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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ
MARILENE PETRI
A (IN)CONSTITUCIONALIDADE DAS CONTRIBUIÇÕES SINDICAIS DIRECIONADAS PARA AS CENTRAIS SINDICAIS
Biguaçu 2011
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MARILENE PETRI
A (IN)CONSTITUCIONALIDADE DAS CONTRIBUIÇÕES SINDICAIS DIRECIONADAS PARA AS CENTRAIS SINDICAIS
Monografia apresentada à Universidade do Vale do Itajaí – UNIVALI, como requisito parcial à obtenção do grau em Bacharel em Direito.
Orientador: Msc. Dirajaia Esse Pruner
Biguaçu 2011
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MARILENE PETRI
A (IN)CONSTITUCIONALIDADE DAS CONTRIBUIÇÕES SINDICAIS DIRECIONADAS PARA AS CENTRAIS SINDICAIS
Esta Monografia foi julgada adequada para a obtenção do título de bacharel e
aprovada pelo Curso de Direito, da Universidade do Vale do Itajaí, Centro de
Ciências Sociais e Jurídicas.
Área de Concentração: Direito do Trabalho
Biguaçu, 08 de Dezembro de 2011.
Prof. Dirajaia Esse Pruner UNIVALI – Campus de Biguaçu
Orientadora
Profª. Roberta Schneider Westphal UNIVALI – Campus de Biguaçu
Membro
Prof. Leonardo Vieira de Ávila UNIVALI – Campus de Biguaçu
Membro
4
Dedico este trabalho a minha mãe, Elza Klein Petri, por ter me proporcionado a oportunidade
de estudar. Ao meu falecido pai, José Edmundo Petri, por ter me ensinado a importância do
aprendizado e da persistência. A minha Profª.e Orientadora Dirajaia Esse Pruner pelo seu
amor em lecionar e por toda sua dedicação neste trabalho.
5
AGRADECIMENTOS
Primeiramente agradeço a Deus por abençoar os meus passos e permitir
fazer mais uma graduação, mesmo em meio a tantas dificuldades. Por ter me
propiciado saúde e colocar em meu caminho muitas pessoas maravilhosas.
Meus sinceros agradecimentos a meus pais que, apesar de não terem
oportunidade de estudar, fizeram o seu melhor, para que pudesse alcançar meus
objetivos.
A minha família que sempre me apoiou direta ou indiretamente.
Agradecimento especial a minha orientadora, Dirajaia Esse Pruner, que
gentilmente aceitou o convite para a orientação, mostrando-se interessada,
atenciosa e dedicada, por compartilhar seus conhecimentos comigo e por me ajudar
sempre que precisei.
Aos meus colegas de sala de aula que me acolheram com muito carinho.
A professora Helena que no primeiro dia de aula me atendeu com tanto
carinho, quando eu mais precisava de uma orientação para buscar um novo
horizonte, após o recém falecimento de meu irmão querido.
Aos professores e funcionários do NPJ de Biguaçu, que muito me
ajudaram na caminhada da minha formação enquanto exercia a função de monitoria
e que jamais serão esquecidos.
A todos os professores desta instituição que me fizeram amar o curso de
Direito e por entender que fazer a diferença consiste em fazer aquilo que se deseja
com carinho, dedicação, amor, responsabilidade e profissionalismo. E que vale a
pena lutar para alcançar nossos objetivos.
Muito obrigada.
7
TERMO DE ISENÇÃO DE RESPONSABILIDADE
Declaro, para todos os fins de direito, que assumo total responsabilidade
pelo aporte ideológico conferido ao presente trabalho, isentando a Universidade do
Vale do Itajaí, a coordenação do Curso de Direito, a Banca Examinadora e o
Orientador de toda e qualquer responsabilidade acerca do mesmo.
Biguaçu, 08 de Dezembro de 2011.
Marilene Petri
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RESUMO
A presente monografia analisa a alegação de (in) constitucionalidade da Lei n.
11.648/2008 discutida na ADIn nº 4067 interposta pelo Partido Político Democratas.
Inicialmente, aborda-se a organização sindical brasileira, demonstrando de que
forma esta organizado o sistema sindical. Para tanto, apresenta-se brevemente no
que consiste a liberdade sindical e de que maneira esta regulada a liberdade
sindical, perpassando pelo modelo adotado pela legislação nacional. Busca-se
demonstrar os conceitos de categoria, base territorial e principio constitucional da
unicidade sindical em consonância com o texto constitucional. Neste vértice,
descreve-se no que consistem as centrais sindicais, sua função e criação. Em
seguida, no segundo capitulo, conceituam-se brevemente tributos e quais as
principais espécies, destacando as contribuições, cujo entendimento faz-se-a
necessária para uma melhor compressão acerca do ponto principal da pesquisa.
Finalizando a presente pesquisa, no terceiro e último capítulo, aborda-se o
questionamento da inconstitucionalidade das centrais em receber parcela das
contribuições sindicais segundo fundamentos que ensejaram a propositura da ADIn
nº 4067, procede-se à análise da ação, partindo da análise doutrinária e
jurisprudencial constata-se que a inovação trazida pela Lei n. 11.648/2008, enseja
acirrada discussão, não sendo pacífica até a presente data, sendo que a ADIn nº
4067 está tramitando no Supremo Tribunal Federal, sem previsão para julgamento.
O método utilizado para a pesquisa foi o dedutivo partindo do geral para o
específico.
Palavras-chave: Organização sindical. Tributos. Contribuição sindical. Centrais
sindicais. Inconstitucionalidade.
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ABSTRACT
This monograph analyses the allegation of (un)constitutionality of Law n.11.648/2008
discussed in ADIn nº 4067 interposed by Democrats Political Party. Initially, it
broaches the Brazilian’s syndical organization, showing how the syndical system is
organized. For this, it presents briefly what is the syndical freedom and how the
syndical freedom is regulated, passing by the model adopted by national legislation.
The aim is to demonstrate the concepts of the category, territorial basis and the
principle of syndical unity in consonance with the constitutional text. “ In this vertex” ,
it describes what is the syndical centers, their function and creation. Afterwards, on
second chapter, taxes are conceptualized briefly and what are the main species,
highlighting the contributions, whose comprehension is necessary for a better
understanding about the main point of the research. Finishing the present study, on
the third and final chapter, we discuss the questioning of unconstitutionality for the
centers receiving parcels of the syndical’s contribution according to the fundamentals
which entailed the bringing of ADI nº 4067, proceeds the analysis of the action,
starting from the doctrinal and jurisprudential analysis observing that the innovation
introduced by Law n. 11.648/2008, brings about heated discussion, not being
peaceful until this date, being that ADI nº 4067 is pending in the Supreme Court,
without prevision for trial. The method used for the research was the deductive from
the general to the specifics.
Keywords: Syndical organization. Taxes. Syndical contribution. Syndical centers.
Unconstitutionality.
10
ROL DE ABREVIATURAS E SIGLAS
ADIn - Ação Direta de Inconstitucionalidade
Art. - Artigo
CAT - Central Autônoma dos Trabalhadores
CF/88 – Constituição da República Federativa do Brasil de 1988
CGT - Confederação Geral dos Trabalhadores
CGTB - Central geral dos Trabalhadores do Brasil
CIDE - Contribuição de categoria de intervenção no domínio econômico
CLT - Consolidação das leis do trabalho
CNTI - Confederação Nacional dos Trabalhadores na Indústria,
CTN - Código Tributário Nacional
CONTAG - Confederação Nacional dos Trabalhadores em Comunicação e
Publicidade
CRESS - Conselho Regional de Serviço social
CRM - Conselho regional de Medicina
CUT - Central Única dos Trabalhadores
DEM - Partido Político Democratas
FS - Força Sindical
NCST - Nova Central Sindical de Trabalhadores
Nº - número
NPJ - Núcleo de pratica jurídica
OIT - Organização Internacional do Trabalho
PCB - Partido Comunista Brasileiro
Profª - Professora
SDS - Social democracia Sindical
STF – Supremo Tribunal Federal
TCU – Tribunal de Contas da União
TST – Tribunal Superior do Trabalho
11
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO...........................................................................................................13
1 A ORGANIZAÇÃO SINDICAL BRASILEIRA.........................................................14
1.1 LIBERDADE SINDICAL........................................................................................15
1.2 MODELOS DE REGULAÇÃO JURÍDICA DA LIBERDADE SINDICAL...............21
1.3 A ORGANIZAÇÃO SINDICAL BRASILEIRA........................................................22
1.3.1 Categoria..........................................................................................................23
1.3.2 Base territorial.................................................................................................24
1.3.3. Unicidade....................................................................................................... 24
1.3.4 Sindicatos........................................................................................................25
1.3.5 Federações.......................................................................................................27
1.3.6 Confederações.................................................................................................28
1.3.7 Centrais Sindicais...........................................................................................29
1.3.7.1. Conceito e Criação........................................................................................33
1.3.7.2. Função...........................................................................................................35
2 DOS TRIBUTOS.....................................................................................................38
2.1 CONCEITO DE TRIBUTOS.................................................................................38
2.2 ESPÉCIE DE TRIBUTOS.....................................................................................39
2.2.1 Impostos............................................................................................................39
2.2.2 Taxas.................................................................................................................40
2.2.3 Contribuição de melhoria...................................................................................41
2.2.4 Empréstimo compulsório...................................................................................43
2.2.5 Contribuições ....................................................................................................44
2.2.5.1 Contribuição de Interesse das Categorias Profissionais ou
Econômicas..............................................................................................................47
2.2.5.2 Contribuição de Categoria de Intervenção no Domínio
Econômico................................................................................................................47
2.2.5.3 Contribuições Sociais..................................................................................48
2.3 DA RECEITA DAS ENTIDADES SINDICAIS.......................................................49
3 A (IN)CONSTITUCIONALIDADE DAS CONTRIBUIÇÕES SINDICAIS
DIRECIONADAS PARA AS CENTRAIS SINDICAIS................................................56
12
3.1. DA PARTICIPAÇÃO DAS CENTRAIS EM ÓRGÃO DE COMPOSIÇÃO
TRIPARTITE .............................................................................................................58
3.2 DA INCONSTITUCIONALIDADE DO RECEBIMENTO, PELAS CENTRAIS
SINDICAIS DE PARTE DA CONTRIBUIÇÃO SINDICAL..........................................65
3.3 OS POSICIONAMENTOS DOUTRINÁRIOS ACERCA DA (IN)
CONSTITUCIONALIDADE DA ADIn nº. 4067...........................................................71
3.4 A INCONSTITUCIONALIDADE DO FATO DAS CENTRAIS SINDICAIS
PODEREM DISPOR DE SUA RECEITA SEM A DEVIDA
FISCALIZAÇÃO..........................................................................................................75
CONCLUSÃO ...........................................................................................................79
REFERÊNCIAS.........................................................................................................82
13
INTRODUÇÃO
A presente Monografia versa sobre as contribuições sindicais
direcionadas às centrais sindicais com as modificações trazidas pela Lei
11.648/2008, e tem por objeto o estudo da ação direta de inconstitucionalidade -
ADIn. nº. 4067, em trâmite no Supremo Tribunal Federal.
O objetivo da pesquisa é demonstrar se a contribuição sindical destinada
as centrais sindicais pela nova lei é considerada constitucional ou não. Para tanto,
dividiu-se o trabalho em três capítulos dispostos da seguinte maneira: a organização
sindical brasileira, conceituação de tributos e a (in) constitucionalidade das
contribuições sindicais direcionadas para as centrais sindicais.
Desse modo, no primeiro capitulo exporá a organização sindical brasileira,
em seguida discutir-se-á o conceito de liberdade sindical e os modelos de sua
regulação jurídica existentes. Posteriormente se estudará como as entidades
sindicais estão organizadas.
No segundo capitulo, têm-se uma abordagem sintética acerca dos tributos
e suas principais espécies para que sejam compreendidas as receitas das entidades
sindicais e de maneira especial a receita das centrais sindicais.
Por derradeiro, no terceiro e último capítulo abordar-se-á especificamente
a discussão acerca da (in) constitucionalidade das contribuições sindicais
direcionadas para as centrais sindicais, as quais foram instituídas a partir da Lei nº.
11.648/2008.
A presente Pesquisa se encerra com a Conclusão, na qual serão
apresentados pontos relevantes seguidos da estimulação ao prosseguimento dos
estudos e das reflexões sobre o direito das centrais sindicais de receberem ou não
parte das referidas contribuições.
A metodologia utilizada para o desenvolvimento da pesquisa será o
método dedutivo, conforme demonstra Pasold1, partindo do geral, aqui
compreendido como análise da organização do sistema sindical e o sistema
contributivo como um todo, para chegar ao específico objeto da pesquisa, qual seja,
a aplicabilidade da Lei nº. 11.648/2008 autorizando as centrais sindicais a
receberem as contribuições sindicais. 1PASOLD, Cesar Luiz. Prática da pesquisa jurídica: idéias e ferramentas úteis para o pesquisador do direito. 4 ed. rev. Florianópolis:OAB/SC, 2000, p. 85.
14
Quanto às técnicas a serem utilizadas, estas de darão a partir da
pesquisa indireta, composta basicamente por legislação, doutrina e jurisprudência.
Durante as diversas fases de elaboração serão acionadas as Técnicas do Referente
e da Pesquisa Bibliográfica.
15
1 A ORGANIZAÇÃO SINDICAL BRASILEIRA
1.1 LIBERDADE SINDICAL
Abordar-se-á o conceito de liberdade sindical para que se possa
compreender qual o tipo de sistema de organização sindical o Brasil possui. Para
tanto ressalta-se que o conceito de liberdade sindical é amplo e praticamente ditado
pela Organização Internacional do Trabalho - OIT. Far-se-á assim, um breve relato
da liberdade sindical.
A liberdade sindical deve ser ampla e irrestrita, porém, vale ressaltar a
possibilidade de haver algumas limitações. No entanto, não podem estas limitações
ferirem o direito de livre organização das entidades sindicais de um Estado.2
O conceito de liberdade sindical é bastante complexo e surge a partir de
fatos e posições doutrinárias, conforme pode-se observar:
Apesar deste conteúdo complexo da liberdade sindical ser, fundamentalmente, fruto do desenvolvimento dos fatos e das elaborações doutrinárias, está contido também no perfil de direitos enumerados nas normas internacionais anteriormente citadas, e, especialmente, na Convenção nº 87, tal como tentaremos descrever a seguir.3
A liberdade sindical encontra-se respaldada no Brasil pela Constituição da
Republica Federativa do Brasil de 1988 e, na esfera internacional, encontra-se nas
convenções da Organização Internacional do Trabalho (OIT).4
Além das convenções da OIT outras normas internacionais tratavam
sobre o assunto. A primeira delas foi o Tratado de Versalhes que já em 1919
abordava a questão do direito a liberdade de organização em entidade sindical. Em
1949 a Declaração Universal dos Direitos Humanos garantiu à liberdade de reunião,
de associação pacífica e do direito de toda pessoa constituir sindicatos e
sindicalizar-se na defesa de seus interesses.5 O Pacto Internacional de Direitos
Econômicos, Sociais e Culturais e o Pacto Internacional de Direitos Civis e Políticos
2RUPRECHT, Alfredo J. Relações coletivas de trabalho. Revisão técnica Irany Ferrari; tradução Edílson Alkimin. São Paulo: Ltr, 1995, p. 94 3URIARTE, Oscar Ermida. Liberdade Sindical: Normas Internacionais, Regulação Estatal e Autonomia. In: TEIXEIRA FILHO, João de Lima (Org.) Relações coletivas de trabalho: estudos em homenagem ao Ministro Arnaldo Sussekind, 1989, p.250. 4RUPRECHT, Alfredo J. Relações coletivas de trabalho. p. 101. 5RUPRECHT, Alfredo J. Relações coletivas de trabalho. São Paulo: LTr, p. 102.
16
de 1966 também apoiaram o direito a sindicalização. Na América, em 1948, com a
edição da Carta de Bogotá, adotada pela Organização dos Estados Americanos foi
reconhecido o valor da liberdade sindical como conseqüência direta do trabalho. A
Declaração Americana dos Direitos e Deveres do Homem valorizou o direito de
associação por contribuir para a promoção, exercício e proteção dos interesses
econômicos, profissionais e sindicais. E a Carta Internacional Americana de
Garantias Sociais salientou a importância da liberdade sindical pela busca do direito
de se associarem sem que haja distinção de sexo, raça, credo ou idéias políticas de
trabalhadores e empregadores.6
No entanto, devido a sua grande importância conceitual, é de suma
importância tratar das Convenções da OIT para se se compreenda como a liberdade
sindical foi sendo tratada pelas normas internacionais.
A Organização Internacional do Trabalho criou várias Convenções como,
por exemplo, as de ns. 11, 87, 98, 135, 141, 151, e 154. Todas estas normas
surgiram pelas experiências democráticas no mundo.7
A Convenção n. 11, de 1921, em seu art. 1º, ao tratar sobre o direito de
organização sindical dos trabalhadores rurais, ressaltou que todos os países que a
ratificassem deveriam assegurar aos trabalhadores agrícolas os mesmos direitos
que os trabalhadores industriais.8
Já a Convenção de número 87, de 1948, é considerada uma das mais
importantes acerca da matéria sindical, por tratar da liberdade sindical ante o Estado
e da proteção do Direito Sindical9. Aduz sobre o direito dos trabalhadores e
empregadores de formar organizações, de se afiliarem, sem prévia autorização, e de
garantir o livre funcionamento dessas organizações, sem intervenção de autoridades
públicas.10
6RUPRECHT, Alfredo J. Relações coletivas de trabalho. São Paulo: LTr, p. 102. 7DELGADO, Mauricio Godinho. Curso de direito do trabalho. 5 ed., São Paulo: LTr, 209,p.1332. 8BRASIL, Organização Internacional do Trabalho. Convenção n. 11. Dispõe sobre o direito de sindicalização na agricultura. Disponível em: <http://www.oit.org.br/node/397>. Acesso em 30 de set. 2011. 9BARROS, Alice Monteiro de. Curso de direito de trabalho. 5 ed., rev. e ampl. São Paulo, 2009, p.1231. 10BRASIL, Organização Internacional do Trabalho. Convenção n. 87 de 09 de julho de 1948. Sobre a liberdade sindical e a proteção do direito sindical. Disponível em:< http://www.oit.org.br/libsind_negcol.php>. Acesso em 11 de jul. de 2011.
17
Ademais, Pruner citando Sanchez fazem a seguinte menção acerca da
Convenção n.87:
Trata a Convenção n. 87 da liberdade sindical e da proteção ao direito de sindicalização. Entre outras coisas, este instrumento convencional dispõe sobre o reconhecimento do direito de sindicalização, tanto para trabalhadores como para empregadores, do direito de constituir livremente as organizações sindicais, do direito das organizações sindicais se autogerirem, do direito de greve, de negociação coletiva, entre outros.11
Sobre o direito de sindicalização e de negociação coletiva, a Convenção
n. 98, de 1949, ressalta o direito e o respeito de sindicalização e de negociação
coletiva, sendo contra qualquer tipo de discriminação que reduza a liberdade
sindical.12
Quanto a convenção 135, de 1971, tratava sobre a proteção dos
representantes dos trabalhadores nos locais de trabalho. Com relação à Convenção
n. 141, de 1975, esta preconizou o direito da livre associação a todas as pessoas
que labutam na agricultura, juntamente com os artesãos, trabalhadores assalariados
e as pessoas que trabalhem por conta própria, como arrendatários, parceiros e
pequenos proprietários.13
Faz-se necessário mencionar também a Convenção n. 151, de 1978, que
diz respeito à liberdade que os empregados da administração pública têm para se
filiarem a um sindicato14. Esta convenção proibiu que o funcionário público sofresse
qualquer tipo de discriminação pelo fato de sua filiação ou não filiação, segundo os
ensinamentos de Pruner:15
A convenção ainda prevê a autonomia destas entidades frente à autoridade pública, sendo que o Estado ratificador deve tomar providencias para estimular a constituição e desenvolvimento das
11PRUNER, Dirajaia Esse apud SANCHEZ. Os novos rumos da organização sindical brasileira: uma análise a partir da proposta de emenda constitucional n. 29/2003. 2004. 144 f. Dissertação, Universidade do Vale do Itajaí. p.11. 12BRASIL, Organização Internacional do Trabalho. Convenção n. 98. Sobre a aplicação dos princípios do direito de sindicalização e de negociação coletiva. Disponível em:<http://www.oit.org/ilolex/portug/docs/C098.htm> Acesso em: 11 de jul. 2011. 13BRASIL, Organização Internacional do Trabalho. Convenção n. 135 Sobre a proteção de representantes de trabalhadores. Disponível em: <http://www.oit.org.br/node/495> acesso em: 30 de set. 2011. 14BRASIL, Organização Internacional do Trabalho. Convenção n. 151. Sobre o direito de sindicalização e relações de trabalho na administração publica. Disponível em:<http://www.oit.org/ilolex/portug/docs/C098.htm> Acesso em: 07 de set. 2011. 15PRUNER, Dirajaia Esse apud SANCHEZ. Os novos rumos da organização sindical brasileira: uma análise a partir da proposta de emenda constitucional n. 29/2003. 2004. 144 f. Dissertação, Universidade do Vale do Itajaí. p.13.
18
mesmas e, ainda, as autoridades públicas e as entidades de empregadores públicos devem tentar utilizar os procedimentos de negociação para fixarem suas condições de emprego, entre outras coisas.
