Anais Eletrônicos do IX Congresso Brasileiro de História da Educação João Pessoa – Universidade Federal da Paraíba – 15 a 18 de agosto de 2017
ISSN 2236-1855 540
A IMPLANTAÇÃO DO ENSINO SECUNDÁRIO PÚBLICO NA PARAÍBA
(1948-1961): INSTITUIÇÕES, POLÍTICAS E AÇÕES DOS GOVERNOS
Bruna Bianca Albuquerque de Souza1¹
Vívia de Melo Silva2²
Introdução
Este trabalho é originário de uma pesquisa intitulada “A implantação do Ensino
Secundário Público na Paraíba (1948-1961)”, vinculada ao Programa Institucional de Bolsas
de Iniciação Científica - PIBIC/CNPq, ligado à Universidade Federal da Paraíba – UFPB. A
referida pesquisa buscou refletir sobre o processo de implantação do Ensino Secundário
público na Paraíba, focando nas seguintes discussões: ações e políticas dos governos voltadas
ao Ensino Secundário; instituições secundárias implantadas no recorte temporal da pesquisa
e a repercussão da instauração do Ensino Secundário público na imprensa paraibana.
Instigadas com as descobertas da pesquisa antes mencionada, decidimos reunir alguns
resultados e ampliar um pouco mais a discussão a respeito do Ensino Secundário público
paraibano, focando nas instituições implantadas, no fomento dessas implantações e, por fim,
nas políticas e ações dos governos voltadas a este nível de ensino entre 1948 e 1961.
Nosso estudo é centralizado no final da década de 1940 até o início da década de 1960.
Este recorte temporal é justificado pelo seguinte: 1948, ano em que é anunciada no interior
da Paraíba a implantação do primeiro colégio de ensino pós-primário do período republicano
e estende-se até 1961, quando é promulgada a primeira Lei de Diretrizes e Bases da Educação
Nacional, em 20 de dezembro de 1961 (LDB lei nº. 4.024, de 20 de dezembro de 1961), a
partir da qual foram sugeridas algumas mudanças no Ensino Secundário brasileiro.
Em tempos não tão distantes, os estudos no campo da História da Educação brasileira
vêm acendendo e possibilitando novas problematizações e reflexões no âmbito da Educação.
Estes estudos histórico-educacionais vêm permitindo a descoberta de aspectos inexplorados
na historiografia da educação brasileira, contribuindo assim para a escrita de uma nova
história da educação no país. Nesta perspectiva almejamos, neste texto, contribuir para a
1 Graduanda do curso de Licenciatura Plena em Pedagogia pela Universidade Federal da Paraíba (UFPB). Aluna pesquisadora do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (PIBIC/CNPq. E-Mail: <[email protected]>.
2 Doutora em Educação pela Universidade Federal da Paraíba (UFPB). Professor Adjunto no Departamento de Fundamentação em Educação do Centro de Educação da UFPB, Campus I. E-Mail: <[email protected]>.
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ampliação dos estudos histórico-educacionais do Estado, em especial, referente à história do
Ensino Secundário paraibano.
Sobre a discussão teórica que norteou este estudo, destacamos o conceito de
configuração. Para Elias (2001; 2006; 2008) esse conceito serve de instrumento científico
para se evitar o constrangimento de pensar o indivíduo e a sociedade como antagônicos.
Neste sentido, partimos do entendimento de que o processo de implantação do Ensino
Secundário público na Paraíba compreendeu uma configuração, tendo em vista o
imbricamento entre os indivíduos e a sociedade, movido pelas interdependências entre os
sujeitos que integraram esse processo. Ademais, baseamo-nos na categoria de representação
de Chartier (1990) que nos auxiliou no trabalho com documentos históricos produzidos, para
atender determinados objetivos e interesses do período, e talvez de grupos. Portanto, foram
exploradas formas de representações de uma dada realidade para construir com um
conhecimento acerca do Ensino Secundário público paraibano.
No que tange ao trabalho com fontes, o conceito de “documento/monumento”
elaborado por Jacques Le Goff foi bastante pertinente, tendo em vista que os monumentos e
os documentos são materiais da memória coletiva e da história, que nos auxiliam na
elaboração das respostas aos problemas de pesquisa. Comungando dessa orientação,
utilizamos o Jornal A União como fonte de pesquisa. Este jornal foi fundado em 2 de
fevereiro de 1893 por Álvaro Machado e é ligado ao estado da Paraíba, editado na capital
João Pessoa. Acessamos este veículo de comunicação no acervo do Arquivo Histórico
Waldemar Bispo Duarte da Fundação Espaço Cultural José Lins do Rego (FUNESC).
Portanto, mediante tudo que foi apresentado anteriormente, organizamos este artigo
da seguinte forma: além desta introdução, que traz aspectos fundamentais e as justificativas
deste trabalho, trazemos três (03) itens referentes à discussão do nosso tema, o primeiro é
referente ao Ensino Secundário, envolvendo definições e suas características de um modo
geral; no segundo item apresentamos as instituições secundárias públicas que foram
implantadas e publicadas no Jornal A União durante 1948 a 1961. No terceiro, discutimos as
ações e políticas do poder público voltadas ao ensino pós-primário. E por último,
apresentamos as considerações finais.
