programa com os indicadores propostos. VÁLIDOS para medir precisamente aquilo que se deseja medir. CLAROS E PRECISOS. MENSURAR MUDANÇAS que possam ser atribuídas ao resultado da execução das ações do programa. ADEQUADOS para cada objetivo.
Aula 5: Avaliação: princípios e métodos 133
manifestações: consciência social, auto-estima, valores,
atitudes, estilos de comportamento, poder, cidadania.
Na construção de indicadores, considera-se a
diferença e a coerência que guardam entre si a variável
a observar, o indicador utilizado e o meio ou fonte de
verificação. Exemplo: pretende-se avaliar as mudanças
na qualidade de vida de um grupo geradas por meu
projeto, posso escolher uma ou muitas variáveis entre
diversas possibilidades: renda familiar, posse de bens
materiais, condições de moradia, saúde, escolaridade e
outros. Após escolher a variável renda familiar, inicia-se
o trabalho de construção de indicador como, por
exemplo:
Porcentagem de famílias do grupo alvo cuja
renda aumentou nos últimos 24 meses;
Porcentagem de famílias do grupo alvo com
aumento de renda superior ao daquelas não
atingidas pelo projeto, nos últimos 24 meses.
Cada um fornece ângulos diferentes da
realidade.
CARACTERÍSTICAS DE UM BOM SISTEMA DE
INDICADORES
Um bom sistema de indicadores para
monitoramento e avaliação de resultados apresenta as
seguintes características:
É coerente com a visão e com a concepção
que as organizações envolvidas têm sobre os
objetivos centrais e as dimensões que um
projeto deve considerar e resulta da
negociação transparente e não impositiva dos
diferentes interesses;
Dica do professor
Indicadores de saúde, além de representarem medidas do impacto dos serviços sobre a saúde de populações, precisam considerar a mensuração da adequação, da infra-estrutura dos serviços e da efetividade dos processos. A avaliação de indicadores não deve ser conduzida de forma isolada nem deve encerrar-se em si mesma, mas sim constituir-se em ferramenta que permita a formação de opinião e a tomada de decisões.
Aula 5: Avaliação: princípios e métodos 134
Tem indicadores bem definidos, precisos e
representativos dos aspectos centrais da
estratégia do projeto, sem ter pretensão de
dar conta da totalidade;
É simples, capaz de ser compreendido por
todos, e não apenas por especialistas, sem
ser simplista;
Prevê e especifica os meios de verificação que
serão utilizados, bem como os responsáveis
pela coleta de informação, pela análise e
tomada de decisões.
EXERCÍCIO 1
Sobre o momento da avaliação, podemos afirmar que:
( A ) O projeto deve ser avaliado no seu final a fim de
se analisar os objetivos alcançados;
( B ) Não cabe uma avaliação antes do projeto ter
início, pois não há nada ainda a ser considerado
neste momento;
( C ) A avaliação realizada antes de um projeto ter
início (ex-ante) serve para determinar sua
pertinência, viabilidade e eficácia potencial, para
que se possa decidir sobre a conveniência de
realizá-lo;
( D ) A avaliação deve acontecer durante a realização
de um projeto, sem análises anteriores nem
posteriores à sua execução;
( E ) Nenhuma das respostas está correta.
Aula 5: Avaliação: princípios e métodos 135
EXERCÍCIO 2
No que diz respeito aos responsáveis pela avaliação,
podemos afirmar que:
( A ) O projeto deve ser avaliado exclusivamente por
agentes externos;
( B ) A auto-avaliação não traz benefícios à avaliação
de projetos;
( C ) Apenas uma avaliação mista cumpre os objetivos
da avaliação de projetos;
( D ) A avaliação interna tem como avaliadores pessoas
da própria instituição, mas não diretamente
responsáveis pela execução do projeto;
( E ) A avaliação externa é realizada pelas próprias
pessoas encarregadas da execução do projeto.
EXERCÍCIO 3
Analise vantagens e desvantagens das abordagens
qualitativas e quantitativas como métodos de avaliação
de projetos.
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
Aula 5: Avaliação: princípios e métodos 136
EXERCÍCIO 4
De que forma o exemplo da Educação Infantil pode nos
ajudar a pensar a Avaliação de Projetos Sociais?
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
RESUMO
Vimos até agora:
Avaliação deve estar atenta as três etapas de
um projeto: planejamento, processo e
resultados. Desta forma, cada uma delas
deve ser objeto de julgamento por parte da
organização e não somente ao final do
projeto;
As abordagens qualitativa e quantitativa são
denominadas de métodos, e este é
considerado bom sempre que permita
construção correta dos dados obtidos e
ofereça elementos teóricos para a análise. Ou
seja, espera-se do método que ele possua
uma operacionalidade de execução que
considere a reflexão sobre a dinâmica da
teoria;
No atual cenário mundial, a participação de
especialistas e suas pesquisas no
estabelecimento de prioridades, estratégias e
avaliações em políticas educacionais vem
sendo potencializada, inclusive no campo da
educação infantil a partir dos anos 90;
Aula 5: Avaliação: princípios e métodos 137
Os indicadores trazem uma concepção de
quantificação de informações, sendo
desenvolvidos com essa finalidade; e eles
estão vinculados aos critérios de
confiabilidade e validade, entendidos como
busca de precisão e exatidão no que se quer
medir, isto é, em que nível de certeza o
resultado da observação espelha o que se
pretendeu avaliar.