Destacar-se ainda rapidamente que a Convenção n. 154, de 1981, tratava
de abordar as medidas que os Estados ratificadores deveriam adotar para promover
uma negociação coletiva livre e voluntária, promovendo assim a busca por melhores
condições de trabalho.16
Percebe-se então que, ao longo dos anos a OIT tratou de proteger o
direito de organização, ou seja, a liberdade de empregadores e trabalhadores de
reunirem-se. E tal proteção se dá justamente pelo fato da liberdade de organização
estar prevista, conforme já citado anteriormente, na Declaração Universal dos
Direitos Humanos e de se constituir em um direito fundamental do homem:
Liberdade sindical é um direito histórico decorrente do reconhecimento por parte do Estado, do direito de associação, que posteriormente adquiriu a qualidade de um dos direitos fundamentais do homem, conferindo a trabalhadores, empregadores, e por respectivas organizações, consistente no amplo direito, em relação ao Estado e às contrapartes, de constituição de organizações sindicais em sentido teleológico (comissões, delegados...), em todos os níveis e âmbitos territoriais [...] preservando mediante a sua garantia contra todo e qualquer ato voltado a impedir ou obstaculizar o exercício dos direitos e ele inerentes.17
Ainda no que concerne a liberdade sindical é importante destacar o que
Pruner, citando Sanchez, menciona acerca do tema, que é pacifico o entendimento
de que a liberdade sindical faz parte da liberdade do homem expressa na
Declaração Universal dos Direitos Humanos. E para que este direito seja garantido é
necessário que determinadas liberdades civis e políticas também o sejam. 18
A 54º reunião da Conferência Internacional do Trabalho da OIT, realizada
em 1970, decidiu quais são as liberdades civis e políticas essenciais para o pleno
exercício dos direitos sindicais.19
16PRUNER, Dirajaia Esse apud SANCHEZ. Os novos rumos da organização sindical brasileira: uma análise a partir da proposta de emenda constitucional n. 29/2003. 2004. 144 f. Dissertação, Universidade do Vale do Itajaí. p.15. 17SIQUEIRA NETO, Jose Francisco. Liberdade sindical e representação dos trabalhadores nos locais de trabalho. São Paulo: LTr, 2000, p. 133-134. 18PRUNER, Dirajaia Esse apud SANCHEZ. Os novos rumos da organização sindical brasileira: uma análise a partir da proposta de emenda constitucional n. 29/2003. 2004. 144 f. Dissertação, Universidade do Vale do Itajaí. p.15. 19PRUNER, Dirajaia Esse apud SANCHEZ. Os novos rumos da organização sindical brasileira: uma análise a partir da proposta de emenda constitucional n. 29/2003. 2004. 144 f. Dissertação, Universidade do Vale do Itajaí. p.15.
19
A OIT entende de suma importância garantir o direito a liberdade e
segurança e a proteção contra prisões arbitrarias, torturas, assassinatos cometidos
contra sindicalistas. Aduz ainda que, o exercício dos direitos sindicais requer a
liberdade de opinião. Neste sentido a OIT é contrária a intervenção do Estado nas
reuniões sindicais, exceto em casos de grave perigo para a sociedade, porque
havendo a liberdade sindical há de haver também liberdade de reunião. 20
È importante salientar que para que se concretize a liberdade sindical faz-
se necessária a existência do devido processo legal porque toda organização
sindical tem o direito de justiça independente e imparcial na defesa dos direitos dos
seus filiados. E por fim, é imprescindível a proteção da propriedade das
organizações sindicais uma vez que estes locais são invioláveis, exceto por ordem
judicial. Se não houver respeito a determinadas liberdades civis, não há o que se
falar em liberdade sindical.21
Assim sendo, visualiza-se que, para que um Estado garanta liberdade
sindical à sua população é necessário que garanta os direitos acima elencados. Só
desta forma é possível promover e garantir a liberdade sindical.
Para Magano, a liberdade sindical é: ”o direito dos trabalhadores e
empregadores de não sofrerem interferências nem dos poderes públicos, nem uns
em relação aos outros, no processo de se organizarem, bem como o de
promoverem interesses próprios ou de grupos a que pertençam”. 22
Percebe-se pois que o conceito de liberdade sindical não implica em uma
liberdade apenas, mas em várias liberdades, as quais serão abordadas a seguir em
conformidade com o previsto na Convenção n. 87 da OIT.
Em conformidade com o art. 2º da Convenção n. 8723 da OIT
trabalhadores e empregadores têm o direito de constituir entidades sindicais
20PRUNER, Dirajaia Esse. Os novos rumos da organização sindical brasileira: uma análise a partir da proposta de emenda constitucional n. 29/2003. 2004. 144 f. Dissertação, Universidade do Vale do Itajaí. p.115-16. 21PRUNER, Dirajaia Esse. Os novos rumos da organização sindical brasileira: uma análise a partir da proposta de emenda constitucional n. 29/2003. 2004. 144 f. Dissertação, Universidade do Vale do Itajaí. p.16. 22MAGANO. Octavio Bueno. Organização sindical brasileira. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 1981, p.27. 23BRASIL, Organização Internacional do Trabalho. Convenção n.º 87. Convenção sobre a liberdade sindical e a proteção do direito sindical. Art. 2º. Trabalhadores e empregadores, sem distinção de qualquer espécie, terão o direito de constituir, sem prévia autorização, organizações de sua própria escolha e, sob a única condição de observar seus
20
livremente, sem autorização prévia de autoridade pública. Possuem também o
direito de escolher qual o tipo de entidade sindical que querem criar e o direito de
filiar-se a entidade sindical que escolherem.24
Também se entende como um aspecto da liberdade sindical a autonomia
garantida ao sindicato pelo artigo 3º da Convenção nº. 87 da OIT.25 Toda entidade
sindical deve ter independência para escrever seus estatutos e regulamentos,
eleger seus representantes e organizar sua administração.
É também um dos direitos que fazem parte do conceito de liberdade
sindical o direito das entidades sindicais de decidirem pela sua dissolução ou
suspensão, conforme prevê o artigo 4º da Convenção nº. 87 da OIT26.
O artigo 5º do instrumento convencional de nº. 87 da OIT determina que
as entidades sindicais representantes de trabalhadores e empregadores tem o
direito de organizarem federações e confederações, assim como de filiar-se às
mesmas e também a organismos internacionais.27
É importante também destacar que o art. 7º da Convenção nº. 87 da
OIT28prevê que as entidades sindicais não podem estar sujeitas, para a aquisição de
estatutos, a elas se filiarem. Disponível em: <http://www.ilo.org/ilolex/portug/docs/C087.htm>. Acesso em: 29 de out. 2011. 24URIARTE, Oscar Ermida. Liberdade sindical: Normas Internacionais, Regulação Estatal e Autonomia. In:TEIXEIRA FILHO, João de Lima (Org.) Relações coletivas de trabalho: estudos em homenagem ao Ministro Arnaldo Süssekind, 1989, p. 253. 25BRASIL, Organização Internacional do Trabalho. Convenção n.º 87. Convenção sobre a liberdade sindical e a proteção do direito sindical. Art. 3º, 1. As organizações de trabalhadores e de empregadores terão o direito de elaborar seus estatutos e regimentos, eleger livremente seus representantes, organizar sua administração e atividades e formular seus programas de ação. 2. As autoridades públicas abster-se-ão de qualquer intervenção que possa limitar esse direito ou cercear seu exercício legal. Disponível em: <http://www.ilo.org/ilolex/portug/docs/C087.htm>. Acesso em: 29 de out. 2011. 26BRASIL, Organização Internacional do Trabalho. Convenção n.º 87. Convenção sobre a liberdade sindical e a proteção do direito sindical. Artigo 4º. As organizações de trabalhadores e de empregadores não estarão sujeitas a dissolução ou suspensão por autoridade administrativa. Disponível em: <http://www.ilo.org/ilolex/portug/docs/C087.htm>. Acesso em: 29 de out. 2011. 27BRASIL, Organização Internacional do Trabalho. Convenção n.º 87. Convenção sobre a liberdade sindical e a proteção do direito sindical. Artigo 5º. As organizações de trabalhadores e de empregadores terão o direito de constituir federações e confederações, e de a elas se filiarem, e toda organização, federação ou confederação terá o direito de se filiar a organizações internacionais de trabalhadores e de empregadores. Disponível em: <http://www.ilo.org/ilolex/portug/docs/C087.htm>. Acesso em: 29 de out. 2011. 28“ BRASIL, Organização Internacional do Trabalho. Convenção n.º 87. Convenção sobre a liberdade sindical e a proteção do direito sindical. Artigo 7º. A aquisição de personalidade jurídica por organizações de trabalhadores e de empregadores, federações e confederações não estará sujeita a condições que restrinjam a aplicação do disposto nos
21
sua personalidade jurídica, a nenhuma norma que seja contrária as liberdades
previstas nos artigos 2º, 3º e 4º desta mesma Convenção.
Diante do exposto foi possível visualizar o amplo e complexo conceito de
liberdade sindical, e assim passa-se a analise da organização do sistema sindical e
verificarse-á que doutrinariamente existem três sistemas de regulação da liberdade
sindical: unicidade, unidade e pluralidade sindical. Passa-se a conceituação dos
mesmos.
1.2 MODELOS DE REGULAÇÃO JURÍDICA DA LIBERDADE SINDICAL
A regulação jurídica da liberdade sindical é classificada através de três
modelos de organização: unicidade sindical, unidade sindical e pluralidade sindical
conforme ensina Magano:
Unicidade sindical é a proibição, por lei, da existência de mais de um sindicato na mesma unidade de atuação. Unidade sindical é o sistema no qual os sindicatos se unem não por imposição legal, mas em decorrência da própria opção. Diferem unicidade (por lei) e unidade (por vontade). Pluralidade sindical é o princípio segundo o qual, na mesma base territorial, pode haver mais de um sindicato representando pessoas ou atividades que tenham um interesse coletivo comum. 29
Verifica-se que, na medida em que um Estado resolve limitar ou não a
liberdade sindical vão surgindo os diferentes tipos de modelos de organização das
entidades sindicais.
Para Barreto, a unidade sindical é compreendida da seguinte maneira:
A unidade sindical tem origem no pluralismo. Embora exista a possibilidade de concorrência, os trabalhadores e empregadores resolvem formar sindicato único. A unidade decorre da vontade dos trabalhadores ou empregadores em formar um sindicato único, enquanto que a unicidade impõe a existência de representação única. O Brasil adotou a unicidade sindical.30
Assim sendo, verifica-se que a unidade sindical é algo que surge
espontaneamente dentro de um sistema onde há a liberdade sindical plena e as
pessoas ou empresas resolvem fundar entidades sindicais únicas.
artigos 2º, 3º e 4º desta Convenção”. Disponível em: <http://www.ilo.org/ilolex/portug/docs/C087.htm>. Acesso em: 29 de out. 2011. 29NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Direito sindical. São Paulo: Saraiva, 1989, p.239-240. 30BARRETO Gláucia. Curso de direito do trabalho. Niterói, RJ: Impetus, 2008, p. 411.
22
No entender de Susekind, a unidade sindical é defendida por muitos
movimentos sindicais na busca por fortalecer as respectivas associações, senão
vejamos:
Mas ela deve resultar da conscientização dos trabalhadores e dos empresários, a qual se irradia na medida em que os sindicatos trabalhem com êxito na promoção dos interesses e na defesa dos direitos dos seus representados. Por seu turno, a realidade evidencia que essa unidade de representação não se sustenta quando as entidades sindicais se vinculam a doutrinas políticas ou religiosas, às quais subordinam os interesses profissionais ou econômicos.31
Já a pluralidade sindical é o oposto da unicidade, pois naquele sistema,
poderá haver concorrência entre vários sindicatos representativos da mesma
categoria profissional ou econômica, que poderão simultaneamente atuar em uma
base territorial mínima.32 Assim sendo, na pluralidade sindical visualiza-se a
possibilidade de existir mais de uma entidade sindical, de qualquer grau, numa
mesma base territorial para uma mesma categoria
E por fim, Barros leciona que, a unicidade sindical ocorre quando o
Estado reconhece, por lei, apenas uma entidade sindical, independente de grau,
para representar determinada categoria econômica ou profissional, situada numa
mesma base territorial.33
Tendo verificado os modelos de regulação jurídica da liberdade sindical
passa-se agora a estudar a organização sindical brasileira verificando qual destes
modelos é adotado pela legislação nacional.
1.3 A ORGANIZAÇÃO SINDICAL BRASILEIRA
A organização sindical é o sistema pela qual as entidades são
organizadas no Brasil. Respeitam o art. 8º da Constituição da Republica Federativa
do Brasil de 1988, que determina uma organização que respeite os conceitos de
categoria, base territorial mínima e o princípio da unicidade sindical, o que será visto
a seguir.
31SUSSEKIND, Arnaldo. Instituições de direito do trabalho: volume 1. 22. ed. atual. São Paulo: LTr, 2005, p.1141. 32BARRETO Gláucia. Curso de direito do trabalho. p. 411. 33BARROS, Alice Monteiro de. Curso de direito de trabalho. p.1233.
23
1.3.1 Categoria
A categoria profissional é “um ordenamento natural baseado na natureza
das atividades produtivas existentes num Estado, tendo como efeito a fixação de
empresas e empregados no âmbito respectivo, para os devidos efeitos normativos 34”. Os trabalhadores que tem os mesmos interesses econômicos ou profissional
podem se unirem em categorias.35
A categoria profissional, segundo os ditames da CLT em seu art. 511, §2,
é composta pela “similitude de condições de vida oriunda da profissão ou trabalho
em comum, em situação de emprego na mesma atividade econômica ou em
atividades econômicas similares ou conexas”.36
A categoria econômica expressa no art. 511, §1 da CLT aduz que: “A
solidariedade de interesses econômicos dos que empreendem atividades idênticas,
similares ou conexas, constitue o vínculo social básico que se denomina categoria
econômica”.37
Corroborando com esse entendimento, afirma Nascimento: “Sindicato por
categoria é o que representa os trabalhadores de empresas de um mesmo setor de
atividade produtiva ou prestação de serviços. As empresas, do mesmo setor, por
seu lado, formam a categoria econômica correspondente”.38
Destarte, “categoria profissional é a série não limitada de indivíduos que,
por força da sua posição no quadro de atividade produtiva e do território em que se
opera, tem comuns a denominação de interesses da categoria”(JAEGER).39.(grifo do
autor)
Já no tocante a categoria diferenciada a CLT em seu art 511, §3
preconiza que é formada por trabalhadores que tem profissões ou funções
34NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Curso de direito do trabalho: historia e teoria geral do direito: relações individuais e coletivas do trabalho. 18 ed. rev. e atual. São Paulo: Saraiva, 2003, p.946. 35 MARTINS, Sergio Pinto. Direito do trabalho. 25 ed., São Paulo: Atlas, 2009, p.710. 36BRASIL, Decreto-Lei n. 5.452 de 1º de maio de 1943. Aprova a Consolidação das Leis do Trabalho. Disponível em:<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del5452.htm>. Acesso em 01 de out. 2011. 37BRASIL, Decreto-Lei n. 5.452 de 1º de maio de 1943. Aprova a Consolidação das Leis do Trabalho. Disponível em:<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del5452.htm>. Acesso em 01 de out. 2011. 38NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Compêndio de direito sindical. 2 ed., São Paulo: Ltr,2000, p.172. 39NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Compêndio de direito sindical. p.169.
24
diferenciadas previstas em seus estatutos profissionais ou em conseqüência de
condições de vida singulares.40
1.3.2 Base territorial
A base territorial serve para determinar a divisão de jurisdição das
entidades sindicais na esfera geográfica em que exercerão a sua representação41.
Nascimento ensina que a “base territorial é o espaço geográfico no qual o sindicato
exerce sua representação e pode ser municipal, intermunicipal, estadual,
interestadual e nacional”. 42
Prescreve o art.8º, inciso II da Constituição da Republica Federativa do
Brasil de 1988 acerca do limite territorial permitido: 43
[...] é vedada a criação de mais de uma organização sindical, em qualquer grau, representativa de categoria profissional ou econômica, na mesma base territorial, que será definida pelos trabalhadores ou empregadores interessados, não podendo ser inferior à área de um Município.
Diante disso, percebe-se que a previsão constitucional determina o
município como base territorial mínima, ou seja, no Brasil não existiria uma entidade
sindical cuja base territorial for inferior a um município.
1.3.3. Unicidade
A unicidade sindical, conforme conceituado anteriormente, é o sistema de
organização sindical que se forma quando o Estado reconhece uma única entidade
sindical, independente de grau, responsável pela categoria econômica ou
40BRASIL, Decreto-Lei n. 5.452 de 1º de maio de 1943. Aprova a Consolidação das Leis do Trabalho. Disponível em:<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del5452.htm>. Acesso em 01 de out. 2011. 41NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Curso de direito do trabalho: historia e teoria geral do direito: relações individuais e coletivas do trabalho. p.947. 42NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Comentários às leis trabalhistas. São Paulo: Ltr, 1988, p.140. 43BRASIL, Constituição da Republica Federativa do Brasil de 1988. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constitui%C3%A7ao.htm>. Acesso em 1 de out. 2011.
25
profissional, numa mesma base territorial. Referida entidade representa o interesse
de toda a coletividade e não somente os associados.44
A Constituição da Republica Federativa do Brasil de 1988 adotou o
sistema de unicidade sindical (art. 8, inciso II da CF/88), ou seja, no Brasil não há a
possibilidade de concorrência entre entidades sindicais, pois não há autorização
legal para que exista mais de uma entidade representante da mesma categoria na
mesma base territorial.45
Então, no Brasil uma entidade sindical para ser criada deve respeitar a
base territorial mínima, o conceito de categoria e o principio da unicidade sindical.
Desta forma percebe-se que, em que pese o art. 8 da CF/88 prever que
as entidades sindicais no Brasil podem se organizar livremente a Liberdade sindical
é limitada pela adoção do principio da unicidade.
Expostas algumas ponderações acerca do sistema de unicidade sindical,
passa-se a análise das entidades que compõe o sistema sindical brasileiro.
1.3.4 Sindicatos
O conceito legal de sindicatos está previsto no art. 511 da CLT que
dispõe:
É lícita a associação para fins de estudo, defesa e coordenação dos seus interesses econômicos ou profissionais de todos os que, como empregadores, empregados, agentes ou trabalhadores autônomos ou profissionais liberais exerçam, respectivamente, a mesma atividade ou profissão ou atividades ou profissões similares ou conexas.46
Sindicatos são entidades associativas permanentes que representam
pessoas que exercem uma mesma profissão bem como outros trabalhadores, cujo
objetivo está na luta por melhores condições de trabalho e de vida da coletividade. 47
44BARROS, Alice Monteiro de. Curso de direito de trabalho.p.1233-12134. 45BRASIL, Constituição Federativa da República do Brasil de 1988. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constitui%C3%A7ao.htm> Acesso em: 08 set. 2011. 46BRASIL, Decreto-Lei n. 5.452 de 1º de maio de 1943. Aprova a Consolidação das Leis do Trabalho. Disponível em:<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del5452.htm>. Acesso em 01 de out. 2011. 47DELGADO, Mauricio Godinho. Curso de direito do trabalho. p.1323.
26
De acordo com Martins, o sindicato “é uma entidade que agrupa
determinadas pessoas, segundo um interesse comum, de natureza profissional ou
econômica, e das quais é legitimo representante”.48
O sindicato não consiste somente numa reunião de filiados, mas tem por
objetivo promover a defesa dos interesses de todos os membros da categoria. È
responsável pela busca de uma melhor qualidade de vida e de melhores condições
de trabalho. 49
Logo, o sindicato é uma associação, um agrupamento, uma organização,
em defesa e promoção dos interesses da categoria. È uma pessoa jurídica com
direitos e deveres, responsabilidades, patrimônio e estatuto. 50
Os sindicatos possuem poderes específicos como pessoa de Direito
Privado como aborda Gomes: poderes de representar os interesses gerais da
profissão; de representar os interesses individuais dos seus associados; de
representar perante o empregador ou associação profissional que representa este,
na celebração de convenção coletiva; poder de impor contribuições a seus
associados e de se beneficiar de contribuições dos que pertencem a profissão.51
Neste norte, a Constituição da Republica Federativa do Brasil de 1988 no art. 8º
aborda esses poderes, ou seja, da livre associação sindical, a autonomia de se
fundar um sindicato desde que respeite a obrigatoriedade de seu registro no órgão
competente, sem que haja interferência do Poder Público, devera primar pela defesa
da categoria, respeitar a liberdade de se filiar e de manter-se filiado, estando
obrigado a participar dos sindicatos nas negociações coletivas de trabalho.52
Pode-se afirmar que os sindicatos existem para representar tanto o
interesse do trabalhador quando dos empregadores.53
48MARTINS Filho, Ives Gandra da Silva .Manual de direito e processo do trabalho.18 ed rev. e atual. São Paulo: Saraiva, 2009, p.199. 49RUPRECHT, Alfredo J. Relações coletivas de trabalho. p.135. 50NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Compendio de direito sindical. p.215. 51GOMES, Orlando. Curso de direito do trabalho. 16 ed., Rio de Janeiro: Forense, 2000, p. 557-558. 52BRASIL, Constituição Federativa da República do Brasil de 1988. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constitui%C3%A7ao.htm. Acesso em: 10 jun. 2011. 53MORAES FILHO APUD NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Curso de direito do trabalho: historia e teoria geral do direito: relações individuais e coletivas do trabalho.. 18 ed. Ver. E atual. São Paulo: Saraiva, 2003, p.944.
27
1.3.5 Federações
As Federações são consideradas entidades sindicais de segundo grau,
estando acima dos sindicatos e abaixo das confederações. Em cada Estado poderão
ser criadas varias federações. “Cada federação corresponderá a cada uma das
diversas categorias econômicas ou profissionais, a atividades e profissões idênticas,
mas também similares ou conexas”.54
Para a criação de uma federação é necessária a existência de cinco
sindicatos da categoria que representam à maioria absoluta de um grupo de
atividades ou profissões, conforme condiciona o art 534 da CLT.55
Assim, a federação poderá lutar pela defesa de seus interesses em nível
regional e desse modo, excepcionalmente poderá haver federação com
representatividade estadual ou nacional56.
As federações poderão em determinados casos firmar convenções
coletivas de trabalho, segundo disposto no art 611,§2 da CLT, bem como acordos
coletivos (art. 617§1 da CLT) e instaurar dissídios coletivos na falta de categorias
organizadas por sindicatos (art. 857, parágrafo único da CLT)57.
È oportuno salientar que as federações funcionam conforme disposto no
art. 538 da CLT através de uma diretoria, com mínimo de três membros, eleitos pelo
conselho de representantes, com mandato de três anos e só poderão ser eleitos os
integrantes dos grupos das federações; o conselho de representantes, constituído
por delegações dos sindicatos ou federações filiadas com mandato de três anos e o
conselho fiscal, incumbido de fiscalizar a gestão financeira da federação58.
54NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Compendio de direito sindical. p.206. 55BRASIL, Decreto-Lei n. 5.452 de 1º de maio de 1943. Aprova a Consolidação das Leis do Trabalho. Disponível em:<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del5452.htm>. Acesso em: 01 de out. 2011. 56PAULO, Vicente; ALEXANDRINO, Marcelo. Manual de direito do trabalho. 12. ed., ver. e atual. São Paulo: Método, 2008, p. 408. 57BRASIL, Decreto-Lei n. 5.452 de 1º de maio de 1943. Aprova a Consolidação das Leis do Trabalho. Disponível em:<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del5452.htm>. Acesso em: 01 de out. 2011. 58MARTINS, Sergio Pinto. Direito do trabalho. p.720.
