N.° 12 m BENJAMIM CAMOSSA
A FORMA ICTÉRICA DA FERRE TIFÓIDE
Trabalho da 2.a Clinica Medica
TESE DE DOUTORAMENTO APRESENTADA k
I
Faculdade de Medicina do Porto
MARÇO 1 9 1 9
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Composição e impressão ESCOLA T I P . DA OFICINA D E S. JOSÉ
Rua Alexandre H e r c u l a n o - P O R T O
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A F O R M A I C T É R I C A DA F E B R E T I F Ó I D E
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A FORMA M j DA FEBRE TIFÓIDE
Trabalho da 2.* Clinica Medica
TESE 9E DOUTORAMENTO ' APRESENTADA Á
Faculdade de Medicina do Porto
♦ M A R Ç O 1 9 S 9
Composição e impressão ESCOLA T I P . DA OFICINA DE S. JOSÉ
Rua Alexandre HerculanoPORTO
Faculdade de Medicina do Porto DIRECTOR
Maximiano flugusto de Oliveira Lemos S E C R E T Á R I O
Álvaro Teixeira Bastos
C O R P O D O C E N T E
P R O F E S S O R E S O R D I N Á R I O S
Augusto Henrique de Almeida Brandão Anatomia patológica.
Cândido Augusto Corrêa de Pinho Clínica c policlínica obstétricas. Maximiano Augusto de Oliveira
L e m o s Historia da Medecina. Deontologia medica.
João Lopes da Silva Martins Junior Higiene. Alberto Pereira Pinto de Aguiar Patologia geral. Carlos Alberto de Lima Patologia e terapêutica cirúrgicas. Luís de Freitas Viegas Dermatologia e Sifiligrafia. José Dias de Almeida Junior. . . . Pediatria. José Alfredo Mendes de Ma-
e a l h a e s Terapêutica g e r a l . Hidrologia medica.
Antonio Joaquim de Souza Junior Medicina operatória e pequena cirurgia.
Tiago Augusto de Almeida Clinica e policlínica medicas. Joaquim Alberto Pires de Lima. Anatomia descriptiva. José de Oliveira Lima Farmacologia. Álvaro Teixeira Bastos Clinica e policlínica cirúrgicas. Antonio de Souza Magalhães e
L e m o s Psiquiatria e Psiquiatria forence. Manoel Lourenço Gomes Medicina legal. Abel de Lima Salazar Histologia e Embriologia. Antonio de Almeida Garrett . . . . Fisiologia geral e especial. Alfredo da Rocha Pereira Patologia e terapêutica medicas.
Clinica das doenças infeciosas.
P R O F E S S O R E S J U B I L A D O S
José de Andrade Oramaxo. Pedro Augusto Dias.
A Faculdade não responde pelas doutrinas expendidas na dissertação e enunciadas nas proposições.
(Regulamento da Faculdade de 23 de Abril de 1840, art. 155.o)
A MEMORIA PÇ MEU
Pai Nem um só instante se passa que não me
lembre que se te tivesse hoje aqui, junto de todos os teus, seria na nossa easa em festa, o dia mais
feliz da tua vida ; porque o Destino não deixou que assistisses ao fim da tua obra, onde puzeste toda a tua dedicação e iodo o teu enternecido amor de Pai amantíssimo, é hoje, na nossa casa onde ha a dar da tua perda e a saudade da tua presença, o dia mais triste da minha vida inteira.
Nem tu nem eu merecíamos tamanha crueldade . . .
12-12-918
A MINHA MÂE
Tens sido a minha Santa
A MEUS IRMÃOS:
Aurora Chico
Fausto
A MEUS CUNHADOS:
Hermengarda Quida
Celestino
A MEUS PRIMOS:
Clementina Dr. Eugénio Ribeiro
A MEUS SOBRINHOS:
Maria Izabel Jorge
A TODOS OS MEUS
Obrigado peia vossa amizade.
A
Esquecer o teu nome neste livro seria uma ingratidão imperdoável.
Ao David Paula de Albuquerque Rocha
Não esquecerei a tua amizade e a tua leal camaradagem de tempos que não mais voltarão.
Ao Mario Pinho
Com um abraço do teú dedicado "camaradinha,,.
/los meus amigos. A todos os meus condiscípulos. Aos meus contemporâneos.
Ao distincto engenheiro Ex.mo Snr. Julio Portela e sua Exma Família
Sincero reconhecimento pelo muito que vos devo.
'
Ao Ilustrado Corpo Docente
da
FACULDADE de MEDICINA
do PORTO
Ao ilustre e douto professor e meu digno presidente de tese
Ex."'" Senhor
Dr. Thiago Augusto de Almeida
Homenagem do disci pulo ao Talento, ao Caracter e ao Saber e reconhecimento eterno do doente agradecido.
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I
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« Il faut donc accepter le temps comme il vient, les hommes comme ils sont, les livres comme on les fait ».
THÉO. GAUTIER.
^ ^ S T E livro é feito contra a nossa vontade...
Aos poucos que o lerem, eu devo duas explicações :
l.a que ele só tem um fim: conseguir da lei o direito de exercer livremente a minha profissão ;
2? que nele se encontram todos os erros, defeitos e imperfeições dum trabalho
concluído com brevidade, feito nos curtos intervalos dos meus deveres escolares e ainda sob a confusão que no meu cérebro deixou o estudo apressado e irregular do meu curso feito durante a guerra, e quando duas epidemias invadiam esta cidade, de mais sendo para uma delas requesitados os nossos serviços como quintanista de medicina, o que nos valeu ser também contagia-
'
do pela maldita «pneumónica» que nos pôz ás portas da morte, obrigando-nos a interromper este trabalho já começado.
Pouco ou nenhum valor terá, bem o sei, e quem assim o confessa não merece castigo ; foi o que se poude arranjar...
Dezembro de 1918. Porto.
I.a PR RTE
Observação do caso clinico
Observação do caso clinico
UOENÏE M. G., de 20 anos de idade, casada, domestica, residente na cidade do Porto :
Adoeceu em 4de Março de 1917 com :arre-pios, febre, suores abundantes, prostração, dores epigastricas e generalisadas, obstipação, vómitos alimentares, fezes brancas, urinas escuras.
Durou esta sintomatologia 17 dias e quando a doente entrava em convalescença, aceitou o oferecimento de umas papas que uma vizinha lhe fez ; passadas algumas horas após a ingestão, começou a sentir nauseas, dores violentas no epigastro, e quem
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seguida se estenderam ao hipocondrio direito, e no dia seguinte os olhos tomaram a côr ictérica, tinha vertigens, obstipação, urinas pigmentadas.
Veiu á consulta externa do hospital, onde lhe deram entrada urgente e três dias depois a côr ictérica generaliza-se a todo o tegumento cutâneo, a temperatura eleva-se, aparecem calafrios, inapetência, prostração, fezes descoradas, brancas como cal, lingua saburrosa e seca, pruridos.
É a 4 de Abril que passa para a enfermaria da 2.a Clinica Médica, onde nós a observamos no seguinte estado :
— Notável xantodermia, conjunctivas ictéricas, profunda prostração, ar tristonho, olhos encovados contrastando com o rubor intenso das faces, temperatura elevada (39,5°) cefalalgias, dores musculares generalisadas, vertigens, insónias, emaciação, suores abundantes.
— Abaulamento no hipocondrio direito, com dores violentas expontâneas e á pressão, niais intensas ao nivel da vesícula biliar, o
TRABALHO DA 2.a CLINICA MEDICA 2 9
fígado muito volumoso, estendendo-se para címa até ao 4.° espaço intercostal e para baixo quatro dedos alem do rebordo costal, duro á palpação ; epigastro também doloroso.