O Ensino Secundário
O Ensino Secundário refere-se a um nível escolar subsequente ao ensino primário. É
um ensino de orientação propedêutica que divide-se em duas partes: ginasial e colegial. Esse
mesmo ensino era parte integrante do Ensino Médio, o qual era composto pelos seguintes
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cursos: Ensino Secundário, Agrícola, Industrial, Comercial e Normal. Dentre estes cursos, o
Ensino Secundário era julgado o mais importante pelo fato de ser preparatório para a
Educação Superior, ao contrário dos demais que compuseram o Ensino Médio, que eram
voltados para uma formação técnica e conduzia o alunado para o mercado de trabalho.
Até a promulgação da primeira Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB)
de 1961, o Ensino Secundário passou por várias reformas. Estas reformas apresentaram
orientações e regulamentações distintas voltadas ao ensino pós-primário. Além disso, essas
reformas representaram uma constante necessidade do poder público e de grupos de
intelectuais e professores de organizar o Ensino Secundário no país. Algumas destas reformas
foram as seguintes:
Reforma Benjamim Constant (1891), que introduziu a equiparação e os exames de madureza, embora que limitado aos estabelecimentos oficiais de ensino; Reforma Epitácio Pessoa (1901), a qual consolidou a equiparação de colégios ao Colégio Pedro II e sua transformação em instrumento de padronizar o Ensino Secundário nacional; Reforma Rivadávia (1911), apresentada pela experiência de ‘‘desoficialização’’ do ensino, já que extinguiu a equiparação e objetivava a instauração de um regime de livre competição entre os estabelecimentos de ensino oficiais e particulares; Reforma Maximiliano (1915), cuja finalidade incidia na melhoria do ensino secundário e na retomada da uniformização, destacando, mais uma vez, o caráter propedêutico desse ensino; Reforma Rocha Vaz (1925), que propôs os exames seriados; Reforma Francisco Campos (1931), que enfatizou a preparação do adolescente à integração com uma sociedade mais complexa que estava em formação naquela época. (SILVA, 2014, p.43)
Aproximando-se do período temporal em que se inicia nossa pesquisa, o Ensino
Secundário, após todas essas reformas, passou novamente por reformulação durante o
Estado Novo, sob o comando do ministro da educação e saúde Gustavo Capanema, mediante
a Lei Orgânica do Ensino Secundário, sancionada pelo Decreto-Lei nº 4.244, de 9 de abril de
1942, a qual vamos aprofundar mais um pouco na nossa discussão.
Conforme o capítulo II do título I desta lei, o Ensino Secundário configurou-se em dois
(02) ciclos: o Ginasial com duração de quatro (04) anos, que compreendia uma formação
geral, a qual servia como preparação para o segundo ciclo, o Colegial, que tinha um espaço de
tempo de três (03) anos. Neste segundo ciclo o aluno tinha duas (02) opções: o curso
Clássico, que era voltado para a formação nas humanidades clássicas e modernas, ou seja,
mais focado nas línguas e literaturas e o curso Científico que valorizava as ciências naturais e
exatas.
Ao observar a configuração do currículo escolar nos capítulos I e II do título II da Lei
Orgânica do Ensino Secundário que trata sobre a estrutura deste nível de Ensino, ficou
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evidente que, no primeiro ciclo (Ginasial), as línguas a serem estudadas eram: português,
latim, francês e inglês, além de outras disciplinas advindas das duas áreas. No segundo ciclo,
além destas, são acrescidas: grego e espanhol. Uma observação importante a respeito do
segundo ciclo (Clássico e o Científico) é que as disciplinas que eram estudadas no Clássico
eram basicamente as mesmas estudadas pelo Científico. No entanto, a esse respeito, as
disciplinas da área humanística eram mais presentes no currículo do Curso Clássico, ao
contrário do Científico, o qual era composto mais pelas ciências e o desenho que não era
oferecido no Clássico.
Ainda sobre a estruturação do Ensino Secundário, podemos observar nos capítulos IV,
V e VI do título II da referida lei, além das línguas, das ciências e das artes, era obrigatório: a
prática da educação física para alunos com até 21 anos de idade; os alunos do sexo masculino
recebiam instruções militar, exceto aqueles que tivessem incapacidade física (essa
intervenção militar na educação está atrelada ao período Getulista); como parte integrante do
ensino, era lícito aos estabelecimentos de Ensino Secundário incluir a educação religiosa que
tinha seu regime ditado pela autoridade eclesiástica.
No capítulo VII do título II, podemos observar de forma mais explicita que, a Reforma
Capanema, tentou a revalorização das humanidades clássicas e modernas no âmbito da
cultura escolar, propôs que o ensino fosse patriótico por excelência e que fosse capaz de
proporcionar aos adolescentes a compreensão dos problemas e das necessidades da missão e
dos ideais da nação. Tal orientação difundida por essa reforma vem corroborar com o ideário
do Estado Novo.
No que tange as nomenclaturas das instituições de Ensino Secundário, o capítulo III
do título I, esclarece que existem dois tipos de estabelecimentos de Ensino Secundário: os
Ginásios, destinado a ministrar apenas o curso de primeiro ciclo, ou seja, os primeiros quatro
(04) anos; e os Colégios, que obrigatoriamente tinha que oferecer o curso do Ginásio e os dois
cursos que compreendiam o segundo ciclo (Clássico e Cientifico), sem negar-se a oferecer
qualquer curso pertencente ao Ensino Secundário.
Essa última Reforma perdurou pelo menos cerca de duas décadas, deixando marcas
duradouras na configuração do Ensino Secundário no país. A Reforma Capanema sofreu
modificações introduzidas pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei nº
4.024/61) promulgada em 1961. Esta lei alterou a configuração curricular do Ensino
Secundário, mas manteve a estruturação deste nível de ensino nos dois ciclos antes
apresentados (SOUZA, 2010).