28
1.3.6 Confederações
As confederações segundo art.535 da CLT serão compostas por três
federações no mínimo, cuja sede será situada em Brasília. São entidades sindicais
de grau superior de âmbito nacional59.
São formadas por ramo de atividade como a indústria, comércio,
transportes, dentre outros. Será denominada de Confederação Nacional da
Indústria, Confederação Nacional do Comercio, Confederação Nacional de
Transporte (art. 535 §1 da CLT).
As confederações são organizações sindicais de maior grau numa
determinada categoria, como por exemplo, a CNTI - Confederação Nacional dos
Trabalhadores na Indústria, a CONTAG - Confederação Nacional dos Trabalhadores
em Comunicação e Publicidade60 .
Com o advento da Lei nº. 7.316/85 criou-se a Confederação Nacional das
Profissões Liberais para representar as categorias profissionais diferenciadas, nas
ações individuais e coletivas de competência da Justiça do Trabalho61.
Ademais, as confederações na falta das federações terão legitimidade
para celebrar convenções coletivas (art. 611 § 2 da CLT), acordos coletivos (art. 617
§1 da CLT) e também poderão instaurar dissídios coletivos quando não houver
sindicatos e nem federações (art. 857, parágrafo único da CLT).
Da mesma forma que as federações, as confederações tem em sua
organização uma diretoria, um conselho de representantes e um conselho fiscal. A
diretoria será composta de no mínimo de três membros, sem número máximo
exigido, o conselho de representantes elegerá o conselho fiscal e diretoria, ambos
59BRASIL, Decreto-Lei n. 5.452 de 1º de maio de 1943. Aprova a Consolidação das Leis do Trabalho. Disponível em:<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del5452.htm>. Acesso em: 01 de out. 2011. 60NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Compendio de direito sindical. 2 ed.,São Paulo: Ltr, p.206. 61BRASIL, Lei nº 7.316, de 28 de maio de 1985. Atribui às entidades sindicais que integram a Confederação Nacional das Profissões Liberais o mesmo poder de representação dos sindicatos representativos das categorias profissionais diferenciadas, nas ações individuais e coletivas de competência da Justiça do Trabalho.Disponível em: <http://www6.senado.gov.br/legislacao/ListaNormas.action?numero=7316&tipo_norma=LEI&data=19850528&link=s> Acesso em: 10 de out. 2011.
29
com mandato de três anos e o conselho fiscal, será responsável pela fiscalização da
gestão financeira62.
1.3.7 Centrais Sindicais
Para que se compreenda melhor o conceito de central sindical é
necessário fazer um breve relato histórico sobre o surgimento das mesmas.
A criação das Centrais sindicais no Brasil se iniciou em 1963 no final do
Governo de João Goulart, que legitimou a Confederação Geral dos Trabalhadores
através de uma Portaria. Após algum tempo, esta portaria veio a ser revogada por
Arnaldo Sussekind, no periodo militar63. Referida central sindical foi dissolvida com o
golpe militar de 1964, tendo sua sede invadida, seus dirigentes presos ou exilados e
os que conseguiram escapar, tiveram seus direitos políticos cassados e as suas
organizações de base ficaram no poder de interventores ministeriais64.
No ano de 1979 a ideia da criação de centrais sindicais surge novamente
por meio do X Congresso Nacional dos Metalúrgicos. Foi neste congresso que se
fundou a Central Única de Trabalhadores, tendo como objetivo principal de ordenar
as entidades sindicais brasileiras e defender o principio da unicidade sindical.65
O movimento sindical começou a desafiar a ditadura a partir de 1979 em
São Paulo, os trabalhadores se reuniram para que fosse criada outra central
sindical. Porém eles se dividiram em dois grupos, sendo um liderado pelo
metalúrgico Luiz Inácio Lula da Silva e outro liderado por Arnaldo Gonçalves
integrante do Partido Comunista Brasileiro – PCB. Devido a essa divisão, no ano de
1983 em São Bernardo do Campo/SP, se estabelece a Central Única dos
Trabalhadores – CUT, liderada por Luiz Inácio Lula da Silva e, no ano de 1986
fundou-se a Confederação Geral dos Trabalhadores – CGT - formada por
simpatizantes de Arnaldo Gonçalves66.
62MARTINS, Sergio Pinto. Direito do trabalho. p.721. 63AROUCA, José Carlos. Repensando o sindicato. São Paulo: Ltr,1998, p.39. 64AROUCA, José Carlos. Centrais sindicais: autonomia e unicidade. Revista LTr: Legislação do Trabalho : São Paulo, v.72, n.10, p.1160, out. 2008. 65AROUCA, José Carlos. Repensando o sindicato. p.41. 66AROUCA, José Carlos. Centrais sindicais: autonomia e unicidade. Revista LTr: Legislação do Trabalho : São Paulo, v.72, n.10, p.1161, out. 2008.
30
As centrais sindicais foram reconhecidas por uma portaria do Ministério do
Trabalho, a Portaria n. 3100/85 e depois deste fato o número de centrais cresceu no
Brasil.67
No entanto, em que pese o reconhecimento das centrais pelo Ministério
do Trabalho a CF/88 ficou omissa, ou seja, não as proibiu, mas também não
autorizou sua criação68.
Ocorre que, em virtude da previsão constitucional do princípio da
unicidade sindical iniciou-se a discussão sobre a legalidade das centrais sindicais,
tendo em vista que a constituição previa a organização por categorias e base
territorial e as centrais não respeitavam estes princípios, pois congregavam
trabalhadores em virtude de interesses conjuntos. 69
Foi então que, em 2008, foi aprovada a Lei n. 11.648, a qual foi taxativa
ao determinar em seu primeiro artigo que as centrais sindicais são órgãos de
representação geral de trabalhadores, constituindo-se em entidades associativas de
direito privado compostas por organizações sindicais de trabalhadores, senão vejamos:
Art. 1o A central sindical, entidade de representação geral dos trabalhadores, constituída em âmbito nacional, terá as seguintes atribuições e prerrogativas: [...]
Parágrafo único. Considera-se central sindical, para os efeitos do disposto nesta Lei, a entidade associativa de direito privado composta por organizações sindicais de trabalhadores.70
A lei em questão tentou colocar um ponto final da discussão, mas ela não
teve fim e os doutrinadores continuam debatendo questão acerca da possibilidade
da central sindical ser compreendida como ente do sistema confederativo brasileiro.
67BRITO FILHO, José Claudio Monteiro. Direito sindical, São Paulo: LTr, 2000, p. 135. 68BERTANHA, Cristiane Freitas. A possível fiscalização do tribunal de contas nas centrais sindicais. Disponível em: <http://www.nucleotrabalhistacalvet.com.br/artigos/A%20Poss%C3%ADvel%20Fiscaliza%C3%A7%C3%A3o%20do%20Tribunal%20de%20Contas%20nas%20Centrais%20Sindicais%20-%20Cristiane%20Freitas%20Bertanha.pdf> Acesso em: 10 de out. 2011. 69PRUNER, Dirajaia Esse apud SANCHEZ. Os novos rumos da organização sindical brasileira: uma análise a partir da proposta de emenda constitucional n. 29/2003. 2004. 144 f. Dissertação, Universidade do Vale do Itajaí. p. 57-58 70 BRASIL, Lei nº 7.316, de 28 de maio de 1985. Atribui às entidades sindicais que integram a Confederação Nacional das Profissões Liberais o mesmo poder de representação dos sindicatos representativos das categorias profissionais diferenciadas, nas ações individuais e coletivas de competência da Justiça do Trabalho. Disponível em: <http://www6.senado.gov.br/legislacao/ListaNormas.action?numero=7316&tipo_norma=LEI&data=19850528&link=s> Acesso em: 10 de out. 2011.
31
Para alguns doutrinadores, como Saad, não há espaço para as centrais
sindicais em nosso ordenamento jurídico, pelo fato da Constituição da Republica
Federativa de 1988 adotar o principio da unicidade e não da pluralidade sindical de
cúpula.71. E ainda complementa o autor que a Constituição da Republica Federativa
do Brasil de 1988 impõe o monismo sindical à entidades de grau superior não
possibilitando que as Centrais Sindicais se organizem legitimamente.72
Octavio Bueno Magano assim se pronuncia: “Nada obsta que as centrais
sejam incluídas no sistema confederativo, em virtude de deliberação dos demais
entes que o compõe".73
Em outras palavras, para os doutrinadores acima citados, o sistema
confederativo de organização sindical previsto na Constituição da Republica
Federativa do Brasil de 1988 não autoriza a atuação das centrais sindicais porque
assim estariam situadas acima da pirâmide confederativa constitucional.74
Já Couto Maciel sustenta que o art. 8º da Constituição da Republica
Federativa de 1988 ao adotar a liberdade de associação profissional, amparou a
concretização das centrais sindicais mesmo não respeitando o critério de
organização com base no conceito de categoria.75
Louro entende que o “princípio da unicidade sindical é válido para os
sindicatos, federações e confederações, mas não para as Centrais Sindicais, que
englobam diversas categorias profissionais no seu mister”.76
Corroborando com o entendimento acima ainda vale citar:
Tem-se, portanto, que a Lei nº 11.648/2008 não se afigura incompatível com a organização sindical traçada pelo art. 8º da Constituição Federal, em especial no que concerne à regra da unicidade (inciso II) - obrigatória para as entidades representativas de categorias - e no que tange aos incisos III e IV, cujos conteúdos limitam-se a assegurar a estas últimas faculdades que, por si só, não
71NASCIMENTO, Amauri Mascaro. As centrais sindicais e as modificações de 2008. Suplemento Trabalhista LTr. São Paulo, v. 44, n. 045, p. 219-220, 2008. 72 SAAD. Eduardo Gabriel. Constituição e Direito do Trabalho. 2ª ed. São Paulo: LTr, 1989. p.180. 73 MAGANO, Octávio Bueno. Manual de direito do trabalho, p. 94. 74NASCIMENTO, Amauri Mascaro. As centrais sindicais e as modificações de 2008. Suplemento Trabalhista LTr. São Paulo, v. 44, n. 045, p. 221, 2008. 75 NASCIMENTO, Amauri Mascaro. As centrais sindicais e as modificações de 2008. Suplemento Trabalhista LTr. São Paulo, v. 44, n. 045, p. 221, 2008 76LOURO, Henrique da Silva. As centrais sindicais na ordem jurídica brasileira. Jus Navigandi, Teresina, ano 14, n. 2125, 26 abr. 2009. Disponível em: <http://jus.com.br/revista/texto/12707>. Acesso em: 12 de out. 2011.
32
denotam a impossibilidade de criação de centrais sindicais a pairarem sobre sindicatos, federações e confederações.77
Nascimento78 entende que não há impedimento criação de centrais
sindicais. pois o princípio da unicidade deve ser utilizado para entidades que se
organizam com base na categoria e não fora ou acima dela. Para ele o que se tem
na constituição pátria é um modelo misto de pluralidade de cúpula e unicidade de
base. E ainda afirma:
Se [as centrais] são associações civis, e não sindicais, nada impede a sua existência nem pluralidade, porque a unicidade é proibição constitucional direcionada, unicamente, para as organizações sindicais e não para as associações não sindicais. Nesse caso, as centrais estariam inteiramente respaldadas pelo ordenamento jurídico, nada impedindo a sua livre criação, tantas quantos quiserem os seus fundadores. [...] A unicidade a que se refere a Constituição é na categoria e não fora ou acima dela. Nosso modelo é o de pluralidade na cúpula e unicidade na base.79
Neste sentido o autor Moraes Filho afirma que “não há nenhum
dispositivo legal que proíba a constituição de órgãos de cúpula de centrais sindicais,
mas também não há nenhum que os autorize”80.
Em que pese a discussão ainda continuar na doutrina, certo é que as
centrais sindicais foram legalizadas através da promulgação da Lei n. 11.648/08.
Apenas para que se possa visualizar a quantidade de centrais existentes
no Brasil, apresenta-se, no quadro abaixo, os nomes de principais centrais sindicais
existentes até 2008, expostos por Zangrando81.
77EBERT, Paulo Roberto Lemgruber. O reconhecimento formal das centrais sindicais. Algumas considerações em torno da constitucionalidade da Lei nº 11.648/2008. Jus Navigandi, Teresina, ano 13, n. 1877, 21 ago. 2008. Disponível em: <http://jus.com.br/revista/texto/11627>. Acesso em: 12 de out. 2011. 78NASCIMENTO. Amauri Mascaro. Direito do Trabalho na Constituição de 1988. São Paulo: Saraiva, 2008, p.230. 79NASCIMENTO. Amauri Mascaro. Compêndio de Direito Sindical. 3ª Edição. São Paulo: LTr, 2003. p. 204-206. 80MORAES FILHO APUD BERTANHA, Cristiane Freitas. A possível fiscalização do tribunal de contas nas centrais sindicais. Disponível em:< <http://www.nucleotrabalhistacalvet.com.br/artigos/A%20Poss%C3%ADvel%20Fiscaliza%C3%A7%C3%A3o%20do%20Tribunal%20de%20Contas%20nas%20Centrais%20Sindicais%20-%20Cristiane%20Freitas%20Bertanha.pdf >. Acesso em 12 de out. 2011. Acesso em: 13 out. 2011. 81ZANGRANDO, Carlos Henrique da Silva. Breves considerações sobre a lei das centrais sindicais. RDT: Revista do Direito Trabalhista. Brasília, DF, n.09, fevereiro 2009.
33
SIGLA DENOMINAÇÃO
CUT Central Única dos Trabalhadores
FS Força Sindical
NCST Nova Central Sindical de Trabalhadores
CGT Confederação Geral dos Trabalhadores
SDS Social democracia Sindical
CAT Central Autônoma dos Trabalhadores
CGTB Central geral dos Trabalhadores do Brasil
CNT Central Nacional dos Trabalhadores
USI União sindical Independente
União sindical União do Estado de Minas Gerais
CNM Central Nacional dos Motociclistas
USB União Sindical Brasileira
CBTE Central Brasileira de Trabalhadores e Empregadores
Central Sindical dos Trabalhadores em Transportes Rodoviários
Associação Coordenação Nacional de Lutas do Estado de Minas Gerais
Movimento Nacional em Defesa dos Portos
Pólo Sindical da Região de Livramento
Explanadas breves considerações históricas a respeito do surgimento das
centrais sindicais brasileiras, percebeu-se que foram criadas em meio a lutas,
divisões de opiniões, persistência, contemplando diversas categorias. Passa-se
agora a analisar a supracitada lei na tentativa de esclarecer o conceito, forma de
criação e funções das centrais sindicais em conformidade com a atual legislação.
1.3.7.1. Conceito e Criação
Conforme já exposto acima, o conceito de central sindical está exposto no
art. 1 da Lei 11648/08:
Art. 1o A central sindical, entidade de representação geral dos trabalhadores, constituída em âmbito nacional, terá as seguintes atribuições e prerrogativas: [...]
34
Parágrafo único. Considera-se central sindical, para os efeitos do disposto nesta Lei, a entidade associativa de direito privado composta por organizações sindicais de trabalhadores.82
Pode-se perceber que no artigo supracitado ficou estabelecido que a
central sindical é considerada uma entidade de representação geral dos
trabalhadores, com atribuição de estruturar, ordenar e ser responsável pelo
andamento, interligação e harmonização do trabalho dos sindicatos filiados nas
ações sindicais e na negociação coletiva83.
Assim sendo, as centrais sindicais são organizações sindicais que tem
como objetivo articular o sistema sindical no aspecto supracategorial84.
No tocante à sua criação, para que uma associação de sindicatos de
categoria profissional se denomine uma central sindical deverá satisfazer os
seguintes requisitos:
I - filiação de, no mínimo, 100 (cem) sindicatos distribuídos nas 5 (cinco) regiões do País;
II-filiação em pelo menos 3 (três) regiões do País de, no mínimo, 20 (vinte) sindicatos em cada uma;
III-filiação de sindicatos em, no mínimo, 5 (cinco) setores de atividade econômica;
IV-filiação de sindicatos que representem, no mínimo, 7% (sete por cento) do total de empregados sindicalizados em âmbito nacional.85
Caso estes requisitos não sejam respeitados, a central sindical poderá até
existir juridicamente, mas não poderá atuar de modo eficaz e válido86.
No entanto, pode-se verificar que provavelmente algumas Centrais
sindicais formadas antes da criação da Lei n.º 11.648/08, que não consigam atender 82 BRASIL, Lei nº 7.316, de 28 de maio de 1985. Atribui às entidades sindicais que integram a Confederação Nacional das Profissões Liberais o mesmo poder de representação dos sindicatos representativos das categorias profissionais diferenciadas, nas ações individuais e coletivas de competência da Justiça do Trabalho. Disponível em: <http://www6.senado.gov.br/legislacao/ListaNormas.action?numero=7316&tipo_norma=LEI&data=19850528&link=s> Acesso em 10 de out. 2011. 83ZANGRANDO, Carlos Henrique da Silva. Breves considerações sobre a lei das centrais sindicais. RDT: Revista do Direito Trabalhista. Brasília, DF, n.05, maio 2008. 84NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Curso de direito do trabalho: historia e teoria geral do direito: relações individuais e coletivas do trabalho. 18 ed. Ver. E atual. São Paulo: Saraiva, 2003, p.948. 85BRASIL, Lei n. 11648 de 31 de março de 2008. Dispõe sobre o reconhecimento formal das centrais sindicais para os fins que especifica, altera a Consolidação das Leis do Trabalho - CLT, aprovada pelo Decreto-Lei no 5.452, de 1o de maio de 1943, e dá outras providências. Disponível em:<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2008/Lei/L11648.htm>. Acesso em 12 out. 2011. 86ZANGRANDO, Carlos Henrique da Silva. Breves considerações sobre a lei das centrais sindicais. RDT: Revista do Direito Trabalhista. Brasília, DF, n.05, maio 2008.
35
aos requisitos legais ali insertos, terminem por perder espaço no cenário sindical
brasileiro87.
1.3.7.2. Função
No tocante à função das centrais sindicais é indispensável citar a previsão
do art. 1. da Lei 11648/2008:
Art. 1o A central sindical, entidade de representação geral dos trabalhadores, constituída em âmbito nacional, terá as seguintes atribuições e prerrogativas:
I - coordenar a representação dos trabalhadores por meio das organizações sindicais a ela filiadas; e
II - participar de negociações em fóruns, colegiados de órgãos públicos e demais espaços de diálogo social que possuam composição tripartite, nos quais estejam em discussão assuntos de interesse geral dos trabalhadores.
Assim, as centrais sindicais têm inúmeras funções como aborda
Zangrando:
Poderá prestar auxilio na organização de pautas reivindicatórias para negociação coletiva, fornecendo dados, estudos, pareceres, etc. será capaz também de propiciar consultoria e serviços jurídicos, alem de funcionar como assistente do sindicato profissional nas reuniões com os sindicatos das categorias econômicas, e também nas rodadas de mediação, se existentes. Não pode, entretanto, tomar o lugar do sindicato no momento de decidir pelo meio de solução do conflito coletivo (arbitragem ou dissídio coletivo), nem está autorizado a firmar convenção coletiva de trabalho, ou declarar greve por exemplo88.
As supracitadas entidades sindicais possuem legitimidade para impetrar
mandado de segurança coletivo, como prevê o art. 5, LXX, b da CF/88, propor ação
civil publica (art. 5 da Lei n. 7.347/85), mas não podem propor dissídio coletivo ou
ação de cumprimento, celebrar convenções, acordos ou contratos coletivos de
trabalho, decretar greves, substituir processualmente os integrantes das categorias
profissionais dos sindicatos associados 89.
87LOURO, Henrique da Silva. As centrais sindicais na ordem jurídica brasileira. Jus Navigandi, Teresina, ano 14, n. 2125, 26 abr. 2009. Disponível em: <http://jus.com.br/revista/texto/12707>. Acesso em: 13 out. 2011. 88ZANGRANDO, Carlos Henrique da Silva. Breves considerações sobre a lei das centrais sindicais. RDT: Revista do Direito Trabalhista. Brasília, DF, n.05, maio 2008. 89ZANGRANDO, Carlos Henrique da Silva. Breves considerações sobre a lei das centrais sindicais. RDT: Revista do Direito Trabalhista. Brasília, DF, n.05, maio 2008.
36
No entender de Nascimento, são funções das centrais sindicais:
As suas atribuições, de coordenação e representação dos trabalhadores por meio das organizações sindicais a ela filiadas e a participação em fóruns, colegiados, de órgãos públicos e demais espaços de dialogo social que possuam composição tripartite, nos quais estejam em discussão assuntos de interesse geral dos trabalhadores;90
Percebe-se que as centrais terão competência para indicar integrantes de
alguns Conselhos e Colegiados de Órgãos Públicos, e assim possibilitar o
desenvolvimento de políticas públicas que atendam aos interesses gerais dos
trabalhadores e o funcionamento conjunto dos setores por elas apoiados na tentativa
de aprimoramento da organização sindical brasileira91.
A lei proporcionou o reconhecimento político-institucional das centrais
sindicais que, até então não tinham uma atribuição definida num contexto de
liberdade sindical.
No entanto, frisa-se: as centrais não irão concorrer com os sindicatos ou
comprometer suas prerrogativas de negociação coletiva, tendo em vista que seu
objetivo é desempenhar um papel politco-institucional representando e articulando
os interesses do conjunto de seus representados promovendo um dialogo social
sem intervir na pactuação de convênios coletivos. Ademais, as confederações,
federações e sindicatos continuariam promovendo a negociação coletiva conforme
seu âmbito de representação92.
A lei constituiu um grande avanço ao reconhecer formalmente as centrais
sindicais e agora essas entidades poderão indicar seus representantes para
participarem nos fóruns tripartite, conselhos e colegiados de órgãos públicos. Vale
destacar:
Reconhecida a sua representatividade, as centrais sindicais passam a possuir duas prerrogativas, que são a de coordenar a representação dos trabalhadores por meio das organizações sindicais filiadas e participar de negociações em fóruns, colegiados
90NASCIMENTO, Amauri Mascaro. As centrais sindicais e as modificações de 2008. Suplemento Trabalhista LTr. São Paulo, v. 44, n. 045, p. 219, 2008. 91NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Compêndio de direito sindical. 5. ed. São Paulo: LTr, 2008, p. 265. 92NASCIMENTO, Amauri Mascaro. As centrais sindicais e as modificações de 2008. Suplemento Trabalhista LTr. São Paulo, v. 44, n. 045, p. 219-220, 2008.