— Lingua muito saburrosa, esbranquiçada no centro e vermelha nos bordos, seca, fuligens nos lábios e dentes, diarreia fétida de cheiro agressivo, biliosa, com varias dejecções nas 24 horas, meteorismo abdominal, gargolejo e dôr á pressão na fossa ilíaca direita, anorexia, inapetência, aborrecimento pelos alimentos, tolerando mal o o leite, nauseas, dores abdominais.
— Pulso pequeno, muito frequente (130), regularmente tenso, com acentuado dicro-tismo; ruidos cardíacos apagados, ritmo com tendência para a embriocardia.
— Aparelho bronco-pulmonar integro, 40 movimentos respiratórios.
— Baço volumoso, diurese normal com urinas fortemente pigmentadas, de cuja analise colhi os seguintes elementos :
— Côr amarelo-acastanhada, levemente
30 A FORMA ICTÉRICA DA FEBRE TIFÓIDE
«
«
turva com pequeno deposito, reacção acida, densidade = 1,011.
— Elementos minerais 30.090 por litro — Elementos orgânicos 2,210 « « — Ureia 16,803 — Acido sulfúrico (sul-
fo-conjugados) 0,082 — Cloretos 0,350 — Urobilina 0,100 — Albumina vestígios — Ausência de glucose. — Contem pigmentos e ácidos biliares. — Abundante indicanuria. — ko exame microscópico: células epite-
liais das vias genito-urinarias, sendo algumas do rim, piocitos, cilindros hialinos, hiali-no-granulosos e lencocitos mais ou menos corados de amarelo.
A profunda astenia, a apatia intectual, o dicrotismo do pulso, os caracteres da lingua, a abundância e fetidez da diarreia, a tendência dos ruidos cardíacos para a embriocardia e a propria evolução da
TRABALHO DA 2.a CLINICA MEDICA 31
doença, levaram ao nosso espirito a suspeita da etiologia eberthiana, motivo porque requesitamos a sôro-reacção de Wiâal, cujos resultados foram
Bacilo tifico positiva até '/soo Bacilo paratifico A » t , Bacilo paratifico B »
exame que veio confirmar a nossa suspeita.
Nos dias consecutivos, aquele eslado agrava-se, a côr ictérica intensifica-se, as urinas escurecem, o torpor e abatimento em que a doente se encontra aumentam, a diarreia atinge 8 dejecções nas 24 horas, a temperatura continua alta, as dores violentas do hipocondrio direito não diminuem, a doente olha-nos com indiferença, as insónias torturam-na, o seu estômago torna-se intolerante para o leite e para qualquer outro alimento, a emaciação acentua-se e quando tudo parece indicar um desenlace fatal, como se fosse um milagre uma
.•
32 A FORMA ICTÉRICA DA FEBRE TIFÓIDE
transformação súbita surge, com a tcnuação gradual de todos os sintomas e do estado geral; a temperatura desce a 37,5° e o pulso que atingira 160, cai agora a 104.
Facto importante a notar : a sístole apesar da frequência das pulsações cardíacas, nunca afrouxou, conservando sempre durante toda esta crise grave uma certa amplitude: o miocárdio apesar de tocado (embriocardia) consegue vencer nesta lucta violenta entre o organismo e a infecção.
Mas não podia ficar por aqui o martírio desta infeliz; emquanto os sintomas do lado do figado vão em debandada, embora com lentidão, a doente começa a respirar com dificuldade, a dôr da região bepatica esten-de-se para o hemitorax direito, irradiando para o hombro e braço direitos.
Nos dias seguintes a dispneia e a pontada do lado direito acentuam-se, coincidindo com o agravamento do estado geral. •
Na auscultação do tórax ouvimos atri-ctos pleurais na base, á direita, com respiração rude no vértice do mesmo lado, e a
TRABALHO DA 2.a CLINICA MEDICA 3 3
respiração reforçada no outro pulmão; os movimentos respiratórios chegam a 52.
A embriocardia é nitida, a temperatura torna a elevar-se e mais alguns dias decorridos, com a diminuição do volume do fígado, de côr ictérica, do numero de dejecções diar-reicas e das dores abdominais, aparecem signais dum derrame pleural, confirmado por uma punção exploradora.
A 19 de Abril fizemos uma toracenteze, extraindo 1.000 centímetros cúbicos de liquido sôro-fibrinoso, de côr ictérica, turvo e espumoso.
Requisitada a Reacção de Widal no liquido pleural, deu o seguinte resultado:
Bacilo tiffco positiva 1/m
Bacilo paratiflco A . . . . negativa « « B positiva Vl0
o que traz nova confirmação ao primitivo diagnostico.
O derrame pleural não se reproduziu. Com o fim de colher o maior numero
'54 A FORMA ICTÉRICA DA FEBRE TIFÓIDE
de elementos, pedimos o exame hematoló
gico que deu :
Hemoglobina . . . 55 % Glóbulos rubros. 3.160.000 por mm. c.
brancos. 28.400 «
Observamse glóbulos rubros dentados.
Formula :
Poli nucleares neutrófilos . . . 84,7 % * eosinofilos.... 0
Mononuclears ] ,4 Transição 1,7 ■ Linfocitos 12,2
Conclusão : leucocitose com polinu
cleose.
O exame das fazes revelou a presença do bacilo de Eberth, identificado por soro
aglutinação. Após a toracentese, os sintomas depen
TRABALHO DA 2fi CLINICA MEDICA 35
dentes da pleuresia diminuem de intensidade, e a doente, muito lentamente, começa a sentir algum alivio.
As temperaturas altas ainda se prolongaram por bastante tempo e por vezes com grandes remissões matinais, superiores a um grau, chegando a fazer-nos pensar que um abcesso intra-hepatico se terá formado consecutivamente á infecção do fígado, suspeita que felizmente não teve confirmação ; só a 15 de Maio, utri mez depois da toracentese, entrou em apirexia, a temperatura descendo mesmo abaixo da normal.
O pulso conservou-se sempre muito frequente (120 a 130), não acompanhando a descida lenta da temperatura, revelando portanto a existência de uma lesão do miocárdio.
O numero de dejecções desceu bastante, mas a diarreia, mais ou menos pastosa alternando com fezes moldadas, continuou, com urinas escuras clareando a pouco e pouco durante toda a defervescencia.
Durante toda a evolução da doença, as
36 A FORMA ICTÉRICA DA FEBRE TIFÓIDE
varias investigações de albumina feitas nas urinas revelaram somente vestígios, o emun-torio renal funcionando bem.
0 volume do figado cedeu também muito vagarosamente, o bordo inferior ainda se conservava um dedo abaixo do rebordo costal, quando a doente entrou em apirexia a icterícia tendo no entanto já desaparecido. A demora da infecção e a sua intensidade deixaram a doente num estado de magreza e abatimento profundos, tanto mais que a sua alimentação durante a doença foi feita com muito pouco leite, que o seu estômago suportava mal e quasi exclusivamente com cbá.
Um segundo exame hematológico feito em 31 de Maio, nas vésperas da doente partir para o campo em convalescença, deu o seguinte resultado :
Hemoglobina 35 °/0
Glóbulos brancos 13.600 por mm. c. rubros 1560.000
Polinuclcares neutrófilos 56,3 %
TRABALHO DA 2.a CLINICA MEDICA 3?