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Em 1961, ocorreu a promulgação da primeira LDB de nº 4.024/61, que foi aprovada
depois de treze (13) anos de debates, reformulações e tramitação. No que diz respeito ao
Capítulo II da referida lei que regulamenta o Ensino Secundário, podemos identificar
algumas mudanças importantes como: diferença no currículo incluindo matérias optativas
sobre preferência dos estabelecimentos de ensino; delimitação do número de disciplinas a
serem ministradas e a diversificação na terceira série do colegial incluindo aspectos
linguísticos, históricos e literários no currículo, visando o preparo dos alunos para os cursos
superiores (SILVA, 2014).
Em suma, a Lei n.º 4024, na verdade, apresentou soluções fragmentadas e limitadas às
necessidades demandadas no momento para a organização do Ensino Secundário,
principalmente por causa dos conflitos ocasionados pelas batalhas de interesses diversos
existentes quando da formulação desse dispositivo.
Instituições De Ensino Secundário Implantadas
Observando os achados da nossa principal fonte de pesquisa, O Jornal A União (1948-
1961) pudemos constatar que anterior a 1948, o Ensino Secundário paraibano era constituído
por mais de dez estabelecimentos de ensino. Eram os seguintes: Colégio N. S de Lourdes,
Colégio Diocesano Padre Rolim, Ginásio Diocesano de Patos, Ginásio Paroquial de
Esperança, Colégio Estadual da Paraíba, Ginásio dos Maristas em Alagoa Grande, Colégio
Diocesano Pio X, Colégio N. S. das Neves, Colégio Diocesano Pio XI em Campina Grande,
Colégio Alfredo Dantas, Colégio Imaculada Conceição (DAMAS), Colégio Nossa Senhora de
Lourdes na cidade de Cajazeiras.
Em 1948, foi publicada uma matéria no Jornal A União que sugeriu uma preocupação
por parte do governo com o Ensino Secundário, visto que, a nível nacional a expansão do
Ensino Secundário era discurso recorrente nos anos 1940, mais especificamente nos anos de
1950. Conforme Silva (1969), esse alargamento do ensino pós-primário estava atrelado ao
avanço da industrialização, urbanização e aumento da renda nacional. A partir da citação
que segue, podemos também ter uma noção da situação das instituições de Ensino
Secundário na época:
O ensino secundário do primeiro ciclo vem sendo ministrado por dez ginásios distribuídos na capital e no interior e devido á iniciativa particular. O único estabelecimento oficial, o Colégio Estadual da Paraíba, funcionou ano passado, nos dois ciclos [...] Torna-se indispensável à ampliação de nossa rede de estabelecimentos de ensino secundário com a criação de novos colégios pelo Estado e estímulo á iniciativa particular. Com esse propósito já determinou o Governo a construção do Colégio Estadual de Campina
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Grande, que também disporá de dois ciclos, havendo concedido auxílios para a ampliação do Ginásio Diocesano de Patos e para a construção do Ginásio Paroquial de Esperança e do Ginásio dos Maristas de Alagoa Grande, conforme autorização dada pela Lei nº 33, de 11 de novembro de 1947. (Jornal A UNIÃO, 03/06/1948, p.05).
De acordo com o fragmento da matéria do Jornal, o Ensino Secundário, em um período
anterior ao ano de 1948, ficou sugerido que funcionou regularmente na Paraíba em dez (10)
estabelecimentos deste nível de ensino, sendo nove (9) particulares e um (1) público (Colégio
Estadual da Paraíba, o atual Lyceu Paraibano). Dessas dez (10) unidades escolares, apenas
quatro (4) destinavam-se ao sexo masculino. Já ao sexo feminino, podemos observar que
existiam três (3) estabelecimentos de ensino, nos levando a pensar que os demais eram
mistos.
Ainda no fragmento do jornal citado anteriormente, fica claro a mensagem do governo
sobre a proposta de ampliação deste ensino, anunciando a construção de novas unidades
escolares, inclusive a implantação do Colégio Estadual de Campina Grande no ano de
publicação da matéria, sendo o segundo colégio de ensino secundário público da Paraíba. O
colégio foi implantando em Campina Grande pelo fato de ser a cidade mais populosa depois
de João Pessoa, atendendo assim uma demanda de jovens na zona urbana.
Na Paraíba, considerando o contexto da implantação daqueles colégios antes
mencionados, mais especificamente na década de 1940, a população do Estado enfrentava
sérios problemas referentes ao ensino, tais como: a precarização do ensino; número reduzido
de escolas, principalmente nas localidades do interior; pouca oferta para uma demanda de
jovens considerável; falta de professores qualificados; recursos escassos destinados ao ensino
e, mais especificamente, a este nível de ensino, dentre outros problemas.
Ainda em 1948, identificamos no jornal uma reivindicação da Vanguarda Estudantil,
grupo de mobilização liderado por estudantes, que tinha como objetivo a luta por direitos
estudantis, por um curso ginasial noturno, tendo como justificativa a necessidade dos alunos
que trabalhavam durante o dia e dispunham apenas da noite para atividades educacionais.