37
de órgãos públicos e demais espaços de diálogo social, nos quais se discutam questões afetas aos interesses gerais dos trabalhadores93.
A nova legislação não levou em consideração apenas a legalidade formal
das centrais sindicais, mas também o seu significado político, tendo em vista o
histórico que as centrais sindicais possuem e assim concedeu, legalmente, funções
de destaque no cenário sindical brasileiro94.
Após abordar a organização sindical brasileira, passa-se a explanar acerca
do conceito e espécies de tributos para que possamos entender a natureza jurídica
das contribuições sindicais direcionadas às centrais sindicais conforme estabelecido
na Lei 11.648/2008.
93LOURO, Henrique da Silva. As centrais sindicais na ordem jurídica brasileira. Jus Navigandi, Teresina, ano 14, n. 2125, 26 abr. 2009. Disponível em: <http://jus.com.br/revista/texto/12707>. Acesso em: 13 out. 2011. 94BERTANHA, Cristiane Freitas. A possível fiscalização do tribunal de contas nas centrais sindicais. Disponível em:<http://www.nucleotrabalhistacalvet.com.br/artigos/A%20Poss%C3%ADvel%20Fiscaliza%C3%A7%C3%A3o%20do%20Tribunal%20de%20Contas%20nas%20Centrais%20Sindicais%20-%20Cristiane%20Freitas%20Bertanha.pdf p. 11. Acesso em 13 out. 2011.
38
2 DOS TRIBUTOS
Tendo em vista que o objetivo da presente pesquisa centra-se na análise
da legalidade da contribuição sindical dirigida às centrais sindicais faz-se necessário
abordar o conceito e as espécies de tributo para a compreensão da natureza jurídica
da referida contribuição.
2.1 CONCEITO DE TRIBUTO
O Estado tem necessidade de obter recursos para conseguir alcançar
seus objetivos fundamentais. Para suprir esta necessidade pode valer-se da criação
de tributos, os quais possuem finalidade arrecadatória (ou fiscal),ou seja, abastecem
de recursos os cofres públicos, ou ainda finalidade regulatória (extrafiscal),
estimulando ou desestimulando certos comportamentos, por razões econômicas,
sócias, de saúde, etc..95
O conceito de tributo está elencado no Código Tributário Nacional (CTN),
o qual estabelece em seu art. 3º que: “Tributo é toda prestação pecuniária
compulsória, em moeda ou cujo valor nela se possa exprimir, que não constitua
sanção de ato ilícito, instituída em lei e cobrada mediante atividade administrativa
plenamente vinculada”. 96
No tocante ao caráter compulsório do tributo vale destacar:
A compulsoriedade constitui elemento essencial do tributo, consubstanciada numa obrigação de dar dinheiro ao Erário. Embora diversas obrigações cometidas aos particulares tenham como sujeito de direito o Estado e decorrem de lei (ou contrato também submetido à lei), as de natureza compulsória contem uma índole coativa, independente da vontade de seu devedor. Para tanto, basta a ocorrência concreta do pressuposto previsto hipoteticamente na lei, para gerar a obrigação tributaria. 97
95AMARO, Luciano. Direito tributário brasileiro. 15 ed. São Paulo: Saraiva, 2009, p. 88. 96BRASIL, Lei nº 5.172, de 25 de Outubro De 1966. Dispõe sobre o Sistema Tributário Nacional e institui normas gerais de direito tributário aplicáveis à União, Estados e Municípios. Disponível em : <http://www.receita.fazenda.gov.br/legislacao/codtributnaci/ctn.htm> Acesso em: 08 out. 2011. 97MELO, José Eduardo Soares de. Curso de direito tributário. 9. ed. São Paulo, SP: Dialética, 2010, p. 52.
39
Já a Constituição da Republica Federativa do Brasil de 1988 não cria
tributos, mas estabelece a sua finalidade e determina quais as pessoas jurídicas de
Direito Público possuem competência para sua criação. 98
O sistema tributário brasileiro, conforme reza o art. 145 da Constituição da
Republica Federativa do Brasil de 1988, consiste em três tipos de tributos: impostos,
taxas e contribuição de melhoria decorrente de obras públicas.99 Porém segundo
entendimento doutrinário e jurisprudencial100 compreende-se que subsistem cinco
tipos de tributos: impostos, taxas e contribuição de melhoria, empréstimos
compulsórios e as contribuições.101 Assim sendo, passa-se a análise de cada um
destes tributos supracitados.
2.2 ESPÉCIE DE TRIBUTOS:
2.2.1 Impostos
O Código Tributário Nacional, no art. 16 conceitua imposto da seguinte
maneira: “Imposto é o tributo cuja obrigação tem por fato gerador uma situação
independente de qualquer atividade estatal específica, relativa ao contribuinte”102.
Este artigo está de acordo com as diretrizes constitucionais pelo fato de apenas
indicar a materialidade relativa à competência dos Poderes Públicos abordados nos
arts. 153, 155 e 156 da Constituição da Republica Federativa do Brasil de 1988.
Com isso este dispositivo autoriza o legislador a adotar como hipótese de incidência
98MELO, José Eduardo Soares de. Curso de direito tributário. p. 51. 99 BRASIL, Constituição Federativa da República do Brasil de 1988. Presidência da República Federativa do Brasil. Disponível em:<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constitui%C3%A7ao.htm> Acesso em: 08 out. 2011. 100SABBAG, Eduardo. Manual de direito tributário. 3 ed., São Paulo: Saraiva, 2011, p. 398. RE n. 146.733-9/SP 29/06/1992 (Pleno). Trecho voto ministro STF Moreira Alves. EMENTA: [...] “De fato, a par das três modalidades de tributos (os impostos, as taxas, e as contribuições de melhoria), a que se refere o art. 145, para declarar que são competentes para instituí-los a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, os arts. 148 e 149 aludem a duas outras modalidades tributárias, para cuja instituições sociais, inclusive as de intervenção no domínio econômico e de interesse das categorias profissionais.” 101SABBAG, Eduardo. Manual de direito tributário. p. 396-399. 102BRASIL, Lei nº 5.172, de 25 de Outubro De 1966. Dispõe sobre o Sistema Tributário Nacional e institui normas gerais de direito tributário aplicáveis à União, Estados e Municípios. Disponível em : <http://www.receita.fazenda.gov.br/legislacao/codtributnaci/ctn.htm> Acesso em: 08 out. 2011.
40
de imposto, por exemplo, os seguintes casos: importação e exportação de produtos,
rendimentos, operação de crédito, propriedade de imóvel rural, operação mercantil,
propriedade de veiculo automotor, propriedade de imóvel urbano, ou ainda serviços
de qualquer natureza. 103
O imposto é um tributo que para ser exigido do contribuinte não é preciso
que o Estado lhe preste algo determinado. O fato gerador do imposto não é um ato
do Estado, mas vinculado ao contribuinte que ao utilizar uma determinada situação
(aquisição de renda, por exemplo), tem o dever jurídico de pagar o imposto em favor
do Estado. 104
È um tributo unilateral, sem causa ou gravame não contraprestacional,
desvinculado de qualquer atividade do Estado, ou seja, o contribuinte age, e ele
próprio arca com o tributo. 105
2.2.2 Taxas
As taxas são consideradas tributos provenientes da prestação de serviços
públicos específicos e divisíveis, prestadas ao contribuinte, ou postos à sua
disposição, conforme art. 145, II da Constituição da Republica Federativa do Brasil
de 1988. 106
Se caracterizam por apresentarem, segundo disposto em lei, a descrição
de um fato de uma atividade do Estado de maneira direta e dirigida ao
contribuinte.107
È um tributo imediatamente vinculado à ação estatal e não à ação do
particular108. Amaro assevera que “O fato gerador da taxa não é um fato do
contribuinte, mas do Estado. O Estado exerce determinada atividade e, por isso,
cobra a taxa da pessoa a quem aproveita aquela atividade”. 109
103MELO, José Eduardo Soares de. Curso de direito tributário. p. 62. 104AMARO, Luciano. Direito tributário brasileiro. p. 30. 105SABBAG, Eduardo. Manual de direito tributário. p. 401. 106 BRASIL, Constituição da República Federativa do Brasil de1988. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constitui%C3%A7ao.htm > Acesso em: 08 out. 2011. 107CARVALHO, Paulo de Barros. Curso de direito tributário. 23 ed. São Paulo: Saraiva 2011, p. 71. 108SABBAG, Eduardo. Manual de direito tributário. p. 413. 109AMARO, Luciano. Direito tributário brasileiro. p. 31.
41
A taxa deverá ser exigida pela União, Estados, Municípios e Distrito
Federal, pois são impostas pelas mesmas e não se admite sua exigência em
atividade de atividade de empresa privada. 110
No que diz respeito ao fato gerador da taxa, dá-se através de duas
espécies, uma diz respeito ao exercício regular do poder de policia (fiscalização) e
outra de serviços públicos (utilização) específicos e divisíveis, prestado ao
contribuinte ou posto à sua disposição, conforme disposto no Código Tributário
Nacional. 111 Vejamos cada um deles a seguir:
2.2.3 Contribuição de melhoria
A contribuição de melhoria encontra-se prevista no art. 145, III da
Constituição da Republica Federativa do Brasil de 1988112 que autoriza a União,
Estados, Municípios e o Distrito Federal a criarem tributos de melhoria provenientes
de obras publicas.
Já no Código Tributário Nacional a previsão está nos arts. 81 e 82, os
quais exigem o pagamento do tributo aos proprietários de bens imóveis valorizados
em virtude de uma obra pública, conforme verifica-se na redação abaixo:
Art. 81. A contribuição de melhoria cobrada pela União, pelos Estados, pelo Distrito Federal ou pelos Municípios, no âmbito de suas respectivas atribuições, é instituída para fazer face ao custo de obras públicas de que decorra valorização imobiliária, tendo como limite total a despesa realizada e como limite individual o acréscimo de valor que da obra resultar para cada imóvel beneficiado. 113
Esta contribuição de melhoria deverá observar alguns requisitos mínimos,
conforme elencado no art. 82 do Código Tributário Nacional:
I - publicação prévia dos seguintes elementos:
a) memorial descritivo do projeto;
b) orçamento do custo da obra;
110SABBAG, Eduardo. Manual de direito tributário. p. 414. 111SABBAG, Eduardo. Manual de direito tributário. p. 416. 112BRASIL, Constituição Federativa da República do Brasil de 1988. Presidência da República Federativa do Brasil. Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constitui%C3%A7ao.htm> Acesso em: 18 de out. 2011. 113BRASIL, Constituição da República Federativa do Brasil de1988. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constitui%C3%A7ao.htm > Acesso em: 08 out. 2011.
42
c) determinação da parcela do custo da obra a ser financiada pela contribuição;
d) delimitação da zona beneficiada;
e) determinação do fator de absorção do benefício da valorização para toda a zona ou para cada uma das áreas diferenciadas, nela contidas;
II - fixação de prazo não inferior a 30 (trinta) dias, para impugnação pelos interessados, de qualquer dos elementos referidos no inciso anterior;
III - regulamentação do processo administrativo de instrução e julgamento da impugnação a que se refere o inciso anterior, sem prejuízo da sua apreciação judicial. 114
A contribuição de melhoria é cobrada quando há uma obra pública e não
um serviço público, que ocasiona uma valorização imobiliária do bem imóvel, ou
seja, é um tributo vinculado a uma atuação do Poder Publico ao obrigado 115.
Este tributo não é imposto e nem taxa como explica Melo116: “porque não
decorre de uma atuação do próprio contribuinte, nem sequer de remuneração de
serviço público, mas singela diferença de valor relativa a uma propriedade antes e
depois da realização da obra”.
Segundo Hugo de Brito Machado117, a contribuição de melhoria é tributo
como instrumento de realização do ideal de justiça, tem uma finalidade especifica,
de ordem redistributiva: evitar uma injusta repartição dos benefícios decorrentes de
obras públicas.
Para Ricardo Lobo Torres, a contribuição de melhoria é tributo afinado
com a idéia de justiça fiscal, subordinando-se ao princípio do custo/beneficio, ou
melhor, cuida-se do custo (para a Administração) e de beneficio (para o contribuinte)
integrados entre si118. Para a população de baixa renda que não tem condições de
114BRASIL, Lei nº 5.172, de 25 de Outubro De 1966. Dispõe sobre o Sistema Tributário Nacional e institui normas gerais de direito tributário aplicáveis à União, Estados e Municípios. Disponível em : <http://www.receita.fazenda.gov.br/legislacao/codtributnaci/ctn.htm> Acesso em: 08 out. 2011. 115CARVALHO, Paulo de Barros. Curso de direito tributário. p. 74. 116MELO, José Eduardo Soares de. Curso de direito tributário. p.83. 117MACHADO, Hugo de Brito Machado. Curso de direito tributário, 30 ed. rev.e atual. São Paulo: Malheiros, 2009., p. 439. 118TORRES, Ricardo Lobo. Curso de direito financeiro e tributário. 14 ed. Rio de Janeiro: Renovar 2007, p.408.
43
arcar com o custo poderá haver uma isenção, conforme art. 177, II do Código
Tributário Nacional. 119
Para evitar o enriquecimento ilícito do particular, a contribuição de
melhoria se respalda no fundamento moral de que se deve indenizar o Estado por
essa vantagem econômica e pessoal, mesmo sem ter solicitado. 120
Assim sendo, toda vez que o poder público realiza uma obra pública que
trouxer beneficio, traduzíveis em valorização, para os proprietários de bens imóveis,
poderá ser restituída a contribuição de melhoria, desde que vinculada à exigência
por lei, fazendo “retornar ao Tesouro Público o valor despendido com a realização
de obras públicas, na medida em que destas decorra valorização de imóveis”. 121
2.2.4 Empréstimo compulsório
No que diz respeito ao empréstimo compulsório, a Constituição da
Republica Federativa do Brasil de 1988 em seu art. 148 autoriza a União, mediante
lei complementar, a estabelecer empréstimos compulsórios nos seguintes casos:
I - para atender a despesas extraordinárias, decorrentes de calamidade pública, de guerra externa ou sua iminência;
II - no caso de investimento público de caráter urgente e de relevante interesse nacional, observado o disposto no art. 150, III, "b".
Parágrafo único. A aplicação dos recursos provenientes de empréstimo compulsório será vinculada à despesa que fundamentou sua instituição. 122
O empréstimo compulsório está também previsto no art. 15 do Código
Tributário Nacional, tendo a União à competência exclusiva de instituí-la e somente
em casos excepcionais como:
I - guerra externa, ou sua iminência;
II - calamidade pública que exija auxílio federal impossível de atender com os recursos orçamentários disponíveis;
119 BRASIL, Lei nº 5.172, de 25 de Outubro De 1966. Dispõe sobre o Sistema Tributário Nacional e institui normas gerais de direito tributário aplicáveis à União, Estados e Municípios. Disponível em : <http://www.receita.fazenda.gov.br/legislacao/codtributnaci/ctn.htm> Acesso em: 08 out. 2011. 119CARVALHO, Paulo de Barros. Curso de direito tributário. p.74. 120SABBAG, Eduardo. Manual de direito tributário. p. 449. 121MACHADO, Hugo de Brito. Curso de direito tributário. p. 439. 122BRASIL, Constituição da República Federativa do Brasil de1988. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constitui%C3%A7ao.htm > Acesso em: 08 out. 2011.
44
III - conjuntura que exija a absorção temporária de poder aquisitivo.
Parágrafo único. A lei fixará obrigatoriamente o prazo do empréstimo e as condições de seu resgate, observando, no que for aplicável, o disposto nesta Lei. 123
O empréstimo compulsório é um tributo e não um contrato, formado pela
relação jurídica entre Poder Público e o contribuinte, tendo por base a lei, em
moeda, igualitária e decorrente de um fato licito qualquer, é uma prestação em
dinheiro, prevista em lei complementar, que autoriza a União a cobrar de quem
emprestou. 124
O empréstimo compulsório é um autentico tributo, de características especiais, porque o elemento “restituível” não pode ser, simplesmente desconsiderado na norma jurídica (tributaria), que deve estabelecer, de modo especifico e exaustivo, as condições de restituição do valor mutuado (ainda que coativamente), de modo a se recompor o patrimônio do contribuinte em sua situação original (anterior à ocorrência do empréstimo). 125
Portanto, se a União não conseguir a devolução do referido empréstimo
compulsório em dinheiro com todos os acréscimos respectivos, o empréstimo será
descaracterizado e sendo, portanto inconstitucional. 126
2.2.5 Contribuições
Encontram-se diferentes entendimentos doutrinários acerca da
contribuição. Para Sabbag “são tributos destinados ao financiamento de gastos
específicos, sobrevindo no contexto de intervenção do Estado no campo social e
econômico, sempre no cumprimento dos ditames da política de governo” 127.
A contribuição esta ligada à solidariedade em relação aos integrantes de
um grupo social ou econômico, na busca de uma dada finalidade. Por sua vez, as
contribuições se distinguem pela sua finalidade e destinação. 128
123BRASIL, Lei nº 5.172, de 25 de Outubro De 1966. Dispõe sobre o Sistema Tributário Nacional e institui normas gerais de direito tributário aplicáveis à União, Estados e Municípios. Disponível em : <http://www.receita.fazenda.gov.br/legislacao/codtributnaci/ctn.htm> Acesso em: 08 out. 2011. 124MELO, José Eduardo Soares de. Curso de direito tributário. 9. ed. São Paulo, SP: Dialética, 2010, p.85. 125MELO, José Eduardo Soares de. Curso de direito tributário. p.86-87. 126MELO, José Eduardo Soares de. Curso de direito tributário. p.87. 127SABBAG, Eduardo. Manual de direito tributário. p. 501. 128SABBAG, Eduardo. Manual de direito tributário. p. 496.
45
È a circunstância de contribuições terem destinação especifica que as diferencia dos impostos, enquadrando-as, pois, como tributos afetados à execução de uma atividade estatal ou paraestatal específica, que pode aproveitar ou não ao contribuinte. 129 (grifo do autor)
A contribuição não pode ser considerada taxa por não remunerar serviços
cobrados ou disponibilizados aos contribuintes. Também não é contribuição de
melhoria, pelo fato de existir a valorização do bem imóvel ocasionada pela execução
de obra publica em sua proximidade. 130
O art. 149, caput da Constituição da Republica Federativa do Brasil de
1988 preconiza que as contribuições são instrumentos de ação nas respectivas
áreas. Por sua vez, significa que são tributos parafiscais. Este tributo é instituído por
uma pessoa política, geralmente a União, e a atividade de arrecadação e
fiscalização é feita pelo ente parafiscal ou parafisco. 131 Assim dispõe no art. 7 do
Código Tributário Nacional “A competência tributária é indelegável, salvo atribuição
das funções de arrecadar ou fiscalizar tributos”. 132
Parafiscal significa “dizer ao lado do fiscal, algo que anda paralelamente
com o Estado. Traduz-se na entidade que se mostra um quase-Estado, uma
extensão do Estado”. 133
As contribuições parafiscais é tributo devido a entidades paraestatais, em razão de atividades especiais por elas desempenhadas. Atribui-se, assim, a titularidade delas a tais órgãos da administração descentralizada, diversos daqueles entes que detêm o poder de as instituir, com o fim de arrecadá-las em beneficio próprio. 134
Para Torres, é a arrecadação do parafisco, isto é, de órgãos pararestatias
incumbidos de prestar serviços paralelos aos da Administração, através do
orçamento especial, que convive com o orçamento fiscal (art. 165, §5º da
Constituição da Republica Federativa do Brasil de 1988). Tem o objetivo de fornecer
129AMARO, Luciano. Direito tributário brasileiro. p. 85. 130SABBAG, Eduardo. Manual de direito tributário, p. 496. 131SABBAG, Eduardo. Manual de direito tributário. p. 501. 132BRASIL, Lei nº 5.172, de 25 de Outubro De 1966. Dispõe sobre o Sistema Tributário Nacional e institui normas gerais de direito tributário aplicáveis à União, Estados e Municípios. Disponível em : <http://www.receita.fazenda.gov.br/legislacao/codtributnaci/ctn.htm> Acesso em: 08 out. 2011. 133CASSONE, Vittorio. Direito tributário. 18 ed. São Paulo: Atlas, 2007, p.74. 134SABBAG, Eduardo. Manual de direito tributário, p. 501.
46
recursos para as atividades não essenciais do Estado voltados aos direitos sociais. 135
Na lição de Nogueira “as exações parafiscais são contribuições por
autarquias, órgãos paraestatais de controle da economia, profissionais ou sociais,
para custear seu financiamento autônomo”.136 “As funções destes órgãos são
funções estatais descentralizadas ou de interesse público, e essas arrecadações
são as chamadas ‘finanças paralelas’ porque via de regra não são recolhidas ao
tesouro publico, não entram para o orçamento do Estado”. 137
Neste sentido, Sabbag citando Oliveira ressalta que:
A criação de entidades ‘paraestatais’, com ‘personalidade jurídica própria’, gravitando embora em torno do Estado (Administarção Indireta), e assumindo funções das quais a Administarção Direta não dava conta, fez surgir a necessidade de novas receitas ‘paralelas’ ao orçamento fiscal (daí ‘parafiscal’) que financiassem (com ‘finalidade’ de financiar) as correspectivas despesas, assim, descentralizadas. 138
As contribuições também podem ser segundo a doutrina, denominadas de
sociais ou especiais. Martins denomina de contribuições sociais e afirma que não se
trata de parafiscalidade, isto é, à margem do sistema, mas a ele agregadas. 139
O art. 149, caput da Constituição da Republica Federativa do Brasil de
1988 prescreve a possibilidade da União instituir contribuições como instrumento de
sua atuação no âmbito social, na intervenção no domínio econômico e no interesse
de categorias profissionais ou econômicas. 140
As contribuições estão inseridas no texto constitucional em três espécies:
interesse das categorias profissionais ou econômicas; de intervenção no domínio
econômico e por último das contribuições sociais. 141 Passa-se a analise de cada
uma delas.
135TORRES, Ricardo Lobo. Curso de direito financeiro e tributário. p.411. 136NOGUEIRA, Ruy Barbosa. Curso de direito tributário. 14 ed. São Paulo: Saraiva, 1995, p. 178. 137NOGUEIRA, Ruy Barbosa. Curso de direito tributário. p. 179. 138SABBAG, Eduardo. Manual de direito tributário. p. 502. 139 MARTINS, Ives Gandra da Silva. (Coord) Curso de direito tributário. 7 ed. São Paulo: Saraiva, 2000, p. 489. 140BRASIL, Constituição da República Federativa do Brasil de1988. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constitui%C3%A7ao.htm > Acesso em: 08 out. 2011 141SABBAG, Eduardo. Manual de direito tributário. p. 503.