Avaliações de Projetos Sociais e de
Saúde
Patrícia Nassif
AU
LA
6
Ap
res
en
taç
ão
Nesta aula será analisada a avaliação de serviços sociais de
acordo com novas abordagens que leva em consideração e
introduz o conceito de Seguridade Social à Assistência Social,
reconhecendo direitos sociais de forma conjunta e integrada.
Discute-se a descentralização político-administrativa, tendo em
vista sua efetiva transferência de poder de decisão, de
competências e de recursos. Aborda-se também a metodologia
qualitativa para avaliação de serviços e ações em saúde,
destacando o campo de promoção da saúde.
Ob
jeti
vo
s
Esperamos que, após o estudo do conteúdo desta aula, você seja
capaz de:
Reconhecer a importância do Serviço Social enquanto profissão
de caráter sócio-político, crítico e interventivo, que se destaca
no cenário de globalização como intervenção nas diversas
refrações da “questão social” operando com diretrizes e
princípios;
Identificar as ações de proteção básica de atendimento que
devem ser prestadas nos municípios e estados brasileiros a
partir da descentralização político-administrativa;
Compreender que a pesquisa qualitativa adentra na
subjetividade dos fenômenos, voltando-se para grupos
delimitados em extensão, porém possíveis de serem
abrangidos intensamente.
Aula 6 | Avaliação de projetos sociais e de saúde 140
Avaliação de serviços sociais: novas
abordagens
SERVIÇO SOCIAL – O QUE É?
É uma profissão de caráter sociopolítico, crítico e
interventivo, que se utiliza de instrumental científico
multidisciplinar das Ciências Humanas e Sociais para
análise e intervenção nas diversas refrações da
“questão social”, isto é, no conjunto de desigualdades
que se originam do antagonismo entre a socialização da
produção e a apropriação privada dos frutos do
trabalho. Inserido nas mais diversas áreas (saúde,
habitação, lazer, assistência, justiça, previdência,
educação), com papel de planejar, gerenciar,
administrar, executar e assessorar políticas, programas
e serviços sociais, o Assistente Social efetiva sua
intervenção nas relações entre os homens no cotidiano
da vida social, por meio de uma ação global de cunho
socioeducativo ou socializadora e de prestação de
serviços.
O Assistente Social está capacitado, sob o ponto
de vista teórico, político e técnico, a investigar,
formular, gerir, executar, avaliar, e monitorar políticas
sociais, programas e projetos nas áreas de saúde,
educação, assistência e previdência social, empresas,
habitação. Realiza consultorias, assessorias,
capacitação, treinamento e gerenciamento de recursos;
favorece o acesso da população usuária aos direitos
sociais; e trabalha em instituições públicas, privadas,
em organizações não governamentais e junto aos
movimentos populares.
Com a aprovação da Constituição Federal de
1988, se estrutura no Brasil o paradigma legal-
institucional de um projeto societário vinculado à
democracia e à cidadania, delineando os fundamentos
Importante
A Assistência Social como Política Pública se constitui no bojo do capitalismo globalizado e
acirramento da pobreza. Nesse processo, ganhou status não só de política, mas de política prioritária e imprescindível.
Aula 6 | Avaliação de projetos sociais e de saúde 141
para a construção de um Estado de Direito Democrático
de cunho universalista e institucional com fortes
elementos democratizadores, responsável por garantir
proteção social por meio de políticas sociais capazes de
efetivar e promover maior eqüidade e justiça social.
A Constituição estabeleceu por diretrizes a
descentralização, municipalização, participação popular
e comando único das ações em cada esfera do governo
no âmbito das políticas públicas. Assim, o Estado
marcado pela centralização da gestão pública deveria
ceder espaço a uma estrutura descentralizada das
ações e decisões, fortalecendo Estados, Municípios e
sociedade para realmente efetivar democracia.
A exigência de descentralização, como estratégia
de democratização, e a valorização do poder local e da
participação popular vão exigir uma nova relação
povo/governo e imprimir uma nova lógica de controle
social.
Assim, a “Constituição Cidadã” se instaura como
um marco importante no processo de (re)desenho de
um Estado de Direito Democrático e de redefinição do
perfil da Assistência Social no Brasil.
No seu compromisso com o estatuto da
cidadania, consignou a Assistência Social como Direito,
elevando-a à condição de Política Social, assentada nos
princípios de dignidade, autonomia e direito a serviços
de qualidade, saindo do campo da benemerência, do
assistencialismo clientelista, do dever moral para o da
responsabilidade estatal.