Mononucleares grandes. 5,8% » médios. 9,7 »
Linfocitos . . . ; 23,7 » Formas de transição . . . 1,4 » Myelocitos neutrófilos .. 0,4 »
ANTECEDENTES PESSOAIS Não se lem-- E FAMILIARES bra ter outra
doença ; não tem hábitos alcoólicos, não bebendo sequer vinho porque não gosta.
Teve °2 filhos ; um é vivo e o outro morreu aos 15 mezes com uma bronco--pneumonia.
O 'marido é saudável ; a mãe goza também de boa saúde e o pai morreu de uma ucera do estômago.
Porque julgamos de interesse clinico, mencionamos embora resumidamente, a terapêutica instituída neste caso, com as
38 :■ A FORMA ICTÉRICA DA FEBRE TIFÓIDE
datas em que foi começada e os dias que durou cada medicação, pondo em evidencia qualquer facto importante que tenha sur
gido no decorrer do tratamento. Falaremos só da terapêutica feita desde
que a doente entrou na enfermaria da 2." Clinica Médica, para onde passou em 27 de Março vindo de uma outra enfermaria onde estava sendo submetida ao tratamento ho
meopático.
Em 28111 — Sulfato de soda, 8 gr. até 21V.
2IV—Eletrargol, 10 c. c. em inj. hipod.
3IV — Clister de agua fria até 8. Óleo canforado, 2 c. c. em inj. hipod. Azeite esterilizado, 50 gr. até 8. Urotropina, 3 hóstias . de 0,50 gr. até 8.
4IV — Cafeína, 0,20 em inj. hipod. 1.* Inj. hipod. de 100 c. c.
TRABALHO DA 2.a CLINICA MEDICA 39
de soro glucosado 5 °/o aquecido.
5-IV —Gelo no hipocondrio direito até 8.
7-VI -2.» inj. hipod. de 100 c. c. de soro glucosado.
8-IV — Cataplasmas sinapisadas a substituir o gelo que era mal suportado. Salicilato de soda, 2 gr. em poção.
9-IV — Agua de cal. Soluto normal de adrenalina, X gotas até 15.
12-IV — 3." 'inj. hipod. de soro glucosado.
15-IV —Loções de vinagre aromático, 2 por dia até 18-1V.
18-IV — Soluto normal de adrenalina, X gotas até 29. Theobromina, 2 hóstias de 0,50 gr. até 26. Inj. hipod. de estricnina e esparteina (sulfatos) até 29.
4 0 A FORMA ICTÉRICA DA FEBRE TIF0IÛË
26-IV — Gelo no hipocondria até 29. 29-1V — Criogenina, 1 hóst ia de
0,25 até 3-V. Fez baixar bastante a temperatura.
30-IV — Glicerofasfato de cal, 2 hóstias de 0,25.
3-V —Theobromina, 2 hóstias de 0,50 gr. até 15.
20-V — Ficou só o tomar o glicero-fosfato de cal.
Obedeceu esta terapêutica aos seguintes princípios :
1.° —Combater a infecção. 2.°—Restabelecer a permeabilidade biliar. 3.o —- Antisepsia intestinal. 4.° — Medicação sintomática (dôr, diar
reia, vómitos, pruridos, perturbações nervosas, astenias cardíaca e geral, etc.).
2 . a P A R T E
Morfologia clinica da febre tifóide
I
General idades
1 7 E todas as doenças da patologia moderna, é a febre tifóide a que apresenta maior soma e variedade de sintomas, alguns próprios, caracteristicos daquella doença (temperatura, caracteres da lingua e da diarreia, pulso, embriocardia, sintomas nervosos de depressão, sintomas cutâneos, etc.), mas outros, o maior numero, gerais, encontran-do-se em muitas doenças.
Dai a dificuldade enorme para todos os medicos, exercendo a sua profissão fora dos centros onde os exames laboratoriais nos
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trazem um precioso auxilio, em fazerem um diagnostico clinico de começo, necessário para uma terapêutica precoce e enérgica.
Trabalhos modernos importantes teem aparecido, e alguns de observadores ilustres que acompanharam os serviços de saúde da Grande Guerra que assolou o mundo inteiro, dedicando todos uma particular atenção ao estudo do febre tifóide, especialmente na parte em que se pretende dividir toda essa riqueza de sintomas aquela doença em múltiplos tipos nosologicos, creando assim diversas formas clinicas, que facilitariam o diagnostico diferencial com muitas outras febres, que se apresentam com um cortejo sintomático semelhante ao da febre tifóide.
Estão neste caso as febres paratifoides, as colibacilares, a tifo-bacilose de Lan-douzy, etc.
Para as distinguir é muitas vezes necessário a hemocultura, porque mesmo a soro-reacção de Widal é positiva em certos casos para qualquer daquelas febres.
TRABALHO DA 2.a CLINICA MEDICA 4 5
Dizem que as febres paratifoides são mais benignas que a febre tifóide, mas lia formas desta muito benignas.
Dizem que as febres paratifoides não teem sintomas digestivos tão acentuados, mas ha febres tifóides sem sintomas digestivos.
Dizem que as febres paratifoides teem a curva da temperatura mais irregular, mas ha febres tifóides com a mesma ou maior irregularidade de temperatura.
Actualmente admite-se que as febres paratifoides A e B podem revestir todos os sintomas da febre tifóide e realisar todos os seus tipos clínicos.
Podem apresentar igualmente as mesmas complicações, talvez um pouco menos frequentes, mas também tão graves; as lesões de autopsia podem ser idênticas na febre tifóide e nas febres paratifoides, sendo menos frequentes nestas ultimas a péritonite por perfuração e as ulcerações das placas de Payer.
Referem alguns patologistas o começo
46 A FORMA ICTÉRICA DA FEBRE TIFÓIDE
brusco, o agravamento rápido dos sintomas, a aparição de herpes labial na apogeu da doença, a queda brusca da temperatura, a. dôr na fossa iliaca esquerda como elementos clínicos próprios das paralifoides ; mas estas diferenças sintomáticas não permitem estabelecer o diagnostico, podendo apenas orienta-lo.
Para mais o tratamento da febre tifóide e das febres paratifoides A e B obedecem aos mesmos principios, satisfaz as mesmas indicações.
Querem outros que as dores peri-umbi-licais e a hiperestesia cutanea no abdomen e tórax (Damaschino e Empis) sejam mais proprias do tifa-bacilose de Londouzy.
A verdade é que é difícil, se não impossível, dar indicações precisas e suficientes para_estabelecer um diagnostico clinico diferencial entre aquelas febres ; só o laboratório, como acima digo, pode pela hemocultura precoce, dar ensinamentos bastantes para esse diagnostico.
E por tudo isto, muitos patologistas.
TRABALHO DA 2.a CLINICA MEDICA 47
entre eles o meu ilustre professor Dr. Tiago d'Almeida, consideram a infecção tifóide, não uma doença, mas um grupo onde cabem as infecções eberthiana, paratificas, colibacilares e a tifo-bacilose.
Ha também quem julgue os bacilos paratificos A e B como formas modificadas do bacilo de Eberth, ou como pertencendo á mesma família bacteriana, embora diferindo dele.
As formas clinicas habituais da febre paratifoide A e B aproximam-se das da febre tifóide e é sempre por comparação com esta que se tem até aqui formulado um diagnostico.