47
2.2.5.1 Contribuição de Interesse das Categorias Profissionais ou Econômicas
As contribuições de interesse das categorias profissionais (trabalhadores)
ou econômicas (dos empregadores) são também chamadas de contribuições
profissionais ou corporativas.142 A União determina que as entidades representativas
de categorias profissionais ou econômicas podem arrecadar este tipo de
contribuição, quando legalmente instituídas, para que posam ter suporte financeiro. 143
Tais contribuições se subdividem em: anuidade e contribuição sindical.
Com relação à contribuição sindical, ressalta-se que será abordada mais adiante
neste trabalho.
No tocante a contribuição anuidade cabe destacar que ela tem por
objetivo arrecadar recursos para órgãos controladores e fiscalizadores das
profissões, via Conselhos Regionais de Fiscalização como, por exemplo: CRESS,
CRM. Esta atividade é feita com base legal e de interesse público. Estes conselhos
são órgãos parafiscais, pessoas jurídicas de direito publico (autarquia), segundo
descrito no art. 119 do Código Tributário Nacional. 144 No entanto, como não
constituem o objetivo da presente monografia, tal assunto não será aprofundado.
2.2.5.2 Contribuição de Categoria de Intervenção no Domínio Econômico
A contribuição de categoria de intervenção no domínio econômico (CIDE),
é instituída exclusivamente pela União e considerada um tributo federal. Este tributo
faz-se necessário pelo fato do Brasil estar propenso a adotar medidas de controle da
economia através da ação estatal federal. 145 “Assim, a União, em seu propósito
desenvolvimentista, realiza atividades, de efetiva intervenção no controle do
mercado, exigindo-se a CIDE, no contexto da referibilidade, para financiar os custos
e encargos correspondentes”. 146
Assim prevê o art. 149 da Constituição da Republica Federativa do Brasil
de 1988 “Compete exclusivamente à União instituir contribuições sociais, de
142SABBAG, Eduardo. Manual de direito tributário. p. 504. 143AMARO, Luciano. Direito tributário brasileiro. p. 55. 144SABBAG, Eduardo. Manual de direito tributário. p. 504. 145SABBAG, Eduardo. Manual de direito tributário. p. 514. 146SABBAG, Eduardo. Manual de direito tributário. p. 514.
48
intervenção no domínio econômico e de interesse das categorias profissionais ou
econômicas, como instrumento de sua atuação nas respectivas áreas [...]”. 147
A União irá disciplinar por lei a atuação dessas entidades, conferindo-lhes, para que tenham suporte financeiro, a capacidade de arrecadar contribuições que a lei institui. O fato gerador dessas contribuições reside no exercício, pelo contribuinte, de determinada atividade profissional ou econômica, a que se atrelam as funções (de interesse público) exercidas pela atividade credora das contribuições (fiscalização, representatividade, defesa de interesses etc.). 148
Tem caráter extrafiscal149, sendo um instrumento de planejamento,
corrigindo abusos e arrecadando mais recursos para os cofres públicos. A
intervenção é feita por pessoa jurídica de direito privado, como um ente parafiscal,
na regulação das atividades econômicas, descritas no art. 170, I a IX, e seguintes da
Constituição da Republica Federativa do Brasil de 1988. 150
2.2.5.3 Contribuições Sociais
As contribuições sociais são consideradas pela doutrina, como um das
mais importantes, devido o grande volume de arrecadações que “pesam nos bolsos
e recheiam os cofres dos Estados”. 151
No entender de Amaro, caracterizam-se pela sua destinação, pois
concedem ao Estado instrumentos necessários para direcionar sua ação e dos
demais entes políticos no setor da ordem social. 152
Trata-se de contraprestação devida pela seguridade social e outros
benefícios na área social os quais são garantidos pelo Estado a determinado grupo
da sociedade. Abrange a previdência social, a saúde e a assistência social,
147 BRASIL, Constituição da República Federativa do Brasil de1988. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constitui%C3%A7ao.htm > Acesso em: 11 out. 2011. 148 AMARO, Luciano. Direito tributário brasileiro. p. 55. 149Extrafiscalidade – poderoso instrumento financeiro empregado pelo Estado a fim de estimular ou inibir condutas, tendo em vista a consecução de finalidades não meramente arrecadatórias. Note que a extrafiscalidade orienta-se para fins outros que não a captação de recursos para o Erário, visando corrigir externalidades. SABBAG, Eduardo. Manual de direito tributário. 3 ed. São Paulo: Saraiva, 2011, p. 74. 150SABBAG, Eduardo. Manual de direito tributário. p. 514. 151SABBAG, Eduardo. Manual de direito tributário.p. 518. 152AMARO, Luciano. Direito tributário brasileiro.p. 53.
49
conforme disposto no art. 195 da Constituição da Republica Federativa do Brasil de
1988. 153
As contribuições destinadas à seguridade social estão previstas no art.
195 da Constituição da Republica Federativa do Brasil de 1988 que indica o fato
gerador e o sujeito passivo deste tributo. O inciso I prevê contribuições do
empregador, da empresa e da entidade a ela equiparada na forma da lei, que incide
sobre (a) a folha de salários e demais mesmo sem vínculo empregatício; (b) sobre a
receita ou o faturamento; (c) o lucro, como base de calculo que identifica o fato
gerador; o inciso II versa sobre a contribuição do trabalhador e dos demais
segurados da previdência social; o inciso III sobre a receita de concursos de
prognósticos e o IV refere a contribuição do importador de bens ou serviços do
exterior, ou de quem a lei a ele equiparar. 154
Em suma, verificou-se que a doutrina e a jurisprudência entendem que há
cinco espécies de tributos em nosso ordenamento jurídico.
(I) impostos (art. 145, I ,CF c/c art. 16 do CTN;
(II) taxas (art. 145, II da CF c/c arts. 77 e 78 do CTN);
(III) contribuições de melhoria (art. 145, III, CF c/c arts. 81 e 82 do CTN;
(IV) empréstimo compulsório (art. 148 CF);
(V) contribuições (art. 149, CF).155
Passa-se agora a analisar a receita das entidades sindicais.
2.3 DA RECEITA DAS ENTIDADES SINDICAIS
As entidades sindicais necessitam de recursos financeiros para
exercerem suas funções. Para obter estes recursos tais entidades podem se valer
de dois tipos de contribuição: facultativa e obrigatória. Primeiramente faz-se
necessário entender o conceito geral de contribuição sindical:
Contribuição sindical em conceito amplo, genérico e democrático, para nós é uma obrigação devida por todos aqueles que participam de uma determinada categoria ou profissão. Entre nós, em face de
153TORRES, Ricardo Lobo. Curso de direito financeiro e tributário. p.409. 154BRASIL, Constituição da República Federativa do Brasil de1988. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constitui%C3%A7ao.htm > Acesso em: 17 out. 2011. 155SABBAG, Eduardo. Manual de direito tributário. p. 496.
50
inúmeras contribuições obrigatórias e espontâneas, é o valor pago à entidade sindical, seja por imposição legal ou deliberação de assembléia, para a consecução de seus fins. 156
Assim, entende-se como contribuição sindical toda e qualquer
contribuição paga à entidade sindical, seja ela facultativa ou obrigatória.
A contribuição sindical obrigatória é disciplinada por lei, cuja competência
para criação é exclusivamente da União (art. 149 da Constituição da Republica
Federativa do Brasil de 1988, artigos 578 a 591 da Consolidação das Leis do
Trabalho). 157
Cabe destacar a previsão legal sobre o assunto:
Art. 578 - As contribuições devidas aos Sindicatos pelos que participem das categorias econômicas ou profissionais ou das profissões liberais representadas pelas referidas entidades serão, sob a denominação do "imposto sindical", pagas, recolhidas e aplicadas na forma estabelecida neste Capítulo. (Vide Lei nº 11.648, de 2008)
Art. 579 - A contribuição sindical é devida por todos aqueles que participarem de uma determinada categoria econômica ou profissional, ou de uma profissão liberal, em favor do sindicato representativo da mesma categoria ou profissão ou, inexistindo este, na conformidade do disposto no art. 591. (Redação dada pelo Decreto-lei nº 229, de 28.2.1967) (Vide Lei nº 11.648, de 2008)158
Assim sendo, percebe-se que, no tocante a contribuição obrigatória ela é
determinada em lei e é prevista na Consolidação das Leis do Trabalho como um
imposto sindical, o que, como visto acima é equivocado tendo em vista que se
enquadra constitucionalmente como contribuição.
A natureza jurídica da contribuição sindical é classificada como tributo
cujo fato gerador encontra-se previsto na Consolidação das Leis do Trabalho. De
acordo com o art. 149 da Constituição da Republica Federativa do Brasil de 1988,
trata-se de contribuição parafiscal, se enquadrando no gênero social sujeito a todos
os trabalhadores. 159
Também é o entendimento jurisprudencial:
CONSTITUCIONAL. TRIBUTÁRIO. CONTRIBUIÇÃO SINDICAL. IMUNIDADE. C.F., 1967, ART. 21, PAR-2., I, ART-19, III, "b", C.F.,
156MORALES, Cláudio Rodrigues. Das contribuições aos sindicatos. São Paulo: Ltr, 2000, p.11. 157MORALES, Cláudio Rodrigues. Das contribuições aos sindicatos. p.16. 158BRASIL, Decreto-Lei n. 5.452 de 1º de maio de 1943. Aprova a Consolidação das Leis do Trabalho. Disponível em:<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del5452.htm>. Acesso em: 10 de out. 2011. 159BARROS, Alice Monteiro de. Curso de direito de trabalho.p.1244.
51
1988, ART-149, ART-150, VI, "b". I. A imunidade do art. 19, III, da CF/67, (CF/88, ART. 150, VI) diz respeito apenas a impostos. A contribuição e espécie tributaria distinta, que não se confunde com o imposto. E o caso da contribuição sindical, instituida no interesse de categoria profissional (CF/67, art. 21, par-2., I; CF/88, art. 149), assim não abrangida pela imunidade do art. 19, III, CF/67, ou art. 150, VI, CF/88. II. Recurso Extraordinário não conhecido. 160
Desta forma, sendo uma contribuição deve ser paga por qualquer
membro da categoria, independente de ser ou não filiado à entidade sindical.
Para os trabalhadores trata-se de uma contribuição feita uma vez ao ano,
correspondente a um dia de trabalho, descontado em folha salarial e recolhida aos
sindicatos, consoante o art. 580, inciso I da Consolidação das Leis do Trabalho. 161
Já para os trabalhadores autônomos, profissionais liberais o recolhimento
é executado no mês de fevereiro e consiste na importância correspondentes a 30%
do maior valor de referência fixado pelo Poder Executivo, vigente à época em que é
devida a contribuição sindical, conforme dispõe o art. 580, inciso II da Consolidação
das Leis do Trabalho. 162
Para às empresas será feito o recolhimento no mês de janeiro (art.587 da
Consolidação das Leis do Trabalho) correspondendo a uma importância
proporcional ao capital social da firma ou empresa, registrado nas respectivas
Juntas Comercias ou órgãos equivalentes, mediante a aplicação de alíquotas,
conforme tabela exposta no art. 580163 da Consolidação das Leis do Trabalho164:
160BRASIL, Supremo Tribunal Federal. Recurso extraordinário nº 129930, de São Paulo. Relator: Min. Carlos Velleso.Segunda Turma. Publicado no DJ em: 16/08/1991. Disponível em: <http://www.stf.jus.br/portal/jurisprudencia/listarJurisprudencia.asp?s1=constitucional+e+tributario+e+contribui%E7%E3o+e+sindical&pagina=2&base=baseAcordaos> Acesso em: 10 de out. 2011. 161BRASIL, Decreto-Lei n. 5.452 de 1º de maio de 1943. Aprova a Consolidação das Leis do Trabalho. Disponível em:<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del5452.htm>. Acesso em: 10 de out. 2011. 162BRASIL, Decreto-Lei n. 5.452 de 1º de maio de 1943. Aprova a Consolidação das Leis do Trabalho. Disponível em:<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del5452.htm>. Acesso em: 10 de out. 2011. 163BRASIL, Decreto-Lei n. 5.452 de 1º de maio de 1943. Aprova a Consolidação das Leis do Trabalho. Disponível em:<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del5452.htm>. Acesso em: 10 de out. 2011. 164BARROS, Alice Monteiro de. Curso de direito de trabalho.p.1244.
52
Classes de Capital
Alíquota %
1 Até 150 vezes o maior valor-de-referência 0,8
2 Acima de 150, até 1.500 vezes o maior valor-
de-referência
0,2
3 Acima de 1.500, até 150.000 vezes o maior
valor-de-referência
0,1
4 Acima de 150.000, até 800.000 vezes o maior valor-de-referência
0,02
Esta contribuição é distribuída entre todas as entidades sindicais que
compõem o sistema confederativo inclusive para a central sindical, desde que
respeitem os requisitos de criação e existência dispostos na Lei 11.648/2008. 165
A contribuição será rateada entre as entidades sindicais nos percentuais
preconizados no art. 589 da Consolidação das Leis do Trabalho, que aduz que para
os empregadores serão direcionados 5% (cinco por cento) para a confederação
correspondente; 15% (quinze por cento) para a federação, 60% (sessenta por cento)
para o sindicato respectivo, 20% (vinte por cento) para a ‘Conta Especial Emprego e
Salário, para os trabalhadores, serão 5% (cinco por cento) para a confederação
correspondente, 10% (dez por cento) para a central sindical; 15% (quinze por cento)
para a federação, 60% (sessenta por cento) para o sindicato respectivo, 10% (dez
por cento) para a ‘Conta Especial Emprego e Salário. 166
Com relação a contribuição facultativa (art. 8, IV da Constituição da
República Federativa do Brasil de 1988) vale dizer que pode ser fixada pela
assembléia geral da categoria, independe de regulamentação de lei ordinária, tendo
apenas que ser deliberada em Assembléia Sindical, no seu serviço de poder
autônomo. 167
165BARRETO, Gláucia. Curso de direito do trabalho. p. 409-412. 166BRASIL, Decreto-Lei n. 5.452 de 1º de maio de 1943. Aprova a Consolidação das Leis do Trabalho. Disponível em:<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del5452.htm>. Acesso em: 10 de out. 2011. 167SABBAG, Eduardo. Manual de direito tributário. p. 506.
53
E, por não ser considerada um tributo, não pode ser exigida aos
trabalhadores não filiados ao sindicato. 168 Neste sentido o TST através do
Precedente Normativo n. 119169 e o STF através da Sumula n. 666 entenderam que
a contribuição é obrigatória somente para os filiados e não a todos os integrantes da
categoria. 170
Neste norte, a contribuição facultativa pode assumir outras
nomenclaturas, tais como: contribuição assistencial a qual consiste no recolhimento
aprovado por convenção ou acordo coletivo, descontado em folha de pagamento em
uma ou mais parcelas durante o ano. È conhecida também como reforço sindical ou
contribuição de fortalecimento sindical. 171
A Consolidação das Leis do Trabalho no art. 513, “e” prevê esse tipo de
contribuição que será fixada mediante sentença normativa da Justiça do Trabalho ou
por acordos e convenções coletivas de trabalho para custear as atividades
assistenciais do sindicato. Costumeiramente essa contribuição é de 10% do primeiro
salário reajustado após a data-base. 172 Essa contribuição não tem natureza
tributaria, portanto o trabalhador contribui se assim desejar (TST-SDC-RODC
617/88). 173
Tal contribuição custeia atividades assistenciais como planos de bolsa de
estudo, serviço médico, odontológico, devida, portanto somente pelos associados. 174
A contribuição facultativa também pode ser chamada de mensalidade, a
qual consiste em contribuição estatutária de caráter voluntário ou associativo, pagas
pelo associado do sindicato, podendo em seu estatuto prever um valor fixo. Ela é
voluntária em decorrência do livre desejo da pessoa filiar-se a um sindicato. 175
Vale destacar:
168PAULO, Vicente; ALEXANDRINO, Marcelo. Manual de direito do trabalho. p. 411. 169BRASIL, Tribunal Superior do Trabalho. Precedente Normativo n. 119. Disponível em:<http://www.tst.gov.br/DGCJ/IndiceResolucoes/Resolucoes/82.html>. Acesso em: 12 de out. 2011. 170BRASIL, Supremo Tribunal Federal. Sumula 666. Disponível em: <http://www.stf.jus.br/portal/cms/verTexto.asp?servico=jurisprudenciaSumula&pagina=sumula_601_700>. Acesso em: 12 de out. 2011. 171DELGADO, Mauricio Godinho. Curso de direito do trabalho. p.1342. 172PAULO, Vicente; ALEXANDRINO. Marcelo. Manual de direito do trabalho. p. 412. 173PAULO, Vicente; ALEXANDRINO. Marcelo. Manual de direito do trabalho. p. 412. 174BARROS, Alice Monteiro de. Curso de direito de trabalho. p.1243. 175BARROS, Alice Monteiro de. Curso de direito de trabalho. p.1243.
54
A mensalidade sindical está prevista no estatuto de cada entidade sindical e é paga apenas pelos associados ao sindicato, pois só estes se beneficiam dos serviços por ele prestados. É legítima a exigência conforme estabeleça o estatuto da entidade sindical, pois sendo a filiação ao sindicato uma faculdade, só os trabalhadores interessados contribuirão.176
Com isso, as contribuições facultativas são consideradas a principal fonte
de recursos das entidades sindicais, responsável pela manutenção de suas
estruturas e dos benefícios repassados aos contribuintes, como por exemplo,
assistência judiciária, contábil, médica, cursos. 177
Além das contribuições acima mencionadas, integrarão a receita das
entidades sindicais bens e valores adquiridos e respectivas rendas, doações e
legados, multas e outras rendas eventuais. 178
No tocante ao posicionamento doutrinário a respeitos das contribuições
acima debatidas cabe destacar que parte da doutrina critica a contribuição sindical
obrigatória e a combatem nos seguintes termos:
A contribuição sindical representa, no fundo, uma deformação legal do poder representativo do sindicato. Baseado numa fictícia representação legal dos interesses gerais da categoria profissional (art. 138 da Carta de 1937) atribui-se, por lei, ao sindicato, os recursos tributários impostos pelo próprio Estado, à guisa de estar legislando em nome do sindicato. Daí dizer-se que o mesmo tem poderes de impor contribuições a todos os que pertencem às categorias econômicas e profissionais (letra e, art. 513, CLT). Faltando soberania ao sindicato, dada a sua condição de pessoa de Direito Privado [...] O sindicato, alimentado por um tributo público, vivendo às expensas do estado, controlando por este, perdeu sua independência, alienou toda sua liberdade. Se todas as modalidades de controles, que o sistema sindical pátrio impôs ao sindicato, deixasse de existir, por uma reforma completa da lei sindical, bastaria a permanência deste tributo para suprimir-lhe qualquer veleidade de independência. Nenhum Estado pode dispensar-se da tutela às pessoas jurídicas, quando fornece os recursos que lhes mantêm a sobrevivência. Pensar de modo diferente é raciocinar em termos irreais, fantasiosos quando não o seja de má-fé. [...] Vai daí que se criou uma pessoa jurídica de direito privado nutrida por tributos públicos extra-orçamentários. [...] em nenhum país democrático, que preza a liberdade sindical, jamais se instituiu semelhante tributação. Os sindicatos, ali, vivem de seus próprios recursos, previstos nos seus estatutos; e são eles que dão a força ao sindicalismo independente. 179
176PAULO, Vicente; ALEXANDRINO, Marcelo. Manual de direito do trabalho. p. 412. 177SABBAG, Eduardo. Manual de direito tributário. p. 506. 178BARROS, Alice Monteiro de. Curso de direito de trabalho. p.1249. 179GOMES, Orlando. Curso de direito do trabalho. p. 569.
55
Outros aceitam a contribuição sindical por ser um tributo que faz com que
o sindicato não viva às custas do Estado, e que seja aplicado em ações
assistenciais, proibindo que os mesmos utilizem esse recurso financeiro na
manutenção de seus serviços normais, que devem ser atendidos pelas rendas
próprias. 180
Finalizando este segundo capítulo destaca-se que a contribuição sindical
obrigatória constitui-se em um tipo de tributo chamado contribuição e que, portanto,
deve ser recolhido obrigatoriamente de todos os membros da categoria. Por sua vez,
são tributos criados em razão de atividades especiais desempenhadas pelo entes
parafiscais que possuem competência para sua arrecadação.
Deste modo, apresentados os conceito e as espécies de tributos, bem
como analise das contribuições sindicais especialmente às destinadas as centrais
sindicais, tem-se a seguir, a análise da (in)constitucionalidade das contribuições
sindicais direcionadas para as centrais sindicais.
180BARROS, Alice Monteiro de. Curso de direito de trabalho. p.1245.
56
3. A (IN)CONSTITUCIONALIDADE DAS CONTRIBUIÇÕES SINDICAIS
DIRECIONADAS PARA AS CENTRAIS SINDICAIS
Conforme já exposto no presente trabalho, no dia 31 de março de 2008 foi
sancionada a Lei n. 11.648 que reconheceu legalmente as centrais sindicais como
entidades de representação dos trabalhadores.
Porém o Partido Político Democratas (DEM) ajuizou em 09/04/2009 uma
Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADIN n. 4067)181 no Supremo Tribunal Federal
postulando a declaração de inconstitucionalidade dos arts. 1º, II e 3º da Lei
11.648/2008182; do art. 589, II, “b”, e parágrafos 1º e 2º, e do art. 593 da CLT183. A
ação tem como Relator, o Ministro Joaquim Barbosa.184
No tocante aos arts. 1º, II e 3º da Lei 11.648/2008 destaca-se que tratam
sobre o número de participantes e da participação das centrais sindicais em espaços
de diálogo social que possuam composição tripartite. Senão vejamos:
Art. 1º. A central sindical, entidade de representação geral dos trabalhadores, constituída em âmbito nacional, terá as seguintes atribuições e prerrogativas:
[...]
II - Participar de negociações em fóruns, colegiados de órgãos públicos e demais espaços de diálogo social que possuam composição tripartite, nos quais estejam em discussão assuntos de interesse geral dos trabalhadores.