Introduz no conceito de Seguridade Social a
Assistência Social, reconhecendo direitos sociais de
forma conjunta e integrada. A Seguridade Social
enquanto “conjunto integrado de ações de iniciativa dos
poderes públicos e da sociedade, destinadas a
Importante
A consolidação da Assistência Social como Política de Proteção Social requer novas formas de atuação, investimentos e gestão na área social, onde o protagonismo do poder local, principalmente dos Municípios, é crucial. Logo, é na dimensão local que se deve processar as
transformações necessárias à efetivação da cidadania.
Aula 6 | Avaliação de projetos sociais e de saúde 142
assegurar os direitos relativos à Saúde, à Previdência e
à Assistência Social”. Nesse contexto, apresenta-se
como política pública imprescindível para garantir
serviços / programas / benefícios e, alavancar, de
forma articulada, processos e políticas intersetoriais
que se proponham a enfrentar o empobrecimento e a
exclusão de uma parcela expressiva da população.
Com a regulamentação em 1993 da Lei Orgânica
da Assistência Social - LOAS, se estabeleceu o então
Sistema Descentralizado e Participativo da Assistência
Social, definindo novas relações entre Estado -
Sociedade tanto no nível da gestão como do controle
social por parte da população através dos Conselhos.
Vislumbram-se novas possibilidades ao enfrentamento
da exclusão e das diferenças sociais.
Com a aprovação da nova Política de Assistência
Social - PNAS e da Norma Operacional Básica – NOB,
foram empreendidos esforços no sentido de
concretização do Sistema Único de Assistência Social –
SUAS, materializando as diretrizes da LOAS.
Sua construção tem por eixo a concepção de
Assistência Social como política pública, fundamentada
constitucionalmente no sistema de Seguridade Social,
não contributiva, visando assegurar direitos
consistentes através das ações prestadas pelo Estado e
pela sociedade, aos segmentos da população em
situação de risco, vulnerabilidade e exclusão descritos
no Art. 203 da Constituição Federal de 1988.
O SUAS pode ser definido, como “um sistema
público não-contributivo, descentralizado e participativo
que tem por função a gestão do conteúdo específico da
Assistência Social no campo da proteção social
brasileira” (NOB/05).
Você sabia?
O SUAS visa o aperfeiçoamento das atribuições do Governo Federal, Estaduais e Municipais, quanto à redistribuição de tarefas e de recursos, e,
sobretudo, à potencialização dos serviços públicos e à ampliação de ofertas no âmbito da política de assistência social, reorganizando e articulando a gestão unificada, exigidas pelas diretrizes constitucionais da descentralização político-administrativa e da participação popular.
Aula 6 | Avaliação de projetos sociais e de saúde 143
Constitui-se pelo conjunto de serviços,
programas, projetos e benefícios no âmbito da
assistência social prestado diretamente – ou por meio
de convênios com organizações sem fins lucrativos –
por órgãos e instituições públicas federais, estaduais e
municipais da administração direta e indireta e das
fundações mantidas pelo poder público.
Cabe a ele regular, em todo o território nacional
e hierarquia, os vínculos e as responsabilidades do
sistema cidadão de serviços, benefícios e ações de
assistência social, de caráter permanente ou eventual,
executados e providos por pessoas jurídicas de direito
público sob critério universal e lógica de ação em rede
hierarquizada e em articulação com iniciativas da
sociedade civil.
Enquanto sistema único, o SUAS tem por
compromisso e responsabilidade romper com as
fragmentações programáticas, o paralelismo entre as
três esferas de governo, bem como com as ações por
categorias e segmentos sociais. Superando a vertente
de análise segregadora em segmentos sociais sem
compromisso com a cobertura universal e o alcance da
qualidade dos resultados.
Através do SUAS, a Assistência Social, enquanto
política pública de âmbito da seguridade social, deve
manter: a vigilância social, a defesa social e
institucional de direitos socioassistenciais e a proteção
social básica e especial para determinadas situações de
vulnerabilidade e risco social.
Assim, o SUAS é um sistema articulador e
provedor de ações de Proteção Social Básica e Especial
junto a municípios e estados, garantindo aquisições
materiais para suprir necessidades e socioeducativas
que trabalhem com as potencialidades dos cidadãos em
um padrão de qualidade que os capacite para a
Importante
Ao se compromissar com o desenvolvimento humano e social e efetivação dos direitos de cidadania, a Proteção Social estabelece por princípios norteadores: Matricialidade, Territorialização, Proteção pró-ativa, Integração à Seguridade Social;
Integração às políticas sociais e econômicas.
Aula 6 | Avaliação de projetos sociais e de saúde 144
reconstrução da autonomia, do protagonismo, da
eqüidade, da sustentabilidade, da socialização e
inclusão social.
PRINCÍPIOS E DIRETRIZES
Universalização do Sistema: através da
fixação de níveis básicos de cobertura e dos
benefícios, serviços e ações de assistência
social para o território nacional.
Descentralização político-administrativa:
garantia para a municipalização bem como a
definição de competências específicas e
comando único em cada esfera de governo,
integração de objetivos, benefícios,
programas e projetos em rede hierarquizada
e territorializada.