* * *
Bem assente a dificuldade do diagnostico clinico entre estas diversas febres, e a impossibilidade de todos os medicos terem á mão o auxilio do laboratório para o diagnostico bactereologico, vejamos como podemos catalogar em tipos nosologicos essa
48 A FORMA ICTÉRICA DA FEBRE TIFÓIDE
variedade extraordinária dos principais sintomas clínicos que nos pode oferecer a infecção tifóide, tipos era numero ilimitado se quizessemos ter a pretenção irrisivel de passar em revista todas as formas que esses sintomas podem constituir na clinica diária e que nem sempre correspondem á verdade dos factos, porque dentro de cada forma, podej-se-iara realizar novos sub-grupos que tornariam mais complexo e confuso o problema do diagnostico clinico da febre tifóide.
Neste trabalho não temos outro objectivo que não seja—a propósito da observação clinica que relatamos e nos parece de interesse clinico, e satisfazendo á obrigação que a lei nos impõe,— dar uma resumida nota das formas mais importantes e mais frequentes por que se reveste a febre tifóide, detendo - nos um pouco na forma que apresentava a nossa observação clinica, que acompanhamos com um certo cuidado e interesse escolar como aluno que éramos.
Nada podia ter de original, numa
TRABALHO DA 2.a CLINICA MEDICA 4 9
monografia desta natureza, uma questão que tem sido estudada e debatida pelos mais autorizados clínicos de todo o mundo, mas pretende, já que a ocasião se oferece, resumir os conhecimentos modernamente adquiridos, o que de mais util e importante julgamos merecer a nossa atenção na pesquiza dos variados tratados, revista da especialidade e outros trabalhos, alguns fructo da observação cuidada e de valor scientifico, colhidos entre o ribombar aterrador do canhão, e os gemidos comoventes dos feridos da Grande Guerra da Liberdade.
Antes, porem, de iniciarmos essa tarefa, parece-nos de utilidade mencionar algumas circunstancias, que de algum modo podem ter influencia na patogenia e na constituição dessas formas clinicas, notando bem, que um denso veu de mistério, ainda esconde ao homem da sciencia moderna as principais dessas circunstancias, que no conflito da célula vegetal e da célula humana, asseguram a realização da doença nas diferentes modalidades clinicas,.
50 A FORMA ICTÉRICA DA FEBRE TIFÓIDE
Coeficiente individual é na clinica, como a idiosincrasia (gr. idiou próprio, sun com, krasia temperamento) na terapêutica, um palavrão que encobre a nossa ignorância dos factos que se passam no organismo humano e influem de uma forma especial e privativa no terminar da lucta entre o micróbio e a resistência orgânica.
Mas nem por isso esta ignorância tira valor ás circunstancias conhecidas, quer elas se realizem no meio exterior, quer surjam no intimo da célula humana.
E posto isto vamos a menciona-las.
Il
Circunstancias conhecidas influindo na morfologia
clinica da febre tifóide
A Lx DESCOBERTA do bacilo de Eberth e a
sua constatação precoce no sangue, antes mesmo do aparecimento dos primeiros sintomas, modificaram as opiniões do iminente mestre Trousseau e. outros como Bretonneau, Jaccoud, Louis, etc., sobre a patogenia da febre tifóide, que descreveram sempre como uma infecção intestinal.
Hoje, pelos trabalhos modernos, está admitido que ela é inicialmente uma septi-
52 A FORMA ICTÉRICA DA FEBRE TIFÓIDE
cernia, em que a localisação intestinal é secundaria, embora a mais frequente, e no curso da qual, segundo H. Roger «as perturbações do aparelho digestivo, por muti-to importantes que sejam, estão longe de representar o sintoma principal da doença».
É aquela riqueza e variedade de sintomas uma consequência da natureza septice-mica da febre tifóide.
É ela ainda que explica as modificações sintomáticas bruscas, imprevistas da resistência orgânica, pelo que alguém lhe chamou já «a doença das surprezas».
Vejamos então quais são os factores e outras circunstancias conhecidas, que alem do coeficiente individual, concorrem de alguma maneira para a constituição em variadas formas clinicas, dos múltiplos sintomas da septicemia tifóide.
São em grande numero e aqui queremos deixar somente as mais importantes, com resumidas notas que nos parecem merecer algum valor.
TRABALHO DA 2.a CLINICA MEDICA 53
Começaremos pela
IDADE Todos sabem e maisadean-
te veremos como as formas clinicas da febre tifóide variam no recem-nascido, na infância, no adulto e na velhice.
É a febre tifóide bastante rara, excepcional segundo Marfan, nos primeiros seis mezes; o motivo parece estar no modo de alimentação daquelas idades e «no facto de a criança não deixar o colo de sua mãe e portanto pouco exposta ao contagio» (Huti-nel e Darré).
Na criança é bastante frequente, mas menos grave que no adulto e a sua duração é menor.
Na velhice é rara acima dos 45 anos, e o seu prognostico é grave.
SEXO É um factor im portante,
porque não se apresenta sob a mesma forma a septicemia titica na mulher e no
S4 A FORMA ICf ERltíA DA FEÔRÊ ÍIFOÍDÉ
homem, conforme veremos em presença das estatísticas de Hayem- e Besnier.
Na mulher gravida a febre tifóide pode determinar, uma vez em três casos, o aborto ou o parto prematuro, com tanta mais probabilidade quanto mais adeantado é o estado da gravidez; o feto sai quasi sempre morto (hipertermia, infecção, ou hemorragias profusas no endometrio ?). O sangue do feto tem propriedades aglutinantes especificas, o que mostra a transmissão da infecção da mãe ao filho.
DOENÇAS ANTERIORES De que o doente seja
portador antes de contrair a febre tifóide, sejam crónicas ou agudas. Das primeiras vem a tuberculose; a febre tifóide evoluindo num terreno contaminado pelo bacilo de Kock, reveste uma forma que é diversa da que toma num individuo são; ella por sua vez acarreta modificações na marcha e evolução da tubercxdose existente anteriormente.
TRABALHO DA 2.a CLINICA MtblfiA 55
O alcoolismo modifica também, agravando extremamente, a febre tifóide; e nos diabéticos a forma pode ser benigna, quasi latente e nem por Isso modifica a diabetis.
Os portadores de lesões cardíacas, hepáticas ou renais vêem os seus padecimentos agravarem-se com a infecção tifóide e esta reveste uma forma grave com complicações frequentes.
Nos impaludados a febre tifóide vai despertar os sintomas do paludismo, associando--se a ele na forma tifo-malaria.
As afecções cutâneas pouco sofrendo com a febre tifóide, podem modificar as manifestações cutâneas daquela febre que são variadas. Varias doenças agudas podem preceder a febre tifóide; são todas as que. aparecendo simultaneamente, com ela podem associar-se, como vamos já ver.
ASSOCIAÇÕES MÓRBIDAS As f o r m a s " SIMULTÂNEAS a t í p i c a s da
dotienenleria devem bastantes vezes a sua existência á
£Ô A PORMA ICTÉRICA DA PEGRE TIPOIDÊ
combinação dura virus estranho com o da febre tifóide.
Múltiplas são estas associações, mas enumeramos só as principais : com as febreS eruptivas, paratificas, tifos exantemáticos e récurrente, gripe, pneumonia, difteria (crianças), meningite cerebro-espinal, paludismo constituindo» tifo malaria, a erisipela, estre-pto e estafilocoecias, tétano, etc.
LOCALISAÇÃO DA INFECÇÃO A septicemia tifóide apre-
senta-se sob varias formas conforme a loca-lisação inicial do bacilo nas vísceras ou em qualquer outro ponto do organismo.
Estas localisações atípicas de virus tifico são devidas as mais das vezes a uma menor resistência dos órgãos feridos.