[...] Exmo. Sr. Presidente da Assembleia Legislativa do Estado da Paraíba. A ‘VANGUARDA ESTUDANTIL’ toma a liberdade de lembrar aos ilustres Deputados à necessidade de instituir um Curso Ginasial Noturno no Colégio Estadual da Paraíba. Essa justa medida vem preencher uma lacuna ainda em claro, beneficiando grande parte dos alunos daquele curso, prejudicados em virtude da coincidência dos horários de estudo e trabalho [...] (Jornal A UNIÃO, 28/08/1948, p. 03)
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Como efeito dessa petição realizada pelos estudantes, temos a implantação do primeiro
Ginásio Noturno em João Pessoa, funcionando no Colégio Estadual da Paraíba em fevereiro
de 1949. Um grande avanço na oferta deste nível de ensino no estado.
Durante a pesquisa, também foi encontrada informação sobre outro ginásio noturno. O
Ginásio Castro Pinto, também localizado em João Pessoa. Sobre este ginásio podemos
destacar o seguinte:
[...] instalação do Ginásio Noturno Castro Pinto, da Campanha Nacional de Ginásios Gratuitos. [...] a sua instalação iria proporcionar o ensino secundário de todos aqueles que por determinadas circunstâncias não podem frequentar os cursos diurnos. (Jornal A UNIÃO, 12/02/1949, p. 3).
Em conformidade com o trecho do jornal citado, podemos perceber que o Ensino
Secundário, embora de forma demorada começa a oportunizar estudos a classe de jovens
trabalhadores, dessa forma, perdendo o caráter de ensino elitista.
Em Sapé, localizada a 42 km de João Pessoa – PB, cidade conhecida como a ‘‘Terra do
abacaxi’’ e berço do poeta Augusto dos Anjos, especificamente em dezembro de 1956, foi
implantado o primeiro ginásio de ensino secundário no interior, nomeado apenas como
‘‘Ginásio de Sapé’’. Hoje é nomeada Escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio
Monsenhor Odilon Alves Pedrosa, sendo a terceira instituição oficial de ensino secundário na
Paraíba e também a terceira maior do estado em termos de estrutura. O ginásio foi levado
para Sapé através de um projeto do deputado Luiz Ribeiro Coutinho, o qual já tinha sido
prefeito da cidade, assinado pelo governador do Estado. Isso nos leva a inferir que foi um
atendimento político levado a feito por este deputado em forma de agradecimento ao povo de
Sapé, visto que foi à cidade que lhe elegeu como deputado. Segue um pequeno trecho do
discurso de inauguração do governador Flávio Ribeiro Coutinho na inauguração do ginásio
de Sapé:
Trata-se de uma medida das mais incentivadoras para o ensino secundário do nosso Estado, uma vez que até então somente João Pessoa e Campina Grande possuíam Ginásios Oficiais, sendo Sapé agora comtemplada com um estabelecimento dessa ordem que terá inestimáveis benefícios á sua população e das cidades circunvizinhas. (Jornal A UNIÃO, 12/12/1956, p. 03)
Em suas últimas palavras, nesta mesma matéria jornalista, o governador Flávio Ribeiro
Coutinho afirma que Sapé foi comtemplada com o ginásio por que a referida cidade era a
terra do seu saudoso irmão Dr. João Úrsulo Ribeiro Coutinho, pessoa fortemente ligada à
política na cidade de Sapé (Jornal A UNIÃO, 1956).
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No ano seguinte, no mandato do governador Pedro Gondim, em março de 1957 foi
instalado o Ginásio ‘‘4 de julho’’ em Araruna, cidade que fica a 165 km de João Pessoa, um
dos principais municípios do agreste paraibano. A inauguração foi comemorada com
banquete, missa, discurso e grande recepção por parte da população e dos homens públicos.
No que se refere ao funcionamento deste Ginásio de Araruna, foi recorrente no jornal
anúncios dos cursos de admissão para ingresso na instituição. “De vários dias se anunciava a
instalação dos Cursos de Admissão do Ginásio ‘4 de julho’ de Araruna”. (Jornal A UNIÃO,
22/03/1957, p. 02). O objetivo, possivelmente, era motivar a população a realizar tal exame e
conseguir um importante número de matriculados neste ginásio.
Ainda em 1957, foi implantado o Ginásio ‘‘Eduardo Ferreira’’ em Rio Tinto, cidade
localizada na região metropolitana de João Pessoa, a 62 km da Capital. Foi trazido para a
cidade através do comendador Arthur Ludgreen, o qual era o prefeito de Rio Tinto, na época.
Começou a funcionar nos grupos escolares da cidade e somente no consequente ano mudou-
se para o prédio oficial.
A citação que segue confirma o ato de institucionalização do Ginásio Eduardo Ferreira:
“[...] sancionará na próxima semana um decreto criando naquela localidade um Ginásio
Municipal, nos moldes de outros estabelecimentos recentemente instituídos neste Estado e já
reconhecidos pelo Ministério da Educação.” (Jornal A UNIÃO, 04/04/1957, p. 02). Tal ação
nos chamou a atenção pelo fato deste ginásio, especificamente, ter sido uma motivação do
governo municipal, visto que as demais instituições de Ensino Secundário identificadas na
pesquisa se enquadram na situação de “equiparados”, aqueles que eram mantidos pelo
Estado ou Distrito Federal e também era autorizado pelo Governo Federal. O capítulo II do
título V da Lei Orgânica do Ensino Secundário (1942), no art. 71, nos esclarece sobre essa
questão, classificando o Ginásio Municipal Eduardo Ferreira como “reconhecido”, sendo
esses mantidos pelos Municípios, por pessoa natural ou pessoa jurídica de direito privado,
precisando também serem autorizados pelo Governo Federal.