Comando único por esfera de Gestão:
orientado pela Política Nacional de Assistência
Social – PNAS, Norma Operacional Básica –
NOB, Planos Municipal e Estaduais de
Assistência Social, devidamente aprovados
pelos Conselhos Nacional, Estadual e
Municipal de Assistência Social – CNAS, CEAS
e CMAS.
Territorialização da Rede de Assistência Social
sob os critérios de oferta capilar de serviços
baseada na lógica da proximidade do cidadão,
localização dos serviços nos territórios com
maior incidência de vulnerabilidades e riscos
sociais, garantia do comando único por
instância de gestão.
NOBs que estabeleçam padrões de
desempenho, padrões de qualidade e
referencial técnico-operativo.
Sistema de planejamento através de planos
municipais, estaduais e federal que detalhem a
aplicação da PNAS, devidamente aprovada
pelos Conselhos.
Importante
Com a aprovação da nova Política de Assistência Social -PNAS e da Norma Operacional Básica –
NOB, foram empreendidos esforços no sentido de concretização do Sistema Único de Assistência Social – SUAS, materializando as diretrizes da LOAS.
Aula 6 | Avaliação de projetos sociais e de saúde 145
Presença de espaços institucionais de defesa
socioassistencial para acolhida de manifestação
de interesses dos usuários, preservação de
direitos e adoção de medidas e procedimentos
nos casos de violação aos direitos pela rede de
serviços e atenções.
Presença de sistema de regulação social das
atividades públicas e privadas, exercendo
fiscalização e controle da adequação e
qualidade das ações das autorizações de
funcionamento de organizações e de serviços
socioassistenciais;
Sistema de gestão orçamentária para
sustentação da política através de Orçamento
Público, com provisão do custeio da rede , a
partir do cálculo dos custos dos serviços por
elemento de despesa, necessário para manter o
padrão de qualidade, quantidade, transparência
de prestação de contas, mecanismos,
transferência direta do fundo e clara definição
de fontes de financiamento.
Sistema democrático e participativo de gestão e
de controle social através: a) dos Conselhos e
Conferências; b) da publicização de dados e
informações referente às demandas e
necessidades, localização e padrão de cobertura;
c) canais de informação e decisão com as
organizações sociais parceiras, submetidas a
controle social, por meio de audiências públicas;
d) mecanismos de audiência da sociedade, de
usuários, de trabalhadores sociais; e) conselhos
paritários de monitoramento de direitos
socioassistenciais; f) conselhos de gestão de
serviços.
Sistema de gestão de pessoas – capacitação
de gestores e agentes operadores.
Dica do
professor
A LOAS propõe um conjunto integrado de ações e iniciativas do
governo e sociedade civil para garantir proteção social para quem dela necessitar. Cumprir o disposto significa, para a administração pública, desenvolver habilidades específicas na formação de REDES.
Aula 6 | Avaliação de projetos sociais e de saúde 146
Articulação interinstitucional com os demais
sistemas de direitos humanos, em específico
(crianças, adolescentes, idosos, pessoas
portadoras de deficiência, mulheres, negros e
outras minorias; de proteção às vítimas de
exploração e violência; adolescentes
ameaçados de morte; de promoção do direito
de convivência familiar).
Articulação interinstitucional de competências
e ações complementares com o Sistema
Nacional e Estadual de Justiça.
Articulação intersetorial de competências e
ações entre SUAS e o SUS.
Articulação intersetorial de competências e
ações entre SUAS e o Sistema Nacional de
Previdência Social, gerando vínculos entre
sistemas contributivos e não-contributivos.
Articulação intersetorial de competência e
ações entre SUAS e o Sistema Educacional
por intermédio de serviços complementares e
ações integradas para o desenvolvimento da
autonomia do sujeito, por meio de garantia e
ampliação de escolaridade e formação para o
trabalho.
DESCENTRALIZAÇÃO POLÍTICO-ADMINISTRATIVA
O Art. 16 da LOAS dispõe que a organização
das ações deverá ocorrer sob forma de um sistema
descentralizado e participativo, constituído pelas
entidades e organizações de assistência social,
articulando meios, esforços e recursos, e por um
conjunto de instâncias deliberativas, compostas pelos
diversos setores envolvidos.
A descentralização se efetiva com transferência
de poder de decisão, de competências e de recursos, e
com autonomia das administrações dos microespaços
na elaboração de diagnósticos sociais, diretrizes,
Importante
É somente com a Lei Orgânica da Assistência Social- LOAS, lei nº 8.742 promulgada em 07/12/1993 que dispõe sobre a organização da assistência social que se regulamentam os dispositivos constitucionais, transformando as “disposições
declaratórias de direito em disposições assecuratórias de direito”, identificando seus destinatários e a fonte primária de recursos que custearão ações e diretrizes a serem adotadas.
Aula 6 | Avaliação de projetos sociais e de saúde 147
metodologias, formulação, implementação, execução,
monitoramento, avaliação e sistema de informação das
ações definidas, com garantias de canais de
participação local.