Assim descrevera-se variadas formas de que, no capitulo seguinte, assignalaremos as particularidades das mais importantes; citam-se as formas abdominal, a mais frequente, pulmonar (pneumo-tifo), pleural fpleu-ro-tifo), esplénica, faringo-hfo, laringotifo-
TRABALHO DA 2.a CLINICA MEDICA 57
meningo-tifo, ictérica, tifo-hepatico, forma renal (Robin), articular, forma cardíaca, etc, localizações que surgem de começo durante a septicemia inicial e independentes das complicaçõis que possam aparecer no decorrer da forma abdominal, como alguns pretendem classificar aquelas formas.
INTENSIDADE DOS SINTOMAS Implica evidentemente
com dois importantes factores, a virulência do micróbio e o grau de resistência orgânica, os primeiros, sem duvida, entre todos os que temos mencionado e a mencionar.
Sob este ponto de vista, encontramos as formas : heperpiretica, hipertoxica, adi-namica, ataxica, ataxico-adinamica, ambulatória, prolongada, fulminante.
PREDOMÍNIO DOS SINTOMAS Pode a morfologia clini
ca da febre tifóide variar conforme o sintoma ou sintomas que se evidenciem, predominando notavelmente sobre os outros.
L'8 A FORMA ICTÉRICA ÒA FEBRE TlFOlDË
Este predomínio deve-se sem duvida a determinadas particularidades da toxina tifica, actuando também especialmente sobre determinados órgãos ou aparelhos (medula e todo o sistema nervoso, sistema cardiovascular, sangue, aparelho digestivo, glândulas sudoríparas, etc.).
Assim temos as formas homorragicas, que devem o seu nome ao aparecimento fácil de hemorragias como o epistaxis inicial, hemorragias gengivais, bucais, nefrites hemorrágicas, metrorrogias, equimoses, etc., não compreendendo as enterorragias que teem uma patogenia especial-
O predomínio deste sintoma-hemorragia — parece serum indicio de mau prognostico, apresentando algumas vezes o caracter epi-demico (Leudet), que se explica talvez pela actividade das toxinas segregadas por certas raças do bacilo tifico.
Ha também a forma febril em que o síndroma febre predomina com ausência de muitos outros sintomas, os digestivos por exemplo; tivemos ocasião de observar um
TRAËALHO bÀ 2.» CLINICA MÉDICA 59
caso desta forma numa das enfermarias da 2.a Clinica Médica.
Um outro sintoma importante, cujo predomínio caractérisa outra forma clinica são os suores, constituindo a forma sudoral minuciosamente descripta por Jaccoud.
0 modo de contagio influe na forma que toma a infecção, que não é a mesma, quando ela resulta do contagio directo, sem demora e sem agente intermediário, ou quando ele se faz indirectamente.
A dose do virus absorvida, a quantidade de micróbios que penetram no organismo, não se deve julgar sem efeito na maneira como a doença se virá a realizar.
0 meio em que o doente vive, influe também na forma dessa realização ; é mais frequente na cidade que na aldeia, em virtude da contaminação mais fácil das aguas daquela ; atinge severamente os novos vindos do campo para a cidade, porque o habitante da cidade, exposto ilesde muito novo, a beber água muitas vezes contaminada, contraicedoafebre tifóide, imunisando-
6 0 A FORMA ICTÉRICA DA FEBRE TIFÓIDE
-se progressivamente ; e habitante do campo, ao contrario, bebendo desde a sua chegada á cidade uma agua impura ou comendo alimentos contaminados de bacilos tificos, não oferece senão uma resistência relativa e de duração bastante curta á infecção dotienen-terica.
As condições de climatologia, as do solo e a higiene geral do meio também influem na morfologia da febre tifóide.
As modificações da saúde que sobreveem sob a influencia das más condições da vida social, da fadiga, do surmenage, teem sido muitas vezes invocadas para explicar as formas graves da doença. A influencia destes diversos factores tem sido posto em evidencia pelos medicos militares (Kelsch, Vaillard). As proximidades das emanações pútridas, a ingestão de carnes avariadas é admitida por todos como factor do caracter epide-mico da febre tifóide.
As variadas modificações da flora intestinal em numero e qualidade, a intervenção no intestino de uma simbiose acidental de
TRABALHO DA 2.a CLINICA MEDICA 61
micróbios adjuvantes, exaltando a virulência do bacilo de Eberth, não concorrerá para a maior frequência da forma abdominal ?
A estação do ano em que a doença aparece, também pode influir na forma e na evolução da septicemia titica ; é mais frequente no outono e no verão a forma abdominal predomina por diversas razões, no numero das quais deve entrar as mudanças que sofre a flora intestinal neste periodo do ano.
O próprio tempo tem sido um factor importante nas modificações da morfologia da febre tifóide e se lermos as descripções que nos teem deixado Louis, Ghomel e todos os patologistas do começo do século passado, não se pode deixar de reconhecer que o quadro clinico desta afecção tem-se modificado desde então, não correspondendo na realidade aos factos observados hoje nas clinicas hospitalares, e que as suas complicações não apresentam a extrema gravidade daquela época.
Deve-se isso em parte a uma higiene
62 A FORMA ICTÉRICA DA FEBRE TIFÓIDE
mais profícua, a um tratamento mais racional e talvez a causa deque nós desconh ceemos todos os elementos.
Nota-se um certo grau de atenuação do gérmen epidemico atravez dos tempos, as formas graves são mais raras e não aparecem já aquelas formas da doença com predomínio dos sintomas nervosos, observadas pelos clássicos, em que o doente, dilirante se arremessava pela janela fora, nem as formas ataxo-adinamicas em que o doente sequioso, emborcava um cântaro de agua.
Descrevem também os clássicos como sintoma característico da febre tifóide a sceura da pele, e de 7 tifósos que o nosso ilustre professor Dr. Tiago d'Almeida apresentou este ano ao curso de Clinica Médica, quasi todos apresentavam suores nos primeiros dias, suores que se repetiam por vezes na duração da doença.
É evidente que o aparecimento de uma complicação durante a evolução da septicemia tifóide pode modificar a forma que a septicemia tomou.
TRABALHO DA 2.a CLINICA MEDICA 6 3
Reconhecem três ordens de causas essas complicações:
1.® Localizações secundarias e intensivas do virus (hemorragias e perfurações intestinais, péritonites com ou sem perfuração, etc.).
2.° Degenerescência parenquimatosa (renais, hepáticas, cardíacas, vasculares, etc.).
3.o Infecções secundarias (micróbios comuns da supuração, pneumococus, coliba-cílo, etc.).
A sua natureza varia com cada fase da doença : do começo até ao período de estado dependerão do bacilo tifico a maior parte das complicações ; depois, por enfraquecimento e alterações do organismo, as infecções secundarias darão uma forma especial ás complicações daquele período.
A porta de entrada do virus não deve ser extranha á forma mais provável que a infecção pode vir a realizar.
Os patologistas estão de acordo em considerar como principais vias de penetração dos germens tificos, a mucosa intestinal e a
64 A FORMA ICTÉRICA DA FEBRE TIFÓIDE
membrana de revestimento dos alvéolos pulmonares.
Ha quem admita a penetração atravez do tegumento cutâneo a favor de uma solução de continuidade, e experiências realizadas nesse sentido em animais, teem dado resultados positivos, posto que não se conheçam factos em que tenha sido invocada na etiologia da doença humana.
Na morfologia da febre tifóide ainda á atender a um ataque anterior, á raça e a muitos outros factores.
E terminando este capitulo, cujo fim não chegaria, se quizessemos procurar minuciosamente muitas outras circunstancias que podem influir na morfologia da septicemia tifóide, acrescentaremos que, para esta como para a tuberculose, existe predisposições individuais e mesm'o familiais (Emil Schwartz, Familien Tiphus).