Em março de 1958, na cidade de Alagoa Grande, localizada no brejo paraibano,
aproximadamente 110 km de João Pessoa, foi inaugurado o Ginásio São José. (Jornal A
UNIÃO, 26/02/1958). Quanto à constituição do corpo docente deste Ginásio, vale ressaltar
que:
A propósito da formação do corpo docente do colégio, a Mitra Arquidiocesana entrou em entendimentos com a Congregação de Santa Cruz, no sentido de que educadores católicos, padres e leigos americanos e canadenses, se responsabilizem pelo ensino que será ali ministrado. O primeiro diretor do Ginásio São José, padre José Paulino, coadjuntor da
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Paróquia de Alagoa Grande, foi indicado pelo Bispo auxiliar da Paraíba. (Jornal A UNIÃO, 26/02/1958)
Na matéria do jornal A União, na qual encontramos essa informação, é enfatizado que a
administração e o corpo docente do ginásio eram regidos pela igreja católica, mas não ficou
claro se era um estabelecimento de Ensino Secundário público ou privado. Ademais, em uma
pesquisa mais ampla também não encontramos maiores informações. Por isso, não podemos
mensurar precisamente a categoria na qual se enquadra esta instituição escolar.
Para melhor vislumbrar a implantação do Ensino Secundário público na Paraíba,
durante este período, apresentamos a seguinte tabela.
QUADRO 1 INSTITUIÇÕES DE ENSINO SECUNDÁRIO PÚBLICO IMPLANTADAS
ENTRE 1948-1961 NA PARAÍBA
Fonte: Elaborado a partir do Jornal A UNIÃO (1948-1961)
A partir do quadro antes apresentado, observamos que a instauração dos
estabelecimentos de Ensino Secundário público na Paraíba foi relativamente considerável na
década de 1950. Década esta que, com base nos dados catalogados no Jornal A União,
tivemos a implantação de quatro (4) instituições públicas de ensino secundário. Estas quatro
implantações ocorreram nas seguintes cidades do interior paraibano: Sapé, Araruna, Rio
Tinto e Alagoa Grande.
Em resumo, conforme a pesquisa, entre 1948-1961 foram instituídas cinco (5)
instituições públicas de Ensino Secundário e um (1) estabelecimento deste mesmo ensino,
ainda sem confirmação se era público ou de iniciativa privada (o Ginásio de Alagoa Grande).
Em 1959, 1960 e 1961 não foram encontrados registros de Ginásios e Colégios de Ensino
Secundário nesses anos.
CIDADE INSTITUIÇÃO ANO CATEGORIA
Campina Grande Colégio Estadual de Campina Grande 1948 Público
João Pessoa Ginásio ‘‘Castro Pinto’’ 1949 Público
Sapé Ginásio de Sapé 1956 Público
Araruna Ginásio ‘‘4 de julho’’ 1957 Público
Rio Tinto Ginásio ‘‘Eduardo Ferreira’’ 1957 Público
Alagoa Grande Ginásio ‘‘Ginásio São José’’ 1958 ?
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Políticas e Ações dos Governos
No decorrer dos 14 (quatorze) anos do recorte temporal desta pesquisa (1948-1961),
temos 4 (quatro) governadores oficiais. Dentre esses governos, entre 1960 e 1961 o estado da
Paraíba estava sob o poder do presidente da Assembleia Legislativa, João Fernandes de Lima.
Em março de 1947, o cargo de governador da Paraíba foi ocupado por Oswaldo
Trigueiro de Albuquerque Melo, de Alagoa Grande-PB, formado em direito e um dos
fundadores do partido político “União Democrática Nacional” (UDN), no Rio de Janeiro em
1945. Exerceu o cargo de prefeito em João Pessoa em 1936 através de nomeação. Atuou como
advogado, embaixador, foi presidente do Supremo Tribunal Federal em 1969 e foi professor
da Faculdade de Ciências Econômicas na Universidade do estado de Guanabara e na
Universidade Federal da Paraíba.
Sua administração iniciou-se quando a Paraíba regressava ao regime constitucional de
1946. O novo governo vinha como esperança para solucionar os problemas educacionais
enfrentados pela população naquela época. Tais como: a precarização do ensino; número
reduzido de escolas, principalmente nas localidades do interior; pouca oferta para uma
demanda de jovens considerável; falta de professores qualificados; recursos escassos
destinados ao ensino e, mais especificamente, a este nível de ensino, dentre outros
problemas.
Dr. Oswaldo Trigueiro levou a sério a situação pelo qual passava o estado no que diz
respeito à educação no geral. Segundo Mello (1996), neste governo foram instalados e
começaram a funcionar o total de 28 (vinte e oito) grupos escolares. Além disso, este governo
realizou acordos com o Ministério da Educação para a construção de mais 13 (treze) prédios.
Destas 13 (treze) edificações, providenciou a conclusão de 4 (quatro), deixou 5 (cinco) em
início de obras e as demais construções em via de conclusão.
Sobre o desenvolvimento do Ensino de Adultos, o resultado também era animador. Na
administração do Dr. Oswaldo Trigueiro funcionaram 750 classes, com os quais o governo
gastou cerca de Cr$ 1.500.000,00. (MELLO, 1996)
Ainda no mesmo governo, também houve avanço na construção das escolas rurais,
sendo edificadas até 1950, pelo menos, 174 instituições de escolas rurais e outras em processo
de construção. (MELLO, 1996)
O Ensino Secundário, por sua vez, também foi contemplado pela ação do referido
governo. A obra mais marcante nessa gestão foi a idealização e proposta de construção do
Colégio Estadual de Campina Grande, o qual oferecia os dois ciclos do nível de ensino em
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foco. Em 1949, os estudantes secundários também foram beneficiados com Ginásio Noturno
Castro Pinto, através de reivindicações.