Assim, a gestão pública precisa articular a
descentralização e a intersetorialidade, haja vista o
objetivo de promover a inclusão social e melhorar a
qualidade de vida, buscando soluções para problemas
concretos a partir dos territórios onde se inserem e
vivenciam as situações de risco, vulnerabilidade e
exclusão, alvo das políticas públicas. A assistência
social como política pública estabelece como principais
pressupostos a territorialização, a descentralização e a
intersetorialidade.
As três esferas de governo na área da
assistência social deverão atuar de forma articulada,
cabendo a coordenação e as normas gerais à esfera
federal e a coordenação e execução aos Estados, ao DF
e aos Municípios. Cabe a cada esfera de governo, em
seu âmbito de atuação, respeitando os princípios e
diretrizes estabelecidas na PNAS, coordenar, formular,
e co-financiar além de monitorar, avaliar, capacitar e
sistematizar as informações.
Como forma de caracterização dos grupos
territoriais da PNAS, se utiliza a definição de municípios
como de pequeno, médio e grande porte utilizado pelo
IBGE. Assim, fica estabelecido:
Municípios de pequeno porte I – população
até 20.000 habitantes (até 5.000 famílias em
média, com forte população na zona rural –
45% da população total);
Municípios de pequeno porte II – aquele cuja
população varia de 20.001 a 50.000
habitantes (de 5.000 a 10.000 famílias em
média);
Quer saber mais?
O financiamento está previsto no Art. 195 da CF88 no que tange à Seguridade Social, instituindo que, por intermédio de orçamento próprio, as fontes de custeio das políticas que compõem o tripé (Assistência Social, Saúde e Previdência Social), devem ser financiadas p or toda a sociedade, mediante recursos provenientes dos orçamentos da União, dos Estados, do DF, dos Municípios e das contribuições sociais.
Aula 6 | Avaliação de projetos sociais e de saúde 148
Municípios de médio porte – aquele cuja
população varia de 50.001 a 100.000
habitantes (de 10.000 a 25.000 famílias em
média);
Municípios de grande porte – aquele cuja
população varia de 101.000 a 900.000
habitantes (de 25.000 a 250.000 famílias);
Metrópoles – o Município com mais de
900.000 habitantes (média superior a
250.000 famílias).
Esta classificação visa identificar as ações de
proteção básica de atendimento que devem ser
prestadas na totalidade dos municípios brasileiros e as
ações de proteção social especial de média e alta
complexidade, que devem ser estruturadas pelos
municípios de médio, grande e metrópoles, bem como
pela esfera estadual. Leva-se em conta, também, além
da realidade local, regional, e o porte, a capacidade
gerencial e de arrecadação dos municípios, e o
aprimoramento dos instrumentos de gestão,
introduzindo o geoprocessamento como ferramenta da
Política de Assistência Social.
INFORMAÇÃO, MONITORAMENTO E AVALIAÇÃO
A implantação de sistemas de informação,
monitoramento e avaliação em assistência social são
providências urgentes, pois remete à promoção de
novos patamares de desenvolvimento da política de
assistência social no Brasil, das ações realizadas e da
utilização de recursos. Sua existência e manejo
fortalece a democratização e a transparência da
informação, que serão base estruturante e produto do
SUAS.
Aula 6 | Avaliação de projetos sociais e de saúde 149
Metodologia qualitativa para avaliação de
serviços e ações em saúde
No campo da saúde, os estudos quantitativos
regem-se pelo conjunto de leis e pressupostos dos
desenhos epidemiológicos, enquanto os qualitativos são
submetidos aos cânones das ciências sociais,
majoritariamente a antropologia social.
As pesquisas que utilizam o método qualitativo
trabalham com valores, crenças, representações,
hábitos, atitudes e opiniões. Não tem qualquer utilidade
na mensuração de fenômenos em grandes grupos,
sendo basicamente úteis para quem busca entender o
contexto onde algum fenômeno ocorre. Em vez da
medição, seu objetivo é conseguir um entendimento
mais profundo e, se necessário, subjetivo de estudo,
sem se preocupar com medidas numéricas e análises
estatísticas.
Cabe-lhes, pois, adentrar na subjetividade dos
fenômenos, voltando a pesquisa para grupos
delimitados em extensão, porém possíveis de serem
abrangidos intensamente. Quando aplicada à saúde, a
pesquisa qualitativa pode utilizar conceitos importados
das Ciências Humanas e Sociais, vislumbrando não
somente estudar o fenômeno em sim, mas
compreender seu significado individual ou coletivo e
como isso influencia na vida da pessoa.
Alguns de seus paradigmas principais situam-se
nas correntes de pensamento Fenomenológico,
Sociológico e na Antropologia, cujo discurso prima pela
definição de pesquisas formuladas para fornecerem
uma visão a partir do discurso do próprio pesquisado.
Ressalta-se, portanto, a importância da fala, que
exerce um papel vital na obtenção de informações
Você sabia?
O debate quantitativo X qualitativo é considerado como superado por alguns autores. O que é considerado, como relevante para o processo de investigação, é a construção do objeto e a mobilização de todas as técnicas possíveis para analisá-lo.