Ill
Principais formas clinicas da septicemia t i fó ide
JJEVAR-NOS-IJÍ muito longe, se pretendêssemos descrever neste capitulo todas as modalidades clinicas que, sob circunstancias varias e já mencionadas, pode oferecer a septicemia tifica.
Não tem este ultimo capitulo outro interesse que não seja acentuar os principais sintomas que mais ou menos caractérisant as principais formas daquela afecção, as que mais frequentemente se nos depararam na clinica diária e concorrer de
66 A FORMA ICTÉRICA DA FEBRE TIFÓIDE
algum modo, coordenando o que por auto-risadas opiniões tem sido dito, para tornar mais fácil o diagnostico clinico precoce, e consequentemente a imposição de uma terapêutica enérgica de começo, que na febre tifóide, mais do que em qualquer outra infecção, tem uma importância primordial.
Á forma ictérica, que é a da nossa observação clinica e que descrevemos com todas as minúcias, daremos um pouco mais de cuidado, assim como á complicação do lado da pleura que a mesma doente apresentou, quando ia começar a convalescença da primeira.
Os patologistas têm-se preocupado, sem 'resultados profícuos, em estabelecer, bases concretas para a classificação dessas formas.
Em teoria tèm-no conseguido, mas a verdade é que na pratica os factos não condizem com os elementos aproveitados.
Para esta descripção portanto, servir-nos-emos das circunstancias já referidas no capitulo anterior e a propósito de cada uma
TRABALHO DA 2.a CLINICA MEDICA 67
delas, descrevemos as formas mais importantes.
Começaremos pela
I D A D E a) No recem-nascido. Cara
cteriza a febre tifóide nos primeiros mezes o aspecto e o numero das dejecções, muito liquidas e amareladas, raiadas de verde, de cheiro agressivo, a ausência do dicrotismo no pulso, a existência de manchas róseas lenticulares, vómitos, grande prostração, emaciação rápida, altas temperaturas; e esta a forma gastro-intestinal.
Pode todavia revestir a forma meningi-Uca com todos os sintomas de uma meningite: agitação, vómitos, fotofobia, constipação, risca de Trousseau, estrabismo e a punção lombar mostra a hipertensão do liquido.
Ha uma outra, menos grave, a forma febril em que a febre é o sintoma principal.
As complicações bronco-pulmonares são frequentes.
68 A FORMA ICTÉRICA DA FEBRE TIFÓIDE
É muito difícil o diagnostico clinico da dotienenteria nesta idade.
b) Infância. A forma abortiva, a mais frequente, é caractisada por um começo brusco, com vómitos e ás vezes acidentes me-ningiticos e convulsões, outras vezes com sintomas apendiculares, temperaturas elevadas.
As mancbas róseas, apesar de menos frequentes que no adulto, podem generalizar-se e dar a forma exantemática.
É notável a atenuação das perturbações digestivas; os bemorragias e perfurações intestinais são raras.
Acompanha-se frequentemente de otor-reia, periostoses. O prognostico é mais benigno que entre o adulto e a duração da doença também é menor (15 dias).
c) ' Adulto. Não descrevemos a forma da febre tifóide no adulto, porque ocupur--nos-ia muito espaço todo o extenso cortejo dos seus sintomas nervosos, cardiovasculares, digestivos, etc., e mesmo porque é bem conhecido o quadro clinico desta infecção.
Diremos no entanto que, como a nós
TRABALHO DA 2.a CLINICA MEDICA 6 9
aconteceu, é para pensar na infecção tifica, todas as vezes que encontremos o doente num grande abatimento, com a diarreia fétida e abundante, meteorismo, lingua seca, vermelha nos bordos, assada como lhe chamam os francezes, o pulso dicroto, sintomas nervosos de depressão ou agitação, segundo a forma, manchas róseas lenticulares, ruidos cardíacos embriocardicos, febre com os caracteres conhecidos da febre tifóide.
b) Velhice. Nesta idade toma a forma adinamica com o começo insidioso, reacção febril pouco intensa, ás vezes a temperatura caindo abaixo da normal (Merchison). As complicações pulmonares e cardíacas são frequentes e agravam o prognostico que é quasi sempre fatal.
S E X O Segundo as estatísticas
de Hayem e as de Besnier, a febre tifóide sendo mais frequente no homem, reveste formas mais graves na mulher.
A gravidez não agrava a febre tifóide.
10 A FORMA ÎCTERÎCA DA FEBRÊ TIFOIÛÊ
DOENÇAS ANTERIORES Tuberculose. -Riliet e Re-
velliod julgavam estas duas infecções anta-; gonistas, opiniões infelizmente inexactas ; a febre tifóide pode evoluir simultaneamente com a granulia ; a tuberculose agrava a forma que toma a febre tifóide e esta por sua vez evidencia na convalescença as tuberculoses latentes e favorece a aparição ulterior da tisica com uma marcha rápida (Landouzy).
Alcoolismo. —A evolução é caracterisada por alta hepertermia e intensidade das perturbações nervosas (forma ataxo-adinamica); são frequentes as hemorragias intestinais, bronco-pneumonias e a miocardite.
Diabetis.—A tem pêra tura é pouco elevada, mas a morte é a terminação frequente por complicações cardíacas e hepáticas. A glico-suria diminue e desaparece em alguns casos (Chantemesse).
Lesões hepáticas, cardíacas ou renais.— A febre tifóide nos portadores destas lesões é duma gravidade excepcional, pelas compli-
TRABALHO DA 2.» CLINICA MEDICA 71
cações que aquelas lesões acarretam ; por outro lado as lesões anteriormente existentes são agravadas pela infecção tifóide.
Nos impaludados, veremos mais adeante como a febre tifóide despertando os sintomas do sezonismo, pode evoluir com ele na forma a tifo-malaria.
As afecções cutâneas anteriores podem desorientarmos no diagnostico clinico da febre tifóide pelas alterações que possam dar logar ás variadas manifestações cutâneas do bacilo de Eberth : manchas roscas lenticulares (tórax e abdomen), sudamina (região infra-umbilical), ptéquias, manchas de anemia (face palmar das mãos e plantar dos pés), não falando nas complicações como a purpura, a éctima, os furúnculos e as escaras.
ASSOCIAÇÕES MÓRBIDAS A s f o r m a s SIMULTÂNEAS atípicas que
estas associações podem apresentar, variam com o virus que vem associar-se ao de febre tifóide.
72 A FORMA ICTÉRICA DA f EBRE TlfOlDË
Assim a coexistência das febres eruptivas com a dotienenteria, não apresenta grande interesse, porque cada doença évolue por sua propria conta, mas é necessário conhecer esta associação para evitar a confusão entre os exantemas específicos e o erilema tifico de que o prognostico é diferente.
Também o conhecimento de que á infecção eberthiana se pode associar a meningite cerebro-espinal (Fitz, Wunderlich) é importante, para que se não tome esta por manifestações nervosas do virus tifico.
Com as febres para-tifoides pode encon-trar-se associada a febre tifóide, e como aquelas podem, o que já vimos, apresentar todas as modalidades clinicas desta, a forma que esta associação realiza, nenhuns sintomas clínicos especiais a revelam e só o laboratório prova a existência dos virus das duas febres.
O tifo récurrente pode evoluir ao mesmo tempo que a febre tifóide e a forma que resulta desta associação é caraterisada por exacerbações a horas fixas que dão á febre o caracter remitente.