Art. 3º A indicação pela central sindical de representantes nos fóruns tripartites, conselhos e colegiados de órgãos públicos a que se refere o inciso II do caput do art. 1o desta Lei será em número proporcional ao índice de representatividade previsto no inciso IV do caput do art. 2o desta Lei, salvo acordo entre centrais sindicais.
181BRASIL. Supremo Tribunal Federal. ADI n. 4067. Peças eletrônicas. Disponível em: <http://redir.stf.jus.br/estfvisualizadorpub/jsp/consultarprocessoeletronico/ConsultarProcessoEletronico.jsf?seqobjetoincidente=2609348>. Acesso em: 30 out. 2011. 182BRASIL, Lei n. 11.648 de 31 de março de 2008. Presidência da República Federativa do Brasil. Dispõe sobre o reconhecimento formal das centrais sindicais para os fins que especifica, altera a Consolidação das Leis do Trabalho - CLT, aprovada pelo Decreto-Lei no 5.452, de 1o de maio de 1943, e dá outras providências. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2008/Lei/L11648.htm>. Acesso em 30 out. 2011. 183BRASIL, Decreto-Lei n. 5.452 de 1º de maio de 1943. Presidência da República Federativa do Brasil Aprova a Consolidação das Leis do Trabalho. Disponível em:<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del5452.htm>. Acesso em 30 out. 2011 184BRASIL. Supremo Tribunal Federal. ADI n. 4067. Peças eletrônicas.Disponível em: <http://www.stf.jus.br/portal/processo/verProcessoAndamento.asp?incidente=2609348 >. Acesso em: 30 de out. 2011.
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§ 1o O critério de proporcionalidade, bem como a possibilidade de acordo entre as centrais, previsto no caput deste artigo não poderá prejudicar a participação de outras centrais sindicais que atenderem aos requisitos estabelecidos no art. 2o desta Lei.
§ 2o A aplicação do disposto no caput deste artigo deverá preservar a paridade de representação de trabalhadores e empregadores em qualquer organismo mediante o qual sejam levadas a cabo as consultas.185
Já com relação ao art. 589, II, “b”, e parágrafos 1º e 2º da CLT a
modificação promovida pela lei em comento foi no sentido de direcionar às centrais
sindicais 10% de toda a contribuição sindical obrigatória feita pelos trabalhadores. O
que ocorreu é que diminuíram o percentual destinado a conta especial de emprego e
salários.Veja-se a nova redação:
Art. 589. Da importância da arrecadação da contribuição sindical serão feitos os seguintes créditos pela Caixa Econômica Federal, na forma das instruções que forem expedidas pelo Ministro do Trabalho:
[...]
II - para os trabalhadores:
a) 5% (cinco por cento) para a confederação correspondente;
b) 10% (dez por cento) para a central sindical;
c) 15% (quinze por cento) para a federação;
d) 60% (sessenta por cento) para o sindicato respectivo; e
e) 10% (dez por cento) para a ‘Conta Especial Emprego e Salário’; (grifo nosso)
§ 1º O sindicato de trabalhadores indicará ao Ministério do Trabalho e Emprego a central sindical a que estiver filiado como beneficiária da respectiva contribuição sindical, para fins de destinação dos créditos previstos neste artigo.
§ 2º A central sindical a que se refere a alínea b do inciso II do caput deste artigo deverá atender aos requisitos de representatividade previstos na legislação específica sobre a matéria.186
Com relação ao art. 593 da CLT, a nova lei determinou o seguinte:
Art. 593. As percentagens atribuídas às entidades sindicais de grau superior e às centrais sindicais serão aplicadas de conformidade com
185BRASIL, Lei n. 11.648 de 31 de março de 2008. Dispõe sobre o reconhecimento formal das centrais sindicais para os fins que especifica, altera a Consolidação das Leis do Trabalho - CLT, aprovada pelo Decreto-Lei no 5.452, de 1o de maio de 1943, e dá outras providências. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2008/Lei/L11648.htm>. Acesso em: 30 out. 2011. 186BRASIL, Decreto-Lei n. 5.452 de 1º de maio de 1943. Aprova a Consolidação das Leis do Trabalho. Disponível em:<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del5452.htm>. Acesso em: 30 out. 2011.
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o que dispuserem os respectivos conselhos de representantes ou estatutos.
Parágrafo único. Os recursos destinados às centrais sindicais deverão ser utilizados no custeio das atividades de representação geral dos trabalhadores decorrentes de suas atribuições legais. 187
Assim sendo, a aplicação das contribuições recebidas pelas centrais será,
em conformidade com a nova lei, disciplinada pelos conselhos e estatutos das
referidas entidades tendo em vista o custeio da representação geral dos
trabalhadores o que decorre de sua atribuição legal.
O objetivo do presente estudo é analisar as posições doutrinárias e dos
juízes do Supremo Tribunal Federal no tocante as inconstitucionalidades apontadas
pelo partido Democratas na supracitada ação.
Neste sentido este capítulo será dividido da seguinte forma: primeiro será
analisada a posição da doutrina e dos juízes do Supremo Tribunal Federal no
tocante a inconstitucionalidade da participação das centrais sindicais em órgão
tripartites, em segundo lugar analisar-se-á a inconstitucionalidade do recebimento,
pelas centrais sindicais de parte da contribuição sindical, e, por último, estudar-se-á
a inconstitucionalidade do fato das centrais poderem dispor como querem de sua
receita sem a devida fiscalização.
3.1. DA PARTICIPAÇÃO DAS CENTRAIS EM ÓRGÃO DE COMPOSIÇÃO
TRIPARTITE
O artigo primeiro da Lei 11.648/2008 determina que as centrais sindicais
podem participar em rodadas de negociação em fóruns, colegiados de órgãos
públicos e demais espaços de diálogo social que são organizados de forma tripartite,
ou seja, com a participação de governo, patronato e trabalhadores, sempre que o
assunto discutido seja de interesse geral dos trabalhadores.188
187BRASIL, Decreto-Lei n. 5.452 de 1º de maio de 1943. Presidência da República Federativa do Brasil. Aprova a Consolidação das Leis do Trabalho. Disponível em:<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del5452.htm>. Acesso em: 30 out. 2011. 188BRASIL, Lei nº 11.648, de 31 março de 2008. Presidência da República Federativa do Brasil. Dispõe sobre o reconhecimento formal das centrais sindicais para os fins que especifica, altera a Consolidação das Leis do Trabalho - CLT, aprovada pelo Decreto-Lei no 5.452, de 1o de maio de 1943, e dá outras providências. Disponível em <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2008/Lei/L11648.htm>. Acesso em: 30 de out. 2011.
59
Já o artigo terceiro da supracitada lei prevê que a indicação de membros
para compor os referidos órgãos tripartites deve ser feita pela central sindical
proporcionalmente ao índice de representatividade previsto no inciso IV do caput do
art. 2º da Lei 11.648/2008.189
O que o Partido dos Democratas alega em sua ação direta de
inconstitucionalidade ao permitir a participação das centrais em órgãos tripartites,
está o art. 1º da Lei 11648/2008 passando às centrais sindicais o direito a
representação direta dos trabalhadores, ainda que sem nenhum tipo de autorização
dos mesmos.190
Entende o partido que a representação laboral sem a autorização
expressa dos trabalhadores só pode ser feita nos termos da previsão constitucional
do art. 8º, III, senão vejamos: “III - ao sindicato cabe a defesa dos direitos e
interesses coletivos ou individuais da categoria, inclusive em questões judiciais ou
administrativas”. 191
Verifica-se que o artigo supracitado autoriza apenas o sindicato a
representar diretamente o interesse dos trabalhadores em questões judiciais e
administrativas.
Já o art. 10 da Constituição da República Federativa do Brasil de 1988
reza o seguinte: “É assegurada a participação dos trabalhadores e empregadores
nos colegiados dos órgãos públicos em que seus interesses profissionais ou
previdenciários sejam objeto de discussão e deliberação”,192
189BRASIL, LEI nº 11.648, de 31 março de 2008. Presidência da República Federativa do Brasil. Dispõe sobre o reconhecimento formal das centrais sindicais para os fins que especifica, altera a Consolidação das Leis do Trabalho - CLT, aprovada pelo Decreto-Lei no 5.452, de 1o de maio de 1943, e dá outras providências. Disponível em <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2008/Lei/L11648.htm>. Acesso em: 30 de out. 2011. 190BRASIL. Supremo Tribunal Federal. ADIn n. 4067. Peças eletrônicas. Disponível em: <http://redir.stf.jus.br/estfvisualizadorpub/jsp/consultarprocessoeletronico/ConsultarProcessoEletronico.jsf?seqobjetoincidente=2609348>. Acesso em 20 de out. 2011. 191BRASIL, Constituição Federativa da República do Brasil de 1988. Presidência da República Federativa do Brasil. Disponível em:<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constitui%C3%A7ao.htm> Acesso em:30 out. 2011. 192BRASIL, Constituição Federativa da República do Brasil de 1988. Presidência da República Federativa do Brasil. Disponível em:<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constitui%C3%A7ao.htm> Acesso em: 21 out. 2011.
60
Assim sendo, verifica-se que a norma constitucional dá aos trabalhadores
o direito de participarem dos colegiados de órgãos públicos em que seus interesses
sejam discutidos193.
Em momento algum a previsão constitucional autoriza que os
trabalhadores sejam representados por outras entidades que não sejam aquelas
previstas no art. 8º da Constituição194.
Alega ainda o partido que este direito, assegurado constitucionalmente,
não pode ser retirado ou reduzido por meio de uma representação que sequer tem
sustentação constitucional, pois as únicas hipótese em que se permite que um ente
sindical atue em nome dos trabalhadores é aquela hipótese prevista no art. 8 da
Constituição195.
Segundo o Democratas, a participação das centrais sindicais em órgãos
públicos tripartites demonstra a criação de nova forma de representação dos
trabalhadores que não possui base constitucional. O artigo 1º da Lei nº.11648/2008
autoriza indevidamente o uso de funções confiadas constitucionalmente à entidades
que compõe o sistema confederativo para entidades que não fazem parte do
mesmo, como são as centrais sindicais. Assim, sendo, o art. 3 da Lei 11648/2008
também se torna inconstitucional, pois decorre do seu art.1º. 196
A ADIn nº. 4067 que tramita no Supremo Tribunal Federal, tem por finalidade
estabelecer as funções e prerrogativas das centrais sindicais, senão vejamos os
pareceres da procuradoria Geral da União e da República acerca da ação.
193BRASIL. Supremo Tribunal Federal. ADIn n. 4067. Peças eletrônicas. Disponível em: <http://redir.stf.jus.br/estfvisualizadorpub/jsp/consultarprocessoeletronico/ConsultarProcessoEletronico.jsf?seqobjetoincidente=2609348>. Acesso em: 30 de out. 2011. 194BRASIL. Supremo Tribunal Federal. ADI n. 4067. Peça eletrônica. Disponível em:<http://redir.stf.jus.br/estfvisualizadorpub/jsp/consultarprocessoeletronico/ConsultarProcessoEletronico.jsf?seqobjetoincidente=2609348>. Acesso em: 21 de out. 2011. 195BRASIL. Supremo Tribunal Federal. ADI n. 4067. Peça eletrônica. Disponível em: <http://redir.stf.jus.br/estfvisualizadorpub/jsp/consultarprocessoeletronico/ConsultarProcessoEletronico.jsf?seqobjetoincidente=2609348>. Acesso em: 21 de out. 2011. 196BRASIL. Supremo Tribunal Federal. ADI n. 4067. Peça eletrônica. Disponível em:<http://redir.stf.jus.br/estfvisualizadorpub/jsp/consultarprocessoeletronico/ConsultarProcessoEletronico.jsf?seqobjetoincidente=2609348>. Acesso em: 21 de out. 2011.
61
A manifestação da Procuradoria Geral da União, representada pelo advogado
José Antonio Dias, se posicionou favorável a constitucionalidade dos arts. 1º, II e 3º
da Lei nº.11.648/2008. 197
Para a Advocacia Geral da União, entendeu que com relação ao art. 1º, inciso
II da Lei nº. 11.648/2008 não há inconstitucionalidade, pelo fato das centrais
sindicais não integrarem ao sistema confederativo (sindicatos, federações e
confederações), não quer dizer que não tenham natureza sindical. Ademais pelo
principio constitucional da liberdade sindical (art. 8, caput CF/88), observando as
exceções legais, é permitido a liberdade de associação e sendo assim, nada impede
a criação das centrais sindicais. As centrais sindicais por serem associações
compostas por organizações sindicais e que tem por finalidade de representar os
trabalhadores, são entidades que integram a estrutura sindical. 198
Por se tratar de uma necessidade social relevante, a Lei nº. 11.648/2008
formalizou a atuação das centrais sindicais que, na prática já havia sido reconhecida
pela sociedade civil e pelo Estado. As centrais sindicais, ao representar os
interesses gerais de todos os trabalhadores, possuem legitimidade para participarem
das negociações tripartites, haja vista preencherem todos os requisitos
estabelecidos no art. 2 º da Lei nº. 11.648/2008, e os trabalhadores estão livres para
se filiarem a elas ou não. Com estes requisitos, o legislador teve a intenção de
afastar a participação das entidades menores e menos representativas que anterior
à lei se denominavam centrais. 199
Com relação ao art. 10 da Constituição da Republica Federativa do Brasil de
1988, o procurador entendeu que, neste dispositivo não há uma indicação específica
de qual entidade poderia participar das negociações e que as confederações, por
representarem categorias especificas não se enquadraria neste dispositivo. Porém
com a Lei nº.11.648/2008, se concretizou esta representação, ou seja, assegurou
quais entidades tem o direito de participar destas discussões e negociações.
197BRASIL. Supremo Tribunal Federal. ADI n. 4067. Peça eletrônica. Disponível em:<http://redir.stf.jus.br/estfvisualizadorpub/jsp/consultarprocessoeletronico/ConsultarProcessoEletronico.jsf?seqobjetoincidente=2609348>. Acesso em: 21 de out. 2011. 198BRASIL. Supremo Tribunal Federal. ADI n. 4067. Peça eletrônica. Disponível em:<http://redir.stf.jus.br/estfvisualizadorpub/jsp/consultarprocessoeletronico/ConsultarProcessoEletronico.jsf?seqobjetoincidente=2609348. Acesso em: 30 out. 2011. 199BRASIL. Supremo Tribunal Federal. ADI n. 4067. Peça eletrônica. Disponível em:<http://redir.stf.jus.br/estfvisualizadorpub/jsp/consultarprocessoeletronico/ConsultarProcessoEletronico.jsf?seqobjetoincidente=2609348. Acesso em: 30 out. 2011.
62
Contudo, por estas argumentações, a Procuradoria Geral da União foi favorável a
constitucionalidade dos arts. 1º, II e 3º da Lei nº.11.648/2008. 200
Com relação ao posicionamento da Procuradoria Geral da República, este
foi expressado por meio do parecer do procurador Antonio Fernando Barros e Silva
de Souza. Tal parecer entende que a ADIn deve ser considerada procedente em
parte.
O procurador entende por “[...] afastar a impugnação ao inciso II do art. 1º
da referida lei, que confere às centrais sindicais a prerrogativa de participar de
negociações de dialogo social e composição tripartite”. O procurador afirmou que
considera as centrais sindicais como verdadeiras associações profissionais e que
defendem e representam os interesses das diversas categorias de trabalhadores a
ela filiados mesmo que não tenha natureza sindical de representação e que não há
impedimento legal para assim atuarem. As centrais sindicais ao participarem nas
negociações não se mostram atentatória ao principio da unicidade sindical ou outra
norma constitucional, pois é devido o direito da liberdade de associação. 201
O Ministro Relator, Joaquim Barbosa, entendeu ser constitucional o art.
1º, caput e inciso II, da Lei n. 11.648/2008, pois tal dispositivo legal apenas permite
que a centrais sindicais defendam e representem os trabalhadores de maneira geral
e que participem nas “negociações em fóruns, colegiados de órgãos públicos e
demais espaços de diálogo social que possuam composição tripartite, nos quais
estejam em discussão assuntos de interesse geral dos trabalhadores” no entanto, tal
artigo não permite que as referidas entidades – as centrais sindicais – substituam
ou excluam da representação e participação os sindicatos, federações e
confederações. 202
200BRASIL. Supremo Tribunal Federal. ADI n. 4067. Peça eletrônica Disponível em:<http://redir.stf.jus.br/estfvisualizadorpub/jsp/consultarprocessoeletronico/ConsultarProcessoEletronico.jsf?seqobjetoincidente=2609348. Acesso em: 30 out. 2011. 201BRASIL. Supremo Tribunal Federal. ADI n. 4067. Peça eletrônica. Disponível em: < http://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=TP&docID=440782#8%20-%20Manifesta%E7%E3o%20da%20PGR>. Acesso em: 28 de out. 2011. 202BRASIL, Supremo Tribunal Federal. ADI n. 4067. Acompanhamento processual. Disponível em: < http://www.stf.jus.br/arquivo/cms/noticiaNoticiaStf/anexo/ADI4067ER.pdf Acesso em: 28 de out. 2011.
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Destarte, neste particular, também acompanham integralmente o relator
os Ministros Cezar Peluso e Ricardo Lewandowski e a Ministra Carmem Lucia. 203
O Ministro Eros Grau204 em seu voto de vista assim argüiu:
São duas as questões debatidas nesta ação: (i) a possibilidade de as centrais sindicais tomarem parte em debates e negociações travados nos espaços de diálogo social de composição tripartite, em defesa do interesse geral dos trabalhadores; e (ii) a inclusão das centrais sindicais no elenco das entidades que figuram como sujeitos ativos da contribuição sindical.
Em consonância com o disposto no artigo 10 da Constituição da
Republica Federativa do Brasil de 1988 e diante da existência da liberdade de
associação, expressa no art. 5º, inciso XVII; e art. 8º, caput do texto constitucional,
não há como se negar às centrais sindicais a legitimidade para participarem dos
espaços de diálogo e deliberação de questões de interesse geral da classe
trabalhadora. A distinção ocorre no texto preconizado no artigo 1º da Lei n.
11.648/2008, quando se fala em entidade de representação geral dos trabalhadores,
constituída em âmbito nacional. Cumpre ressaltar que os sindicatos representam
interesses coletivos de trabalhadores de categorias profissionais específicas, sendo
organizados em três níveis (sindicatos, federações e confederações). 205
Porém, as centrais sindicais extrapolam esse sistema, “para instrumentar
tentativa de superação de situações nas quais eventualmente se opõem interesses
particulares de uma e outra categoria profissional, de modo a dividi-las,
enfraquecendo a representação de classe”. Tem uma importante função ideológica e
política, por estarem lutando e defendendo interesses do trabalho em um plano mais
elevado, para além de particularismos. O Ministro Eros Grau também concorda com
a afirmação de que as centrais sindicais não se equiparam, nem substituem
entidades sindicais de grau superior. E ainda, com a vigência da Lei nº. 11.648/2008,
203BRASIL, Supremo Tribunal Federal. ADI n. 4067. Acompanhamento processual. Disponível em: < http://www.stf.jus.br/arquivo/cms/noticiaNoticiaStf/anexo/ADI4067ER.pdf Acesso em: 28 de out. 2011. 204BRASIL, Supremo Tribunal Federal. ADI n. 4067. Acompanhamento processual. Disponível em: < http://www.stf.jus.br/arquivo/cms/noticiaNoticiaStf/anexo/ADI4067ER.pdf Acesso em: 28 de out. 2011. 205BRASIL, Supremo Tribunal Federal. ADI n. 4067. Acompanhamento processual. Disponível em: < http://www.stf.jus.br/arquivo/cms/noticiaNoticiaStf/anexo/ADI4067ER.pdf Acesso em: 28 de out. 2011.
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os requisitos ali expressos deverão ser preenchidos, caso contrário, as centrais são
extintas.206
A Constituição evidentemente não veda a instituição de entidades de representação coletiva de trabalhadores ao atribuir aos sindicatos, no seu artigo 8º, III, “a defesa dos direitos e interesses coletivos ou individuais da categoria”. Desse preceito não se pode retirar a assertiva de que somente a entidades vinculadas ao sistema sindical incumbirá atuar na defesa dos direitos e interesses dos trabalhadores. Que me seja permitido insistir em que as centrais sindicais estão voltadas, imediatamente, não à defesa dos direitos e interesses coletivos ou individuais de categorias, mas, tanto quanto possível no espaço nacional - e aqui há um salto qualitativo - à defesa de interesses de classe, interesses do trabalho. 207
Com relação as centrais sindicais de participarem de negociações em
fóruns, colegiados de órgãos públicos e demais espaços de diálogo social que
possuam composição tripartite, nos quais estejam em discussão assuntos de
interesse geral dos trabalhadores, o Ministro Eros Grau, em seu voto, acompanha o
Relator Ministro Joaquim Barbosa.208
Também concorda com o acima exposto o Ministro Marco Aurélio, pois
pugnou pela improcedência da ação, entendendo também que não há impedimento
para a criação de centrais sindicais e para a participação das mesmas em espaços
tripartites, pois, mesmo sem integrarem o sistema sindical, e por força do artigo 8º,
inciso II da Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, são entidades
associativas de representação da classe trabalhadora. 209
206BRASIL, Supremo Tribunal Federal. ADI n. 4067. Acompanhamento processual. Disponível em: < http://www.stf.jus.br/arquivo/cms/noticiaNoticiaStf/anexo/ADI4067ER.pdf Acesso em: 28 de out. 2011. 207
BRASIL, Supremo Tribunal Federal. ADI n. 4067. Acompanhamento processual. Disponível em: < http://www.stf.jus.br/arquivo/cms/noticiaNoticiaStf/anexo/ADI4067ER.pdf Acesso em: 28 de out. 2011. 208
BRASIL, Supremo Tribunal Federal. ADI n. 4067. Acompanhamento processual. Disponível em: < http://www.stf.jus.br/arquivo/cms/noticiaNoticiaStf/anexo/ADI4067ER.pdf Acesso em: 28 de out. 2011. 209
BRASIL, Supremo Tribunal Federal. ADI n. 4067. Acompanhamento processual. Disponível em: < http://www.stf.jus.br/arquivo/cms/noticiaNoticiaStf/anexo/ADI4067ER.pdf Acesso em: 29 de out. 2011.