De acordo com um fragmento do Jornal A União do ano de 1948, podemos perceber a
preocupação do governo com o Ensino Secundário. Neste fragmento do jornal ficou evidente
a necessidade de ampliação do Ensino Secundário, mediante a implantação de colégios. Além
disso, também houve um estímulo para o funcionamento dos colégios particulares. ‘‘Torna-se
indispensável à ampliação da nossa rede de estabelecimentos de ensino secundário com a
criação de novos colégios pelo Estado e estímulo a iniciativa particular. ’’ (Jornal A UNIÃO,
03/06/1948, p. 05).
O governo Oswaldo Trigueiro encerrou com sua renuncia em 1950 com benfeitorias na
educação em geral. A administração foi seguida pelo vice-governador José Targino que
seguiu o ritmo das ações de seu antecessor.
Com a finalização dos governos de Oswaldo Trigueiro e José Targino, assume a
administração do Estado da Paraíba José Américo de Almeida, eleito governador do estado
em 1951. José Américo era formado em Direto, romancista, ex-senador (1945), fundador da
Universidade Federal da Paraíba, na qual foi o primeiro reitor. E ocupou as elevadas funções
de Procurador Geral do Estado.
Neste governo também foi dada importância à educação do estado da Paraíba. As
construções e as ampliações dos grupos escolares continuaram se expandindo juntamente
com o preenchimento das escolas e nomeações de professores para as instituições isoladas do
estado.
Um fato importante é que a preocupação com expansão do ensino foi além das
edificações dos prédios escolares. De acordo com as matérias do Jornal A União entre os anos
de 1951 a 1956, durante a administração de José Américo foi possível ressaltar as seguintes
ações deste governo, voltadas à educação: reaberturas de cursos pedagógicos para
aperfeiçoamento dos professores; supletivo para adultos, inclusive com escolas na zona rural;
incentivo ao primeiro Congresso de Professores Secundários do Nordeste; ampliação do
Colégio Estadual de João Pessoa; o aumento de reuniões pedagógicas; a elevação dos salários
dos professores secundários e a tentativa do barateamento do ensino privado em geral.
Todo este investimento anteriormente citado, principalmente no âmbito do Ensino
Secundário, implicou na criação de instituições de nível superior, visto que boa parte
daqueles estudantes que concluíam o ensino pós-primário desejavam ingressar nas
faculdades, ou seja, foi criada paulatinamente uma demanda para ingressar no Ensino
Superior. As ações educacionais do governo José Américo encerram-se por volta de 1955
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quando na Paraíba é instituída a Universidade Federal da Paraíba (UFPB), através da
iniciativa deste governador. Segundo Bezerra (2007), a UFPB foi fundada primeiramente
através da Lei Estadual Nº 1.366, de 2 de dezembro de 1955 a partir da reunião de cursos de
nível superior já existentes no estado e passou a ser federalizada através da Lei nº 3.835 de 13
de dezembro de 1960, visto que antes desta última lei, a UFPB era chamada apenas de
Universidade da Paraíba.
No último dia de janeiro de 1956 quem assumiu o cargo de governador da Paraíba foi o
médico, industrial e banqueiro, Dr. Flávio Ribeiro Coutinho, o qual foi ex-deputado estadual
e federal e vice-governador.
Com base nas publicações do Jornal A União de 1956 a 1958, as ações voltadas à
educação no Estado da Paraíba, nos anos do governo de Flávio Ribeiro, ainda foi possível
encontrar publicações sobre criação e inauguração de grupos escolares, mas, não vem com a
frequência dos governos anteriores, o mesmo serve para o ensino supletivo. Em
contrapartida, observamos que existia uma preocupação maior com o Ensino Secundário,
visto que neste período, em âmbito nacional, havia um investimento no sentido de expandir
este nível de ensino, mediante algumas políticas e alguns programas, tais como: Campanha
Nacional de Educandários Gratuitos (CNEG)3, Campanha de Merenda Escolar (CME), e a
alteração no Fundo Nacional do Ensino Médio.
Na administração do governador Flávio Ribeiro, embora existido apenas 2 (dois) anos
de duração, foi o governo que mais houve implantações de instituições secundárias. Em 1956,
houve a implantação do Ginásio de Sapé e em 1957 foi instaurado um Ginásio em Araruna e
outro em Rio Tinto.
De acordo com site oficial do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação
(FNDE), em 1955 foi assinado o Decreto n° 37.106, que instituiu a Campanha de Merenda
Escolar (CME), subordinada ao Ministério da Educação, a qual visava cumprir as
necessidades nutricionais dos alunos. Entretanto, em uma matéria do Jornal A União é
informado que somente em junho de 1956 o Colégio Estadual de João Pessoa é contemplado
por esta campanha. ‘‘No primeiro dia do mês em curso, verificou-se, no Colégio Estadual de
João Pessoa, a solenidade de inauguração do serviço de fornecimento de merenda escolar aos
alunos daquele estabelecimento de ensino’’. (Jornal A UNIÃO, 05/06/1956, p. 03). Vale
destacar que no discurso de inauguração desta campanha no colégio mencionado, o diretor
3 Em abril de 1956 o Fundo Nacional de Ensino Médio é alterado pelo Decreto Nº 39.080 trazendo recursos vantajosos para o Ensino Médio. No entanto os subsídios só serviam para a manutenção dos cursos que estavam subordinados a fiscalização do Ministério da Educação e Cultura (MEC), neste caso, os cursos secundários, comercial e industrial.