Aula 6 | Avaliação de projetos sociais e de saúde 150
entre os diferentes elementos de um grupo. O material
primordial da investigação qualitativa é, pois, a palavra
que expressa a fala, sendo sua pretensão compreender,
em níveis aprofundados, os valores, práticas, lógicas de
ação, crenças, hábitos, atitudes e normas culturais que
asseguram aos membros de um grupo ou sociedade
atuação no seu cotidiano.
Para coletar os dados nos métodos qualitativos,
usam-se as técnicas da observação, entrevista em
profundidade, entrevista em grupo. Essas técnicas
permitem, entre outras, o registro do comportamento
não verbal, e são aplicadas sempre a um grupo
pequeno de pessoas, escolhido conforme objetivos do
estudo. Trabalha-se sempre com um elevado número
de questionamentos suscitados no contato do
pesquisador com a realidade estudada, e os dados
novos não previstos por estes questionamentos são
sempre considerados.
Sendo os dados gerados a partir do registro
detalhado das observações e entrevistas, decorre a
necessidade de uma relação próxima entre o
pesquisador e o pesquisado, tornando-se difícil a
utilização de recursos de estatística. A análise assume,
assim, caráter compreensivista e interpretativista, e a
consistência dela depende em muito da
capacidade/preparo do pesquisador para a realização
de um trabalho detalhado e profundo.
AVALIAÇÃO NO CAMPO DA PROMOÇÃO DA SAÚDE
A avaliação pode ser considerada como um
componente das práticas presente em diversos âmbitos
e campos do espaço social.
Entre as diversas definições existentes sobre o
significado da avaliação, aquelas referentes à avaliação
de programas sociais têm conseguido maior consenso.
Dica do professor
Avaliação, contudo, não seria considerada um fim em si mesmo, mas um processo onde um julgamento explícito é elaborado, e a partir daí desencadear-se-ia um movimento de transformação na direção da qualidade previamente desejada.
Aula 6 | Avaliação de projetos sociais e de saúde 151
Mas o que a sociedade deveria avaliar nos
seus serviços de saúde?
No campo da saúde, cada vez mais é reforçada a
necessidade de uma permanente avaliação das
intervenções realizadas. O crescimento exponencial da
produção de novas tecnologias voltadas para o cuidado,
que passam a ser usadas, nem sempre tendo a sua
eficácia comprovada e, muitas vezes, gerando efeitos
indesejáveis e altos custos, impõe o desenvolvimento e
aprimoramento de metodologias de investigação dos
serviços de saúde.
São vários os desafios conceituais e
metodológicos presentes para a realização de uma
avaliação, e o debate em torno de questões relevantes,
a exemplo do papel que a teoria desempenha no
processo da avaliação em saúde, está longe de ser
esgotado.
Alguns deles merecem ser pontuados pelas
implicações que apresentam para qualquer processo de
avaliação em saúde.
Um primeiro desafio é o objeto da avaliação em
saúde – as ações e práticas de saúde – que tem
natureza social e histórica, o que não pode ser
negligenciado por quem pretende avaliá-las. Se é fato
que, pela sua natureza, o objeto da avaliação se
modifica em função do tempo e do contexto, também o
próprio processo de pesquisa, na avaliação, transforma
o objeto avaliado.
Um segundo desafio a se considerar é a
dimensão subjetiva do processo de avaliação.
Considerando que esta diz respeito a um julgamento
sobre uma dada intervenção, deve-se ter me mente
que qualquer juízo de valor está orientado por uma
visão de mundo. Usuários dos serviços, representantes
Aula 6 | Avaliação de projetos sociais e de saúde 152
da população, profissionais de saúde e gestores dos
serviços têm objetivos e percepções distintas em
relação aos serviços de saúde e, geralmente, dão
prioridade a aspectos diferentes quando avaliam a
qualidade das ações de saúde.
Um terceiro desafio refere-se à validade dos
estudos. Avaliar intervenções, enquanto ações de
natureza transformadora, exige suficiente flexibilidade
de modelos e métodos utilizados pelo avaliador, de
forma a permitir lidar com inovações identificando seus
efeitos esperados e inesperados.
EXERCÍCIO 1
Na avaliação de projetos sociais, utilizamos “fator (ou
conjunto de fatores) que sinaliza ou demonstra a
evolução, o avanço, o desenvolvimento rumo aos
objetivos e às metas do projeto” (Rebecca Raposo). A
esse instrumento sinalizador denominamos de:
( A ) Monitoramento;
( B ) Diagnóstico social;
( C ) Indicador;
( D ) Levantamento de dados;
( E ) Nenhuma das anteriores.