TRABALHO DA 2.a CLINICA MEDICA 73
Quando a gripe se associa á infecção eberthiana, logo no começo aparecera o catarro oculo-nasal e brônquico, as dores articulares, suores, que se não prolongam durante toda a evolução da febre tifóide, que, segundo Potain é benigna e Siredey ao contrario, toma as formas graves e mortais.
A associação com o pneumococus é, segundo patologistas iminentes, mais frequente do que se pensa; destes alguns afirmam que a localisação do bacilo de Eberth no pulmão (pneumo-tifo) é sempre acompanhada do pneumococus; o bacilo tifico, dizem Ghantemesse e Widal, pode fazer congestão e esplenisação pulmonar, mas não pneumonia fibrinosa ordinária; as culturas de pulmões de tificos atingidos de pneumonia, nas mãos do primeiro daqueles dois ilustres professores, davam o hacilo tifico, mas a inoculação dos mesmos pro-ductos ao rato mata-o por infecção pneu-mococica, donde a sua afirmação que a pneumo-tifoide não é senão uma pneumonia
74 A PORMA ICTÉRICA DA FEBRE TlPOlDE
ordinária, evoluindo em terreno que tem' sofrido a invasão tifica.
A associação de começo dos dois micróbios manifesta-se pelo arrepio incial menos intenso, ascensão brusca da tempera tura , expectoração não ferruginosa, persistência do sopro tubar, macissez e ralas crepitantes; com a atenuação destes sintomas, surgem os sintomas da febre tifóide.
Quando essa associação se faz no 'ò.° ou 4.0 septanario, a forma desta inflamação pulmonar aproxima-se da pneumonia dos velhos, insidiosa, de grave prognostico, com intensa dispneia e grande prostração.
Ha também quem julgue provável esta mesma associação fora da localisaçâo pulmonar.
O pneumo-tifo pode complicar-se de meningite exsudativa, encontrando-se o pneumococus no exsudato.
A associação da febre tifóide com o sezanismo constitue a febre tifo-malaria que
TRABALHO DA 2.a CLINICA MEDICA 75
apresenta caracteres que é preciso conhecer bem.
Frequente na Algeria entre as tropas francezas e no vale do Massissipi, tem sido estudada por Jacqnot, Laveran, Kelach e Kiener, H. Vincent, etc.
Resumindo o estudo feito por aqueles ilustres observadores, mencionaremos as particularidades desta forma; começa por uma verdadeira febre intermitente quotidiana ou dupla terção, de que os intervalos apí-reticos são caracterisados por uma adinamia profunda e cujos acessos, rebeldes ao sulfato de quinino, repetem-se com uma intensidade crescente, alongam-se e aproximam-se cada vez mais até á continuidade (Kelsh Kiener).
Surgem então os sintomas tifóides a que vem juntar-se a côr terrosa, a melanemia, o íigado e baço volumosos e dolorosos, a febre periodica e irregular com remissões bruscas no meio de suores profusos.
As lesões intestinais são pouco desenvolvidas (Woodward).
76 . A FORMA ICTÉRICA DA FEBRE TIFÓIDE
LOCALISAÇÃO DA INFECÇÃO É a localias-ção intesti
nal, constituindo a forma abdominal, a mais frequente e tãó frequente que os clínicos do século passado consideravam a febre tifóide como uma doença puramente intestinal.
Vimos já como errado era este conceito. Caracteriza esta forma o predomínio dos
sintomas digestivos, principalmente do lado do intestino : diarreia fétida e abundante, de côr amarelada, bastante liquida, meteo-rismo e dores abdominais, gargolcjo e dôr mais intensa na fossa iliaca direita, etc.
Algumas vezes a obstipação substitue a diarreia e outros sintomas digestivos acompanham aqueles: nauseas, intolerância para os alimentos, epigastro doloroso, etc.; o ligado e o baço são volumosos e dolorosos, o que acontece em quasi todas as' formas da dotienenteria.
A localisação pulmonar, realisando o pneumo-tifo (Potain, Gerhart e Lepine) é também bastante frequente e já vimos como alguns patologistas negam o exclusivismo
TRABALHO DA 2.a CLINICA MEDICA 77
do bacilo de Eberth na realisação desta forma, dandoo como incapaz de hepatizar otecido pulmonar (Ghantemesse e Widal) e portanto, crendo que esta forma resulta sempre da combinação das duas infecções pneumococica e titica, evoluindo no mesmo individuo, depois dum começo quasi simul
tâneo. É as mais das vezes, conforme atraz
descrevemos, uma febre tifóide começando por uma pneumonia fibrinosa e manifestan
dose para o oitavo ou nono dia, quando a pneumonia entre em defervescencia.
O faringo tifo e laringo tifo prendem a atenção pelas múltiplas ulcerações da farin
ge e laringe que, pela sua intensidade, constituem o padecimento mais notável do doente. ■ A forma cardíaca ou sincopai tem como
particularidade importante o desfalecimento do miocárdio, que é muito frequentemente tocado na febre tifóide.
Desde começo a contracção do musculo cardíaco afrouxa, o primeiro ruido ensur
78 A FORMA ICTÉRICA DA FEBRE TIFÓIDE
dece, o ritmo modifica-se, assemelhando-se ao ritmo fetal (embriocardia), o pulso é fraco e depressivel ; o doente queixa-se de dores precordiaes e de uma certa opressão retro--esternal, lipotimias, e pode chegar a um estado de colapso com cianose, arrefecimento, pulso pequeníssimo e muito frequente, a temperatura descendo abaixo da normal.
A toxina titica tem uma certa afinidade para a fibra cardíaca ; a existência de sopros cardíacos é rara e quando aparecem, são devidos á falta de contracção dos pilares do coração.
A cura destas lesões do miocárdio, quando o doente não morre, não é senão aparente, porque mais tarde surgem perturbações cardíacas variáveis com a sede, a extensão e gravidade das lesões crónicas.
A forma ictérica, que é uma das mais raras, é constituída pela sintomatologia que apresenta a nossa observação clinica.
Os trabalhos modernos teem modificado o antigo conceito relativo ao modo de
TRABALHO DA 2.a CLINICA MEDICA 79
infecção do figado e de outras vísceras pelo bacilo de Eberth. •
Julgou-se durante muito tempo que o bacilo lítico se multiplicava abundantemente no intestino e nas suas paredes, irradiando daí as toxinas para todo o organismo.
Hoje sabe-se que o bacilo se fixa secundariamente nas vísceras depois de ter previamente passado no sangue, quer dizer, a infecção tifica é, como já o dissemos, inicialmente uma septicemia.
Portanto a localisação do bacilo no figado e vias biliares, não se faz por via ascendente, do intestino por intermédio do choledoco, mas sim pelos capilares sanguin i s do figado, isto é, por via descendente.
Lemierre e Abrami admitem que a lesão do parenquima hepático precede e permite a passagem do bacilo na bilis.
Este, chegado na visicula biliar, encontra um meio de cultura propicio e aí se multiplica incessantemente, eliminando-se com a bilis para o intestino, onde comunica o sua contagiosidade ás fezes ; o figado e as
80 A FORMA ICTÉRICA DA FEBRE TIFÓIDE
vias biliares constituem, desde que o bacilo penetra na corrente circulatório, a via de eliminação preponderante do bacilo da febre tifóide (Vincent).
Foi o que aconteceu com a nossa doente que apresentou sintomas de uma angio-cho-lite catarral antes de qualquer perturbação do lado do intestino, o que permitte assegurar que a localisação bepatica foi primitiva.
A eliminação do bacilo pelas vias biliares pode começar mesmo no período de incubação, antes do aparecimento dos sintomas febris (Vincent).