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da instituição agradece ao governador e diz que esta conquista deveu-se à atuação do
administrador do estado. Posteriormente os grupos escolares também fizeram parte desta
campanha.
Em 1957, é firmado um convênio entre o Instituto Brasileiro de Administração
Municipal e a Campanha Nacional de Educandários Gratuitos (CNEG)³, no qual visava
implantar um ginásio em cada município brasileiro que ainda não possuísse. Provavelmente
os ginásios de Araruna e Rio Tinto foram alvos dessa campanha.
Ainda em 1957, por motivos de saúde, o Dr. Flávio Ribeiro afasta-se do cargo. O vice-
governador Pedro Gondim, assume a administração do estado. O governador interino nasceu
em Alagoa Nova, exerceu advocacia na Paraíba e nos estados vizinhos, foi deputado estadual
em 1946 e secretário da Agricultura, Viação e obras Públicas do estado da Paraíba.
No âmbito da educação primária, no governo Pedro Gondim, tomando como base o
Jornal A União (1958, 1959 e 1960), o número de escolas de ensino primário implantadas
nesse governo foi resumido em comparação aos mandatos anteriores. Observando as
publicações da imprensa referentes ao ensino primário foi registrada apenas a instauração de
um grupo escolar, o Grupo Escolar de Serra Redonda.
No ano de 1958, houve um crescimento na demanda de alunos para os cursos
secundários em João Pessoa. A partir daí foi vista a necessidade de expandir o número de
vagas. Sabendo que o Colégio Estadual de João Pessoa não comportava a crescente
quantidade de estudantes, o governador Pedro Gondim, estendeu o Ensino Secundário do
Colégio Estadual de João Pessoa para o Grupo Escolar Frei Martinho em Cruz das Armas. Em
trecho de uma mensagem acerca do Ensino Secundário no Jornal A União, apresentada pelo
Governador Pedro Gondim à Assembleia Legislativa em 1º de junho de 1958, podemos
destacar que:
Em 1958, as matrículas deste educandário (cursos diurnos e noturnos) elevaram-se a 2.319. Em face da elevação do número de matrículas foi iniciada uma secção do curso ginasial no bairro de Cruz das Armas, com a matrícula de 200 alunos, distribuídos em 6 (seis) turmas correspondente as três primeiras séries ginasiais. (Jornal A UNIÃO, 11/06/1958, p.04).
Ainda sobre o Ensino Secundário, no início de 1958, é implantando o Ginásio São José
em Alagoa Grande. De acordo com o jornal A União (1958), esse ginásio era regido por
autoridades eclesiásticas, no entanto, durante a pesquisa não encontramos informações se
essa instituição era de iniciativa pública ou privada, ficando essa incógnita para ser
desvendada em pesquisas futuras.
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No mês de março de 1960, Pedro Gondim afasta-se do cargo de suplência para
concorrer com Janduhy Carneiro a Governador da Paraíba. Nesse meio tempo, quem fica
como governador do estado é o presidente da Assembleia Legislativa José Fernandes de
Lima, o qual era advogado, professor, escritor e membro do Instituto Histórico e Geográfico
Paraibano.
Considerando o pouco tempo de administração de José Fernandes de Lima, de acordo
as publicações do Jornal A União de março de 1960 até janeiro de 1961, podemos destacar
duas ações educacionais, uma que beneficiou o Ensino Primário e outra, o Ensino o Ensino
Médio.
No que diz respeito ao Ensino Primário, em agosto de 1960, houve a criação de diversas
escolas elementares mistas no município de Souza, o que provocou a expansão do Ensino
Primário, Elementar e Rural no Estado. Tal afirmativa é confirmada através da seguinte
citação: “O Governador José Fernandes de Lima, atendendo aos interesses do ensino, criou
diversas escolas elementares mistas no município de Souza de acordo com as Diretrizes da
Secretaria da Educação e Cultura [...]” (Jornal A UNIÃO, 10/08/1960, p.08)
Em janeiro de 1961, já na reta final do seu mandato, José Fernandes de Lima atende as
reinvindicações dos professores contratados do Ensino Secundário, equiparando os
vencimentos desses profissionais aos dos professores efetivos, uma ação que foi considerada
um aspecto positivo para o ensino pós-primário em sua administração. (Jornal A UNIÃO,
15/01/1961)
O governo de José Fernandes de Lima durou aproximadamente 10 (dez) meses, tempo
suficiente para que houvesse novas eleições para Governador do Estado. Quem sucedeu seu
governo foi Pedro Moreno Gondim, sendo designado ao cargo no último dia de janeiro de
1961, o mesmo que substituiu como vice, o governador Flávio Riberio em 1957.
De acordo com as publicações do Jornal A União até dezembro de 1961, já no final do
foco temporal da pesquisa, não foram encontradas matérias de ações significativas deste
governo voltadas a educação no sentido geral. Entretanto, é importante ressaltar que o
governo Pedro Gondim vigorou até 1966, no qual possivelmente houve ações direcionadas à
educação, mas, no momento esse período não é nosso foco.
Diante de tudo que foi apresentado anteriormente, elaboramos um quadro para uma
melhor visualização a respeitos das obras e ações públicas voltadas ao Secundário em 1948
até 1961.