Aula 6 | Avaliação de projetos sociais e de saúde 153
EXERCÍCIO 2
Assinale a alternativa que aponta características do
SUS – Sistema Único de Saúde:
( A ) Modelo centralizado e participativo; privilegia a
prática curativa, individual e de alto custo; a
saúde é entendida como direito do cidadão e
dever do Estado; fi- nanciado pelo Município e
União;
( B ) Modelo descentralizado e participativo; privilegia
a prática curativa, a saúde é entendida como
gasto público e, como tal, os cidadãos devem
ajudar a custeá-la, possuindo planos de saúde
complementares;
( C ) Modelos descentralizado e participativo de saúde;
a prática de atendimento é orientada para a
lucratividade do setor de saúde e capitalização da
medicina; a saúde é entendida como a total
ausência de doença;
( D ) Modelo participativo e centralizado; concentrado
no complexo médico industrial financiado pelo
Estado; ênfase na doença como pratica
interventiva, incentiva a concentração da
assistência hospitalar;
( E ) Modelo descentralizado e participativo; adota um
conceito ampliado de saúde; a saúde é entendida
como direito do cidadão e dever do Estado;
universal, participativo, eqüitativo e integral;
financiado pelas três esferas de governo, propõe o
reordenamento do sistema de saúde.
Aula 6 | Avaliação de projetos sociais e de saúde 154
EXERCÍCIO 3
Indique 3 aspectos que apontem a importância da
Avaliação de Projetos Sociais e de Saúde.
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
EXERCÍCIO 4
Analise o papel das metodologias quantitativas e
qualitativas para avaliação de serviços e ações em
saúde.
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
RESUMO
Vimos até agora:
O SUAS é um sistema articulador e provedor
de ações de Proteção Social Básica e Especial
junto a municípios e estados, que trabalhem
com as potencialidades dos cidadãos em um
padrão de qualidade que os capacite para a
reconstrução da autonomia, do protagonismo,
da equidade, da sustentabilidade, da
socialização e inclusão social;
Aula 6 | Avaliação de projetos sociais e de saúde 155
A assistência social como política pública
estabelece como principais pressupostos a
territorialização, a descentralização e a
intersetorialidade, aspectos fundamentais na
gestão pública;
As pesquisas que utilizam o método
qualitativo trabalham com valores, crenças,
representações, hábitos, atitudes e opiniões,
seu objetivo é conseguir um entendimento mais
profundo e, se necessário subjetivo de
estudo, sem se preocupar com medidas
numéricas e análises estatísticas.
GABARITO DAS QUESTÕES OBJETIVAS: AULA 1 – 1E; 2A. AULA 2 – 1B; 2C. AULA 3 – 1E; 2C. AULA 4 – 1A; 2A. AULA 5 – 1C; 2D. AULA 6 – 1A; 2E.
157
AV1 – Estududo Dirigido da Disciplina
CURSO: Gestão Pública
DISCIPLINA: Gestão de Políticas Sociais
ALUNO(A): MATRÍCULA:
NÚCLEO REGIONAL: DATA: _____/_____/___________
AULA 1: Políticas sociais
QUESTÃO 1: Justifique por que na aplicação de políticas sociais, as parcerias
envolvendo diversos atores sociais não excluem o Estado na gestão das políticas
sociais, mas atribui à sociedade parte da sua responsabilidade social, justifique a
não exclusão do Estado.
Indicação da página do módulo onde este assunto é apresentado:
Indicar referências de pesquisa complementar (livros: bibliografia e sites:
endereço eletrônico) – OPCIONAL:
Resposta (com as suas palavras):
QUESTÃO 2: Quais as principais dificuldades do desenvolvimento de políticas
sociais no Brasil?
Indicação da página do módulo onde este assunto é apresentado:
Indicar referências de pesquisa complementar (livros: bibliografia e sites:
endereço eletrônico) – OPCIONAL:
Resposta (com as suas palavras):
158
AULA 2: OSCIP: definição e características QUESTÃO 3: Identifique, em no máximo 10 a 20 linhas, as principais razões que
expliquem o surgimento de tantas ONGs no Brasil no inicio da década de 90 até
hoje. Indicação da página do módulo onde este assunto é apresentado:
Indicar referências de pesquisa complementar (livros: bibliografia e sites:
endereço eletrônico) – OPCIONAL:
Resposta (com as suas palavras):
AULA 3: Gestão de OSCIPs QUESTÃO 4: Você acha que os OSCIPs devem ser fiscalizados por meio de CPIs no
Brasil? Justifique.
Indicação da página do módulo onde este assunto é apresentado:
Indicar referências de pesquisa complementar (livros: bibliografia e sites:
endereço eletrônico) – OPCIONAL:
Resposta (com as suas palavras):
159
QUESTÃO 5: Quais as principais fontes de financiamento das OSCIPs no Brasil?
Indicação da página do módulo onde este assunto é apresentado:
Indicar referências de pesquisa complementar (livros: bibliografia e sites:
endereço eletrônico) – OPCIONAL:
Resposta (com as suas palavras):
AULA 5: Elaboração de projetos sociais QUESTÃO 6: Quais os principais critérios de tributação das OSCIPs no Brasil?
Indicação da página do módulo onde este assunto é apresentado:
Indicar referências de pesquisa complementar (livros: bibliografia e sites:
endereço eletrônico) – OPCIONAL:
Resposta (com as suas palavras):
160
QUESTÃO 7: Quais as principais características básicas de um projeto social?