A localisação hepática pode revestir todas as formas das ictericias infecciosas, desde a icterícia benigna até á icterícia grave, compreendendo o síndroma da icterícia e algumas vezes o da insuficiência hepática ; podem também observar-se angio-cbolites catarrais, cholecistites supuradas, hepatites difusas, abcessos hepáticos.
A presença do bacilo de Eberth na vesícula durante muita tempo, tem para alguns
TRABALHO DA 2.a CLINICA MEDICA 81
observadores influencia na formação de cálculos biliares (Dufort,Honot), constatando-se alguns casos de lithiase biliar em indivíduos que sofreram a infecção tifica.
Ha quem reserve aos casos complicados de insuficiência hepática, com hipotermia (Roger) ou icterícia grave uma nova forma, a forma hepática.
Deve ser interessante e de grande importância o estudo da anatomia patológica das diversas formas, que pode tomar a localisação hepática da septicemia tifóide ; mas não cabe esse estudo no âmbito deste trabalho que tem em vista tão somente coligir factos meramente clínicos que facilitem o diagnostico da febre tifóide nas suas variadas modalidades.
É bem verdade que as perturbações funcionais sobrelevam as lesões anatomo--patologicas e a presença da urobilina na urina é disso a prova, as funções hepáticas reduzindo-se ao minimo.
A localisação hepática da septicemia é favorecida por uma menor resistência do
82 A FORMA ICTÉRICA DA FEBRE TIFÓIDE
órgão devida a taras hepáticas anteriores, entre outras o alcoolismo.
Parece-me oportuno mencionar a opinião de vários patologistas, entre eles Pfuhl, Louguet e Weil para quem as ictericias infecciosas não seriam senão uma forma especial, adeterminação hepática da febre tifóide, isto é, verdadeiros tifos hepáticos.
Os trabalhos de E. Dupré, Gilbert e Girode teem mostrado que a infecção tifica das vias biliares existe e com uma certa frequência.
A pleurcsia devida ao bacilo de Eberth aparece em todos os períodos da febre tifóide, mas a de localisaçâo inicial é conhecida por pleuro-tifo de Talamon e Lécorché.
Os signais funcionais são muito intensos, a adinamia é grande ; o exsudato pode ser soro-fibrinoso, purulento ou hemorrágico e tem poder aglutinante (Achará) embora P. Courmont e M. Menetrier tenham constatado exsudatos de pleuresias tifóides sem poder aglutinante.
TRABALHO DA 2.a CLINICA MEDICA 8 3
Na nossa observação clinica vimos que o exsudato era soro-fibrinoso e tinha um poder aglutinante grande, embora inferior ao soro sanguíneo.
O exsudato hemorrágico é mais próprio da pleuresia que surge no começo da convalescença, embora não fosse isso que aconteceu á nossa doente, e o soro-fibrinoso aparece com mais frequência no pleuro-tifo.
A temperatura apresenta remissões mar Unais, e a evolução sub aguda da pleuresia eberthiana distingue-a das supurações pleurais a marcha mais rápida devidas ao estre-ptococus e pneumococus.
As mais das vezes trata-se de uma infecção tuberculosa latente despertada pelo bacilo de Ebertta (H. Vincent) ; assim o indica a linfocitose de quasi todos os exsudatos.
Os derrames purulentos, em que se podem transformar os hemorrágicos, são os que apresentam maior gravidade.
Os exsudatos destas pleuresias não costumam ser abundantes e não se reproduzem.
84 A FORMA ICTÉRICA DA FEBRE TIFÓIDE
INTENSIDADE DOS SINTOMAS (Virulência do agente e
resistência orgânica). Das formas apiretica, hipertoxica, hiper-
piretica, fulminante nada diremos, porque dos seus próprios nomes, colhemos todas as particularidades que as caracterisam.
A forma aãinamica tem como sintomas característicos um estado de grande prostração, o estado tifóide é muito acusado, chegando mesmo ao estupor; o pulso é pequeno a diarreia abundante e a par destes fenómenos é importante acentuar a tendência para as hemorragias e esfacelo.
Na forma ataxica encontramos perturbações nervosas mais ou menos violentas : carfologia, dilirio, alucinações, sobresaltos tendinosos, convulsões parciais ou gerais ; a febre é alta, continua de pequenas oscilações.
Estas duas formas aparecem raramente isoladas; a combinação das duas é mais frequente dando a forma ataxo-•aãinamica.
TRABALHO DA 2.» CLINICA MEDICA 85
A forma abortiva ou tifo levissimus (Griesinger) não é mais, segundo Letulle, do que uma «febricula tifóide de curta duração, atenuada ou grave mas curada rapidamente, antes da época habitual da convalescença.»
É frequente nos indivíduos incompletamente vacinados e nas creanças.
O começo é quasi sempre brusco e pode atingir logo uma temperatura alta (40°); a desaparição dos sintomas faz-se também bruscamente.
AformaaíMÒitZaíoriaassim chamada porque o individuo julga-se tão pouco doente que não deixa as suas ocupações.
O doente não sente mais que uns arrepios com uma ligeira sensação de calor, anorexia, cefalalgia passageira e perturbações intestinais de pouca gravidade.
A febre pode não existir ou ser muito alta (Jaccoud).
A forma ambulatória pode transformasse numa forma mais grave ou persistir assim até final,
86 A FORMA ICTÉRICA DA FEBRE TIFÓIDE
Esta forma é mais frequente do que se pensa porque muitas passam tão ligeira mente que o diagnostico não se chega a fazer.
PREDOMÍNIO DOS SINTOMAS Das três formas que citei
no capitulo anterior a propósito do prodo-minio dos sintomas, descreveremos aqui a forma sudoral, não só porque é uma das mais interessantes, como porque tivemos ocasião de observar um caso no anolectivo passado.
Seguimos nesta descripção mais ou menos o estudo de Jaccoud feito na Semaine Médicale, pag. 42, 1897, c uma lição que o nosso ilustre professor Dr. Tiago d'Almeida faz o ano passado a propósito do caso acima referido.
Garacterisa-a a existência de suores abundantes, manifestando-se a diafarese por paroxismos sudorais, duma abundância excessiva, podendo até desviar o diagnostico de infecção ebertlriana.
TRABALHO DA 2fi CLINICA MEDICA 8 7
Apresentam esses paroxismos sudorais varias particularidades; são suores críticos precedidos por um arrepio violento e gene-ralisado, continuado por uma sensação de calor intenso e seguido de suores abundantes na fronte e face e depois em toda a superficie cutonea.
Estas crises duram algumas horas, aparecem a horas certas e deixam os doentes muito prostrados.
Outras particularidades se observam nesta forma :
— A falta do caracter tifoso nos doentes e de perturbações instestinais.
— A longa duração da doença. — Gefalalgias frontaes e na nuca (reac
ções memingeas). Dois sintomas sofrem a influencia dos
suores: a diarreia.quando existe e a curva térmica; a diarreia desaparece para dar logar á prisão de ventre, e a curva térmica irregularisa-se, perdendo o caracter da curva da febre tifóide que costumamos dividir nos clássicos três períodos ; a temperatura desce
8 8 A FORMA ICTÉRICA DA FEBRE TIFÓIDE
quando actividade secretora é maior, e começa a subir no fim do acesso para atingir o máximo no fim do calafiio inicial do acesso seguinte.
Por vezes o diagnostico embaraç,a-nos, porque se presta a confusões com outras doenças e em primeiro logarcom osezonismo e a tifo-malaria.
PODE 1MPRIMIR-SE.
Thiago d'Almeida. Maximiano Lemos.