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QUADRO 2
AÇÕES E POLÍTICAS GOVERNAMENTAIS NA PARAÍBA VOLTADAS
AO ENSINO SECUNDÁRIO (1948-1961)
GOVERNADORES AÇÕES E POLÍTICAS
OSWALDO TRIGUEIRO (1946-1950)
Implantação do Colégio Estadual de Campina Grande e o Ginásio Noturno Castro Pinto.
JOSÉ AMÉRICO (1951-1956)
Incentivo ao primeiro Congresso de Professores Secundários do Nordeste; Ampliação do Colégio Estadual de João Pessoa; A elevação dos salários dos professores secundários; Tentativa do barateamento
do ensino privado em geral.
FLÁVIO RIBEIRO COUTINHO (1956-1958)
Investimento na expansão do Ensino Secundário Programas nacionais: Campanha Nacional de Educandários Gratuitos (CNEG),
Campanha de Merenda Escolar (CME), e a alteração no Fundo Nacional do Ensino Médio; Maior número de instituições
secundárias.
PEDRO GONDIM (1958-1960)
Extensão do Colégio Estadual de João Pessoa.
JOSÉ FERNANDES DE LIMA
(1960-1961)
Equiparação dos vencimentos dos professores secundários contratados com os efetivos.
Fonte: Elaborado a partir do jornal A União (1948-1961)
De acordo com o quadro apresentado, é possível observar que embora tenha havido
ações governamentais que favoreceram a expansão e a tentativa de melhoramento deste nível
de ensino no período da pesquisa, foi especificamente no governo do Dr. Flávio Ribeiro
(1956-1957) que houve um maior investimento no que tange o Ensino Secundário, tanto em
ações políticas quanto ao número de instituições secundárias implantadas.
Considerações Finais
O Ensino Secundário passou por várias reformas antes da Lei Orgânica do Ensino
Secundário, sancionada pelo Decreto-Lei nº. 4.244, de 9 de abril de 1942. No entanto, essa
Lei foi a que regeu o ensino pós-primário durante o período temporal da pesquisa, sendo
modificada somente em 1961 com a promulgação da primeira Lei de Diretrizes e Bases da
Educação Nacional, Lei nº 4.024/61. Essa última Lei modificou o currículo do Ensino
Secundário, mas, manteve a mesma divisão organizada por Gustavo Capanema.
Entre 1948 e 1961 as ações dos governos estaduais foram significativas quando nos
referimos aos investimentos para expansão do Ensino Secundário, resultando na
implantação de cinco (05) instituições secundárias públicas e uma (01) não identificada.
Desse modo, é importante ressaltar que, embora tenha havido ações governamentais que
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favoreceram a expansão e a tentativa de melhoramento deste nível de ensino no período da
pesquisa, foi especificamente no governo do Dr. Flávio Ribeiro (1956-1957) que predominou
a implantação de unidades escolares destinadas ao ensino pós-primário, com três (03)
instituições públicas.
Conforme as discussões desenvolvidas durante a pesquisa, pudemos observar que
anterior a 1948, o Ensino Secundário era composto, na Paraíba, por dez (10) instituições
regularmente autorizadas deste nível de ensino, sendo apenas uma (01) pública, entretanto,
posteriormente, constatamos que houve uma expansão do ensino pós-primário, tendo grande
participação do Governo do Estado, desencadeando uma descentralização do poder
eclesiástico sobre as instituições secundárias, as quais eram voltadas para as elites. Esse
investimento de implantação no âmbito público possibilitou aos jovens de poderes
aquisitivos menores, uma oportunidade de ingressar em um nível escolar que, geralmente,
apenas os de famílias abastadas tinham acesso.
Referências
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SILVA, Geraldo Bastos. A Educação Secundária: perspectiva histórica e teoria. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1969. 416p. SILVA, Vívia de Melo. Por uma formação da juventude campinense: o Colégio “Gigantão da Prata” (1948-1962). João Pessoa, PB: Programa de Pós-graduação em Educação – Universidade Federal da Paraíba, 2014 (tese de doutorado). SOUZA, Rosa Fátima de. A História do Ensino Secundário no Brasil investigada na Perspectiva da Cultura Escolar. Leitura, impressos e cultura escolar/Organização de Cesar Augusto Castro. São Luís, MA: EDUFMA, 2010.
Fontes
JORNAL A UNIÃO. Imprensa Oficial do Governo do Estado da Paraíba. Ano LVI, Paraíba, 1948. JORNAL A UNIÃO. Imprensa Oficial do Governo do Estado da Paraíba. Ano LVII, Paraíba, 1949. JORNAL A UNIÃO. Imprensa Oficial do Governo do Estado da Paraíba. Ano LXIV, Paraíba, 1956. JORNAL A UNIÃO. Imprensa Oficial do Governo do Estado da Paraíba. Ano LXV, Paraíba, 1957. JORNAL A UNIÃO. Imprensa Oficial do Governo do Estado da Paraíba. Ano LXVI, Paraíba, 1958. JORNAL A UNIÃO. Imprensa Oficial do Governo do Estado da Paraíba. Ano LXVII, Paraíba, 1959. JORNAL A UNIÃO. Imprensa Oficial do Governo do Estado da Paraíba. Ano LXVIII, Paraíba, 1960. JORNAL A UNIÃO. Imprensa Oficial do Governo do Estado da Paraíba. Ano LXIX, Paraíba, 1961.