Indicação da página do módulo onde este assunto é apresentado:
Indicar referências de pesquisa complementar (livros: bibliografia e sites:
endereço eletrônico) – OPCIONAL:
Resposta (com as suas palavras):
AULA 5: Avaliação: princípios e métodos QUESTÃO 8: Analise vantagens e desvantagens das abordagens qualitativas e
quantitativas como métodos de avaliação de projetos.
Indicação da página do módulo onde este assunto é apresentado:
Indicar referências de pesquisa complementar (livros: bibliografia e sites:
endereço eletrônico) – OPCIONAL:
Resposta (com as suas palavras):
161
AULA 6: Avaliações de projetos sociais e de saúde
QUESTÃO 9: Indique 3 aspectos que apontem a importância da Avaliação de
Projetos Sociais e de educação.
Indicação da página do módulo onde este assunto é apresentado:
Indicar referências de pesquisa complementar (livros: bibliografia e sites:
endereço eletrônico) – OPCIONAL:
Resposta (com as suas palavras):
QUESTÃO 4: Analise o papel das metodologias quantitativas e qualitativas para
avaliação de serviços e ações em educação.
Indicação da página do módulo onde este assunto é apresentado:
Indicar referências de pesquisa complementar (livros: bibliografia e sites:
endereço eletrônico) – OPCIONAL:
Resposta (com as suas palavras):
162
163
AV2 – Trabalho Acadêmico de Aprofundamento
CURSO: Gestão Pública
DISCIPLINA: Gestão de Políticas Sociais
ALUNO(A): MATRÍCULA:
NÚCLEO REGIONAL: DATA:
_____/_____/___________
Atividade Sugerida: Identificação e Avaliação de Programas Sociais
Instruções:
Nesta disciplina, desenvolveremos três atividades de identificação e de avaliação de
programas e projetos sociais implementados pelas três esferas de governo. Para
isto, você deve comparecer novamente na prefeitura para conversar com os
responsáveis da secretaria de programas sociais para recolher os dados e, se
necessário, visitar alguns dos programas e projetos.
1. Identifique na comunidade ou município escolhido, 3 programas sociais do
governo federal, estadual e municipal (tabela 1);
2. Identifique até 5 Organizações Não Governamentais (ONGs) e OSCIPs que
atuam na comunidade ou município e seus respectivos programas sociais e
beneficiários (tabela 2);
3. Faça uma avaliação do grau de desenvolvimento do município ou da
comunidade por meio dos indicadores do IDH (Índice de Desenvolvimento
Humano). Basta consultar o anuário do IBGE, e recolher os seguintes dados
sobre o município ou a comunidade: renda per capita, longevidade
escolaridade e por final, o IDH (tabela 3).
Dica: O que é IDH?
IDH: Índice de Desenvolvimento Humano é um indicador usado para medir o grau
de desenvolvimento de um país, região, município ou comunidade de acordo com
parâmetros relacionados à:
a) Renda Per capita: é toda riqueza produzida ao longo de um ano dividida
aritmeticamente por toda a sua população. Este 1º item ajuda a ter uma
referencia do tanto dinheiro que cada pessoa teria se este fosse igualmente
distribuído por todos;
b) Longevidade: é a expectativa de vida da população. Este serve para
verificar como anda a saúde da população, visto que, quanto mais as
pessoas viverem no município ou na comunidade, melhor devem ser as
políticas públicas do município.
c) Escolaridade: número de crianças alfabetizadas e regularmente
matriculadas na s escolas. Este item do IDH parte do pressuposto de que
somente por meio dos estudos uma pessoa pode ter chances para mudar e
melhorar sua vida.
E como se calcula o IDH?
Existe um método simples de se calcular o IDH, do seu município. Entretanto, no
Brasil o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia Estatística) através do CENSO tem
feito levantamentos e vem mantendo o índice atualizado, a pesquisa do IDH é feita
por amostragem em lares visitados durante o levantamento do CENSO.
Os valores do IDH variam de 0 (nenhum desenvolvimento) a 1 (desenvolvimento
completo).
Município com valores até 0,499 tem desenvolvimento baixo.
Município com valores de 0,500 a 0,799 tem desenvolvimento médio.
Município com valores de 0,800 a 1 tem desenvolvimento bom.
164
Município pesquisado/Estado:
TABELA 1: PROGRAMAS SOCIAIS
FEDERAL ESTADUAL MUNICIPAL
Título:
Público Alvo:
Benefícios do Programa:
Título:
Público Alvo:
Benefícios do Programa:
Título:
Público Alvo:
Benefícios do Programa:
Título:
Público Alvo:
Benefícios do Programa:
Título:
Público Alvo:
Benefícios do Programa:
Título:
Público Alvo:
Benefícios do Programa:
Título:
Público Alvo:
Benefícios do Programa:
Título:
Público Alvo:
Benefícios do Programa:
Título:
Público Alvo:
Benefícios do Programa:
165
TABELA 2: ONGs e OSCIPs
Nome da ONG/OSCIP Título do Projeto Público Alvo e
Benefícios do Projeto
TABELA 3: AVALIAÇÃO DO GRAU DE DESENVOLVIMENTO DO MUNICÍPIO
166
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