65
3.2 DA INCONSTITUCIONALIDADE DO RECEBIMENTO, PELAS CENTRAIS
SINDICAIS DE PARTE DA CONTRIBUIÇÃO SINDICAL
A Lei nº.11648/08 modificou a redação do art. 589, II, “b”, e parágrafos 1º
e 2º da CLT no sentido de direcionar às centrais sindicais 10% de toda a
contribuição sindical obrigatória feita pelos trabalhadores.210
Para os democratas a contribuição sindical constitui um tipo de
contribuição chamada de parafiscal direcionada a financiar o interesse das
categorias profissionais, conforme art. 149 da Constituição. 211
Assim, entende o partido que, o que diferencia esta contribuição das
demais é justamente sua específica destinação, qual seja, o financiamento de
entidades sindicais.212
Desta forma, conforme a previsão constitucional é vedada a utilização dos
recursos provenientes da contribuição sindical para outra finalidade que não a
representação dos interesses da categoria profissional.213
O que o partido entende é que o dinheiro da contribuição sindical está
sendo direcionado a um ente que não tem como finalidade precípua a defesa dos
interesses da categoria laboral.214
As atribuições das centrais sindicais, segundo o Partido Democratas,
ultrapassa a noção de categorias profissionais. O próprio art. 1 da Lei nº.11648/2008
comprova que as funções das centrais afastam-se da representação específica dos
interesses das categorias profissionais.215
210 BRASIL. Supremo Tribunal Federal. ADI n. 4067. Peças eletrônicas. Disponível em:<http://redir.stf.jus.br/estfvisualizadorpub/jsp/consultarprocessoeletronico/ConsultarProcessoEletronico.jsf?seqobjetoincidente=2609348>. Acesso em: 29 de out. 2011. 211
BRASIL. Supremo Tribunal Federal. ADI n. 4067. Peças eletrônicas. Disponível em:<http://redir.stf.jus.br/estfvisualizadorpub/jsp/consultarprocessoeletronico/ConsultarProcessoEletronico.jsf?seqobjetoincidente=2609348>. Acesso em: 21 de out. 2011. 212
BRASIL. Supremo Tribunal Federal. ADI n. 4067. Peças eletrônicas. Disponível em:<http://redir.stf.jus.br/estfvisualizadorpub/jsp/consultarprocessoeletronico/ConsultarProcessoEletronico.jsf?seqobjetoincidente=2609348>. Acesso em: 29 de out. 2011. 213
BRASIL. Supremo Tribunal Federal. ADI n. 4067. Peças eletrônicas. Disponível em:<http://redir.stf.jus.br/estfvisualizadorpub/jsp/consultarprocessoeletronico/ConsultarProcessoEletronico.jsf?seqobjetoincidente=2609348>. Acesso em: 29 de out. 2011. 214
BRASIL. Supremo Tribunal Federal. ADI n. 4067. Peças eletrônicas. Disponível em:<http://redir.stf.jus.br/estfvisualizadorpub/jsp/consultarprocessoeletronico/ConsultarProcessoEletronico.jsf?seqobjetoincidente=2609348>. Acesso em: 29 de out. 2011. 215BRASIL. Supremo Tribunal Federal. ADI n. 4067. Peças eletrônicas. Disponível em:<http://redir.stf.jus.br/estfvisualizadorpub/jsp/consultarprocessoeletronico/ConsultarProcessoEletronico.jsf?seqobjetoincidente=2609348>. Acesso em: 29 de out. 2011.
66
Em conformidade com o texto da petição inicial da ação direta de
inconstitucionalidade aqui discutida: 216
Assim, destinar receita oriunda desta contribuição para atividades que não guardam relação direta com a categoria profissional a que pertence o contribuinte que a recolheu configura determinação legal destituída de fundamento na Constituição. Contraria o disposto no próprio art. 149 que estipula como finalidade da contribuição o interesse de categoria profissional de modo servir de instrumento de atuação nessa respectiva área,217
Segundo a petição inicial da ação proposta pelos Democratas, o fato de
não ter a destinação devida pode, inclusive, gerar a inexigibilidade do referido
tributo. Assim sendo, pode o contribuinte negar-se a pagá-lo, pois sua instituição não
respeitou a regra constitucional da destinação.218
Alega ainda o partido que o tributo serve para a manutenção financeira do
Estado a destinação do mesmo a entidades não estatais deve ser prevista na
constituição, como o é no caso da contribuição sindical, uma vez que a constituição
diz que ela deve ser direcionada às entidades sindicais.219
Desta forma, a previsão de que parcela da contribuição seja direcionada
ao Estado é constitucional, já no tocante ao direcionamento a uma entidade não
contemplada no texto constitucional torna o dispositivo legal inconstitucional (refere-
se o partido a alínea b, II, art. 589 da CLT).220
Em sendo assim, os demais dispositivos que possuem relação com a
contribuição sindical das centrais sindicais também devem ser considerados
inconstitucionais pelos mesmos motivos.221
216BRASIL. Supremo Tribunal Federal. ADI n. 4067. Peças eletrônicas. Disponível em:<http://redir.stf.jus.br/estfvisualizadorpub/jsp/consultarprocessoeletronico/ConsultarProcessoEletronico.jsf?seqobjetoincidente=2609348>. Acesso em: 29 de out. 2011. 217
BRASIL. Supremo Tribunal Federal. ADI 4067. Peças eletrônicas. Disponível em:<http://redir.stf.jus.br/estfvisualizadorpub/jsp/consultarprocessoeletronico/ConsultarProcessoEletronico.jsf?seqobjetoincidente=2609348>. Acesso em: 29 de out. 2011. 218
BRASIL. Supremo Tribunal Federal. ADI 4067. Peças eletrônicas. Disponível em:<http://redir.stf.jus.br/estfvisualizadorpub/jsp/consultarprocessoeletronico/ConsultarProcessoEletronico.jsf?seqobjetoincidente=2609348>. Acesso em: 29 de out. 2011. 219
BRASIL. Supremo Tribunal Federal. ADI n. 4067. Peças eletrônicas. Disponível em:<http://redir.stf.jus.br/estfvisualizadorpub/jsp/consultarprocessoeletronico/ConsultarProcessoEletronico.jsf?seqobjetoincidente=2609348>. Acesso em: 29 de out. 2011. 220
BRASIL. Supremo Tribunal Federal. ADI n. 4067. Peças eletrônicas. Disponível em:<http://redir.stf.jus.br/estfvisualizadorpub/jsp/consultarprocessoeletronico/ConsultarProcessoEletronico.jsf?seqobjetoincidente=2609348>. Acesso em: 29 de out. 2011. 221
BRASIL. Supremo Tribunal Federal. ADI n. 4067. Peças eletrônicas. Disponível em:<http://redir.stf.jus.br/estfvisualizadorpub/jsp/consultarprocessoeletronico/ConsultarProcessoEletronico.jsf?seqobjetoincidente=2609348>. Acesso em: 29de out. 2011.
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A Procuradoria Geral da União, também se posicionou favorável a
constitucionalidade dos arts. 589, II, “b”, e parágrafos 1º e 2º, e do art. 593 da CLT
pelas seguintes razões.
As centrais sindicais passaram a receber o quantitativo de 10% da
arrecadação da contribuição sindical, com a modificação do arts. 589, II, “b” pelo art.
5º da Lei nº. 11.648/2008. A Procuradoria Geral da União defende que as centrais
sindicais ao cuidar dos interesses das categorias profissionais tem direito a receber
o percentual contributivo como os sindicatos, as federações a as confederações. 222
Ademais, o art. 149223 da Constituição da Republica Federativa do Brasil
de 1988 não impõe a destinação de recursos tributários a entidades especificas,
mas vincula aos interesses das categorias. Como as centrais são compostas por
organizações sindicais voltada a lutar pela promoção dos interesses profissionais, a
contribuição é devida.
A referida lei não diminuiu o credito tributário das demais entidades
sindicais, permanecendo o mesmo percentual. Apenas houve uma alteração no
sentido de reforçar o papel desempenhado pelos sindicatos na proteção do
trabalhador. Neste sentido, cabe aos sindicatos indicarem ao Ministério do Trabalho
e Emprego qual central sindical a ele filiado que deverá ser beneficiada com o
recurso contributivo (art. 5º, § 1 da Lei n. 11.648/2008). Por estes motivos, a
Procuradoria Geral da União entendeu ser em constitucionais o art. 589, II, “b”, e
parágrafos 1º e 2º, bem como o art. 593 da CLT, com a nova redação atribuída pelo
art. 5º da lei n. 11.648/2008 e manifestou-se pela improcedência do pedido.224
Já a Procuradoria Geral da República concorda parcialmente com relação
a contribuição, por ser um tributo voltado para a manutenção da representação
sindical propriamente dita. O Procurador considera que as centrais sindicais não têm
222BRASIL. Supremo Tribunal Federal. ADI n. 4067. Peças eletrônicas. Disponível em:<http://redir.stf.jus.br/estfvisualizadorpub/jsp/consultarprocessoeletronico/ConsultarProcessoEletronico.jsf?seqobjetoincidente=2609348. Acesso em 29 out. 2011. 223
BRASIL, Constituição Federativa da República do Brasil de 1988. Art. 149. Compete exclusivamente à União instituir contribuições sociais, de intervenção no domínio econômico e de interesse das categorias profissionais ou econômicas, como instrumento de sua atuação nas respectivas áreas, observado o disposto nos arts. 146, III, e 150, I e III, e sem prejuízo do previsto no art. 195, § 6º, relativamente às contribuições a que alude o dispositivo.. Ao sindicato cabe a defesa dos direitos e interesses coletivos ou individuais da categoria, inclusive em questões judiciais ou administrativas. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constitui%C3%A7ao.htm> Acesso em: 29 out. 2011. 224
BRASIL. Supremo Tribunal Federal. ADI n. 4067. Peças eletrônicas. Disponível em:<http://redir.stf.jus.br/estfvisualizadorpub/jsp/consultarprocessoeletronico/ConsultarProcessoEletronico.jsf?seqobjetoincidente=2609348. Acesso em: 28 out. 2011.
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direito à contribuição compulsória destinada ao custeio do sistema confederativo de
representação sindical. Além disso, “não há respaldo constitucional para que certa
associação seja contemplada com contribuições de caráter compulsório, uma vez
que tal situação caracteriza, em última análise, filiação compulsória, vedada pelo
princípio da liberdade de associação”. E “a organização sindical, como estruturada
na Lei Fundamental, recusa que alteração dessa amplitude seja intermediada por
legislação ordinária”. 225
Com relação ao art. 589, II, “b” da CLT, entende que deve ser julgado
procedente o pedido pelo fato de que a Lei 11.648/2008 modificou o percentual
constante nas demais alíneas deste inciso. E se a alínea “b” for retirada, não se
sabe para onde que iria o 10% da arrecadação relativa à contribuição dos
trabalhadores. E neste vértice, há de se declarar inconstitucional ambos os incisos
inseridos pela Lei 11.648/2008 no art. 598 da CLT, assim como à alteração
promovida no art. 591. Também deverão ser declarados inconstitucionais os
parágrafos 1º e 2º do art. 589 da CLT, a expressão “ou central sindical” constante do
parágrafo do 3º e o parágrafo 4º do art. 590 da CLT, além do parágrafo único e da
expressão “e as centrais sindicais” constante do caput do art. 593 da CLT, dada a
relação de dependência guardada com o dispositivo tido por inconstitucional. 226
Contudo, a Procuradoria teve o seguinte parecer:
O parecer é pela parcial procedência da ação para que se declare a inconstitucionalidade da integralidade das modificações efetuadas pela Lei 11.648/08 dos arts. 589 e 593 da CLT da expressão “ou central sindical’ contida no § 3 e do §4 do art. 590 bem como da expressão “e as centrais sindicais” constante no caput do artigo 593 e de seu parágrafo único227.
O voto do Ministro e Relator Joaquim Barbosa, considerou ser inconstitucional
as modificações efetuadas pela Lei nº. 11.648/2008 nos arts. 589 e 591 da CLT, da
expressão "ou central sindical’ contida no § 3º e do § 4º do art. 590, bem como da
225
BRASIL. Supremo Tribunal Federal. ADI n. 4067. Peças eletrônicas. Disponível em:<http://redir.stf.jus.br/estfvisualizadorpub/jsp/consultarprocessoeletronico/ConsultarProcessoEletronico.jsf?seqobjetoincidente=2609348>. Acesso em: 29 de out. 2011. 226
BRASIL. Supremo Tribunal Federal. ADI n. 4067. Peças eletrônicas. Disponível em: < http://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=TP&docID=440782#8%20-%20Manifesta%E7%E3o%20da%20PGR>. Acesso em: 29 de out. 2011 227
BRASIL. Supremo Tribunal Federal. ADI n. 4067. Peças eletrônicas. Disponível em: < http://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=TP&docID=440782#8%20-%20Manifesta%E7%E3o%20da%20PGR>. Acesso em: 29 de out. 2011.
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expressão ‘e às centrais sindicais’ constante do caput do art. 593 e de seu parágrafo
único.228
Conforme já exposto anteriormente, o Ministro Marco Aurélio, entendeu
que não há impedimento para a criação das centrais sindicais e para sua
participação em órgãos de composição tripartite, sendo elas entidades associativas
de representação da classe trabalhadora, podendo então ocupar a posição de
sujeito ativo da contribuição sindical, e, portanto, fazem jus a receber o percentual
do recurso. 229
Com relação à alegação da inconstitucionalidade das centrais sindicais de
receberem contribuição sindical, o Ministro Eros Graus230 em seu voto acompanhou
a divergência elencado pelo eminente Ministro Marco Aurélio.
O “imposto sindical”, instituído pelo decreto lei n. 5.452, de 1º de maio de 1943 - CLT -, passou a ser chamado de “contribuição sindical” por força do disposto no decreto-lei n. 27, de 14 de novembro de 1966. A exação foi recebida pela Constituição de 1988, não sendo possível, contudo, entendermos que as contribuições de interesse das “categorias profissionais” a que respeita o seu artigo 149 teriam destinação restrita ao sistema sindical. A Constituição de 1988 não é para ser interpretada à luz da CLT e do corporativismo que a inspirou quando da instituição da exação.231
Neste sentido, a contribuição sindical, conforme disposto no artigo 149 da
Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 define, a prover o interesse
de “categorias profissionais ou econômicas”, permitindo que trabalhadores se
organizem em entidades associativas, não necessariamente sindicais.232
Acerca do percentual de 10% destinado as centrais sindicais, não
prejudicaram os percentuais destinados aos sindicatos, federações e confederações.
O que ocorreu foi uma divisão do que anteriormente era destinado à “Conta Especial
Emprego e Salário”, da União, reduzida de 20% para 10%. A União, que possuía
aquele percentual dos recursos, tem a competência tributária para instituir a
228BRASIL, Supremo Tribunal Federal. ADI n. 4067. Andamento processual. Disponível em: < http://www.stf.jus.br/arquivo/cms/noticiaNoticiaStf/anexo/ADI4067ER.pdf Acesso em: 29 de out. 2011. 229
BRASIL, Supremo Tribunal Federal. ADI n. 4067. Andamento processual. Disponível em: < http://www.stf.jus.br/arquivo/cms/noticiaNoticiaStf/anexo/ADI4067ER.pdf Acesso em: 29 de out. 2011. 230
BRASIL, Supremo Tribunal Federal. ADI n. 4067. Andamento processual. Disponível em: < http://www.stf.jus.br/arquivo/cms/noticiaNoticiaStf/anexo/ADI4067ER.pdf Acesso em: 29 de out. 2011. 231
BRASIL, Supremo Tribunal Federal. ADI n. 4067. Andamento processual. Disponível em: < http://www.stf.jus.br/arquivo/cms/noticiaNoticiaStf/anexo/ADI4067ER.pdf Acesso em: 29 de out. 2011. 232BRASIL, Supremo Tribunal Federal. ADI n. 4067. Andamento processual. Disponível em: < http://www.stf.jus.br/arquivo/cms/noticiaNoticiaStf/anexo/ADI4067ER.pdf Acesso em: 29 de out. 2011.
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contribuição, e por isso é permitido destinar parte desses recursos às centrais
sindicais. 233
Reconhecidas como entidades associativas representativas da classe trabalhadora, ao autorizar a inclusão das centrais sindicais entre os sujeitos ativos da contribuição sindical a lei ordinária não desvirtua, em nada e por nada, a finalidade, da exação, delineada na Constituição. A leitura do parágrafo único do artigo 593 da CLT não deixa margem a qualquer dúvida: “[o]s recursos destinados às centrais sindicais deverão ser utilizados no custeio das atividades de representação geral dos trabalhadores decorrentes de suas atribuições legais”.234
Seguindo, neste posicionamento, a ministra Carmem Lucia também
acompanhou a divergência arguida pelo Ministro Marco Aurélio.235
Já os Ministros: Cezar Peluso, e Ricardo Lewandowski, acompanharam o
voto do Relator Joaquim Barbosa, e são contrários a destinação do percentual da
contribuição sindical às centrais sindicais.
A ação encontra-se no Gabinete do Ministro Ayres Britto, em decorrência
do seu pedido de vista (com 3 volumes e 1 juntada por linha) e teve sua ultima
movimentação em 08/02/2011.236
Decisão: Após a confirmação de voto do Relator e o voto do Senhor Ministro Marco Aurélio, agora reajustado, para acompanhar os dos Senhores Ministros Cármen Lúcia e Eros Grau, pediu vista dos autos o Senhor Ministro Ayres Britto. Presidência do Senhor Ministro Gilmar Mendes. Plenário, 10.03.2010237.
Até o momento não há data prevista para o julgamento da ação. Uma vez
expostas as manifestações, pareceres e votos da ADIn nº. 4067, quanto à suposta
ofensa a normas constitucionais, passa-se à discussão doutrinária acerca da (in)
constitucionalidade do dispositivo pesquisado.
233
BRASIL, Supremo Tribunal Federal. ADI n. 4067. Andamento processual. Disponível em: < http://www.stf.jus.br/arquivo/cms/noticiaNoticiaStf/anexo/ADI4067ER.pdf Acesso em: 29 de out. 2011. 234
BRASIL, Supremo Tribunal Federal. ADI n. 4067. Andamento processual. Disponível em: < http://www.stf.jus.br/arquivo/cms/noticiaNoticiaStf/anexo/ADI4067ER.pdf Acesso em: 29 de out. 2011. 235
BRASIL, Supremo Tribunal Federal. ADI n. 4067. Andamento processual. Disponível em: < http://www.stf.jus.br/arquivo/cms/noticiaNoticiaStf/anexo/ADI4067ER.pdf Acesso em: 29 de out. 2011. 236 BRASIL, Supremo Tribunal Federal. ADI n. 4067. Andamento processual. Disponível em: < http://www.stf.jus.br/arquivo/cms/noticiaNoticiaStf/anexo/ADI4067ER.pdf Acesso em: 29 de out. 2011. 237 BRASIL. Supremo Tribunal Federal. ADI n. 4067. Peça eletrônica. Disponível em:<http://redir.stf.jus.br/estfvisualizadorpub/jsp/consultarprocessoeletronico/ConsultarProcessoEletronico.jsf?seqobjetoincidente=2609348>. Acesso em: 29 de out. 2011.
71
3.3 OS POSICIONAMENTOS DOUTRINÁRIOS ACERCA DA (IN)
CONSTITUCIONALIDADE DA LEI Nº.11.608/2008
No tocante ao posicionamento doutrinário pesquisado, acerca da Lei
nº.11608/2008, verifica-se que há entendimento pela constitucionalidade, como reza
César Augusto Pires citando a opinião de Nascimento:
Segundo Nascimento (2008, p. 266 e 267), há motivos para afastar a inconstitucionalidade da legalização das Centrais, o sistema confederativo não proíbe a criação de Centrais, somando isso ao princípio da liberdade sindical previsto na Constituição Federal de 1988 em seu artigo 8º, e também porque a legalização das Centrais em nada afeta as entidades sindicais menores, e sendo uma tendência do sindicalismo moderno de admitir Centrais Sindicais.238
As centrais sindicais encontram-se amparadas legalmente pelo caput do
art. 8º, da Constituição da Republica Federativa do Brasil de 1988, ao assegurar a
liberdade de associação profissional e apesar de não constituírem uma organização
sindical, em razão da vedação expressa no inciso II, do mesmo diploma, são
associações profissionais, ou seja, a existência destas entidades é compatível com
os ditames constitucionais.239
Amauri Mascaro Nascimento aponta cinco teses para fundamentar a
constitucionalidade da Lei nº. 11.648/2008:
Primeiro, o sistema brasileiro confederativo não proíbe a criação de Centrais. Situam-se acima das Confederações. Mas onde a lei não proíbe não é dado ao intérprete proibir. Some-se , a isso, o princípio da liberdade sindical previsto na Constituição de 1988(CF art. 8º) e que limita a criação de mais de uma organização sindical representativa de uma categoria em qualquer grau. O princípio é válido para as Confederações, Federações e Sindicatos, mas não é válido para as Centrais porque não representam uma categoria.
Segundo, a interpretação do art. 8º, IV. Aponta as fontes de custeio do sistema confederativo. Não tem por fim estabelecer o modelo de organização acima das confederações. Sob esta perspectiva, pode-se dizer que os recursos financeiros previstos pela Lei Maior é que são voltados para o financiamento do sistema confederativo, mas não que sejam proibidas entidades acima das confederações.
238PIRES, César Augusto. A legalização das centrais sindicais e seu financiamento. Disponível em:<http://www.calvo.pro.br/media/file/colaboradores/cesar_pires/cesar_pires_legalizacao_das_centrais.pdf>. Acesso em: 29 de out. 2011. 239MACIEL, José Alberto Couto. Curso de direito coletivo do trabalho. São Paulo: LTr, 1998, p. 130.
72
Terceiro, a conexidade entre as Centrais e o sistema confederativo. Estamos convencidos que há uma vinculação estreita na pirâmide, apesar da sua construção gradativa. Não como negar a relação entre as Centrais e as organizações sindicais que estão abaixo das mesmas nem entre os trabalhadores sócios dos sindicatos no território nacional e as Centrais. Daí ser possível dizer que as Centrais são organizações conexas ao sistema confederativo, pela sua natureza, atribuições e finalidade. São associações supra-categoriais, mas o seu embrião forma-se na estrutura sindical que as suporta e nesse sentido é que se exige prova da sua consistência numérica, das categorias e bases territoriais dos sindicatos que à mesma são filiados, como fatores de medição da sua representatividade.
Quarto, porque a legalização das Centrais em nada afeta as entidades sindicais de níveis menores uma vez que as alterações deram-se na cúpula do sistema sindical de trabalhadores sem modificar a organização que está abaixo da cúpula intercategorial. Nada impede um modelo sindical híbrido. Exemplifique-se como o norteamericano, de unicidade sindical na empresa e pluralidade sindical em outros níveis. O nosso modelo é híbrido também, de pluralidade sindical de cúpula e de unicidade sindical na base.
Quinto, porque toda a tendência do sindicalismo moderno é no sentido de admitir Centrais sindicais, em outros países com esse nome ou o de Confederações ou Uniões. Com o tempo será possível sentir até que ponto as Centrais terão reflexos sobre as nossas Confederações ou se estas tenderão a se transformarem em Centrais, mas para esse fim terão que desistir da representação de uma categoria e passar a representar os interesses gerais dos trabalhadores de mais de uma categoria. 240
Para os defensores das centrais sindicais, sua legalização foi uma atitude
correta por parte do legislador, sendo equilibrada e não enfraqueceu as bases
sindicais. 241 A lei não integrou as centrais sindicais na estrutura do sistema sindical
brasileiro, permanecendo o sistema confederativo. Por representar os interesses
gerais dos trabalhadores de diversas categorias a sua legalização não é
inconstitucional.242
As centrais sindicais impuseram a sua participação nas relações políticas
e econômicas como agente mediador, envolvendo os interesses gerais dos
trabalhadores e governo, por entenderem não ser suficiente o trabalho desenvolvido
pelas confederações. Entendem os doutrinadores que a defendem que, por não
240NASCIMENTO, Amauri Mascaro. As centrais sindicais e as modificações de 2008. LTr Suplemento Trabalhista. São Paulo, v.44, n.045, p. 222, 2008. 241 NASCIMENTO, Amauri Mascaro. As centrais sindicais e as modificações de 2008. LTr Suplemento Trabalhista. São Paulo, v.44, n.045, p. 227, 2008. 242SANTOS JUNIOR, Aloísio Cristovam dos. O reconhecimento formal das centrais sindicais pela Lei nº 11648, de 31 de março de 2008, e o principio constitucional da unicidade sindical. DT. Decisório Trabalhista. Curitiba, n.135, p. 4459, maio 2008.
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haver legislação impedindo que os trabalhadores se organizarem em entidades
sindicais de cúpula, como as centrais sindicais, tal organização passou a existir de
maneira natural. As centrais desta maneira, não são incompatíveis com o Sistema
Confederativo, pois desenvolvem um trabalho condizente com o princípio
constitucional da auto-organização, fazendo com que integrassem no sistema
jurídico pátrio. Pelo fato de sempre demonstrar um bom relacionamento no sistema
sindical, não há, portanto incompatibilidade e assim tem uma boa aceitação na
ordem jurídica, como entidades de representação geral dos trabalhadores.243
Com relação a ADIn nº.4067, o Cesar Augusto de Melo assevera que:
A lei 11.648/08 não veio ampliar a função de representação e negocial dos Sindicatos para as Centrais, mas tão somente atribuir a essas a “coordenação da representação dos trabalhadores por meio das organizações sindicais a ela filiadas”. A função coordenadora difere frontalmente da função de representação. Também no que se refere à utilização dos recursos advindos da contribuição sindical, não há que se falar em inconstitucionalidade, pois as ações a serem promovidas pelas Centrais implicam diretamente interesses de toda classe trabalhadora, em nada contrariando a Carta Maior, pois sua constituição não ultrapassa a noção de categorias profissionais ínsita à própria natureza sindical da contribuição. As Centrais já foram inicialmente reconhecidas pelos trabalhadores, os maiores interessados, e posteriormente pelo Congresso Nacional que cumpriu seu papel e decretou a Lei, que foi sancionada pelo Presidente. 244
Por estes motivos, o autor acima citado entende que a ação deverá ser
julgada procedente pelo Supremo Tribunal Federal.245 “A lei não nos parece ser
violadora do texto constitucional, nem contraria ao ordenamento jurídico.”246
Já Sérgio Pinto Martins, protesta pela inconstitucionalidade do dispositivo
pelo fato das centrais sindicais não serem entidades sindicais aptas a representar a
categoria em juízo ou fora dele, em consonância com o inciso III do art. 8º da
Constituição da Republica Federativa do Brasil de 1988. Neste ponto é
inconstitucional o inciso I do art. 1º da Lei nº 11648/2008, pois a central fará a
representação dos trabalhadores da categoria, sem ter previsão constitucional. A
243MELLO, César Augusto de. O reconhecimento formal das centrais sindicais. Disponível em: <http://www.fequimfar.org.br/juridico.html>. Acesso em:02 de nov. 2011. 244MELLO, César Augusto de. O reconhecimento formal das centrais sindicais. Disponível em: <http://www.fequimfar.org.br/juridico.html>. Acesso em:02 de nov. 2011. 245MELLO, César Augusto de. O reconhecimento formal das centrais sindicais. Disponível em: <http://www.fequimfar.org.br/juridico.html>. Acesso em:02 de nov. 2011. 246BRITO FILHO, José Cláudio Monteiro de. As centrais sindicais e a Lei nº 11648/2008. LTr Suplemento Trabalhista. São Paulo, v.44, n.069, p. 335-340, 2008.
74
central sindical apenas representa os sindicatos de trabalhadores a ele filiados, e
não os trabalhadores.247
Neste sentido, pelo fato das centrais sindicais não serem sindicatos e não
poderem representar os trabalhadores em juízo, conforme disposto no art. 8º, inciso
III da Constituição da Republica Federativa do Brasil de 1988, a lei 11.648/2008 é
inconstitucional no seu aspecto formal e tal atribuição não pode ser delegada por lei
ordinária.248
Inconstitucional ainda porque acaba por criar sistema hibrido, pluralista na cúpula e unitário da base, o que não se compatibiliza com o modelo sindical constitucional que é confederativo, afrontando e negando vigência ao modelo constitucional. Inconstitucional também porque estão as Centrais Sindicais sujeitas, em seus artigos 3º e 4º, ao controle de aferição dos requisitos de representatividade de que trata o art. 2º da lei de sua criação e que será realizada pelo Ministério do Trabalho e Emprego, vale dizer pelo Estado, o que fere o principio da liberdade sindical e da não interferência preconizado no art. 8º da Constituição Federal.249
No que tange as centrais sindicais receberem uma parcela das
contribuições sindicais, Ivan Carlos Salles entende que a legislação aqui estudada é
inconstitucional pelos seguintes preceitos:
Igualmente inconstitucional porquanto partilha, ao talante da lei ordinária, contribuição de natureza tributária destinada ao financiamento de atividades sindicais, com repasse de parte dessa arrecadação (mesmo que destinada ao Estado – Ministério do Trabalho e Emprego) para financiamento das centrais sindicais, ou seja, dando-lhe destino diverso daquele constitucionalmente definido.250
Ademais, outros doutrinadores como Luiz Antonio Grisard e Eduardo
Milléo Baracat, também discordam da criação da Lei 11.648/2008 por entenderem
que ela traz benefícios apenas para as centrais sindicais, que passaram a receber
247MARTINS, Sergio Pinto. Centrais sindicais. Ltr Suplemento Trabalhista. São Paulo, v. 26, n. 1256, p. 19, 2009. 248
SALLES, Ivan Carlos. Breves considerações sobre as centrais sindicais,
introduzidas no Brasil pela lei nº. 11.648/08, de 30 de março de 2008. Disponível em<
http://icsalles.wordpress.com/2010/06/07/centrais-sindicais-no-brasil-artigo/>. Acesso em: 02 de nov. 20111. 249SALLES, Ivan Carlos. Breves considerações sobre as centrais sindicais, introduzidas no Brasil pela lei nº. 11.648/08, de 30 de março de 2008. Disponível em< http://icsalles.wordpress.com/2010/06/07/centrais-sindicais-no-brasil-artigo/>. Acesso em: 02 de nov. 2011. 250
SALLES, Ivan Carlos. Breves considerações sobre as centrais sindicais,
introduzidas no Brasil pela lei nº. 11.648/08, de 30 de março de 2008. Disponível em< http://icsalles.wordpress.com/2010/06/07/centrais-sindicais-no-brasil-artigo/>. Acesso em: 02 de nov. 2011.
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recursos financeiros e maior posição no cenário político, segundo ela a legislação
“[...] agravou o que já era crítico: concedeu reconhecimento às Centrais Sindicais,
dando-lhes as prerrogativas, nos termos do artigo 1º da Lei”.251 As centrais sindicais
passarão a ter mais força política e financeira com o repassa da receita
contributiva.252
3.4 A INCONSTITUCIONALIDADE DO FATO DAS CENTRAIS SINDICAIS
PODEREM DISPOR DE SUA RECEITA SEM A DEVIDA FISCALIZAÇÃO
Verificou-se que enquanto a lei tramitava no Senado Federal, surgiram
muitas polêmicas acerca da posição do então Presidente da Republica Luiz Inácio
Lula da Silva que vetou o artigo 6° do projeto de lei.
O art. 6° tinha a seguinte redação:
Os sindicatos, as federações e as confederações das categorias econômicas ou profissionais ou das profissões liberais e as centrais sindicais deverão prestar contas ao Tribunal de Contas da União sobre a aplicação dos recursos provenientes das contribuições de interesse das categorias profissionais ou econômicas, de que trata o art.149 da Constituição Federal, e de outros recursos públicos que porventura venham a receber253
A justificativa para o veto ao artigo supracitado se baseou nos termos do
§ 1o do art. 66 da Constituição, e assim decidiu vetar por inconstitucionalidade.
Vejamos as razões do veto:
O art. 6º viola o inciso I do art. 8o da Constituição da República, porque estabelece a obrigatoriedade dos sindicatos, das federações, das confederações e das centrais sindicais prestarem contas ao Tribunal de Contas da União sobre a aplicação dos recursos provenientes da contribuição sindical. Isto porque a Constituição veda ao Poder Público a interferência e a intervenção na organização
251
GRISARD, Luiz Antonio. BARACAT, Eduardo Milléo. Centrais sindicais: representação, legitimidade e representatividade após a Lei nº 11.648/2008. In: Âmbito Jurídico, Rio Grande, 91, 01/08/2011 [Internet]. Disponível em: <http://www.ambito-juridico.com.br/site/index.php?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=10001>. Acesso em: 02 de nov. 2011. 252
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sindical, em face o princípio da autonomia sindical, o qual sustenta a garantia de autogestão às organizações associativas e sindicais254.
Encontramos correntes doutrinárias que são favoráveis ao
posicionamento exposto no veto, pelos seguintes aspectos:
Não é inconstitucional o veto do Presidente da Republica no sentido da fiscalização pelo Tribunal de Contas da União no sindicato. O artigo vetado implicaria interferência do Estado no sindicato, o que é vedado pelo inciso I do art. 8º da Lei Magna. O sindicato tem natureza privada, não se justificando a fiscalização do TCU. O certo seria a lei obrigar as entidades sindicais a apresentarem suas contas na Internet, de forma detalhada, para que todos pudessem fiscalizá-la255.
Para Warth, o Estado não pode interferir nas entidades sindicais pelo
seguinte motivo:
A liberdade e a autonomia das centrais sindicais são uma conquista da democracia, já que, na ditadura militar, as entidades eram fiscalizadas e sofriam intervenção do Ministério do Trabalho. O veto é o respeito à Constituição de 1988, que diz que as entidades sindicais não devem sofrer interferência do Estado. As centrais devem ser fiscalizadas como os sindicatos – pelos trabalhadores, por seus próprios conselhos fiscais e pelo Ministério Público, em caso de requerimento ou denúncia de desvio 256
Para Britto, defende a autonomia das centrais sindicais e não concorda
que o Ministério do Trabalho e o Tribunal de Contas da União devam fiscalizá-la,
sendo este o papel atribuído aos trabalhadores:
Nunca os sindicatos tiveram que se submeter ao ministério do Trabalho ou ao TCU, pois quem deve fiscalizar os sindicatos são os próprios trabalhadores. Da mesma forma ocorre com a OAB. Os que defendem a submissão da Ordem ao TCU buscam, na verdade, atingir a sua autonomia e colocar uma mordaça na entidade representativa da sociedade civil257.
Porém, outra corrente doutrinária, como Souza, entende que deveria sim
haver a fiscalização do TCU nas contas das entidades sindicais:
254BRASIL, Mensagem nº 139, de 31 de março de 2008. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2008/msg/vep-139-08.htm>. Acesso em: 30 de out. 2011. 255MARTINS, Sergio Pinto. Centrais sindicais. LTr. Suplemento Trabalhista. São Paulo. v. 26, n. 1256, p. 19, 2009. 256WARTH, Anne. Marinho. Defende veto de Lula a fiscalização de centrais. Disponível em: < http://www.estadao.com.br/noticias/nacional,marinho-defende-veto-de-lula-a-fiscalizacao-de-centrais,151395,0.htm> acesso em: 28 de out. 2011. 257BRITTO, Cezar. Cezar Britto: OAB e sindicatos não podem sofrer mordaça. Disponível em: < http://www.oab.org.br/noticia.asp?id=13079> acesso em; 29 de out. 2011.
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No que tange a aferição das contas, não se entende como restrição de liberdade a prestação de contas ao Tribunal competente relativamente aos recursos públicos arrecadados pelas entidades sindicais, pelo contrario, isso dá credibilidade às Instituições. Por essa razão crê-se que o veto ao art. 6º da lei, deveria ter sido fruto de um estudo mais acurado, com maturidade, dando maior seriedade à arrecadação ao destino do dinheiro publico, pois afinal a contribuição é fruto do labor exercido pelos trabalhadores.
As centrais sindicais no Brasil, não fazem parte do sistema confederativo, são entidades de direito privado, regidas pelas leis civis, o que corrobora o nosso entendimento de que deveriam prestar contas sobre as arrecadações doas contribuições sindicais ao Tribunal competente, isto é, o Tribunal de Contas258.
Pelo exposto, constata-se que, após a vigência da Lei n. 11.648/2008 que
reconheceu legalmente as centrais sindicais como entidades de representação dos
trabalhadores, surgiu uma ação direta de inconstitucionalidade com a alegação de
ser ilegal as centrais sindicais receberem parcela da contribuição sindical. Verifica-se
que já houve votos dos ministros do STF, Joaquim Barbosa, Cezar Peluso e Ricardo
Lewandowski, que votaram pelo provimento parcial da ADIn e não concordam com a
destinação do dinheiro às centrais sindicais. O ministro Marco Aurélio, Carmem
Lucia e Eros Grau entenderam que as centrais poderão receber os recursos da
contribuição sindical proveniente dos trabalhadores. Ademais, outra discussão
elencada diz respeito a fiscalização dos recursos repassados às centrais pelo TCU,
sendo vetada pelo Presidente da República Luis Inácio Lula da Silva, ocasionando
assim, divergência doutrinária acerca do tema. Viu-se que para alguns doutrinadores
não cabe a fiscalização dos recursos pelo fato das centrais estarem em consonância
com o principio constitucional da autonomia sindical. Já para outros doutrinados,
deverá haver a intervenção do Estado na fiscalização destes recursos, pois dizem
respeito ao trabalhador.
Ainda no âmbito doutrinário pesquisado, permanece a posição majoritária
pela a constitucionalidade da contribuição sindical para as centrais sindicais, sendo
que muitos autores não concordam com a ADIn n. 4067, consideram que não há
violação aos princípios constitucionais e, por outro lado, há também há corrente que
corrobora com os fundamentos ensejados na referida ação. Com relação ao
andamento da ADIn, até o presente momento, os votos estão empatados, com três
votos favoráveis e três contrários a ela. A ação encontra-se com vistas ao ministro 258SOUZA, Zoraide Amaral de. Centrais sindicais reconhecimento, comentários à Lei nº. 11648, de 31 de março de 2008. LTr Suplemento Trabalhista. São Paulo, v. 44, n. 102, p. 513, 2008.
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Eros Grau, faltando votar quatro ministros. O ministro Jose Antonio Dias Toffoli
declarou-se impedido de votar, pois se posicionou contrario à ação quando ocupava
o cargo de Advogado Geral da União.259
259BRASIL. Supremo Tribunal Federal. ADI n. 4067. Peça eletrônica. Disponível em:<http://redir.stf.jus.br/estfvisualizadorpub/jsp/consultarprocessoeletronico/ConsultarProcessoEletronico.jsf?seqobjetoincidente=2609348>. Acesso em: 28 de out. 2011.
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CONCLUSÃO
As contribuições sindicais destinadas para as centrais sindicais, inserida
pela Lei nº. 11.648/2008, levanta inúmeros questionamentos em sede de doutrina e
jurisprudência acerca da sua aplicabilidade, ante a suposta inconstitucionalidade
provocada pela ADIn nº. 4067.
Deste modo, pôde-se verificar no primeiro capitulo, como se compõe a
organização sindical. Viu-se que ela acata o principio constitucional da liberdade
sindical. A liberdade sindical por sua vez, possui um conteúdo muito extenso, sendo
regulado basicamente pela Organização Internacional do Trabalho. Consiste na
liberdade do trabalhador poder escolher qual entidade sindical tem interesse em se
filiar ou não, sem que haja qualquer tipo de discriminação por parte do empregador.
Dentre os modelos de regulação jurídica da liberdade sindical, verificou-se
que em nosso sistema, prevalece a unicidade sindical. Esta organização deve levar
em consideração que o sistema é organizado por categoria, limitada por uma base
territorial mínima, respeitando o princípio da unicidade sindical.
Ademais, este sistema sindical é formado por entidades que representam
os trabalhadores, como os sindicatos, federações e confederações.
Alem disso encontramos as centrais sindicais que, durante muitos anos
se tentou sua regulação. Porem com a vigência da Lei nº. 11.648/2008, ela passou a
ser formalmente denominada como um órgão de representação geral de
trabalhadores, formado por entidades associativas de direito privado compostas por
organizações sindicais de trabalhadores.
Percebe-se que há uma grande discussão acerca da doutrina por
entender que as centrais sindicais integram ao sistema confederativo, representando
os trabalhadores, através da liberdade de associação, e que não há nada que proíba
sua atuação. Por outro lado, encontram-se os que não concordam, por não haver
espaço para elas no ordenamento jurídico, e por não adotarmos o principio da
pluralidade sindical. Se assim procedesse, estariam acima da pirâmide confederativa
constitucional.
Com a referida lei, as centrais passaram obrigatoriamente a preencherem
requisitos para sua atuação e se assim não proceder, serão extintos. A lei dentro do
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contexto de liberdade sindical, frisou que não poderá haver concorrência com os
sindicatos, desempenhando apenas um papel de articulador, negociador.
Apesar dos diferentes questionamentos doutrinários, percebe-se que as
centrais sindicais vêm desempenhando um papel político, satisfazendo
determinados interesses e não o social. Dentre varias centrais sindicais existentes, as
que mais se destacam, no meu entender, são a CUT, Força Sindical, UGT até porque
no meio das comunicações, são as que mais expressam sua força representativa.
No segundo capitulo houve a necessidade de conceituarmos as principais
espécies de tributos existentes em nosso sistema para que pudéssemos
compreender como as entidades sindicais se estruturam financeiramente.
A arrecadação financeira para os cofres públicos são feitos via tributos,
previsto em lei e obrigatória a todo o cidadão. Alem de arrecadar recursos
financeiros, tem a finalidade de regular determinados comportamentos em razão da
economia, do aspecto social, dentre outros.
O Brasil regulou varias espécies de tributos, dentre os principais, se
destacou os impostos, as taxas e as contribuições. Sendo as contribuições a que
mais interessa nesta pesquisa, pelo fato de compreendermos como as entidades
sindicais se firmam pela distribuição destas contribuições.
As entidades sindicais para efetuarem seus trabalhos dependem do
repasse de contribuições que poderão ser obrigatórias ou facultativas. A que mais
beneficia são as contribuições obrigatórias tendo em vista que há milhares de
trabalhadores e consequentemente há uma grande quantidade financeira
arrecadada. O rateio destas contribuições é disciplinado por lei, para evitar
irregularidades e injustiças.
Verifica-se que estes recursos devem ser utilizados em projetos e ações
sociais, voltados ao trabalhador, como uma maneira de contemplar aqueles que com
muito suor, dedicação teve parte de seu rendimento retirado. Os serviços mais
conhecidos desenvolvidos pelas entidades sindicais são: assistência jurídica,
atendimento médico, odontológico, contábil. No entanto, muitas vezes esses
serviços acabam maquiando fraudes por parte dos dirigentes e demais pessoas
ambiciosas preocupadas em seu proveito, haja vista que são milhões arrecadados
anualmente e repassados as mesmas.
No terceiro capitulo houve a necessidade de estudarmos especificamente
as contribuições destinadas as centrais sindicais, que com a nova lei, passou a ter
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um percentual maior, sendo agora de 10%. Por conseqüência, assim que esta lei
entrou em vigor, houve um questionamento doutrinário e jurídico acerca deste tema.
Com o protocolo da Ação Direta de Inconstitucionalidade de nº. 4067, levantou-se
varias argumentações acerca da constitucionalidade da Lei nº. 11.648/2008 e do
repasse financeiro as centrais sindicais.
Tendo em vista que tal lei foi criada pelo então Presidente da República e
sendo ele um ex-militante sindical, pertencente a uma central sindical (CUT) por
muitos anos, é de se pensar o motivo de relevância e urgência em se criar esta lei.
Destarte, no quesito de quem seria responsável pela fiscalização destes
recursos, imediatamente houve uma repulsa por parte de Luis Inácio Lula da Silva,
entendendo ser ilegal o Estado interferir nas contas destas entidades sindicais, ou
melhor na CUT. Viu-se que, alguns doutrinadores juristas foram favoráveis ao veto
aduzindo ser inconveniente, ilegal haver qualquer tipo de fiscalização por parte do
Estado. Com isso a lei entrou em vigor e não mais abordou tal dispositivo, ou seja,
não há até o momento, nada que autorize a transparência da destinação deste
dinheiro e que por sinal não é pouco. Neste sentido, entendo que para satisfazer
muitas vezes o lado político.
Perante os doutrinadores utilizados nesta pesquisa, há divergências
acerca da constitucionalidade da Lei n. 11.648/2008. E no Supremo Tribunal
Federal, até a finalização deste trabalho, os ministros têm seus votos empatados, ou
seja, ainda não houve um posicionamento final.
Por fim, espera-se que sejam levados em consideração os motivos
ensejadores na ADIn nº. 4067, buscando-se interpretação adequada a nossa lei
maior e evitando que entidades sindicais venham a receber injustamente um recurso
que é retirado do trabalhador e venham a satisfazer interesses de uma minoria. Pelo
fato das centrais não exercerem funções como os sindicatos, federações e
confederações, não cabe receber tal percentual, pois seu papel é apenas de
articulador, auxiliador nas negociações.
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